CULTURA&LAZER pelo r u o t Um ca o i r a C o Subúrbi
Uma viagem pelo Rio Imperial Culínária suburbana: sabor, qualidade e um precinho de dar água na boca A peculiaridade e a simplicidade do Subúrbio Carioca
Aqui tem poesia
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Bem-vindo
Aberto ao público e com programação gratuita, além da facilidade de acesso através de ônibus e trem. Num mergulho sobre o lazer no subúrbio carioca, a repórter Ana Carolina Pinheiro repassa sobre as atividades proporcionadas no Parque de Madureira, ponto de encontro dos amantes pelo esporte e por aqueles que buscam por belas paisagens e por diversão . Vale destacar também a matéria sobre a Feira de São Cristóvão, que nos mostra o conjunto de características nordestinas reunidas em um só lugar através de muita música, comida e alegria, como conta a repórter Flávia Mondêgo.
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EXPEDIENTE DIRETOR EDITORIAL ANA CAROLINA PINHEIRO LOURENÇO REPÓRTER ANA CAROLINA PINHEIRO REPÓRTER FLÁVIA MONDÊGO EDITOR DE FOTOGRAFIA ANA CAROLINA LOURENÇO DIAGRAMAÇÃO BRUNA FERREIRA
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Parque de Madureira: o lazer por excelência O ponto de encontro do subúrbio carioca atrai mais de 20 mil visitantes por final de semana. ANA CAROLINA PINHEIRO DO RIO DE JANEIRO Maio/2015
Fotos Ana Lourenço
Quadra de futsal utilizada por jovens na tarde de final de semana no Parque de Madureira.
Espaços arborizados, com chafarizes e cachoeiras artificiais fazem parte do perfil do Parque.
O comércio intenso e a correria do dia-a-dia param quando se chega ao Parque de Madureira. Muito mais do que um simples local para descanso, o Parque virou point de pessoas sedentas por esporte, cultura e lazer. E não são só de atividades de final de semana que ele se caracteriza: aberto ao público e com programação gratuita, o ambiente arborizado com lagos e cachoeiras artificiais reforçam o convite para caminhadas e pedaladas diárias. Feito para gerações de A a Z Inaugurado em junho de 2012, o Parque de Madureira conta com uma infraestrutura que vai desde quadras de futebol, vôlei e basquete, espaços para alimentação, academia para idosos até áreas mais culturais como a Praça do Conhecimento que oferece cursos em diversas áreas e computadores com acesso gratuito à internet. 4
Quadra com grama sintética oferece mais uma opção para os amantes da bola. 5
O melhor lugar para um “Jam” Com quase 4.000 m², a Pista de Skate do Parque de Madureira é uma atração à parte. Segunda maior do Brasil, perdendo apenas para São Bernardo do Campo, em São Paulo, a pista batizada de Skate Park Jorge Luiz Souza “Tatu” em homenagem a um grande skatista carioca dos anos 80, contém obstáculos dos mais variados níveis, onde crianças e skatistas profissionais se divertem da mesma forma. O espaço, ainda, foi palco do Oi Bowl Jam 2015, Etapa Mundial de Skate Bowl, cuja competição garantiu entrada gratuita ao público.
Jogo de futevôlei acontece na quadra de areia do Parque.
Loja de aluguel de equipamentos para acesso à pista garante maior segurança ao espaço. Academia da Terceira Idade garante atividade saudável para esse público. 6
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Foto feita por Rogério Santana (fonte: http://www.rj.gov.br/web/imprensa/exibeconteudo?article-id=981148)
É diversão que não acaba mais O Parque atualmente ocupa uma extensa área de Madureira, mas segundo o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, o espaço ainda será ampliado até Guadalupe, passando pelos bairros de Rocha Miranda, Bento Ribeiro e Marechal Hermes, o que significa uma mudança dos atuais 1,4 km para aproximadamente 4,5 km. O projeto conta com mais cachoeiras, ciclovias e outra pista de skate, além de inaugurar um centro de treinamento para tênis e a primeira Pista de Esqui com neve artificial do Brasil, que será aberta à população. Pelo palco do Parque já passaram Preta Gil, Detonautas, Marcelo D2, Arlindo Cruz e cantores internacionais como Billy Paul, tudo gratuito. Enquanto na Praça do Samba, acontecem regularmente rodas de samba e ensaios das tradicionais escolas de samba de Madureira: Portela e Império Serrano.
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Aulas de luta acontecem no palco da Praça do Samba.
Como chegar A região possui fácil acesso ao público com a opção de transporte de trem, saltando na estação do Mercadão de Madureira, e várias linhas regulares de ônibus que seguem em direção ao bairro, como o 254 – Praça XV / Madureira, o 355 – Tiradentes / Madureira e o 277 – Praça XV / Rocha Miranda, todos partindo do Centro da Cidade. O Parque Madureira se localiza na Rua Soares Caldeira, 115. Dia de sol, ar fresco, diversão para as crianças, academia e esporte para atividades físicas ou simplesmente um canto para refletir, ler e relaxar: é nesse ambiente misto que o Parque de Madureira encanta e atrai pessoas com as mais variadas vontades. Segurança por toda área do Parque, cascatas d’água e banho de mangueira, além de belas paisagens completam o perfil da mais nova área de lazer carioca. 9
Das oficinas da ferrovia DomPedroII se fez o Engenho de Dentro
Em 1864, mesmo com a ampliação feita no parque de equipamento, a oficina se tornou insuficiente. Em 1865, a direção da ferrovia já apontava para a necessidade da oficina ter uma área mais ampla que permitisse as ampliações exigidas naquele momento e também as que viessem a ser necessárias no futuro. A ferrovia foi fundamental no desenvolvimento dos subúrbios cariocas, assim como fundamental às oficinas para o bairro do Engenho de Dentro. Apesar de ter sido um engenho dividido em chácaras, o lugar não desenvolveu núcleo habitacional e nem produtividade econômica, que são características de bairro e justificam a construção de uma estação ferroviária. As mudanças na região só começaram com o início da construção das oficinas da ferrovia.
As obras da construção da Estação do Engenho de Dentro.
José Carlos
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origem do Engenho de Dentro foi o desmembramento de terras de engenhos em chácaras, mas o lugar só começou a se estruturar como bairro após a criação das oficinas da Estrada de Ferro Dom Pedro II, em 1858. Na época do Brasil colonial, no século XVIII, era costume as terras serem entregues as pessoas para algum tipo de atividade econômica. A região do Méier e toda a sua vizinhança foi utilizada para o plantio de cana-de-açúcar, com objetivo da produção de melaço e açúcar, que eram muito valorizados naquele período, dando assim, origem a vários engenhos. Com o declínio da produção açucareira, na segunda metade do século XVII, os engenhos foram desativados e as terras desmembradas em chácaras. O mestre de campo João Árias de Aquirre era proprietário de engenho e entre as chácaras que se estabeleceram nas suas terras a que mais se destacou foi a do Dr. Francisco Fernandes Padilha,
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Fachada da oficina da estrada de ferro.
que ia do início da Serra dos Pretos Forro até a região compreendida hoje pelo entorno das ruas Adolfo Bergamini, antiga Dr. Peçanha, Dr. Leal, Dr. Bolhões e outras que formam o atual bairro do Engenho de Dentro. A Estrada de Ferro Dom Pedro II, passou a se chamar Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1889. Inicialmente ligava as estações da Corte, no Campo da Aclamação (Central do Brasil), Venda Grande (Engenho Novo), Cascadura, Maxambomba (Nova Iguaçu), e Pouso dos Queimados (Queimados). O projeto de construção da estação da Corte contemplou a criação, no mesmo local, de uma oficina para pequenos reparos no material rodante, enquanto outros serviços eram feitos, através de contrato, na oficina de São Diogo, cujo proprietário era Edward Price e durante algum tempo as duas oficinas atenderam as necessidades da ferrovia. Com o término do contrato com Edward Price a ferrovia comprou a oficina de São Diogo.
As oficinas do Engenho de Dentro foram construídas no terreno que Francisco Fernandes Padilha vendeu à ferrovia, em 10 de setembro de 1869. A área tinha na frente à linha do trem e nos fundos a propriedade de José Martins dos Reis e as obras tiveram início em outubro do mesmo ano. Em 1º de dezembro de 1871 a companhia já possuía nas oficinas estrutura para executar reparos nos 4.000 km de vias, em 700 locomotivas e 5.000 carros de passageiros e vagões. Nelas incluíam-se caldeiraria, seções de fundição de ferro, de bronze, equipes de torneiros, carpintaria, pintura e montagem, além do trabalho rotineiro de manutenção, de montagem das locomotivas, dos carros de passageiro e dos vagões, assim como, a construção de carros de passageiros e vagões. Sob a direção do engenheiro Carlos Conrado de Niemeyer, utilizando tecnologia nacional, não atendia apenas a própria estrada de ferro D. Pedro II, mas prestava serviços também a outras ferrovias (Oeste de Minas, União Valenciana, etc.), inclusive na fabricação de vagões e carros de passageiros. Também eram confeccionadas estruturas de pontes, coberturas de oficinas e ferramentas, dispondo
ainda de uma área para consertos de aparelhos de telégrafos e outros equipamentos eletrônico. A capacidade produtiva foi tão significativa que serviu ao governo montando caminhões, fabricando projéteis e outros materiais bélicos durante a Revolta da Armada, em 1893. Quanto mais era exigida mais as oficinas do Engenho de Dentro correspondiam. Em 1881 foi considerada a mais importante da América Latina. Por volta de 1870, houve necessidade de movimentar pessoas, materiais e máquinas para a realização das obras de construção das oficinas da ferrovia, para atender o aumento na demanda de manutenção dos trens. Em frente à construção das oficinas, foi feito uma edificação para funcionar como ponto de parada do trem, onde aconteciam os embarques e desembarques de trabalhadores, equipamentos e mercadorias. Neste mesmo local, em 10 de dezembro de 1873, foi finalmente inaugurada à estação do Engenho de Dentro, que mais tarde seria demolida e reconstruída no mesmo local em 1927. Mesmo após a ferrovia autorizar a construção de casas, nos terrenos das oficinas, para os seus operários em 1875, a falta de estrutura habitacional da região ainda era visível e um hotel foi construído no local para hospedar engenheiros e visitantes. Com a eletrificação do sistema ferroviário que ocorreu a partir de 1937 a estação deixou de ter duas plataformas e passou a ter cinco. Neste período, já havia um significativo conglomerado humano nos arredores da estação.
Primeira estação que foi construída no Engenho de Dentro.
Com a chegada da eletrificação e o surgimento da tração diesel-elétrica, em 1943, houve uma queda de importância das oficinas e sua recuperação só começou a ser percebida a partir de 1954, com a criação da oficina de locomotivas diesel-elétricas, resgatando o seu papel de destaque no crescimento da estrada de ferro.
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Mario Junior
Caminhos da Família Real
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ntes de Carlota Joaquina bater os pés a fim de livrar toda a poeira do Brasil de seus sapatos, ela e o Imperador Dom João VI, andaram muito por aqui. Em 1808, desembarcava na Bahia a família real portuguesa, fugindo das tropas francesas comandadas por Napoleão Bonaparte. Sem condições militares para enfrentar os franceses, o príncipe regente de Portugal, resolveu transferir sua corte para a mais importante colônia, o Brasil. São Cristóvão
Igreja Nossa Senhora do Rosário e São Benedito
Passeio Público
Caju Sendo avesso ao mar, a família instalou-se no bairro de São Cristóvão. Foram construídos inúmeras novas residências, palacetes e foram implementadas várias melhorias nos serviços e na infra-estrutura. O bairro começou a adquirir posição de destaque no cenário carioca a partir de 1810, quando o príncipe-regente adotou o Paço da Quinta da Boa Vista como sua residência oficial.
