O Vírus do bem UM CONTO DE FÉ ONDE ESPERAMOS QUE AS COISAS MUDEM DEPOIS DA PANDEMIA
Manoel Carlos Conti 2020
O Vírus do bem
Manoel Carlos Conti 2020
contihq@hotmail.com
Montagem e Diagramação
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Sempre que acontecia algum encontro de família nessa casa, aconteciam também brigas e desavenças entre eles, mesmo sendo todos da mesma família. No aniversário de Felipe, o menorzinho de 13 anos que mais parece um cavalo de 28, eles se encontravam todos ,alguns finais de semana antes uma vez que seu aniversário quase sempre caia no domingo de Páscoa e assim, esse encontro era mais para combinarem o que cada um iria fazer e trazer para que tivessem uma mesa bastante farta. Como essa reunião se passou num domingo, cada um dos 9 filhos trouxeram pratos de salgados e de doces para o almoço e o único que não fazia nada era exatamente o Felipe, por ser solteiro e ainda morar com os pais e não saber fazer outra coisa se não jogar vídeo game e fumar maconha. Chegaram então os filhos José Roberto, Marco Antonio, Cláudio, Nicolau, João Pedro e as filhas Ana Maria, Maria Cláudia, Celeste e Vitória, cada um deles com suas respectivas esposas e esposos, menos Nicolau e Celeste que ainda eram solteiros e moravam, segundo eles, na casa de amigos. O único neto do casal Gerardo e Assumpta nessa época era Bernardo de 5 anos, filho do José Roberto, o filho mais velho do casal. Todos estavam na mesa comendo como desgraçados famintos, nunca se viu uma gente tão esganada, enquanto Bernardo via televisão até que, num certo momento, seu desenho animado predileto parou e apareceu aquela terrível mensagem de Plantão de Notícias - Urgente. Todo mundo da mesa e das adjacências se viraram para o aparelho de TV e ficaram prestando atenção enquanto o locutor falava e imagens eram mostradas ao vivo. “E atenção, as forças armadas não sabem ao certo o que são essas bolas brancas no céu, mas cada uma delas solta uma poeira alaranjada que ao que parece é uma espécie de veneno. Algumas pessoas já dizem que quando respirado por seres humanos as orelhas crescem e ficam arroxeadas como berinjelas, as narinas aos poucos vão se fechando e a língua incha até que a pessoa morra asfixiada. Os nossos governantes pedem para que fiquemos em quarentena até que descubram uma forma de matar essa estranha forma de vida... para tanto – continuava o apresentador com seu sério semblante – todos devem ficar dentro de suas casas ou de onde estiverem nesse momento. Em breve daremos mais notícias”. Ele encerrou e o desenho animado voltou a ser transmitido logo em seguida. --- Acho que isso é brincadeira – disse Nicolau --- Só pode ser... hahahahahaha... – ria seu irmão Cláudio enquanto comentava. Seu Gerardo , o chefe da família não se conteve e, tendo ele nascido na Itália e ser filho de espanhol seus nervos viviam a flor da pele... nervoso deu um berro além de dar um forte tapa na mesa que fez pratos e talheres pularem de onde estavam. --- Santo Dios... calem sus bocas bando de perros maleducados... si l’ombre della televisione dire que siamo num estado de calamidad, temos di nos comportar para tal... quiém manda in questa familia sono ío assi, io voglio dar las ordens... Todos os filhos, as noras e a esposa de Gerardo se calaram e baixaram as 5
cabeças, até que mais uma vez surgiu na televisão a música de plantão e de notícia urgente. “E atenção... o Governo estuda uma forma de acabar com esse vírus ou bactéria com algum medicamento para os infectados ou com a criação de uma vacina para toda a população... mais uma vez nosso Chefe do Serviço de Saúde pede para que ninguém saia de casa de forma alguma... já descobrimos que o tal vírus ou bactéria ataca um público diferenciado dos outros... os cientistas notaram que foram infectados só aqueles cidadãos muito nervosinhos e ou aqueles que de alguma forma tratam mal suas esposas ou seus familiares, amigos e o planeta em geral... voltaremos a qualquer momento com outras notícias”. --- Querido... disse Assumpta, esposa de Gerardo... que faremos... --- Cala la tua boca criatura energúmena... io ... --- Pai --- dizia baixinho Cláudio, um de seus filhos ---... cuidado... você está tratando a mãe com violência...o... vírus... --- É verdade... --- Janaina –-- disse seu Gerardo para a esposa de Cláudio --- pelo amore de Dio... no si mete em conversa de famiglia... --- Geraaaaardo... quer ficar com a orelha de berinjela? No momento em que, ainda na mesa, todos conversavam a porta da casa se abriu e por trás de uma luz muito forte apareceu a imagem de uma senhora. Todos se assustaram com aquela aparição repentina e Gerardo logo foi dizendo em voz alta: --- Ma qué questo? Com qui derecho La Signora entra dessa forma em mi casa? Todos olharam para o pai que logo se lembrou a frase do locutor da televisão dizendo: “ mal para esposa, filhos e amigos em geral...”