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Dedico este livro a todos os pinheirenses e a minha querida JoĂŁo Pinheiro.



Sumário Introdução

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Capítulo 1 – Instauração do cargo de Prefeito no Município e os primeiros prefeitos

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Capítulo 2 – O município começa a ter grandes melhorias

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Capítulo – 3 Manoel Neto e João Batista: disputa ou aliança?

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Capitulo 4 – 1996 a ruptura dos partidos tradicionais - O fim da alternância João, José e Manoel

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Introdução

Falar do desenvolvimento político de um munícipio implica diversas questões, não é nada simples descrever tantos períodos com precisão e legitimidade sem ter vivido tal época, mas aqui nesta obra tratarei deste assunto, usando citações, entrevistas e relatos, para tentar expor ao máximo os fatos políticos mais relevantes de 1931 à 1996 do município de João Pinheiro. Discorrer sobre o município de João Pinheiro se tornou mais difícil depois da perda de uma grande fonte, o senhor José Benevides Costa, que veio a falecer (no dia 04 de abril de 2016) antes de gravarmos nossa entrevista, a qual creio que seria de grande valor e significado para a obra em questão. Mas apesar do fato ocorrido em várias das minhas visitas à Casa da Cultura de João Pinheiro, com o grande auxílio dos servidores do setor, pude encontrar um rico acervo de entrevistas e registros, lá denominado de “Museu de Vozes”. Dentre as entrevistas estavam a de José Benevides Costa e diversas outras que também citarei no decorrer do livro. Sinto-me com grande responsabilidade ao tratar de um assunto que diverge tantas opiniões quanto à politica, visando escrever uma obra de qualidade busquei diversas fontes e relatos para discorrer do assunto. De antemão já agradeço a historiadora Giselda Shirley da Silva e ao cinegrafista e jornalista Welington Ney, por terem me norteado nas pesquisas realizadas na Casa da Cultura do município de João Pinheiro, e ao jornalista Rafael Ribeiro por ter me auxiliado na realização de entrevistas.

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Agora, já com todo esse acervo em mãos e em mente posso tentar discorrer o que já caracterizo como mínimo, mas não irrelevantes fatos do desenvolvimento político de João Pinheiro, começo no ano de 1931, ano em que se instaura o cargo politico de prefeito no município, e termino no ano de 1996, ano em que ocorre a ruptura dos partidos tradicionais para abrir uma nova forma de se fazer política.

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Capítulo 1

Instauração do cargo de Prefeito no Município e os primeiros prefeitos “Um homem simples, mas um homem superior, Genésio Ribeiro. João Pinheiro não tinha água encanada, João Pinheiro não tinha luz. Genésio prefeito de João Pinheiro, o primeiro foi Genésio. Genésio é que fez tudo, Genésio trouxe luz ‘praqui’, e fez tudo. Genésio Ribeiro foi um grande prefeito, homem sem estudo, mas inteligente.” (MUZEU DE VOZES 2014)

O Museu de Vozes é um projeto cultural que consiste em coletar entrevistas de pessoas que tiveram alguma influência no desenvolvimento e que fizeram parte da história do Município. Uma incrível iniciativa da Secretaria de Cultura de João Pinheiro a fim de resgatar a cultura e história local. O Sr. José Benevides Costa foi uma dos munícipes a ser entrevistado. Benevides nasceu no ano de 1913 em João Pinheiro e veio a falecer em 04 de abril de 2016. Ainda jovem foi combatente na revolução de 1932 entre Minas Gerais e o estado de São Paulo e fez parte da história do Município, tendo vários depoimentos registrados. Em sua entrevista ao Museu de Vozes, Benevides ainda estava lúcido, porém já apresentava sinais de esquecimento. Um homem vivido, com as marcas de quem 4


já estava finalizando sua passagem nessa vida. 104 anos de muita luta, e alegria nos olhos ao poder contar histórias importantes para todos nós. Benevides ficou imortalizado. Em sua entrevista para o Museu de Vozes, da Casa da Cultura de João Pinheiro, o senhor José Benevides já nos adianta um pouco sobre o primeiro prefeito do Município, Genésio Ribeiro. Genésio José Ribeiro, segundo Benevides, tinha patente de capitão. Capitão Genésio, o primeiro prefeito nomeado para o cargo, assumindo o poder em 02 de janeiro de 1931. No mesmo período na Presidência do Brasil estava Getúlio Vargas. O Capitão foi nomeado para o Cargo, uma vez que naquela época ainda não existiam eleições, Genésio Ribeiro, de acordo com registros da Câmara Municipal, já havia atuado na presidência da Câmara e na função de Agente Executivo na década de 1920. No Livro de Atas da Câmara (1931-1948, p. 03) é possível encontrar o registro do relatório do Capitão Genésio José Ribeiro enviado ao Secretário do Interior e Assistência Política, com sede em Belo Horizonte, sobre seu primeiro trimestre de atuação no cargo de Prefeito: “Na qualidade de prefeito deste município, venho apresentar a vossa excelência o relatório dos negócios municipais, referentes aos três primeiros meses de minha gestão. Ao assumir o cargo em dois de janeiro do corrente ano, encontrei a administração completamente desorganizada, nenhum empregado se conservava no posto [...] os serviços públicos estavam em completo abandono,

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cobertas de matagais e gravemente danificadas pelas enxurradas, o cemitério da cidade servindo de pastos para os animais [...] e finalmente a canalização da água que reclamava urgentes reparos.” (GONÇALVES 2009)

