A Arte das Mulheres Inuit

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Odette Leroux Marion E. Jackson


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AGRADECIMENTOS

Museu Canadiano das Civilizações Hélène Arsenault Jean François-Blanchette Lisa Leblanc Maria von Finckenstein Embaixada do Canadá Jacques Bélec Mercedes Rufino


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Organização Museu Canadiano das Civilizações Produção Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses Instituto Português de Museus / Fundação Calouste Gulbenkian Textos Marion E. Jackson e Odette Leroux Obras Kenojvak Ashevak, Lucy Qinnuayuak, Mayoreak Ashoona, Napachie Pootoogook , Oopik Pitsiulak, Ovilu Tunnillie, Pitaloosie Saila , Pitseolak Ashoona, Quanak Mikkiaak Design Gráfico Mafalda Matos Coordenação João Brandão Pré-Impressão Digiset Impressão e Acabamento Digiset ISBN 856-342-3519-03-0 Depósito Legal 169 163/01


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Índice 7

TEXTOS INTRODUTÓRIOS

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NOTAS EXPLICATIVAS

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PREFÁCIO

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AS VOZES DAS MULHERES INUIT

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ISUMAVUT: A EXPRESSÃO ARTÍSTICA DE NOVE MULHERES DE CAPE DORSET

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CATÁLOGO: AS MULHERES ARTISTAS INUIT

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Pitseolak Ashoona

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Lucy Qinnuayuak

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Kenojvak Ashevak

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Quanak Mikkiaak

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Napachie Pootoogook

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Pitaloosie Saila

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Oopik Pitsiulak

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Mayoreak Ashoona

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Ovilu Tunnillie

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GLOSSÁRIO

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BIBLIOGRAFIA


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Notas explicativas

Neste livro, as artistas são apresentadas por ordem cronológica, da mais velha à mais nova. Esta abordagem fornece-nos um quadro claro da evolução da arte feminina em Cape Dorset. Hoje em dia, a maior parte dos inuit tem um apelido, mas estas mulheres são conhecidas pelo seu nome próprio tradicional. Para seguir a tradição, são frequentemente referidas neste livro pelo seu nome mais comum. As medidas são em centímetros. No que toca às obras em papel, a altura precede a largura, enquanto altura, largura e profundidade são as dimensões dadas para as esculturas. O ano de criação da obra é dado imediatamente a seguir ao seu título. Quando o ano de catálogo difere do ano de criação, a abreviatura cat. indica esse ano (exemplo 1982, cat. 1983). No ensaio de Odette Leroux, a abreviatura fig. seguida por um número refere uma ilustração da obra, que figura no corpo do ensaio (exemplo 1967, fig. 6). Neste ensaio, as referências a ilustrações que figuram no resto do livro incluem o número da página para possibilitar ao leitor a localização de cada uma das peças de arte. Quase todas as esculturas foram intituladas pelas suas criadoras. A algumas das gravuras as suas autoras deram novos títulos, para uma maior exactidão. As citações que aparecem anexas às obras de arte são das suas autoras, excepto quando exista alguma indicação em contrário. As citações foram extraídas das entrevistas realizadas em 1979, por Marion E. Jackson, das entrevistas realizadas em 1992 por Marion E. Jackson e por Odette Leroux, e da obra de Dorothy Harley Eber, Pitseolak: Pictures out of My Life. Todas as obras de arte pertencem à colecção do Canadian Museum of Civilization, excepto menção em contrário. As fotografias das obras de arte são da autoria de Harry Foster; as fotografias das artistas foram feitas por Jimmy Manning, salvo se houver menção em contrário. As obras de arte são reproduzidas com a permissão das artistas, através da West Baffin Eskimo Co-operative.

1 Uma vez que a versão portuguesa do catálogo apresenta um menor número de imagens, aspecto que decorre do facto da exposição patente ser uma versão itinerante (e, por isso, reduzida) daquela a que a versão original do catálogo se reporta, remeteremos para as páginas do catálogo em português sempre que for possível.

Nota do editor


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As Vozes das Mulheres Inuit Marion E. Jackson

A última metade do século XX foi marcada por transformações drásticas não só em termos globais mas também dentro da cultura inuit. Em nenhum outro lugar é esta mudança mais evidente do que nos papéis sociais emergentes das mulheres inuit. O surgimento de nações do Terceiro Mundo como novos actores na cena mundial e a emergência de um movimento feminista a nível internacional coincidiram com um período de profunda mudança cultural no Norte do Canadá. Para as mulheres inuit, este período assistiu não só a uma deslocação da terra para as novas povoações dos padrões de vida tradicionais para os modernos mas também a uma época de apropriação de novos valores e de novas responsabilidades no interior da sua cultura e nas intersecções onde a sua cultura interage com as outras culturas do Sul do Canadá e com todo o mundo. Durante os últimos quarenta anos, as artes visuais deram à mulher inuit novas oportunidades para uma independência económica - libertando-a do seu papel tradicional como apoio do caçador - e abriram-lhe também novas avenidas de expressão. Na literatura crescente sobre a arte e a cultura inuit e nas discussões sobre as profundas mudanças que remodelam o Norte canadiano, no entanto, raras vezes as vozes interpretativas pertencem aos nativos inuit e mais raramente ainda se ouvem as vozes das mulheres inuit. Os escritos que se seguem, por conseguinte, são extraordinários, únicos


