Relatório da exposição realizada no Espaço Cultural do BANDES pela Mandacaru Design
Vitória, 21 de dezembro de 2010
Exposição Colheres de Bambu, de Alvaro Abreu Espaço Cultural BANDES, Vitória/ES 17 de novembro a 17 de dezembro de 2010 Das 9 às 18h Entrada gratuita Abertura 16 de novembro de 2010
BANDES Diretor-presidente José Antonio Bof Buffon Diretor de Crédito e Fomento Everaldo Colodetti Diretor de Administração e Finanças José Sathler Neto EXPOSIÇÃO Produção Mandacaru Design Projeto e Coordenação Geral Bebel Abreu Programação visual Manaira Abreu e João Guitton Fotografia Diana Abreu (também deste relatório) Seleção e organização das peças Carol Abreu Montagem Equipe Tuca Sarmento Marcenaria Francischeto Assistente de produção Letícia Marques Comunicação Visual Impressa Monitores Isis Dequech e Adriano Monteiro
APRESENTAÇÃO A exposição COLHERES DE BAMBU, DE ALVARO ABREU foi produzida pela Mandacaru Design Gráfico sob encomenda do BANDES em outubro e novembro de 2010, e ficou em cartaz de 17 de novembro a 17 de dezembro. O acesso do público era gratuito e o horário de funcionamento era das 9 às 18h, de 2ª a 6ª feira. A mostra levou ao Espaço Cultural do Bandes cerca de 300 colheres de bambu realizadas pelo artista Alvaro Abreu, ex-funcionário do banco. Apresentou também as ferramentas utilizadas na confecção dos objetos - processo também ilustrado com fotografias dispostas acima da vitrine. Completaram a mostra textos em adesivo de recorte, sinalização e oito paineis de 450x75cm com uma colher gigante cada, dispostos na fachada do edifício. Além destes, havia um adesivo de 450x450cm que cobriu toda a parede adjacente ao espaço expositivo. Este adesivo, graças à textura especial da parede, descolou, e teve que ter substituído por uma placa de menores proporções. Optou-se por não utilizar cobertura sobre as colheres, para que o público pudesse observá-las melhor, sem o reflexo das luzes fluorescentes do espaço. Algumas podiam ser tocadas - ficavam no bolso do avental dos dois monitores do projeto - Isis Dequech e Adriano Monteiro. A exposição recebeu cerca de 800 pessoas e teve 399 assinaturas no livro deixado junto à recepção. À abertura, que aconteceu dia 16 de novembro, compareceram cerca de 180 pessoas, que brindaram ao artista com um coquetel da Fioretto. Em 7 de dezembro foi inaugurado o Centro de Documentação e Memória do Bandes, o que também gerou grande movimento, e no dia 9/12 uma turma de 20 alunos de uma escola de Maria Ortiz visitou a exposição. Abaixo, contagem de visitantes feita pelos monitores (*=estimativa)
16-Nov 180 * 17-Nov 66 18-Nov 76 19-Nov 30 22-Nov 31 23-Nov 21 24-Nov 5* 25-Nov 33 26-Nov 15 * 29-Nov 20 30-Nov 11 1-Dez 7 2-Dez 9 3-Dez 23
6-Dez 12 7-Dez 200 * 8-Dez 20 9-Dez 39 10-Dez 30 * 13-Dez 8 14-Dez 7 15-Dez 9 16-Dez 6 17-Dez 30 * Total estimado: 708 visitantes
Exposição Colheres de Bambu - Alvaro Abreu Bandes
Escala: 1/100 0
1m
2m
3m
Adesivo
400cm
colheres de bambu de alvaro abreu
500cm
vista 2
câmera
vista 1
50 ou 90cm
vitrine 2
vitrine 1
45cm
550cm
90cm
vista 3
275cm
plotter de recorte
parede inteiriça
732cm
vista 2
90cm
vista 3
240 cm
90cm
balcão existente
TEXTOS plotter de recorte: 3 textos 70x100cm
ADESIVO Impressão em adesivo 400x500m
PAREDE madeira altura: 240 cm largura: 275cm profund.: 45cm
VITRINE 1 madeira altura: 90cm largura: 275cm profund.: 45cm vidro: 15cm
VITRINE 2 madeira altura: 90cm largura: 550cm profund.: 90cm vidro: 15cm
4m
5m
Parede de textos - layout final
Teste de cores - foi eleita a 6
1
Detalhamento das vitrines - optamos por não colocar vidro sobre as colheres, para que elas pudessem ser melhor observadas Exposição Colheres de Bambu - Alvaro Abreu no Bandes
VITRINE 2
Escala: 1/10 Detalhe 1/1 no detalhe
90cm
2
90cm 1,5 1 1,5
1,5 1 1,5
85cm
12
86,4cm (conferir)
90
107
3
4
87cm 1,5
1,5
5
1,5
vista
corte
5
6
90cm 86,4cm (conferir)
1,5cm
7 planta (trecho)
detalhe
1
1,5
1,5