Como havia citado o senhor José Benevides em sua entrevista para o Museu de Vozes, o Capitão foi responsável por inúmeras melhorias ao Município, começando pela reforma da canalização da água, substituindo os canos antigos que, segundo seu próprio registro, reclamavam urgentes reparos. José Benevides deu mais detalhes sobre essa canalização, agora em entrevista a Maria Célia da Silva Gonçalves (em 07/12/2009 para sua tese de doutorado pela UNB), nela assim dizia: “Os canos eram finos, a canalização foi feita por João Cordeiro. Meu pai, o Benevides, quando era solteiro, trabalhou na canalização dela, quando eles colocaram na primeira vez. [...] O Genésio Ribeiro quando foi prefeito nos anos trinta, foi para Belo Horizonte comprar os canos de ferro, canos grossos. [...] O Vapor foi que trouxe esses canos até na Caatinga e de lá pra cá, foram trazidos de carro de boi. O tempo gasto para transportar esses canos foi três meses sem parar, pois o meio de transporte só trazia dezesseis canos de cada vez. Era muito pesado e era muito cano. Ele abasteceu João Pinheiro de água.” (GONÇALVES 2009)

Percebo, através das entrevistas, como José Benevides vivenciou tal época verdadeiramente. Suas falas são 6


sempre ricas em detalhes, e tendo o conhecido em vida sei o quanto ele se sentia valorizado quando parávamos para ouvi-lo. Em seu relatório do primeiro semestre de 1932, enviado ao Secretário do Interior, Genésio Ribeiro discorreu: “As ruas da cidade estão danificadas e carecendo em todos os tempos de cuidado por parte das administrações. Tem merecido atenção cuidadosa da prefeitura. As ruas outrora, cheias de mato e buracos estão presentemente em bom estado. Mandei limpar e consertar, fazendo aterros, abaulamentos, calçadas e encascalhamento, de maneira a tornaremse transitáveis por veículos de qualquer espécie. O que antes era feito com muito sacrifício e risco de prejuízo para seus proprietários.” (GONÇALVES 2009)

De acordo com os relatos de José Benevides e dos relatórios registrados pelo próprio prefeito em questão é fácil perceber que seu o plano de governo foi, em grande parte, para a melhora da infraestrutura de João Pinheiro. Passado um bom período de governo, o prefeito Genésio José Ribeiro deixou o cargo (em 1936) solicitando afastamento para tratar de negócios de seu interesse particular. Em seu afastamento, assumiu Romualdo Simões Cunha, que segundo José, era conhecido como Dudu. Segundo registos, em 08 de agosto de 1936 a Câmara Municipal realizou uma eleição para o cargo de Prefeito Municipal, que elegeu o Sr. Antônio Pereira de Andrade, 7


por unanimidade de novos (nove votos), em regime indireto e secreto. Antônio Pereira de Andrade, de acordo com os depoimentos Benevides, era conhecido popularmente como Antônio Romero. O mesmo atuou até 1945, período em que Getúlio Vargas governou o país na sua fase Constitucional e ditatorial. Com o Golpe de estado implantação do Estado Novo legitimado pela Constituição de 1937, Antônio Romero continuou à frente do cargo, período em que foram suspensas as eleições até a saída de Vargas. Na Edição Especial do Correio Pinheirense (de 14 a 20/09/1980), Olavo Valadares que foi Promotor de Justiça em João Pinheiro por 20 anos, demonstrou seu apreço pelo município e através da sua coluna “Estórias do Alegre”. Nela, Valadares, relatou vários fatos relacionados à trajetória local, ao cotidiano e às pessoas que, na sua concepção, mereciam ser lembradas. “Era um homem de brio e honesto. Zelou da coisa pública com probidade. Agrimensor prático, inscrito no conselho Regional de Engenharia, prestou inestimáveis serviços à justiça do município e primava pelo critério e capricho que dava a todos os seus trabalhos de campo. Com a volta do regime democrático em 1945 foi exonerado e integrou-se nas fileiras do Partido Social Democrático e aqui no município era conhecido na política como “Velho Cacique”, mas ninguém tinha coragem de chamá-lo assim na sua frente. [...] também foi fazendo na sua querida Laginha, distrito de Canabrava. Foi casado com D. Ester, natural de Paracatu. [...] Morreu depois da demorada enfermidade que o prendeu na

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cama por longo tempo, mas enquanto lhe restou uma força jamais abdicou de seus hábitos de passear a tarde pelas ruas da Cidade que ele tanto amou.”(VALADARES 1980)

O trecho acima é parte do que foi escrito sobre Antônio Romero. A riqueza de detalhes que Dr. Olavo escreve em sua Coluna me chamou bastante atenção, Olavo demonstra grande conhecimento da política local e de seus membros. Benevides conta que após a saída de Getúlio Vargas como presidente e de Antônio Romero como prefeito de João Pinheiro, o período foi de instabilidade política em toda a nação. A administração do município foi uma sessão contínua e instável. Logo assumiu a administração do município, por um curto período, o Dr. Péricles Francisco Rodrigues. De acordo com dados obtidos na Câmara Municipal ele assumiu apenas do mês de janeiro ao mês de fevereiro de 1946. Em sua coluna Dr. Olavo Valadares falou sobre a contribuição de Dr. Péricles ao município: “Era das bandas de São João Del Rei e aqui exercia sua clínica. Era o que se podia chamar de um homem de boa vontade, e assumiu a prefeitura quando foi nomeado pelo governo do Estado que havia sucedido Benedito Valadares. Durante pouco tempo esteve à frente do Executivo e não podia ser de outra forma; uma pessoa boa, mas apenas teórica, pois, não estava familiarizado com tendências de uma comunidade completamente diferente de seu meio. João Pinheiro deve ter por ele um sentimento de gratidão por que ele

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serviu com sacrifício a esta comunidade, e se esforçou para nos dar o melhor de sua juventude.” (VALADARES 1980)

