SUSTENTABILIDADE
Editorial Nina Spinardi
No livro Bikenomics, How bicycling can save the economy – em português “Como andar de bicicleta pode salvar a economia” – de autoria de Eleanor Blue, ciclovista e blogueira americana, Blue mostra como o uso da bicicleta pode solucionar não só problemas ambientais como também problemas sociais e econômicos tanto da cidade quanto dos próprios habitantes e, lógico, da saúde da população. S egundo Blue, o incentivo ao uso da bicicleta é tão benéfico para a sociedade que países como Inglaterra e França investem um bom dinheiro em campanhas de incentivo ao uso e chegam a retribuir com bônus financeiros aos que se dispõem a deixarem seus carros em casa e saírem pedalando. raciocínio é simples – com mais ciclistas e O menos carros nas ruas, as despesas do governo com o trânsito são menores, pois as internações hospitalares por acidente e a perda de vidas economicamente ativas diminuem. Além disso, há uma diminuição dos gastos do governo com doenças causadas pela poluição atmosférica e uma melhora indiscutível para a saúde de todos.
Ficha Técnica:
Índice:
Edição: Marlon Carrero Diego Neves Nina Spinardi Caroline Vilardo
Automóveis versus Sustentabilidade ........... p. 4 Bicicletas e Sociedade ................................... p. 8 A Evolução da Bicicleta ................................. p. 10
Reportagem: Maria Geralda de Miranda Nina Spinardi Caroline Vilardo Marlon Carrero Diego Neves Imagens: Diego Neves Marlon Carrero Nina Spinardi Caroline Vilardo
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AUTOMÓVEIS
vs SUSTENTABILIDADE
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Maria Geralda de Miranda
ongestionamentos gigantescos, poluição atmosférica, acidentes de trânsito. Tudo isso é resultado de décadas de planejamento urbano concentrado na mobilidade para automóveis em detrimento de outros modais de transporte menos poluente, ciclistas e pedestres.
O setor de transportes cresceu e tem crescido de forma desordenada, causando diversos impactos ambientais locais, regionais e até globais. Em todo mundo, o principal gás de efeito estufa, o dióxido de carbono (CO2), é emitido pela queima de combustíveis fósseis, como a gasolina e óleo diesel. O dióxido de carbono, de grande relevância para o fenômeno do efeito estufa, é o principal composto resultante da combustão completa de combustíveis. Quando em grande quantidade, o gás carbônico e outros poluentes acabam formando um filtro na atmosfera. No decorrer do dia, a Terra é aquecida pelo sol e à noite perde o calor armazenado tendo, por consequência, uma redução de temperatura. Entretanto, com a camada de poluentes presentes, o calor fica armazenado na Terra, provocando um aumento na temperatura média. O Brasil está entre os países que também sofreu um notável aumento na motorização individual, fato que implica na intensificação do tráfe-
go de veículos nos grandes centros urbanos e nos congestionamentos e que causa impactos negativos no ambiente, porque aumenta a poluição atmosférica. O país também apresenta uma das maiores taxas de crescimento das suas emissões de CO2 por conta da crescente industrialização e do crescimento das frotas de veículos. Pesquisas indicam que 32% das emissões de carbono são originadas pelas atividades de transporte. Número considerado elevado em comparação com a média mundial e se deve ao fato de que o modo rodoviário apresenta total predomínio sobre os demais, conforme pode ser observado na tabela abaixo. O inventário brasileiro de emissões de gases de efeito estufa indica que entre todos os modais de transporte, o mais representativo no consumo de energia de origem fóssil é o rodoviário. Logo, este é o principal emissor de CO2 do setor de transportes brasileiro.
O BRASIL ESTÁ ENTRE OS PAÍSES QUE SOFREU UM NOTÁVEL AUMENTO NA MOTORIZAÇÃO INDIVIDUAL Magrela, camelo ou simplesmente bike, são os principais apelidos dados a este veículo individual, que ao longo dos seus 213 anos de existência, esteve presente em todos os momentos significativos da história da humanidade; seja na paz ou na guerra, nas atividades de transporte ou de lazer. O pleno reconhecimento deste meio de transporte enquanto veículo ocorreu no final do Século XIX, com a inclusão do “Ciclismo” na primeira Olimpíada da Era Moderna, na cidade de Atenas em 1896.
