Agradecimentos Aos moradores dos bairros de Santa Cecília, Jd. Pantanal, Marsilac, Perus e Tremembé. Natália e Rosana pelo companheirismo no trabalho. Maria Eugênia e Luiz Carlos pelo apoio. Daniel pelos corres com o vídeo. Danilo pelos registros fotográficos. Álvaro pelo apoio com os textos. À Paula Pê, Ana Paula, Marcelo, Flores, Daniela (Cia. na Corda Bamba de Teatro), Thais, Cristiane, Daniela, Luciano Costa - Coletivo Dolores, Denise, Eliane, Diego e Bárbara (Coletivo Parabelo) pela participação da intervenção em Santa Cecília. À Paula, Cristiane, Paulo, Paula Pê, Alessandra, Natália, Ana, Fatima, Coletivo Pi (Pamela, Natália e Priscila) pela participação na ação na antiga Fábrica de Cimento Portland Perus. Francisco, Adriane e Elisa pela participação na intervenção no Tremembé. Patrícia, Cristiano e Aline do Brasil de Fato. NUA, Hermes e Baixinho de União de Vila Nova pelo envolvimento. Diogo, Antônio e Baiano do Facão pelo acolhimento. Tales, Valdér e Wesley do Parque Curucutu pela acolhida e participação. Nelson pelo apoio em Perus e a impressão da revista. Elias pelas histórias de Perus.
Sobre o Coletivo Mapa Xilográfico Desde 2006, o Mapa Xilográfico desenvolve ações artísticas permeadas por questões da urbanização das grandes cidades. Em cada novo projeto, faz uma espécie de residência artística em um bairro ou região, convidando seus moradores para experiências de troca sobre a história da urbanização do lugar, filmagens de conversas para a construção de documentos audiovisuais, produção de xilogravuras e criação de intervenções urbanas. Em cada nova região, o grupo coloca-se à deriva em busca de aproximações com a paisagem, ritmos, pessoas, histórias, propondo novos territórios para a construção de um processo criativo diverso, provocado pelas circunstâncias de cada lugar.
Impressão de árvores cortadas. Técnica da Xilogravura. Parque Anhanguera, São Paulo, SP Junho de 2011
Marco da divisa entre São Paulo e Itanhaém
Projeto (À) Deriva Metrópole São Paulo Em 2011, a proposta foi percorrer a cidade de São Paulo partindo do centro e ramificando para suas extremidades, lugares de fronteira, divisas com outras cidades. Nosso percurso começou em Santa Cecília (centro), atravessando Jd. Pantanal (zona leste), Engenheiro Marsilac (zona sul), Perus (zona noroeste), terminando em Tremembé (zona norte). Como moradores da metrópole, buscávamos nessa perambulação um outro ritmo capaz de gerar novas possibilidades de encontros, para além da correria cotidiana da cidade e conseguir, através das trocas ao longo do trajeto, fomentar momentos de criação com os praticantes da cidade através da construção de mapas psicogeográficos das regiões habitadas.
À deriva - o mapa não é preciso.
Milene Valentir Ugliara *
À deriva, nem todos os ventos são bem vindos, só os mais lentos, que nos levem aos lugares mais incomuns, não muito visitados; ventos que soprem suavemente, para não nos confundirmos com a maré agitada da metrópole, pois nas aglomerações das grandes embarcações ferro, trilhos, rodas perdemos um pouco a linha do horizonte. Caminhantes à deriva. Os passos deram a dimensão da escala-mundo-olho-no-olho, vida-vida, carne-chão. Metrópole São Paulo, é preciso ser errante para entender sua construção. De errância em errância, sem rotas definidas, sem seguir placas, fomos do centro aos extremos, do miolo às fronteiras e descobrimos muitos centros, muitas cidades na cidade, muitos extremos no centro. A quem servem seus vasos comunicantes? A quem banha, a quem alimenta, a quem potencializa? Com certeza não é para grande parte de seus habitantes. Nas caminhadas pelo centro, senti cheiro de creolina misturado ao cheiro de gente. A ação do deter-gente. O embelezamento urbano acima de qualquer custo. Para isso, a ordem é esconder a pobreza da cidade, sem resolvê-la, enviando-a aos campos mais longínquos, fora dos olhares de passantes, para as beiras de rios, para as áreas de proteção ambiental lá essas gentes criam outras cidades até que sejam novamente deportados. Além da creolina, gente interessante, que joga dama na praça diariamente, que discute os problemas do bairro, que cria vida no caminhar, gente que mora na rua e que resiste e que tem história e que vence um dia por vez. Rumo ao pantanal paulistano, zona leste, o Jd. Pantanal, nome dado pelos moradores, na época da novela. Lá é tudo charco, também pudera, é várzea do rio Tietê. Para cada morador-marinheiro construir uma casa-barco, só mesmo a falta de opção. Não é nada romântico morar na beira do rio Tietê. Ainda mais quando chove e se vira o próprio rio. Casa-rio, família-rio, filhos-rio, comida-rio. Para construir cada casa teve que se aprender a fazer o semi-milagre de transformar água em terra e, às vezes, cama em barco. Sem falar na época dos grandes eventos, como a Copa do Mundo, que se resolve alagar mais a região para ver se o povo cansa de vez e deixa a área para mais “embelezamento”. Em Marsilac, zona sul, ninguém ouviu falar, é de que cidade? Desconhecido até um dia virar alvo de um novo condomínio à beira ou dentro da área de preservação, um mais novo velho empreendimento imobiliário para se “viver bem”. Por enquanto é muito mato, ar puro, pessoas vivendo em outra temporalidade, longas conversas no portão, todos se conhecem, as crianças com os pés na terra. Mas tem também o outro lado. É o bairro que convive com o tremor do trem, que antes parava lá pra passageiros, agora só soja, açúcar, rumo a Santos. Ninguém para em Marsilac. A pobreza e a violência se escondem no mato. A caminho de Perus, vizinho de Cajamar, depara-se com a história do revestimento da cidade pedra cimento, cimento, pedra. A fábrica de cimento Portland Perus já foi importante, ajudou a construir São Paulo, Brasília e outras gigantes. Agora ela é vazio, pó e resto de cimento. No