PEÇAS GRÁFICAS Foram produzidos: CATÁLOGO 1500 unidades Miolo: 20 págs. papel Alta Alvura 150 g/m² Capa c/ orelha, papel Supremo DuoDesign Formato fechado 20x20cm, 4x4 cores CONVITE 1000 unidades Cartão Supremo 250 g/m² 4 x 4 Formato 15 x 20 cm ENVELOPE 500 unidades faca especial Formato aberto 320x410mm 1x0 cor Escala Europa Off Set 90g Corte/vinco, Colagem CRÔNICA 500 unidades papel couchê 150g/m2 Formato 19x15cm
DEPOIMENTO DO ARTISTA Curioso que sou, percorri pacientemente os 399 registros de presença deixados no livro de assinaturas da exposição das colheres de bambu. Identifique o nome de parentes, amigos, conhecidos, colegas, de pessoas que conheço de longe e um sem fim de gente que não conheço. Alguns deixaram suas assinaturas, tal qual o fazem nos cheques. Outras, deixaram elogios e depoimentos por escrito. Para mim, é uma satisfação que se renova, essa de saber o que passa na cabeça das pessoas diante das colheres que faço. Percebo que algumas sofrem um desarme e se deixam escrever o que pensam, em retribuição pelo que sentiram. É sempre uma forma palpável para medir os resultados de uma exposição. Sensibilizar as pessoas para coisas sem valor aparente, feitas sem pretensão, atitude que tanto atrapalha o homem nas suas relações com o mundo. Foi muito bom poder expor as colheres em um lugar onde trabalhei por um bom tempo, em um saguão por onde as pessoas passam para ir ao trabalho, para tentar resolver coisas da vida e dos negócios. Algumas devem ter se perguntado o que faziam ali aquelas colheres. Em compensação, sei que algumas outras ficaram olhando em silêncio um conjunto qualquer de colheres, pensando na vida, se perguntando porque estavam vivendo tão distraídas, correndo tanto. Foi uma sensação muito boa poder deixar as colheres à disposição dos olhares de tantas pessoas. Muita gente deve ter visto que além de feliz, fiquei muito emocionado ao agradecer ao Buffon tamanha insistência e generosidade em me trazer de volta, pelas mãos de minhas meninas, dos meus meninos e de Carol. Deveria ser sempre assim. Um abraço. Alvaro Abreu Vitória, 20 de Dezembro de 2010
ORIENTAÇÕES AOS MONITORES - Deixar o visitante à vontade, mas estar atento caso ele queira perguntar algo - pedir que sempre assinem o livro de visitas - Por favor sorriam, sempre =) - Quando alguém tocar uma colher, ofereçam que manuseiem as que vocês guardam no bolso - Mandarei um mapa com a vitrine, pra que vocês confiram no final de cada semana - Favor anotar diariamente quantas pessoas visitaram a mostra - Mandar relatório semanal com observações e contagem dos 5 dias - Repor os catálogos e crônicas
DEPOIMENTO DOS MONITORES Isis em 23/11: No primeiro dia de exposição, 17 de novembro, o movimento de visitantes foi bem significativo. Tivemos 66 apreciadores ou não de colheres passeando pelo espaço. A maior parte do público é de funcionários do BANDES, não há quem passe e não dê uma olhada nas colheres nem que seja de curiosidade. E há também aqueles que vão ao banco para resolver alguma coisa e enquanto esperam o elevador, ficam apreciando a obra. Já no dia seguinte, apareceram 76 curiosos a respeito do trabalho de Alvaro. Alguns visitaram pela segunda vez, outros entraram somente pra ver a exposição e dizer que conheciam o Alvaro, que estavam com saudade e até mesmo para pedir uma colher de presente. O Alvaro nos parece ser uma pessoa muito querida. Não podemos ignorar aqueles mais insensíveis que nos perguntam para que serve a exposição se não há venda de colheres. Na sexta-feira o movimento foi bem menor, apenas 30 pessoas visitaram e enquanto não surgia ninguém passei a ler o livro “Crônicas do meu primeiro infarto”. Os rapazes da Impressa apareceram para consertar a plotagem que caiu mas não adiantou, ela tornou a cair logo depois que eles saíram. Eles prometeram voltar pra arrumar direito. Ontem, segunda-feira, o baixo movimento permaneceu (31 pessoas) e eu continuei lendo o livro. Gosto muito da maneira com que Alvaro conduz o leitor para as próximas páginas e me divirto com algumas descrições que ele faz. Por enquanto essas são algumas coisas que posso contar. As dúvidas que me surgiram eu pude tirar hoje com o Alvaro em nossa longa conversa após a entrevista dele para a TVE.