Galeota Real Silva Jardim
A Rainha Carlota Joaquina cavalgava constantemente pelo local. Enquanto Carlota se refugiava no Engenho da Rainha, o imperador frequentava o Caju para banhos medicinais. A região era um bairro rural que começou a ganhar loteamentos para abrigar os portugueses que vieram junto a família real.
Biblioteca Nacional
Primeira igreja visitada pela Família Imperial na chegada ao Brasil em 1808.
Sede transferida para o Brasil em 1808 pela Rainha D. Maria I de Portugal, após a vinda da família real.
Chafariz do Mestre Valentim
Tijuca
Igreja de São Francisco Xavier
Igreja Nossa Senhora do Carmo
A Nossa Senhora do Carmo da Antiga Sé foi a única igreja das Américas que serviu de palco para a sagração de um rei e a coroação de dois imperadores. Também foi lá que D. Pedro I e D. Pedro II se casaram.
D. Pedro I esteve lá juntamente com a Viscondessa e depois Marquesa de Santos, Domitilia Ribas, para batismo e reconhecimento de sua filha bastarda Isabel em 1826.
Praça Tiradentes
Jardim Botânico Foi trazida para o Rio de Janeiro em 1809 para uso do Príncipe Regente e a Família Real. Sua última navegação ocorreu em 1920, no desembarque da Família Real da Bélgica, já no Brasil República.
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Dom João VI, para criar naquele espaço o Jardim de Aclimação, com a finalidade de aclimatar as plantas de especiarias oriundas do oriente. Com a proclamação da independência do Brasil (1822), foi aberto à visitação pública como Real Jardim Botânico.
A floresta da tijuca foi o Local desmatado para a plantação de café no período Colonial, de Reino Unido e primeiro Império. Foi reflorestado para proteção dos mananciais da cidade sob a incumbência do Major Archer em 1861. A partir daí o Barão D'escragnolle o transformou em Parque Público.
Paço da Cidade
Dom João VI deslocava-se com frequência entre o Paço de São Cristóvão e o Paço da Imperial.
Castelo da Ilha Fiscal A escadinha na lateral que dava acesso ao mar em 1821, quando a família Imperial deixou o Brasil rumo a Portugal por ela.
O monumento em comemoração da Independência do Brasil.
O castelo da Ilha Fiscal, no Rio de Janeiro, foi projetado pelo império brasileiro para atuar como um posto alfandegário perto do porto de sua capital, o Rio de Janeiro. 13
Caminhos da Família Real Cidade Imperial
Estrada de Ferro e Corcovado Petrópolis
A estrada de ferro foi inaugurada pelo Imperador D. Pedro II em 1884 para facilitar o acesso ao Mirante do Corcovado. Em 1931 foi inagurado o Cristo Redentor, hoje, uma das 7 Maravilhas do Mundo.
Admirando a beleza e o clima ameno da região Dom Pedro I adquiriu uma propriedade no local. Mas, foi Dom Pedro II que iniciou a “urbanização” da área e a construção de casarões. Em 1947 Petrópolis se tornou a Capital do Império. Com todas essas qualidades a Cidade Imperial é uma das atrações histórica cultural do estado do Rio de Janeiro. Com aproximadamente 70 quilômetros de distância do centro do Rio, a cidade é um aula que tem o seu aprendizado passado de geração para geração. Além do seu clima que faz com que ela seja charmosa e agradável a ponto de ter conquistado o imperador. Podemos concluir que o D. Pedro II tinha bom gosto para escolher locais para passar seus veraneios.
Palácio de Cristal
Marco Imperial
Inaugurado em 1884, o Conde e a Princesa Isabel buscavam utilizar o local como espaço para exposições de flores, frutos e pássaros. Atualmente é aberto a visitação.
Palácio Imperial O maior símbolo da cidade e a maior atração turística é o Palácio Imperial. Ele possui casarões e palacetes próximos a Catedral de São Pedro de Alcântara e a Praça Ruy Barbosa. O museu imperial expõe peças ligadas à monarquia, tais como obras de artes, jornais da época, e roupas e objetos utilizados pela família real. O palácio é a principal construção do “centro histórico”. Atualmente é aberta a visitação e lá está localizado o mausoléu da família Imperial. Na zona oeste do Rio de Janeiro, de Campinho a Santa cruz encontramos a Estrada Intendente Magalhães, Avenida Marechal Fontenelle, Avenida Santa Cruz, Rua Arthur Rios, Avenida Cesário de Melo e Rua Felipe Cardoso que foram os caminhos onde Dom Pedro I passava. Em cada parada, onde bebiam água, era construído um Marco Imperial que servia para calcular a distância que percorriam. Antes existiam 12, mas hoje existem apenas três: O Marco 6 está situado na Avenida Santa Cruz próximo a estação de Guilherme da Silveira (antigo diretor as fábrica de tecidos Bangu) divisas com Bangu. O bairro é conhecido como Moça Bonita, pois segundo a história Dom Pedro chamava o bairro assim se referindo a uma moça bonita da região. Em Santíssimo, divisa com Senador Vasconcelos encontramos o Marco 7 que apesar de ocupar bastante a calçada, encontra-se firme e forte nos lembrando da história da Rua Arthur Rios. O Marco 11 está localizado próximo a Avenida Felipe Cardoso em Santa Cruz. É o último e marcam as onze léguas entre o Paço Imperial na Praça XV e o Palácio Imperial de Santa Cruz.
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Palácio do Grão Pará
Atualmente é residência de D. Pedro Carlos, descendente do Imperador.
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Sou Rio de Janeiro a Janeiro
lá, sou o Rio de Janeiro, mas podem me chamar de Rio. Escrevo este texto a convite da revista. Vejo aqui a oportunidade de relatar ao mundo o que está além das areias brancas de Copacabana e o pôr-do-sol no Arpoador. Embora, seja um espetáculo à parte e digno do local que acontece. Tão logo, dado às minhas experiências de vida e às histórias mais singulares, divido-as com vocês. Outro dia, acordei com o sol forte batendo no rosto. O calor era tão forte, que a impressão era de que já passavam das duas horas da tarde. Os 40ºC à sombra que marcados no dia, obrigou a todos a levantar, inclusive a mim. A sensação térmica influenciou muito na escolha da programação. Definitivamente seria uma que não me fizesse transpirar tanto. Shopping ou metrô até se tornaram uma ótima opção, até eu perceber que o ar-condicionado não daria vasão para infinidade de pessoas que lá estariam. Afinal, era dezembro e o ritmo girava em torno de compras de natal e turistas passeando pelas ruas. Automaticamente, a hipótese foi descartada. Foi quando surgiu a brilhante ideia de andar de barca. Mas, só de lembrar da baia de Guanabara sofri uma catarse: sorrir com a brisa e sofrer com o cheiro. Na Praça XV, mais um motivo para se fazer pensar: “Porque eu levantei da cama?”. Acreditem ou não, mas a fila para Paquetá estava na altura da 1º de Março. O que fez a frase “cariocas não gostam de fila” perder totalmente o sentido. Afinal, como aguentaram tanto tempo embaixo do sol forte? Sem pestanejar e com saudosismo do querido Salvador de Sá, rumei em direção à Ilha do Governador. Dentro da barca, a voz de uma jovem se destacava entre as outras. Por longos minutos, ela tagarelou sobre sua vida de passista na escola de samba União da Ilha e que só conhecia o bairro graças à
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agremiação. Se ela soubesse que a Ilha do Governador é composta de 14 bairros, talvez não cometesse esses erros. Galeão, muito visitado e pouco conhecido. Perdeu sua notoriedade para Tom Jobim que dá nome ao aeroporto internacional, localizado no bairro homônimo. Não podendo deixar de lado o bairro da Cacuia, que vive em festa e ao ritmo da bateria da União da Ilha, nos meses antecedentes ao carnaval. Como um bom carioca, sou amante do futebol. Nelson Rodrigues, Armando Nogueira e Mario Filho me ensinaram a amar com mais intensidade. Porque o futebol daqui, o meu futebol; o seu futebol; o nosso futebol é envolvente e enérgico. Transpira rivalidade e paixão acima da razão. As torcidas conseguem transformar um jogo com nível de pelada em um espetáculo de final de Copa do Mundo. Ah, e o Maracanã? O que falar dele? Apenas que sinto saudades da “Geral”. Essa história da padrão FIFA é só para inglês ver. Aqui a gente gosta de ficar em pé, xingar o juiz e na hora do gol, abraçar o desconhecido ao lado. Final do campeonato regional, domingo de sol e bares lotados. Nada diferente do habitual. Vasco e Botafogo logo entrariam em campo e todos aguardavam quem levaria o caneco para casa. A minha volta, os ânimos estavam exaltados e ansiavam o início da partida. E antes que o juiz apitasse, uma conversa paralela se sobressaiu. Nas palavras da narradora, era contado aos amigos a visita que fez a uma terra muito distante chamada Ricardo de Albuquerque. Apenas para assistir um jogo do Vasco. Como não conhecia nada sobre o lugar, acompanhou seus amigos numa viagem de trem para “Depois de Nárnia”. Cabe ressaltar, que essas são as palavras usadas por ela, para ressaltar a distância do local. Ao final do jogo, parou com os colegas em churrasco da torcida organizada para comemora-
rem a vitória. Para surpresa de todos, caiu um temporal que a ilhou dentro de um bar. E para aumentar seu carma, a bateria do celular acabou e não pode avisar ao pai onde estava e que horas voltaria. É possível imaginar o desespero e preocupação desse pai sem notícias e a bronca que essa menina recebeu quando chegou em casa. Mas, fiquem tranquilos. Se temos conhecimento dessa história, é porque o pai a deixou viva para contar. Cariocas sabem que aqui o tempo não para. Já cantava Cazuza. Trânsito, caos, obras, bar, praia, futebol, roda de samba. Tudo faz o tempo girar e não sentir passar. No auge da agitação e do estresse, recorro a longas caminhadas pela Floretas da Tijuca. A maior floresta urbana do mundo tem um poder único de resgatar as forças e paz interior. É revigorante! Pelas trilhas da Mata Atlântica, cheguei ao bairro do Lins, o irmão renegado do Méier. Como já estava ali mesmo, desci o morro e caminhei em direção à banca de jornal do Sr. Castagnaro. Um italiano gordinho e simpático que só fala balançando as mãos. Do lado de fora da banca, está sua esposa gesticulando e indignada. Não sabia qual era o assunto, mas de longe era uma cena engraçada: o casal berros com os braços mexendo como se não houvesse o amanhã. Lendo as principais manchetes dos jornais, só consegui pegar a última frase: “Non voglio sapere, Giovanni. Paciência é muito longe só para ir visitar uma banca de jornal. Fui lá uma vez e não quero voltar nunca mais. Capiche?”. E Seu Castagnaro respondeu da melhor maneira possível: “Haja paciência!’’. Minha vontade era de ficar e ver aonde iria dar essa confusão. É de conhecimento geral da nação, que não estou na minha melhor fase. Estou passando por uma reestruturação. E não vejo prazo para isso acabar. Apesar de existir sim e ele ser bem curto. Receberei visitas no próximo ano e a intenção
é de que a casa esteja em ordem para hospedar a quantidade de pessoas que virão. Desde que a data da visita foi definida, começou um “zumzumzum” de que se tem que reconstruir isso, derrubar aquilo e preencher acolá. A verdade é que é um tal de quebra-quebra, que as minhas vias e juntas não aguentam mais. Um belo dia, quando tudo parecia desmoronar, procurei um reumatologista. Só ele poderia me ajudar a carregar por mais um ano a plaquinha “Estamos em obras. Desculpe o transtorno”. No consultório, conheci Carolina. Carioca com sotaque de mineira, esperava a avó sair da consulta. Num papo que me deu muita vontade de comer pão de queijo e doce-de-leite, soube que Carol não conhece nada sobre mim. Quando pequena cresceu em Botafogo, numa redoma de vidro e nunca atravessou o Santa Bárbara ou o Rebouças. A curiosidade era tamanha que me vi obrigado a questionar. A resposta foi: “Meus pais não deixavam”. Na adolescência se mudou para Belo Horizonte, e só voltou para cá, por causa da avó. Quando reafirmou que não conhecia nada além de Botafogo e outros bairros da zona sul, não havia outra alternativa a não ser dar uma lista completa dos melhores lugares do subúrbio para ela e o marido conhecerem. A receptividade com a ideia foi tão grande, que seus olhos brilharam. Agora, esbarrar com a Carol e o marido Tiago é ritual. No último encontro, os dois estavam passeando de bicicleta no Parque de Madureira. Dessa experiência de escrever para anônimos que passam por mim todos os dias, surge a enorme vontade de publicar um livro de crônicas urbanas. Porquê da minha vida, estão cansados de saber. Estou aqui e sempre estarei. Disposto a contar mais e sempre de braços abertos para a Guanabara. Até mais!