. --- Que estan a me mirar... io no conesco questa signora... pode ser una assaltante, una bandida, una demenciata della cabeça que a qualquer momiento vai enviar una arma no peito da gente e mandato tutti nói per lo spaço, cáspita... --- Eu sou a enviada... --- disse a mulher! --- Maqué tu parla? ... enviada de quem... aposto que é daquele bando que mora nello morro e vive dando essas festa com tiro de baioneta para cima... ou entonce, enviada de algum político corrupto que vai tirar mais dello nostro dinheiro que já é curto... enviada de quem, parla de una vez. Todos olharam para a senhora que foi entrando na casa e logo disse com uma voz bastante suave: --- O Senhor é uma pessoa muito boa e... Assim que ela disse essas palavras todos começaram a rir enquanto se entreolhavam. --- Foi quéla bandida que disse... non foi io... --- dizia Gerardo bastante orgulhoso --- Eu não estou falando do senhor, seu Gerardo, estou falando do seu superior, daquele que manda em todos nós e que dirige nossas vidas... --- Pronto pai, bem que você disse que era coisa de política... --- Cala tua boca cretino... má que gente que num consegue ficar com la boca fechada... vamo ver o que mas lá bandida amiga de los corruptos sem ver6
gonha tem a parlare per nói... siamo signora... pode parlare... A mulher foi entrando na casa e a luz a acompanhava. Além da luz eles podiam notar que uma espécie de neblina, de um esfumaçado azulado a acompanhava. Felipe, o filho menor que estava com medo tinha corrido para perto da mãe assim que ouviu o estrondo quando a porta se abriu e a mulher apareceu, disse para Vitória, a mais nova das mulheres que estava bem do lado da mãe: --- Acho que ela tava fumando um lá fora... --- É verdade... e pelo jeito era dos grandes... pela fumaceira que vem no seu rastro... --- Calem a boca os dois. --- Disse Assumpta Eles se entreolharam e soltaram risadas colocando as mãos na boca. A mulher entrou e foi chegando perto da mesa de jantar. --- Nós não temos nada senhora... por favor, não nos faça mal. --- Calma mãe --- Disse João Pedro que era faixa preta de Judo --- qualquer movimento brusco e eu derrubo a danada. --- Ninguém consegue me derrubar menino... estou sempre em pé... e sempre com Ele... --- Má signora... parla di uma vez que está com você... nós estamos aqui almoçando em famíglia para fazermos nostra programazione della festa de 14 ani dei mio mais novo, o Felipe... esse que está colado em lá tua madre e é um inútil que no traz nem una moeda pra casa... se achar una na rua ele gasta ela com tóchico... um cretino... Todos soltaram algumas risadas e, notando que a senhora não se mexia nem mudava seu semblante foram parando aos poucos. Até que o silêncio foi generalizado! --- Bom... será que agora posso falar com vocês? Todos fizeram que sim com a cabeça após se entreolharem... --- Ótimo... acho que vocês já ouviram nos meios de comunicação o que está acontecendo na casa de vocês... --- Mas, porque só na nossa casa? --- perguntou Maria Cláudia com ar de desconfiada. --- Maria... um belo nome esse seu... --- Como é que a senhora sabe meu nome? --- Tô falando seu Gerardo --- disse Rubens, marido da Maria Cláudia --- ... essa mulher é enviada dos corruptos... já já entram uns 10 deles todos armados e acabam com a gente... --- Tá benne... tá benne... deixa ela continuar... nós somos em 2117 adultos aqui... apesar de muitos de ustes num valerem o pão que comem... ma... que fáre... qualque cosa a gente si defende com lás facas... --- Sei lá viu... sei lá... to querendo é ir embora... --- Fica calado Rubens --- Disse sua esposa. --- Posso continuar? Mais uma vez todos se entreolharam e dessa vez sem sorrir voltaram a olhar para a mulher. --- Sei o nome de todos vocês... e sei das suas vidas também... não sou espiã, nem corrupta e quem me mandou aqui quer apenas que eu os ajude em troca de apenas uma coisa... Nesse momento o burburinho na mesa foi total... uns se levantaram e co7