dia a dia, moradores incansáveis se encontram em torno da velha Maria Fumaça, restaurada por eles, que volta a funcionar. E, bem próximo alí, uma aldeia Guarani que experimenta o serfronteira em suas diversas dimensões. Na última andança, Tremembé. A Serra da Cantareira abriga em suas matas os ocupantes sem lugar da cidade e os condomínios de luxo. Por lá o Rodoanel rodeia, expulsa famílias, modifica a região, avança em área de mata, cria mais um cartão postal pra cidade, gasta bilhões e maquia os problemas de fluxo de trânsito. Seus moradores se empenham em segurar esse trator. Nessa andança, sem rumo, experimentamos outra relação tempo/espaço no espaço urbano. Viajantes na própria cidade, nós, andarilhos paulistanos, fomos acolhidos pelos moradores dos diversos bairros nessa nossa travessia. Generosidade e companheirismo foi o que marcou essa passagem. Em cada canto pessoas, com seus sotaques, muitas histórias, seus modos de vida e seus espaços para o encontro. A cidade, tão grande, abriga a diferença com bastante indiferença. No olhar panorâmico São Paulo é uma grande mancha cinza que se alastra. No olhar rasteiro, é multicor, seus moradores dão, no dia a dia, seus matizes de resistência e vida. Nos caminhares mais lentos é possível ver tensão à urbanização que avança. *Integrante do Coletivo Mapa Xilográfico
Experimentos na cidade
Tábata Costa *
Em nossas derivas, em cada região que conhecemos somos tocados pelas circunstâncias, pelas pessoas e suas histórias. Quem se permite ser viajante cria aberturas que potencializam vivências. Quem se permite habitar, também. E então... há encontros. Provocados pela cidade, somos tentados a dar respostas tão absurdas quanto a suposta realidade. Nossa estratégia é estarmos atentos a esse processo para transformar os impulsos em ações artísticas também provocadoras, mas com ligação sensível ao seu contexto e seus habitantes. Nossa experiência com ações nas ruas nos mostrou que mais do que "intervir", é necessário estarmos dispostos a receber. E a lidar com riscos e imprevistos, sempre. Nas açôes artísticas, as interações e colaborações se deram de diversas formas, conforme o processo em cada região percorrida. A maioria das ações foram foi feitas em espaços públicos. As situações que pusemos em prática eram quase surrealistas: navegar com um barco pelas ruas; regar postes e carros; entoar mantras numa antiga fábrica de cimento; correr na esteira no meio de uma trilha no mato; fazer um carnaval em trajes de banho debaixo do Minhocão. E sempre com ironia ao sugerir reaproximações de universos que são separados à força: humano e natureza, urbano e rural, centro e periferia, passado e presente, espiritual e material, marginal e oficial, progresso e desenvolvimento humano. A intervenção "Os Jardineiros" (baseado em intervenção urbana realizada pelo extinto grupo Alerta!, do qual nós três fizemos parte há alguns anos) cultivava o mobiliário urbano e distribuía sementes inférteis aos motoristas. Feito em cruzamentos e vias de grande fluxo na região de Santa Cecília. O "Bloco do Caminhão Pipa", também na Santa Cecília, contou com a participação e co-criação de diversos artistas de teatro, performance, música e intervenção urbana, e participação espontânea de moradores de rua para fazer um carnaval na avenida que interagia com o "trio-elétrico" da Prefeitura: Guarda Municipal, Cata-Bagulho e caminhão pipa, que diariamente expulsa a população de rua com água de reúso. "O Barco” aconteceu de forma lúdica em dois bairros diferentes na região do Jd. Pantanal, e só pôde ser feita com a participação direta dos moradores. Gravamos seus depoimentos sobre a história de cada bairro em fones disponíveis no interior do barco. O veículo rodava pelas ruas levando principalmente crianças, enquanto os moradores contam como eram ou ainda são os alagamentos locais. Em Marsilac, o distrito mais distante do centro da capital, zona rural, fizemos a "Caminhada" sobre uma esteira ergométrica, dentro da reserva do Pq. Estadual da Serra do Mar, e também ao lado da linha do trem. Ação solitária em que cada um de nós performava um ser urbanóide que, em pleno ar livre, anda sem sair do lugar. Em Perus, fizemos um encontro na primeira fábrica de cimento que vingou no Brasil e produziu boa parte do cimento que ergueu os edifícios durante a rápida urbanização de São Paulo na primeira metade do séc. XX, a Portland Perus. O lugar, hoje abandonado, nos remete portanto às origens da metrópole. Pessoas de diversas regiões da cidade, experimentamos o espaço evocando ali forças que diferem da predadora tendência industrial de explorar e abandonar. "Fábrica" foram ações diversas unidas em outro tempo pelo ato coletivo de entoar mantras. "Concreto", a última ação deste projeto, foi o empilhamento de blocos de cimento tapando parte da paisagem panorâmica de uma praça do Tremembé, com participação de moradores locais. Um quebra-cabeça lúdico, construção inútil e efêmera, como tantas da cidade, afinal. Muros são erguidos, mas podem ser derrubados. Experimento a cidade Venho do interior, de vários lugares. Agora estou aqui, há alguns anos na metrópole. Assim como tantos caminhantes, sinto não pertencer a um só lugar. E caminho. Mesmo morando no centro expandido, às vezes sinto que São Paulo está longe. E nas derivas deste projeto encontramos muita gente que mora perto nos limites da cidade, Que quando vem pro "centro expandido" diz que vai "lá pra São Paulo". Derivamos para poder buscar o que está além da tal noção de metrópole, ou talvez o que está aquém. Metrópole é uma cidade que passou dos LIMITES? Ainda tento captar o que não tem cabimento. São Paulo não cabe em si. E por isso mesmo muitas derivas ainda são possíveis... *Integrante do Coletivo Mapa Xilográfico
Quem desconfiará dos robôs-noéis na Avenida Paulista?
