Luz do Impossível

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para aqueles que ficaram em casa.


o sol termina de chegar tristeza maior é enxergar a luz entender a cor e ver morrer a vontade: o que eles querem - seu sangue. quando eles querem - vermelho.


ao arrepio da lei, com carinho você quer encaixar duas palavras onde cabe uma. quer porque sim três corpos onde dois. não é bem assim. há um leque muito grande de desobediências possíveis e a sua, meu amigo, é apenas uma delas. tente outra. atualmente, a minha é tentar sobreviver. tente essa.


luz e carne do impossível ainda não desisti da humanidade porque existe você e dois ou três ou quatro que seguem a guerrilha dos gatos. não larguei a mão completamente porque se o fizesse abriria em ti um buraco no peito e não no estômago, onde atualmente resido e amanheço triste mas produtivo. cantarolo A Luz do Impossível um samba ruim, a ser reinventado diariamente canto e batida voz, mãos e pés bem ensaiados pra saída indolor e definitiva dos órgãos alheios.


faz e costura o feito não choramos à toa às vésperas das melhores festas. toda comemoração guarda em si uma ponta de já deu. o tempo não parou nem destravou os dentes. chegou ao limite. saudade, mas não agora. morreu em pé sobre o carro no congestionamento do mundo. morreu e deixou os sapatos brancos na porta do mar.


reza, reza e sopra todo dia São Tolices ouve as preces de um homem iletrado que promete eu ainda posso desenhar cantar batucar à mesa tocar esse trombone velho a vida com um só pulmão e é bom que o outro descanse dançando.


calma na saída, histeria na entrada se você faz de Deus um homem certamente fará Dele um demônio 37 graus 10% de umidade você Deus e cachaça seu corpo como experimento laboratório e Ele dizendo fiz todos ingênuos exceto aqueles que se embriagaram antes da hora fiz todos lindos e ainda o são exceto antes do primeiro coice.


auxílio a lares desavisados venta porque foi construído. não houvesse estrutura, não haveria razão pra tal esforço do mundo. venta. bate sol. é chato e correm por dentro cansaços e esgotos. cansa porque puseram paredes. mas não houvesse elas, você seria sua própria paisagem. e ventaria de todo modo, por dentro e mais forte em você.


21h40, Parque Atheneu, descendo do ônibus e do filme da noite inspirado em entrevista de Getúlio Ribeiro e filme de Gustavo Vinagre os filmes são iguais mais ou menos ao jeito com que o cara - o autor fala os livros também e os poemas penso eu parecem até demais mas o modo do cara - que assiste também parece o que ele vê repare tem um livro no jeito


com que você cruza as pernas e o gibis te ensinam a pensar nos intervalos do discurso não vou cair na laralá de que arte é tudo e tudo é arte, fique tranquilo. nem vou dizer ela imita a vida e tudo mais mas ontem à noite posso garantir mexi no cabelo com o mesmo tique de Júlia Katharine em Lembro mais dos Corvos e hoje depois de mais uma insônia lembro um pouco deles também.


até que em termos químicos obrigado por perguntar até que vai tudo bem. filmes dão ar. desenhar e o som do nada das linhas pela manhã dão ar. álcool me dá a aflição de um barco ancorado nos dentes um búfalo cuspido no copo mas os poemas não. estes e o que vem deles ou para eles dão tão somente ar.


paciência no escuro eu acredito ainda na continuidade das coisas e que tornarei a vê-las com os olhos bem abertos um dia. como um garoto acende as luzes de uma biblioteca. como um filho acende as luzes da biblioteca do pai. como o meu filho acenderá a minha biblioteca de luzes um dia.


edições urgentes com algum atraso


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