Rio de Janeiro
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1)Meier Dias da Cruz, Imperator, Mackenzie, Shopping do Meier..... Todos que conhecem o Meier sabem da existência de pelo menos um dos exemplos citados. Mas será mesmo que quem é do Meier não ‘bobeier’, como diz o ditado? Poucos sabem, mas a região do Grande Meier abriga outros 5 bairros (Cachambi, Engenho de Dentro, Engenho Novo, Lins de Vasconcelos e Todos os Santos). E neles, temos fatos históricos interessantes, que grande parte da população não conhece. Cortado pela estrada de ferro Central do Brasil, a história do Méier se confunde com a dos trens. O aniversário da sua estação ferroviária é utilizado como data de fundação do bairro: 13 de Maio de 1889. A estrada de ferro foi de extrema importância para o início de um acelerado progresso da região, que é, atualmente, conhecida como Grande Méier. Em 1954, o bairro ganhou o Imperator, na ocasião, a maior sala de cinema da América Latina, com 2 400 lugares. Em seguida, foi a vez do Shopping do Méier se instalar no bairro. Foi o primeiro do gênero a ser inaugurado no Brasil. Um dos episódios mais famosos na luta contra o comunismo no Brasil aconteceu no Meier, mais precisamente no bairro do Cachambi. O ex-capitão do exército Luís Carlos Prestes e sua mulher Olga Benário, procurados desde novembro de 1935, quando ocorreu a Intentona Comunista, foram presos depois de uma operação da polícia. Através dos documentos e cartas encontrados em poder de ambos, dissiparam-se todas as dúvidas de que o Prestes tivesse se ausentado do Brasil. O local onde se encontrava, porém, era ignorado. A Igreja Imaculado Coração de Maria é um templo católico situado no bairro do Méier. O templo foi construído entre 1909 e 1929, tendo sido desenhado pelo arquiteto e urbanista espanhol Adolfo Morales de Los Rios, o mesmo que projetou a Escola de Belas Artes (hoje Museu Nacional de Belas Artes). A igreja é uma das poucas igrejas no Brasil construídas em estilo neomourisco, como a de Nossa Senhora da Paz, em Ipanema e de Santo Afonso na Tijuca.
NOSSO RIO Apesar do que a grande mídia mostra, o Rio de Janeiro vai muito além da Garota de Ipanema e de Copacabana, a princesinha do mar de Tom Jobim. Existe vida após o túnel Rebouças, vida que constrói e que move grande parte da cidade. Do Meier a Campo Grande, passando por Vila Valqueire, Vila da Penha, Guadalupe e Freguesia, nossos reporteres vão contar um pouco sobre a história destes bairros. 4)Freguesia Criada em 1661, a Freguesia de Nossa Senhora do Loreto e Santo Antônio de Jacarepaguá, foi o primeiro povoado da então zona rural do estado da Guanabara, que se tornou Rio de Janeiro em 1665 e hoje é conhecida como zona oeste da cidade. A denominação vem da designação portuguesa de paróquia, expressão bastante utilizada em Portugal e no Brasil Colonial, para representar um território submetido a jurisdição espiritual de um vigário que também exercia poder de administração civil. O bairro possui 1.039,61 héctares, tendo como vias principais a Avenida Geremário Dantas, Estrada dos Três Rios, Estrada do Pau Ferro, Estrada de Jacarepaguá e Estrada da Gabinal. Em 1981 foi constituído bairro independente, (até então fazia parte de Jacarepaguá). É um dos bairros que mais recebe lançamentos imobiliários no Rio de Janeiro, tanto residenciais com perfil alto padrão na sua grande maioria, quanto comerciais. A proximidade com a Barra da Tijuca e duas principais vias do Rio de Janeiro, a estrada Grajaú-Jacarepaguá (que dá acesso a Tijuca e ao Centro) e Linha Amarela (acesso à Barra e ao Centro), conferem ao bairro uma localização privilegiada, apesar de seu transito caótico na maior parte do dia. O recente aquecimento do setor imobiliário rendeu a Freguesia a proliferação de condomínios, dotados de academia, piscina, churrasqueira, parquinho, salão de festa, e até cinema. Segundo dados da Assossiação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário - RJ (ADEMI-RJ) o metro quadrado valorizou-se quase 50% nos últimos 5 anos, taxa semelhante à verificada no Leblon, que por sinal é maior do que qualquer outra verificada na zona sul.Entre o charme do passado, a pujança do presente e a precaução com relação ao futuro, a Freguesia busca o equilíbrio.
7)Grajaú Conhecido como a Suíça da Zona Norte carioca, o Grajaú é um bairro quase que estritamente residencial, que ainda conserva características de sua fundação há pouco mais de 100 anos. Foi um dos primeiros bairros planejados da cidade do Rio de Janeiro. Consiste em uma Praça central com ruas entrelaçadas em seu entorno. Foi projetado pelo engenheiro italiano Antonio Richard contratado pela Companhia Nacional Fluminense para a construção do bairro. Um dos pontos principais do bairro é o Parque Florestal do Grajaú que faz parte do Maciço da Tijuca. O bairro mesmo com a grande especulação imobiliária ainda é bastante arborizado. Um dos orgulhos do bairro é o Grajaú Tênis Clube que ostenta o recorde de títulos cariocas na categoria adulto. A violência é um dos grandes problemas do bairro. Assaltos a pedestres, roubos de carros e residências são os crimes mais comuns pelas ruas do bairro. Cercado de favelas, nem mesmo com a criação de UPP’s em seu entorno conseguiram conter a violência. Há dois meses foi inaugurado a Policia de Aproximação, conhecida como UPP do Asfalto. Houve melhoras nos índices de violência, mas é cedo para fazer uma avaliação mais profunda. O bairro mesmo com os problemas tem uma excelente qualidade de vida e cultiva nos seus moradores um sentimento de orgulho. Há um indisfarçável sentimento de orgulho de ser grajauense dos seus moradores.
3)Guadalupe Conhecido como antiga Fundação, por conta do projeto imobiliário de casas populares, inaugurado pelo Presidente Getulio Dornelles Vargas em 1940. O bairro é conhecido por possuir antigas e tradicionais instituições como a Igreja Nossa Senhora de Guadalupe, fundada em 1949, que lhe deu o nome por sugestão de Dona Darcy Vargas, esposa do presidente Getúlio Vargas, em homenagem à padroeira da América Latina, Nossa Senhora de Guadalupe, cuja Matriz, no Rio de Janeiro, localiza-se nesse bairro.Cortado por uma das vias mais importantes e movimentadas da cidade, a Avenida Brasil, que liga Santa Cruz ao centro do Rio de Janeiro, Guadalupe apresenta vários pontos culturais, como a Lona cultural Terra que já promoveu inúmeros shows de ícones da MPB e diversas peças de teatro. Uma instituição de grande importância para a comunidade local é um campo de futebol inaugurado em 1999, pelo jogador Jorginho Campos que atualmente pertence ao Clube Al Wasl (Emirados Árabes). Com o projeto “Bola pra frente”, oferece, além da iniciação esportiva, oportunidades de emprego e qualificação profissional a crianças e adolescentes, com idade entre 6 e 17 anos, devidamente matriculados na rede pública de ensino, moradores da favela do Muquiço. Do ponto de vista econômico, a quantidade de indústrias, comércio e serviços que Guadalupe possui o torna um bairro atrativo para viver e trabalhar. Sob o aspecto social e cultural, está em constante ascensão.
5)Vila Valqueire A origem do nome tem duas histórias. A primeira é ele era um engenho chamado V Alqueire (V do algarismo 5 em romano), ou seja 5º Alqueire que no futuro veio a ser Valqueire. A segunda história é que o nome vem do proprietário do engenho Antônio Fernandes Valqueire. O engenho foi se desmembrando ao pouco tendo como último ocupante Francisco Teles (avô materno de Geremário Dantas nascido no local). A mais antiga construção do bairro existe até hoje, a Paróquia de São Roque foi construída em 16 de agosto de 1944. A gerente administrativa de uma clínica de pilates, Yolanda Gomes de 60 anos, trabalha a mais de 10 no local e conta que se sente cada vez mais insegura – “A violência foi tomando uma proporção nos deixando presos atrás de grades e câmeras de segurança. Meus clientes para entrar na clínica têm que interfonar, eu olho a câmera para ver se é cliente e só depois abro a porta. Isso é horrível, pois perdemos nosso direito de ir e vir”. Por mais que o bairro esteja com o índice de violência alto, com um clima diferente e com os preços elevados como relatou a dona de casa Myriam Camerino, os moradores não saem do bairro por nada. Segundo eles, o bairro é carismático, não tem trânsito e nível social alto. A maioria dos morados que saem do bairro vão para a Barra da Tijuca, Recreio ou bairros a beira mar. O ex morador Luiz Carlos se mudou para o Recreio mas ainda sente falta do bairro “... era ótimo morar lá, como o bairro é pequeno eu conhecia bastante gente e o povo é carismático diferente do pessoal do Recreio que é bem frio. Pegam elevador comigo e nem olham pro lado”.
