Ação Educativa: Relatos de experiência
Proposta Político-Pedagógica A proposta político-pedagógica desenvolvida na exposição “Jardinalidades” teve como fundamento o exercício autônomo nas atividades de mediação arte-educativa: em relação ao acolhimento proposto aos visitantes, apresentando um lugar de co-autoria no trajeto e interpretação das obras apresentadas na exposição, valorizando as histórias e os saberes prévios de cada visitante; e também do grupo de arteeducadores, que em relação de criação compartilhada e colaborativa, exercitaram seus olhares, saberes, proposições e combinações singulares ao longo das atividades junto aos visitantes. A busca pelo irrepetível e pelo acontecimento gerado pelo encontro com pessoas e grupos diversos, tecendo experiências compartilhadas e únicas em cada diálogo e relação estabelecida. A exposição apresentou temáticas transdisciplinares que possibilitaram reflexões acerca da biopolítica, concepções decoloniais, arte relacional, performance, intervenção urbana, urbanismo, jardinagem tática, paisagismo crítico, dentre outras, o que propiciou diversas abordagens relacionadas aos saberes e experiências prévias do visitante em sua relação com a cidade, localidade em que mora e estuda e mudanças de paisagens no percurso bairro/centro. Em exercício dialógico ao longo do percurso da exposição, a recombinação e relação com as obras, bem como as interações do espaço expositivo com o entorno do Sesc Pq. Dom Pedro, fomentaram experiências compartilhadas entre os visitantes e arte-educadores, em busca de construção de saberes e de narrativas significativas em cada experiência.
Diante de temáticas fluidas e integradas, fruto da complexa relação entre espaço urbano e “natureza”, foi necessário a constituição de um grupo multidisciplinar de arte-educadores, ao mesmo tempo em que preservava saberes, memórias, histórias e relações oriundas dos trabalhos educativos da exposição anterior, “São Vito: uma escavação”. Neste sentido, metade do grupo de arte-educadores foi mantido, integrando novos educadores com saberes específicos e relacionados às temáticas da “jardinalidades”. Contudo, o grupo foi formado por: Arte-educadores Carolina Oliveira (historiadora e arte-educadora) Berta de Oliveira Melo (arquiteta, arte-educadora e mestre em paisagem e ambiente) Mirrah Iãnez (cineasta e arte-educadora) Vanilson Fifo Rosa (permacultor e arte-educador) Articulação do educativo Diga Rios (artista, cientista social e mestre em arte-educação) Milene Valentir (artista, filósofa e mestre em arte-educação)
A constituição do educativo
Linhas de pesquisa Estabelecemos três eixos de investigação iniciais, a serem desdobrados ao longo das atividades de pesquisa e criação da equipe: 1. 2. 3.
Mediação arte educativa Arte contemporânea Intervenção Urbana e performatividade Natureza e Cultura / Espaço Urbano
No final de agosto, iniciamos seis dias de estudos e planejamentos ao lado dos educadores, em busca da elaboração de um projeto de prática arte educativa comum, capaz de construir coerência política-pedagógica e liberdade criativa. Além disso, realizamos encontros com Gabriela Leirias (curadora), Célia Barros (expografia) e com os artistas e coletivos que integraram a exposição. Mediante os estudos prévios e a troca de saberes junto aos artistas/coletivos, o grupo de arte educadores iniciou a preparação de jogos, abordagens e oficinas que potencializassem temáticas, desejos, interpretações e participações dos visitantes, levando em consideração as características do espaço expositivo, bem como os conceitos apresentados na concepção expográfica.
Identificamos três grupos diferentes de frequentadores do Sesc Pq. Dom Pedro, cada qual com suas demandas e especificidades: A) Público agendado (Escolas, Universidades, ONGs, Instituições de assistência social e etc). No caso de público agendado, buscamos estabelecer processos educativos “prévisita” e “pós-visita”, contatando educadores e responsáveis pelo agendamento para fornecer informações e temáticas relacionadas à exposição, em busca de consolidar a visita como significativa aos estudantes e recebendo devolutivas de atividades geradas a partir da experiência compartilhada no espaço expositivo. Desta forma, buscamos estreitar relações entre as instituições e o próprio Sesc, uma vez que tal procedimento fomenta um processo educativo e de parceria capaz de construir pontes entre as instituições educativas e futuras exposições na unidade. Em outras palavras, buscamos qualificar a presença dos visitantes na exposição não como “passeio”, mas como “proposta arte educativa” desenvolvida em parceria com os professores, educadores e instituições interessadas. B) Público espontâneo (visitantes esporádicos, casuais e sem agendamento). No tocante ao público espontâneo, tanto o que foi ao Sesc para visitar à exposição, quanto aquele que apenas passava por ali, sem saber do que se tratava a proposta, buscamos valorizar a atividade de “deriva livre”, ou seja, oferecer o diálogo, estar à disposição, mas deixar os visitantes à vontade para fazer o próprio percurso, acompanhado ou não por algum arteeducador. Desta forma, as trocas entre visitantes e arte educadores se caracterizaram em diálogos autônomos e exercício de narrativas sobre a experiência compartilhada. C) Público frequente (moradores do entorno da unidade, em especial crianças que exercitam em seu cotidiano o Sesc Pq. Dom Pedro). Exercitando os saberes sobre o entorno e as relações fomentadas na exposição “São Vito”, foi possível conceber abordagens específicas para as crianças moradoras do entorno do Sesc Pq. Dom Pedro, pautando as atividades em acolhimento, processo educativo e pertencimento às iniciativas propostas.
