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ESCOLAS E ACESSIBILIDADE

Para especialistas em educação inclusiva, além do investimento em infraestrutura, é preciso apostar na capacitação do corpo docente

João Pedro Sampaio Alves Mascari Bonilha

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Segundo a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência - Lei nº 13.146), promulgada em 2015, “toda pessoa com deficiência tem direito à igualdade de oportunidades com as demais pessoas e não sofrerá nenhuma espécie de discriminação”.

No entanto, o nível de acessibilidade das escolas públicas do estado de São Paulo ainda é muito baixo, o que deixa a meta do Plano Nacional de Educação (PNE), de universalização da educação inclusiva e especial até 2024, bastante difícil de ser cumprida.

Um estudo feito pelo jornal O Estado de São Paulo, a partir de dados obtidos pela Lei de Acesso à Informação, divulgado em 15 de setembro de 2016, mostrou que somente 33% das unidades da Prefeitura e 38,96% das escolas estaduais são acessíveis a alunos com deficiência. Ainda de acordo com o levantamento, na rede estadual somente 415 das 1.057 escolas oferecem as infraestruturas ideais para quem possui algum tipo de deficiência e, na rede municipal, somente 1.180 de 3.500 unidades escolares têm acessibilidade. Para a escola ser “acessível” ela tem que seguir a norma NBR 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), ou seja, deve oferecer rampas de acesso e elevadores para cadeirantes, piso com sinalização tátil para pessoas com deficiência visual e barras de apoio, entre outros equipamentos.

Susete Bacchereti, que trabalhou com educação nas escolas públicas e é professora do curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, define acessibilidade como uma situação em que “todos convivem em posição de igualdade, tendo os mesmos direitos”. Ela aponta que, através do programa “Escola Acessível”, as escolas públicas recebem recursos financeiros para “adequar a estrutura física do espaço para instalação das salas de recursos multifuncionais, adequação de sanitários, mobiliários, alargamento de portas, rampas com corrimão”.

“Toda escola pública precisa ter salas que são bem equipadas com mobiliário acessível, recursos de tecnologia, materiais didáticos e pedagógicos e profissionais especializados para atender os alunos laudados [aqueles que possuem laudo médico atestando que eles precisam de um atendimento focado em suas necessidades]”, destaca Susete.

Para a professora, é preciso haver mais cursos de capacitação para docentes (e funcionários em geral das escolas públicas), para que os alunos possam ser melhor atendidos. “Também é recomendável que as salas de aula tenham menos estudantes, para que o docente possa interagir melhor com os alunos que precisam de mais atenção”, completa.

Laila Micas, que é coordenadora do portal Diversa, do Instituto Rodrigo Mendes, organização sem fins lucrativos que tem como missão colaborar para que toda pessoa com deficiência tenha uma educação de qualidade na escola comum, concorda que o Estado precisa investir na capacitação dos professores.

Um estudo apresentado pelo Instituto Rodrigo Mendes, realizado pelo Datafolha (do jornal Folha de S.Paulo) de 9 de novembro a 1º de dezembro de 2021, a pedido da Fundação Lemann, mostrou que 40% dos 967 docentes entrevistados não têm formação sobre inclusão.

Jornal-Laboratório dos alunos do 2o semestre do curso de Jornalismo do Centro de Comunicação e Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie. As reportagens não representam a opinião do Instituto Presbiteriano Mackenzie, mas dos autores e entrevistados.

Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Comunicação e Letras

Diretor do CCL: Rafael Fonseca Santos Coordenador do Curso de Jornalismo: Hugo Harris Editora: Patrícia Paixão

Fotos da capa: Fernando Bertrand (trabalhadores invisibilizados), Arthur Hofmann (cinema), Gabriela Lage (acessibilidade nas escolas), Ana Luiza Martins (vacinação) e Yumme/ Arquivo pessoal (cultura periférica). Impressão: Gráfica Mackenzie Tiragem: 100 exemplares.