meçaram a arrumar suas coisas, Celeste foi na cozinha pegar algumas cervejas, Vitória colocou mais um pedaço de torta de palmito em seu prato e todos falavam juntos: --- Eu sabia... eu sabia... --- Ma que cosa é quésta... --- Eu tinha razão... --- Com certeza ela vai mandar entrar aquele bando lá do morro e eles vão levar nossos celulares, carteiras... --- Aíííí não... esse brinco foi da minha avó... --- Então, com uma voz baixa e serena a senhora levantou seu braço direito e com a mão espalmada na direção deles todos disse: --- Parem! E todos, inclusive Celeste que retornava da cozinha com 4 cervejas nas mãos ficaram parados, sem piscar, como se fossem estátuas de pele e osso, nem suas roupas se mexiam com o vento forte que entrava pela janela e fazia uma corrente de ar com o vento da porta aberta por onde a senhora entrou. De um momento para outro todos os 19 estavam em pé, no meio de uma névoa branca, sem cheiro de nada, porém fria como estivessem dentro de um freezer de uma enorme geladeira, a senhora começou a falar: --- Vejam a casa de vocês... --- e então apareceu o Planeta onde moravam, onde viviam junto com uma enorme população --- essa é a verdadeira casa que vocês têm e, de todas as formas vocês a estão destruindo há anos. Enquanto ela falava, todos aqueles da família Gerardo podiam girar suas cabeças e mover seus olhos para apreciarem, se é que apreciavam aquilo que ela mostrava... e continuou: --- Vejam os mares como estão --- e eles todos foram transferidos num piscar de olhos para abaixo das águas do oceano onde, mesmo assim respiravam e continuavam observando o entorno. Viam os peixes que se movimentavam de um lado para outro, as algas e os corais que lentamente se movimentavam com as marés profundas, serem estranhos que se escondiam nas areias até que de repente surgiu uma enorme pilha de pneus velhos e ela continuou --- isso não estava aqui quando vocês chegaram... nem aquilo... --- disse apontando para uma enorme tartaruga que trazia presa em seu corpo uma forte rede de nylon, dessas que os pescadores usam para capturar uma enorme quantidade de peixes. --- Sacos de plástico, embalagens de alimentos, ferro velho, pedaços de velhas embarcações em estado de decomposição e muitos... --- vejam vocês observou ela enquanto apontava seus dedos --- muitos peixes e criaturas marítimas mortas que flutuam por todo esse oceano. As águas que um dia foram límpidas e cheias de nutrientes e de oxigênio estão se tornando um monte de lodo... --- e ondas de fezes e outros detritos começaram a cercar todos eles fazendo com que todos, mesmo com seus corpos parados, faziam cara de nojo e de enjôo por estarem no meio daquilo. E a senhora continuou: --- Mais um pouco de tempo e, a continuar com essas atitudes mal educadas vocês vão exterminar a sua raça dessa casa que foi feita para vocês e todos os seres que aqui habitam com a maior perfeição e planejamento de Alguém que gostaria de ver o bem viver dessa comunidade. Ela acabou de falar e num momento de menos de 1 segundo todos eles se transferiram secos e limpos para o alto do maior edifício daquela localidade 8
e mesmo assim, como num passe de mágica o edifício cresceu mais ainda e no cume onde estavam ele de balançava de um lado para outro, como se o vento pudesse dobrá-lo. --- Vou fazer vocês descansarem um pouco. E no mesmo momento que terminou de dizer aquela frase todos eles voltaram a se mexer e a poderem conversar. --- Má que cosa é quésta signora... usté usou de tóchico pra fazer a gente se sentir com questa estranheza? Tá loca? --- Eu quero voltar para casa --- dizia Felipe enquanto apavorado abraçava a mãe --- eu prometo nunca mais colocar um baseado na minha boca... eu prometo estudar e arrumar um emprego... --- Má que é que vai te dá emprego... usté é um inútil que non sabe nem ferver um copo de leite sem que ele derrame... cala sua boca bambino... --- Pai --- Dizia João Pedro enquanto todos olhavam para o velho ranzinza e nervoso. --- Má que é... qué tan me olhando como se ío fosse um fantasma? --- Suas orelhas papy --- disse Marco Antonio assustado. Então, o velho colocou suas mãos nas duas orelhas e lhe pareceu estar encostando numa berinjela gelada. --- Má que ésso? --- E