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6)Vila da Penha A rua via mais famosa sem dúvidas, é a Avenida Oliveira Belo, que como tem quase a mesma função que o calçadão de Copacabana. A avenida fica fechada e vira espaço para lazer e prática esportiva aos dias de domingos. As casas são grandes e espaçosas, a grande maioria com jardins e muro baixinho. Umas mais modernistas outras mais tradicionais, com a imagem do santo protetor no topo da fachada. No ponto central do bairro fica o Largo do Bicão, ou Praça Rubey Wanderley que fica localizado no encontro das avenidas Meriti e Brás de Pina, o Largo tem esse nome devido ao problema de à falta de água que assolou o Rio de Janeiro no século 19. Era neste local que os moradores iam buscar água em uma grande torneira pública. O Imperador D. Pedro II passou pelo Largo e foi ele quem mandou instalar a bica que até hoje dá nome ao local. Outro detalhe histórico é que o Bicão já abrigou um quilombo de negros. Atualmente a praça foi reformada e conta com pistas de skate e academia popular. Algumas personalidades também fazem parte da história da VP como o ex-jogador de futebol e atualmente senador Romário, e o famoso compositor Luiz Carlos da Vila.
2)Campo Grande Em 1996, Campo Grande passou por obras de revitalização, comandadas pelo arquiteto Nilton Montarroyos, evidenciando a história do bairro com grandes esculturas de laranjas descascadas, pois o local foi um grande produtor e exportador de laranjas. Com este espírito do interior, e distante de outros bairros, Campo Grande foi crescendo lentamente. Porém, com a chegada da especulação imobiliária, por todos os lados que se olhe tem um prédio em construção, o que talvez faça a fama de “roça” que o bairro carregava esteja se esvaindo, dando lugar a modernização. Entretanto, esta é só uma parte de Campo Grande, porque aqui temos de tudo um pouco, a Rodoviária que parece um shopping, a Mulher de Verde e o Jaspion, personagens populares e as ruas abarrotadas de bares com todos os gêneros musicais que satisfaz toda gente. Apesar da violência que é comum e assola o subúrbio, em Campo Grande ainda podese andar com certa tranquilidade, afinal é o mais populoso e um dos mais seguros da cidade, pois não há favelas. É normal passar pelo bairro e ver barracas de lanches abertas e grandes praças de alimentação improvisadas em calçadas cheias de pessoas curtindo o final da noite.
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Comida de Rua MÉIER ENGENHO DE DENTRO
SUBÚRBIO
PAVUNA VILA VALQUEIRE OSWALDO CRUZ
Fábio Perrotta
Food truck ou podrão?
Depois do raio gourmetizador, elas se
transformaram em ‘Food Trucks’ para alguns, reveza com um terceiro para fazer, montar, mas as Kombis de podrão serão sempre
Flávia Mondêgo e Isabela Del Rio
Os cariocas possuem uma personalidade
Quando se pensa em comida carioca,
camaleônica e conseguem se adaptar muito bem pensamos logo em: biscoito Globo com mate,
noite. Do x-tudo ao x-salada, do catchup ao
freezer, utilizado para manter tudo resfriado e dentro da validade, uma enorme chapa,
feijoada, bife com batata frita, frango assado de
bacon, o importante mesmo é matar a fome.
No entanto, estão sempre à procura de lugares
padaria, açaí de sobremesa... hum deu fome! Mas
Tradicionalmente
agradáveis e que os façam se sentir em casa.
a paixão do carioca suburbano é o “podrão”.
A jovialidade do espírito carioca consegue Segundo o dicionário, podrão é o equivalente
embalar, entregar e receber o pagamento.
a melhor alternativa para salvar o fim da Os três dividem o espaço na Kombi com um
a todos os lugares que requisitem sua presença.
conta com a ajuda de mais dois parceiros, que
espalhadas
pela
zona onde são fritos os hambúrgueres; bacon;
norte do Rio, paradas em ruas principais ou entre outros e os pães. points noturnos, nem sempre possuem boa Renata Vial é cliente fiel da Kombi do
transformar qualquer sambinha de roda em um
de péssimo, mas de acordo com a gíria carioca
grande e imperdível evento. E quando o tom
está mais para comida de barraquinha de rua.
aparência, mas a limpeza é primordial.
certo do cavaquinho vem acompanhado de um
Final de noite, saída do trabalho ou até mesmo
Fernando da Silva, mais conhecido como o cuidado com a limpeza é essencial. “O que
belo prato tudo fica mais maravilhoso.
a volta das baladas faz os cariocas recorrerem a
Com a propagação midiática de que o esses lugares.
Moradora do Meier, ela diz que
eu mais gosto aqui no Baiano é o fato dele
Meier há 6 anos. Todo dia, exceto segunda- se preocupar com a higiene. Mesmo com o
subúrbio pode ser uma das setes maravilhas
do Rio de Janeiro, começaram a surgir mais
as delícias que o subúrbio carioca esconde.
feira, estaciona sua Kombi e finaliza os local apertado, eles sempre utilizam luvas e
eventos culturais na zona norte. Mas nem todos
A equipe da revista foi até os bairros Méier,
procedimentos, que começam de manhã,
toucas para preparar os lanches, que apesar
conseguiram transmitir a verdadeira sensação
Engenho de Dentro, Pavuna, Vila Valqueire
para iniciar as vendas.
de serem bombas calóricas, são ótimos”,
de como é bom viver a cultura carioca. Além, é
e Oswaldo Cruz para lher trazer o sabor dos
claro, de conquistar um público fiel.
quitutes suburbanos.
Baiano trabalha fazendo os sanduíches e
completou aos risos.
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Vamos conhecer nas próximas páginas
Baiano, é figurinha carimbada no Baixo
Baiano.
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FEIRA DE SÃO CRISTÓVÃO: O RIO DE JANEIRO ARRETADO O Centro Municipal Luiz Gonzaga sintetiza o Nordeste brasileiro com suas características bem genuínas, como o forró, o acarajé e mais de 700 barracas. FLÁVIA MONDÊGO DO RIO DE JANEIRO Maio/2015
encontrar redes bordadas em ponto cruz, artesanato em madeira e argila, copos com imagens feitas manualmente com areia colorida e claro, não podendo esquecer, as carrancas. Tradicionalmente, a escultura ficava na proa das embarcações que navegavam o rio São Francisco. Hoje, de acordo com a cultura local, protegem as residências daqueles que as compram. A parte gastronômica pode ser considerada a mais diversificada de todas. É uma imensidão de mercearias e restaurantes. Para aqueles que veneram as sobremesas nordestinas, as lojas vendem tapioca, queijo coalho, queijo manteiga, pamonha, cuscuz de milho, cachaças artesanais, bolo de aipim, rapadura, melado. Caso o desejo seja prato salgados, há um mundo culinário para ser desbravado. Pato no Tucupi, vatapá, baião de dois, carne de sol e outras iguarias que te transportam direto para o nordeste.
Feira reúne gastronomia, música e ambiente típicos da cultura nordestina.
Nordestinos saudosos, turistas curiosos e cariocas entusiasmados. Juntos, eles representam uma massa de mais de 300 mil pessoas que visitam, por mês, a Feira de São Cristóvão. Conhecida também como Centro Municipal Luiz Gonzaga, o espaço reúne artesanatos típicos do Nordeste, assim como quadrilhas, forró e comida de dar água na boca: o Baião de Dois da Barraca da Chiquita é um dos pontos mais badalados da Feira. As atrações musicais se alternam entre repentistas, emboladores, bandas de forró urbano, trios pé-de-serra. Entre as atrações estão o Grupo Forró Balança, Zé da Onça & Sua Gente, Trio Forró Pesado e Trio Xodó. Além de possuir uma programação fixa dividida nos palcos João do Vale e Jackson do Pandeiro e nas praças Cantolé da Rocha e Padre Cícero. É notável que os nomes atribuídos são homenagens a grandes personagens da cultura nordestina. A cultura “lá de riba” também pode ser encontrada nas lojinhas e barraquinhas de artesanato, que comercializam uma infinidade de produtos do Norte e Nordeste. É possível 22
Baiao de Dois da Barraca da Chiquita se configura como um dos points dentro da Feira.
Feira de São Cristóvão Terça à Quinta, das 10h às 18h Sexta, Sábado e Domingo, das 10h às 21h Entrada franca, exceto feriados 23
A melhor Batata Frita da Zona Norte metrô, encontra-se a batata frita mais famosa
Os sabores dos caldos do Valqueire
do bairro. Bem localizada, a Batata da Tia Maria funciona todos os dias. O maior diferencial e a fórmula de tanto sucesso são os molhos para o acompanhamento das batatas. Seja com a cobertura de estrogonofe ou linguiça calabresa, a fila é sempre grande durante as várias horas de funcionamento.Quando perguntada sobre a concorrência Dona Maria diz: “ Batata todos podem vender mas poucos fazem com
F
André Barty
qualidade, esse é o segredo, faça com amor e o
oi na década de 1840 aproximadamente
resultado é notório “, afirma.
que a comercialização da Batata Frita se
iniciou em Paris e rapidamente se tornou
conclui é sua única fonte de renda e ela garante
popular no mundo inteiro. Entre as variedades
que com o tempo pretende expandir seu negócio
de batata, a conhecida “Batata Palito” se tornou
promissor. A verdade é que a Batata está na
a mais procurada á medida que a indústria
vida de todos desde criança seja na ‘papinha’
agrícola avançava. Até hoje a batata frita segue
quando bebê ou até mesmo quando é levado
sendo e procurada seja para programar uma
até o McDonald’s e afins e esse costume se
refeição ou mesmo para lanches e afins. Graças
prolongam até a fase adulta é uma comida
A famosa Batata da Dona Maria ainda
a marcas famosas de redes de fast food e a sem “prazo de validade” e que sempre teremos divulgação massiva.
prazer em degustar.
Hoje diversas formas de preparo da
Dona Maria não autorizou fotografar a sua
batata são vistas, mas a Batata Frita segue barraquinha, ela disse que a melhor propaganda em primeiro no ranking no cardápio de pedidos
é feita ao vivo ali diante do cliente vendo a batata
dos clientes em redes de Fast Food de todo o
sendo preparada. Avenida Sargento de Milicias
país. Na Pavuna, logo na saída da estação do em frente ao numero 23 - Pavuna/RJ.
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Isabela Del Rio
A procura do trailer é intensa, salvo aqueles dias que você quer dormir no congelador. O Russo, nome simplificado que os moradores deram, serve diferentes tipos de sopas e caldos: vaca atolada, bobó de camarão, sopa de legumes, angu, sopa de ervilha, mocotó, sopa de siri, caldo verde, sopa de ervilha, feijão amigo com torresmo, hufa! Será que me esqueci de algum? Eu, particularmente, AMO o feijão amigo e já peguei a receita: 1/2 kg de feijão; 250 g de bacon inteiro; 2 linguiças calabresas; 1 molho de couve; 1 molho de cheiro verde; 1/2 cebola picada; 4 dentes de alho; 4 folhas de louro; 1 tablete de caldo knorr feijão; sal e pimenta-do-reino a gosto. O modo de preparo é assim: coloque o feijão com as folhas de louro para cozinhar, depois doure o alho e a cebola previamente triturados com a pimenta-doreino e adicione ao feijão depois de pronto. Deixe esfriar e bata no liquidificador bem batido junto de algumas rodelas da linguiça
calabresa. Leve à frigideira o bacon e com a calabresa que sobrou cortada em pequenos pedaços e deixe dourar até ficarem bem torradinhas. Após dourar o bacon e a calabresa leve novamente o feijão ao forno e coloque o tablete de caldo knorr e o sal a gosto e assim que estiver quente coloque o bacon e a calabresa. Por último coloque refoque a couve na mesma banha do bacon e da calabresa e pronta junte ao feijão. Deixe ferver ao ponto e em seguida junte ao feijão a couve. O valor depende do tamanho, varia de 5,00 a 8,00 reais, mas o copinho ao lado de feijão amigo foi 6,00. O bom é que não é muito salgado, o atendimento é muito bom (pena que o Russo não estava), você pode incrementar a sopa com pimenta, azeite e como já está tudo pronto e é só servir não demora. Detalhe, eles entregam e ainda aceitam cartão de crédito e débito. Recomendo muito e digo que de podrão esse não tem nada. 25
FEIRA DAS YABÁS
espalhadas pela Praça Paulo Portela, em Oswaldo Cruz, a comida afro-brasileira. Dentre as barraqueiras mais famosas, está a homenageada Tia Surica, que oferece mocotó e aipim com carne seca. Há também outros pratos típicos, como a rabada com angu da barraca da Dona Neném, a vaca atolada da Tia Natércia e a tripa lombeira da Rosângela. As outras 13 barraquinhas não deixam por menos.