Em conversa com sua neta, Giselda Shirley da Silva, sobre Dr. Péricles o Senhor José Benevides Costa relatava que ele havia sido um médico muito bom. “Ele dizia que o Dr. Péricles era um médico muito bom. Que ele atendia na clínica dele e também ia à casa do vovô quando precisava. Ele tratou do vovô 30 dias quando ele adoeceu e o curou”, disse Giselda. Seguido de Dr. Péricles quem assumiu a administração municipal foi Antônio Isidoro de Santana, também por um curto período de tempo, sendo nomeado de março a julho de 1946. Dr. Olavo também discorreu em sua coluna sobre Isidoro: “Antônio Isidoro era “inteligente e habilidoso, conhecedor profundo da mentalidade de nossa gente”. Patrocinava demanda nas lides forences, defendia no Júri. Foi um grande e respeitável rábula; sua contribuição a nossa comunidade foi inestimável. Tinha os horizontes largos. Fazia os filhos estudarem na capital do Estado e teria vivido sua vida toda em nosso meio se os laços do destino não tivessem surpreendido em hora amarga de sua vida de homem público e de pai extremado.” (VALADARES 1980)

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Capítulo 2

O município começa a ter grandes melhorias “Assumiu a prefeitura o homem mais agradável e enigmático que conheci em toda minha vida: Rico, generoso, desprendido, perdulário, sensível, brigão, humano, espirituoso, paciente, amoroso, inconsequente. [...] O Coronel Hermógenes era seu avô, mas criou-o como se filho fosse. O pai dele mesmo vivia fazendo via sacra pelas Comarcas de Minas Gerais, Juiz de Direito que era, tanto assim que Geraldo Rios nasceu em Patos de Minas [...]. Na prefeitura com 34 anos de idade procurou o governo de Minas e pediu apoio e benefício para sua terra [...]. Só promessa... Seu tempo até entrar o prefeito Constitucional era pouco e ele resolveu agir por conta sua conta. Pegou o pessoal das suas fazendas, cerca de duzentos agregados e empregados [...] e em pouco prazo o campo de aviação estava pronto [...] inauguração do Aeroporto de João Pinheiro. [...] Fez do bolso dele.” (VALADARES 1980)

O promotor Dr. Olavo Valadares, não deixou de “rasgar” elogios ao seu sogro, Geraldo Silveira Rios, em sua coluna “Estórias do Alegre”. 12


Geraldo Silveira Rios foi quem assumiu o cargo de prefeito entre os meses de agosto de 1946 a janeiro de 1947. Geraldo Rios, como era conhecido, era de família historicamente influente na política local. Geraldo continuou frente ao cargo após ganhar a eleição. Filiado a UDN, saiu vitorioso ao candidato Sperdião Simões da Cunha. De acordo com registros municipais seu mandato foi de 1947 a 1951. Benevides Costa em seus relatos conta que entre as conquistas de seu governo destacou-se a criação da Comarca em 1948. Geraldo Rios ficou conhecido como um bom administrador pelo povo pinheirense. Seguinte ao primeiro mandato de Geraldo Rios, quem exerceu a função de prefeito do município foi Lindolfo Pereira Carneiro, como candidato único. Lindolfo Carneiro ficou frente à administração de 1951 a 1954. Na mesma coluna de todos os relatos anteriores, Dr. Olavo também falou de Lindolfo, que segundo ele, era: “Um homem simples, desprovido de ambição. Acabou deixando a prefeitura antes do término de seu mandato. Foi para sua fazenda do Cachimbo e passou o bastão para o presidente da Câmara, pois não tinha vice-prefeito.” (VALADARES 1980)

Quem finalizou o mandato de Lindolfo Pereira Carneiro, foi o Vereador e Presidente da Câmara, Manoel Nunes Caixeta, pois como retratou Dr. Olavo Valadares, ele não tinha um vice para assumir. Em sequência José Romero da Silveira foi eleito para ser 13


o novo governante, tendo como vice Sebastião Mendonça Filho, e segundo registros da Câmara e relatos de José Benevides ambos eram filiados a UDN. Na mesma entrevista que concedeu a Maria Célia da Silva Gonçalves, o senhor José Benevides conta que José Romero foi o primeiro prefeito a comprar uma patola para o município de forma a minimizar as dificuldades em relação a precariedade das estradas de João Pinheiro. Também em entrevista concedida a Maria Célia da Silva Gonçalves, Iolanda Romero, arquiteta e filha de José Romero, relatou (em 05/12/2009) sobre o governo de seu pai: “Meu pai recorreu a Juscelino no Rio de Janeiro à época que soube da construção da rodovia que ligava Belo Horizonte a Brasília, e como prefeito solicitou a passagem da mesma por dentro do município, pois a mesma de acordo com o trajeto antigo passaria por outro destino, via Patos de Minas. Assim foi concretizada a solicitação do prefeito José Romero por ocasião da construção de Brasília, passando a rodovia a cortar o município. Em comemoração a esta conquista foi oferecida ao Juscelino em João Pinheiro pelo prefeito José Romero um churrasco de agradecimento. O evento contou com a presença do presidente da República e do deputado Antônio Candido Gonçalves Ulhoa, conhecido como Dr. Candinho, que era médico e amigo de papai. Foi uma festa, teve banda de música e muitos convidados. Ele foi recebido na prefeitura, depois foi oferecido um almoço lá em casa com salgados, bebidas e a seguir um

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churrasco. Foi um grande evento naquela cidadezinha da época, a pracinha ficou lotada. Todo mundo queria ver o presidente da República.” (GONÇALVES 2009)