quando ele partia para cima da senhora percebeu que suas pernas não obedeciam aos comandos de seu cérebro e ele não conseguiu sair de onde estava. --- Perqué ésso só com La mia famiglia? Non somos só nós que jocamo sujeira nel maré... tutti mondo joga... --- Vocês viram os pontinhos alaranjados que apareceram no Plantão da televisão? --- Sim, lógico que vimos --- disse José Roberto o mais velho bastante irritado --- e o que tem a ver isso com nossa família... você é louca? --- Querido... --- disse Janete sua esposa que não largava o pequeno Bernardo de seu colo --- suas orelhas... Então ele tocou nas suas orelhas e percebeu que estavam roxeadas e parecidas com uma berinjela, iguais as do pai. --- Hahahahahaha... --- ria seu Gerardo --- ancora está engraçado... o deficiente que já nó tinha cabelo ancôra tem unas orelhas roxas e carnudas... hahahahahaa... --- Para né seu Gerardo... --- disse Janete --- a do senhor está igualzinha. O velho tocou nas suas orelhas e parou de falar no mesmo momento. Quando o ‘burburinho’ recomeçou a senhora mais uma vez esticou o braço para a frente com a mão espalmada e todos ficaram imóveis e quietos novamente. Então ela disse: --- Vejam só a cor do meu manto... é predominantemente alaranjado claro, mas tem tons de azul e branco... essas são as bolinhas que o jornalista de vocês disse naquele plantão de notícias... outras como eu estão espalhadas por todo esse mundo procurando mostrar aquilo que vocês ainda não perceberam... ou ao menos não querem perceber. O prédio se inclinou para bem perto da rua e apesar deles estarem em pé, ficaram quase na posição horizontal, mas nem se mexeram. Seus corpos estavam eretos, como se estivessem num local plano. --- Vejam esse lugar --- dizia ela apontando para as ruas --- um dia isso já 9
foi assim --- e no exato momento que ela acabou de falar essa frase os prédios e os carros e poluição, as pessoas, postes de luz e todas outras construções desapareceram dando lugar a uma imensa floresta onde podiam ver animais correndo soltos, lobos, cavalos selvagens, pássaros que revoavam num céu muito limpo, lagos e cachoeiras com água cristalina e montanhas muito altas, algumas tão altas que carregavam placas de gelo sobre seus cumes. Eles olhavam tudo aquilo com espantado, e ao mesmo tempo maravilhados com a beleza daquele local, onde agora tinha se tornado a cidade que moravam e de certa forma perceberam que a raça humana não cuidara desse local durante anos e anos até que se transformasse naquilo. De repente a cidade voltou ao normal. Enquanto o cume do prédio onde eles estavam ia se mexendo lentamente como se fosse uma plataforma de borracha que esticava e reduzia de tamanho como um braço, a senhora ia falando e mostrando o que dizia: --- Vejam aqui --- disse ela mostrando um ferro velho --- todo esse lixo, todos esses pneus e essa ferrugem que escorre pelo solo vão se infiltrando no solo e isso chega aos rios que até então tinham uma água límpida. Olhem para os veículos que vocês utilizam e vejam a fumaça negra e tóxica que seu escapamento expele. Vejam o aglomerado de pessoas, assaltantes que ferem pessoas por dinheiro, gente sem moradia que espalha papelão e restos de cobertores e de panos para construir seus abrigos. Crianças que choram de fome. Gente que pede dinheiro nas paradas de carros. Conduções lotadas como se fossem ‘latas de sardinhas’ enquanto alguns carros de luxo andam pelas ruas com só uma pessoa. Vejam a sujeira que as feiras livres deixam nas ruas. E então o ‘braço de borracha’ chega até bem perto de um depósito de lixo. E ela continua enquanto eles todos observam: --- Será que os filhos de vocês tiveram a oportunidade de pegar lixo para comer? Restos de carne, de comida que foi jogada fora um dia, de restos de bebidas, que mesmo quando ainda estavam em bom estado foram depositadas no lixo de suas casas para aqui serem jogados. Vejam os pés dessas crianças e desses adultos cortados pelos vidros quebrados espalhados por todo esse lugar. Ali, mais distante --- disse ela apontando para um cano com uma chama --- aquilo é fogo do gás em que todos esses produtos acumulados se transformam. Além do mais, o líquido fétido desse lixo todo, sintam o cheiro --- e eles fizeram cara feia, de nojo quando sentiram aquele cheiro --- esse líquido podre também entra nas correntes subterrâneas de