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Dados do Word Bank informam que os investimentos em transportes são da ordem de 2 a 2,5% do PIB, mas podem chegar a até 3,5% quando os países aplicam na construção e/ou modernização de infraestruturas. Isso significa que o setor de transportes é uma importante força motriz da economia mundial e também brasileira, uma vez que permite a movimentação de pessoas, bens e serviços. Todavia falar de sustentabilidade urbana, ou de gestão urbano-ambiental sem investir na melhoria do transporte coletivo e sem incentivar o uso de transporte não motorizado é discurso vazio e não merece credibilidade. Ao contrário do que ocorreu na origem do pensamento ecologista, hoje os estudos ambientais não se posicionam mais entre desenvolvimento ou proteção ambiental. A questão que se discute é que tipo de desenvolvimento se deseja implementar de agora em diante, uma vez que, com a criação das tecnologias limpas, desenvolvimento e meio ambiente deixaram de ser considerados realidades antagônicas. Para alguns autores, a noção de desenvolvimento sustentável consolidou-se como parte do discurso hegemônico de difícil operacionalização. Trata-se de um discurso já incorporado aos pró-
prios meios de produção, reconhecido como uma nova fase de adaptação do sistema econômico. Já para outros teóricos, trata-se de novas estratégias para garantir a continuação da acumulação de capital através da economia, já que não propõe romper com o modelo utilitário associado ao meio ambiente. Logo, sem um questionamento ao próprio modelo hegemônico de apropriação do mundo material, é falsa a ideia de sustentabilidade. No Brasil, apesar da ECO 92 e da Rio+20, as autoridades do Estado e Município do Rio de Janeiro para melhorar o transporte público (exigência da FIFA) em vez de construírem linhas de metrô de superfície para a Zona Oeste, fizeram a chamada Transcarioca, aumentado com isso os percentuais do modal transporte rodoviário e, em consequência, a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Claro está que o transporte em ônibus em rodovias, tal como se faz hoje, só é bom mesmo para os donos das empresas (o cartel do transporte rodoviário), porque na visão dos passageiros, ele está a cada dia mais caro e pior. Os usuários querem metrô e trem bem conservados (com horários determinados), porque são mais rápidos. E, com certeza, o meio ambiente também agradece.
Há, portanto, uma grande necessidade de atuação de políticas públicas eficazes nesse setor, para alterar essa realidade. A construção de ciclovias, nos diversos bairros da cidade e a interligação destas como os espaços de lazer como praias deve fazer parte da pauta de reivindicação das pessoas, que só podem abandonar os seus carros, se o transporte público for eficaz e se as ciclovias forem construídas e conservadas. A educação para o transporte sustentável de baixo carbono também deve ser feita por meio de política pública, porque cabem às pessoas decidirem que tipo de “desenvolvimento” desejam, visto que o modelo convencionalmente adotado pelo ocidente mostrou inadequado na resolução dos problemas econômicos (milhares de pessoas passam fome e morrem de doenças simples) e também, ao mesmo tempo, exauriu quase todos os recursos da Terra, provocando a chamada crise ambiental. As mudanças climáticas, provocadas pelo efeito estufa, em que a emissão de CO2 tem papel importante, revelam a necessidade de alteração do modelo produtivo, incluído obviamente o modelo de transporte, que precisa de fato ser sustentável, sob pena de inviabilizar a vida na terra para gerações futuras.
Claro está que o transporte em ônibus em rodovias, tal como se faz hoje, só é bom mesmo para os donos das empresas (o cartel do transporte rodoviário), porque na visão dos passageiros, ele está a cada dia mais caro e pior.
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Bicicletas e sociedade Nina Spinardi
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S
egundo o Código A pesquisa ainda rede Trânsito Brasivelou que 21% dos entrevisleiro, a bicicleta é tados avançam em sinais considerada como vede trânsito e 10% não resículo e, portanto, deve peitam regras básicas de obedecer as regras de trânsito, como obedecer à trânsito como qualquer mão da rua. outro veículo. Quanto aos aciden A começar pela tes de machucados leves, própria segurança, Salvador lidera com 55%. ainda há uma parceCuritiba e Brasília vêm em la significante de ciclisseguida com 52%. Rio de tas que não Janeiro logo usam capaatrás com 61% ‘’As ciclovias existem cete, num e Porto Alegre em áreas de lazer e total de com a menor 27%. Aquetaxa, 37%. infelizmente para o lazer, les que não O fato mais porque no pensamento utilizam facurioso é que, róis e redo cidadão carioca, mesmo com fletores sobicicleta é lazer e não esses númemam 20%. ros, 77% dos necessariamente um meio A buzina, bra si lei ro s um item de transporte.’’ - Clara apoiam uma essencial, Maria, estudante e ciclista política de também, não é levamultas para da a serio, os ciclistas pois 41% não a utilizam. que praticam a direção peTudo isto é o que reverigosa. Isso contradiz a rela a pesquisa online feialidade, já que, quem anda ta pela Associação de a pé ou de carro no trânsito Consumidores Proteste, das grandes cidades brasique entrevistou 1.857 fileiras, encara diariamente liados da Associação, ciclistas que tomam conta moradores de São Paulo, Salvador, Belo Horidas calçadas e das ruas e zonte, Porto Alegre, Rio desrespeitando as leis de e Janeiro e Curitiba. trânsito.
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A EVOLUÇÃO
A boa e velha bicicleta todos já conhecem. Apesar de modelos com marcha e sem marcha existirem, seu uso e potência depende única e exclusivamente do condicionamento físico e gasto de energia do usuário.
Com velocidades de até 25 km/h (e com o auxílio de suas próprias pernas), a maioria das pedelecs pode te ajudar por cerca de 30 km a 40 km. Com poucas fabricantes no mercado nacional, uma pedelec custa cerca de R$ 2 mil e as baterias são recarregáveis.
DA BICICLETA
A principal diferença entre a bicicleta motorizada e a pedelec é que a primeira é alimentada com energia elétrica não poluente. A bicicleta motorizada pode atingir até 50km/h e custa cerca de R$ 3 mil.