No relato de Iolanda percebemos o quão foi importante o governo de José Romero para o desenvolvimento do município, imagine se esse pedido não houvesse sido realizado, como estaria João Pinheiro? É inimaginável o município sem essa rodovia, João Pinheiro ainda seria apenas uma cidadezinha esquecida no noroeste mineiro. Em sua entrevista para o Museu de Vozes, aqui já citada, o senhor José Benevides também falou sobre a construção da BR 040, e confirmou o que já havia pensado sobre o que seria de João Pinheiro sem a rodovia: “A rodovia foi feito mesmo aqui né, a rodovia, em João Pinheiro, João Pinheiro foi feliz com essa rodovia, consertou nossa terra, nossa cidade, o nosso povo, que sem essa rodovia aqui, isso aqui, não era nada, dificuldade pra tudo.” (MUSEU

DE VOZES 2014)

Para Maria Célia, em sua entrevista, José Benevides contou que a cidade era muito diferente antes da chegada da 040: “A cidade era muito diferente da cidade de hoje. Poucos moradores, ruas tranquilas, poucos estabelecimentos comerciais. As ruas eram tortas, a não ser, a praça, que era o Largo da Matriz.” (GONÇALVES 2009)

Ainda em sua entrevista para Maria Célia, Iolanda Romero falou mais sobre o governo de seu pai: 15


“Eu lembro que meu pai era prefeito e eu era louca para que ele construísse praças [...] mas ele só queria construir estradas, pontes, canalização, chovia muito o pessoal não tinha como transitar.” (GONÇALVES 2009)

É fácil perceber que José Romero tinha grande vontade de que o município crescesse cada vez mais, e se preocupava com a infraestrutura municipal, sempre visando a construção de novas estradas e pontes. Construída no município no final da década de 1950, a BR 040 possibilitou a cidade um impulso rápido após sua construção, o Dr. João Batista Franco relatou isto em sua entrevista ao Museu de Vozes: “Muitos eram os viajantes que passavam por ela, fossem com destino ao Rio, Belo Horizonte ou Brasília, atraindo pessoas da região que vieram investir no município”.

(MUSEU DE VOZES 2014)

Em sua coluna “Estórias do Alegre”, Dr. Olavo Valadares teceu sobre José Romero as seguintes palavras: “Era um homem bem intencionado. Foi candidato único de todas as correntes partidárias, de 1955 a 1959. Já era a segunda vez consecutiva que não se disputava eleição para prefeito em João Pinheiro. José Romero tinha uma boa penetração na esfera do Governo Estadual e fez uma administração tranquila. [...] foi no seu governo que apareceu o primeiro trator de esteiras. Era um UDN-10 de fabricação francesa que o Juscelino arranjou para ele. Ele soube tão bem

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conduzir o município que conseguiu fazer o seu sucessor.” (VALADARES 1980)

No ano de 1959 a 1962, o cargo de prefeito ficou sob a responsabilidade de José Silveira e seu Vice foi José Romero da Silveira. De acordo com Dr. Olavo, José Silveira: “era um homem pautado no respeito à lei e jamais usou poder para beneficiar o interesse político”. Jovino Joaquim da Silveira, que é irmão de José Silveira e foi vereador por 20 anos em João Pinheiro, falou sobre o mandato de seu irmão para o Museu de Vozes: “José Silveira, ele foi um prefeito assim, muito rígido, muito direito, muito forte, ele era dono de Cartório, tinha fazenda e saiu praticamente pobre de João Pinheiro. Mas a gente lembra de algumas coisas que ele fez aqui essa estrada que vai para Olhos D’água pelo Cerradão foi ele que fez de enxadão, e enxada e machado, por que na época nós não tínhamos maquina né, adquiriu um jipe “praqui” na época anos 58 “capotazinha de aço”, tá, era o carro que a prefeitura tinha era esse jipe. E na época João Pinheiro não tinha produção nenhuma nem renda nenhuma né, então ele lutou com muita dificuldade aqui, mas deixou o nome limpo na cidade, deixou um nome que até hoje é lembrado por todos aqui por conhece-lo né como um dos prefeitos mais honestos que passou por João Pinheiro, me envaidece muito, engrandece muito a nossa família né, [...] mas ele olhava as coisas da prefeitura mais do que as coisas dele sabe, não deixava ninguém pegar nada, ninguém saía com nada. Eu considero que ele foi um grande

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prefeito também de João Pinheiro, não é por que ele foi meu irmão não mas é um dos melhores prefeitos que João Pinheiro teve.” (VALADARES 1980)

Na entrevista de Joaquim Silveira fica nítido seu orgulho ao falar do governo de seu irmão, Joaquim já estava doente quando concedeu a entrevista ao Museu de Vozes, e veio a falecer dois meses após o registro. Capitão Speridião Simões da Cunha, obteve seu segundo mandato em 1963, tendo como Vice Manoel Luiz de Paula Filho, que segundo Benevides era conhecido popularmente como Nezinho, e Speridião levou o apelido de Dozinho para compor slogan da campanha, que era a “Cruz da Salvação”. O Sr. José Benevides contou, em sua entrevista ao Museu de Vozes sobre um dos feitos do governo de Dozinho e Nezinho: “Quem fez a estrada pra Caatinga foi Dozinho, com enxadão, picareta, machado, daqui a Caatinga.” (MUSEU DE VOZES 2014)

Em 1964 com o Golpe no Plano Nacional, o processo democrático foi interrompido. Os militares estabeleceram o bipartidarismo, podendo existir apenas os partidos Aliança Renovadora Nacional (ARENA) e Movimento Democrático Brasileiro (MDB). José Carlos Romero filho do ex-prefeito José Romero da Silveira, foi eleito em 1967, assumindo o cargo em seu primeiro mandato. José Pinico era a forma na qual José Carlos Romero ficou conhecido junto aos eleitores, seu Vice foi Telêmanco de Deus Vieira, afiliados ao MDB. 18