Adriano, em 1/12: ... estamos contabilizando a presença de visitantes na exposição. A semana foi tranquila sem nem anormalidade. No dia 23/11, seu pai nos fez uma visita e foi mto legal o bate-papo com ele. Na oportunidade ele tirou o painel que estava caindo. Infelizmente a greve começou na quarta e atrapalhou tudo. Teve dia que conseguimos ir e outros não (está especificado na tabela). Eu pedi a Lena que enviasse uma pessoa pra limpar o vidro da borda, ele falou que ia solicitar, mas ainda não foi limpo. Sobre os visitantes, prevalece ainda o funcionários (alguns vão reveem a exposição) e clientes do banco. Foi feito o contato com àquele senhor sobre a visita da escola, e pareço que o diretor vai agendar um dia para os alunos visitarem à exposição. Acho que é só... Ah, também estou aproveitando para ler o livro. Se precisar de mais alguma informação é só falar.
DEPOIMENTOS DO PÚBLICO -
seleção
Eu quero uma colher! São lindas!! Jaqueline Eu também! Mary Você podia vender suas colheres! Vai ganhar muito dinheiro! Para não estressar de novo me contrata para administrar suas vendas! Ana Que todo ser humano tivesse um “infarto” por vez! Surpreendente o conjunto de sua obra e o recomeçar da nova vida. Ronaldo Parabéns pelo emocionante trabalho e obrigada por dividí-lo conosco. Adoraria ter suas colheres em minha cozinha como presente de casamento. Eugênia Se o Sr. fabricasse pipas faria a alegria da garotada. Mas está de parabéns com sua arte!! Anônimo Gostei muito do seu trabalho, gostaria de ter um desses objetos (colher) em minha humilde casa. Gostaria de ler seu livro. Josseane Surpreendente o conjunto de sua obra e o recomeçar de uma nova vida. Lena Você sabe que admiro sua obra. Já tinha visto alguma coisa na Vale e conversamos uma noite no restaurante na Praia do Canto. Uma sugestão, se é que você já não pensou nisso, é estender sua exposição para os países asiáticos que tem estreita relação com o bambu e a "paciência" para executar os trabalhos. Francisco Nunca pensei que fosse me emocionar com peças de bambu. Anônimo Valeu a pena ver a sensibilidade de sua arte. Parabéns! Domingos Muito Bom, visitei de novo. Flávio Vendo o seu trabalhebo cada vez mais que temos inúmeros saberes escondidos dentro de nós e tentando é que vamos saber fazer e conseguir tudo que desejamos. Zélia
Material maravilhoso. Você é de fato um artista, que toca a alma e o estômago. Luzia Adorei o seu trabalho, é incrível e fascinante. Provando a todos que sempre é possível construir um recomeço e que não se faz necessário ter uma formação acadêmica para vivenciar a arte. Vanessa Deus o fez com este dom. Admirei a sua obra. Joaci Parabéns. Lindo o seu trabalho, volto para ver você! Jurecê Uma beleza! Quero ser uma querida, quero ganhar uma. Rs Zizi Que o dono do andar de cima te proteja sempre. Francisco Sou artesã, adorei seu trabalho. Gostaria de entrar em contato com contigo. Sandra Parabéns ao Alvaro e ao BANDES, pela iniciativa. Francisco Gostaria de ter uma colher de bambu, gostei muito, valorizo muito trabalho artesanal. Moema Enfim conheci seu belo trabalho. Parabéns! Maria Helena A força da criação ajuda na superação do ser humano. Ana Maria De cachoeirense para cachoeirense. Roberto Durante algum tempo tive curiosidade de saber que tipo de trabalho o senhor fazia, que costumava caminhar com a esposa pela manhã ao lado do condomínio, pela rua do mar. Vez ou outra lá estavam e sempre talhando, polindo. Eram as colheres de bambu. São muito bonitas. Anônimo Lindo trabalho. Senti o cheiro das delícias que as colheres misturam. João Foi um prazer conhecer suas colheres, sua família, um pouco da sua vida e você. Espero continuar tendo notícias de por onde andam as colheres. Consegui captar a essência delas e me sensibilizar com suas histórias. Isis