Diogo Rios *
Luzes, câmeras de vigilância, ilusão: característica de um conceito urbanístico contemporâneo que tem sido implementado nas grandes metrópoles, inclusive em São Paulo. Fruto de um contexto histórico de esvaziamento da ideia de público, uma vez que a lógica do mercado tem invadido sistematicamente todas as esferas da existência, a disputa pelo espaço urbano, bem como por sua requalificação em busca de lucratividade, tem se caracterizado como uma alternativa para a expansão de mercados e a manutenção do crescimento econômico capitalista em um segmento vital para a manutenção do sistema: o imobiliário atrelado à prestação de serviços. O desdobramento deste nicho de mercado é o fundamento da concepção de cidade-espetáculo, ou seja, um espaço urbano cenográfico, com luzes indiretas, pontes imponentes e monumentais, verticalização espelhada, entretenimento pasteurizado, enfim, a construção de novas centralidades que mais se parecem com as cidades cenográficas televisivas ou os estúdios de um novo episódio do filme “O show de Truman”. Como uma espécie de película imagética concebida para as classes sociais privilegiadas e, consequentemente, com capacidade de consumo desta nova cidade posta à venda, as localidades escolhidas pelo capital ávido por um investimento lucrativo são objetos de intervenções urbanísticas costumeiramente chamadas de “revitalização”, afinal de contas, para a lógica do mercado, só tem vida quem consome, ou seja, pobres e indivíduos com outra prática da cidade que não seja a do consumo de todos os espaços não são bem-vindos, ao contrário, são expulsos. Essa tem sido a tônica da cidade de São Paulo: sutis deportações pela impossibilidade econômica de habitar determinado espaço objeto da especulação imobiliária; a truculência dos despejos daqueles que lutam pelo direito à cidade e que representam uma forma não espetacularizada de vida; as estratégias de violência sistêmica à população em situação de rua, que incomodam os sentidos dos investidores do cenário em construção, tendo sua humanidade desconfirmada com arquiteturas excludentes e um conjunto de políticas higienistas implementadas especificamente nos bairros que são de interesse do setor imobiliário. Obviamente, tais políticas impostas pelo Estado, mais especificamente pelo executivo municipal e estadual de São Paulo, não são gratuitas, caracterizam-se como uma parceria público-privada para a venda da dimensão pública da cidade de São Paulo aos investidores, em nada surpreendente, uma vez que vinte e nove vereadores da legislatura iniciada em 2008, além do prefeito eleito, terem recebido fartas doações para suas campanhas da Associação Imobiliária Brasileira, entidade que congrega importantes empresas do segmento. O resultado não poderia ser melhor aos investidores e mais violento à população: projeto Nova Luz, onde um bairro inteiro está sendo privatizado através da Lei de Concessão Urbanística, isto é, a gestão de um bairro entregue à lógica da lucratividade; a Vila Itororó, uma vila remanescente do começo do século passado, sempre destinada à moradia, que objeto de um projeto de construção de um centro gastronômico cultural está sendo alvo de desocupação, com estratégias perversas por parte do executivo municipal para confundir e iludir os moradores que tem o legítimo direito de ali permanecer; o destombamento de diversos imóveis espalhados pela cidade para a construção de torres de escritórios em seus terrenos; os grandes eventos internacionais, o ápice da espetacularização, como a Copa do Mundo de Futebol de 2014, capaz de manipular paixões nacionais produzidas midiaticamente e esconder os processos de exclusão que gerarão, como por exemplo, alagamentos planejados de comunidades nas margens do Tietê que visam a retirada forçada dessa população sem oferecer alternativa de moradia; o agenciamento sensorial planejado nos transportes coletivos da cidade, cada vez mais entulhados de discurso publicitário tradicional ou
audiovisual, colocando à venda no mercado todos os sentidos dos usuários em seu corrido cotidiano; os serviços de segurança terceirizados que significam um segmento de mercado muito rentável, uma vez que a segregação e a disparidade socioeconômica promovida pelo conceito de cidade espetáculo só aumentam a violência urbana e o medo, elemento extremamente manipulado na construção das justificativas opressivas de nosso tempo. Este é o projeto em curso na cidade de São Paulo, para além do noticiário com a ponte estaiada ao fundo, uma caricatura do contexto espetacularizado que vivemos. Mas a maior ameaça é acreditarmos no espírito natalino dos robôs-papais-noéis que tomam de assalto às ruas da Avenida Paulista em época de natal, pois deixaríamos o estatuto de cidadãos para o de produtos-coadjuvantes do espetáculo, ou seja, incorporaríamos a ética e a estética do mundo à venda em uma espécie de embrutecimento sensorial capaz de transformar a própria concepção de convivência em sociedade em espaço de serviços para a prática do consumo. *Integrante do Coletivo Mapa Xilográfico
Arquitetura da exclusão: Banco anti morador de rua Santa Cecília, São Paulo, SP. Outubro de 2011
Arquitetura da exclusão: Grade anti morador de rua Santa Cecília, São Paulo, SP. Outubro de 2011
SANTA CECÍLIA
O centro e a “revitalização”
Anderson Lopes Miranda *
Sou ex-morador de rua, mas morei 20 anos na rua, caí na rua com 14 anos de idade, sou órfão de pai e mãe. E não fui pra rua porque ela é bonita, eu fui jogado. Pela omissão do Estado e a violação de direitos. Vivi muito tempo na rua, sendo jogado, de lá pra cá. Fui de São Paulo a Bahia a pé, três meses de caminhada, depois voltei pra São Paulo de novo. Sou paulistano, nascido na Vila Mariana, não sou nordestino, infelizmente, porque acho que eles são mais comunitárias e amáveis do que aqui. Mas tem um grande preconceito dos governantes pelos nordestinos que moram em São Paulo. Do massacre em 2004 no centro de São Paulo, a higienização que acontece no final da gestão do PT e começo da gestão Serra/ Kassab, começa um genocídio, tivemos 16 companheiros da rua barbaramente agredidos, 7 no centro de São Paulo vieram a óbito. Tem uma grande máfia de políticos misturados com grandes comerciantes que mandam matar essa população. Depois disso, em 2004 criamos o Movimento Nacional da População de Rua, esse movimento nada é mais do que cobrar das políticas públicas, fazer de fato que essa população tenha direitos constitucionais. Esse movimento é pressão, que nem feijão, porque políticos só funcionam na pressão. A importância desse movimento é trazer visibilidade e romper com o preconceito, porque quem tá na rua não tá porque quer, ele foi jogado de alguma maneira, ele perdeu algum direito. E o que vem acontecendo nas nossas