Sobre o governo de Zé Pinico muito se tem a dizer, o senhor José Benevides, em sua entrevista ao Museu de Vozes falou: “Governador de Minas, Israel fez alguma coisa, acho que essa luz, essa rede de luz o Zé pinico era prefeito, foi Zé Pinico que pediu o governador Israel. Aqui não ia passar a rede de energia, foi Zé Pinico com Israel como governador de Minas. Zé Pinico foi lá e pediu ele. Essa rede de luz ia pra Paracatu, mas passava fora de João Pinheiro.” (MUSEU DE VOZES 2014)

No relato de Benevides é possível identificar que José Carlos Romero teve grande participação nas melhorias e no desenvolvimento de João Pinheiro. Ressaltando sempre que ele teve um grande apoiador, o governador da época, Israel Pinheiro. Também para o Museu de Vozes da Casa da Cultura de João Pinheiro, Barroso, que já foi vereador falou sobre o governo de Zé Pinico: “No primeiro mandato do Zé Pinico eu fui vereador. Naquele tempo vereador não recebia ordenado não. Não ganhava nada. Era de graça. A gente trabalhava pelo município. Pelo povo. A gente era eleito pelo povo, né?! Todas as reuniões o Zé Pinico mandava me buscar. [...] Eu sei que quando fui vereador Zé Pinico era muito bom. Um pedido meu era atendido na hora. A gente não ganhava nada, mas, todo lugar que chegava era muita benção. [...] Os projetos meus eram aceitos, nunca tive nenhum projeto rejeitado.”(MUSEU DE VOZES 2014)

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Joaquim Silveira ainda em sua entrevista para o Museu de Vozes relatou: “Eu posso te afirmar de letra, de cadeira, que o melhor prefeito que nós tivemos em João Pinheiro chama-se Israel Pinheiro, aí você vai me falar assim: mas Israel nunca foi prefeito de João Pinheiro; mas na realidade nós devemos muito a Israel pelo que nós temos aqui até hoje, inclusive estrada pra Brasilândia, luz elétrica, é, o primeiro trator que veio pra João Pinheiro aqui foi da época que o Israel era governador, que ele importou 50 tratores da Itália e mandou um para João Pinheiro de graça, foi onde Zé Pinico começou a fazer [...]. Ele tinha, assim, um ‘certo ar partenalístico’ sobre Zé Pinico, na época que era o prefeito, sabe, e ele brigava com Zé Pinico, quando Zé Pinico fazia alguma coisa de errado.” (MUSEU DE VOZES 2014)

Zé Pinico foi responsável por trazer a CEMIG para João Pinheiro, fator que alavancou o crescimento e desenvolvimento do município. Essa conquista se deu com a colaboração e apoio do governador Israel Pinheiro. É válido lembrar que o nome do município foi uma homenagem ao pai de Israel Pinheiro, o senhor João Pinheiro. Tendo em vista imagino que tal fato tenha influenciado Israel no gosto em contribuir para o crescimento e desenvolvimento do nosso município.

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Capítulo 3

Manoel Neto e João Batista: disputa ou aliança? “Bom, a gente era adversário político, né, bem empenhado, ele empenhado na campanha dele e eu bem empenhado na minha campanha, mas sempre houve um respeito entre a gente, entre os partidos aqui, e isso a gente pode até botar a mão pra o céu e dar graças a Deus por que João Pinheiro nunca teve violência na política né [...]. E o Manoel Neto era um grande político apesar de tudo, ele era um grande político, ele não guardava rancor, era uma pessoa que teve muitos erros na administração, mas teve muitos acertos também.” (MUSEU DE VOZES 2014)

O sucessor de Zé Pinico foi Manoel Lopes Cançado, conhecido popularmente como Manoel Neto, que concorreu nas eleições com Joaquim Silveira, em 1970. Manoel Neto fazia parte do ARENA 1, e Joaquim Silveira do ARENA 2. Sobre essa disputa Joaquim Silveira falou acima em sua entrevista ao Museu de Vozes, aqui mencionada. Também em entrevista ao Museu de Vozes, João Batista Franco, que foi prefeito posterior ao primeiro mandato de Manoel Neto falou sobre seu primo: “Em 70 eu apoiei o candidato Joaquim

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Silveira, contra meu primo Manoel Lopes Cançado, que ele era de origem a política do vovô Manoel Luiz, vô dele e meu que era da UDN [...]. Eu já seguia o lado do meu avô paterno Antoninho Batista, que seguia o PSD.” (MUSEU DE VOZES 2014)

Manoel Neto ficou conhecido como um dos grandes nomes da política pinheirense, foi prefeito por três mandatos. Algumas pessoas, dentre elas o Sr. José Benevides Costa, relatam que ele possuía como símbolo de campanha um chapéu preto enterrado até as orelhas, ficando popularmente conhecido como “chapéu atolado”, muitos falam ainda que era um “caboco” generoso e que sempre atendia as necessidades do povão. A disputa familiar se deu quando João Batista Franco se candidata, tendo como Vice Benedito Soares Araújo, saindo vitorioso na campanha contra seu primo de primeiro grau. Filhos de duas irmãs a disputa política entre os dois perdurou por tempos. Joaquim Silveira contou em sua entrevista ao Museu de Vozes que apoiou João Batista Franco nas eleições: “Eu peguei e lancei João Batista como candidato a prefeito de João Pinheiro. João Batista era gerente da Caixa Econômica Estadual aqui, e insisti com ele, ele foi o nosso candidato [...] e nós ganhamos a eleição 72.” (MUSEU DE VOZES 2014)

Sobre o governo de seu amigo João Batista, Joaquim Silveira relatou ainda: “O João trabalhou bastante, teve uma condição muito boa de prefeito, ele