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na visão fresca que oferecem da experiência das mulheres inuit modernas. As sete artistas femininas de Cape Dorset e as três líderes inuit cujos escritos aparecem neste livro transmitem directa e despretensiosamente os valores, aspirações e sabedoria discreta de mulheres cujas raízes bebem profundamente da cultura inuit tradicional. Todas estas mulheres nasceram nos últimos sessenta e cinco anos e todas elas sofreram a imposição sobre a sua cultura dos poderosos imperativos do mundo industrializado em expansão. As suas palavras proporcionam aos leitores uma nova visão das preocupações, dos objectivos, das esperanças e das agruras quotidianas que dão estrutura e sentido às vidas destas artistas e que fornecem o contexto para a arte das mulheres de Cape Dorset. Ao leitor é oferecido o acesso a uma experiência de vida a partir da perspectiva daquelas que mais profundamente estão envolvidas nessa experiência. Novas direcções se combinaram, tanto no interior da cultura inuit como na comunidade museológica, para tornar estes escritos possíveis. Na cultura inuit tradicional, onde as normas de expressão eram orais e não literárias e onde a auto-expressão e reflexão (em particular entre as mulheres) estavam subordinadas às intenções da comunidade, havia poucas oportunidades ou incentivos para as mulheres inuit documentarem por escrito as suas ideias e preocupações pessoais. Tradicionalmente, as mulheres inuit eram treinadas para serem pacientes e contidas, competentes e não assertivas,

excepto no interior do seu próprio domínio, dentro da tenda familiar, do iglu ou da moderna casa prefabricada. Nem a afirmação individual pública nem a oferta das suas reflexões escritas eram actividades familiares ou confortáveis para as mulheres inuit, educadas no seio da cultura tradicional. Só recentemente algumas dirigentes inuit, como Minnie Aodla Freeman e Mary Cmkovich, começaram a publicar as suas próprias ideias e experiências, encorajando as outras mulheres inuit a fazerem o mesmo. Simultaneamente, as expectativas e as práticas na comunidade museológica também sofreram uma mudança. Os museus têm uma longa história de interpretação da arte aborígene a partir da perspectiva «objectiva» de profissionais treinados nos museus e da apresentação dessa interpretação numa perspectiva claramente definida como coleccionista. Foi apenas recentemente que os museus começaram a valorizar a participação dos artistas e de outros pensadores aborígenes na interpretação das artes aborígenes. A exposição de 1992, do Canadian Museum of Civilization, Indigena, foi uma das primeiras grandes exposições a ser desenvolvida totalmente a partir de uma perspectiva aborígene. As vozes destas mulheres inuit emergem, por conseguinte, no contexto destas mudanças complementares, no interior da cultura inuit e no interior da comunidade museológica. As mulheres inuit modernas já não são obrigadas pela sua cultura a esperar silenciosa e pacientemente


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enquanto os seus interesses são interpretados e representados por outros. Os museus mais importantes já não se viram exclusivamente para profissionais não-inuit para a interpretação das vidas e da arte dos artistas inuit. Está a emergir um modelo alternativo que reconhece que a compreensão é enriquecida por uma consciência dos valores e das intenções dos artistas. Neste modelo, o conservador do museu (venha ele de dentro ou de fora da cultura) já não tenta impor um ponto de vista coleccionista, mas sim facilitar a comunicação entre artistas e público, e reconhecer a complexidade da experiência humana corporizada nas obras de arte. Os escritos neste livro reflectem também essa complexidade. Tal como as obras de arte diferem marcadamente de uma artista para outra, também a escrita o faz. Embora o estilo de vida tradicional inuit tenha constituído a experiência dominante de todas estas mulheres, cada uma das vozes apresenta uma visão individual, um conjunto individual de experiências e de objectivos pessoais. O trabalho das artistas æ tanto na escrita como na arte æ está apresentado numa ordem que vai das artistas mais velhas às mais novas. As duas artistas mais velhas nesta exposição æ Lucy Qinnuayuak e Pitseolak Ashoona æ já não pertencem ao mundo dos vivos e não escreveram para este livro. Elas estão, no entanto, representadas pelos seus trabalhos gráficos enérgicos, por citações de outras fontes e por memórias delas escritas por outrem. Elas são lembradas pelas artistas mais jovens que continuam a herança

que elas e as suas contemporâneas iniciaram em Cape Dorset, há quase meio século. O livro conclui com os textos escritos por três dirigentes inuit - Ann Meetikjuk Hanson, Annie Manning e Minnie Aodla Freeman. Ann Meekitjuk Hanson tem viajado muito, falando longamente com os membros mais velhos da comunidade por todos os territórios do Noroeste. A sua reflexão poética está escrita não só da perspectiva da criação artística mas também da perspectiva da apreciação do papel da arte na preservação da cultura inuit. Também Annie Manning considera a importância da arte para impulsionar os sentimentos de orgulho e de identidade entre os mais jovens. Ela reflecte sobre a sua própria experiência de vida no Norte em mudança e descreve o seu próprio sentido de responsabilidade como uma mulher inuit moderna. A escritora Minnie Aodla Freeman tece comentários sobre a socialização das mulheres jovens e sobre a adaptação dos papéis femininos no interior da cultura inuit. A familiaridade com as culturas «exteriores» varia consideravelmente de artista para artista. Kenojuak Ashevak, a artista viva mais velha neste grupo, teve várias oportunidades de viajar internacionalmente, viagens relacionadas com a sua arte, e tem recebido um amplo reconhecimento da sua realização artística. As suas considerações autobiográficas percorrem toda a sua vida, do nascimento ao presente, e transmitem


