Leitura e Gestão da Paisagem: o estudo do Guará-DF (caderno A3)

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LEITURA E GESTÃO DA PAISAGEM O ESTUDO DO GUARÁ





Este documento registra o processo, as impressões e os produtos de desenho de um ano de imersão na paisagem da região do Guará, Distrito Federal. Cumpre com os requisitos da disciplina de Trabalho Final de Graduação desenvolvido na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (FAU/UnB). Tem como título 'Leitura e Gestão da Paisagem: o estudo do Guará', de autoria de Manuella de Carvalho Coelho e orientação dupla das professoras Camila Gomes Santanna e Flaviana Barreto Lira. O objetivo geral consiste na análise e diagnóstico da paisagem do Guará afim de subsidiar projeto de planejamento urbano com foco nos espaços livres.



AGRADECIMENTOS Sete é meu número da sorte. Sete espaços de tempo inventados. Meu universo se abriu, se expandiu, se rompeu e remendou. E eu começo a contar do sete. *** Foram mais anos do que eu poderia imaginar, mas não faria nada diferente. Aprendi a não ficar calada, aprendi que o processo muitas vezes é mais valioso que o resultado, aprendi que todos temos a ensinar e que sempre há algo a aprender. Mas, sobretudo, aprendi a importância do autoconhecimento. Entender nossas fraquezas nos faz mais fortes para entender o que nos cerca, entender que errar é um dos passos do aprendizado nos empodera e traz paz. Agradeço aos que sorriram e choraram comigo, aos que passaram noites em claro e aos que sempre acharam que essas noites em claro eram falta de planejamento. Agradeço aos que estiveram ao meu lado mesmo com um oceano no meio do caminho, oceano esse que por vezes me afogou mas que me ensinou a nadar. Agradeço aos que nadaram e desbravaram o novo continente comigo, aos que aí já estavam e se juntaram à jornada. Já não sou a mesma e não mais serei! O universo me espera, de braços abertos! A comerte el mundo, Manuella! !



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PAISAGEM E PLANEJAMENTO 12 1.1 A paisagem

introdução CAPÍTULO 01 12

CAPÍTULO 02

FOUR TRACES SEGUNDO GIROT 14 2.1 O Pouso

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2.2 A Fundamentação

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2.3 A Descoberta

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2.4 A Síntese

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2.5 Estudos de caso 2.5.1 Marabastad, África do Sul 2.5.2 San Martín de La Vega, Espanha

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FOUR TRACES NO GUARÁ 22

3.2 A Fundamentação

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3.3 A Descoberta

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3.4 A Síntese

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3.1 O Pouso

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CAPÍTULO 03 24

REFERêNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



INTRODUÇÃO Pensando nos elementos que compõem uma sociedade, antes de leis e códigos morais para uma boa convivência, é necessário um espaço, um suporte físico que receba um assentamento e consequentemente as dinâmicas do homem. Assim, cada assentamento pode intervir e adaptar esse suporte da melhor maneira que lhe possa parecer. O convívio humano nesses assentamentos gera costumes e ideias variadas que se conectam ao tempo e espaço de existência do mesmo. Esse conjunto de ideias é o que se pode chamar de cultura. As diferenças culturais de grupos humanos em covivência distintos ocasionam diferenças nas adaptações no meio. A relação que o homem tem com a natureza é cultural e nem sempre foi de domínio como vemos hoje. Por exemplo, a dimensão ecológica pode ser a mais importante para um grupo que tenha crenças religiosas nos elementos da natureza. Enquanto que em outra situação árvores sejam devastadas para a colocação de abrigos, ou rios enterrados para a viabilização de estradas para máquinas que transportam pessoas. A cidade hoje é o modelo mais aceito de intervenção no meio natural afim de melhor qualidade de vida. No contexto atual de globalização e revolução tecnológica, a população mundial urbana representa mais da metade, ou seja, nós que vivemos na cidade representamos 54%1 de todas as pessoas do mundo. Isso não seria um problema tão assustador caso conseguíssemos viver em harmonia com o nosso suporte físico. Esse ‘viver em harmonia’ significa respeitar os processos ecológicos e naturais, além de entendê-los como importantes para a 1 Dado extraído de <www.unric.org/pt/actualidade/31537-relatorio-da-onu-mostra-populacao-mundial-cada-vez-mais-urbanizada-mais-de-metade-vive-em-zonas-urbanizadas-ao-que-se-podem-juntar-25-mil-milhoesem-2050>, acesso em 22/06/2015.

manutenção da vida na Terra, vida humana, animal, vegetal, de todos os seres.

ecológico enquanto ocupamos e usamos o solo de maneira que nos seja útil.

O que se vê é a certeza de que o homem, como ser pensante, pode e deve interferir na natureza como dominante. Essa visão pode ser facilmente percebida como errônea quando estamos periodicamente vivendo violentos desastres naturais causados por uma má ocupação do solo, que acaba por interferir nas dinâmicas naturais gerando consequências fatais.

O intuito é perceber como o estudo ambiental e da paisagem se faz importante dentro do planejamento urbano, além das necessidades já conhecidas de conservação do natural, para ordenar o território com objetivo de favorecer ao ser humano um assentamento mais sustentável, com bases mais respeitosas e conscientes em relação à preservação do meio ambiente.

Exemplo disso são os inúmeros deslizamentos de terra em diversas cidades brasileiras. O processo histórico de exclusão social no país produziu cidades em que grande parte de seus habitantes não tem oportunidade de acesso a uma moradia digna sendo, assim, obrigados a ocupar pés de morro e áreas de perigo ambiental, sem o conhecimento de que essa ação é prejudicial à natureza e perigosa a eles próprios.

Escolheu-se então, como objeto de estudo, o Guará, área urbanizada já consolidada com pouco mais de 125.000 habitantes2 no Distrito Federal. Há poucos anos o bairro passou por um boom de construção motivado por pressões do mercado imobiliário e construtoras que exigia aumento no potencial construtivo de algumas quadras buscando sempre mais lucro.

Com esse processo de urbanização que afeta a natureza, é cada vez mais urgente um olhar atento para o suporte que nos abriga e dá recursos básicos de sobrevivência. A consciência ambiental se faz presente na necessidade de preservação e melhor gestão da natureza e do meio em que vivemos. Sendo assim, esse trabalho busca olhar para o resultado dessa intervenção na natureza, a paisagem, a fim de entender as necessidades humanas frente aos processos naturais e propor ações de convivência entre eles. Pretende contribuir, também, para o entendimento da disciplina de Paisagismo além do desenho de jardins e escolha de espécies de vegetação, acrescentando a isso o Planejamento da Paisagem. Dentro dessa disciplina, entende-se a paisagem como um sistema entre potencial ecológico, exploração biológica e ação antrópica. Busca no ordenamento territorial ações que deixem os recursos naturais livres para seguir seu curso

Um Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) foi exigido, mas apenas foi realizado depois de alguns edifícios já estarem em andamento ou até mesmo prontos, não podendo, então, terem sido cumpridas na íntegra as medidas mitigadoras desses empreendimentos.

in Landscape Architecture, de Christoper Girot (1999), professor do Departamento de Arquitetura (DARCH) do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça (ETH) em Zurique. Girot propõe 4 fases de conhecimento e experimentação de um sítio com intuito de intervir para melhoria de sua paisagem. Ainda nesse capítulo são apresentados estudos de caso que trabalham essas 4 fases. O terceiro capítulo traz a fusão das fases de Girot com ferramentas que possibilitaram a operacionalização de cada uma dessas fases. A apresentação dessa fusão é feita explicitando os processos e produtos trabalhados no Guará. As ferramentas foram escolhidas dentro de atividades e aprendizados da autora ao longo de toda a carreira acadêmica, no Brasil e durante o intercâmbio de graduação na Espanha. Foi da experiência em disciplinas do curso de pós-graduação ‘Arquitectura del Paisaje’ na universidade espanhola CEU San Pablo que surgiu o interesse em um olhar mais atento à paisagem.

O processo de desenvolvimento de estudo e intervenção na paisagem do Guará ocorreu em duas etapas. Primeiro a construção de uma metodologia que guiasse a leitura e gestão dessa paisagem seguindo para a aplicação de tal metodologia e culminando em um projeto paisagístico. O texto está estruturado em três capítulos, o primeiro capítulo discorre sobre conceituações básicas acerca de paisagem e sua importância para um planejamento urbano mais sustentável. Explicitando, brevemente, diferentes entendimentos dessa em outras disciplinas e em outros períodos de tempo. O segundo capítulo expõe o texto cerne da metodologia tecida aqui, Four Trace Concepts 2 Pesquisa distrital por amostra de domicílios do Guará – PDAD 2014.

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CAP 01.

PAISAGEM E PLANEJAMENTO

1.1 PAISAGEM E PLANEJAMENTO No senso comum entende-se paisagem como aquilo que se vê com uma mirada, geralmente de um ponto alto que nos proporcione ver o skyline de uma cidade, por exemplo, ou até mesmo as montanhas ao fundo configurando a identidade daquele lugar. Essa definição não é errônea, porém limitada. Hoje, estuda-se a paisagem como o resultado da intervenção do homem na natureza, é o acúmulo de dinâmicas na convivência entre o natural e o construído.

grupo específico. A região circunda os limites desse território. Quando um espaço é dotado de significado, como espaço de cozinhar, espaço de celebrações religiosas ou espaço de dormir ele passa a ser um lugar. A maneira como o homem intervém na natureza se dá de maneiras diferentes em razão do tempo e do espaço produzindo espaços livres de constituições diferentes. Além das razões espaciais de clima que fazem florescer vegetação, fauna e fenômenos naturais distintos em todo o globo, o próprio entendimento dessa natureza estimula ações mais ou menos drásticas de atuação.

A partir de necessidades biológicas e sociais, o homem intervém no espaço a fim de ordená-lo criando situações e elementos que possibilitem primeiro, a existência e depois a melhoria da qualidade de vida. Um exemplo de necessidade biológica é a alimentação, onde o meio social decide então criar espaços específicos para o cultivo de plantas e criação de animais, podendo ser uma produção de subsistência ou para fins comerciais. Outro exemplo é a necessidade de abrigo, que hoje, constrói meios urbanizados com superfícies pouco permeáveis gerando consequências para o ciclo da água.

O descobrimento da natureza pelo homem em um primeiro momento gerou temor frente à sua grandeza, era considerada superior e sobrenatural. As adaptações vieram com a aceitação de que os condicionantes da natureza eram meio para existência, depois passaram a transformá-la. Os avanços do homem causaram tantas alterações que alguns locais não podem mais ser recuperados2. Assim, a paisagem é a materialização dos pensamentos filosóficos e estéticos da sociedade que a produz, reflete a observação do homem em relação ao meio.

A partir dessas demandas a arquitetura do homem produz formas que podem ser entendidas como elementos-meio e elementos-fim1. Os elementos-meio são os cheios, os abrigos, o que apresenta volumetria. Os elementos-fim são os espaços livres, as ruas, praças e parques. O estudo da paisagem se atém com mais veemência a estes, os elementos-fim, espaços livres.

A paisagem do período medieval é facilmente reconhecida pelas altas muralhas erguidas para dar proteção, os jardins fechados ao interior refletiam o temor em relação à natureza. Com o Renascimento e o homem no centro do mundo, a percepção espacial muda o foco para a percepção e a técnica da perspectiva traz enquadramentos dos espaços livres por edifícios. A água já ganha nesse período um caráter ornamental em jardins.

Existem algumas conceituações que diferenciam tipos de espaços livres. O espaço é aquilo que tem como referência as medidas humanas, reconhecemos na mesma escala e o adaptamos a necessidades. Quando se estabelece limites físicos para um espaço determinado surge um território, com a ideia de pertencimento a algum

Os jardins barrocos são conhecidos por sua artificialidade devido ao entendimento do homem como ser dominante. O mais poderoso dos homens, o rei, ganhava jardins de muita exuberância e suntuosidade. Os jardins franceses são exemplares barrocos muito conhecidos.

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2

HOLANDA, 2013.