cidades, principalmente na área central, é a higienização, são jatos d'água, guardas municipais maus preparados, expulsão, principalmente aqui em São Paulo. A prefeitura gasta muito mais com água, com limpeza; nós não somos contra a limpeza, queremos uma cidade limpa, bonita, cheirosa, mas não a higienização de seres humanos, não a expulsão dessa população. Hoje temos mais de 20 mil pessoas em situação de rua só na cidade de São Paulo e no centro de são Paulo, onde a prefeitura começa a expulsar do centro e jogar na periferia. E agora também começa a “Revitalização do Centro”. O que é essa tal de revitalização? Revitalizar o que sem o ser humano? Sem a população? Sem contratar morador de rua, pedreiro, carpinteiro, marceneiro, para que ele possa ajudar a fazer a obra? Não. Também dizem que alí é um lugar chamado Cracolândia, se criminaliza um bairro onde se tiram os moradores, os comerciantes, os comerciários e os moradores de rua e se vende pro capital a preço de banana. Como está acontecendo no bairro da Santa Efigênia, da Luz, da Santa Cecília, etc. A prefeitura vem tratando de uma forma preconceituosa, truculenta. Ela não coloca primeiro políticas públicas, ela coloca guarda e polícia militar, primeiro vem a repressão, depois, bem aos pouquinhos, ela começa a ofertar políticas públicas. Além disso, nas ruas a Prefeitura faz uma ação higienista, não é de higiene, não, é de limpar, de expulsar seres humanos. Primeiro joga água, depois vem o “cata bagulho” recolhendo tudo, e se o cara não deixar vem a polícia descendo o cacete. Isso acontece a toda hora. Isso está sendo discutido e denunciado, porque população de rua não é caso de policia e sim omissão do poder publico. Todo cidadão tem o direito de ir e vir e, principalmente quando ele está na rua, à noite ele tem o direito de ficar, porque ele não tem casa. Qual o outro espaço que existe além de viadutos e marquises? E tem também a arquitetura da exclusão, que existe de fato, e a gente pede para os arquitetos e urbanistas que não deixem que isso aconteça, porque quem faz a cidade são eles. Mas nós das ruas rompemos com a arquitetura da exclusão, quando se bota pedra a gente bota uma palafita e deita em cima das pedras. A gente sabe que pra pobreza não tem invisibilidade e quando o prefeito tenta esconder a gente mostra o que existe. Então a gente é contra isso, é rampa, pedra, bancos que colocam chuveirinhos, é graxa, é banco ondulado que não deixa a pessoa sentar. É uma gestão ”in-democrática”,”im-participativa”, que não deixa os movimentos dialogarem. *Integrante do Movimento Nacional da população de Rua
Impressão de árvores cortadas. Técnica da Xilogravura. Santa Cecília, São Paulo, SP Fevereiro de 2011
Recurso Natural Não Renovável
Asfalto - Asphaltus Componente Principal: Betume - extraído do petróleo destilado
Os Jardineiros Santa Cecília, São Paulo, SP Fevereiro de 2011 Intervenção em que dois jardineiros regaram o infértil e distribuíram sementes urbanas como pó de cimento, asfalto, e componentes eletrônicos. .
Mantenha Fora do Alcance Das Crianças.
Sementes Impróprias para a Alimentação.
Maiores informações:www.mapaxilografico.tk
Sementes
Bloco do Caminhão Pipa Santa Cecília, São Paulo, SP Abril de 2011 Experimento coletivo no qual um bloco de banhistas carnavalizaram a ação da prefeitura que expulsa moradores diariamente com jatos d'agua em nome da pseudo limpeza urbana.
JARDIM PANTANAL
Histórico de uma ocupação Maria Zélia Souza Andrade * Toda ocupação acontece por necessidade. Uma pessoa ou um grupo vai morar em um determinado lugar e aos poucos vão formando uma vila, bairro, cidade, estado e país. Na região da várzea do Tietê não foi diferente. Vale lembrar que a ocupação da região foi iniciada pelos bandeirantes, que de tanto navegarem pelo rio Tietê, construíram no século XVII um local para descansarem: a chácara Biacica, considerada e tombada pela UNESCO como patrimônio da humanidade. Curiosamente, hoje a chácara está semiabandonada, com uma base da polícia militar cuidando do patrimônio. Com os passar dos anos, as pessoas foram construindo suas moradias na região por falta de alternativas habitacionais. Hoje existem vilas e bairros construídos pelas mãos dos primeiros moradores que, com muita dificuldade, coragem e luta, conquistaram algumas melhorias na infraestrutura. Assim contam os antigos moradores da região do Pantanal, várzea do rio Tietê, desde o Ermelino Matarazzo ao Jd. Romano. Sou Maria Zélia Souza Andrade, moradora da região há 22 anos. Pude acompanhar os últimos capítulos desta história e não gostei da experiência pela qual passei e ainda passo. E não sou a única que está nesse processo, mas milhares de pessoas que lutam para terem a sua casinha para morar com suas famílias, mas os governos do estado e do município de São Paulo não atentam para isso, e sim para outros interesses. Por conta de uma Copa do Mundo que acontecerá em 2014, foi publicada em 2007 uma cartilha em escolas da região cujo título era: “construir na várzea do Tietê é crime”. O resultado foram crianças apavoradas achando que os pais eram criminosos e seriam presos. Ao denunciarmos o ocorrido para o responsável pela cartilha, tentaram retirar de circulação. Antes disso já ocorriam ataques à comunidade onde o estado e município derrubaram casas e apreendiam materiais de construção, mas esse era só o começo do drama dos moradores. No final de 2009, em uma audiência na Assembléia Legislativa de São Paulo, a então secretária de saneamento e energia do governo José Serra, Dilma Pena, afirmou que da Barragem da Penha para cima poderia alagar, da Penha para baixo não. Ou seja, as avenidas nas marginais do rio não poderiam ser atingidas pelos alagamentos, já a população para cima da barragem não receberia o mesmo cuidado. Em outra ocasião, no mesmo ano, prefeitura e estado chamaram os moradores para uma reunião na subprefeitura de São Miguel Paulista e queriam que os representantes das comunidades colaborassem para o cadastramento dos moradores da região. Como queriam apenas o cadastro, sem nenhum plano de habitação para a população, nenhuma liderança apoiou a iniciativa, uma vez que defendemos que as pessoas que moram muito próximas do rio, colocando suas vidas Cartilha da prefeitura - 2007 em risco, sejam contempladas com um projeto habitacional que as realoque em moradias no próprio bairro, para que não percam seus vínculos familiares, de amizade, escolares e de trabalho, além do que consideramos a região boa para a moradia, perto de mercados, bancos, escolas, creches, transporte e etc. Além disto, lutamos para que o Estado apoie os moradores, garantindo crédito para as pessoas reformarem e construírem suas casas, e invista na infraestrutura como esgoto, água, iluminação, esporte e lazer com taxas acessíveis à população. Infelizmente, para estado e município, os moradores da região são miseráveis que não merecem respeito aos seus direitos. No final de 2009, de maneira planejada, fecharam as comportas da Barragem da Penha,