água e poluem essa mesma água que vocês consomem. O braço então voltou ao local inicial que era o topo do edifício e mais uma vez a senhora os deixou em estado normal. Quase todos passaram as mãos em suas narinas e procuraram limpar suas roupas que para eles pareciam estar sujar e fedorentas enquanto, pra variar, seu Gerardo resmungava: --- Já num sei o parlare signora... olha só o que está a fetcere con lá mia famiglia... nom fomo nói que destruimo Il mundo todo... nói já pegâmo Il mondo come estay... sra... te peço que per favore, com tuta lá mia educazione, que deixe a gente em paz... Nesse momento as orelhas de Gerardo começaram a ficar normais e Assumpta, sua esposa disse: --- Nossa Gerardo... suas orelhas estão voltando ao normal... --- Má que bello... ío pensavo que ustés iriam cozinhar las mias orelhas... 10
--- E a minha cacete... --- dizia José Roberto com a voz elevada mostrando irritação --- porque só a do Papa... faça minha orelha voltar ao normal imediatamente senão... --- Pai... --- disse o pequeno Bernardo com um leve sorriso no rosto --suas orelhas estão crescendo cada vez mais... hahahahahahaaaa... --- Eu vou pegar essa mulher... --- Te ajudo mano, vamos acabar com ela de uma vez... E assim que os dois estavam indo na direção da senhora ela, mais uma vez esticou o braço com as mãos espalmadas e todos eles voltaram a ficar imóveis. --- Agora vamos falar um pouco de vocês... E assim que ela disse isso eles voltaram para a casa do pai onde estavam almoçando. --- Vamos ver uns ‘filminhos’ agora... acho que muitos de vocês vão gostar outros ficarão desapontados, tenho certeza disso. Vamos começar com o casal José Roberto, nosso orelha de berinjela e sua maravilhosa esposa Dna. Janete. Como uma imagem em terceira dimensão os dois apareceram na frente de todos num cenário que era a casa onde moravam. --- Vejam vocês como esse casal se trata e como tratam esse filho deles. De olhos arregalados todos eles viram que o casal se agredia de formas absurdas. O menino chorava e também levava uns tabefes na cara. Agora, vendo aquilo, pai e mãe começaram a entender o porquê muitas vezes não queriam que eles fossem visitá-los sempre inventando que iriam à casa de amigos, no clube ou no Shopping e na verdade não os recebiam porque ou estavam com marcas no rosto ou o menino doente de tristeza e de dor. --- Acho que está bom não é mesmo? Agora todos conhecem o que se passa naquela casa onde mora o mais velho. Na seqüência vamos ver o que acontece com 2 casais... o casal Marco Antonio e Zuleika e o casal Cláudio e Janaína. Os quatro pareciam quererem se mexer e de alguma forma eles soltaram gemidos mesmo com a boca totalmente fechada. Mais uma vez apareceu a imagem do interior da casa de Antonio e Zuleika. Num momento ela foi até a porta de entrada e a abriu onde por ela entraram Claudio o irmão de Antonio e sua cunhada Janaína. Todos eles se sentaram na sala enquanto Zuleika servia vinho a todos que brindavam alegremente. O tempo passava enquanto parecia que o calor aumentava uma vez que Zuleika tirou sua blusa permanecendo apenas com o sutiã. Logo, Cláudio, cunhado de Zuleika a carregou pelos braços subindo a escada para um dos vários quartos daquela casa. Enquanto isso Antonio agarrou Janaína e ali mesmo, enquanto se beijavam no sofá grande os dois se despiram e se abraçaram totalmente nus. A cena era inacreditável e hora aparecia o casal trocado no quarto, hora o casal no sofá. De uma hora para outra eles destrocavam de mulheres e cada uma ficava com a sua verdadeira e em outros momentos os 2 irmãos ficavam se beijando enquanto suas duas cunhadas faziam o mesmo... gritavam, falavam palavrões e riam muito alto. Aos poucos a imagem foi desaparecendo, até sumir. --- Que acharam dessa demonstração de falta de pudor, de mentiras e de pecados. Não sou contra casais trocarem de maridos nem homens com homens ou mulheres com mulheres, isso existe desde o início da humanidade, mas irmão com irmão, trocando suas esposas. Foram 2 dos exemplos que eu queria 11