DIVULGAÇÃO -
textos de apresentação
VIVA As colheres de bambu feitas por Alvaro Abreu têm uma característica peculiar. Já observei em algumas circunstâncias: é raro que alguém as veja sem procurar tocá-las. O que será que isso quer dizer? Em geral a apreensão visual basta para que saibamos se gostamos ou não de um objeto, se queremos ou não que ele esteja em nosso cotidiano. Mas as colheres são como ímã. Mesmo que por um breve instante, estabelece-se uma pausa, um intervalo, em que alguma conexão ocorre entre o ser que passa e se detém e o que ele vê, algo mais fundo do que o consumo fugaz de tantos estímulos visuais a que estamos submetidos em nosso dia-a-dia. Esse apelo a uma fruição “gratuita”, a uma alegria meio “boba”, um prazer quase infantil no envolvimento dos vários sentidos do espectador, me parece ser um dos principais méritos dos objetos esculpidos por Alvaro. Por “trás” dessa qualidade primordial está o rigor das formas essenciais, num jogo de repetição e variação, que os torna unos no conjunto, ao mesmo tempo em que cada um permanece único. O processo de confecção das peças é paciente. Alvaro vai retirando partes dos pedaços de bambu que encontra até que não mais encontre o que retirar. A escolha da matéria é significativa. No Oriente, onde é usado há pelo menos 3.760 anos, o bambu sempre foi considerado uma planta sagrada. Dizem que seu interior oco é um compartimento de pureza. Ele é parente da grama, o que significa que, cortado, cresce de novo, sem necessidade de replantio. A remoção das hastes maduras é que o impele a emitir novos brotos, fortes e saudáveis. Em tempos em que a sustentabilidade se tornou um imperativo, lembremos também que essa planta atua como um filtro para a atmosfera, por conta de seu metabolismo acelerado, que o torna um campeão de sequestro de carbono. A matéria-prima conjuga resistência, flexibilidade e durabilidade - uma proeza invejável, diga-se! Trata-se de um trabalho difícil de enquadrar. É design? Sim: são objetos que podem se repetir e que atendem a uma determinada função. É artesanato? Sim, podem ser vistos dessa forma, afinal são feitos à mão. É arte? Sim, dizem os museus que já os colocaram em suas paredes e opino eu também. Embora na verdade escapem a qualquer classificação, a quietude e a imanência que eles manifestam sempre me fizeram lembrar das naturezas mortas de Giorgio Morandi. Se existisse a expressão, poderíamos falar aqui de “natureza viva”, pois Alvaro transforma a natureza em utilidade sem que haja uma perda do atributo inicial, ou seja, os objetos permanecem natureza – natural e artificial; feita por Deus e feita pelo homem, em harmonia. Talvez esteja na palavra “viva” – sendo adjetivo ou substantivo – uma chave para entender a obra de Alvaro Abreu e o efeito que ela provoca em nós. Ele começou a se dedicar a esse labor depois de um infarto. Respondeu à morte com o fazer, e o fazer com as mãos – uma coisa simples, pequena, um dia após o outro, todo dia. Não faz para ganhar dinheiro. Ao recusar-se a transformar as colheres em mercadorias, ele nos interdita a possibilidade de consumir – verbo que corre o risco de definir a sociedade atual, em seu duplo sentido de comprar e esgotar, exaurir. No intervalo de tempo em que paramos para observá-las, é pela afirmação da vida que elas nos encantam e nos fazem suspirar e querer viver. Adélia Borges Jornalista e curadora na área de design