Vaca atolada faz sucesso em Guadalupe
Débora Scherrer
Flávia Mondêgo
A Feira das Yabás é o evento perfeito que une duas paixões do carioca: samba de roda e gastronomia. Englobam-se todos os cariocas, porque o a feira tradicionalmente suburbana, já correu por bairros longe dos trilhos do trem. E, também, já recebeu “migrante” de outros bairros da cidade. Iabá, Yabá ou Iyabá , que significa Mãe Rainha, é o termo usado para definir, no Brasil, os orixás femininos Yemanjá e Oxum. Esse nome foi escolhido para homenagear as matriarcas das famílias de Oswaldo Cruz. O idealizador do evento, o sambista Marquinhos de Oswaldo Cruz, de forma honrosa as tias da velha guarda da Portela. O compositor cresceu nos quintais do bairro que lhe rendeu o apelido, ouvindo música e comendo na casa das Tias Doca e Surica. Com a periocidade de uma vez ao mês, sempre no segundo domingo. A feira gastrônoma resgata, nas 16 barracas 26
O trailer de caldos e sopas mais conhecido de Guadalupe é famoso por oferecer o prato vaca atolada, caldo composto de creme de aipim e leite com caldo de carne seca desfiada por cima. Elaine, dona da barraca, diz que o segredo é bater bastante o aipim no liquidificador até ficar um creme bem espesso e homogêneo. Ela conta que a clientela é bem fiel e frequenta mesmo em dias quentes. Além do prato principal, bobó de camarão, sopa de ervilha, mocotó, caldo verde e angu à baiana também são bastante procurados. O estabelecimento fica na Rua Melhoral, em frente ao Shopping Jardim Guadalupe. O trailer é recorde em vendas todos os dias, exceto as segundas-feiras e os dois últimos domingos do mês, quando não abre. A vaca atolada mais famosa de Guadalupe, tem uma receita muito especial, veja a seguir:
Ingredientes •1 kg de mandioca amarela •2 kg de costela de boi •3 cebolas grandes picadas •1 cabeça de alho picada •1 xícara de azeite de oliva •1 maço de alho poró •1 maço de cebolinha picada •5 tomates maduros picados sem sementes •1 cálice de vinho tinto •Sal •Molho de pimenta para servir •Queijo parmesão ralado para servir •Torradas de pão francês para servir Modo de Preparo Mandioca: Colocar em uma panela a mandioca para cozinhar com pouco sal Cozinhar até a mandioca ficar bem macia Reservar a mandioca com parte da água do cozimento Bater no liquidificador ou processador para formar um caldo grosso homogêneo Costela: Em uma panela de pressão, refogar o alho e a cebola no azeite de oliva Acrescentar a costela cortada em pedaços quando os temperos estiverem bem dourados Refogar bem até a carne ficar corada, acrescentar 2 colheres de sal e os tomates picados Refogar até o tomate amolecer e acrescentar o cálice de vinho Acrescentar água que cubra a carne e deixar sob pressão por 1 hora para que a carne fique bem macia e desprenda do osso Ao término do cozimento da carne, soltá-la do osso e deixar em pedaços desfiados Retirar os ossos Caldinho: Juntar a carne desfiada e o caldo do cozimento com a mandioca batida, deixando engrossar sob fogo médio mexendo sempre
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Quatro décadas de angu
O melhor anggú do subúrbio carioca
José Carlos
A
maioria dos bairros do subúrbio carioca tem as suas referências e com o Engenho de Dentro não é diferente. E uma das suas referências em questão de comida de rua é o “Angu d’Rey”. Com um aspecto maravilhoso, um aroma de tempêro caseiro e uma pimentinha para quem quer esquentar mais ainda o prato, a carrocinha do seu João está há 46 anos no mesmo lugar, na esquina das ruas Dias da Cruz com Adolfo Bergamini. Por trinta anos a carrocinha de angu foi à sua única atividade profissional. Com o falecimento do seu João no ano 2000 o seu filho mais velho, que tem o mesmo nome do pai, assumiu a frente do negócio e acredita que o sucesso do prato está na manutenção do paladar. Dona Irene, viúva do seu João, sempre foi à pessoa responsável em fazer o angu. Hoje com 70 anos de idade não tem a 28
Angu D’Rey, foto: José Carlos
mesma capacidade física de quando começou o negócio com o marido, e para vencer o peso do tempo conta com sua fiel escudeira Marilena, a quem ensinou os segredos para se fazer um angu apetitoso. Há 28 anos Marilena é o braço direito de dona Irene, e além de aprender a receita, também coloca uma pitada de dedicação, carinho e amor, sentimento que demonstra quando fala com as pessoas sobre sua participação no preparo da iguaria. Segundo João, filho, sua clientela é fiel. Alguns clientes preferem levar para comer em casa com a família, mas a maioria gosta mesmo é de acompanhar o prato com o bom papo com o João e com os outros clientes, não se incomodando em saborear o quitute sentado na mezinha ou em pé na barraca, na esquina mesmo.
A prova do sucesso do angu é ouvir o advogado Adalberto, que foi morador do bairro e se vanglória de freqüentar a barraca desde a época do seu João, pai. “Hoje moro em Jacarepaguá, mais quando morava ali, naquela casa, era certo todo sábado vim aqui com a minha esposa comer angu, não tinha janta em casa”, disse ele enquanto aguardada ser atendido. Revelou ainda que como seu escritório é no Centro da Cidade e mora na Zona Oeste, o Engenho de Dentro não faz parte do seu itinerário e com isto deixou de lado o hábito de comer o angu, mas agora por questões profissionais, há três semanas está tendo que retornar ao bairro e não resistiu, voltou a freqüentar a barraca neste período. E rindo comenta ainda que ao falar em casa que o angu está tão gostoso como antes, foi ameaçado de dormir na sala se não levar para casa uma quentinha na sexta-feira. João garante que os miúdos de boi e a rabada são de ótima procedência, assim como todos
os outros ingredientes. E que nem o apelo por comida saudável alterou seu movimento, porque as pessoas podem ficar um, dois ou mais meses sem aparecer, mas quando querem comer um angu, sempre retornam.
A barraca funciona de segunda a sextafeira, das 17h às 22h e o prato de angu
Também tem a opção de comer em casa
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Super Escolas de Samba SA Luis Felipe Rio de Janeiro completou 450 anos de muitas histórias. O maior espetáculo da terra está ligado, o carnaval, à cidade maravilhosa desde seu nascimento e por muitas das vezes explorou exclusivamente a cultura brasileira em seus enredos trazendo conhecimentos diversificados sobre o tema. Entretanto com a evolução tecnológica, que permitiu que as informações fossem compartilhadas instantaneamente, tornando o mundo menor digitalmente, os temas perderam as restrições nacionais e passaram a ser globais. O lado positivo dessa mudança é um maior conhecimento sobre a cultura de outros países, porém há aspectos negativos como a desvalorização da cultura nacional. Se compararmos o carnaval atual com o das décadas passadas, iremos identificar que os sambas eram mais cadenciados, os bambas eram as estrelas do espetáculo e as escolas não se preocupavam somente em ganhar o campeonato. O maior objetivo era fazer um carnaval que ficasse marcado na história. Como por exemplo, “Aquarela Brasileira”- Império Serrano 1964, “Sonhar não custa nada... ou quase nada” - Mocidade Independente de Padre Miguel 1992, “É hoje” - União da Ilha de 1982, “Kizomba, a Festa da Raça” – Vila Isabel 1988, além do inesquecível “Bum bum paticumbum prucurundum”- Império serrano - 1982. Esse ultimo samba citado levou a escola da Serrinha ao 30
seu nono titula do carnaval carioca e trouxe para avenida o enredo que traduz toda essa mudança que o carnaval carioca passou e ainda está passando. O “Bum bum paticumbum prucurundum” afronta essa transformação “imposta” pela globalização do carnaval. O samba cantava desde o nascimento do carnaval carioca e seus instrumentos, passando pela “primeira avenida” na Praça 11, até as escolas atuais que foram denominadas como “Super Escolas de Samba SA”. No inicio as escolas de samba eram formadas por um grupo de 60 a 100 bambas com estrutura simples. Na década de trinta as escolas de samba estavam à procura de sua identidade e com o passar dos anos elas foram se desenvolvendo até completar sua espinha dorsal básica nas décadas de 40 e 50. Elas possuíam enredo, samba enredo, alegorias, fantasias, baterias e outras características. Nessa época as escolas ainda refletiam as suas comunidades e suas baterias são reconhecidas e distinguidas através de suas batidas que fazem alusão aos seus santos padroeiros. Incialmente os desfiles eram realizados na Praça Onze no centro do Rio de Janeiro, posteriormente os desfiles foram mudando de local devido a obras ou interesses particulares de autoridades da época. Em 1961 os organizadores dos desfiles passam a cobrar ingressos ao publico. No ano de 1978 as escolas passam
a desfilar na Rua Marques de Sapucaí com arquibancadas que eram montadas e desmontadas após o evento.
Samba Enredo de 1982 do G.R.E.S Império Serrano - paticumbum prugurundum Autores: Aluízio Machado e Beto “Sem Braço”.
“Bumbum paticumbum prugurundum O nosso samba minha gente é isso aí, é isso aí Bumbum paticumbum prugurundum, Contagiando a Marquês de Sapucaí (Eu enfeitei ) Enfeitei meu coração (enfeitei meu coração ) De confete e serpentina Minha mente se fez menina Num mundo de recordação Abracei a coroa imperial, fiz meu carnaval, Extravasando toda a minha emoção Óh, Praça Onze, tu és imortal Teus braços embalaram o samba A sua apoteose é triunfal De uma barrica se fez uma cuíca De outra barrica um surdo de marcação Com reco-reco, pandeiro e tamborim E lindas baianas o samba ficou assim Com reco-reco, pandeiro e tamborim E lindas baianas o samba ficou assim E passo a passo no compasso o samba cresceu Na Candelária construiu seu apogeu As burrinhas, que imagem, para os olhos um prazer Pedem passagem pros moleques de Debret As africanas, que quadro original Iemanjá, Iemanjá, enriquecendo o visual( Vem meu amor) Vem, meu amor, manda a tristeza embora É carnaval, a folia, neste dia ninguém chora Super Escolas de Samba S/A Super-alegorias Escondendo gente bamba Que covardia!”
