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VACINAÇÃO E DESINFORMAÇÃO

Queda no número de crianças vacinadas faz com que doenças erradicadas voltem a aparecer

Ana Luiza Martins Giovanna Sigolo

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Onúmero de crianças brasileiras vacinadas tem caído nos últimos anos. De acordo com o DataSUS, órgão da Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, que tem a responsabilidade de coletar, processar e disseminar informações relacionadas à pasta, desde 2015 a cobertura vacinal tem diminuído. No ano passado, a vacina contra a tuberculose, por exemplo, só cobriu 68% das crianças, enquanto a da paralisia infantil (contra a poliomielite) abarcou apenas 69,9%. A porcentagem mínima de cobertura recomendada para proteger a população é de 95%, de acordo com o Ministério da Saúde. O Brasil chegou a ter 98,8% da população infantil vacinada contra a polio. Já fomos exemplo, em termos mundiais, no que se refere à adesão ao programa de imunização.

Para a pediatra Zuleid Dantas Linhares Mattar, diretora do Departamento de Políticas Governamentais da Abra (Associação Brasileira de Asmáticos), a baixa no número de vacinados faz com que doenças que já tinham sido erradicadas acabem ressurgindo. “É um risco iminente. E não é que isso é algo possível, isso vai acontecer, se a gente não tiver essa cobertura.”

Em sincronia com a queda na taxa de vacinação está o crescimento de dúvidas dos pais em relação à eficácia e segurança das vacinas. “Tenho medo em relação às possíveis reações que a vacina pode ocasionar”, diz Cecília Tao Yong Lee, que é mãe de duas crianças.

Anderson Nunes de Oliveira, engenheiro ambiental, também se posiciona reticente em relação à vacinação. Ele acredita haver outras maneiras de desenvolver as mesmas barreiras criadas pela vacina. O engenheiro não toma a vacina da gripe há dez anos e afirma que não vai imunizar sua filha contra a gripe ou contra a Covid .“Existem outras formas de se precaver, sem ter que tomar essas vacinas frequentemente.”

Zuleid explica que é muito importante seguir o calendário de imunização. Ele serve para que o organismo da criança crie uma barreira contra novas mutações dos vírus. “Nenhuma vacina dá 100% de cobertura, mas ela, no mínimo, ameniza o quadro da doença. Uma das coisas mais importantes é a diminuição do número de mortalidade. A vacina faz com que, caso a criança tenha a doença, ela venha de forma mais leve. É a diferença entre a vida e a morte”, completa.

O artigo “Abordando a Lacuna de Confiança sobre a Vacina”, de Heidi J Larson, antropóloga americana que chefiou a Comunicação Global de Imunização do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), publicado em 2011 na conceituada revista científica The Lancet, explica que os movimentos antivacina têm grande influência na decisão dos pais em relação à imunização dos filhos. Esses movimentos trabalham com a difusão de conteúdos sem fundamento científico, sustentados em opiniões falaciosas.

Zuleid reforça o ponto mencionado por Heidi e diz que até mesmo no ramo da medicina existem profissionais que desencorajam os pacientes a se vacinarem. “Eu acho que as sociedades médicas deveriam ter um papel mais contundente. Quando uma pessoa for a público encorajando a população a não se vacinar, essa pessoa deveria responder também publicamente. A censura [instaurada pelas sociedades médicas contra o infrator] deveria ser pública”, defende.

Ela relembra do caso de Andrew Wakefield, que perdeu sua licença médica após o jornalista Brian Deer denunciar a falta de consistência nos dados divulgados pela sua pesquisa, que relacionava a aplicação de vacinas ao desenvolvimento de comportamentos vistos no autismo. Esse estudo, sem comprovação científica, gerou uma queda expressiva nas aplicações da tríplice-viral em crianças.

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