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trabalhava muito, só que ele confiava só nele, não era de tá confiando muito nos outros não, só ele e a esposa. Foi um bom governo pra época, ele mudou praticamente a cidade, eu ainda até hoje faço alguns elogios pra ele, no sentido até de abertura de ruas, aqui que até hoje nenhum prefeito conseguiu abrir ruas aqui em João Pinheiro [...] Foi aberta aquela rua do lado do Banco do Brasil, foi João Batista que abriu, foi aberta aquela rua lá da, ligando a avenida Juca Cordeiro a rua Jovino Silveira, [...] abriu aquela rua que dá seguimento aqui pro bairro Esplanada [...]. Então foi uma pessoa que teve muita visão pra essas coisas né, trouxe a rodoviária aqui lá pra praça Juca Gonçalves, [...] O João foi um bom prefeito, um dos bons prefeitos que João Pinheiro já teve.” (MUSEU DE VOZES 2014)

Segundo Joaquim Silveira o governo de João Batista era mais fechado, sem muita abertura ao povo para opinar ou fazer pedidos. João Batista foi um prefeito que pensava muito em suas atitudes e não pedia opinião ou aceitação dos eleitores. João Batista Franco falou sobre sua própria campanha ao Museu de Vozes da Casa da Cultura pinheirense: “Na minha campanha eu não prometia nada, eu prometia o povo assim: Olha, se eu ganhar o que eu puder fazer eu vou fazer [...]. Eu não vou dizer sim, quando eu precisar dizer não e não vou dizer não quando eu puder dizer sim. Inclusive meus companheiros falou assim: “ocê” não podia ter falado isso, isso é contra “ocê”,

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isso é ruim e tal, “cê” tem que falar que vai fazer tudo o que o pessoal te pedir. Eu falei: Não! Assim não serei justo com eles e nem comigo, vai ficar assim mesmo.” (MUSEU DE VOZES 2014)

Batista em sua entrevista se mostra orgulhoso de seus mandatos, hoje ele ainda tem prazer em contar histórias políticas, mas já perdeu um pouco da lucidez, e se confunde nas conversas. No seu mandato João Batista encontrou o município na precariedade, pouco havia sido feito para a melhora da infraestrutura do município, ele conta ainda hoje o mesmo que relatou ao Museu de Vozes: “A primeira preocupação minha, foi fazer o levantamento das necessidades que tinha o município na época e o município infelizmente necessitava de tudo. Quer dizer: a única coisa boa que o município tinha era que no governo, no primeiro governo que o Zé Pinico em sessenta e seis (1966), o Israel Pinheiro que tinha propriedade aqui, gostava muito de da região, trouxe a CEMIG até João Pinheiro. [...] Mas então veja; João Pinheiro não tinha água, a não ser esse chafariz [...], não tinha luz nos bairros, só no centro, não tinha telefone, pagava aluguel pra todos os órgãos. Pagava aluguel para o executivo, aqui num tinha Prefeitura, pagava aluguel pra Prefeitura, inclusive, quando no meu primeiro mandato a maior parte dele foi numa casa.” (MUSEU DE VOZES 2014)

José Benevides Costa, ainda em sua entrevista a Maria Célia, também relata sobre o chafariz do município, ele 25


contou que: “Tinha três chafarizes onde o povo pobre buscava água para atender às necessidades. As mulheres levantavam de madrugada para ir buscar água na cabeça, nas latas, nas cabaças. Tinha um chafariz de frente a cadeia, um na Picada e outro no Largo da Matriz. Era difícil!”(GONÇALVES 2009)

Entre as conquistas de João Batista para o município estava a construção do prédio do executivo: “Nós construímos a prefeitura, na época foi uma construção que chamou muita atenção, porque era de uma modernidade [...]; a gente se inspirou em Brasília [...] o projetista nosso era de Patos de Minas, Dr. Antônio Cirino. [...] Nós gastamos dois anos para construir o prédio.” (MUSEU DE VOZES 2014)

A construção da prefeitura se deu em frente à Matriz, houve muitos boatos sobre essa construção. Uns diziam que o prefeito João Batista havia derrubado a igreja para que fosse construído o prédio, mas João conta até hoje que não passou de intriga da oposição, pois a igreja foi derrubada após a construção da sede da prefeitura. Para o Museu de Vozes João declarou: “Nós construímos a Prefeitura na frente da Matriz, porque nessa época a Matriz já tinha sido vendida pelo Frei Norberto para a Triflora, era uma companhia de reflorestamento que tinha aqui. A Triflora comprou por causa das madeiras.” (MUSEU DE VOZES 2014)

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Dr. Olavo Valadares falou sobre a atuação de João Batista em sua coluna “Estórias do Alegre”: “João Batista saiu-se bem na sua experiência e conseguiu lançar no município uma mensagem de probidade administrativa e verdadeiro espírito de participação comunitária, colocando os interesses do Povo num esquema de realidade sem os engodos da demagogia.” (VALADARES 1980)

O Governo de João Batista Franco foi marcado por diversas melhorias ao município, até hoje seus mandatos são lembrados pela sua preocupação com a infraestrutura de João Pinheiro. João teve uma grande oportunidade de aprimorar seus conhecimentos como administrador em um curso na Espanha, ele mesmo relatou isto no Museu de Vozes: “Eu tive um momento de muita alegria, porque fui escolhido entre vinte e um (21) prefeitos, eu não sei por que merecimento mais, fui escolhido [...] para fazer um curso de Administração Pública na Espanha. Então a gente foi pra lá e ficamos lá dois meses, e a gente estudava de segunda a sexta.” (MUSEU DE VOZES 2014)

No primeiro mandato de João Batista outra grande construção, que teve repercussão em toda cidade, gerando divergentes opiniões foi a criação da obra de um novo cemitério. João Batista sempre pensou na infraestrutura do município, pensava no futuro, tinha uma visão à frente do seu tempo, e isso fazia com que as pessoas desacreditassem de suas ideias. 27