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Isumavut A Expressão Artística de Nove Mulheres de Cape Dorset Odette Leroux

Para as mulheres inuit, a arte é um meio de expressão relativamente recente. Ele desenvolveu-se apenas a partir da década de 60, e teve como berço as oficinas de várias artistas, oficinas essas que despontaram nas comunidades espalhadas por todo o Árctico. A escultura (em pedra, osso ou madeira) era uma arte dos homens, e poucas mulheres se tinham aventurado a entrar nesse campo. A introdução das artes gráficas nos finais dos anos 50, em Cape Dorset, no entanto, despertou uma torrente de talento latente. As mulheres reagiram positivamente à oportunidade de penetrarem neste novo meio, talvez por poderem trabalhar na privacidade dos seus lares. Quaisquer que fossem as razões, os resultados foram impressionantes. A arte criada por estas mulheres introduz quem a vê num mundo dilacerado entre o tradicional e o moderno, o místico e o racional. Mas, mais do que isto, esta arte serve-se do olhar feminino, reparando nas cores, no vestuário, nas relações com as crianças, nas tarefas que exigem a atenção diária, nas dificuldades que têm de ser suportadas, nos costumes que devem ser transmitidos aos mais novos, na beleza escondida sob a paisagem mais deprimente.

A arte das mulheres inuit abre-nos uma janela única para um mundo distante. O prolongado fascínio que sinto por esta janela foi acrescido em 1990 quando me pediram para escrever algumas biografias breves de mulheres artistas inuit para a Encyclopedia of Twentieth Century North American Women Artists. À medida que o fazia, fiquei como que enfeitiçada pelos temas que ia distinguindo na sua arte e comecei a conceber um projecto que juntasse os trabalhos de várias artistas. As enormes distâncias e os custos astronómicos tornavam impraticável a inclusão da arte de mulheres de todo o Árctico canadiano; decidi, por isso, centrar-me numa única comunidade de mulheres artistas: Cape Dorset. Foi nesta comunidade que o esforço de James Houston para encorajar o interesse pela arte entre os inuit teve o seu início nos primeiros anos da década de 1950. Houston e a sua esposa, Alma, viveram em Cape Dorset durante dez anos, cultivando o seu interesse pelas artes gráficas e constituindo um núcleo à volta do qual se pudesse agregar uma comunidade artística. O trabalho de ambos foi prosseguido pelo seu sucessor, Terrence Ryan.


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Enquanto director-geral e conselheiro artístico, a visão e a iniciativa de Ryan resultaram no reconhecimento nacional e internacional dos talentos e da criatividade das artistas de Cape Dorset. Hoje, a West Baffin Eskimo Co-operative tornou-se o coração da comunidade, servindo as artistas como centro arquivístico, fonte de fornecimento de materiais e como empresa de colocação das suas obras no mercado. Várias artistas consagradas vivem em Cape Dorset ou nas redondezas, nove das quais estão representadas aqui. Como Marion (Mame) Jackson tinha vivido em Cape Dorset e aí tinha entrevistado várias artistas em 1979, perguntei-lhe se estaria interessada em colaborar comigo. Ela adorou a ideia e logo concordou em fazê-lo. A ideia de pôr as mulheres a escrever sobre si mesmas devo-a à memória de uma exposição de 1975, na National Gallery of Canada, intitulada Some Canadian Women Artists, comissariada por Mayo Graham. O seu catálogo incluía breves indicações das artistas sobre o seu próprio estilo e comentários sobre as suas preocupações pessoais. Com o encorajamento de Mame, decidi desenvolver esta abordagem.

A aventura teve início em Dezembro de 1990, quando Jimmy Manning, um fotógrafo inuit e Assistant Manager da West Baffin Co-operative, se reuniu com as artistas para explicar o projecto. Entusiasticamente, as mulheres concordaram em participar, embora muitas delas nunca tivessem escrito anteriormente. Jimmy continuou a auxiliar-nos durante todo o projecto e a sua ajuda foi preciosa. Jimmy manteve-se em contacto com as artistas, coordenou os nossas viagens de campo e contribuiu sempre com a informação mais precisa. Em Fevereiro de 1991, Minnie Aodla Freeman viajou comigo até Cape Dorset para uma discussão detalhada do projecto. Para surpresa nossa, Mayoreak Ashoona, Qaunak Mikkigak e Napachie Pootoogook trouxeram para a nossa primeira reunião as suas histórias acabadas, enquanto Kenojuak Ashevak, Pitaloosie Saila e Ovilu Tunnillie já tinham começado a escrever as suas e disseram-nos que as acabariam antes da nossa partida. Tínhamos levado connosco um portfolio para cada artista, com fotografias a cores das suas obras, incluindo obras gráficas, joalharia e escultura, que tínhamos fotografado em museus,