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EMÍDIO, 2006.

O neoclássico recupera a supremacia da técnica e preza por espaços com um eixo central com bastante clareza e proporção. Contrapondo-se a isso, o romântico entende a beleza da natureza selvagem e condena o barroco artificial, prima pelas emoções e pelo mais natural da paisagem. No século XIX a importância do verde permeando as áreas urbanizadas era um movimento contrário aos subúrbios ingleses dos trabalhadores fabris. A cidade-jardim surge como um modelo ideal de cidade, onde o urbano e o natural pareciam em convivência perfeita. A intervenção de Hausmman no plano de Paris com ideias de melhoramento na cidade é importante exemplo do pensamento da época. As consequências da Revolução Industrial fizeram surgir no século XX estudos alinhados à paisagem que abordavam diversos aspectos, como a percepção com David Lynch e Edward Cullen e a concepção ecológica com Ian McHarg. Mesmo assim, os espaços livres recebem o entendimento de elemento de embelezamento das cidades, isso devido ao aumento da urbanização e os problemas enfrentados na contemporaneidade, que relegam o espaço público a um caráter secundário. Assim, a relação homem-natureza pode ser estudada como um termômetro do equilíbrio de sua qualidade, ou seja, verificar em que medida os dois lados se beneficiam com a interação é indicar a qualidade ambiental para a o homem e para a manutenção das dinâmicas naturais.


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CAP 02.

FOUR TRACES SEGUNDO GIROT Christophe Girot, professor do Departamento de Arquitetura (DARCH) do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça (ETH) em Zurique, propõe em sua publicação ‘Four Trace Concepts in Landscape Architecture’, de 1999, 4 passos para o entendimento e estudo de uma determinada paisagem. Entende-se a paisagem aqui como composta por elementos visíveis e invisíveis, quer dizer, extrapola o limite do ecológico e do meio ambiente, se relaciona com a história e as dinâmicas de construção dessa história. Buscando entender como se reconhece a identidade de um lugar pelo estudo de sua paisagem, o autor nos indica a necessidade de incluir aspectos de experiência e imaginação no processo de leitura. Na tentativa de não mais entender o natural distante do cultural, é proposta uma sequência de 4 passos para guiar a aproximação, investigação e proposição de intervenção em um sítio: o Pouso (landing), a Fundamentação (grounding), a Descoberta (finding) e a Síntese (founding).

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2.1 O POUSO

2.3 A DESCOBERTA

E MAIS ...

Antes que se possa ter um entendimento do que é um determinado lugar, suas dinâmicas e origens, nossos sentidos experimentam o ambiente e nos transmitem sensações. Esse é o verdadeiro primeiro contato com um sítio. O Pouso (Landing) nos remete ao primeiro olhar, àquele instante que só acontece uma vez, é mescla entre pré-conceitos e impressões iniciais, sentir antes de pensar. Além de sentir no momento em que ocorre, o percebido com o Pouso deve ser sempre lembrado e nutrido durante todo o processo de aproximação e intervenção na paisagem.

Após sensações, experimentações e estudos, já é possível identificar a essência do sítio, o que faz ser o que é e porque é único em sua construção no tempo.

QUEIROGA e BENFATTI (2007), em sua construção de referencial teórico de sistema de espaços livres, corroboram com o entendimento da paisagem por etapas. Assim, na fase do Pouso, mostram a necessidade de experiência do espaço antes de pré-conceitos e pré-juízos. É o momento da intuição frente à dedução.

O Pouso nos pede para caminhar pela área apenas sentindo nossas sensações, dando o primeiro olhar. É a experimentação, o olhar desavisado.

2.2 A FUNDAMENTAÇÃO A busca por informações e análises físicas do meio é inevitável, assim, passamos a pesquisar e analisar planos a fim de dar Fundamentação (Grounding) ao nosso estudo. Esse processo tem menos a ver com a percepção e imaginação individual e mais com uma cuidadosa pesquisa, repetidas visitas e observação. Trata-se de uma compilação de dados a respeito dos aspectos que compõem a paisagem. Várias são as camadas de análise, podendo ser visíveis ou invisíveis, quer dizer, o elemento mais importante para o entendimento de determinado sítio pode ser um fato histórico, por exemplo. Girot nos revela aqui a importância de se ver essa paisagem como mais do que o olho vê, pode ser lida como o produto de processos antrópicos no tempo e, mais do que isso, como lugar que emana áurea.

O que se propõe a encontrar nessa etapa é a identidade desse objeto de estudo, o que nos apresenta como a alma e a aura do sítio. Esse tal ‘je ne sais quoi’ pode ser encontrado, segundo Girot, por meio de experiências, um click que surge inesperadamente ou mesmo com o uso de métodos que nos forneçam os resultados. Estamos aqui na Descoberta (Finding).

2.4 A SÍNTESE A intervenção se apoia na investigação feita nas três fases anteriores para propor a construção de uma nova qualidade para o espaço. Seja pela inovação ou pela conservação, a solução sempre vai trazer à tona especificidades que já existem no local. Mesmo com a inserção de novos elementos a identidade deve ser preservada. A Síntese (Founding) é o momento mais significativo da investigação e pode ser feita esperando resultados efêmeros ou a longo prazo. Cabe ressaltar que qualquer intervenção paisagística contribui para a construção e transformação dessa mesma paisagem, já que ela é produto e processo da atividade humana no espaço. Girot valoriza a experiência e a intuição no seu desenvolvimento de análise da paisagem sem rechaçar a importância da ciência. É a conexão e sobreposição dos estudos a partir desses dois olhares que tem a capacidade de nos fornecer uma visão mais completa do sítio.

Um segundo momento exige estudar a paisagem como objeto e processo vendo-a dentro de um sistema sócio espacial. Seguindo essa ampliação do olhar vem a terceira etapa onde se faz necessário reconhecer o sistema de ações que compõem essa paisagem e a sua fisionomia, desde as características ecológicas às estéticas. Por último a síntese desses estudos e o entendimento de como diversos grupos sociais se apropriam daquele lugar é vista, já que a paisagem é também diferente para um que a enxerga.


2.5 ESTUDOS DE CASO Os estudos de caso aqui apresentados utilizam o processo quadrifásico de Girot adaptando a suas condições de trabalho e produzindo os mais diversos materiais. A experiência da autora em seu intercâmbio acadêmico originou o interesse primário em trabalhar com planejamento da paisagem. O segundo estudo de caso apresentado é relato de projeto executado na universidade CEU San Pablo em 2013.

2.5.1 MARABASTAD, ÀFRICA DO SUL O trabalho intitulado ‘Landscape of Meaning and Memory in Marabastad’ da autora Gina Christie foi desenvolvido no âmbito de obtenção do título Mastes in Landscape Architecture na Universidade de Pretoria, África do Sul. O objetivo central da autora é entender o poder que uma intervenção paisagística tem de revigorar o sentido de identidade de uma comunidade segregada e marginalizada. À época do regime Apartheid em todo o país muitos foram removidos de suas casas e obrigados a segregarem-se em comunidades racistas longe de seu lugar de origem. Hoje muitas dessas pessoas já tiveram a oportunidade do retorno a seus assentamentos. É dentro desse contexto que está inserida Marabastad, Pretoria. Com a vinda de pessoas de vários bairros anteriores e com novos moradores devido ao incremento habitacional na área, o senso de comunidade ainda está frágil e compondo-se. O desafio está no reconhecimento da identidade de uma comunidade onde as pessoas não se conhecem e não conhecem a história do lugar. O projeto segue com o objetivo de fazer aflorar as características que dão a cara de Marabastad e contribuir para o acúmulo de novas.

A autora acredita que justamente a falta de identidade pode ser a causadora de diversos problemas sociais que enfrenta a zona, como drogas e violência. Assim, o projeto visa a melhoria da qualidade de vida dos moradores e visitantes. Os questionamentos do trabalho cercavam o tema da memória atrelada à paisagem de um lugar: •Como uma comunidade desenvolve senso de identidade e como ela pode estar atrelada à paisagem? •Como o design da paisagem pode recuperar memórias e sobrepor novas camadas a ela? A partir de visitas, entrevistas e pesquisas, o trabalho busca propor um projeto de área livre que também intervisse de conexão ao centro de Pretoria. O arcabouço teórico para desenho tem bases no texto de Girot, sobre os quatro passos descritos no capítulo anterior: Pouso, Fundamentação, Descoberta e Proposta. Gina considera apenas sua primeira visita como correspondente ao Pouso, mesmo que em todas as fases tenha sido produzido, podemos considerar que o produto de seu primeiro olhar ao local tenha sido uma colagem feita sobre uma fotografia. Aqui é grande o exemplo da influência da experiência no reconhecimento da cidade. Girot nos diz que é no primeiro contato que surge a intuição da essência do sítio que percorre conosco até a fase de proposição. Um assalto sofrido na primeira visita fez Christie perceber os problemas sociais que afligiam Marabastad, o que foi reforçado durante todo o trabalho como um grande problema a ser resolvido com a projetação. Pela falta de dados, esses problemas sociais

não podem ser medidos pelos leitores, apenas pode ser sentido pelas palavras do texto, logo, não fica claro se é algo a ser enfrentado com tanta força ou apenas consequência do ocorrido. Christie deixa ainda um alerta sobre a necessidade de se ter um guia local como acompanhante nas primeiras visitas. Além da segurança, é uma fonte importante de informações da comunidade. Usando da literatura acerca da cidade, a etapa de Fundamentação é composta pelo estudo da história de Marabastad, das dinâmicas culturais que reafirmavam sua identidade e dos espaços mais representativos. Marabastad era conhecida na região por suas casas de fabricação ilegal de cerveja. Reduto do estilo musical marabi, que mesclava caraterísticas da música negra e da música ‘colorida’ , eram

espaços de afirmação dos negros e de fonte de renda para as mulheres negras que comumente não conseguiam trabalho. A religião era diversificada e os praticantes viviam de maneira respeitosa. Mesquitas e templos, assim como grandes teatros, são edifícios importantes que marcam a paisagem e ainda hoje persistem como elementos identitários. Com a segregação e abandono administrativo em bairro racial, a cidade perdeu muitos edifícios pela falta de manutenção. Segundo a autora as ruas ganharam aspecto de favela. O interessante é observar que os exemplares arquitetônicos que permaneceram tiveram a preservação garantida justamente pelo abandono da área que, assim, sofreu poucas alterações de forças externas.

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Mapa com edifícios históricos que hoje fazem parte da identidade do local. Fonte: CHRISTIE, 2009.

O desenho ortogonal entre a Boom Street e a Bloed Street, as principais da cidade, permaneceu inalterado, fato que confere a essa zona importante símbolo da comunidade. A zona é permeada de comércios de abrangência regional contribuindo, além das curtas distâncias, para que os caminhos sejam amigáveis aos pedestres. Um importante nó de transporte da cidade é a estação de trem Belle Ombre, situado por detrás de uma dessas ruas. Com a proposta de criação de uma avenida para BRT, a zona terá seu fluxo aumentado, tanto de pedestres, carros e ônibus. Depois de todo esse estudo da área a autora percebeu que os problemas sociais de Marabastad não podem ser solucionados apenas com uma intervenção paisagística. Assim, seus esforços vão no sentido de trazer nova vida que gere novas experiências e memórias fazendo com aquela comunidade se veja de maneira positiva. A administração atual tem iniciativas de melhorias urbanas para Marabastad. Dentre elas, o reconhecimento da Boom Street como importante eixo histórico, abre o olhar para importantes intervenções em seus limites. A construção do Jazz Park em área verde entre a própria Boom Street e a Bloed Street convida a um novo espaço aberto dotado de equipamentos que favorecem a ocorrência tanto de eventos pessoais como de apropriação cotidiana.

