Livro marcelo

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“CAETANO E A CIDADE MAL HUMORADA”


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Caetano era um menino igual aos outros. Na sua pré-adolescência buscava respostas para as novidades que o mundo lhe apresentava. Estudioso, aprendeu não somente o português e a matemática da escola, mas também a respeitar o ser humano, preservar o Meio Ambiente, entendendo que amanhã aquilo que plantasse reverteria em seu benefício e em benefício dos moradores da Terra. Tinha, além de tudo, uma característica particular reconhecida até por aqueles que com ele conviviam: era uma pessoa alegre. Vivia feliz e fazia dessa felicidade um motivo para que os outros também ficassem como ele.

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Uma das coisas que mais gostava era de viajar. Percebia que através das viagens, além do conhecimento que adquiria nos lugares aonde ia, fazia novas amizades e deixava em cada canto um pouco de si. Nas férias escolares viajava com os pais, com quem mantinha uma relação gostosa e de muito afeto. Pois foi assim que, numa dessas viagens, Caetano e sua família foram parar numa tal de “Cidade Mal Humorada”. Nas suas leituras já havia visto várias cidades e lugares “mal assombrados”, mas “Mal Humorada” era um nome no mínimo curioso. Pediu ao pai que entrasse naquele lugar, pois não imaginava que uma cidade inteira pudesse merecer tal nome.

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Percebeu que as ruas eram muito sujas, e não havia nem calçamento. As casas tinham todas a mesma pintura, um branco desbotado pela poeira que subia no ar. Seus jardins confundiam-se com o lixo que as pessoas deixavam ali, esperando que a coleta um dia os removesse. O comércio se resumia a algumas portinholas abertas para uma praça onde se encontravam turistas, surpresos com o que viam, cada vez em menor número. Há quem diga que a tradição de “Mal Humorada” era mantê-la sempre com o aspecto de feia e mal cuidada.

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Mas, o que mais chamou a atenção de Caetano foi a população. Caminhava pelas ruas com os olhos para o chão. Um “bom dia!”, ou “como vai?” eram expressões pouco ouvidas e, quando ouvidas, num tom fraco e desanimado. Povo carrancudo aquele, mal humorado! Nosso amigo bem que tentou puxar conversa, mas ninguém nem olhava para ele. Como era possível viver num lugar como aquele? Pensou. De repente, teve uma idéia.

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Enquanto seus pais visitavam algumas das lojinhas da cidade, sentou num dos bancos quebrados da praça e ficou a olhar o céu. Permaneceu ali como uma estátua olhando para cima. No começo ninguém nem prestou atenção naquilo. Logo alguns moradores pararam para ver a cena. Agora quem estava intrigado eram eles. O que faria aquele menino, com os olhos fixos no firmamento? Pois quase no final da tarde um curioso chegou bem perto de Caetano e perguntou: - Tá fazendo o quê? Sem mover a cabeça, Caetano respondeu: “Olhando o céu!” “O céu?”, retrucou o homem, meio que intrigado e, lógico, muito mal humorado. “O que tem no céu que te faz ficar aí, imóvel e pensativo?”, prosseguiu. “Você já viu que lindo é aquele azul? Dá prá perceber o brilho do sol que está lá em cima, e o calor que passa aqui prá baixo? Sabe a importância que isso representa para nós, para a natureza?”


Pois o tal do homem, seguindo as palavras de Caetano, pôs-se a reparar naquele cenário, fazendo seus olhos correrem na imensidão que havia sobre sua cabeça, sentindo o calor do dia e descobrindo mais e mais. “Olha - disse Caetano - as nuvens parecem desenhos! E os passarinhos estão brincando!” E continuou: “E, veja a estrela que nasceu! Ainda é dia, mas ela já está lá, anunciando que teremos uma noite linda, clara e quente. Perceba como as árvores, ainda iluminadas pela luz, se destacam nesse cenário de rara beleza. Veja mais ao fundo, e descendo um pouco seus olhos, o rio que corta a cidade, banhando terrenos, possibilitando a pesca e o lazer, complementando, enfim, esse “quadro natural” que lhes foi gentilmente cedido por Deus!”

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Difícil de acreditar, mas o homem meio que sem jeito até sorriu... Caetano foi embora com a certeza de que tinha um amigo. E mais: de que, com o próprio povo da cidade, poderia transformá-la num lugar mais bonito e melhor para viver. Seu destino era uma cidade próxima, e voltou dias depois, qual não foi sua surpresa quando viu que o homem estava a esperá-lo. - “Gostei de você, menino!”, foi o que lhe saltou da boca assim que se viram. - “Você tem alguém que possa nos ajudar?”, perguntou Caetano já com uma idéia formada em sua mente.

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Muito embora o mal humorado não soubesse o que estava para acontecer, acabou confiando nele e, rapidinho, juntou umas vinte pessoas na praça. - “Vamos fazer uma revolução!” bradou Caetano àqueles desconfiados cidadãos, meio que desequilibrado sobre um banco sujo e esburacado. - “REVOLUÇÃO?!”, perguntaram num coro desafinado. - “Isso mesmo, a revolução de Mal Humorada. Cada um de vocês será responsável por uma parte dela. E, atenção!, todas são muito importantes. Temos um prazo de uma semana para mudar as coisas. Não podemos, nem seremos derrotados. Certo?”. Sua fala era firme e convincente.