alagando a região. Famílias inteiras ficaram desesperadas, sem ter pra onde ir com suas casas debaixo d'água. Muitos foram alojados em escolas, outros em casas de parentes e amigos. Famílias inteiras se separaram. Neste momento, aproveitaram o desespero das pessoas e dispensaram os representantes para executar os cadastros. Eles mesmos iniciaram o cadastramento dos moradores diante das famílias fragilizadas, bastando alegar que estavam sem casa. Ofereciam em troca do cadastro R$ 2.000,00 reais, sendo R$ 200,00 para a mudança e R$1.800,00 para o aluguel de outro imóvel. Neste período, muitas pessoas perderam suas casas que, apontadas como de outras pessoas no cadastramento, foram demolidas sem que a família tivesse qualquer alternativa de moradia. Um ano depois, em 23 de janeiro de 2011, sem conseguirmos todos os objetivos, mas ainda com algumas regiões alagadas desde o ano anterior, presenciamos a grande enchente. Curiosamente, era um domingo, véspera de feriado, e os órgãos públicos não funcionavam. Nunca tinha visto coisa tão triste. Onde existiam ruas surgiram canais com peixes, ratos, cobras e insetos. Nessa altura não se sabia o que era água de enchente e esgoto, pois a SABESP não trata a água dessa região, apesar de cobrar pelos serviços. As pessoas andavam naquela água contaminada para não morrerem afogadas e recuperarem alguns pertences. Não tivemos assistência médica (psicólogos, ginecologistas, cardiologistas, dermatologistas, etc). Muitos ficaram doentes, pegaram leptospirose e outros morreram. Mas seus laudos foram negados pelas autoridades, impedindo a sua divulgação. Muitos perderam suas casas com a falsa promessa de que iriam para apartamentos. Já se passaram dois anos e nenhum apartamento foi construído nas 9 áreas de interesse social que foram destacadas para isso. O subprefeito inclusive já avisou que se chover agora, no final de 2011, vai ter enchente de novo. Tenho muita preocupação com o projeto do parque linear que querem construir de Ermelino Matarazzo até Salesópolis, a nascente do Tietê, por conta da Copa de 2014, pois podem transformar toda essa área assim como foi feito da barragem da Penha para baixo, transformando tudo em esgoto a céu aberto. Nessa área, da Penha para cima tem muita vegetação nativa e animais, como jacarés, capivara, patos, etc. Além das lagoas ao lado do rio. É importante destacar uma diferença: nós, moradores da região, ocupamos por necessidade, enquanto outros interesses que constroem na margem do rio visam grandes lucros, através de megaobras e especulação imobiliária.
*Moradora da região do Pantanal
Rua Erva do Sereno, Jardim Pantanal
União de Vila Nova
O Barco Jd Pantanal, São Paulo, SP Abril de 2011 Construído com sucatas da região, o barco circulou pelo bairro levando os moradores a um passeio. No percurso, tripulantes poderiam ouvir, em fones de ouvido, as histórias de diversos moradores que viveram ou vivem as grandes enchentes no local. Além disso, alguns moradores entravam no barco para dar seu depoimento ao vivo.
Construção do barco em União de Vila Nova
Impressão no topo de troncos cortados Tekoa piau - Aldeia Guarani Jaraguá São Paulo SP julho de 2011 Aldeia Guarani, situada em plena metrópole, margeada em um de seus limites pela Rodovia dos Bandeirantes e, no outro, pelo parque do Jaraguá. Através de nosso interesse pela questão indígena na cidade nos aproximamos de Werá Mirin, coordenador do Centro de Educação e Cultura Indígena - Ceci Jaraguá, que apresentou um panorama da história de sua aldeia, seus conflitos e dificuldades por morarem na cidade de São Paulo. Durante esse diálogo, gravamos uma conversa e realizamos uma atividade com as crianças da aldeia.
MARSILAC
Marsilac: Última estação A partir de entrevista com Maria Lúcia Cirilo * O bairro de Engº Marsilac está localizado no distrito de Marsilac, na extrema zona sul de São Paulo. Essa é uma região histórica. A ocupação aqui começou junto com a colonização. Segundo o livro de Edmundo Zenha 'A Vila de Santo Amaro', aqui já tinha ocupação em 1639. As povoações iam surgindo às margens da Estrada da Conceição de Itanhaém com indígenas,
colonizadores e negros que os
acompanhavam. Essa estrada era o caminho por onde vinham os jesuítas para chegar ao planalto, e passa por dentro de onde hoje é a reserva do Núcleo Curucutu do Pq. Estadual da Serra do Mar. O bairro teve sua origem a partir do parcelamento do sítio Manoel da Silva, propriedade da família do Sr. Manoel da Silva, descendente de índios e negros, que é o morador mais antigo daqui de que temos conhecimento. Hoje ele estaria com mais de 150 anos. Ele vivia com sua família na área que abrangia desde o Bairro do Quinze até a região onde hoje se localiza Engº Marsilac e arredores, segundo informações fornecidas por sua neta, a Sra. Augusta Rodrigues dos Santos, hoje já falecida. Quando o governo estava dando terras aos imigrantes, o Sr. Manoel da Silva foi orientado a requerer o registro de suas terras. Isso feito, passou a vender pedaços das mesmas às pessoas que vieram trabalhar na construção da ferrovia e acabaram fixando-se na região. A construção do trecho Mairinque-Santos da Estrada de Ferro Sorocabana, que atravessa a região, iniciouse na década de 20. Seu traçado cortou as terras do Sr. Manoel. Aqui no bairro passou no meio de sua casa, bem no local onde havia uma jabuticabeira. Em julho de 1938 o presidente Getúlio Vargas veio inaugurar a ferrovia e deu o nome de Engº Marsilac para essa que era a parada P16 (que fazia parte do sítio Manoel da Silva). É provável que nessa época o Sr. Manoel já houvesse falecido. Anos depois sua família pagou o advogado Dr. João Prado com um sítio na região do entorno do Rio Capivari em Marsilac para que o mesmo fizesse o inventário de suas terras (pagar com terras era prática comum na região). Ele conseguiu a formal de partilha de bens para os herdeiros. Essa região da APA (Área de Preservação Ambiental) Capivari-Monos, onde se encontra o bairro de Engº Marsilac, é estratégica pra sobrevivência da capital. Na década de 50 aqui praticamente não tinha árvores, foram derrubadas para a produção do carvão e do gasogênio, que era o combustível na época. Depois, com o advento da Petrobrás, o carvão cai em desuso. Aqui na mata fizeram algumas tentativas de reflorestamento com o pinus. Se a região for desmatada novamente, a temperatura da capital sobe de 4 a 5 graus. Sem contar a qualidade do ar, a umidade, e tudo o mais. Portanto é uma região que deve ser respeitada pela sua importância.