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Entre a Fundamentanção e a Descoberta, Gina segue com a fundamentação teórica. Embora esteja estruturado de maneira que apareça fora dos quatro passos de Girot, a discussão desse capítulo aporta toda a intervenção. De Henri Lefebvre’s tem-se a noção dos três tipos de paisagem associada à memória: algo que se perdeu, algo que prevalece e algo que sofreu alteração; além das três dimensões do espaço: física, social e simbólica. Com o baixo número de atividade habitacional e o alto número de comércios na área, é por meio do espaço público, do uso de todos, que vem a ideia de agregação e convivência que propõe Christie.

Os três elementos que integram memória e paisagem em Marabastad. Fonte: CHRISTIE, 2009.

A partir da pesquisa teórica, o projeto quer dar vazão ao surgimento de uma nova identidade com a construção de um espaço público, local de interação social e expressão da paisagem, que receba eventos. Os eventos aqui são de caráter, cotidiano, local ou regional, desde um bom dia pela manhã até um festival de música nacional que receba pessoas de outras cidades. Acredita-se que os eventos são ferramenta de interação e capazes de estabelecer uma rede social que crie laços

afetivos e vínculos dos mais variados tipos que sejam capazes de fazer surgir novas memórias e uma nova identidade para Marabastad. O recorte do terreno a ser estudado foi estabelecido a partir de visitas. Incluíram-se edifícios de importância histórica, como igrejas e teatros. Com os limites definidos, seguem-se análises: climática, de solo, ventos, posse de terra e pontos de interesse que podem influenciar no desenho final. Assim, chega-se à definição dos atributos do espaço público existente hoje em Marabastad. Um esquema com fotos e palavras pontuais foi feito para expressar essas características. Estudos de caso foram tomados como boas práticas de atividades, ações e construções que propusessem intervenções onde a memória fosse resgatada por intermédio de novas configurações da paisagem.

Esquema com os atributos do espaço público de Marabastad. Fonte: CHRISTIE, 2009.

Muitas cidades, com histórico semelhante de remoção em meio ao regime Apartheid como Marabastad, promoveram iniciativas em que a antiga comunidade do local pudesse reviver sua moradia e com isso transmitir informações e o legado de quem ali viveu. Além de registro de um passado que poderia ter sido perdido, esses encontros serviam como chances para


que novas camadas de memória fossem construtoras de uma nova realidade sem deixar de lado a história vivida. Essa memória pode ser expressa fisicamente por meio de uma escultura, um museu ou um prédio público. No caso de um espaço público é essencial dotá-lo de atividades que envolvam os usuários e ultrapassem a contemplação. A etapa da Descoberta é descrita no trabalho como ‘the process of discovery and decision making’, quer dizer, além da descortinar o olhar para a verdadeira paisagem, as decisões projetuais são tomadas e as diretrizes traçadas. Usando dos três aspectos da memória abordados na discussão teórica, a autora reconhece os elementos de cada um deles e indica caminhos a serem trilhados quando de sua intervenção. Portanto, é importante recuperar e recontar a história do que foi perdido; respeitar e

comemorar o que permaneceu e deixar claro as mudanças que ocorreram. Aqui, o terreno a sofrer interferência é escolhido pela proximidade física de três elementos que representam as características citadas no parágrafo anterior. O local de explosão de uma bomba em 1994 que matou três pessoas representa algo que se perdeu; o edifício do Templo Miriammen é algo que se manteve enquanto a Bloed Street é o elemento que sofreu alteração, foi feita uma curva em seu desenho. A partir de croquis, chegou-se a diretrizes que fariam do antigo trajeto da Bloed Street um boulevard de uso pedonal; manteriam o desenho do Jazz Park, que no momento estava sendo implementado pelo governo local; fariam da 5th Street um importante eixo de circulação de pedestres e proporiam uso misto para os

lotes lindeiros desocupados. Para a construção do espaço simbólico, além do uso da Bloed Street em seu desenho perdido, propõe-se plantar três árvores de floração exuberante que representariam as três pessoas mortas no ataque explosivo. O espaço físico foi enriquecido com vegetação, iluminação com design moderno, pavimentação acessível com desenho em malha ortogonal relembrando a malha inalterada da cidade, com a qual muitos se identificam. Diversas zonas de diferentes tipos de convivência foram indicadas, zonas que propiciem a interação social em frente ao café, a reflexão com poemas de artistas locais gravadas no chão, o lúdico com a iluminação e etc.

projeto. Foi também lançada a ideia de que o os participantes do centro de artes da cidade, que tem sua fachada para o local, pudessem se envolver a partir da colocação de tecidos fabricados por eles mesmo como uma forma de proteção solar. Seriam fixados nos postes já propostos. A etapa de Síntese é vista como compilação de desenhos técnicos ou ilustrações que tenham mais poder de transmitir o que é aquele projeto e quais são as técnicas e matérias de construção. São feitos cortes, perspectivas, especificação de vegetação e detalhamentos de como se concretizar todas as ideias propostas.

Para uma nova vivência do espaço social, foi feito um grande evento que integrou músicos e artistas da cidade na zona de proposição do

A área antes e depois da proposta. Fonte: CHRISTIE, 2009. Masterplan final da proposta em Marabastad. Fonte: CHRISTIE, 2009.

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2.5.2 SAN MARTIN DE LA VEGA, MADRI ESPANHA A experiência que fortificou o interesse da autora pela temática da paisagem foi a participação na disciplina ‘Taller de Proyecto de Paisaje 2’ do curso Titulo Proprio en Arquitectura del Paisaje na Universidade CEU San Pablo em Madri, Espanha, durante o ano letivo 2013-2014. Como o curso estava prestes a ser extinto, a última disciplina de projeto do currículo não apresentava corpo discente muito representativo, apenas uma aluna nativa e quatro estudantes brasileiros. Nosso objeto de estudo e intervenção era o pequeno núcleo urbano de San Martín de La Vega, com cerca de 20.000 habitantes, pertencente à Comunidade de Madri e a pouco menos de 40 km do centro da capital. Está ladeada a leste por um conjunto de montes acompanhado do Rio Jarama. Com um dos vales mais férteis da região, tem mais de 80% de sua área administrativa dentro do Parque Regional del Sureste.

Com a chegada do Parque Warner de diversões em 2002 entendeu-se como oportuna a construção de uma estação de trem que proporcionasse acesso tanto ao parque quanto ao povoado. Desde 2012, com a crise econômica, esse tramo da linha foi fechado por falta de demanda. Mais uma vez o processo foi induzido tendo vista a referência de Girot e os quatro passos de estudo e proposição paisagística. O objetivo principal do ateliê era a revalorização da paisagem da cidade a partir de sua reconexão com o corpo hídrico, historicamente importante para as atividades econômicas e de ócio da população. Também se constava relevante a leitura do potencial turístico de sua natureza devido à chegada do Parque Warner de diversões, o qual trouxe mais um atrativo para a zona e oportunidades de emprego. Com uma aproximação mais intuitiva e experimental no espaço, partimos para um contato primário mais bruto de percepção da área de intervenção. O Pouso se deu caminhando do centro urbano a beira do córrego, mantendo o foco no experimentar e passeando por onde éramos convidados pelo ambiente. Nesse ponto, nenhum material específico foi produzido, apenas fotografias.

Tal mapa foi confeccionado a partir da sobreposição de folhas em papel transparente de todas as temáticas estudadas, quer dizer, cada dimensão de estudo é uma camada que, quando posicionada por cima das outras nos deixa perceber as zonas mais fragilizadas ou de maior potencial de preservação, por exemplo. Nele constam as informações mais importantes no que diz respeito ao sítio, é a identidade paisagística de San Martin. Descobrir como esse espaço se apresenta a nós. A partir do mapa estrutural, a Síntese se desenvolveu na proposição de uma estratégia de gestão da paisagem e de uma estratégia de crescimento urbano. Em escala regional, uma estratégia de paisagem, com áreas e elementos classificados dentro de uma escala de valor: preservar, restaurar e gerir. Depois de componentes físicos, marcamos pontos com visuais interessantes como de potencial para manutenção. As zonas de proteção são as já definidas pelo plano ambiental do parque no qual o município está inserido, de maior fragilidade e perda frente à ação humana e não devem ser ocupadas. Dentre os elementos que

necessitavam restauração, para alguns foi proposta a reabilitação com fim de uso e para outros a preservação. A ‘acequia’ presente no município atravessa o núcleo urbano e em alguns pontos é possível ter contato direto com a água. Propomos sua restauração e reabilitação. A Real Acequia del Jarama foi construída em cinco séculos e tem pouco mais de 70 km de extensão. Era um canal de irrigação para os povoados que o circundam, hoje possui mais valor histórico e paisagístico. Além do canal, parte do curso do rio Jarama, o mais próximo do centro antigo, foi destinado para restauração e reabilitação. Os tramos restantes do rio e os demais corpos hídricos, hoje soterrados, foram encaminhados para um processo de restauração e posterior preservação. Complementando os aspectos de caráter físico, observou-se lugares entratégicos de interesse ecológico e/ou paisagístico de onde se podiam ter vistas privilegiadas de todo o município, eram os chamados ‘Outstanding Points’, pontos de elevado potencial visual.

Com olhar sempre atento a composição visual entre massas vegetais, água, relevo e edificações tanto próximas à orla quanto as inseridas na própria cidade. Foi assim que logo percebemos a torre da igreja ao longe compondo um belo enquadramento com a grande plantação de milho próxima a nós. A Fundamentação se deu em todo o processo, estudando planos diretores, cartilhas de vegetação da comunidade, livretos com a história local, etc. Buscaram-se informações de: elementos topográficos, geológicos, hidrológicos, de fauna, de vegetação e cultivo. Além disso: dados socioeconômicos, de transporte, fatores turísticos e de patrimônio cultural para análise da paisagem.

Localização de San Martin de la Vega. Fonte: Autoria própria.

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Iniciando a fase de Descoberta, sem deixar de fazer repetidas visitas ao local, buscou-se criar um Mapa de Estrutura da Paisagem.

Mapa da estrutura da paisagem. Fonte: Autoria dos alunos da referida disciplina.

Mapa da estratégia de paisagem. Fonte: Autoria dos alunos da referida disciplina.


Ainda com um olhar macro, deveríamos propor uma estratégia de crescimento para a cidade, que reconsiderasse as zonas urbanizáveis já definidas traçando alternativas mais sustentáveis a essas áreas. Além disso, se sentia a necessidade de potencializar a conexão da cidade com o parque de diversões, pois era clara a importância desse na dinâmica econômica de muitas famílias da cidade. Assim, os esforços foram no sentido de buscar áreas que não estivessem sob proteção ambiental, com bom acesso ao sistema de mobilidade já existente, que apresentassem relevo mais plano, mas que, principalmente, não ocupassem zonas de solos férteis e não bloqueassem as visuais que já havíamos classificado como interessantes. As estratégias, visitas e estudos, até agora, foram feitos em conjunto por todos os alunos da disciplina. Um segundo momento compila essas informações e segue no sentido da proposição individual de zonas de lazer. A partir da definição dos ‘Outstanding points’, partiu-se para a divisão em zonas do objeto de estudo para que cada aluno pudesse trabalhar a paisagem em escala mais aproximada e em trechos diferentes. Reconectando o corpo hídrico ao casco antigo, estabeleceu-se a intervenção projetual em cinco áreas distintas e com objetivos distintos que fizessem a transição e conexão do urbano com o natural de maneira gradativa. O primeiro eixo (aluna Julia Luna) o qual deveríamos aumentar o valor paisagístico era o boulevard criado logo acima da acequia. O desafio aqui era o forte caráter urbano, tendo que trabalhar mais com materiais e texturas do que propriamente desenho urbano.

variedade e quantidade de atividades (aluna Manuella Carvalho), e assim foi. A primeira faixa que dá acesso à área de projeto desde a cidade apresenta caráter de transição entre o urbano e o rural, assim, encontra-se aí uma faixa de parque linear com a presença de hortas comunitárias.

