Daqueles além marão-amostra

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DAQUELES ALÉM MARÃO (Amostra)

ÍNDICE INTRODUÇÃO..........................................................................1 CORRÉCIO................................................................................3 Ecos do passado.........................................................................3 A Tentadora e os Provocadores...............................................10 Vida dura..................................................................................17 Achado macabro......................................................................23 Epílogo.....................................................................................31 O ASSALTO.............................................................................33 PETÊMOSSUR.........................................................................43 MONTÊS..................................................................................67 A CRIPTA.................................................................................91 TUDO EM JOGO.....................................................................99 SALVO....................................................................................115 A QUEDA DO PORTO..........................................................125 Assaltantes...............................................................................125 A Resistência...........................................................................139 Em Fuga..................................................................................154 A Defesa do Porto..................................................................162 A Ponte das Barcas.................................................................171 AGRADECIMENTOS.............................................................179 Biografia..................................................................................181 Terras de Xisto e outras histórias..........................................183 Lágrimas no rio......................................................................184

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DAQUELES ALÉM MARÃO (Amostra)

Ficha Técnica “DAQUELES ALÉM MARÃO (Amostra)“

Copyright © Março 2017 by Manuel Amaro Mendonça All right reserved. Todos os direitos reservados

Revisão: Alcídia Amorim Capa: Pedro Góis - https://www.facebook.com/pedro.gois.16 Imagem de capa: Azulejos da estação de caminhos-de-ferro do Pinhão – Linha do Douro Este livro é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares, negócios, eventos e incidentes são, ou os produtos da imaginação do autor, ou usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, ou eventos reais é mera coincidência.

ISBN-13: 978-1517005597 ISBN-10: 1517005590

Contactos: amaro.autor@gmail.com http://manuelamaro.wixsite.com/autor https://www.facebook.com/manuel.amaromendonca https://www.facebook.com/historiasdemanuelamaromendonca https://www.amazon.com/author/manuelmendonca

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Dedicatória Para a Sylvie Sobrinha querida Leitora fiel

“Uma história triste agrada sempre. No seu sentido mais profundo, a vida é bela e alegre. Todos nós tivemos já a experiência disso milhares de vezes. Provas sobre provas de que não há primavera sem flores, nem outono sem frutos. Mas, apegados como estamos à aparência de tudo, esquecemos a voz do profundo, e ouvimos deliciados o som da superfície. Temos o vício da tristeza.” Miguel Torga — Diário (1946)

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Introdução Não é surpresa para nenhum daqueles que seguem os meus trabalhos, que a região e as gentes transmontanas me fascinam. Este livro que têm entre mãos, é o trabalho de alguns meses fazendo uma das coisas que mais gosto de fazer: contar histórias. Aqui são relatadas as peripécias de diversas pessoas que têm em comum o facto de habitarem, ou serem originários do “Reino Maravilhoso”, como lhe chamava o saudoso Miguel Torga. Ao ler esta obra, conhecerá a dureza da vida nas vinhas do Douro, o fosso entre pobres e ricos e como o amor poderá sobrepor-se a ele… ou não. Assistirá à chegada dos primeiros invasores napoleónicos ao “paraíso” e às desventuras de um grupo de assaltantes numa época dura em que era muito fácil perder-se tudo o que se transportava, inclusivamente a vida. Também não podiam faltar as lendas das mouras encantadas, tão disseminadas por toda a região e nem as história dos jovens que abandonavam a terra e a vida dura para procurar melhor sorte na cidade. Espero que gostem deste meu novo trabalho.