* Moradora de Engenheiro Marsilac
Oficina Aberta de Xilogravura Vila em Marsilac Maio de 2011 Produção de Xilogravura no espaço público com moradores do bairro. A criação resultou em interferências nos postes da Vila.
Caminhada Marsilac, São Paulo, SP Maio de 2011 Em uma ação de auto-ironia, o experimento performático trouxe como proposição fazer exercícios na esteira ergométrica, em lugares como nascentes de rios, trilhas na mata ou à beira da ferrovia.
PERUS
O bairro dos minérios Elias Aoun * A partir de depoimento do Sr. Elias Aoun e de trechos de seu livro "Lembranças de Perus, o bairro dos minérios".
No começo do séc. XX o bairro era pequeno, uma vida praticamente rural. Nessa época a vida financeira do bairro girava em torno disso, haviam várias pedreiras já que o subsolo da região é rico em vários minérios. Lá havia feldspato (pedra para fabricação de louça e porcelana), granito (pedra para fabricação de paralelepípedos) e caulim (tipo de argila branca usada na indústria paulista na fabricação de papel, porcelana, comprimidos, sabonete etc). Antes de Perus, Santo Amaro, São Caetano e São Bernardo foram os primeiros produtores da pedra que calçaram São Paulo antiga. A cidade tinha muito barro, ruas muito poeirentas e no calçamento eram usadas lajotas ao estilo do Brasil Colônia. Eram pedras de corte bruto, formavam uma superfície irregular. Em Perus, com a influência dos europeus, principalmente dos italianos que imigraram para o local, passou-se a cortar as pedras em paralelepípedos. Foi quando Perus começou a vender muitas pedras, o que colaborou para o crescimento do bairro. E o calçamento de São Paulo passou a ficar mais liso e vistoso. Era o início ferrovia e através dela as pedras eram levadas para os calçamentos da cidade. Paralelamente a isso, o caulim foi descoberto no bairro acidentalmente por um senhor italiano ao observar um pó branco no formigueiro, enquanto trabalhava em sua propriedade em que cultivava a terra. Passou a explorar o material, e depois disso outras jazidas de caulim foram descobertas e passaram a ser exploradas em Perus. Depois em Cajamar e Caieiras, passou a ser explorado o calcário para produzir o cal virgem usado em construções. A cidade estava passando por um embelezamento nas ruas e avenidas, e o cal passou a ser necessário. Na região próxima existem grandes concentrações de calcário. Nessa época em Cajamar (que era chamada Gato Preto), já havia extração das pedras e fabricação do cal. O material seria transportado até Perus e de lá para São Paulo pela ferrovia São Paulo Railway. Com a fundação de uma empresa de maior porte, a produção de cal aumentou, e veio a demanda de agilizar seu transporte entre Gato Preto e Perus. Então a nova empresa recebeu licença do governador da época para a construção de uma ferrovia, com a justificativa de que partiria de Perus transportando religiosos para o santuário de Pirapora. Estabeleceu-se a Companhia Industrial da Estrada de Ferro Perus Pirapora. Mas a obra nunca chegou em seu destino. Dez anos depois, a empresa foi dividida em duas, uma voltada para a exploração do calcário e outra com a finalidade de operar a ferrovia (Estrada de Ferro Perus Pirapora). Uma empresa canadense aliada a essas duas empresas inaugurou a Cia. Brasileira de Cimento Portland. E em 1926 começou a ser produzido o primeiro cimento nacional. Ele foi fornecido para as construções durante o rápido crescimento de São Paulo e também na construção de Brasília. Indiscutivelmente a fábrica foi um marco na vida de Perus. Aumentou o número de moradores, ia para lá trabalhar gente de muitos lugares do Brasil e depois imigrantes europeus. A empresa construiu casas e conjuntos de quartos para seus funcionários, mas sempre havia falta. Começou a crescer a procura por moradia, e daí vieram os primeiros loteamentos em Perus. * morador de Perus
Perus - Pirapora Nelson Camargo * A Estrada de Ferro Perus Pirapora teve sua fundação em 1910 e foi inaugurada em 1914 com a intenção de transportar pessoas e romeiros até a cidade de Bom Jesus de Pirapora, construída em bitola reduzida (0,60). Por ser mais econômica e permitir curvas com menor raio, ela nunca chegou ao seu destino, apesar de que a lei da época exigia que uma ferrovia só pudesse ser autorizada se seu objetivo principal fosse o transporte de passageiros. Segundo a história local o verdadeiro foco era o transporte de cal das pedreiras de calcário de Cajamar para a estação Perus da antiga SPR (São Paulo Railway). Descobriu-se depois pelos canadenses que o calcário era de excelente qualidade e que seu melhor uso seria a fabricação de cimento, e em 1926 foi inaugurada a primeira fábrica de cimento portland que deu certo na América Latina. A ferrovia passou a ser somente industrial, mesmo assim era mantido um trem para o transporte de passageiros de Perus a Cajamar e vice-versa. Desativada com o fechamento da Fábrica de Cimento Portland Perus em 1983, a Perus Pirapora ficou abandonada por mais de 20 anos. No ano de 2000 foi dada em concessão pelos proprietários, para o Instituto de Ferrovia e Preservação do Patrimônio Cultural, que tem como “fiscal” o Condephaat, a fim de promover a restauração e exploração turística. Esse trabalho ainda continua com grande esforço da diretoria. A volta da Estrada de Ferro Perus Pirapora aos trilhos vai gerar empregos, novas atividades de lazer, um novo ponto turístico para a cidade de São Paulo e mais um foco de renda para a periferia. A Perus Pirapora tem em seu acervo vagões, carros de passageiros e uma variedade de locomotivas oriundas de outras ferrovias já extintas, o que a torna a torna uma raridade perante a opinião de admiradores. Além de se tornar um ponto turístico, a ferrovia é um verdadeiro museu dinâmico arqueológico industrial vivo, de grande interesse para a população, principalmente no que se refere à recuperação ambiental, incluindo a calha do rio Juqueri. Tal iniciativa irá colaborar para um rápido desenvolvimento do ecoturismo na periferia dos municípios de São Paulo, Caieiras, Santana de Parnaíba e Cajamar. * Morador de Perus
Locomotiva Maria Fumaça restaurada.
Fábrica Perus, São Paulo, SP Agosto de 2011 A Fábrica de cimento Portland Perus, que um dia foi de grande importância para o cenário desenvolvimentista da cidade, agora abandonada, foi espaço de diversas experimentações corporais, permeada por uma ação coletiva de entoar mantras.