BANDES Soube da existência de Alvaro Abreu lá pelos meados dos anos oitenta, quando voltei do mestrado para lecionar na Ufes. Integrei-me ao Núcleo de Estudos e Pesquisas do Departamento de Economia, onde trabalhavam Haroldo Correa Rocha e Ângela Morandi. Naquela época articulamos um trabalho – financiado com recursos do Bandes e do Geres – com o objetivo de propor “Políticas e Diretrizes Setoriais para a Indústria no Espírito Santo”. Alvaro Abreu, por sua vez, havia retornado de Brasília, onde esteve no CNPq trabalhando com o honorável Lynaldo Cavalcanti, de quem me tornei amigo anos mais tarde. Veio para assessorar a Diretoria no Bandes nos projetos de tecnologia e inovação. O Bandes e o Espírito Santo, por certo, devem muito a Alvaro Abreu pelo seu gênio criativo, bem como por sua incessante qualidade de, permanentemente, ver, rever e propor políticas e projetos que, por suas características altamente inovadoras, não-raro a muitos mais incomodam do que mobilizam. Não fosse um acidente de percurso impactante – um infarto –, certamente só conheceríamos os atributos intelectuais já citados de Alvaro Abreu. A recomendação médica de uma vida mais calma, menos estressante e o desenvolvimento de um hobby nos possibilitou a oportunidade de conhecer outro talento – até então “adormecido” – deste grande capixaba, talento que talvez nem ele mesmo conhecesse plenamente: ao inquieto e criativo formulador de políticas e projetos, revelou-se o irreverente artista e suas belíssimas colheres de bambu. Para nossa felicidade, após alguns anos de insistência e recorrentes negativas, ele concordou em nos dar o privilégio de expor sua arte no Espaço Cultural Bandes. Que todos usufruam desta rara oportunidade!
José Antonio Bof Buffon Diretor-presidente do Bandes
PALAVRAS DO ARTISTA "Tenho visto pessoas sentindo emoções que beiram a ternura ao se deparar com uma forma simples e delicada, a sensação gentil em tocar e alisar o bambu, uma eventual saudade de tempos passados, a vontade de tentar fazer uma colher. Há quem fique com uma colher na mão mexendo uma panela imaginária, rindo e respirando fundo, como se estivesse sentindo o cheiro do doce de goiaba." Alvaro Abreu
PARA CONHECER Alvaro: cabeludo convicto, ex-atleta e pescador. Sonso e cabeça dura, tem senso de direção, gosta de escrever, acredita no poder das mãos, adora pedra, couro, madeira e barbante. Habilidoso, se acha o próprio MacGyver. Bambu: flexível, instigante, durável, resistente, de muitas espécies, tem gomos, nós, paredes, fibras escuras, casca envernizada, é bonito, moldável e muito gentil ao tato. Desafio: fazer surgir uma peça a partir de qualquer pedaço de bambu, sem projeto, simplesmente achando e tirando todo tipo de defeito de forma e textura. Ferramentas: foice, faquinhas, cacos de vidro, grosa, serrinha, muro de cimento, lixas, goiva, pedra de amolar, toco de madeira, forno microondas, luz transversal, fundo escuro, ponta dos dedos, olhar de pontaria, bancada entulhada, cadeira de balanço, conversa mole, idéias novas, problemas antigos, areia da praia. Processos: escolher um pedaço, serrar, desbastar, definir contorno, matar quinas, aceitar limites, tirar lascas, cortar, cortar mais um pouco, cavar, continuar cavando, raspar, lixar, tentar com a goiva, raspar com vidro, conferir, alisar, achar defeito, raspar, lixar novamente, sentir o peso, avivar a quina, raspar só mais um pouquinho, passar os dedos, escolher outro pedaço, serrar... Resultados: curvas, retas, quinas e superfícies na forma de colheres, conchas, espátulas, facas, varetas e peças esquisitas. Todas diferentes umas das outras. Destino: serem guardadas em grandes caixas ou dadas de presente para quem peça e mereça. Emoções:prazer em trabalhar com as mãos e sem qualquer pretensão, vaidade boa com os elogios de quem gosta mesmo das colheres e orgulho safado das reclamações de quem ainda esteja na fila para ganhar a sua.