Masterplan de zona de fitodepuração da água. Fonte: Autoria de Camila Maia. Imagem de travessia rebaixada no rio. Fonte: Autoria de Julia Luna.

de hortas comunitárias a alguns trechos do boulevard e a aproximação do usuário com o elemento água propondo travessias baixas para a acequia. Outra zona (aluna Ana Pan) apresentava a dificuldade de integração e transição de uma zona mais urbana para uma mais rural, de cultivo. A proposição nesse sentido foi estabelecer ciclovias e decks de passeio que desenhassem um borde mais suave para receber essa transição. A inspiração veio do design do High Line Park em Nova York. Na área mais próxima ao rio (aluna Camila Maia), se fazia necessária uma intervenção de caráter mais ecológico pensando na recuperação da água para o uso de banho. Isso porque ali o córrego era usado como ponto de desague de esgoto. Assim, foi proposta uma técnica de

restauração que faz uso de piscinas depuradoras com a presença de espécies vegetais que purificam a água. Para isso, o tratamento da água ocorreria antes da piscina de banho. Além do Rio, outro corpo hídrico (aluno Eigi Okada) apresentava bastante importância, era a lagoa no Parque Tierno Galván. Com a ideia inicial de conexão dessas águas devido a presença de um braço de rio enterrado, estruturou-se a zona com ênfase nessa linha. O novo boulevard passou a complementar a rede cicloviária sendo importante zona de lazer para os moradores e para os visitantes. Mais uma vez usou-se de travessias baixas tentando resgatar o contato com a água. A ligação mais próxima da zona urbana com o rio era a que deveria fornecer a maior

Fotomontagem de proposta de arborismo. Fonte: Autoria de Manuella Carvalho

Com a conclusão da disciplina, percebeu-se a importância do olhar macro e micro para a área de interesse paisagístico. Buscou-se iluminar a importância da experiência pessoal na apreensão dos espaços, além de tentar sempre preservar as características já existentes, ou seja, primou-se pela intervenção que não fosse drástica, resultando em projetos simples, baratos e que valorizassem o natural. A metodologia buscou em primeiro lugar a sensação, depois os estudos e a síntese desses estudos, seguidos da caracterização da paisagem da cidade para, por último, ter a segurança de intervir sem muitos danos.

Viu-se então a oportunidade de aumentar a malha cicloviária nesse eixo devido ao forte caráter integrador dessa avenida ao traçado de San Martín. Além disso, o projeto caminhou no sentido de fortalecer o espaço público com o desenho de novos mobiliários urbanos. Outras grandes contribuições foram: a sugestão

Aproximando-se mais do rio, tem-se a área principal de confraternização e encontro da nova orla com pavimentação dura e café. Além dessas, outras áreas de convivência foram projetadas: área de picnic com arborização frutífera, zona com pouca sombra para dias de inverno, equipamentos para a prática de arborismo e parque das esculturas ao ar livre, com inspiração no Inhotim em Minas Gerais.

Deck de passeio na orla do rio. Fonte: Autoria de Ana Pan.

Masterplan de zona próxima a lagoa do Parque Tierno Galván. Fonte: Autoria de Eigi Okada

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FOUR TRACE segundo GIROT careful research and analysis PESQUISA DE DADOS, PLANOS, CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E DEMAIS INFORMAÇÕES repetidas visitas e estudo fator tempo, conhecer a história

FEEL BEFORE THINK EXPERIMENTAR O ESPAÇO MESCLA ENTRE PRIMEIRAS IMPRESSÕES E PRÉ-CONCEITOS CAMINHAR EM VELOCIDADES DIFERENTES

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COMPILAÇÃO DE ANÁLISES E PESQUISAS RESULTA EM INTERVENÇÃO CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA QUALIDADE PARA O ESPAÇO CARÁTER EFÊMERO OU DURADOURO, DE RENOVAÇÃO OU DE CONSERVAÇÃO

contributes durably to its identity ENCONTRAR A ESSENCIA DO SÍTIO, A CARACTERÍSTICA MARCANTE QUE NOS REVELA SUA IDENTIDADE Can result from either a surprise discovery or some methodical quest

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21


FOUR TRACES NO GUARÁ CAP 03.

A partir do estudo e experimentação em intercâmbio acadêmico, já citada em capítulo anterior, das ideias de Girot, as quatro fases tratam o processo de maneira teórica, sem aprofundar em métodos para cumprimento de cada uma das etapas. Buscou-se então, nesse trabalho, avançar em Girot no sentido de incrementá-lo, quer dizer, a cada uma das quatro fases foram inseridos novos aportes teóricos que operacionalizaram o trabalho de investigação e proposição paisagística para o sítio. As ferramentas auxiliares serão apresentadas ao mesmo tempo em que estão aplicadas para a cidade de estudo escolhida, o Guará, Região Administrativa do Distrito Federal.

POR QUE GUARÁ? Além de razões de experiências afetivas com o bairro, o forte crescimento vertical ocorrido nos últimos anos e suas consequências para o funcionamento e vida de seus moradores também contribuem para a escolha da área de estudo. O cotidiano aqui é sempre tranquilo, morando e trabalhando nesse bairro, posso passar semanas sem ir ao Plano Piloto. A oferta de serviços e comércios é bastante variada além de ter acesso razoavelmente bom a outras satélites e ao centro de Brasília. Sua qualidade ambiental e potencial paisagístico vêm da existência de áreas de conservação protegendo o Córrego do Guará, parques de uso múltiplo, áreas verdes ainda a serem melhor geridas e intensa presença das pessoas nas ruas.

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Primeira tentativa de esboço para a metodologia criada e explorada nesse trabalho. Fonte: Autoria própria.


O GUARÁ RA X Está a 15 km do centro de Brasília e possui hoje 125.000 habitantes. É considerado por muitos, de certa maneira erroneamente, uma cidade dormitório. Como muitas das regiões administrativas do Distrito Federal, o Guará surgiu para atender a demanda de habitação por parte dos construtores e primeiros moradores da capital. O começo da cidade foi construído por meio de mutirão com projeto e material fornecidos pela Novacap. Começando pela QE 5 (Quadra Externa número 5) teve sua primeira ampliação para as quadras QI 1 (Quadra Interna número 1) e QI 3. Mais casas passavam a ser financiadas pelo BNH (Banco Nacional de Habitação) e pela SHIS (Sociedade de Habitações de Interesse Social) crescendo o núcleo inicial e extrapolando para o outro lado da avenida contorno, originando o Guará 2. As primeiras quadras da nova zona foram construídas para receber servidores públicos vindos do Rio de Janeiro. A quadra Qe 13 para funcionários do Senado, a QE 24 para o Ministério de Minas e Energia e a QE 17 para os Correios. Na década de 1980 urbaniza-se a QE 38 especialmente para abrigar famílias vindas de áreas consideradas invasões, e nasce a Quadra Lúcio Costa. As QEs 42, 44 e 46 vieram na década de 1990. Um forte adensamento chegou ao bairro por meados de 2006 com a possibilidade de construção de edifícios de maior porte. Muita polêmica estava envolvida, pois era clara a pressão por parte do mercado imobiliário para alteração do Plano Diretor Local. A possibilidade veio com a não definição de gabarito máximo e manutenção do potencial de construção de 3,8 vezes o tamanho do lote.

Além disso, as esquinas de ruas podem também aumentar seu gabarito e mudar seu uso para comercial; e o SOF Sul (Setor de Oficinas Sul) tem agora uso misto entre comércio e residência, mais conhecido com Park Sul. Indo contra o pensamento contemporâneo de uma cidade cada vez mais segura para os pedestres e menos vantajosa para automóveis particulares, os condomínios construídos com suporte nessa alteração do PDL investem em comunidades isoladas do entorno imediato ao utilizar muros com justificativa de proteção.

n11

Mapa de localização do Guará em relação aos limites do Distrito Federal. Fonte: Autoria Própria com base no Plano Diretor Local (PDL, 2006).

Além de existir uma falsa sensação de segurança, pois o sistema de controle de portarias muitas vezes é falho, tais cercamentos não promovem uma vida com maior urbanidade na cidade. O próprio PDL previa a aplicação de um Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) mas que acabou não sendo feito antes das construções, apenas quando muito edifícios já estavam sendo erguidos ou quase prontos. Houve audiência pública, da qual participei, para apresentação do estudo e das medidas mitigadoras, visto que o incremento populacional seria por volta de 20%. Seis anos se passaram e não se vê resultados nessas medidas, ou se elas foram realmente aplicadas. O trânsito é o principal problema, principalmente em horários de pico. Além disso, a camada de superfície coberta por material com pouca ou quase nenhuma permeabilidade cresceu muito. No que tange à paisagem, a escala da cidade foi alterada, morfologicamente pela alteração volumétrica com “prédios que hoje bloqueiam o pôr-do-sol dos moradores do Guará II” 1 e ambientalmente pelos impactos causados ao meio. Altera-se assim, a componente visual da paisagem e a percepção dos observadores.

1

População cresce demais e perde qualidade de vida, <http://www.jornaldoguara.com/noticia. php?i=623> , acesso em 08/05/2015.

n11 Mapa do Guará e bairros adjacentes. Fonte: Plano Diretor Local (2006).

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O PO USO 24


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processo e produtos Atuando desde a escala regional à escala do detalhe arquitetônico, buscou-se nessa fase um olhar distante do técnico e que visasse as sensações e percepções primárias. Pratiquei um olhar atento mais como moradora do que como urbanista. Seguindo uma tentativa de operacionalização das quatro fases de Girot com o auxílio de alguns instrumentos e teorias, foi realizado o Pouso em seis etapas de exercícios e reflexões. Resgataramse importantes teóricos e outras experiências da autora como alicerces para produção de material que representasse um primeiro olhar ao sítio, sem aporte teórico e técnico. Francesco Careri em sua obra Walkscapes, El andar como práctica estética (2009) nos traz o caminhar como ferramenta artística, o mesmo caminhar que interage com a paisagem e apreende a arquitetura do vazio antes da arquitetura do cheio. Nas seis etapas o caminhar guiando-se pelos espaços livres foi utilizado. Para o entendimento do desenho da cidade numa escala mais ampla, de como é perceptível ou não seu desenho urbano, quais os pontos principais de referências, marcos visuais e etc. foi utilizada a teoria de Kevin Lynch, disponível em A imagem da cidade (1982). Outro teórico considerado foi Jan Gehl, arquiteto dinamarquês que prioriza os espaços públicos aos pedestres na medida em que nos mostra a importância de se estudar as pessoas e sua relação com determinado espaço antes de se projetar. Seu livro mais recente e utilizado como aporte aqui é Cidade para as pessoas (2014). Trago ainda uma experiência de passeio fotográfico do workshop Brasília Pantone ministrado por Marília Rodrigues e Gabriela Bilá. A procura por cores na cidade nos revela a riqueza visual que se esconde a nossos olhos velozes do cotidiano.

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1

2

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feijão estrutura

TEMPO-REI

DE TODOS OS LADOS

Fotomontagem representando a macroestrutura do Guará, principalmente no que tange ao sistema viário.

Foram feitas duas composições fotográficas em FOTOCOLAGEM digital representando o ano de 2001, chegada da autora no Guará, e do ano de 2015, hoje.

Sequência de fotografias dos edifícios residenciais em altura característicos dos últimos cinco ou seis anos visto de vários pontos da região do Guará.

O exercício foi desenvolvido a partir da relação da forma de feijão que apresenta o Guará 2 em planta com imagens diversas de quadros e cenas de filmes relacionados com o nome feijão.

A percepção das alterações paisagísticas no decorrer no tempo se faz importante no entendimento dos processos que moldam, constróem e adicionam camadas no objeto paisagem. Minha vivência na cidade durante os últimos quinze anos me faz perceber as alterações de paisagem pelas quais passou o Guará. O exercício de colagem foi um processo de percepção dos elementos que mais me saltam ao pensamento sobre as diferenças da dinâmica do bairro desde que aqui cheguei.

Com os ensaios e pensamentos a respeito das mudanças ocorridas no bairro, verificouse uma intensa verticalização em alguns pontos que não coincidiam com os demais edifícios já consolidados. Foram feitas fotografias de diversos pontos fora da área principal do Guará com o intuito de evidenciar o impacto que a massa de novas edificações traz ao horizonte da região como um todo.