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galerias de arte e colecções privadas. Esta era a primeira vez que as artistas viam a sua obra reunida numa só colecção e acederam a escolher alguns dos seus trabalhos favoritos e a comentá-los. Estes comentários ofereciam uma nova visão, sob o ponto de vista da perspe-ctiva da própria artista, e aparecem aqui como legendas a algumas das obras. Para as artistas, foi uma experiência muito agradável poderem reunir-se para discutir as suas ideias e obras. Para muitas delas, esta constituiu a primeira oportunidade de trocarem opiniões numa discussão de grupo. Entusiasmouas o facto de falarem sobre o seu trabalho em frente de colegas e de terem a opinião de gente de fora sobre o valor estético e o estilo da sua obra. Disseramnos mais tarde que essa troca de opiniões lhes tinha trazido encorajamento para prosseguirem as suas carreiras artísticas. Algumas delas também partilharam connosco histórias sobre Pitseolak Ashhona e Lucy Quinnuayuak, que já faleceram. O nosso jantar de despedida em casa de Pitaloosie consistiu num delicioso guisado de caribu, preparado por Pitaloosie, três tipos de panquecas e sobremesas variadas. Depois do jantar, houve entretenimentos

variados, incluindo música de acordeão (que toda a gente tocou à vez) e canções por Qaunak, Napachie e Minnie, música tradicional inuit e um vídeo de música e dança inuit. Partimos com excelentes recordações desta noite passada em casa dos Saila e com o sentimento de um forte laço de amizade. Em Fevereiro de 1992, viajei mais uma vez até Cape Dorset com Marion Jackson para fazer mais entrevistas a cada uma das artistas e para verificar detalhes dos textos, das biografias e dos comentários sobre as obras. As excepcionais esculturas de Oopik Pitsiulak tinham sido incluídas no nosso projecto e, durante esta visita, Oopik gravou a história da sua vida e alguns comentários, e essa gravação tornou-se a base para a sua história. No final desta segunda reunião compreendemos que o projecto teria consequências que não tínhamos à partida imaginado. Como Mayoreak Ashoona afirmou: «Desde a vossa visita no ano passado, eu senti a necessidade de escrever mais sobre o modo como vivo para o poder transmitir aos meus filhos e aos meus netos.» Deu-nos então um novo manuscrito da sua autobiografia, escrita num alfabeto silabário.


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Esta compulsão para registar o que acontece é evidente na obra destas artistas. Todas elas têm a consciência de que a sociedade inuit é cada vez mais vulnerável às influências culturais exteriores. A chegada da comunicação de massas colocou a sua sociedade tradicional num estado caótico e, em virtude disso, a percepção, os gostos e o comportamento dos habitantes de Cape Dorset estão a mudar rapidamente. As artistas espelham estas transformações no seu trabalho, mas também estão preocupadas em capturar o passado e preservar o que recordam e o que viveram. Compreendemos que tínhamos afinal fornecido um ímpeto adicional inesperado nesta direcção. O projecto também tornou imperativo que fossem identificadas as obras mais importantes, propriedade de museus, galerias e colecções privadas, no Canadá e no estrangeiro. Em consequência do projecto, não só as artistas se sentiram galvanizadas por verem trabalhos que estavam dispersos por todo o mundo reunidos em portfólios, como também, subsequentemente, cerca de vinte e uma esculturas acabaram por ser adquiridas para a Colecção Nacional de Arte Inuit e estarão à disposição de gerações futuras para serem admiradas.

As histórias, comentários, esculturas, gravuras e desenhos apresentados neste volume expõem o universo pessoal das mulheres artistas de Cape Dorset. Antes de discutir em pormenor a sua arte, gostaria de apresentar estas mulheres. Cada uma delas tem o seu próprio estilo, altamente individualista, e a sua forma distinta de reproduzir formas, linhas, curvas e ângulos, e de seleccionar elementos gráficos, dimensões, superfícies, texturas e cores. No seu livro Sculpture of the Inuit, George Swinton sugere que a sua inspiração se baseia essencialmente no realismo. Por certo que o conteúdo narrativo desta arte é frequentemente autobiográfico ou histórico, e revela relâmpagos ocasionais de humor e fantasia.

Figura 1 . Sem Título, 1962


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PITSEOLAK ASHOONA Pitseolak Ashoona só trabalha em desenho e gravura. Os seus desenhos são frequentemente histórias autobiográficas, como notou Dorothy Harley Eber no seu livro Pitseolak: Pictures Out of My Life. Eles constituem uma verdadeira herança cultural, o equivalente de uma enciclopédia sobre um modo de vida. Através do seu trabalho figurativo, Pitseolak Ashoona oferece uma documentação fascinante e autêntica da sua cultura. A sua visão e vocabulário iconográfico permanecem sem rival. Pitseolak começou a trabalhar na década de 1960. Inicialmente, concentrou-se na gravura; a sua produção foi surpreendente, considerando as exigências técnicas deste meio. Sem Título (1962, figura 1) é um estudo comparado da representação de três faces com contornos muito diversos. Este exercício ajudou-a a definir e a dominar a execução das formas. Uma outra gravura, também chamada Sem Título (1962, figura 2), é notável pelo arrojo dos traços e pelo jogo de linhas, num trabalho manifestamente experimental. A partir de 1963, a obra de Pitseolak revela o seu domínio da técnica. Coruja Penugenta (1962, figura 3), e Feiticeira e Amigos (1963, figura 4) revelam um toque ligeiramente fantasioso na sua visão criativa.