BIOGRAFIA Alvaro Abreu nasceu em Cachoeiro de Itapemirim. Engenheiro mecânico e mestre em engenharia de produção, foi professor da UFES, técnico em desenvolvimento tecnológico do CNPq, trabalhou no BANDES durante 4 anos e é empresário. Casado com Carol há 38 anos, é irmão de 4, pai de 5 e avô de 3. Escreveu livro sobre o infarto que teve aos 46 anos e começou a fazer colheres aos 47. Deve ter feito mais de 3.500 peças com bambu de diferentes origens. Não vende as peças que faz. Trabalha diariamente. Sozinho, conversando, sentado na varanda ou andando na beira do mar. Sempre leva ferramentas e pedaços de bambu em suas viagens. Ao fazer colheres, o tempo não é variável relevante. Por convicção.
EXPOSIÇÕES E WORKSHOPS 1996 | Exposições para o lançamento do livro "Crônicas do Meu Primeiro Infarto": Iate Clube do Espírito Santo - Vitória, ES | Museu Casa dos Braga - Cachoeiro de Itapemirim, ES | Museu da República - Rio de Janeiro, RJ | Galeria Carpe Diem - Brasília, DF | Casa da Cultura "Hotel Globo" - João Pessoa, PB | 1997 | Exposição + workshop: Casa da Cultura da América Latina, UNB Brasília, DF | 1998 | Exposição + workshop: Museum für Völkerkunde - Viena, Áustria | 1999 | Exposição individual: Centro Cultural CEMIG - Belo Horizonte, MG | Workshop: Centro de Cultura do Projeto TAMAR - Regência, ES | 2002 | Expositor convidado: Exempla 2002 - Munique, Alemanha | Exposição individual: Rosemarie Jäger Galerie im Kelterhaus - Hochheim, Alemanha | Exposição individual + workshop: Espaço SESC Copacabana - Rio de Janeiro, RJ | 2005 | Workshop: 2 x Museu da Casa Brasileira - São Paulo, SP | 2006 | Workshop: FACAMP - Campinas, SP | 2008 | Exposição coletiva 7+ 1: Museu Vale - Vila Velha, ES
ACERVO Em 2002 a direção do museu alemão Die Neue Sammlung – The International Design Museum, Munich selecionou um painel com 52 peças de Alvaro Abreu (em sua maioria colheres de cabos finos e longos) para integrar seu acervo permanente que, composto por mais de 70 mil objetos – de protótipos de eletrodomésticos a automóveis, de cadeiras a cartazes – é a maior coleção de design do mundo.
PUBLICAÇÕES ‘Crônica do meu primeiro infarto’ | Ed. Relume Dumará, 1996 | Neste relato sobre a experiência de passar por um infarto, o artista narra o começo da história das colheres de bambu ‘Exempla 2002: O mundo da madeira’ | A capa traz uma peça de Alvaro Abreu: um pote de bambu. No interior da publicação há o artigo ‘Colheres de Bambu’, ilustrado com fotografias das colheres e do ambiente de trabalho As colheres tem merecido matéria jornalística em jornais e revistas de circulação nacional e usadas como elementos de ilustração em documentos oficiais e reportagens jornalísticas, inclusive no exterior, como por exemplo as revistas brasileiras Vida Simples e Casa Claudia, a alemã ‘Kunsthandwerk & Design’ (inclusive a capa da edição com foto de Vitor Nogueira ‘La cocina como emblema’ | Revista Todavia | Ed. Tal, Argentina | Fotografias das colheres ilustram o artigo Desde 2008 escreve quinzenalmente crônicas para o jornal A Gazeta - a que segue na próxima página foi publicada às vésperas da abertura da exposição no Espaço Cultural do Bandes, conta como a exposição foi realizada e foi encartada no catálogo no dia da inauguração.