dar nesse momento, mas ainda falta muito mais, enquanto preparo meus pensamentos libero vocês de se mexerem... sem sair do lugar --- disse ela essa última observação num tom de voz mais alto. Eles começaram a se espreguiçar e a se entreolharem, até começar a falação... --- Pai, mãe, eu queria dizer que não nos tratamos assim sempre... --- disse o mais velho quando foi interrompido pelos dois que tinham trocado de esposas. --- Eu num sei como essa senhora fez isso... --- Sim... isso é magia negra... ela está querendo acabar com nossa moral perante nossa própria família... --- Vó --- perguntou Bernardo --- que eles me batem é verdade... mas o que o tio Antonio e o Tio Cláudio estava fazendo na mesma cama? --- Fica quieto menino... --- gritou sua mãe. --- É isso... cala sua boca senão... – até que foi interrompido por André, marido de Vitória. --- As orelhas de vocês... a sua Zé Roberto está enorme e a da Janete começa a crescer... hahahahaha... engraçado... --- Eu.. eu... num to conseguindo respirar direito... minha língua está inchada... --- Hahahahahhaa... --- ria Bernardo da cara do seu pai. --- Per favore... siamo espetare que esse pesadelo se acabe... fiquem calmos... --- Mas Gerardo... isso está, ou melhor, já passou do limite... --- Calma amoré mio... siamo ficare calmos... --- Finalmente algué colocando a razão no lugar certo --- dizia a senhora --- vamos continuar com o show? --- Per favores ignora... deixa la nostra famiglia em paz... per favore ío te peço... E mais uma vez todos ficaram imóveis e sem poder se mexer. Apenas giravam as cabeças e os olhos, e mais um filme foi aparecendo no centro da sala. Agora aparecia uma espécie de escritório, com computadores, arquivos, telefones e devagar apareceram Nicolau, o filho solteiro, João Pedro e sua esposa Márcia. Eles conversavam numa mesa de reunião e mostravam papéis um ao outro, faziam contas com lápis e calculadoras. Nicolau parecia ser o grande ‘cabeça’ daquele negócio e todos ouviram quando um dos celulares sobre a mesa tocou. Os três se entreolharam e Nicolau atendeu dizendo... --- Olá Governador... estamos só nós três aqui e agora em viva voz --- e colocou o celular no centro da mesa. Do outro lado do aparelho uma voz rouca e baixa dizia: --- Já mandei um motoboy... fechem bem o pacote e quando ele chegar embrulhem com os 2 pacotes de café... ele vai pensar que são produtos da fazenda e que vocês estão me mandando... --- Já tudo certo Doutor... --- disse Nicolau. --- Quanto vem esse mês... --- O cambinado... 1 milho... em dólares... --- 1 milho de dólares... --- Não né Dr...assim o Senhor quebra a gente... 1 milho de réis só que em dólar... 12
--- hahahahahhaa... --- ria a voz no celular --- já mandei os arco e flechas pra garagem de vocês... dá pra matar uma tribo inteira... e de longe... --- Tá feito... --- disse João Pedro --- até o mês que vem! --- Té... E o telefone foi desligado. Os três se olharam e juntaram as mãos dando risadas em voz baixa. --- Que belo exemplo de corrupção política... --- dizia a senhora --- imagine o senhor seu Gerardo, que sempre critica os tiros no morro aqui perto... tudo patrocinado por 2 de seus filhos e uma de suas noras... a menorzinha delas... a mais bonitinha como sempre o senhor diz...--- e continuou --- será que essas armas ou esses ‘arcos e flechas’ vão matar alguma criança (?)... alguma mãe ou um pai de família que não pagou a propina do mês(?). Ela foi um pouco para o lado e disse: --- Temos mais apresentações... vamos ver! Logo apareceu num velho galpão Celeste a filha solteira e sua irmã Maria Cláudia e seu marido Cícero. Enquanto Cícero trabalhava numa mesa redonda colocando o pó dentro de embalagens de plástico, Celeste e sua irmã Maria Cláudia estavam sentadas em outra mesa, um pouco mais rústica, embrulhando a erva em pequenos saquinhos de plástico. Todos eles tinham tanta prática naquilo que nem precisavam utilizar a balança de precisão que tinha em cada uma das mesas. Era até bonito os ver colocando porções exatas e depois alocando os embrulhos e os invólucros dentro de umas caixas de papelão. Logo entram umas crianças, nem tão crianças. São grandes, mas parecem ter 15 ou 16 anos. Um deles tira um maço de dinheiro do seu calção e joga na mesa rústica onde as mulheres estão. Cícero se levanta, pega o maço e dá uma folheada nas notas que são de todos valores, de 100, 50 e 20 reais. --- Muito bom meninos... já pegaram a parte de vocês? --- Tá tudo certo mano --- disse um deles enquanto ascendia um cigarro. --- Esse dinheiro aqui... --- continuou Cícero --- vocês sabem bem para onde vai né... para meus irmãos que vão cuidar da comunidade, das mulheres e dos menorzinhos