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CORES

PESSOAS

INTERSUBJETIVIDADE

SÍNTESE 01

Mostra das cores características do Guará extraídas com ajuda de software de fotografias dos principais elementos que compôem o urbano visualmente e em sua dinâmica.

Registros das atividades das pessoas nas ruas e como elas são utilizadas por meio de desenhos feitos a mão.

Infográfico resultado de questionário on-line feito com moradores e de painel dos desejos realizado no evento ‘Guará na Rua - Rota 156’.

Croqui de intenções com resumo de ideias principais que definem a identidade paisagística do Guará.

A participação da autora no workshop ‘Brasília Pantone’, ministrado por Marília Rodrigues e Gabriela Bilá em Brasília em agosto de 2015, contribuiu para a composição de cartela de cores característica da cidade em estudo. Entende-se como uma maneira interessante de identificar e resgatar um pouco da identidade local. As cores se revelaram com passeios e identificação de edifícios e demais elementos já considerados relevantes para a autora.

Tomando como referência os estudos do arquiteto Jan Gehl, considera-se de extrema importância o conhecimento da culturas das pessoas em utilizar as ruas, se elas são espaços de convivência e diversidade ou apenas espaço de passagem. As atividades e costumes dos usuários nas ruas foram percebidos com sucessivos passeios da autora desde sua casa até o destino para situações do cotidiano, aulas de inglês, compras na padaria, estágio, etc.

A esse ponto, depois de tantas reflexões e observações, questiona-se a validade de tais produtos, já que até o momento a análise foi realizada por uma moradora que é também estudante de arquitetura. Até que ponto essa análise não é tendenciosa e transborda a dimensão do ser moradora a caminho do ser arquiteta? Busca-se a intersubjetividade, o senso comum.

A partir do estudo das percepções da autora e das percepções de outros moradores do bairro acerca da paisagem e seu processo de construção, já é possível verificar pontos iniciais de demandas, potencialidades e problemas do Guará. Essa primeira síntese se somará aos demais resultados encontrados nas próximas fases compondo um quadro amplo de diretrizes projetuais.

A partir de questionário online (1) buscou-se entender como os moradores vêem a paisagem guaraense, o que é considerado como mais característico e identitário do bairro, convivência das pessoas nas ruas e apreensão dos espaços livres. Durante evento da Rua do Lazer, um painel (2) dos desejos foi deixado na rua para que os moradores respondessem. pouso

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1.

ESTRUTURA EM FEIJÃO

CATAR FEIJÃO João Cabral de Melo Neto

Catar feijão se limita com escrever: joga-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo: pois para cater esse feijão, sopra nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco. Ora, nesse catar feijão entra um risco: o de que entre os grãos pesados entre um grão qualquer, pedra ou indigesto, um grão imastigável, de quebrar dente. Certo não, quando ao catar palavras: a pedra dá à frase seu grão mais vivo: obstrui a leitura fluviante, flutual, açula a atenção, isca-a como o risco.

Imagens: Colheita de feijão de Cândido Portinari; cena do filme Amelie Poulain; O comedor de feijão de Annibale Carracci e textura de feijão preto.

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2.

TEMPO REI

VER O CÉU! .. PREDOMINÂNCIA DE CASAS TÉRREAS .. ÁRVORES .. ARBUSTOS .. PESSOAS FAZENDO CAMINHADA .. CALÇADÃO DE PEDRA PORTUGUESA .. ÁRVORES .. CARROS .. PESSOAS .. SEIS ANDARES .. ÁGUA DE COCO .. TRÂNSITO .. CRIANÇAS NA RUA ..

2001

CADÊ O CÉU?? .. CASAS TÉRREAS .. ÁRVORES .. EDIFÍCIOS .. PESSOAS FAZENDO CAMINHADA .. CALÇADÃO DE ASFALTO .. ÁRVORES .. CARROS .. PESSOAS .. CARROS .. SEIS ANDARES .. CARROS .. PESSOAS .. ÁGUA DE COCO .. METRÔ .. TRÂNSITO .. TRÂNSITO .. CRIANÇAS NA RUA .. EDIFÍCIOS .. EDIFÍCIOS .. TRÂNSITO .. EDIFÍCIOS .. TRÂNSITO .. GUARÁ NA RUA ..

2015

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3.

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De todos os


lados

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BRANCO FIO

BRANCO IMACULADO

Os meio fios estão constantemente sendo pintados de branco, reafirmando a separação de modais entre motorizados e não motorizados. Carros com as laterais dos pneus manchados de branco denunciam motoristas, digamos, barbeiros.

O edifício da igreja católica Maria Imaculada, muito frequentado na rotina dos moradores, revela-se ícone marcante da vida guaraense pela escolha da comunidade por uma construção com caracteristicas arquitetônicas neoclássicas.

laranja tijolinho

laranjassolo

‘‘É aquele de tijolinho?’’ Próximos à estação Guará do metrô, os prédios residenciais deste condomínio são pontos de referência para explicar o endereço da sua casa para aqueles amiguinhos que não sabem nem a diferença entre a EPIA e a EPTG.

Assim como em todo o DF, o solo da região do Guará é o latossolo vermelho, caracterizado pela coloração avermelhada que gosta de sujar nossos sapatos.

verde especulação

verde quadradão

Com a alteração do PDL em 2006 permitindo edifícios com mais altura que os já construídos, o bairro sofreu um boom imobiliário. As fachadas são sempre as mesmas, pastilha 5x5cm branca com vidros esverdeados.

Os espaços livres entre as quadras residenciais do Guará 2 parecem espaços restantes do desenho urbano das ruas e por isso viraram áreas verdes. São conhecidos pelos moradores como quadradões. Muito utilizados para passeios com cachorros e esporte.


amarelo pracinha Todos os elementos de mobiliário urbano dos espaços públicos, bancos, mesas, grades, corrimãos, hidrantes, lixeiras, e etc. têm coloração amarela. Na recente reeleição de nossa presidenta os banco foram pintados de vermelho por alguns moradores.

4.

CORES

laranjaurbi

laranja OUTUBRO

Dos elementos móveis, os ônibus de transporte público que circulam na cidade são alaranjados e rosados. Cuidado para não perder o compromisso porque eles nunca passam no ponto na hora certa.

Com menos fotos no instagram que os ipês, os flamboyants também trazem, todo ano, um colorido especial à cidade. Geralmente é possível vê-las floridas em outubro, criam uma interessante persperctiva desenhada na avenida contorno próximo à entrada do Guará.

Foto: Flávio Cruvinel Brandão

Inspirado no trabalho fotográfico ‘Brasília Pantone’ de Marília Alves e Gabriela Bilá.

VERDE COMUNICAÇÃO

vermelho maia

Para a indicação de ruas, quadras e conjuntos, as placas obedecem o padrão verde de normas e acordos internacionais de sinalização. Foram recentemente trocadas para melhor visualização dos textos.

Com duas unidades na cidade, o supermercado brasiliense é outro ponto de referência para o Guará. Dica: Pague com cartão, os caixas nunca têm troco.

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5.

PESSOAS

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6. INTERSUBJETIVIDADE a intersubjetividade é termo que representa o imaginário coletivo de determinada cultura, é o subjetivo que paira o grupo, o senso comum. aqui, investiga-se a paisagem dos moradores do guará por duas ferramentas: 1.questionário online e 2.painel dos desejos.

1 ) QUESTIONÁRIO REALIZADO ONLINE NA PLATAFORMA GOOGLE FORMS. respondido por 80 moradores de perfis variáveis

FOTOS QUE ACOMPANHAVAM O QUESTIONÁRIO criando mesma base para todos os que contribuíram

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X

M.O.B.

O Coletivo 156, grupo composto por moradores do Guará, se organiza todo mês para promover a Rua do Lazer, resgate do tradicional evento que há pouco mais de 30 anos ocorria no local. A Avenida Central é fechada para o acesso de veículos enquanto os pedestres podem disfrutar de espaço livre de lazer e atividades promovidas pelo próprio evento. Após o sucesso do primeiro 'Rota 156', o número de apoiadores cresceu incentivando o uso da rua pelas pessoas. Dois desses apoiadores são o M.O.B., Manual de Ocupação de Brasília e o Conic ao Avesso. Ambos formados por arquitetas, o M.O.B. divulga e realiza ações simples no intuito de tornar as cidades mais humanas e as pessoas mais empoderadas; enquanto o projeto Conic ao Avesso propõe a regeneração e ocupação do Conic. Durante a Rua do Lazer do dia 30.08.15, o M.O.B realizou oficinas com a comunidade voltadas ao questionamento da qualidade do trabsporte público do DF. Do projeto de recuperação do Conic veio a idéia do painel dos desejos, onde as pessoas se sentem convidadas a escrever livremente seus anseios para o bairro. #mobbsb #guaranarua #rota156 #ocupabsb #lazernarua

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2 ) UM PAINEL EM MDF PINTADO EM COR ESCURA FOI DEIXADO EM UM PONTO DA AVENIDA CENTRAL DO GUARÁ DURANTE TODO O EVENTO. TODOS ESTAVAM LIVRES A CONTRIBUIR EXPONDO SEUS DESEJOS PARA UMA MELHOR CIDADE ESCREVENDO COM GIZ SOBRE O PAINEL. A TODO MOMENTO QUEM PASSAVA POR ALI ERA INSTIGADO E CONVIDADO PELAS ORGANIZADORAS A REFLETIR E REPENSAR SEU LUGAR NA CIDADE. A DINÂMICA GEROU MUITOS COMENTÁRIOS POSITIVOS EM RELAÇÃO À NOSSA AÇÃO DESINSTITUCIONALIZADA. MUITAS DAS QUEIXAS GIRARAM EM TORNO DE MAIS ESPAÇOS DE CULTURA E LAZER E MAIS INFRAESTRUTURA DAS ÁREAS VERDES PARA USO.


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S.01 PRIMEIROS

ANSEIOS DIRETRIZES

A PARTIR DA EXPERIÊNCIA O elemento paisagístico mais forte do bairro é o calçadão, acompanha a principal avenida de circulação viária e é sempre usada como área de lazer e exercícios físicos.

reforçar a identidade local

1.

Calçadão como elemento forte de identificação e uso pela comunidade Retomar desenho de piso em pedra portuguesa retirado do calçadão da cidade

2.

Dotar áreas verdes ociosa de atrativos

3.

Necessidade de maior qualidade dos espaços para percurso dos pedestres e principalmente das calçadas

As áreas verdes das entrequadras são ociosas e de grande dimensionamento, apresentam grande potencial paisagístico também por sua localização tão próxima às residências. Uma grande área verde apresenta potencial de integração das diferentes malhas urbanas do Guará além de potencial de corredor ecológico.

A PARTIR DA INTERSUBJETIVIDADE

Incentivo à apropriação dos espaços públicos

Muito verde espalhado mas o calçadão, pracinhas e quadradões são os mais fortes. As pessoas usam bastante a rua pois usam muito o comércio local, outras tantas praticam esportes e exercícios físicos em horários específicos. As ruas têm características que incentivam e são mais receptivas aos carros, enquanto as calçadas para os pedestressão de péssima qualidade. Os pontos de maior destaque da paisagem são: Feira do Guará, o desenho da malha urbana, edifício Consei, estações de metrô e balão de acesso à cidade.

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conectar Áreas livres

4. 5. 6.

Boulevard central (só pedestres?) Maciço verde na área limítrofe entre Guará 1 e 2 Conectar pracinhas e quadradões


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A FUNDA MENTA ÇÃO 42


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processo e produtos 1

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INVENTÁRIO ATRIBUTOS CULTURAIS

INVENTÁRIO AtributoS NATURAIS

INVENTÁRIO atributos VISUAIS

Em Desenhando paisagens, Moldando uma profissão (2006), Rosa Kliass, importante figura dentro do projeto, planejamento e discussão do paisagismo brasileiro, aborda o processo de estudo do sítio a partir de cinco passos de entendimento e aproximação: inventário, análise, diagnóstico, propostas de intervenção e diretrizes de planejamento.