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DAQUELES ALÉM MARÃO (Amostra) CORRÉCIO Ecos do passado Era uma manhã solarenga de um quente mês de setembro. O sol brilhava, inclemente, sobre as dezenas de pessoas que se afadigavam por entre as vinhas na colheita e em subidas e descidas dos caminhos. Tornava-se difícil de acreditar que ainda há dois dias chovera copiosamente, transformando os trilhos em rios e as terras em lodaçais. Há já três dias que José dos Santos, conhecido por Zé Corrécio, trabalha nas vindimas das terras dos Mello. Ele e todos quantos possuíam cavalos, tinham trabalho garantido nas vindimas dos grandes proprietários com vinhedos longínquos alcantilados nas encostas do rio. As vinhas do Douro produzem uvas que dão um vinho único, no entanto, o terreno agreste em que são plantadas, torna a sua colheita uma tarefa digna de Hércules. Por entre as vinhas, circulam os vindimadores, que vão enchendo os cestos dos carregadores. Estes transportam os cestos pelos caminhos estreitos e de grandes desníveis até aos cavalos. A partir daí, cada animal transporta-os, em cargas de quatro, conduzido à rédea até ao caminho onde o aguarda a carroça com as dornas. Com as dornas cheias de uvas, as juntas de bois fazem o transporte final até aos lagares onde serão pisadas para produzir o néctar filho da Natureza e do suor dos Homens. Zé e o seu cavalo, o inseparável Catita, passavam os dias que durasse a vindima a transportar as uvas desde as vinhas até às carroças. Em todos esses dias, ele pôde ver a bela Paula Mello, a esposa do proprietário, a descer da aldeia com a sua montada, pelo caminho que conduzia à aldeia vizinha. Nos dois primeiros dias, os outros carregadores estavam muito perto e ela limitou-se a uns “Bons dias meus senhores” e um sorriso dirigido a ele. Ontem, porém, cruzaram-se a meio da ladeira sem ninguém por perto. Montada à amazona, a jovem estacou a pequena égua parda ao pé de José que guiava o seu possante macho pela arreata. Ela vestia uma blusa branca aos folhos e uma saia cinza que lhe chegava aos pés. Na graciosa cabeça tinha um chapéu de abas preso por um lenço que a envolvia como um capuz. Os seus olhos verdes reluziam na sombra do chapéu: –

Olá José. Como tens andado? — A voz suave e quente causou-lhe um arrepio.

Como se pode, minha senhora. — Respondeu sem erguer os olhos.

– Então, Zé. Porque me tratas assim? Fomos criados juntos... depois de tudo o que se passou entre nós... Ergueu, para ela, os olhos, brilhantes de amor e tristeza ao mesmo tempo. Por uns segundos, ambos vaguearam por memórias dolorosas. O rosto dele, tisnado do sol e por barbear, exibiu uma

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DAQUELES ALÉM MARÃO (Amostra) expressão de adoração, enquanto o dela, moreno de pele suave e contornos clássicos, um misto de pena e amor. Em crianças, o pai do Zé, João Oliveira, era o feitor da Casa dos Sampaio e, enquanto os seus dois irmãos mais velhos trabalhavam já, nos diversos ofícios do Solar, ele corria toda a propriedade e a casa sem que ninguém lhe pusesse travão. Estava permanentemente junto com a Paulinha, filha de Luís Sampaio. Assim que se encontrasse um deles, o outro não andava longe. Dessa forma inocente e infantil se passavam os anos. Um dia, quando José tinha cerca de doze anos, aconteceu uma grande discussão entre o pai e o patrão, Luís Sampaio. Na sequência desta, João Oliveira foi despedido e ele e toda a família mandados embora da casa do feitor. Tiveram de arranjar outra casa na aldeia. Passaram a viver dos parcos rendimentos das pequenas propriedades herdadas e de um terreno comprado há uns anos atrás. Em plena adolescência, viu-se atirado de uma vida boa onde não faltava nada em casa, para uma subsistência difícil. Ali compreendeu que apesar de brincar com a filha dos Sampaio e comer muitas vezes à mesa da família, não era um deles. Na sua casa, a fartura era pouca e o irmão mais velho acabou por se ir embora, emigrado para o Porto. Buscou melhores paragens e vida mais fácil. O irmão seguinte, débil desde criança, acabou por falecer de uma pneumonia. Repentinamente, tornara-se filho único e as coisas pareceram melhorar para a família. Apesar do pai estar proibido de entrar nas propriedades e o capataz avisado para não lhe dar trabalho, José continuava a encontrar-se com Paula, mais ou menos às escondidas e o romance entre os dois jovens florescia. Alertado para a “perigosa” situação da sua única filha se apaixonar por um pé-rapado e fazer “algo que não tenha remédio”, Luís Sampaio deu ordens para que a filha não andasse mais sozinha. Nunca a proibiu, porém, de ver ou falar com o rapaz. Os anos passavam-se e José crescia alto e forte, puxado pelo trabalho duro da terra, onde se iniciara tarde, mas com afinco. Paula fazia por estar pelo centro da aldeia, ao fim da tarde, quando os trabalhadores regressavam a casa no inverno ou após o almoço no verão para beneficiar da hora em que todos faziam a sesta e encontrar-se “por acaso” com o jovem agora com dezasseis anos. Cansada dos jogos de olhares e das poucas palavras a que estavam limitados, numa tarde de verão, Paula aproveitou a sesta da ama para fugir pela janela do quarto. Correu para os braços do seu amor de juventude que a esperava na sombra do pinheiral próximo. Saciaram a fome de anos, mataram o desejo que nascia desde crianças e viveram minutos que foram horas e horas que eram vidas inteiras... muito ou pouco tempo, foi o suficiente para a fuga ser notada e a ama, em pânico, pôr o solar todo em alvoroço atrás da “menina que tinha fugido de casa”. Quando Paula regressou, o pai e mais dois homens estavam preparados para sair pelos montes à sua procura, enquanto a mãe e a ama choravam agarradas uma à outra. Ela não percebia porque http://manuelamaro.wisite.com/autor