TREMEMBÉ
Qual desenvolvimento ? Francisco Florentino de Souza Filho * A minha história no Jardim Corisco começou em fevereiro de 2007, através de um vizinho dos meus pais, que era parente do presidente da Sociedade Organizadora Jardim Joana D´Arc, que havia adquirido em 2006 uma chácara na Rua Kotinda pertencente a uma família de japoneses da região. E defronte à EMEF Cel. Hélio Franco Chaves deu origem a um loteamento com 55 lotes, após ter ido ao cartório e à subprefeitura do Jaçanã/Tremembé, para verificar se havia algum problema ou irregularidade com o loteamento comprei o lote 28 da quadra A. Após um ano da compra começaram os problemas com o incorporador do loteamento por falta de pagamentos ao proprietário. Isso era só o começo, onde a ganância por dinheiro fez com que os incorporadores se envolvessem em outros empreendimentos de forma irregular próximo ao Jd. das Pedras às margens da Av. Cel. Sezefredo Fagundes, desmatando área florestal. Vimos desta forma nossos sonhos e projetos começarem a desmoronar, porque com os empreendimentos veio o fechamento da incorporadora pelo Ministério Público, inclusive com a prisão de alguns membros de sua estrutura organizacional, sendo que nesta época ficamos sabendo que o nosso loteamento não estava registrado na prefeitura e que estávamos irregulares no local, em situação precária e improvisada de infraestrutura, água e luz clandestina, sem rede de esgoto, telefone e asfalto, vítimas da falta de organização do poder público em fiscalizar e fazer cumprir a lei de uso e ocupação de solo. O ano de 2000 para mim foi marcante. Com a minha ida para região, somei esforços com o pequeno grupo de moradores (cinco famílias) em busca de melhorias para o local. Não foi em vão tanto esforço deste pequeno grupo para conscientizar a coletividade de que valia a pena lutar por nossos sonhos e acreditar que era possível mudar a situação, confesso que deu vontade de largar tudo, porém fomos adiante e conseguimos chegar ao ano de 2004 com a água, a luz e a rede de telefonia implantada de forma oficial pelas concessionárias, trazendo um ganho de qualidade de vida para as pessoas do local. Com a união de algumas pessoas conseguimos convencer uma parte dos moradores a custear a concretagem de metade da R. Domingos Marcelino Pereira e a construção de um muro no final da rua, melhorando assim o aspecto de parte do loteamento. Porém ainda faltava muito: a documentação, a iluminação pública e o asfalto. Em maio de 2005 consegui, com apoio de um colega vereador, incluir a minha rua no PPUC (Programa de Pavimentação Urbana Comunitária) da Subprefeitura do Jaçanã/Tremembé, este programa funcionava da seguinte forma: os moradores pagavam os custos de guias e sarjetas e a base para o asfalto e a prefeitura custeava apenas o asfalto e os equipamentos e maquinários. Juntamente com dois moradores entrei com uma ação de usucapião contra os proprietários da área, para tentar regularizar a nossa posse, já que havíamos sido abandonados por eles e pelos incorporadores. Depois de muitas reuniões com os moradores e subprefeitura chegamos ao mês de janeiro de 2007 com o asfalto e a iluminação pública implantados no loteamento e no mês de julho de 2009 saiu a primeira das três escrituras. A minha é apenas uma das diversas histórias existentes no bairro. Hoje quando reflito sobre a região e tento juntar os relatos o quadro que se desenha na minha mente é de uma urbanização desorganizada, motivada por interesses de pessoas que usavam de suas influências para neutralizar o poder público que devia fiscalizar e coibir a ação de pessoas que agiam como grileiros de terra e que agrediam assim o meio ambiente e as pessoas que eram vítimas de suas ações. Isso tudo foi apenas o laboratório para algo ainda maior que estava por vir. Em setembro de 2010 recebemos a notícia da publicação do edital do processo de licenciamento do Rodoanel Mário Covas tendo como objeto o trecho norte, que literalmente passaria por cima de nós e mais uma vez tive que buscar a união de esforços com a comunidade, a fim de entender o processo e buscar os caminhos de trabalho para tentar impedir o projeto e garantir a dignidade que as pessoas haviam conseguido ao logo de décadas de esforços, já que existem pessoas que moram na região há mais de 40 anos: imigrantes portugueses e japoneses que ainda vivem da agricultura inclusive com exportação de produtos.
A notícia do traçado proposto pelo projeto do rodoanel vem como uma “bomba” destruindo a estrutura familiar no seu percurso e toda cadeia socioeconômica montada na região, as coisas vão acontecendo sem que as autoridades se sensibilizem com a dor alheia. São crianças que não sabem mais onde irão estudar ou morar, pais que já não sabem mais onde buscar esperança ou uma solução para o drama que se aproxima, porque sempre foram vítimas de pessoas inescrupulosas que os enganaram. E agora o governo, que deveria prover sustentabilidade e desenvolvimento com qualidade de vida, vem dar o golpe de misericórdia. Seus emissários, verdadeiros lobos em pele de cordeiro, representados na figura da DERSA, que se mostram dóceis e nunca sabem responder a um único questionamento da população de forma objetiva e clara, mas sempre tem uma proposta fantasiosa de projetos que ainda nem saíram do papel e colocam o pobre cidadão na beira do abismo como se o “inferno” fosse o limite da sua esperança e guardião dos direitos alheios espera a ordem para lançá-lo ao seu destino. É triste e ao mesmo tempo edificante a situação. Presenciamos com pesar a morte de uma das moradoras do bairro vítima de infarto, motivado pelas questões do rodoanel, e outros que passaram a ter problemas de pressão e insônia. Os idealizadores do projeto fizeram algum estudo de impacto social, prevendo este tipo de ocorrência? Não me lembro de nada sobre isso nas mais de 1200 páginas que compõem o EIA/RIMA (Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental), mas vimos os familiares destas pessoas que nunca irão apareceram nas estatísticas da DERSA ou do Governo, se fortalecerem e buscarem forças junto a outros moradores de bairros vizinhos para tentar mudar o destino de suas famílias e da região. Em um bairro que cresceu de forma desordenada e sem