Leonel Brizola, então governador do estado em 1983, solicita um projeto de um local definitivo ao arquiteto Oscar Niemeyer. Assim foi construída Passarela Professor Darcy Ribeiro, localizada na Avenida Marqueis de Sapucaí. Na década de 70 se consagrou uma revolução estética nas escolas que foi custeado pelos patronos, que nas figuras de banqueiros “do bicho” financiavam os carnavais produzidos pelas escolas de samba. Na revolução estética as escolas substituíram os artesões pelos artistas plásticos, alunos das escolas das artes e artistas da televisão. Essa mudança se deu inicio nos Acadêmicos do Salgueiro. O Nelson Andrade, então presidente da agremiação, trouxe os artistas plásticos Dirceu e Mariluise Nelly para realizar o carnaval de Debret em 1959. A escola conseguiu o segundo lugar. Assim os temas abordados pelas escolas deixaram os limites da história do Brasil. Desta forma as agremiações diminuíram os bambas que possuíam uma grande identificação com a comunidade e deixaram a produção das escolas nas mãos dos artistas plásticos consagrados, buscando o titulo de melhor carnaval nos concursos disputados anualmente. Essa globalização foi lembrada pelo Tiãozinho da Mocidade no programa Samba de Gamboa apresentado pelo cantor Diogo Nogueira. “Estão globalizando demais uma coisa que era para cada uma ter sua característica. Era muito interessante ouvir um cd e dizer: ih esse aqui é da Portela, olha essa batida é do Salgueiro, essa
batida é da Mocidade. No inicio todos batiam como a mangueira bate. Na década de 40 a Portela cria a segunda que é o surdo de resposta. Na década de 60 a Mocidade na figura de Tião Miquimba, com a direção do mestre André, cria a terceira. Isso deu molho, deu balanço. Mas nada mais é do que estava na memória deles o Rum, Rumpi e Lê. Que era herança que eles traziam dos centros de curimbas. Isso se acabou. Você não tem mais essa referência. Todo mundo bate igual, todo mundo faz as mesmas paradinhas. As escolas se perderam elas precisam voltar naquela fonte, bebe um pouco da água dos nego veio e trazer novamente aquilo que há de essência para fazer um carnaval diferente.” Outro ponto a se destacar é a mudança do publico alvo. Deixou de ser os membros das escolas de samba ou pessoas que admiram o carnaval carioca e passou a ser os turistas que com sua moeda valorizada movimenta economia local. Com isso o que antes era uma festa compartilhada com o publico que cantava e dançava de acordo com o samba apresentado na Sapucaí, passou a ser uma apresentação para turistas desengonçados que ao som da bateria tentam acompanhar o ritmo, que foi encontrado após meses de repetidos ensaios, além de deslumbramento pelas passistas das escolas. Com os valores dos ingressos elevados são cada vez mais frequentes a presença de turistas por toda arquibancada da Sapucaí, restando os setores um e treze, com os preços mais populares, para os torcedores demonstrarem seu sentimen 31
a ideia do seu nascimento. Eu acho que as escolas de samba hoje estão muito mais dirigidas a um publico havido em espetáculo do que propriamente uma diversão do povo. LFA: No samba do Império Serrano de 1982 no seu ultimo verso do seu corpo poético o autor conta que as escolas de samba estão se transformando em uma grande empresa e nessa nova organização as pessoas enraizadas com a comunidade são escondidas ou deixadas em segundo plano. Como você vê essa troca de valores? Deixa Falar, primeira Escola de Samba do Rio de Janeiro LFV: Você acabou de dizer. Inversão de valores. Na media to pela escola. O que deveria Luis Felipe Aragão: Os sam- que você tem agremiações que ser uma manifestação da cul- bas de hoje não são iguais são feitas de pessoas puras, tura popular brasileira se tor- aos de décadas atrás. As es- puristas, ingênuas e que tem na uma festa de nu explicito colas mudaram e o com con- como única finalidade a diverpara chamar atenção de pes- sequência disso o carnaval são, e isso são mudadas para soas que vivem o carnaval por também. Como o senhor vê um espetáculo, você mudou apenas um ou dois dias. Seria as mudanças que as escolas toda a origem daquela agrerazoável pensar que os mem- de samba sofreram nos últi- miação. Transformou aquilo bros suburbanos das comu- mos anos? que era uma brincadeira esnidades estão representando pontânea de pessoas da classe sua escola, desfilando pela média baixa, num espetáculo Sapucaí, somente para entrepara a classe média alta e turistenimento das pessoas com tas. Então foi mudado compleum poder aquisitivo elevado e tamente o objetivo do desfile e turistas? Dessas pessoas não assim descaracterizou as escohá nada além de uma simpalas de samba. Isso é notado na tia por essa ou determinada própria musica que é tocada, já escola. Não existe um sentinão é mais o samba de enredo mento em ter sua “raiz” vinoriginal. Porque mudando as culada à escola que na quarta pessoas e mudando os objetifeira de cinzas vai fazê-la ri ou vos, estão mudando a escola. chorar. LFA: O Tiãozinho da MocidaPara entender um pouco de disse no programa “Sammais sobre as mudanças culba da Gamboa”, apresenturais que o carnaval sofreu tado pelo Diogo Nogueira, com o passar dos anos, conque hoje das dozes escolas versamos com o professor, Luiz Fernando Vieira: Qual- de samba do grupo especial pesquisador, poeta, escritor e quer coisa que é espontânea e dez possuem em sua bateria letrista Luis Fernando Vieira. do povo, quando você desvir- batidas semelhante uma da O Educador da FACHA foi ju- tua você descaracteriza. Então outra. Somente a Mocidade rado no carnaval carioca e é descaracterizando aquilo que Identidade de Padre Miguel, um grande admirador da cul- o povo fez crescer e nascer, com o surdo de terceira, e a tura brasileira. está mudando completamente Mangueira, com apenas um 32
surdo, são diferentes. Essas duas mantém em sua batida a identidade dos padroeiros de suas escolas. O que se deve a essa falta de singularidade? LFV: Quando era fundando uma escola de samba, entre seus fundamentos estava o orixá que protegia a escola. Esse orixá, seja ele qual for, ele é chamado no terreiro através de um canto. Esse canto tem uma batida, um toque, e esse toque era do santo daquela escola. Ora se cada escola tinha um santo diferente e cada batida era diferente, quando não tem mais os fundamentos e não liga mais para os precursores, a mudança pela mudança, você descaracteriza a escola. Ela passa a não ter mais aquele valor. A mangueira como mantem Oxóssi como seu guardião ele mantem o seu toque desde sua fundação. LFA: Continuando com o pensamento do Tiãozinho que teve cinco sambas campeões pela Estrela Guia de Padre Miguel. Ele afirmou que os atuais compositores de samba que concorrem nas escolas deveriam voltar um
pouco no tempo e aprender com os sambas antigos que eram elaborados com mais identidades com a escola e sua comunidade. O que se deve essa falta de identidade dos sambas? LFV: Os organizadores fizeram uma tal de “sinopse” que tirou toda a criatividade do compositor. Ele ao invés de fazer espontaneamente fazer uma samba, ele segue um sinopse que quer agradar “A” ou “B”, ou até mesmo um patrocínio. Então virou um comercio. LFA: O senhor foi jurado por muitos anos e chegou a fundar uma faculdade sobre o carnaval que era localizado na Estácio na Praça 11. Conte um pouco sobre essas histórias. LFV: Sempre sou chamado para participar, conheço escolas do Brasil todo e de outros países, como Argentina e Portugal. O que eu vejo nesse movimento é que quanto mais essas escolas são do interior, mais puristas elas são. Com mais pureza elas ainda existem. Mas essas são as características da fundação primaria das escolas de samba que foram feitas aqui
no Rio de Janeiro. Então houve uma mudança de valores e isso mudou toda a forma de você observar. Quando a gente fez a faculdade de escola de samba, ela tinha como objetivo discutir as escolas de samba como um todo. Analisando escola por escola, atividade por atividade, quesitos por quesitos, para formar um história das escolas de samba, uma história do carnaval ligado às escolas de samba. Esse era o principal objetivo, além de formar pessoas com esses conhecimentos gerais, capacitar pessoas para serem gestores dessas novas escolas. Infelizmente nos saímos de lá e acabou a Faculdade. LFA: A quantidade de estrangeiros nas arquibancadas da Sapucaí aumenta a cada ano. Apenas os setores 01 e 13, os mais populares, sabem cantar os sambas das escolas no grupo especial. O restante da avenida só se houve a escola cantando e as arquibancadas caladas. O carnaval está sendo feito para o turista. Qual é a sua opinião sobre isso? LFV: Os ingressos afastaram o
33
Um título disputado fora das quatro linhas
Setor 1 da Sapucaí.
povo. O povo que não brincava por motivos profissionais, religiosos ou familiares, ele gostava de ir assistir e se organizavam em grupos familiares ou de bairros e depois que o preço ficou exorbitante ninguém quer ou tem condições de pagar o valor do ingresso. Além de ter a com a transmissão do desfile pela televisão, que substituiu em partes a presença na arquibancada. Os blocos de rua deram outra opção para o divertimento carnavalesco. Hoje quem vai para assistir, ou vai para ficar no inicio (setor 1) onde escola ainda está se formando ou vai para a “dispersão” que são os locais mais baratos. Essas pessoas fanáticas, ainda possui um resquício de brasilidade na veia. O restante das arquibancadas da avenida são turistas internos ou exter34
nos que vem para assistir uma ou duas escolas e depois vão embora, deixando aquilo vazio sem expressão nenhuma. São os próprios dirigentes que estão acabando com as escolas de samba. As escolas de sambas estão sendo feitas para os turistas. LFA: Para finalizar, você ainda acha que é possível voltar atrás e realizar um carnaval de antigamente, cadenciado com o tempo para os bambas brincarem na avenida, como é vislumbrado em outros estados? Ou as “Super Escola de Samba SA” serão cada vez mais frequentes? LFV: É uma ilusão queremos que as escolas de sambas sejam iguais de quando foram fundadas. Vai fazer cem anos desde o surgimento das escolas de sambas. É impossível,
cem anos depois, manter a mesma originalidade com os mesmo objetivos. Mas aquela ingenuidade e aquela vontade de desfilar nas escolas, defendendo suas cores e cantado seu hino com seus pares na avenida, com garra para ser a melhor agremiação, isso ainda pode voltar. Porem o lirismo e o purismo que se encontravam no início do século passado, isso não. O mundo mudou e com isso mudou tudo ao seu redor. As escolas de sambas não são exceções. Mas podem ter o fervor e paixão pela as cores das escolas, pela localidade onde existem ou de seu nascimento, pelas musicas que são feitas por elas. Isso só será possível com um novo ideal, com o objetivo de uma nova identidade e com uma maior brasilidade. Assim poderá melhorar.