Brasil está abaixo da meta de doadores de sangue recomendada pela OMS; transfusões são essenciais para muitos pacientes, em especial os oncológicos

Bruna Ribeiro Giovana Santoro Otávio Santos

AOrganização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que de 3% a 5% do total da população de um país seja doadora de sangue, para evitar um quadro de escassez de bolsas que pode atingir não só pessoas que possuem diferentes doenças graves como aqueles que se acidentam ou passam por uma cirurgia de urgência, e, desta forma, necessitam fazer com urgência uma transfusão.

No Brasil a taxa de doadores costuma variar entre 1% e 3%, mas de acordo com o Ministério da Saúde, em 2019 esse índice foi de 1,6% e, até março de 2022, haviam sido coletadas no país apenas 732 mil bolsas de sangue.

As doações colaboram, por exemplo, com o tratamento de pacientes hematológicos e oncológicos. A cada doação são retirados, no máximo, 450ml de sangue, quantidade que pode salvar a vida de até quatro pessoas.

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) considera necessários, em média, 2 mil doadores por mês para atender as demandas dos pacientes nas suas unidades hospitalares.

É difícil afirmar quantas bolsas de sangue requer um paciente oncológico durante o tratamento. “Cada câncer apresenta diferentes características, então, numericamente, não temos um dado preciso, mas posso garantir que a demanda é muito alta”, explica Fátima Hangai, hematologista e hemoterapeuta da Fundação Pró-Sangue, do Hemocentro de São Paulo, que faz parte do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A fundação atende o Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) e o Itaci (Instituto de Tratamento do Câncer Infantil).

A médica destaca que a melhora dos pacientes oncológicos após a transfusão de sangue é nítida e não se restringe aos resultados dos exames. O quadro de dor também é amenizado ou sanado, já que a anemia, presente em muitos desses pa-

A cada doação são retirados 450ml de sangue, que podem salvar a vida de até quatro pessoas

cientes, pode ocasionar dor nas pernas e na cabeça, dentre outros sintomas. “O sangue é insubstituível. Há pacientes que necessitam de transfusões regulares para sobreviver. Por isso, há uma necessidade da conscientização da importância da doação”, complementa a hematologista. Existem outros tipos de doença que também levam a um quadro de anemia e, consequentemente, à necessidade de transfusão de sangue. A talassemia, por exemplo, é uma doença hereditária que produz um grau de anemia leve, mas dependendo do caso, pode se tornar grave. “Possuo talassemia minor e, após o parto de meu primeiro filho, minha hemoglobina baixou muito, o que fez eu ficar com uma anemia intensa e precisar de transfusão”, lembra a dona de casa Paula Gonsalez. Ela explica que sua sorte foi que o número de doadores naquela época (há 20 anos) era satisfatório. “O processo de achar um doador foi rápido”, lembra.

O ato de doar é importante, porque acaba inspirando outras pessoas. A analista de contas Daniela Migotto, por exemplo, começou a doar sangue observando sua mãe. “Nos anos 80 eu vi muitas vezes ela doando sangue. Eu não via a hora de crescer pra poder doar também.”

Alguns benefícios são garantidos por lei aos doadores, dentre eles um dia de folga sem desconto no salário. Porém, muitas vezes, o medo da agulha ou receio de ficar com a saúde abalada faz com que possíveis voluntários desistam do ato. “Nunca tive medo, nem da agulha e nem de passar mal. A falta de informação pode trazer receio, por isso é de extrema importância saber tudo sobre o processo”, ressalta Daniela. Ela também pontua que doar é um ato de empatia. “Se você se coloca no lugar da pessoa que está precisando, o medo vai embora.”

Contudo, há algumas restrições para realizar a doação. É preciso que a pessoa tenha entre 16 e 69 anos, esteja com um peso superior a 50 quilos e não apresente anemia, hipertensão, hipotensão arterial, febre ou alteração nos batimentos cardíacos no momento da doação. Se o doador for uma mulher, ela não pode estar grávida ou amamentando (a menos que o parto tenha sido em um período maior de 12 meses).

Segundo o Ministério da Saúde, ao longo de 2022 foram investidos R$ 1,8 bilhão nos Serviços de Hematologia e Hemoterapia públicos do país. O Brasil conta com 107 hemocentros, sendo que 13 deles estão em São Paulo.

Serviço

Para mais informações sobre onde doar acesse: http://redome.inca.gov.br/ campanhas/hemocentros-do-brasil/

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