Série de mapas e demais respresentações que ilustram as características visíveis e invisíveis do espaço produzidas pelo homem no decorrer do processo de apropriação do meio natural.

Representações que trazem as informações do sítio físico relativas ao meio natural, nosso suporte para manutenção da vida humana.

Indicações dos locais com potenciais visuais interessantes conformadas por morfologia geográfica ou pelo espaço construído.

O primeiro deles é de fato a coletânea de dados, o inventário é o levantamento das características do sítio. Aqui, essas características foram divididas em: atributos culturais, naturais e visuais.

Reforçando que paisagem é o objeto que surge, também, da ação do homem em intervir e modificar o ambiente, torna-se imprescindível levantar os dados referentes a tais intervenções. Aqui propõe-se o estudo dos elementos que caraterizam o ordenamento territorial e uso do solo por parte de sua população. Consideram-se ainda projetos futuros que podem ser levados a cabo na cidade.

Os aspectos primários de composição da paisagem são as características do meio ambiente dadas pela natureza. A importância de conhecer a fundo os elementos e processos componentes das dinâmicas naturais é a preocupação em mantê-la saudável e protegida.

Os atributos visuais têm a ver com a possibilidade de uma cidade ser entendida. A legibilidade torna a apreensão do espaço facilitada trazendo qualidade de vida e apropriação de seus moradores para com o sítio.

A segunda etapa dentro do pensamento de Girot apresentado nesse trabalho é a Fundamentação, pesquisa minuciosa em busca de dados e informações no que tange a aspectos visíveis e invisíveis. Como aporte à essa busca outro nomes conhecidos da disciplina de paisagismo foram trazidos.

A análise dos dados propõe a superposição dos atributos de maneira a identificar as zonas compatíveis a preservação, consolidação, ocupação e expansão. Trazendo as ideias de outro importante teórico do paisagismo, Ian McHarg, autor de Proyectar con la naturaleza (1969), nos traz os valores intrínsecos de cada elemento observado. O diagnóstico nos aponta claramente os conflitos e problemas da adaptação do meio pela ação antrópica e ainda os potenciais que o sítio oferece. As propostas de intervenção e diretrizes de planejamento podem ser melhor apreciadas nesse trabalho na etapa de Síntese. Kevin Kynch e sua Imagem da Cidade (1982) reaparecem aqui no levantamento e estudos dos atributos visuais. Bem como figuras como Gordon Cullen e Maria Elaine Kohlsdorf.

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fundamentação

As características expostas nessa categoria são: demografia e aspectos socioeconômicos; malha urbana; tipos edilícios; uso e ocupação do solo; macro e micro parcelas; legislação (unidades de conservação); novas obras; além de apropriações espotâneas do espaço público como eventos organizados pelos moradores com intuito de ocupação do espaço público.

Dentre os mapas e imagens mostrados aqui os atributos representados são: clima (temperatura, chuva e ventos); tipo de solo; topografia; hidrografia; vegetação e fauna.

Seguindo as ideias de Lynch buscou-se identificar, a partir de vivência própria como moradora, de pesquisa feita anteriormente com outros moradores e de um olhar técnico, os caminhos, limites, bairros, nós e marcos.


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s2

ANÁLISE

DIAGNÓSTICO

SÍNTESE 02

Processo de sobreposição das camadas do inventário dando origem ao mapa de estrutura da paisagem. Aqui se tornam visíveis os níveis de complexidade da ocupação do sítio. Tal complexidade é capaza de nos fazer perceber as zonas intrínsecas para preservação, consolidação, ocupação e expansão.

Depois de analisar os dados faz-se um diagnóstico dos potenciais e das problemáticas na relação homem-natureza, ocupações que prejudiquem o meio ambiental são os principais conflitos.

Compilando os dados pesquisados, três são os produtos dessa etapa, primeiro um mapa da estrutura da paisagem e em seguida um segundo croqui de intenções.

Os aspectos fisiográficos do meio, ou seja, os atributos naturais levantados no inventário, são os elementos determinantes das áreas passíveis ou não de ocupação e do modo de ocupação. Carregar o suporte físico de importância decisiva para o modo dos assentamentos humanos é uma escolha por proteção do ambiente natural e de vivência mais harmônica entre homem e natureza.

É possível identificar os espaços livres e categorizá-los de acordo com suas características morfológicas, usos formais e/ou informais, atribuições estabelecidas, etc. Assim, conhece-se e identificase a paisagem do sítio. O sistema de espaços livres de determinada cidade é enfim caracterizado.

Assim como no exemploexperiência mostrado na sessão de estudos de caso, foi feito aqui um mapa síntese da paisagem, ou seja, as características mais importantes e estruturantes paisagisticamente foram expostos no Mapa de Estrutura da Paisagem. Identificando as particularidades da paisagem local buscou-se traçar um mapa das áreas livres indicando seus tipos. Mostrando o avanço de ideias e soluções para o local em comparação à primeira síntese, ensaiou-se um segundo croqui de intenções considerando todo o processo de estudo até agora. A principal solução e a partir daqui, norteadora das demais intervenções é a conexão dos espaços livres formando um sistema. fundamentação

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INVENTÁRIO 1. atributos CULTURAIS zoneamento

n11 Fonte: Plano Diretor Local (PDL) do Guará de 2006 adaptado.

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fundamentação


MALHA URBANA

PERFIS VIÁRIOS

avenida contorno

aven i cent da ral

Via de Trânsito Rápido Avenida de Circulação Avenida de Atividades Via Coletora Via Local Ferrovia Metrô Fonte: Plano Diretor Local (PDL) do Guará de 2006 adaptado.

n11

Os acessos principais se dão pela avenida EPTG, entrando pelo SIA, e pela pista EPGU, dando acesso ao conhecido ‘balão do Guará’ que dá continuidade à avenida L4. Os acessos secundários estão a sul e noroeste, respectivamente, vindo do Núcleo Bandeirante, EPNB e Park Way, e vindo de Taguatinga e Vicente Pires, entrando pela Colônia Agrícola. A linha do metrô funciona como um divisor entre o Guará 1 e o Guará 2 desfavorecendo uma conexão entre as diferentes malhas. Percorrendo o mesmo trajeto do metrô, a Via Interbairros é projeto surgido do PDOT com justificativa de maior ligação das satélites e o Plano Piloto. Não há previsão de construção.

Fonte: Autoria própria.

As vias tipos do Guará têm predominância para o uso de veículos automotivos. As vias têm duas faixas para trânsito de carros e calçadas pequenas e obstruídas por postes e rampas para entrada nas garagens. As coletoras de entradas nas quadras têm calçada mais larga mas muitas vezes sem sombras e com fachadas muito opacas, tornando-a insegura. A Avenida Central tem prédios em altura que favorecem sombras e fachadas ora mais permeáveis, com as grades de edifícios mais antigos, e ora mais opacas, com os muros dos novos condomínios. A Avenida Contorno é a única com ciclovias, sua proximidade ao calçadão (utilizado para prática desportiva) denota entendimento do uso da bicicleta apenas como lazer e esporte e não como transporte. fundamentação

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macroparcelas e endereços

USO DO SOLO

As quadras do Guará 2 são divididas entre quadras externas (QE) e quadras internas (QI). As internas se referem aos lotes de edifícios multifamiliares, instituições e edificíos comerciais na linha da avenida Central. As quadras externas margeiam a avenida contorno sendo que uma metade é numrada com números ímoares e a outra metade com números pares, todas no intervalo de 13 a 36.

CJ. A

Cada quadra tem acesso de veículos pelas duas avenidas principais e desde esse tronco conformado pela conexão entre os acessos surgem as ruas locais nomeadas de conjuntos. Sempre começam com a letra A e seguindo a nomeação em ordem alfabética. Assim, um endereço possível aqui nesse exemplo seria Qe 17, Conjunto I, casa 5.

Residencial Residencial e comercial Comercial Misto (res+com) Institucional

(templo religioso, escola, saúde, etc.)

n11 Fonte: LUOS < http://www.luos.df.gov.br/downloads/luos19_12/Mapas_LUOS/RA_X_Guara.jpg>, acesso em 11/10/2015.

48

fundamentação


tipologia edilícia

cheios e vazios RESIDÊNCIA UNIFAMILIAR

Casas térreas, dois ou três pavimentos com recuos e muradas. Uma entrada principal. Suas fachadas laterais, em algum ponto de sua rua local, formam becos com muros cegos. Lotes entre 120 e 200m2 .

edifício multIFAMILIAR

Edifícios soltos no lote com seis pavimentos e cercado por grades fornecendo transparência. Edifícios soltos no lote com 11 ou mais pavimentos cercado por muros opacos.

edifício USO MISTO

Edifícios de dois, três ou quatro pavimentos com térreo comercial de acesso único. Pavimentos superiores ocupados por habitação e serviços. Em alguns lotes não foram construídos além do térreo. Está presente nas praças das quadras e compõe o Pólo de Modas, ainda que de maneira irregular, já que era uma área destinada apenas à indústria têxtil de pequeno porte.

edifício USO MISTO av, central

Edifícios de quatro pavimentos com térreo comercial nas quatro fachadas e pavimentos superiores ocupados por habitação e serviços. Em alguns o subsolo também é ocupado.

n11 COLÔNIA AGRÍCOLA

Lotes grandes com casas soltas. Arrajam-se em condomínios e surgiram de ocupações irregulares, assim, sua infraestrutura não é oficial e sua proximidade ao córrego favorece danos ambientais.

Fonte: Sicad adaptado.

O mapa indica a quantidade enorme de espaços livres presentes no bairro, muito se deve a proximidade de elementos naturais que requerem proteção devido à sensibilidade ambiental como as zonas que englobam diversas espécies nativas, matas de proteção dos corpos d’água e os próprios córregos.

Fonte: Autoria própria.

fundamentação

49


LEGISLAÇÃO - PDL

LEGENDA PEA: Projeto Especial da Rede Estrutural Ambiental PEV: Proejto Especial da Rede Estrutural Viária PTC: Projeto Especial da Rede de Transporte Coletivo PEC: Projeto Especial da Rede de Eixos e Pólos de Centralidade PEI: Projeto Especial Integrador Fonte: Plano Diretor Local do Guará, anexo X adaptado, 2006.

centro metropolitano/VIA INTERBAIRROS

n11

O Plano Diretor Local do Guará (PDL) dispõe sobre projetos especiais para desenvolvimento estratégico da cidade, prezando pela acessibilidade e interesse coletivo. Os Projetos Especiais Integradores (PEI) 2, 4, 6, 17, 18, 19 e 20 estabelecem novas zonas de adensamento e parcelamento. No que tange aos espaços livres, propõem-se aumento das poligonais do Parque do Guará (PEA 1, 2 e 3) e do Bosque dos Eucaliptos (PEA 4) além da regularização das colônias agrícolas prevendo desapropriação a fim de melhorias ambientais (PEA 7). Quanto ao âmbito do pedestre, há ainda projetos para desobstrução de becos (PEI 12), melhor conexão ao centro comercial Parkshopping (PEI 13) e implantação de rede cicloviária local (PEI 14). À região lindeira às linhas do metrô e da ferrovia destaca-se a importância de um bom paisagismo (PEV 8). O Pólo de Modas recebe atenção especial no PEI 7.

50

fundamentação

Fonte: Relatório de Impacto Ambiental Complementar do Centro Metropolitano do Guará adaptado, 2008.

n11

Baseado na prerrogativa de reforço da centralidade local do Guará pelo PDOT e de integração a um eixo de dinamização do DF, a proposta da Via Interbairros e do Centro Metropolitano do Guará são projetos especiais do PDL (PEV 1 e PEC 1) com grande intervenção no meio. A proposta de usos para tais áreas, desenhadas pelos escritórios Metroquattro (em 2003) e Jaime Lerner (em 2005), confluem na ocupação adensada e diversa do trecho que acompanha a linha do metrô, seriam edifícios de uso misto com até 12 andares. O trecho lindeiro ao Parque do Guará também seria ocupado por edificios de uso misto mas com altura de até 8 andares. A região central seria ocupada por edifícios de residência multifamiliar de até 8 pavimentos. Os lotes ociosos próximo ao CAVE seriam contemplados com equipamento públicos de lazer, esporte e cultura.