Figura 2 . Sem Título, 1962

Figura 3 . Coruja Penugenta, 1962

Figura 4 . Feiticeira e Amigos, 1963


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LUCY QINNUAYUAK Lucy Qinnuayuak trabalha em desenho e em gravura, explorando também a pintura a acrílico. Lucy cria cenas impressionantes dos costumes e do ambiente do seu povo. A sua arte brilhantemente colorida exprime um realismo sensível e frequentemente cheio de humor. Ganhou a admiração internacional pelo seu trabalho sobre pássaros, que são o seu assunto favorito. O seu trabalho consegue ser ora simples e directo ora denso e complexo. Intimista, expressiva e reveladora, a obra artística de Lucy Qinnuayuak revela audácia e inovação, servidas pela sua versatilidade e diversidade dos seus meios de expressão. Na obra da artista, a linha reina triunfante: organiza o espaço e delineia o tema, criando simultaneamente distanciamento e emoção. Os primeiros trabalhos de Lucy mostram sobretudo pássaros e aspectos do modo tradicional da vida inuit. Do período final da sua carreira artística, destacam-se claramente do resto da sua obra dois trabalhos. Pássaros de Fantasia (1977, página 88 #), pintado a tinta acrílica, é uma obra plena de lirismo e fantasia, em que pássaros e seres fabulosos se revestem das cores de um sonho. Recordações (1983, página 91 #) é o resultado da sua

experimentação com as texturas criadas por aguarelas de tinta sobre pedra ou sobre placas litográficas. Estas obras são composições excepcionais que ilustram um dimensão rica e original da arte gráfica de Cape Dorset.

Figura 9 . Pássaros com Fantasia, 1977


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KENOJUAK ASHEVAK Na obra de Kenojuak Ashevak, a escultura e o desenho servem uma visão extremamente poderosa que é alimentada por uma imaginação vívida. Essa visão guia as suas preocupações artísticas e actua como um catalisador para a sua inspiração. O seu sentido da forma, a sua segurança em relação à cor e o seu gosto pela inovação conduzem-na constantemente por novos caminhos: «Não. Nunca ninguém me disse para desenhar de outra maneira. Eu mudo os meus estilos por minha própria iniciativa, porque agora sei como desenhar. É assim que eu sou.» (Entrevista com Odette Leroux, 1991.) Kenojuak Ashevak é famosa em todo o mundo, graças à sua obra-prima A Coruja Encantada (1960, fig. 1, página 22 #). O seu primeiro trabalho, Coelho a Comer Algas (1958, cat. 1959, fig. 2, página 23 #) prenuncia a sua preocupação com a representação da natureza, que é uma constante na sua obra. Durante toda a sua carreira, ela foi buscar os seus motivos à natureza æ algas, folhas, flores æ e justapôs estas formas naturais para criar um jogo de contrastes. Algumas das suas primeiras gravuras, como Um Grupo de Pássaros (1960, fig. 3, página 23 #), são notáveis pelo seu tratamento das formas fluidas e

Figura 10 . A Coruja Encantada, 1960

Figura 11 . Coelho a Comer Algas, 1958


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Catรกlogo -As Mulheres Artistas Inuit

Pitseolak Ashoona | Lucy Qinnuayuak | Kenojuak Ashevak Qaunak Mikkigak | Napachie Pootoogook | Pitaloosie Saila Oopik Pitsiulak | Mayoreak Ashoona | Ovilu Tunnillie


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PITSEOLAK ASHOONA Toda a gente a considerava uma pessoa amiga e bondosa. Os rapazes e as raparigas gostavam muito dela e mesmo os adultos também gostavam dela. Ela parecia sempre mostrar afeição por eles. Costumava rir frequentemente e contar histórias que conhecia e que lhe tinham acontecido há muito tempo; histórias excitantes, de riso e também dos tempos tristes. Não só as suas histórias mas também as dos outros, ela contava-nos sobre as muitas maneiras como os inuit viviam, as maneiras como ela tinha visto os verdadeiros inuit viver há muito tempo. As histórias que ela costumava contar, ainda hoje eu as lembro e nunca as esquecerei.