que os ‘gambés’ querem pegar... e olha... nesse sábado tem festa na quadra... muito bebum e muita fumaça... --- hahahahhaa... --- riram os meninos --- Além da tradicional queima de fogos... tão sabendo né? Eles se deram as mãos e foram embora enquanto Cícero foi conferir se a porta estava bem fechada. Quando voltou as duas moças olharam para ele e os três se abraçaram... o celular tocou... Celeste atendeu. --- Diga mérmão... --- e ouviu ele dizer algo --- ta tudo aqui a grana e a outra remessa... --- esperou ele falar mais alguma coisa e continuou --- bom demais... bom demais mesmo... beijos --- as armas já foram entregues e o Governador continua com a gente... Os três se abraçaram e riam como crianças. Mais uma vez a imagem foi se dissipando até que desapareceu por inteira. A senhora espalmou a mão e mais uma vez eles puderam mexer seus corpos sem sair do lugar. --- Mais exemplos de corrupção política e corrupção de menores... que maravilha. Acho que muitos de vocês estão pensando nas imagens que vimos lá 13
fora, que vimos no fundo do mar, as crianças roubando os motoristas nos faróis fechados... o mundo sujo que vocês fazem. --- Acho ío que non estoy passare benne... --- Calma querido... olha o seu coração. --- Calma papy --- Dizia José Roberto enquanto percebia que sua orelha ia voltando ao normal e sua língua desinchava um pouco. --- Temos mais apresentações --- disse a senhora --- afinal vocês são seres humanos comuns e todos têm muitas histórias para contar e a próxima é uma verdadeira jóia... vejam só! As imagens foram aparecendo e eles perceberam que Ana Maria e Rubens estavam dentro da igreja que freqüentavam. Rubens segurava uma câmera fotográfica numa das mãos enquanto Ana Maria conversava com o Padre e ao mesmo tempo abria seu laptop. Algumas crianças entraram no saguão da igreja e dava para notar que essas crianças eram duas meninas e 1 menino, todos com aproximadamente 8 anos e vestiam apenas pequenos roupões. Enquanto Ana Maria mostrava imagens do seu laptop ao Padre, Rubens com muito jeito e fazendo brincadeiras convencia as crianças a abrirem os roupões e fazerem posições para fotografá-las nuas. Uma das meninas não queria e Rubens chegou perto dela e mostrou uma caixa de chocolates. Quando a menina ia pegar ele puxou a caixa e disse alguma coisa para ela. Enquanto ele se afastava ela tirava o roupão e fazia posições para ser fotografada. Depois disso Rubens chegava perto dela, ajudava a vestir a roupa, dava a caixa de doces para a menina e a abraçava sorrindo. O presente e o abraço também foram dados aos outros dois que correram sorrindo para dentro de uma das salas da igreja. Ali saíram sala eles se trocaram rapidamente e saíram para a lateral da igreja onde entraram num carro. No carro estavam André na direção e Vitória no banco do passageiro. --- Como foi crianças? --- Perguntou Vitória --- Olha o que a gente ganhou tia... --- disseram as crianças mostrando as caixas de chocolate. --- Que bom... vocês ganharam doces do titio e do Padre... não comam tudo de uma vez só porque senão vão ter dores de barriga. --- Dá os pacotes para eles... --- disse André com o canto da boca. --- Olha só... nós vamos deixar vocês aqui na rua de baixo e vejam se vão direto para casa... vejam isso... peguem 1 para cada 1 --- e entregou um pacote embrulhado do tamanho de 1 tijolo, ou um pouco menor, para cada 1 deles dizendo --- isso é para seus pais... não deixem ninguém pegar... coloquem na parte de dentro do calção e da calcinha de vocês... --- Ei tia... --- disse o menino com ar de nervoso --- sou homem, num uso calcinha... --- Tá certo --- disse Vitória sorrindo --- você é um homem muito bonito... guarde na sua cueca... homem usa cueca... Assim que os 3 saíram do carro André saiu dali em disparada. O telefone tocou e André, mesmo dirigindo disse: --- Tá tudo ok Padre Saulo... as crianças estão em casa... --- esperou enquanto ouvia o padre lhe falar algo e continuou --- hahahahhaaa... ficaram boas sim... já já vamos para casa e colocamos na rede para serem vendidas... --- o Padre disse mais alguma coisa e ele voltou a falar --- lógico... lógico... só um tira 14