Por Luís Aragão
O
Clube de Regatas Vasco da Gama se orgulha em dizer que foi o primeiro clube de futebol a escalar um jogador negro em seu time principal. Tal feito é celebrado por torcedores que com o peito estufado diz que o seu time foi o responsável pela quebra desse infeliz paradigma. Mas o que poucos sabem que há outra versão sobre o pioneirismo na escalação de um jogador negro no futebol. Na fabrica de tecidos localizada na zona oeste do Rio de janeiro, o Bangu Atlético Clube teve na figura de Carregal o primeiro jogador negro do seu clube e segundo suas informações em sua historia, o primeiro da historia do futebol. Em ambos os episódios houve repudio dos times adversários. Fundando em 1904 por ingleses que trabalhavam na fabrica de tecidos do Bairro, o Bangu, assim como outros clubes da época, possuía somente jogadores brancos em seu time. Em 1905 o time da zona oeste aceitou um operário brasileiro chamado Franscisco Carregal. Em seu time formado por cinco ingleses (Frederick Jacques, John Stark, Willlian Hellowell, W. Procter e James Hartley), três italianos (César Bocchialini, Dante Delloco e Segundo Maffeo), dois portugueses (Francisco de Barros, modesto guarda da fábrica conhecido como Chico Porteiro, e Justino Fortes), só havia um jogador diferente em sua cor de pele, o brasileiro Franscisco. O Carregal era tecelão da fabrica Bangu e como no início do século XX o futebol era considerado um esporte de elite, com equipamentos caros para as sua pratica, ele improvisou os equipamentos necessários para a prática do futebol. O meião era meias normais presas por ligas em sua perna e chuteira era sua botina com travas pregadas na sola. Para tentar não desentoar do restante do time, Carregal era o jogador mais bem vestido de todo o time, sempre
Time do Bangu perfilado no início do século XX (Foto: Site Oficial do Bangu)
de terno e gravata. Ele pensava que cuidando da vaidade iria evitar o pré-conceito dos outros jogadores. Seu primeiro jogo oficial foi contra o Fluminense, time elitista que não aceitava nenhum jogador negro em seu elenco, no dia 14 de maio de 1905. O Bangu jogando no jardim de sua fabrica venceu o tricolor carioca por 5 a 3. Após encerrar sua carreira, o primeiro jogador negro da historia do futebol, virou tesoureiro do time vermelho e branco. Por ter feito essa ato histórico o Bangu recebeu em 2001 a medalha Tiradentes, maior símbolo de condecoração dado pelo governo do Estado. Além de ter o primeiro atleta de futebol negro, o time carioca terminou com a distinção entre torcedores. Entre os campos cariocas da época pessoas mal trajadas não poderiam adentrar no estádio de futebol. No seu campo ao lado da fabrica têxtil não havia sequer divisória para separar pessoas de classes sociais diferentes. O Clube de Regatas Vasco da Gama foi, por sua vez, o clube mais corajoso ao enfrentar esse pré-conceito. O gigante da colina foi campeão carioca em sua estreia na primeira divisão carioca em 1923. Com patrocínios de portugueses, o clube pagavam bichos e salários para os atletas que se dedicassem somente ao futebol. Contra esse cenário os adversários de expressão (Fluminense, Flamengo, Botafogo, América) decidiram se desfilar Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) e fundar a AMEA (Associação Metropolitana de Esportes Atléticos). O Bangu, que na época possuía a maioria do seu time jogadores que trabalhavam em sua fabrica, foi convidado a participar com os outros clubes. Essa nova organização tinha regras que pregavam que todos os jogadores deveriam ter emprego descente, saber ler e escrever corretamente e estar estudado regularmente. Como possuía jogadores negros que
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não atendiam essas qualificações foi exigido ao Vasco da Gama que afastasse 12 jogadores do seu elenco. Porém o clube não aceitou e assinou um oficio em 7 de abril de 1924 em repudio as determinações discriminatórias da entidade. No ano seguinte houve um acordo entre a AMEA e o time da colina. Devido a esse acordo todos os clubes puderam inscrever jogadores negros e de classes sócias inferiores. Independente do pioneirismo ambos os clubes foram extremamente importantes pela quebra
desse desagradável paradigma vivido na época. Um clássico do futebol carioca que só contribui para o crescimento do futebol. Bangu ou Vasco, não importa qual foi o primeiro time a ter um jogador negro em campo, o importante é ter dois times tradicionais lutando contra regras impostas aos clubes por uma descriminação sem cabimento. Além de se orgulhar em ter na sua historia um capitulo contra o racismo no futebol. O titulo de igualdade racial esses clubes já conquistaram e são exemplos a serem seguidos até hoje.
Já virou realidade
Thiago Alzer durante a cerimônia de encerramento da última edição (Foto: Douglas Theodoro) )
Um jovem apaixonado por futebol tinha um time de bairro que jogava pequenos torneios na Zona Norte do Rio de Janeiro. Notando uma grande desorganização nos torneios, tomou a iniciativa de criar seu próprio campeonato, em 2008. Hoje, o jovem de 27 anos tem uma liga com 120 times, quatro divisões, além de equipe de foto, reportagem e até festa de premiação, em um projeto conslidado no mercado dos esportes. Essa conhecida liga de futebol 7 vem tomando conta do cenário da Zona Norte do Rio de Janeiro. Há sete anos no mercado, a Liga Zona Norte conta com uma das maiores estruturas do cenário Fut7 no Brasil. O campeonato regional acontece todo semestre, e é dividido em cinco divisões, sendo a Elite LZN, 1ª, 2ª, 3ª e 4ª divisão. Todas elas contam com 20 equipes disputando o título, exceto na 4ª divisão, onde 40 equipes buscam o caneco, totalizando um número de 120 times e mais de 2.000 atletas inscritos. O presidente da Liga se chama Thiago Alzer. O jovem de 28 a anos não se via como um empreendedor, iniciou a Liga como uma diversão e teve muitas dificuldades no começo. “Eu não pensava em seguir nisso no começo, mas fui vendo que poderia me render bons frutos e segui em frente. A maior dificuldade no começo era conse-guir organizar, apitar, conseguir as bolas, postar os resultados, artilheiros, cartões, tudo sozinho”. Hoje a Liga Zona Norte conta com colaboradores para assessoria de imprensa, reportagem, fotos,
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Gol da Alemanha!
Por Gabriel Sarmento
vídeos, além de pessoas empregadas nos setores administrativos e jurídicos da empresa. Dentro de campo, um quadro de arbitragem extenso e com muitos arbitros das principais federações do Rio fazem parte da equipe e também um diretor de arbitragem e o presidente Thiago Alzer consegue se considerar um empreendedor. “Hoje tenho uma Liga consolidada no mercado de Fut7 e consigo gerar empregos. Me considero, sim. Depois de tanto tempo nesse ramo já tenho parceiros, tenho pessoas que trabalham para a entidade e ainda auxilio quem tenta criar nova ligas. A LZN (Liga Zona Norte) é bem conhecida no Rio de Janeiro e gera uma renda para diversas pessoas envolvidas como repórteres, fotógrafos, árbitros, mesários, donos de campos e os demais colaboradores”. Um jovem apaixonado por futebol tinha um time de bairro que jogava pequenos torneios na Zona Norte do Rio de Janeiro. Notando uma grande desorganização nos torneios, tomou a iniciativa de criar seu próprio campeonato, em 2008. Hoje, o jovem de 27 anos tem uma liga com 120 times, quatro divisões, além de equipe de foto, reportagem e até festa de premiação, em um projeto conslidado no mercado dos esportes. Essa conhecida liga de futebol 7 vem tomando conta do cenário da Zona Norte do Rio de Janeiro. Há sete anos no mercado, a Liga Zona Norte conta com uma das maiores estruturas do cenário Fut7 no Brasil. O campeonato regional acontece todo semestre, e é dividido em cinco divisões, sendo a Elite LZN, 1ª, 2ª, 3ª e 4ª divisão. Todas elas contam com 20 equipes disputando o título, exceto na 4ª divisão, onde 40 equipes buscam o caneco, totalizando um número de 120 times e mais de 2.000 atletas inscritos. O presidente da Liga se chama Thiago Alzer. O jovem de 28 a anos não se via como um empreendedor, iniciou a Liga como uma diversão e teve muitas dificuldades no começo. “Eu não pensava em seguir nisso no começo, mas fui vendo que poderia me render bons frutos e segui em frente. A LZN conta com uma filiação a Federação do Rio de Janeiro e possui uma arbitragem profissional, cobertura de fotos e vídeos. Um dos pontos altos é a festa de premiação semestral nos moldes dos grandes prêmios do futebol, a seleção do campeonato da Elite e da 1ª divisão que contempla os três melhores de cada posição e o famoso concurso de Musa LZN, onde as votações do público atingem números impressionantes, com uma média de 20 mil votos por concurso nas redes sociais.
Por Diego Castro e Lazlo Dalfovo Num país diferente dos europeus e com tantos insucessos sociais, ser os melhores do mundo no futebol nos tornavam muito grandes, acima de tudo e todos. Para tentar entender um pouco, basta voltar no tempo e lembrar dos passeios pela cidade do Rio de Janeiro, por exemplo. Sempre lotados, os campinhos de pelada, as ruas, as areias das praias, tinham sempre a bola como o centro das atenções. E em cada canto era fácil de perceber que se tratava apenas de uma brincadeira, mas que todos os meninos queriam que, lá na frente, virasse coisa de gente grande. Nos campinhos de várzea onde surgiram os Didis, os Garrinchas, os Zicos, os Romários, jogar bola sempre foi e sempre será a maior diversão de todos na infância. Pés descalços e bola (seja de couro, meia, papel, etc.) são ingredientes que dão início à brincadeira, e que ensinou o país a jogar futebol melhor do que o resto do mundo. Como não se tinha mais campos de pelada, perceberam que podiam reinventá-lo e foram criadas as famosas escolinhas de futebol. Inventadas para ocupar o vazio que ficou no processo educacional tais escolinhas despertaram o interesse de grandes e empresários que visaram naquele “novo empreendimento”. E para se ter acesso ao futebol teria que se pagar, e com isso, o que ocorreu? Muitas crianças ficaram de fora desta nova brincadeira por motivos de dinheiro. E os professores dessas escolinhas não conseguiam levar para dentro de campo o aprendizado das ruas. Antes mesmo de sentirem as dificuldades do futebol amador, os meninos já são cobrados como mini-profissionais, que tão jovens já desprovidos da essência, da chama dos antigos jogadores do futebol brasileiro. Fábio Storino, editor do diário LANCE!, comentou sobre o atual panorama dos campos de peladas cariocas. “O futebol brasileiro virou coadjuvante no cenário mun-
Praça Manet, localizada em Del Castilho (Foto: Reprodução / Internet)
dial. A perda da qualidade que sempre foi restrita aos nossos jogadores, foi se perdendo com o passar dos tempos junto com os campos de várzea, importantíssimos na formação dos profissionais de antigamente. No bairro em que eu nasci e vivo até hoje, o Méier, existiam muitos campos de pelada, onde os times da zona norte jogavam entre si nos fins de semana, O desaparecimento dos campos está retirando umas das únicas opções de lazer que nós, suburbanos, temos”, comentou o editor. Mas o tempo foi passando e a especulação imobiliária foi se apossando dos campos de pelada do subúrbio do Rio. A área, hoje, mais degradada da cidade já foi uma das mais badaladas. Antes provida de grandes locais de lazer, a zona norte foi perdendo sua essência. Em sua maioria, os campos de pelada deram lugar a conjuntos habitacionais, sem opções de entretenimento, os famosos pombais. A cada prédio que era erguido, quase na mesma proporção, nós perdíamos um campo de várzea. Só no Méier, três campos famosos que desapareceram: o campo da Conceição, da Mocidade e do Paris. Em Água Santa, o campo de futebol do Violeta, onde hoje dá lugar a mais um conjunto habitacional, ou em Quintino no campo em Zico deu seus primeiros passos. João Saldanha já alertava a todos sobre esse perigo: “O Rio de Janeiro pagará um alto preço pelo fim dos seus campos de várzea”. A cada campo desaparecido os dias e as noites da zona norte ficam sombrias, sem magia e sem calor. Como passar um fim de semana nas ruas da região e não poder desfrutar das peladas, das conversas com os amigos, sem aqueles jovens animados pela possibilidade do novo, enjaulados em apartamentos sem nenhum lazer, sem nenhuma perspectiva do novo. O menino e seu controle de vídeo game, em frente aos seus computadores e digitando em seus celulares. A magia da infância dos meninos da zona norte desapareceu junto com os campos de pelada.