(Escrito em Fevereiro de 1992.) Por Pitaloosie Saila


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PITSEOLAK ASHOONA 1904-1983 Nascida em Notingham Island, no estreito de Hudson, em 1904, quando os seus pais viajavam de Arctic Quebec para Baffin Island, Pitseolak passou os seus primeiros anos a viajar com a família entre os acampamentos tradicionais perto das comunidades actuais de Iqaluit e Cape Dorset. Pouco depois da morte do pai, Ottochie, os três irmãos de Pitseolak arranjaram um casamento entre a adolescente Pitseolak e um jovem e robusto caçador, Ashoona. Pitseolak e Ashoona continuaram o estilo de vida migratório tradicional, frequentemente perseguindo o caribu no continente durante o Verão até Nettilling Lake (que fica a cem quilómetros a norte de Amadjuak Lake). Com o passar dos anos, Pitseolak e Ashoona tiveram dezassete filhos, mas só cinco deles sobreviveram aos rigores da vida no Árctico, e chegaram à idade adulta. O próprio Ashoona morreu de doença numa das viagens de Verão a Nettilling Lake, deixando a viúva Pitseolak com o encargo da sua ainda jovem família. Lutando desesperadamente para conseguir sustentar-se a si e aos filhos, Pitseolak ficou grata pela ajuda dos irmãos e dos outros caçadores. No final da década de 1950, Pitseolak mudou-se com os filhos mais novos para Cape Dorset, onde estava a ser formada a West Baffin Eskimo Co-operative e onde alguns projectos experimentais de arte estavam já a gozar algum sucesso inicial. Reagindo ao encorajamento dado por James Houston e vendo o exemplo de

outras que tinham começado a desenhar, Pitseolak começou ela própria a fazer alguns desenhos. Os seus desenhos deliciosamente cheios de energia capturavam o espírito da vida tradicional da terra e o espírito vibrante da artista, e obtiveram uma resposta positiva imediata quando traduzidos para gravuras na West Baffin Eskimo Co-operative. Nas duas décadas e meia que se seguiram, Pitseolak Ashoona desenhou prolificamente, executando mais de sete mil desenhos, que ilustravam a sua experiência da cultura tradicional inuit e davam expressão à sua exuberância contagiante em relação à vida. As imagens de Pitseolak Ashoona foram publicadas pela primeira vez numa colecção de gravuras de Cape Dorset, em 1960, e o seu trabalho apareceu em cada colecção subsequente, até à sua morte em 1983. Um total de 233 das imagens de Pitseolak Ashoona foram incluídas nas colecções de gravuras de Cape Dorset durante esses vinte e três anos. Além disso, a obra de Pitseolak Ashoona esteve representada em mais de uma centena de exposições, quer colectivas quer individuais, de arte inuit, incluindo exposições tão significativas como Cape Dorset ⎯ A Decade of Eskimo Prints and Recent Sculpture, na National Gallery of Canada (1967); Les Eskimos / De Eskimos, no Studio 44, em Bruxelas, Bélgica (1974); Contemporary Eskimo Prints, no Amon Carter Museum of Western Art, Fort Worth, Texas, EUA.


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(1977); The Inuit Print / L’estampe inuit, uma exposição organizada pelo Department of Indian Affairs and Northern Development e pelo National Museum of Man (actualmente o Canadian Museum of Civilization), que foi exibida em vários países (1977-82); The Coming and Going of the Shaman: Eskimo Shamanism and Art, no Winnipeg Art Gallery (1978); Inuit Art of the 1970s, Agnes Etherington Art Centre, Kingston (1979-80); Grasp Tight the Old Ways: Selections from the Klamer Family Collection of Inuit Art, Art Gallery of Toronto (1983-85); Contemporary Inuit Drawings, Macdonald Stewart Art Centre, Guelph (1987-89); In the Shadow of the Sun: Contemporary Indian and Inuit Art, Canadian Museum of Civilization (1989-90); e Arctic Mirror, Canadian Museum of Civilization (1990). A obra de Pitseolak Ashoona está também presente em numerosas colecções privadas e públicas, incluindo a Art Gallery of Ontario; Brown University, Haffenreffer Museum of Anthropology; Canadian Museum of Civilization; Laurentian University Museum and Arts Centre; London Regional Art Gallery; Michael Canadian Art Collection, Kleinburg, Montreal Museum of Fine Arts; National Gallery of Canada; Prince of Wales Northern Heritage Centre, Yellowknife; Royal Ontario Museum; Simon Fraser University; University of New Brunswick; University of Lethbridge; Vancouver Art Gallery e Winnipeg Art Gallery.

Em 1971, Pitseolak Ashoona colaborou com a autora de Montreal, Dorothy Harley Eber, na produção de um livro de desenhos e de reminiscências, entitulado Pitseolak :Pictures out of My Life. Um filme com o mesmo nome foi produzido ainda nesse mesmo ano pelo National Film Board of Canada; dois outros filmes sobre Pitseolak e a sua obra foram produzidos, em 1975, pelo International Cinemedia Centre Ltd. Uma exposição retrospectiva dos desenhos de Pitseolak Ashoona, organizada pelo Department of Indian and Northern Affairs, em 1975, foi aceite pelo Smithsonian Institute, em Washington, como parte da contribuição do Canadá para as celebrações do Bicentenário dos Estados Unidos. Durante a sua vida, Pitseolak Ashoona foi agraciada com numerosas honrarias pelo seu trabalho artístico, que incluíram a sua eleição para a Royal Canadian Academy of Arts em 1974, a atribuição de um Canada Council Senior Arts Grant em 1975 e a Order of Canada em 1977. Quatro dos filhos de Pitseolak tornaram-se artistas, incluindo Napachie Pootoogook e três dos seus filhos, que se tornaram escultores altamente respeitados: Qaqaq, Kiugaaq e Komwartok. Pitseolak Ashoona deixou aos filhos um rico legado de realização artística e um exemplo duradouro.


