O sonho de maia livro

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O sonho de Maia

Livro 1 Nテグ O QUERO UM PRISIONEIRO

Texto

Flテ。via Crespo Ilustraテァテオes Manoel Carlos Conti


“O mal não está para ser compreendido, mas para ser combatido” Leonardo Boff em o DESPERTAR DA ÁGUIA


Era uma vez uma menina chamada Maia.

Ela era muito linda, cabelos cor de chocolate e olhos azuis da cor do cĂŠu. PorĂŠm era mimada e voluntariosa, tudo tinha que ser do jeito que ela queria.

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Um dia, Maia foi passear na casa de campo dos

tios, para passar férias por lá. O lugar era fascinante, a casa ficava próximo a um riacho e ao fundo via-se um lindo bosque, parecia um lugar mágico!

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Assim que chegou, ela quis conhecer o quarto

onde ficaria, então a tia a levou até lá. Subiram as escadas e chegaram ao que seria o sótão mais lindo que ela já viu. O quarto era amplo, ocupava toda a extensão do terceiro andar da casa. Nas paredes havia papel de parede lilás, a cor que ela mais gostava. As cortinas lilases também, decoradas com borboletas coloridas, esvoaçando ao vento, davam um toque alegre ao quarto . A cama era enorme, enfeitada com bichinhos de pelúcia, algo que ela amava.

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Foi então que ela resolveu dar uma olhada na lin-

da vista ali de cima. A janela dava para os fundos da casa e ela podia ver quase toda a extensão do bosque. Estava ali, distraída, quando de repente avistou um pássaro sobrevoando ligeiramente à sua frente.

Mas não era

um pássaro qualquer, ele era lindo, todo reluzente e colorido como o arco-íris. Suas asas batiam ligeiras, como as de um beija-flor, parecia que ele estava flutuando... E seu canto era o mais belo que ela já ouvira, de uma melodia encantadora... Em seguida ele voou em direção ao bosque, até ela o perder de vista. 5


Assim que o pรกssaro se foi, Maia ficou enlouquecida! Como era uma menina mimada, decidiu que o queria. Ele seria seu, assim que ela conseguisse convencer o tio a capturรก-lo para ela. Desceu correndo as escadas, aos gritos, chamando pelo tio.

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O tio de Maia era um caçador e isso o tornava a

pessoa perfeita para capturar o pássaro. Assim que chegou à sala e encontrou o tio lendo jornal, tratou logo de contar–lhe sobre a linda ave que viu e sua vontade em tê-la só para si. Enquanto descrevia o pássaro, ela já o imaginava ali com ela, preso numa gaiola, à sua disposição, para que ela pudesse passar o tempo que quisesse admirando sua linda plumagem.

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O tio, observando a vontade da menina em ter o pássaro, concordou em capturá-lo no dia seguinte bem cedo, antes do amanhecer, para tentar pegá-lo de surpresa. Maia não via a hora de tê-lo com ela.

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No dia seguinte, antes do sol nascer, o tio de Maia saiu em direção ao bosque para capturar a ave extraordinária que Maia tanto queria. A menina ficou ali na janela do quarto, ansiosa, observando o tio desaparecer de vista...

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Duas horas

depois, ouviu-se uma batida na porta e Maia, que estava na cozinha tomando café com a tia, correu para abri-la. Era o tio, com uma rede e a linda ave presa nela.

Os olhos de Maia brilharam! Finalmente ela conseguiu o pássaro que tanto queria...

Ela correu para o tio, deu-lhe um abraço bem

apertado em agradecimento e surpreendeu-se ainda mais quando ele apontou para a carroceria da caminhonete, onde encontrava-se uma linda gaiola dourada. Maia não se conteve de alegria e com a ajuda do tio, colocaram a ave mágica no cativeiro. 10


Neste dia a menina não quis saber de mais nada.

Passou o tempo todo admirando seu mais novo presente. À noite, ela fez questão de levar a ave para dormir com ela em seu quarto. Arrumou um lugar especial para pendurar a gaiola, ao lado de sua cama, próximo à janela. Ficou ali, admirando a linda plumagem do pássaro, até pegar no sono...

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No dia seguinte, ao abrir os olhos, Maia levou um

susto! Aquele lindo pĂĄssaro que ela amava, com as plumas coloridas e radiantes, encontrava-se amuado, num canto da gaiola. Suas penas haviam perdido totalmente a cor e o brilho. Estavam opacas, num tom acinzentado. Desde que fora capturado, Maia nĂŁo ouvira mais o seu canto extraordinĂĄrio.

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Tomada pelo desespero,

a menina desce correndo as escadas pedindo ajuda aos tios. Enquanto a tia acompanhava Maia até o quarto para verificar o ocorrido, o tio saiu em busca de alimento para o pássaro.

Fizeram de tudo. Deram comida, água, chamaram o Veterinário de animais silvestres para examinar a ave. 13


Este receitou umas vitaminas na esperança de que

o pássaro recuperasse a cor. Neste dia, Maia passou o tempo todo ali, cuidando de seu bichinho de estimação, fazendo tudo o que o Veterinário recomendara. E nada da ave melhorar. Pelo contrário, quanto mais o tempo passava, mas escuras iam ficando suas penas, até começarem a cair...