DADOS SOCIOECONÔMICOS

Fonte: Autoria própria com dados retirados do PDAD Guará 2013-14.

Os moradores são, em geral, adultos que trabalham em Brasília (o que traz um trânsito grande no início e fim do horário comercial) e têm instrução entre ensino médio completo e ensino superior completo. A renda mensal equivale a classe média e média alta. Ainda que visualmente o número de unidades unifamiliares seja maior que o número de edifícios multifamiliares, a população que vive em cada uma das tipologias é bastante equilibrado. Mais da metade não frenquenta espaços verdes como parques e jardins.

EVENTOS NA RUA

n11

Fonte: Autoria própria.

Nesse ano de 2015 uma iniciativa criada e organizada por moradores com apoio dos comerciantes e das administração está agitando a cidade, é o Rota 156. Sempre no último domingo de casa mês parte da Avenida Central permanece fechada para veículos durante todo o dia oferencendo atividades e espaço para esportes. Isso impulsionou a criação do Lazer das Antigas todo domingo em uma quadra diferente. Antes disso, já ocorria o Bazar das Meninas, espaço de troca e vendas de produtos também com oferta de atividades culturais e musicais. Outras áreas também são alvo de atividades e eventos periódicos como instalação de circos e feiras de venda de roupa. fundamentação

51


INVENTÁRIO 2. aTRIBUTOS NATURAIS CLIMA

SOLO

n11

n11

Fonte: Autoria própria.

Fonte: Autoria própria.

O clima da região é o Tropical de Altitude. Apresenta duas estações bem definidas: quente e úmida, com ventos predominantes a noroeste, e fria e seca com ventos vindos de leste e sudeste. A amplitude térmica diária varia entre 26C e 19C. A umidade é considerada baixa com índices mais alarmantes entre agosto e outubro.

O solo do Distrito Federal é chamado de Latossolo, a famosa terra vermelha. Tem baixa fertilidade, pouca matéria orgânica e alta concentração de alumínio e ferro, é a laterização. Para uma boa produção agrícola é necessário, ainda, corrigir o pH ácido com a adição de calcário. Sua porosidade favorece a infiltração de água e consequentemente a recarga dos corpos hídricos subterrâneos.

52

fundamentação


HIDROGRAFIA

TOPOGRAFIA

n11

n11

Fonte: Autoria própria.

Fonte: Autoria própria.

Segundo estudo do Relatório de Impacto Ambiental Complementar (RIAC) da implantação do Centro Metropolitano do Guará (2008), a qualidade da água do Córrego do Guará se insere na classe 3 da resolução 357/2005, o que significa possibilidade de uso para: a) abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; b) irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; c) pesca amadora; d) recreação de contato secundário; e e) à dessedentação de animais. De acordo com o mesmo relatório a água apresenta traços visíveis de poluição.

A topografia nos mostra pouco caimento de relevo na área central e mais consolidada do Guará. O caimento principal vai em direção a sudeste (ao polo de modas e Candangolândia) e também no sentido do Parque do Guará e das colônias agrícolas. Os caimentos acompanham as passagens dos corpos hídricos em direção ao Lago Paranoá.

fundamentação

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TOPOGRAFIA CORTES

VEGETAÇÃO E UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Fonte: Autoria própria. Fonte: Autoria própria.

O corte topográfico nos faz ver o caimento semelhante ao do Plano Piloto: a parte central e de maior altitude como a urbanizada e caindo para acompanhar os cursos dos córregos formando uma espécie de abóbada.

54

fundamentação

n11

Dentre as áreas mostradas no mapa acima, apenas a Reserva Biológica (REBIO) tem caráter de proteção restrito, ou seja, as visitas só são permitidas em caso de estudos e mediante autorização. Todos os outros possuem zonas de oferta de atividades para a população. Recentemente corre em votação a alteração de nomenclatura para os parques do DF, com isso, o Parque Ezechias pode tornar-se área de proteção integral deixando de ser parque distrital e de permitir a visita do público em geral.


flora

fauna

AMENDOIM BRAVO

ANGICO

FIGUEIRA

JACA

CASTANHEIRA

gOIABA

IPÊ AMARELO

MUNGUBA

MOGNO

SIBIPIRUBA

EUCALIPTO

PINHEIRO

PAU-JACARÉ

Muitas são as espécies exóticas ao cerrado encontradas na região, elas estão espalhadas pelas ruas como jaqueiras e goiabeiras. As espécies típicas podem ser vistas aglomeradas no Parque do Guará e na Rebio como os ipês.

Fonte: Autoria própria.

O perfil típico do cerrado, como demonstrado acima, é habitát de diversas espécies animais que também estão presentes no Guará. Assim, a importância da preservação de tal bioma e seus processos está também na preservação dos espaços imprescindíveis para o crescimento e nascimento da fauna local.

fundamentação

55


INVENTÁRIO 3. atributos visuais a imagem da cidade e visuais interessantes De acordo com Kevin Lynch: CAMINHOs As avenidas central e contorno são os elementos de malha viária conformadores da estrutura dos caminhos do Guará 2, juntamente com as conexões entre elas. LIMITES Os limites são demarcadores de fronteiras não caracterizados por serem vias, assim, a área livre que acompanha a linha metroviária delimita duas regiões separadas. BAIRROS Zona onde se é possível entrar e apresenta características comuns, o Guará 1 é diferente do Guará 2 e ainda do Pólo de Modas, das Colônias Agrícolas, do Setor de Oficinas, das Áreas Especiais e das quadras externas 38, 42, 44 e 46. PONTOS NODAIS Pontos estratégicos de concentração de alguma atividade, ou que tenham morfologia distinta de suas redondezas. São aqueles elementos tipicamente tidos como pontos de referência. MARCOS Elementos que apresentem visibilidade externa ao observador, como aquela torre que se vê ao longe. Não foi verificado nenhum marco visual no Guará, os pontos nodais funcionam como marcos para a leitura da cidade. VISUAIS INTERESSANTES Pontos em que o relevo natural ou sequência de visuais advindas do acúmulo de trabalho humano sobre a natureza possibilita miradas privilegiadas e/ou de grande potencial para Guará e sua região.

n11

Fonte: Google Earth adaptado.

56

fundamentação


1

2

3

4

5

6 fundamentação

57


4.

análise

ESTRUTURA DA PAISAGEM TOPOGRAFIA CÓRREGOS 1.guará

2.VICENTE PIRES

ELEMENTOS COM FORTE DEMANDA POR PRESERVAÇÃO

3.SAMAMBAIA

4.RIACHO FUNDO

PARQUES URBANOS E UC'S 5.PARQUE DO GUARÁ / REBIO GUARÁ

6.PARQUE DENNER

7.PARQUE DOS EUCALIPTOS

NOVOS ADENSAMENTOS E CONSTRUÇÕES 8.INTERBAIRROS

9.CENTRO METROPOLITANO

10.CIDADE DO SERVIDOR

11.TERRENO PARKSHOPPING

CONFLITOS DE OCUPAÇÃO

n11 Fonte: Autoria própria.

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fundamentação

12.COLÔNIAS AGRÍCOLAS

ESPAÇOS VERDES COM FINS EDUCATIVOS E DE PRESERVAÇÃO, CONSOLIDAÇÃO NECESSÁRIA

POSSÍVEIS FUTURAS OCUPAÇÕES MUITO PRÓXIMAS AOS CORPOS HÍDRICOS

OCUPAÇÃO IRREGULAR E NECESSIDADE DE PRESERVAÇÃO DO CÓRREGO E DA MATA CILIAR


5.

diagnóstico

ÁREAS LIVRES - PROBLEMÁTICAS E POTENCIAIS

n11 Mapeamento dos tipos de áreas livres. Fonte: Autoria própria.

Muitas das áreas livres e espaços verdes da cidade são produtos do desenho da malha urbana, quer dizer, as vias para veículos automotivos deixam surgir áreas residuais que acabam sendo espaços de área verde por serem esquecidas. O abandono e a falta de oferta de atividades favorecem apenas a passagem nesses lugares, o estar não é valorizado na medida em que faltam mobiliários urbanos, manutenção e poda de plantas e qualquer outro tipo de atrativo. A pracinha de cada quadra é onde ocorre concentração da estrutura de disfrute do espaço urbano: bancos, mesas, cadeiras e quadra de esportes. Outros espaços podem e devem ser revalorizados fazendo com que toda a cidade seja permeada por atrativos e possa ser mais humana. fundamentação

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S02. SEGUNDAS

INTENÇÕES

1. Calçadão como elemento forte de identificação e uso pela comunidade. Retomar desenho de piso em pedra portuguesa retirado do calçadão da cidade; 2. Dotar áreas verdes ociosa de atrativos;

reforçar a identidade local

Incentivo à apropriação dos espaços públicos

3. Necessidade de maior qualidade dos espaços para percurso dos pedestres e principalmente das calçadas; 4. Boulevard central com prioridade aos pedestres; 5. Maciço verde na área limítrofe entre Guará 1 e 2; 6. Conectar pracinhas e quadradões.

60

fundamentação

CRIAR SISTEMA DE ESPAÇOS LIVRES

conectar Áreas livres


como conectar os espaços livres?

A.

Ponte verde no Parque do Guará como conector ambiental;

B.

Acesso às quadras com mais área de pedestre e jardins de chuva para melhor drenagem;

C.

Boulevard entre Parque Denner e Bosque dso Eucaliptos;

D.

Intervenção nos becos para recuperar área do pedestre e revitalizar área degradada;

E.

Parque das Frutas como elemento de conexão entre as malhas do Guará 1 e do Guará;

F.

Travessias de pedestres em nível na Avenida Contorno, sempre onde terminam quadradões e acessos às quadras;

G.

Cota ambiental para lotes vazados com fundo para o calçadão;

H.

Arte urbana e jardim vertical para lotes com laterais para o calçadão;

I.

Bosque Vermelho ligando entrequadra 17/19 ao Parque do Guará;

J.

Ruas locais formando cordão de acessibilidade aos pedestres paralalelo às avenidas, ligam pracinhas e quadradões.

n11 Conexões dos espaços livres. Fonte: Autoria própria.

fundamentação

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fundamentação


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fundamentação


fundamentação

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fundamentação

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A DES CO BERTA 68


69


processo e produtos Seguindo o trajeto dos quatro passos de Girot, é nessa fase da Descoberta que a essência do lugar se mostra, ou é estudada até ser encontrada. Optou-se por definir aspectos que caracterizassem os espaços livres do Guará para que assim um elemento pudesse ser definido para receber uma intervenção. A relação dos moradores com suas áreas livres e áreas verdes pode ser indicador da qualidade e acessibilidade das mesmas. Aqui, os moradores declararam não visitar parques e jardins mas conhecerem a rotina esportiva de outros moradores. O paisagista francês Michael Corajoud, em seu texto dedicado a estudantes da disciplina paisagística ‘Les neuf conduites nécessaires pour une propédeutique pour un apprentissage du projet sur le paysage’ (As nove condutas necessárias de uma propedéutica para um aprendizado do projeto da paisagem), indica atuações a fim da melhor projetação na intervenção da paisagem de um certo sítio. São eles: colocar-se em estado de efervescência; questionar os limites; percorrer todas as direções; distanciar-se para retornar; atravessar escalas; antecipar-se; defender o espaço aberto; abrir o projeto e ser guardião do projeto. Todos esses itens serão explicados na próxima etapa (Síntese), aqui, apenas a segunda indicação de Corajoud foi utilizada. Pensando no bairro de fora pra dentro, a segunda conduta de Corajoud nos leva a mirada à escala regional, quer dizer, os espaços livres têm potencial de exercer influência externa aos moradores locais? O projeto da Via Interbairros insere-se no contexto distrital e é questionado nesse trabalho; a proximidade dessa área com o metrô e a Feira do Guará é forte elemento que colabora com a destinação da área a uso regional.