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Salvando Um Caçador a Afogar-se, 1983 litografia, 15/50 sobre papel de algodão, wove marca de água: BFK Rives/France impressa por Pitseolak Niviaqsi, 194765,5 x 51 cm Cape Dorset 1984, nº. 8 (não catalogado) Portfólio II


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Tenda de Verão de Antigamente, 1966 gravura sobre pedra, prova II (edição: 50) sobre papel kozo, wove impressa por Eegyvudluk Pootoogook, 193159,4 x 82,5 cm Cape Dorset 1969, nº. 8

A tenda de pele de foca era mudada todos os Verões porque secava e depois tornava-se muito difícil de usar. Eu costumava ver a minha mãe a fazer estas tendas. Ela raspava o udjuk [ujjuk] três vezes com o ulu e cosia as peles no chão. As peles secavam muito depressa, também, por isso trazia-se musgo húmido da tundra para cobrir as peles à medida que ela as trabalhava. Citação de Pitseolak Ashoona por Dorothy Harley Eber no livro Pitseolak: Pictures out of My Life


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MEMÓRIAS DE PITSEOLAK ASHOONA Por Napachie Pootoogook, sua filha

O modo de viver da minha mãe foi-nos transmitido a nós, seus filhos. Ela alimentava-nos e vestia-nos, apesar de já não termos pai. A vida era muito difícil para a minha mãe, tentando criar-nos enquanto alguns dos seus parentes tinham vidas mais fáceis. Ela fazia desenhos para nos sustentar e encorajava-nos a fazer o mesmo. Ela morreu há pouco tempo.

Ela costumava usar a sua imaginação e não gostava de intromissões quando estava a fazer os seus trabalhos, porque não queria que o fio dos seus pensamentos fosse perturbado. Ela costumava trabalhar no quarto para não ser distraída. Ela não dizia. «Vou fazer isto desta maneira», ela usava a sua própria imaginação.

Ela fez tudo para nos vestir e alimentar e, mais tarde, não teve que passar por tantas dificuldades. Eu estou-lhe muito agradecida ainda hoje, embora ela tenha partido e a memória dela seja preciosa para mim. A minha mãe conseguiu sobreviver a tudo embora tenha havido anos muito difíceis. Ela morreu com o respeito dos filhos. (Escrito em Março de 1991.)

As memórias que tenho da luta da minha mãe estão muito vivas no meu espírito e, por vezes, desejo que ela ainda fosse viva e que eu pudesse ter a oportunidade de retribuir a ajuda que ela nos deu, pois ajudou-nos muito. Nesses tempos, o clima também era muito frio e o combustível para as lamparinas era muito escasso para estas conseguirem aquecer a casa. Esta é a minha ligação emocional com a minha mãe. Ela continuou a dar de si própria até morrer. Gosto de pensar nisso. Na altura em que ela começou a viajar para o Sul, sinto um especial prazer em saber que ela era bem tratada e que os seus esforços tão laboriosamente conseguidos foram [recompensados]. Fiquei feliz por saber que lhe foi permitido fazer algo que lhe dava prazer. (1991, entrevista com Odette Leroux.)


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Por Kenojuak Asevak

Por Pitaloosie Saila

Eu vou agora contar uma história sobre os desenhos de Pitseolak Ashoona. Ela costumava desenhar cenas de caçadores, com as suas mochilas, e de pessoas de pé do lado de fora do iglu com os cães na cena. E, como artista, há alturas em que nada nos vem para desenhar, e havia alturas em que ela começava simplesmente a rir-se. Quando eu a ia visitar ela fazia muitos desenhos diferentes e também esculturas. Quando a observava [a trabalhar] eu ficava sempre espantada com as capacidades dela. É isso que eu recordo mais a respeito dela.

Vou escrever sobre a altura em que me comecei a recordar de Pitseolak Ashoona. Foi quando vivemos num acampamento chamado Keatuk, não muito longe de Cape Dorset. Ela e os filhos viviam aí com os parentes dela.

Eu gostava sempre muito de ir visitar Pitseolak. Quando era jovem, costumávamos sempre jogar alguns jogos. Ela fazia-me sentir sempre bem-vinda. Jogávamos alguns jogos e dançávamos, ela deu-me lições de dança quando eu ia a casa dela e eu tentava o meu melhor para aprender. Algumas vezes ela tocava o acordeão. A filha dela, Napachie, também ficou muito ligada a mim. Napachie Pootoogook não queria nunca deixar-me ir embora porque ela era a única rapariga nesse sítio.

Toda a gente a considerava uma pessoa amiga e bondosa. Os rapazes e as raparigas gostavam muito dela e mesmo os adultos também gostavam dela. Ela parecia sempre mostrar afeição por eles. Costumava rir frequentemente e contar histórias que conhecia e que lhe tinham acontecido há muito tempo; histórias excitantes, de riso e também dos tempos tristes. Não só as suas histórias mas também as dos outros, ela contava-nos sobre as muitas maneiras como os inuit viviam, as maneiras como ela tinha visto os verdadeiros inuit viver há muito tempo. As histórias que ela costumava contar, ainda hoje eu as lembro e nunca as esquecerei. (Escrito em Fevereiro de 1992.)