Cartografias
Oficinas
Bomba de Semente
Em busca de um exercício de experimentação junto aos visitantes, a oficina de "bomba de semente" (pequenas circunferências de terra adubada com sementes) ofereceu aos participantes o contato com a terra, água, sementes variadas e com uma iniciativa de intervenção urbana que visa a proliferação de áreas verdes em espaços dominados pelo asfalto. Além disso, estabeleceu relações com algumas obras da exposição, em especial com o trabalho da artista Laura Gorski.
Em busca de estabelecer uma relação criativa e propositiva com os visitantes, fomentando saberes não urbanos de relação livre com a terra, criamos a oficina de tinta de terra, capaz de apresentar a diversidade do que chamamos de “terra”. Além disso, em esforço de aprofundamento pedagógico e poético, coletamos terra da nascente do Rio Tamanduateí, localizada na cidade de Mauá, na grande São Paulo, em busca de territorializar esse contato na margem do Tamanduateí, além de relacionar tal atividade com a obra Rio Paralelo, do (Se)Cura Humana.
Oficinas
Tinta de Terra
Oficinas
Pintura do lago do Rio Paralelo
Em busca de pertencimento e da materialização das contribuições dos visitantes da exposição, foram realizadas diversas seções de pintura da mureta do lago, com as tintas produzidas nas oficinas. Ao longo do período da exposição, a mureta foi sendo composta, amplificando as vozes e percepções de quem passou por lá.
Jogo com 60 palavras/conceitos impressos em imãs para serem afixados no verso dos carrinhos do educativo, dispostos no espaço expositivo. Palavras como Semente, agrotóxico, cura, lucro, propriedade privada, permacultura, semente terminator, dentre outras, convidavam à uma montagem conceitual e mutável a cada visitante/participante.
Jogos
Palavra-conceito
Jogos
Bingo Vegetal
Jogo de bingo apenas com imagens, em busca de “desurbanizar os imaginários” e apresentar saberes ancestrais, como propriedades medicinais, benefícios alimentares e reconhecimento de espécies vegetais. Em cada cartela do bingo, os jogadores marcavam suas imagens com sementes.
A Terra tem muitas variedades de cores e, mesmo em pequenos espaços, podemos encontrar diferentes tonalidades. A oficina propõe uma vivência de outras relações possíveis com a terra, inclusive no espaço urbano, contatando saberes ancestrais e possibilitando a produção de tinta de baixo custo. Com Vanilson Fifo Rosa e educativo da exposição Jardinalidades
Atividade Integrada
Oficina de tinta natural
Atividade Integrada
Paisagem em transformação: as várzeas do Rio Tamanduateí
Uma caminhada pelas várzeas do rio Tamanduateí pode ser também uma andança pela história da paisagem da cidade. Tendo como ponto de partida o Sesc Parque Dom Pedro II, o percurso segue das margens do rio Tamanduateí até a colina histórica. A partir de imagens de antigas pinturas, fotografias e mapas, os participantes entrarão em contato com realidades díspares, que pretendem abrir caminhos para repensar o passado, presente e futuro das nossas paisagens urbanas. Com Berta de Oliveira Melo, Caróu Oliveira e educativo da exposição Jardinalidades
Intervenção urbana que originou o Coletivo Mapa Xilográfico, a ação consiste em caminhar pela cidade em busca de vestígios de árvores cortadas, imprimindo-as como matrizes de xilogravura públicas e a céu aberto, em busca de outros tempos, memórias e territórios soterrados pelo asfalto, urbanismo rodoviarista e narrativas hegemônicas. Com Coletivo Mapa Xilográfico e educativo da exposição Jardinalidades
Atividade Integrada
Tronco-memória: impressões de tempo
Planta Baixa São Vito Em valorização ao processo vivido na exposição anterior, a “São Vito”, e também em reconhecimento territorial e das camadas de memórias e histórias locais, o educativo instalou no espaço expositivo a planta baixa de um dos apartamentos do edifício São Vito, localizado no terreno onde o Sesc Pq. Dom Pedro está situado. Em composição com a obra “Rocambólide” do Grupo Fora, a planta trouxe à tona reflexões acerca do processo de gentrificação que ocorre na região, afetando antigos moradores que enfrentam dificuldades de permanecerem em seus lugares de afeto e raízes. Tal ponte entre exposições possibilitou aprofundar relações com os moradores do entorno e contribuir com as reflexões sobre o urbanismo hegemônico na cidade, temática transversal da exposição Jardinalidades.
A equipe de arte educadores buscou pontes com as proposições das atividades integradas da exposição, propostas por coletivos e artistas, tanto na realização das propostas , quanto em sua manutenção. Por exemplo, as residências artísticas de Teresa Siewerdt e Laura Gorski, e a proposta de sementeiras coletivas apresentada e debatida em reunião de planejamento do educativo, a articulação na distribuição de bananeiras de Gustavo Caboco e a participação na atividade Plantar Palavra de Ana Beatriz Domingues, integrando sua proposta poética de escuta das plantas à ação de pintura com tinta de terra.
Atividade Integrada
Parcerias
Manutenção Visando uma prática coerente e ética com as proposições da exposição, o educativo buscou cuidar das vidas instaladas no espaço expositivo, alimentando uma relação de integração e reconhecimento dos ciclos naturais no espaço urbano: alimentamos os peixes do lago, medimos a temperatura da água, limpamos o sistema de bombeamento do lago, abrimos as tramas dos rocambólides, regamos as plantas diante de um mês de outubro bastante seco, buscamos terra adubada e matéria orgânica na composteira municipal situada no Parque Dom Pedro II, protegemos o solo das bananeiras com folhas secas, borrifamos água nas mudinhas da sementeira, enfim, corporificamos e vivenciamos uma relação cuidadosa com o espaço e com as proposições e reflexões lançadas em cada visita.
Sesc Pq. Dom Pedro Setembro a dezembro de 2019 www.mapaxilo.milharal.org mapaxilografico@gmail.com