Batista retratou para o Museu de Vozes detalhes sobre essa construção: “Na realidade já tinha que ter sido construído o novo cemitério há no mínimo dez anos atrás. Porque quando ia abrir uma cova para colocar uma pessoa morta, muitas vezes dava em cima de restos mortais de outra pessoa, não cabia mais nada. Então nós fechamos o cemitério, cercamos aquela rua, né, que deu uma vazão muito grande, para o bairro Esplanada pra cá né. E construímos o Cemitério em 76. Então no final do nosso mandato nós inauguramos. [...] A gente pensava em tudo [...] Mas quando nós construímos o Cemitério lá, nós compramos lá uma área grande, tinha uma grota no meio e nós fizemos o cemitério só do lado de cá da grota e depois no segundo mandato nós ainda ampliamos uma parte, mas agora recentemente eles ampliaram mais um pedaço. [...] Eles falavam assim: O João tá querendo que o povo de João Pinheiro todo morto, inaugurar um cemitério desse tamanho, vai gastar uns duzentos anos pra encher. “Cê vê”, hoje nós já temos né, trinta anos depois teve que fazer ampliação. Outros falaram assim: A foi construir o cemitério lá perto de Paracatu.” (MUSEU DE VOZES 2014)

Em 1976, Manoel Neto candidatou-se novamente e foi eleito, ficando a frente do governo municipal de 1977 a 1983. Esse fora seu segundo mandato, tendo, desta vez, como Vice Juarez Braga de Lima. Neste mandato ocorreu uma prorrogação da gestão dos 28


prefeitos e vereadores para seis anos consecutivos, aprovados pelo Congresso Nacional. Sendo assim, Manoel Lopes Cançado ficou mais tempo frente ao posto. Dr. Olavo em sua coluna não deixou de falar sobre Manoel: “Acostumado á lida de sol a sol e muito voltado para as atividades do campo, no qual é um dos mais bem sucedidos fazendeiros pinheirenses, não se descuidava, no entanto, de um atuante trabalho a frente do Executivo Municipal, tarefa bastante árdua na atualidade, em virtude da escassez de recursos financeiros suficientes para levar adiante projetos mais arrojados. Mesmo assim, graças a seu prestígio político ele tem feito muitas conquistas.” (VALADARES 1980)

O fim do bipartidarismo aconteceu quando o Presidente João Batista Figueiredo decretou que deveriam criar novos partidos em 1979. Assim foi criado o Partido Social Democrático (PDS) e o MDB passou a ser PMDB. Surgiram diversos, mas em João Pinheiro foram esses dois que tiveram maioria. No ano de 1982, João Batista foi candidato a prefeito municipal e elegeu-se para seu segundo mandato, que vigorou até 1988, seu Vice foi Geraldo Magela Campos Abreu conhecido como Geraldo Capitão. Uma alternância de mandados dos primos? Ora um, ora o outro. Benevides nas suas entrevistas não comentou sobre o assunto, mas vários pinheirenses ainda questionam as coincidências de familiares se instaurarem no poder por tanto tempo. 29


Sobre seu segundo mandato João Batista disse ao Museu de Vozes: “No segundo mandato nós construímos o prédio da Câmara [...] A Delegacia era onde é a Biblioteca hoje, nós compramos o prédio lá. [...] Pagava aluguel pra EMATER, pro IEF e pro IESA, hoje o IMA, então nós construímos aquele prédio da EMATER e abrigamos esses três órgãos ali. Pagávamos aluguel pro SEESP, nós compramos uma quadra e construímos aquele “hospitalzinho” do SEESP. [...] Pagava aluguel pra SUCAM, nós construímos uma casa pra SUCAM. [...] Construímos trinta e oito (38) casas. Tinha que pagar aluguel pro Juiz, aí nós compramos aquela casa, onde hoje funciona a Delegacia de Polícia Civil. [...] Compramos a casa onde hoje mora o Jaber Felipe para o Promotor, certo. Essa casa o Manoel trocou, falou que doava, depois arrumava outra casa pro Jaber, mas ele tinha o direito de fazer isso. [...] Compramos da Igreja Católica onde funcionava o Cinema antigo [...] chamava Cine Paroquial. Aí o Manoel, quando teve o segundo mandato, ele doou esse prédio pra Marçonaria, onde hoje é a sede da Marçonaria. [...] podia ter doado outro [...] Nosso plano era ficar todo centro administrativo, construir ali.” (MUSEU DE

VOZES 2014)

Além das obras mencionadas por João Batista, seu governo também foi responsável: pela construção da Rodoviária, de novas 26 escolas em todo o município, a construção 30


do Parque de Exposições, e do Galpão da Secretaria de Infraestrutura. Criou o Sindicato dos Produtores Rurais, iniciou a construção do primeiro estádio de futebol do município, o DER e asfaltou diversos bairros. Com ajuda do Deputado Dalton Canabrava João Batista conseguiu contribuir mais ainda para o desenvolvimento de João Pinheiro: “O Dalton me ajudou a trazer e construir o INSS. Nós éramos uma cidade morta [...] nós lutamos e trouxemos a TELEMIG, né, pra cá. O Tancredo deixou como substituto o Hélio Garcia seu vice [...] O Hélio tirou uma licença de trinta dias [...] assumiu o governo do Estado o presidente da Câmara, que era o Dalton Canabrava [...] nesses trinta dias ele fez um projeto, mandou para a Assembleia e foi aprovado, para asfaltar João Pinheiro à Brasilândia, o que criou muita polémica [...] E o Hélio ao retornar manteve o projeto dele e começou a providenciar a construção da estrada.” (MUSEU DE VOZES 2014)

Sobre o governo de seu primo Manoel Neto, João Batista disse: “Ele não tinha muita visão de futuro e fazendo sempre assim; muita vontade de agradar as pessoas né, dando as coisas pros outros, coisas da época dele, coisa da prefeitura, assim: dava lote, dava uma coisa, outra. [...]

