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Crónicas sobre a vida

AS MINHAS CRÓNICAS

•UMA OUTRA FORMA•

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QUANDO SER MULHER NÃO OBRIGA A SER MÃE QUANDO SER MÃE NÃO FALA DE GRAVIDEZ

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Nasces mulher, nasces para ser mãe! Nasces para nove meses de gestação!

Absolutas considerações, papel imposto, cobrado e tantas vezes, olhado com estranheza, julgado impiedosamente diante do seu incumprimento.

A mulher esteve sujeita a este julgamento por séculos e ele ainda é presente, ainda há quem olhe com inferioridade a mulher que não obedece ao calendário da maternidade, com desconfiança a mulher que decide ser simplesmente mulher, sem cumprir os requisitos, sem colocar vistos nas perguntas recorrentes - “Já casaste?”, “Já tens filhos?”, “Não! Não, nem tenciono!”

Quase um escândalo diante da pequenez dos padrões impostos - sabe-se lá por

quem! O dito escândalo que Manuela Tavares assume em honra e verdade de quem é: SIMPLESMENTE MULHER!

Manuela Tavares é uma mulher de cinquenta e dois anos, que dentro do tal padrão limitador já se encontra fora do prazo da maternidade. Maternidade essa que ela decidiu não ser sua, desde muito nova. Pelo menos não nos padrões conhecidos e reconhecidos por alguns!

Manuela sempre identificou essa decisão em si. Não queria ser mãe. Não queria passar por uma gravidez. Nem pensar!

Era tão bem resolvido em si, como sendo parte integrante da sua natureza, algo seu! E na sua determinação, também ela inata conquistou o respeito da sua família e posteriormente, da sociedade em que se integrou. Ela decidiu e impôs os limites

da sua privacidade, do seu direito!

Aos quinze anos, ao ler “Vieram para sempre” - de Marjorie Margolies e Ruth Gruber, a maternidade surge como uma vontade maior de cumprir através de adoção um sentimento, que aí sim, dessa forma, com esse propósito, ganhava o estatuto de amor maternal.

A vida trouxe-lhe outros desafios, uma formação em Tradutora - Intérprete nas línguas de Francês, Inglês e Alemão, onde mais tarde agregou o italiano e o chinês.

Um currículo vasto de formações complementares, gestão de stocks, organização de eventos, Manuela fez-se uma aprendiza e a sua vida preenchese de conhecimento, descobertas e redescobertas.

Manuela Tavares reinventa-se a cada instante e nesse processo de vida, tão rico e inspirador, o tempo foi passando e adoção não aconteceu. Não, novamente, dentro dos padrões impostos.

Foi adotando gatos, cães. Associou-se a causas. Assumiu missões.

Aos trinta e cinco anos, um relógio biológico despertou. Ela reconheceu-o. Algo físico. Intrínseco ao seu género. Algo do seu corpo, sem ressonância na sua alma.

Alma essa que escolheu adotar gente.

Manuela agrega um longo caminho de desenvolvimento pessoal, autoconhecimento e estudos aprofundados nas terapias holísticas, desenvolvendo todo um projeto admirável

de doação, partilha e ajuda.

Manuela disponibiliza-se à humanidade, coloca-se ao serviço de algo maior!

E nessa escolha, cada vez mais consciente, Manuela faz-se mãe! Mãe dos seus animais retirados em amor da rua, de situações limites. Mãe dos seus cães com caraterísticas tão peculiares e necessidades tão majestosamente cumpridas. Mãe de todos aqueles que chegam, que ficam, que partem, de todos aqueles que ela tem a oportunidade de ajudar, despertar, levar pela mão.

Ser mãe é muito mais que uma barriga que cresce, de uma vida que faz nascer. Ser mãe é amor, tão Universal, tão basto e pleno, que abrange uma dimensão tão grande e tão fora dos padrões impostos. Tão magnânima e soberba que sai além do nosso conhecimento!

Manuela Tavares é só uma história de vida. Uma mulher entre tantas que decide não cumprir igualdades, que não coloca vistos nos requisitos da sociedade.

Manuela Tavares é uma mulher, tão mãe ou mais do que tantas outras! É a imagem que hoje, aqui assume o marco de mudança! Todo e qualquer papel que assumimos, não se define pelo o que os outros acham, pensam, determinam, acontece única e exclusivamente, dentro do coração que o vive!

E na plenitude da essência! E nesse essência, redefine mãe!

AS MINHAS CRÓNICAS

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Texto: Sónia Machado Araújo

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