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Quanto mais as plumas do pássaro escureciam, mais a menina ficava triste, mas ela não sabia mais o que fazer... Ela deitou na cama e começou a chorar, pensando numa solução...

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De repente, ela vê as janelas do seu quarto se es-

cancararem com um baque forte e uma enorme ave entra em seu quarto. O pássaro era igual ao que ela tinha, mas muito maior. Será que seu animal era um filhote ? Será que aquela ave enorme era a mãe vindo resgatá-lo ? Maia teve medo quando aquele enorme pássaro veio em sua direção e a pegou pela gola da roupa. Ele era tão forte, e suas garras tão enormes, que sem qualquer esforço levantou a menina no ar. Em seguida, voou pela janela em direção ao bosque.

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Do alto, sem saber como escapar, a menina teve

medo de cair entre as árvores e se machucar. Fechou os olhos para não ver o que estava acontecendo. Ela sentia a brisa, a luz do sol no seu rosto... até que ela estava gostando da sensação de voar, mas o que será que a ave faria com ela ?

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Pouco tempo depois, ainda de olhos fechados,

Maia sente cair num lugar macio, parecido com feno. Ela olha e percebe que está numa espécie de ninho, junto com outras aves menores, os filhotes, que parecem encantados com sua presença e começam a lhe bicar. Será que pensam que ela é comida ?

Ou apenas querem brincar com ela...

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Mas Maia não quer ficar ali. Ela quer voltar para

sua cama quentinha, ao lado dos tios carinhosos. Mais tarde ela sente fome, mas não tem o que comer. A ave gigante de repente chega com umas minhocas no bico, imediatamente disputadas pelos filhotes e ela se sente enojada. Imagina se iria comer minhocas... que saudades dos doces, tortas e quitutes tão deliciosos da tia... mas o que fazer para sair dali ? O ninho ficava no topo de uma árvore. Se ela caísse lá de cima, talvez não saísse com vida...

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Ali, no meio do bosque, num lugar estranho, sem

comida, no alto de uma árvore, longe do conforto do seu quarto e com saudades da família, Maia começa a chorar... De repente ela se lembra de seu pássaro, lá no quarto dela, preso numa gaiola e começa a entender o motivo da tristeza dele. Neste momento, ele, assim como ela, estão na mesma situação. Ambos longe de seu habitat natural, sem liberdade, tristes... Agora ela entende o motivo dele deixar de cantar e o porquê da plumagem ter perdido a cor... A perda da liberdade e a saudade deixa qualquer um deprimido...

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Maia comeรงa a chorar novamente, desejando voltar

para casa... Nesse momento era tudo o que ela mais queria...

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Ela fecha os olhos, e deseja com todas as forรงas,

que a sua vontade se realize...

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Quando os abre, ela percebe que estรก na sua

cama, no quarto lilรกs, na casa dos tios... tudo nรฃo passara de um sonho ou talvez, de um pesadelo. Ela olha para a gaiola ao lado da cama e observa a ave, jรก sem plumagem nenhuma, quietinha no canto, desfalecendo...

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Mas a tristeza da ave, agora tornara sua tristeza

também...Ela queria tanto aquele belíssimo pássaro, mas não dessa forma... não o queria assim, triste e doente... E assim ela lembrou-se do seu sonho, da sensação que teve ao se ver num lugar estranho, longe da família, sem sua liberdade... era triste demais... E foi aí que ela tomou uma decisão. Enxugou as lágrimas, levantou da cama, pegou a gaiola, foi até a janela e libertou o pássaro.

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Assim que a ave percebeu que não estava mais

presa, imediatamente irradiou uma luz forte e em seguida sua plumagem foi renascendo, linda, colorida, radiante... Ele bateu as asas e soltou um canto comprido, a melodia mais linda que a menina já ouvira... Em seguida voou em direção a imensidão, até se perder de vista...

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Neste momento, Maia achou que ficaria triste, pois não teria mais seu lindo pássaro. No entanto, ela ficou tão feliz por vê-lo bem novamente ao ter-lhe devolvido a liberdade.

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No dia seguinte, assim que acordou, Maia correu

para a janela... Ela estava com saudades daquele lindo pássaro, queria poder reencontrá-lo. Ficou ali um tempo, observando o bosque adiante. Ela teve a sensação de que a ave deveria estar feliz agora, livre, em seu habitat natural, com sua família.

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Enquanto ela ficava ali, pensando naquele lindo

animal, acabou tendo uma grata surpresa. Um pontinho colorido no céu parecia se aproximar e foi chegando até ela. Este pontinho colorido foi aumentando de tamanho, tomando forma, quanto mais se aproximava da janela. Até que ela pode então reconhecer aquela ave.

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Ele chegou, aterrissou na janela e ficou ali, com sua pluma toda radiante e colorida, observando Maia. A menina nĂŁo se conteve de alegria e foi acariciĂĄ-lo. E a partir deste dia, aquela bela amizade pode florescer.

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Depois de ter sido libertado,

o pássaro ficou tão agradecido, que todos os dias ao nascer do sol, ele visitava Maia, que estava sempre à espera dele, na janela. E ali, ele a presenteava com seu mais belo canto, enchendo o coração da menina de felicidade...

Fim 30



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