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Eu nem sei se ele era administrador, que na realidade como administrador ele foi um desastre. Tanto na vida particular dele como na vida pública. Agora assistencialista toda vida foi, e foi uma pessoa que dificilmente vão alcança-lo. [...] O que era da prefeitura era de quem quisesse de quem pedisse, e nem olhava lei, às vezes até entrava em contradição com a lei.” (MUSEU DE VOZES 2014)

É possível identificar a ineficácia do governo anterior de Manoel Neto com os relatos de João Batista, mas é importante salientar que os dois dividiam grande parte do eleitorado, e até hoje dividem opiniões entre os que defendem um ou outro. Mas existe também a cogitação de que os primos de primeiro grau revezavam seus mandatos, ora para um se eleger, ora para o outro. Joaquim Silveira falou sobre o assunto ainda na sua entrevista ao Museu de Vozes: “Existe até hoje uma certa desconfiança que o Manoel e o João trabalhavam juntos na política, quando era um o Manoel o candidato o João facilitava pra ele, quando era o João o candidato o Manoel facilitava pra ele e por isso o Manoel foi prefeito três vezes e o João duas vezes. Foi dando exatamente esse segmento. (MUSEU

DE VOZES 2014)

De 1989 a 1992 Zé Pinico ficou a frente do cargo novamente, em seu segundo mandato, tendo como Vice Dr. Adão Antônio Pereira. Manoel Lopes Cançado teve seu terceiro mandato nos 32


anos de 1993 a 1996, o que aumentou a cogitação de uma alternância nos mandatos. Dessa vez seu Vice foi Geraldo Ferreira Porto. Seu slogan na campanha foi “Todos Participando”. O fim do seu mandato se deu em meio à instabilidade política.

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Capitulo 4

1996 a ruptura dos partidos tradicionais - O fim da alternância João, José e Manoel “Eu acho que não tem dúvida não, essa colaboração mútua aí houve na época, tanto de um quanto do outro, e não sei se chegou a ser prejudicial pro João Pinheiro, para o município, mas realmente isso existiu, eu posso afirmar de cadeira que existiu.” (MUSEU DE VOZES 2014)

Já existiam boatos sobre a aliança política entre os primos João Batista Franco e Manoel Lopes Cançado; agora fora posto que a aliança era tripla, José Carlos Romero poderia estar neste meio. Joaquim Silveira tem total certeza disso no trecho acima. Sobre essa possibilidade pouco encontrei em minhas pesquisas. Mas os eleitores de 1996 queriam uma mudança. O período era de instabilidade política. As eleições de 1996 significaram o início de uma nova etapa no âmbito político, com o fortalecimento de novos partidos. Roosevelt Monteiro Porto e seu Vice, Carlos Gonçalves da Silva, foram os candidatos que propunham a ruptura do tradicionalismo político. Ambos eram filiados ao PSDB. 34


É relevante salientar que Roosevelt era filho de Geraldo Ferreira Porto. Pai e Filho disputaram as eleições de 96. O ano foi de intensa movimentação política e a ruptura se deu com Roosevelt eleito com 13.771 votos. Em entrevista concedida ao administrador Pedro Gil (para seu Trabalho de Conclusão de Curso no curso de Administração pela FCJP), encontrado no livro “Histórias e Memórias: Experiências Compartilhadas em João Pinheiro”, Roosevelt Monteiro Porto relatou: “Posso afirmar que a situação eleitoral era outra, e a população abraçou a campanha e foi para as ruas o movimento ganhou dimensões enormes, o nosso jingle era cantado por todos, os comícios bateram recorde de público, as camisas amarelas tomaram conta das ruas. À vontade de mudança era enorme, eu sentia isso no contato direto com o povo nos mais 70.000 mil km que rodei conhecendo cada região do nosso município e ouvindo e conhecendo as pessoas e fazendo grandes amizades. Para fazer política é preciso ter o dom de lidar com o povo, lidar com o varejo, fazer reuniões, saber e ter paciência para ouvir as reclamações da população, a caminhada é bastante desgastante principalmente o emocional, o nosso produto veio de encontro com a vontade da população e foi muito bem aceito, o desejo de mudança estava estampado no rosto de cada um, os mesários trabalhavam de amarelo, o povo foi para as ruas, eu somente acreditei verdadeiramente na vitória quando apurou a primeira urna que nos deu mais

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de 90% dos votos válidos, nesta hora acabou minhas dúvidas da nossa vitória, alcançamos uma votação expressiva de 13.771 votos, eu acredito que fiz o melhor possível parar fazer uma João Pinheiro melhor para todos nós que amamos esta cidade. Hoje eu vejo que estas evoluções nas campanhas não param de acontecer, e que a cidade já tem pessoas capacitadas para fazer o marketing de qualquer campanha política com uma linguagem mais conhecida e com aproveitamento maior das pessoas da cidade.”(GIL 2010)

Seu mandato perdurou de 1977 a 2000. Roosevelt faleceu em maio de 2013 em um acidente na MG-181 no noroeste mineiro.

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Referências GONÇALVES, Maria Célia da Silva. As folias de reis de João Pinheiro: Performance e identidades sertanejas no noroeste mineiro. 2010. 237 f. Tese (Obtenção do título de Doutor) – Instituto de Ciências Sociais Departamento de Sociologia, Universidade de Brasília, 2009. MUZEU DE VOZES. Produção de Welington Ney. Coordenação de Giselda Shirley da Silva. João Pinheiro 2014

SILVA, SILVA, GONÇALVES; Giselda Shirley, Maria Célia da Silva e Vandeir José; Livro Histórias e Memórias: Experiências Compartilhadas em João Pinheiro, escritores, pag 75, 201.




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