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Ingressos na cidade de São Paulo podem chegar a R$180,00
Especialistas comentam sobre a importância de tornar essa arte mais acessível; ingressos na cidade de São Paulo podem custar até R$ 180,00
Arthur Hofmann Enrico Fini
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Aarte cinematográfica é o espelho da história de uma nação. Como destaca Hugo Harris, professor de cinema do curso de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, se considerarmos as produções feitas em nosso país, podemos apontar o cinema como “um caminho de exposição da nossa cultura”.
A jornalista e especialista em Comunicação Vanessa Dias Magalhães destaca o cinema como uma importante opção de lazer que hoje está inacessível para grande parte da nossa população. “A distribuição e o acesso dos brasileiros ao cinema podem apresentar um reflexo da concentração socioeconômica e da desigualdade do país. Os resultados são os entraves que dificultam a democratização do cinema por conta dos valores, consequência da dominação da indústria cultural sobre as salas, e a frequência por um público com maior poder aquisitivo”, completa Vanessa.
Os ingressos na cidade de São Paulo podem variar de R$ 28,00 a até R$180,00 (esse último valor em salas consideradas vip, como as existentes dentro do Shopping JK Iguatemi). Dados do Sistema de Informações e Indicadores Culturais, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2019, apontam que 39,9% dos brasileiros moravam em municípios sem, ao menos, uma sala de cinema.
Entre 15 e 21 de setembro de 2022 diversas redes de cinema, como Cinemark, United Cinemas International e Cinépolis, aderiram à “Semana do Cinema”, promoção que deixou os ingressos mais acessíveis à população (na faixa de R$ 10,00) e lotou sessões por todo país. Porém, com o final da campanha e a volta dos preços padrões, uma parcela grande da população permanecerá alijada do acesso a essa arte. “Por ser um acesso elitizado acontece uma seleção natural de quem vai e quem não vai”, salienta Hugo Harris.
Segundo informações da Comscore, empresa de análise e avaliação de dados, houve um crescimento de 296% no público durante a “Semana do Cinema”.
Para Daniel Campos, gerente de Marketing e Digital da Cinemark Brasil, o maior marco da campanha foi trazer pessoas que pararam de ir às salas. “A semana despertou muita gente para um prazer que estava dormente. O preço trouxe muitas pessoas de volta e essa foi a maior conquista; não foram os mesmos que já estavam indo.”
Ana Luiza Pereira é estudante do ensino médio e foi ao cinema durante a campanha. Ela diz que voltaria às salas, caso os preços baixos permanecessem. “Com certeza isso manteria minha frequência no cinema”, diz. Porém, Daniel Campos explica que não é possível manter os preços no mesmo valor oferecido durante a campanha. “O valor cobrado na semana precisa de um volume muito grande de pessoas adicionais para compensar e pagar os custos da indústria.”
Daniel argumenta que a Cinemark tem muitos projetos que visam uma maior adesão do público aos cinemas. “Temos parcerias que garantem meia entrada para não estudantes, temos o Club que garante dois ingressos por mês a R$ 15, temos o Projeta Brasil, que mensalmente apresenta um filme nacional com preço acessível.” Para o gerente de Marketing e Digital da Cinemark Brasil, “o cinema é um lazer insubstituível e quanto mais gente conseguir ir, melhor”.
Na opinião de Hugo Harris, a democratização do cinema deve se dar por projetos financiados por grandes instituições e pelo governo.
Representatividade negra nas universidades
Mesmo tendo aumentado 400% de 2010 a 2019, o número de alunos negros no ensino superior ainda fica longe da porcentagem de 56,1% de brasileiros pretos e pardos
Luis Felipe Reis Murilo Nuin
Segundo pesquisa feita pela Quero Bolsa, plataforma de bolsas de estudo e vagas no ensino superior, o número de alunos negros presentes nas universidades aumentou 400% de 2010 a 2019. O crescimento se deve à Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012), que reserva vagas nas universidades públicas para estudantes negros, oriundos de escola pública e renda de até 1,5 salário mínimo por pessoa, e a programas de acesso às universidades como o ProUni (Programa Universidade para Todos) e o Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior).
Embora se trate de um crescimento expressivo, ainda não temos motivo para comemorar. Hoje esses estudantes representam apenas 38,15% do total de matriculados no ensino superior, uma estatística que não chega nem perto da porcentagem de pessoas pretas e pardas no país que, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas), é de 56,1% (dados de 2021).
A universitária Letícia Almeida, que cursa atualmente o 6º semestre de Ciências Sociais na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), no interior de São Paulo, faz parte do movimento Olga Benário que, dentre outras pautas, conta com ações e campanhas de luta contra o racismo dentro e fora da universidade. Ela destaca que quando o número de estudantes negros nas universidades aumenta uma série de outras mudanças positivas passam a ser observadas. “Ocorrem alterações nas grades curriculares, com mais bibliografias da cultura negra, disciplinas baseadas em conhecimentos não brancos, mobilizações antirracista, etc.”
Segundo Letícia, a luta contra o racismo é bastante forte dentro da Unicamp em diferentes esferas. A universidade conta com coletivos negros em vários cursos e o “Aquilomba Fórum”, fórum que centraliza a luta de todos os coletivos da instituição; além do NCN (Núcleo de Consciência Negra). “Essas instâncias são muito importantes, pois interpelam os alunos diariamente dentro e fora da universidade, pela valorização das epistemologias negras e pela formação de redes de acolhimento e afeto entre pessoas negra”, opina.
Segundo um estudo sobre ação afirmativa e população negra na educação superior, feito pela pesquisadora Tatiana Dias Silva e publicado em agosto de 2020 pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 36% dos jovens brancos na faixa etária dos 18 aos 21 anos estão estudando ou terminaram sua graduação, já entre pardos e pretos a porcentagem diminui para 18%, sendo que a meta do Plano Nacional de Educação (PNE) indica que até 2024 todos os jovens dessa faixa etária estejam cursando ou concluindo a universidade.
Em entrevista à Agência Brasil, em 20 de novembro de 2020, no Dia da Consciência Negra, Tatiana relacionou essa desigualdade à problemática do racismo estrutural. “Como sociedade isso é inadmissível. Se a questão racial é um elemento estruturante, ele precisa ser enfrentado. Como a gente pode pensar o projeto de desenvolvimento do país que não incorpora esse desenvolvimento para todos os grupos?”, questionou.
Falta também representatividade no ensino superior no que se refere ao corpo docente. Um levantamento realizado pela Quero Bolsa, com base em dados do Censo da Educação Superior de 2018, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostra que apenas 16,4% dos professores nas universidades são negros (autodeclarados como pretos ou pardos). Isso faz com que os alunos negros que estão no ensino superior não consigam se ver representados entre seus mestres, o que acaba sendo mais uma forma de violência contra esses estudantes.
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Negros representam apenas 38,15% do total de matriculados no ensino superior