70

descoberta

1

2

3

GRANDES ESPAÇOS LIVRES SEM ATRATIVOS P.47

PROJETO VIA INTERBAIRROS SEGREGA GUARÁ 1 E GUARÁ 2 p.48

MORADORES NÃO FREQUENTAM PARQUES E JARDINS P.49

O processo de Fundamentação e Pouso nos leva a crer na potencialidade dos espaços livres em se transfomarem em espaços públicos de oferta abundante de atividades que tragam as pessoas para as ruas e as façam empoderadas de sua cidade. O espaço livre no Guará é caracterizado por amplos e áridos descampados, apelidados de ‘quadradão’. Foram fortemente lembrados pela comunidade e saltam aos olhos nas análises dos espaços livres em relação a quantidade de espaços construídos e no olhar para a malha urbana e sistema de áreas livres. Um descampado que nos chama a atenção é o espaço limítrofe entre o Guará 1 e o Guará, imensa área verde que não abarca nenhum tipo de atividades de estar.

Além da ausência de elementos paisagísticos na área entre o Guará 1 e o Guará 2, o projeto da Via Interbairros vem de encontro ao melhor trajeto para pedestres nas cidades contemporâneas na medida em que propõe vias de altas velocidades que funcionam como obstáculos aos que não estam dentro dos carros. O presente trabalho não acredita no poder desse projeto para a melhoria do trânsito no DF.

A relação dos moradores com as áreas verdes da cidade ficou comprovada por dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) de 2014 e pelas entrevistas realizadas no Pouso. Segundo o PDAD, 58% dos moradores alegaram nunca frequentarem os parques e jardins da cidade. Mesmo que, segundo a pesquisa online, a grande maioria sabe da existência das principais áreas verdes consolidadas e instituídas como parques. Tal postura pode nos levar a crer que essas áreas verdes existentes não são suficientemente atrativas para o uso das pessoas.


4

5

s3

RECLASSIFICAÇÃO DOS PARQUES DISTRITAIS P.52

VAZIO QUE SEGREGA GUARÁ 1 E GUARÁ 2 P.55

SÍNTESE 03

O parque visitável mais conhecido da cidade, assim como todos os outros parques do Distrito Federal, está passando por um processo de recategorização que o definirá, a partir de sua aprovação, como unidade de proteção integral proibindo, portanto, visita ao público. A decisão atinge diretamente a população quando retira a pouca oferta de infraestrutura para atividades ao ar livre. Em uma comunidade que não frequenta parques e jardins, as políticas ambientais deveriam ser de conscientização da necessidade de proteção.

Um considerável espaço livre que atua como forte desagregador de seus elementos do entorno é a área entre o Guará 1 e o Guará 2. Assim como os quadradões é um imenso vazio sem oferta para o estar e sem conforto térmico para a passagem. Sua inserção na malha urbana da Região Administrativa funciona claramente como um limite entre os bairros de desenho urbano distintos. Isso não favorece a identidade do Guará como um só além de dificultar o trânsito de pedestres no local,

Diante de todas as questões levantadas anteriormente, observa-se a importância que a área verde entre o Guará 1 e o Guará 2 apresenta e como reune elementos que podem justificar a implantação de um parque aí. Aqui, foram apresentados os potenciais da área, em escala local e regional, que já podem funcionar como diretrizes para o projeto de intervenção.

descoberta

71


GRANDE QUANTIDADE DE ESPAÇOS LIVRES NA REGIÃO

p.47

A falta de infraestrutura e oferta de atividades nas áreas livres gera baixo índice de ocupação e empoderamento dos espaços públicos para o estar além da passagem. Dentre os espaços livres mapeados, os mais utilizados e lembrados pelos moradores são as pracinhas das quadras, pontos com maior presença de mobiliário que favoreçam a ocupação.

p.48

O projeto da Via Interbairros nasceu com o PDOT (Plano Diretor de Ordenamento Territorial do DF) para a conexão das cidades satélites com o Plano Piloto. A justificativa era a de desafogamento das outras avenidas que fazem os mesmo trajeto. É um erro pensar que o tráfego nesse sentido melhoria nos horários de pico com mais um vetor de entrada; quanto mais pistas, mais carros. A descentralização dos empregos e o incentivo ao desenvolvimento local são ferramentas mais eficazes para a melhoria da mobilidade urbanada do DF. No contexto local, uma via expressa, com altos edifícios lindeiros, não é a forma urbana mais amigável dos pedestres.

p.49

Segundo o PDAD 2014 do Guará, 58% dos moradores nunca frequentam parques e jardins, 21% raramente o fazem enquanto 7% às vezes frequentam e 14% sempre frequentam. Pelos entrevistas feitas na etapa do Pouso, ficou claro que a existência dos espaços verdes consolidados é conhecida mas assumidamente não são visitados pelos moradores. Podemos concluir assim que os parques recebem poucas investidas no sentido de convidar mais visitantes, quer dizer, têm poucas ofertas de atividades e ainda, que o acesso não é facilitado a todas as zonas da cidade.

Recentemente corre em votação a alteração de nomenclatura para os parques do DF, com isso, o Parque Ezechias pode tornar-se área de proteção integral deixando de ser parque distrital e de permitir a visita do público em geral.

p.52

A nível regional, o limite entre o Guará 1 e o Guará 2 é espaço livre subutilizado que fortalece a segregação entre as distintas malhas dos dois bairros. Tem potencial de integração no eixo noroeste-sudeste, principalmente para pedestres, pela localização em relação às estações de metrô e à Feira do Guará que tem abrangência distrital.

p.55 n11

72

descoberta

Considerando como aprovada a corrente reclassificação dos parques do DF, o Parque do Guará não mais poderá receber visitantes para lazer e atividades físicas, assim, a cidade ficará sem parque urbano de grande porte. A solução é transferir para outro local essa área de lazer ao ar livre.


S03. PARQUE

DAS FRUTAS POTENCIAIS

continuidade urbana entre Guará 1 e Guará 2 OPÇÃO FRENTE A interbairros conector social conector ambiental VALORIZAÇÃO DOS ESPAÇOS PUBLICOS oferta de atividades condução de água pluvial

n11 descoberta

73


EXPLORER LES LIMITS, LES OUTRAPASSER

74

descoberta

n11

n11

n11

n11

n11

n11


descoberta

75


A sĂ­n tes e 76


77


processo e produtos

1

A útima etapa de estudo e intervenção na área do Guará se dá com o aporte teórico do paisagista francês Michael Corajoud. As nove indicações citadas anteriormente abrangem o estudo da paisagem desde a intuição e às sensações, assim como já pudemos perceber nos estudos de Girot. Deixar-se surpreender pelo sítio e percorrê-lo em diferentes escalas e momentos são tarefas essenciais no caminhar do projeto paisagístico desse autor. Corajoud importa-se com o processo como método de aprendizado para saber como intervir em outros lugares, cita a importância de deixar que seu processo de projeto seja conhecido a ponto de que outras pessoas possam perceber possibilidade de intervenção em outros sítios. A partir de suas indicações, o objetivo na construção desse projeto é a proposição de massa vegetativa abundante que proporcione área de sombra e lazer à população. As cores são o principal mote na medida em que são trabalhadas para a diversidade e quantidade de florações e frutas ao longo do ano.

2

3

4

5 78

síntese

entre em estado de agitação

No primeiro contato com o sítio surgem diversos questionamentos sobre o que é aquele lugar e suas camadas históricas. Sem muito conhecimento e informações técnicas,

explore os limites, ultrapasse-os

percorra o sítio em todas as direções

Saia para retornar a se envolver

atravesse diferentes escalas

a intuição tem papel fundamental para impulsionar a gênese do projeto. Assim como para Girot, Corajoud aposta na sensação dos primeiros olhares desavisados

O primeiro passo dentro do processo do projeto é questionar os limites impostos a você. Um exercício importante para essa percepção é afastar-se e reaproximar-

se diversas vezes, enxergar as porosidades, os acessos, seu contato com o entorno. Assim, o horizonte torna-se revelador dessa paisagem. Corajoud nos mostra aqui o entendimento da não

A memória, as impressões sensoriais de olfato, sombras, ventos e etc, ou seja, o que não nos salta aos olhos tão facilmente, também é importante para o reconhecimento do

sítio. O que pode parecer insignificante deve ser percebido e adicionado ao levantamento das questões formais. Importante estar sempre atento para não se dislumbrar com as

O afastamento e posterior retorno ao sítio, com diversas visitas, segundo Corajoud, dão visão mais ampla e segura do local. O autor nos indica a ir ao ateliê e desenhar,

propor e transpor a realidade. Visitas posteriores servem para ir ajustando as ideias ao sítio. O processo de croquis e ajustes é repetido e isso vai moldando o projeto.

Preocupar-se em atuar nas diferentes escalas garante coerência entre os aspectos globais e locais do projeto. O cuidado no olhar para o amplo e o detalhe

é, para Corajoud, uma das mais difíceis tarefas dentro do projeto da paisagem. O projeto deve transpor a seu espaço e combinar com a paisagem daí, combinar com o horizonte.

como chave para uma projetação comprometida com a identidade do local. Segundo ele, o entusiasmo e a agitação iniciais ajudam a resolver contradições presentes no sítio.

fragmentação da paisagem, ela não apresenta limites reais e portanto não pode ser estudada ou entendida de tal maneira. Esse tópico foi explorado na etapa anterior d’A Descoberta.

sensações e perder de vista os dados, e por outro lado não esquecer do elemento subjetivo e tornar a projetação algo apenas formal e sem identidade.


6

7

8

9

s4

antecipe-se

A ideia aqui é entender quais são os principais eventos que marcaram essa composição paisagística e quais os traços desses eventos devem ser perpetuados

e podem influenciar o partido projetual proposto. O projeto, nesse âmbito, é uma mistura de lembranças e proposições, não deve apenas preservar o sítio ou

considerá-lo uma tábula rasa mas tampoco deve introduzir novas faces na memória do local.

defenda o espaço aberto

Corajoud insiste na defesa do espaço aberto como ferramenta de contrargumento a um desornamento do espaço. O projeto não deve servir como

mais um elemento de sobrecarga da paisagem e do horizonte, é preferível que funcione como elemento de organização do espaço. Não é preciso que tudo seja construído,

são necessárias esperas e lacunas dentro do adensamento.

abra seu projeto

A contribuição de um projeto paisagístico, além do produto final que são os desenhos e as ideias de intervenção, é também o processo de estudo e descobrimento do sítio

até a melhor resolução de proposição para o local. Assim, faz-se extremamente importante deixar que o processo possa ser conhecido por outras pessoas. Cada

proposta de intervenção em um lugar nos mostra novas perspectivas de como um espaço pode ser transformado.

(não) seja o guardião de seu projeto

Um item questionável no processo de Corajoud é a necessidade de que o autor do projeto esteja sempre preocupado em deixar permanecer no local a essência e as intenções

iniciais do projeto. Ora, e a comunidade? E os usuários? O espaço público está aí para ser utilizado e apropriado por todos que assim se sentirem à

vontade. A cidade tem vida própria e é impossível prever como um projeto irá crescer e ser transformado.

parque das cores

Objetiva-se construir uma composição paisagística marcada pelo contraponto entre as diferentes altras do plantio vegetativo com as diferentes texturas e cores, ao longo do ano, que marcam as características de cada espécie.

síntese

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EXERCITANDO A AGITAÇÃO

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síntese


sĂ­ntese

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ESTUDO 01

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síntese


sĂ­ntese

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ESTUDO 02

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síntese


sĂ­ntese

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ESTUDOS E CROQUIS

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síntese


sĂ­ntese

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ESTUDOS E CROQUIS

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síntese


sĂ­ntese

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MASTERPLAN

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síntese


sĂ­ntese

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CORTES

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síntese


sĂ­ntese

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sĂ­ntese


FLORAÇÕES

síntese

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1 96

sĂ­ntese


perspectivas

2 sĂ­ntese

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3 98

sĂ­ntese


4 sĂ­ntese

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5 100

sĂ­ntese


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