gosto... se depositarem em dólares a gente manda... ok amigo... semana que vem tem mais? --- o Padre disse algo --- nossa... assim nós vamos ficar ricos e poderemos comprar um terreno no céu... hahahahahaaaa... e parou de falar desligando o celular quando Vitória deu um leve tapa em seu braço enquanto sorria e dizia: --- Você é muito canalha... Aos poucos as imagens foram desaparecendo e a sala voltou ao normal. --- Pai --- perguntou Bernardo --- que aquelas crianças faziam na igreja com o tio André? --- Na... nada filho... esquece isso... --- Vou deixá-los à vontade para continuarem comendo e bebendo --- disse a senhora --- mas já sabem, qualquer ameaça e ficarão imóveis só que dessa vez será por um tempo bem maior. E todos voltaram ao normal, cada um deles sentado em seu local. --- Má qué quésto Assumpta... uste está molhada... --- Urinei nas calças... --- Con tanto absurdo né querida... -endedores-- dizia seu Gerardo enquanto olhava para cada um deles --- temos in nóstra bella famiglia pais violentos, irmãnos e suas esposas que trocan carinhos, corruptos... compradores de armi... vendedore di tóchico, pedófilos... né Ana Maria e finalmenti cúmplices di tutto que acontece. --- Nossa gente... não foi essa a educação que eu e o pai de vocês demos... sempre procuramos o melhor para vocês... escolas, clube, esportes, aula de dança, de música, viagens... demos a vocês tudo que nunca tivemos. --- Sabe signora ... --- dizia seu Gerardo com um ar de extrema tristeza --- quando vimo pela tevisione que usté e sus amiches vinham para las casas, nunca, nunca imaginamos que quésta visita era para mostrar a nói qui agimos di forma errada que quéstos inbecíles... --- Pai... queria te pedir desculpas... --- falava Vitória enquanto se levantava para abraçar o pai e a mãe --- te juro pelo Senhor Sagrado que enviou essa senhora que nunca mais vou fazer o que vocês viram eu fazer. Todos outros filhos foram se levantando e fazendo o mesmo, abraçando pai e mãe. --- Ío perdôo ustés... padre e mãe sonno siempre a favore de los filhos... aconteça o que acontecere... e olhem, vamo acreditare que eston hablando la verdad ...--- enquanto ele falava isso todos olhavam para ele e para a mãe que não parava de chorar. Momentos depois de ficarem um pouco em silêncio, todos de mãos dadas, inesperadamente a televisão ligou e eles puderam ver as imagens do Plantão de Notícias Urgente. E atenção... os caças do Governo procuram pelas bolas brancas e alaranjadas por todos os cantos do planeta e todos os pilotos que se reportam a suas bases dizem que não existe mais nada de estranho nos céus. Aqui do helicóptero da TV1 podemos observar que várias pessoas estão fora de suas casa e muitos deles se abraçam, se beijam e fazem o mesmo com seus vizinhos. Outra coisa que notamos daqui de cima são as pessoas , jovens e adultos, ricos e pobres, todos juntos limpando as areias das praias e a sujeira das ruas. Voltaremos a qualquer momento com mais notícias. 15
O plantão acabou e os jornalistas numa mesa redonda começaram a discutir o que tinha sido aquilo. --- O mais engraçado é que ouvimos relatos de pessoas que dizem ter feito coisas muito erradas e depois dessa verdadeira pandemia vão regularizar suas vidas e ajudar seus amigos e parentes. --- Exatamente Val --- dizia outra repórter --- vários de nossos entrevistados estão preparando caixas de comida e dizem que vão dividir com os menos favorecidos dos morros. Muitos empresários dizem que vão diminuir suas margens de lucro para poderem empregar mais pessoas. A família de Gerardo se levantou da mesa e quando olharam para a sala notaram que a senhora não estava mais ali na casa deles. Saíram para a rua e, notaram que as nuvens formavam uma imagem no céu e repararam que a imagem era do rosto da senhora que esteve na casa deles. Enquanto acenavam para ela perceberam que vários de seus vizinhos faziam o mesmo.
FIM
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Em O Vírus do bem tentei escrever um conto que pudesse tratar um pouco da Pandemia que atravessamos nesse ano de 2020.
O chefe de uma família é um filho de italiano com espanhola e fala um portugues misturado com sua lingua natal, o que resulta numa mistura de dialetos.
Num dia em que estavam todos juntos aparece uma notícia no Plantão da Televisão onde o locutor fala sobre um vírus que vem atacando as pessoas daquele mundo.
Aos poucos o tal vírus mostra que eles todos fazem parte das maldades desse mundo e deixa uma mensagem de que tudo será diferente depois desses dias que estamos passando.