COLHERES NO BANCO
O primeiro convite me fora feito em tom de cobrança amistosa, durante uma solenidade. Como de costume, fiz corpo mole e desconversei. A cabeça estava completamente tomada por coisas da vida e do trabalho. Melhor seria deixar pra depois, pois é assunto relevante demais para misturar com qualquer outro. Digo isso porque sei muito bem que montar uma exposição mobiliza emoções e exige providências de toda ordem. A segunda investida veio por escrito. As palavras eram amáveis, mas não deixavam margem para despistes nem permitiam postergações. Estava encerrado o prazo para mais um “devo, não nego, pagarei quando puder”. O convite incluía o pedido para que contasse o que sei e mostrasse como faço. Muita gente sabe que gosto de fazer colheres de bambu, um servicinho que realizo quase diariamente, há muitos anos e sem preocupações. Pra mim, fazer colher é fácil, preparar uma exposição é que são elas, ainda mais em prazo apertado. Achei prudente convocar a família inteira para tratar da produção. Cada qual na sua especialidade: a filha do meio para cuidar das questões de curadoria e montagem, a mais velha para tratar das peças gráficas, a caçula para fotografar as colheres, o primogênito para atualizar o site, o quinto filho para filmar a festa e, naturalmente, a mãe de todos eles, para arrumar cuidadosamente as peças nas vitrines. Resolveu-se que as peças ficarão em mostruários abertos, sem a proteção de vidro ou acrílico, para melhor serem vistas. Umas tantas outras poderão ser tocadas. As ferramentas de trabalho ajudarão a dar uma idéia de como as peças são feitas. As colheres que foram atacadas pelas brocas mostrarão que os insetos adoram comer bambu tirado fora de época. As que usamos na nossa cozinha poderão atestar que o que faço pode ter boa utilidade, que não é só pra boniteza, como me disse um vendedor de beira de estrada querendo valorizar o cesto de taquara que oferecia. Sorte que hoje em dia boa parte do trabalho pode ser feita à distância: fotografa-se na varanda da casa, formata-se o catálogo em São Paulo para ser impresso aqui em Vitória. O texto da curadora de design foi enviado lá da Finlândia e os projetos do layout da sala e das vitrines foram preparados a bordo de um barco gaiola subindo o Amazonas. A lista de providências se renova a cada dia: atualizar endereços e e-mails para enviar os convites; contratar marcenaria, imprimir fotos e palavras para fixar nas paredes, conferir as provas de cor na gráfica, resolver a iluminação, comprar uma camisa bonita e assim por diante. Nem imagino como seria fazer tudo isso na base da comunicação por envelopes, com a minha velha Rolleiflex e, sobretudo, sem o telefone celular. Tudo isso está me fazendo lembrar das fortes emoções durante a preparação das primeiras feiras de mármore e granito de Cachoeiro, quando trabalhava no BANDES, de onde partiram os tais convites. Alvaro Abreu
Vitória, 10 de novembro de 2010. Crônica escrita para o jornal A GAZETA.
CLIPPING -
seleção
A exposição Colheres de Bambu de Alvaro Abreu teve uma boa repercussão na mídia. Seguem alguns exemplos: Coluna Sociedade - Jornal A Gazeta novembro 2010
Jornal Empresários - dez/2010
Folha ES - 28/11/2010
Jornal A Tribuna dez/2010
Diário Oficial do ES - 17/12/2010
A TVE e a TV Vitória fizeram belas matérias sobre a exposição. A da TV Vitória está disponível em seu site na data deste relatório (ao lado).
Houve também uma boa repercussão na internet, em sites de notícia e em agendas culturais.
Alguns visitantes postaram recomendando o passeio a outras pessoas, e a exposição apareceu até no twitter :-)
ANEXO Cópias do Livro de Assinaturas
Evento Exposição Colheres de Bambu, de Alvaro Abreu Local Espaço Cultural BANDES, Vitória/ES Data 17 de novembro a 17 de dezembro de 2010 Abertura 16 de novembro de 2010 Solicitante BANDES Produção Mandacaru Design Gráfico Ltda ME CNPJ 07281194/0001-90 Endereço Rua Lisboa 488/112 Pinheiros 05413-000 São Paulo Responsável Isabel Frota de Abreu CPF 083.391.327-17 Contato 11 7040 0203 | bebel@mandacarudesign.com.br