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Transportes
públicos A
X Qualidade
de vida
realidade dos cariocas.
A expectativa
A realidade
Débora Scherrer Caroline Fernandes Diariamente, ônibus lotados e um trânsito caótico compõem o cenário da cidade maravilhosa, mas maravilhoso mesmo seria se o sistema de transporte fosse o ideal para que as pessoas tivessem qualidade de vida, isso significa passar mais tempo com a família fazendo atividades que proporcionem prazer como recompensa de uma semana inteira de trabalho. A verdade é que além das 8 horas diárias trabalhadas, a maioria das pessoas passa em média de 2 a 3 horas no trânsito. Segundo uma pesquisa divulgada pelo app movit, o carioca perde mais tempo por ano com transporte do que com férias. Haja paciência! É realmente necessário muita calma para enfrentar o trânsito e suportar o estresse do dia a dia. Durante uma semana, conversei com diversos usuários e pude ver de perto a dificuldade que é depender do transporte público. Felipe do Vale mora em Maricá e estuda em Botafogo; Maria de Fátima mora em Autim (Nova Iguaçu) e trabalha em Irajá; O Leonardo Batista mora em Anchieta e trabalha na empresa Stampa Rede de Proteção que fica no Pechincha, em Jacarepaguá. Para chegar até lá ele precisa pegar dois ônibus e o metrô. Ele pega o 779, o metro até Del Castilho, de lá pega o 611 até o Pechincha. Aslan Bruno tem uma rotina bastante desgastante. Ele mora na Baixada Fluminense e trabalha no centro do Rio. Todos os dias, sai de Duque de Caxias às 4 da manhã e pega um ônibus de bairro (Hospital Infantil X Santa Tereza) até ó centro de Caxias. De lá pega o trem sentido Gramacho (para conseguir ir sentado) até a estação Maracanã, onde faz integração com o metrô e segue viagem até a estação Cidade Nova, onde trabalha. Ele sai às 18h do serviço. E pensa que acabou? Ele precisa pegar o ônibus da linha 457 até Botafogo onde fica faculdade que estuda. Para voltar para casa, ele anda cerca de 800 metros a pé até a estação do metrô de Botafogo e segue até a Carioca, de lá, pega o 2951 Limousine cariosa até Caxias. Manuel Vargas mora em Olaria e trabalha em Vargem Grande na empresa Serta Norte. Ele pega 3 ônibus para chegar ao destino. Um até a Linha Amarela, outro até o Rio Centro, e mais um para Vargem Grande. Ele diz ser desvantagem pegar o BRT por conta da superlotação e conta que pega contra fluxo, fugindo do transito pela manhã. A rotina dessas pessoas é semelhante à realidade de muitos brasileiros que fazem verdadeiras viagens para chegar ao trabalho, totalizando mais de 10 horas trabalhadas se somadas as horas no percurso. Diversas obras nas principais vias da cidade por conta dos jogos Olímpicos de 2016 dão origem aos 4 BRTs TransBrasil, trascarioca, transoeste, transolímpica que são importantes conexões que prometem reformular o sistema de transportes da cidade do Rio. Além disso, a Prefeitura vai retirar 700 ônibus da zona sul no segundo semestre de 2015. Das 123 linhas que circulam na região, 78 serão eliminadas, ou seja, não terá mais ônibus direto para a zona sul, somente metrô. Já as linhas que saem da Barra da Tijuca e que chegam ao centro serão encurtadas: farão apenas o trajeto até a zona sul. A inserção de mais trens pela Supervia e pelo Metrô, a inauguração do BRTs, a construção da linha 4 do metrô e outros fatores que constituem a reformulação do sistema de transporte parecem não surtir efeito em meio ao caos que o Rio de Janeiro tem enfrentado. Essas mudanças influenciam toda a malha de transporte da cidade do Rio. Por enquanto, a melhora prometida ainda é esperada.
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BRT- o TransBrasil, pelo qual devem passar 820 mil passageiros por dia serão ônibus articulados que passarão por um corredor exclusivo, que quando estiver pronto, contará com quatro terminais: Deodoro, Trevo das Margaridas, Trevo das Missões e Centro. O intervalo entre cada estação terá cerca de 1,3 quilômetros
Trens- para sediar as Olimpíadas e Paralimpíadas de 2016 as estações São Cristóvão, Deodoro, Vila Militar, Magalhães Bastos, e Ricardo de Albuquerque serão adaptadas e modernizadas para receber atletas, delegações, torcidas e população.
Metrô- com capacidade para 1,8 mil passageiros, os seis carros da Linha 4 que ligarão a Barra da Tijuca, na Zona Oeste, até Ipanema, na Zona Sul terão circulação normal a partir de julho de 2016.
Ônibus- entre os meses julho e dezembro a Prefeitura vai tirar 700 ônibus de circulação. As linhas que saem da Barra da Tijuca e que chegam ao Centro serão encurtadas: farão apenas o trajeto até a Zona Sul. O órgão informou que 20 novas linhas serão criadas para otimizar a qualidade do serviço aos passageiros. De acordo com a Prefeitura, o novo sistema deve ser totalmente implementado até as olimpíadas de 2016. 39
Orgulho de ser suburbano T
José Carlos
er identidade com o bairro onde mora para muitos cariocas é gratificante, principalmente quando filhos e netos nasceram no mesmo bairro que seus avôs se conheceram Esta é a realidade vivida por Carlos José Campos Maciel, também conhecido pelos amigos do bairro como Carlinhos Maciel, a quem podemos definir como um autêntico suburbano.
Carlos Maciel, Suburbano
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O carinho que Carlos Maciel nutre pelo bairro do Engenho de Dentro pode ser dito como hereditário, levando-se em conta que seus avós por parte de pai, Dermeval Miranda Maciel e Maria Amélia Policani Maciel e por parte de mãe, Fernando dos Anjos Campos e Olga Maria da Silva, eram todos moradores do bairro, onde cresceram, casaram e criaram seus filhos, Luis Carlos Policani Maciel e Olga Campos Maciel, pai e mãe de Carlos José. Seus pais seguindo o exemplo dos seus avós permaneceram morando no mesmo bairro e nele também criaram, Carlinhos. E este para ratificar família tipicamente suburbana escolheu para esposa e mãe dos seus filhos, Fátima Elizabeth Magdaleno Machado, também filha e neta de residentes do bairro. Desta união nasceram: Danilo Machado Maciel e Camila Machado Maciel, ambos já estão casados e mantêm a tradição familiar de morar no mesmo bairro. Camila lhe deu dois netinhos, Felipe Maciel e Pietro Macviel, que o avô acredita que vão crescer e não vão sair do Engenho de Dentro. E quando seu filho Daniel, que tem um comércio no bairro do Méier, justifica que quer trazer o seu negócio para o Engenho de Dentro porque o aluguel no Méier é muito alto, Carlinhos acha engraçado e afirma que é efeito da hereditariedade.
Proprietário de uma Imobiliária na rua Pernambuco, a duzentos metros da casa onde nasceu, Carlos Maciel quantifica que 90% de sua atividade profissional é desenvolvida no próprio Engenho de Dentro e a mesma coisa afirma sobre suas amizades. Acrescenta ainda que seus dias de lazer são completos quando têm um bom bate-papo na esquina, queimando uma carne e bebendo uma cerveja. E que o papo sempre gira em torno de samba e mais especificamente do Arranco, a escola de samba do bairro. Sem contar que sempre que é possível vai ao Estádio Nilton Santos, popular Engenhão, assistir ao jogo do seu mengão.
Em 2005, no seu segundo casamento, com Denise Lobos Borges, sua atual esposa, nascida e criada no Bairro da Tijuca, o casal decidiu morar no Recreio dos Bandeirantes. Apesar de estar mais próximo da praia, o que para a maioria dos cariocas seria o bastante, ele revela que não se adaptou e se sentiu como um peixe fora da água, chegando a desenvolver um quadro depressivo que só regrediu após recorrer a medicamentos e retornar a morar no antigo bairro. E hoje, Denise é tão identificada com o bairro do marido, que prefere pagar aluguel no Engenho de Dentro do que morar em um imóvel próprio no bairro onde nasceu e afirma que não pretende sair do Engenho de Dentro nunca.
Além de argumentar de várias maneiras o seu envolvimento com o bairro, a família cita como exemplo a participação ativa em uma das referencias da localidade. No final da década de 1940 o Arranco do Engenho de Dentro era um Bloco de Sujos e desfilava apenas no bairro. Porém, só em 1965 foi filiado a Federação de Blocos e na época assumiu como presidente o senhor Luis Carlos Policani Maciel, pai de Carlinhos Maciel, que na posição de um dos fundadores recebeu a inscrição 001. O filho que se envaidecido dos feitos do pai, em ter participar da fundação e da transformação do bloco em escola de samba, desde jovem adquiriu amor pela escola e nela foi ritmista, conselheiro, diretor e atualmente é
Fachada atual do G.R.E.S. Arranco
compositor. Já tendo visto a escola desfilar por quatro vezes com samba de sua autoria, Carlinhos aguarda no futuro alcançar certa estabilidade financeira para um dia se lançar como candidato a presidência da escola.
Carteira do Sócio 001
Como um bom suburbano Carlos José Campos Maciel se emociona ao falar do Engenho de Dentro, se orgulha de conhecer as pessoas pelos nomes e dizer que ela mora onde morou fulano pai de sicrano, de lembrar pelo nome os amigos da escola municipal onde estudou quando criança, de contar suas histórias de adolescente pelas ruas do bairro. E exercitando sua veia poética aos amigos recita o poema que fez para o bairro que para ele tanto significa, “Engenho de Dentro”. 41
Quintal do Coração (Carlinhos Maciel) Nasci e me criei no berço do pandeiro e do violão Na estação o trem apita... Oh, terra bonita, céu de pipa e balão Manhã de sol, um paetê dourado borda o azul do firmamento Vem o luar, espelho prateado E as estrelas pis cam o olhar pro Engenho de Dentro Meu recanto tem magia... Grãos de feitiço semearam nesse chão O orvalho rega leve a poesia... Brota logo a melodia... Desabrocha a flor da inspiração... E exala samba no quintal do coração Minha missa é sagrada aos domingos... Futebol e bate-papo na esquina T em pagode, forró, banda e até bingo... Cheiro de xepa, procissão e festajunina T em cadeiras nas calçadas e nas “cinzas” um bloco tradicional A fachada é um “Lar de Esperança”... Sua noite é uma criança A praça ainda abraça os seus casais E no Engenhão tem lances sensacionais Setembro é doce... Salve Cosme e Damião! Dezembro é paz... Amor... Prosperidade... Janeiro voa e fevereiro é explosão... Do carnaval mais animado da cidade.
“Uma singela homenagem ao meu berço que tanto amo” Carlinhos Maciel
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