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E assim, com a ajuda do Prefeito que, sensibilizado pela idéia de Caetano e já contagiado pela onda de otimismo que crescia na cidade, cada qual com sua função, aos poucos foram mudando as coisas. Ao largo das ruas foram feitos canteiros, e neles plantadas mudas árvores. As casas, pintadas de cores diferentes apresentavam um aspecto melhor, mais bonito. Os jardins foram limpos, o gramado apareceu novamente esparramando o verde entre as praças. Quanto mais trabalhavam, mais gente ia chegando, oferecendo sua colaboração. Isso acabou criando um hábito, novo até então: as pessoas começaram a conversar, a trocar idéias e a elogiar o trabalho, umas das outras.


Naquele clima de harmonia e de limpeza o comércio também melhorou. Já dava gosto comer um pãozinho fresquinho na padaria, ou comprar uma roupa nova, bonita e bem cuidada. Turistas voltavam, agora motivados pela “novidade” e pelo alto astral daquela gente. Caetano voltou lá umas cinco vezes, e a cada volta percebia alguma coisa diferente. O povo já o cumprimentava; aliás, se cumprimentava e se respeitava como o povo de qualquer outra cidade. A cidade criou sua história. Quando tudo ficou pronto, que diferença! Parecia um filme, tudo arrumadinho, pintadinho, com cheiro de novo... “Missão cumprida, pessoal! Vou embora com a certeza de que convivi com um povo vencedor, porque todos vocês se uniram no ideal de melhorar sua cidade, tornando-a não somente mais bonita, como também um lugar onde já convivem harmoniosamente. Respeitem a si mesmos, e preservem a Natureza. Aos poucos perceberão o retorno dessa relação”. Tendo os pais orgulhosos como companheiros, Caetano foi embora para casa certo de que a “lição” que acabara de fazer foi a mais importante de sua vida até então.


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Passaram-se alguns meses e Caetano recebeu, em casa, uma mensagem do prefeito de Mal Humorada, pedindo que comparecesse com urgência na cidade. Respondeu agendando que iria num sábado. E colocou data. Chegado o dia, preocupado com o que pudesse ter acontecido, Caetano partiu com os pais. Lá chegando, conforme ia entrando na cidade percebia a mudança que havia acontecido. As ruas limpas, muitas flores, belos jardins, o colorido nas casas. Quanto trabalho, e quanta realização! Mas... ONDE está o povo? Foi à praça onde um dia tudo começou, e nada!. Nem uma alma, nem um passo, silêncio absoluto. O que teria acontecido, meu Deus? Será que morreram por terem se tornado felizes? Não, isso é impossível! Acho que foram embora... De repente, um forte estampido por detrás da igreja sacudiu a cidade: BUM! Entre surpreso e assustado, Caetano escutou outro estampido, agora vindo da entrada da cidade: BUM! Seguiram-se muitos outros, num crescendo que parecia ser interminável: BUM! BUM! BAM! Será o fim do mundo?, pensou.


Não, não era. Pelo contrário, quando virou o corpo para trás pode ver a banda da cidade marchando e evoluindo num som imponente. A música que ecoava por entre as paredes das casas enfileiradas das ruas da cidade, traduzia o grito de alegria de um povo que por tanto tempo se viu encolhido, triste, abatido. Repentinamente, e ao mesmo tempo, todas as portas e janelas das casas se abriram e coalharam de gente a aplaudí-lo. Crianças correram em sua direção, agitando bandeirinhas, e oferecendo-lhe as flores que um dia ele ajudou a plantar. Vermelho, amarelo, rosa, roxo, verde. Uma verdadeira aquarela emoldurada por infinito céu azul se destacava com o brilho do sol que, com seus raios de calor, gentilmente acolhia a todos que daquela festa participavam.

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E quando tudo aquilo se juntou em volta dele, fez-se silêncio. O Prefeito veio fazer o discurso de agradecimento pela mudança que havia acontecido, graças à sua iniciativa. Em homenagem, e como prova de gratidão ofereceu-lhe a chave da cidade, e por muitas horas aquela festa correu num clima de amizade e alegria... Mas a surpresa maior ainda estava para acontecer.

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Anoitecia e Caetano e seus pais precisavam voltar para casa. Estava feliz, realizado por ter feito algo em prol de alguém, de uma comunidade, de uma Cidade! Prevaleceu o amor ao próximo, e a Natureza agradecia (e retribuía) pelo carinho e cuidado que todos tiveram com ela. Assim, o povo da cidade acompanhou seu grande herói até a saída para a estrada. E lá, gravada com letras grandes e coloridas, no meio de um jardim cuidado e florido, estava a placa com nome da nova cidade que Caetano ajudou a construir.

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Sinopse


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