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Glossário ajagak amaut amauti amautiit amaruq amaruuk amaruit Arnakutaaq atagi avataq igloo inniutik inuit inuk inuuk inukshuk inuktitut Isummavut

versão inuit do jogo das argolas bolsa nas costas da parka de mulher utilizada para transportar coisas parka de mulher plural de amauti lobo dois lobos lobos (mais do que dois) «mulher alta»; nome dado a Alma Houston parka interior bóia feita de pele de foca insuflada (illu) casa feita de blocos de neve armação de secagem o povo uma pessoa, humano; singular para inuit duas pessoas, humanos (inussuk) montículo construído de rochas; por vezes do feitio de um ser humano (inuttitut) a língua inuit os nossos pensamentos

kajjarnartuq kamik kamiik kamiit kinngait kiputiit kuanniq nanuk natturaq Nunavut pauttuutit pilartutuk qajaq qajaak qajait qallunaat qarmaq

paisagem bela uma bota duas botas ou dois pares de botas mais do que dois pares de botas montanhas passagem a vau (de origem natural) utilizada para atravessar do continente para uma ilha comestível urso broche (pregador) de marfim a nossa terra estacas para secagem (também o nome escolhido para a Associação de Mulheres Innuit, com sede em Otava) esfolar a foca uma canoa (kayak) duas canoas canoas (mais do que duas) a gente branca casa de pedra, casa construída em blocos de terra, cabana tipo tenda


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qaumutik trenó qulliq lamparina tradicional a óleo, feita de pedra qulliik duas lamparinas a óleo qulliiq lamparinas a óleo (mais do que duas) qurvik bacio Saumik «o canhoto», nome dado a James Houston Taleelayu (Talilaju) deusa do mar, Sedna, sereia Tausunni programa inuit timiarjuaat grandes pássaros Tiuli nome dado a Terence Ryan, director e conselheiro artístico da Cooperativa Esquimó de West Baffin titirtugait gravura (processo) tulukaraq corvo jovem tusarautiniq termo que designa o modo como falamos uns com os outros tuurngaq espírito ujjuk foca ujjuuk duas focas ujjuit focas (mais do que duas)

uppaaraq uppik uppiik uppiit ulu uluuk uluit umiaq uujuq

uma coruja da neve jovem uma coruja da neve duas corujas da neve corujas da neve (mais do que duas) faca de mulher duas facas de mulher facas de mulher (mais do que duas) barco de pele de foca guisado


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Bibliografia “A Look at some Inuit crafts: Jewellery.” Ottawa: About Arts and Crafts V, nº I (1982), pp. 3, 22, 23. Ashevak, Kenojuak e Cynthia Cook. “Drawing Is Totally the Reverse of the Process of Carving.” Inuit Art Quarterly 4, nº 2 (Primavera 1989), pp. 23-25. Baird, Irene. “Land of the Lively Art.” The Beaver (Outono 1961), pp. 12-21. _____. “Cape Dorset Man.” Canadian Geographical Journal LXXI, nº 5 (Novembro 1965). pp. 170-175. Barz, Sandra, ed. Inuit Artists Print Workbook. 2 volumes. Nova Iorque: Arts and Culture of the North, 1981-1990. Bellman, David, ed. Peter Piseolak (1902-1973): Inuit Historian of Seekooseelak: Photographs and Drawings from Cape Dorset, Baffin Island. Catálogo da Exposição, com um ensaio por Dorothy Eber. Montréal: McCord Museum, 1980. Berlo, Janet Catherine. “Inuit Women and Their Art.” Brochura da Exposição. St. Louis: University of Missouri St. Louis, 1988. _____. “Inuit Women and Graphic Arts: Female Creativity and Its Cultural Context.” The Canadian Journal of Native Studies 9, nº 2 (1989), pp. 293-315. _____. “The Power of the Pencil: Inuit Women in the Graphic Arts.” Inuit Quarterly 5, nº I (Inverno 1990), pp. 16-26. _____. “Pictures by Inuit: Remembering the Dismembered.” Comunicação apresentada no College Art Association of America Annual Conference, Chicago, Illinois, 1992. Blodgett, Jean. Eskimo Narrative. Catálogo da Exposição. Winnipeg: Winnipeg Art Gallery, 1979.


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A última metade do século XX foi marcada por transformações drásticas não só em termos globais mas também dentro da cultura inuit. Em nenhum outro lugar é esta mudança mais evidente do que nos papéis sociais emergentes das mulheres inuit. O surgimento de nações do Terceiro Mundo como novos actores na cena mundial e a emergência de um movimento feminista a nível internacional coincidiram com um período de profunda mudança cultural no Norte do Canadá. Para as mulheres inuit, este período assistiu não só a uma deslocação da terra para as novas povoações dos padrões de vida tradicionais para os modernos mas também a uma época de apropriação de novos valores e de novas responsabilidades no interior da sua cultura e nas intersecções onde a sua cultura interage com as outras culturas do Sul do Canadá e com todo o mundo.


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