planejamento é até compreensivo, mas os problemas de urbanização e as dificuldades a serem superadas não são aceitáveis. O rodoanel mesmo sendo um mau exemplo de planejamento e de obra insustentável do ponto de vista ambiental como foi apresentado nos diversos debates sobre o tema, veio cumprir a sua parte neste desenvolvimento, ascendendo as discussões sobre a sustentabilidade e a preservação ambiental, o que para muitos eram até novidades temas como serviços ambientais, BIOSFERA e CINTURÃO VERDE. Vejo que isso é uma das poucas coisa que o rodoanel trouxe de bom a comunidade, a oportunidade de aprender e exercitar a cidadania por alguns instantes permitindo que as pessoas saíssem do seu egocentrismo para olhar além das barreiras impostas pelo projeto. O ganho social foi enorme, porque isso ajudará essas pessoas a pensarem em uma sociedade mais justa e equilibrada. As forças por trás do projeto são gigantes, sejam elas políticas, imobiliárias ou rodoviárias que, na ânsia de gastar 5,5 bilhões de reais, não conseguem perceber e aceitar outras alternativas, que impactem menos o meio ambiente e a sociedade, tendo como desculpa o fluxo de caminhões e os congestionamentos vividos na cidade. Não precisamos ser especialistas para ver que a proibição imposta pela liberação do trecho sul não melhorou o trânsito da Marginal Pinheiros e da mesma forma vai desafogar o trânsito na Tietê. É preciso investir em transporte público de qualidade, ampliação das linhas de trens e metrôs, repensar a logística da linhas de ônibus em função das outras modalidade para encurtar os percursos e assim diminuir o tempo de viagem e o custo do transporte para a população. Também não devemos deixar de lado a criação de novas ciclovias como meio de transporte e de revitalização da saúde pública como prática de esportes, criação de parques e de ecoturismo que atualmente não é explorado. Já passou da hora dos nossos “líderes” repensarem o modelo de gestão e funcionalidade da cidade de São Paulo. Ela tem que ser pensada de forma contínua 24 horas, para continuar crescendo e gerando uma economia forte, e para isso é imprescindível o investimento em segurança e educação. Se pensarmos na necessidade da cidade de forma sustentável veremos que a nossa necessidade é outra e não mais uma pista para veículos. Quantos projetos de saneamento básico, criação de escolas e postos de atendimento médico seriam atendidos com esse dinheiro que hoje se encontram parados com a desculpa de falta de verba ou licitação? O Jardim Corisco fica na periferia no extremo norte da cidade e juntamente com o Vila Rica, bairro vizinho e outros amigos, lutamos muito para conseguir salvar a EMEF Cel. Hélio Franco Chaves, a Capela das Três Cruzes, metade da Vila Rica. Lutamos também para conscientizar as pessoas a se organizarem, mostrando que a cidade precisa se desenvolver, sim, mas com sustentabilidade. Cada vez mais o cidadão tem que estar integrado e participando das decisões de grandes projetos que envolvem a coletividade. Temos o direito de não querer o rodoanel que será uma chaga constante na comunidade gerando poluição com emissão de gases e ruídos, trazendo danos à saúde publica de quem nem sequer foi alvo de estudo no projeto. Queremos continuar dormindo com a nossa consciência tranquila e acordar pela manhã com os pássaros cantando para ir trabalhar e fazer essa cidade continuar a crescer. * Morador do Tremembé
Concreto Tremembé, São Paulo, SP Setembro de 2011 Jogo de montar muros com blocos de cimento: esconder horizontes, restringir paisagens, transformar ambientes. A intervenção contou com participação de moradores do bairro.
N達o poder orientar-se em uma cidade n達o significa grande coisa. Mas se perder em uma cidade como quem se perde em uma floresta requer toda uma educa巽達o. Walter Benjamin
Gravura Pça. Marechal Deodoro Santa Cecília- São Paulo -SP
Ficha Técnica Realização, produção, ações artísticas, diagramação e revisão Coletivo Mapa Xilográfico: Diga Rios Milene Valentir Tábata Costa Participação especial Natália Obeid Rosana Cognolato Fotografia Coletivo Mapa Xilográfico Colaboração: Danilo Dantas Moradores participantes Jd. Pantanal e União de Vila Nova Aldenir da Silva Bola Celma Maria da Silva Cícera da Silva Pires Davi Almeida Barreto Hermes de Souza Iolanda Lopes de Souza Lúcia Maria Almeida Leão Maria de Lourdes Conceição Ricardo Maria Zélia Souza Andrade Neide Marques Santos de Morais Nivaldo José dos Santos Baixinho Ondina Ramos Pereira Santa Cecília Anderson Lopes Miranda Donizete Edson Fábio Rodrigues Joel Porto Jogadores de dama do Lgo. Santa Cecília Mario Belili Paulo Raquel da Cruz Lima Anderson Lobo da Fonseca Alcyr Barbin Neto Sr. Toninho Tina Galvão Perus Elias Aoum Nelson Aparecido Bueno de Camargo Paulo Rodrigues dos Santos Werá Mirim Aldeia Guarani - Tekoa Pyau Marsilac Domingos Carlos Berteli Maria Isabel Alonso Maria Lúcia Cirilo Narciso Pires
Realização:
Tremembé Adriane Matos Apparecida Inglês Costa Assumpta Tornelli Santana Carmella Inglês Marino Elisa Puterman Francisco Florentino de Souza Filho Henrique Ribeiro do Prado Kátia Santos de Matos Cesar Lucia Tornelli Martinez Maria Cristina Ielo Belo Maria Nilda Soares Sirlene Sousa Pereira Zilda Tornelli Ferreira Participaram e colaboraram nas ações artísticas: Intervenção "Os jardineiros, em Santa Cecília Ana Paula Tomimori Natália Obeid Intervenção "Bloco do Caminhão Pipa", em Santa Cecília Ana Paula Tomimori Ângelo Flores Coletivo Parabelo: Denise Rachel, Eliane Andrade, Diego Marques, Barbara Kanashiro Cristiane Gurgel Daniela - Cia. na Corda bamba de Teatro Daniela Hernandez Luciano Costa - Coletivo Dolores Marcelo Ferreira Thais Bessa Intervenção "O Barco", no Jd. Pantanal e União de Vila Nova Felipe Henrique Hermes de Souza Maria Zélia Souza Andrade Nivaldo José dos Santos - Baixinho Experimento performático "Caminhada", em Marsilac Wesley Pereira Soares Experimento coletivo "Fábrica", em Perus Alessandra Santana Ana Maria Angelo Corrêa Coletivo Pi: Pâmella Cruz, Natalia Vianna, Priscilla Toscano Cristiane Gurgel Fatima Spiecker Natalia Obeid Paula Kirstus Paula Turra Paulo Maia Experimento coletivo "Concreto", no Tremembé Adriane Matos Elisa Puterman Francisco Florentino de Souza Filho