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DAQUELES ALÉM MARÃO (Amostra) estavam a fazer um drama daqueles, nem mesmo quando a mão do pai lhe acertou no rosto com força, pela primeira vez na sua vida. Por seu turno, Zé, felicíssimo, deu uma volta larga de forma a aparecer na aldeia pelo lado contrário àquele onde estivera.

Este conto tem 32 páginas, não deixe de comprar o livro “Daqueles Além Marão” para poder ler a totalidade deste e de outros belos contos. Ligação para encomendas: http://manuelamaro.wixsite.com/autor/daqueles-alem-marao

Alguns excertos dos contos neste volume: "Um casamento a maior parte das vezes não passa de umas palavras ditas sem convicção a um representante de Deus sem vocação. O meu não foi diferente. Henrique é um bruto egoísta e não quer saber de mim para nada... para ele sou apenas mais uma propriedade que ganhou quando fez o sacrifício de casar comigo." Paula Sampaio e Mello in "Corrécio" "Mantendo um olho na arma e o outro a vigiar o Xico, Zé recarregou a pistola com pólvora e colocou a esfera metálica que pressionou para o fundo do cano, várias vezes, com a vareta. Em seguida, testou o fecho de pederneira, várias vezes, para se certificar que não se repetia o acidente." in "O Assalto" "O outro dos homens, ergueu o que lhe pareceu um varapau, apontou-o e um pedaço da fraga saltou em estilhaços em simultâneo com o estampido da espingarda. Percebendo o perigo que corria, Pedro atirou-se abaixo do penedo." in "Petêmossour" "Ouviam-se vozes alteradas vindas do interior e, no preciso momento que vai a passar em frente à porta, saiu um vulto «desgovernado». Chocaram violentamente e rolaram no chão, desamparados. Ato contínuo, saíram da taberna outros dois homens, furiosos, que se atiraram ao que o derrubara. Algumas pessoas assomaram às janelas e portas para apreciarem o «espetáculo». O próprio taberneiro, um homem gordíssimo, de

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DAQUELES ALÉM MARÃO (Amostra) enormes mãos sapudas, ficou à porta a assistir, sorrindo e trincando calmamente um palito." in "Montês" "Mataste a tua mãe de desgosto quando perdeste as terras, deixas a família passar fome, porque gastas tudo no jogo. Agora vais deixá-los sem teto? Valha-te Deus, lembra-te que a tua mulher está grávida e que tendes já um filho. Que queres fazer da vida, celerado?" António Pereira, taberneiro in "Tudo Em Jogo"

"Um lobo, com os pelos do dorso eriçados, enfrentava-o a poucos metros. Conseguia ainda divisar o brilho dos olhos de mais uns quantos. Percebeu que a sua hora chegara. Mesmo que conseguisse salvar-se contra um deles, não tinha qualquer hipótese contra a alcateia. Involuntariamente, vendo os restantes quatro predadores abandonando as sombras, uma prece saiu espontânea dos seus lábios trementes" in "Salvo"

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