Jornal EXPRESSO - Especial Alfredo Marques

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Expresso Especial

Compacto e completo

HOMEM PÚBLICO, COM MUITA HONRA ALFREDO MARQUES PRESIDENTE DO JORNAL EXPRESSO

O Ceará e o Brasil perderam no último sábado, 10, em Maranguape, um dos mais ilustres e autênticos expoentes da cena política democrática. Um guerreiro de bravura cívica, incansável e destemida. Sempre a postos em defesa das liberdades públicas e das garantias individuais. Um desenvolvimentista arraigado na luta permanente pela evolução sócio-político-econômica e cultural de sua terra. Um legislador apto e ao alcance das mais legítimas posições e prerrogativas de um Executivo. Qualquer que fosse a dimensão dos cargos e tarefas colocados em desafio, tanto no âmbito público como privado.

*14/04/1926 U10/04/2010 “É muito melhor arriscar coisas grandiosas, alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se a derrota, do que formar fila com os pobres de espírito, que nem gozam muito nem sofrem muito, porque vivem nessa penumbra cinzenta e não conhecem vitória nem derrota.” (Franklin D. Roosevelt)

Frase preferida e sempre pronunciada como inspiração pelo advogado, político e empreendedor Alfredo Marques


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Fortaleza, 16 a 22 de abril de 2010

BIOGRAFIA

Uma vida de luta pelo bem comum A

lfredo de Abreu Ferreira Marques nasceu em 1926, no sítio Columinjuba, em Maranguape, filho de Heizelmann Pereira Marques e Antonieta de Abreu Pereira Marques. Iniciou os estudos no Grupo Escolar José de Alencar, de sua cidade natal. Cursou o secundário no Colégio Farias Brito e no Ginásio Fortaleza. Concluiu o científico no Colégio São João. Graduou-se em Ciências Jurídicas e

Sociais na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC). Casado com Raimunda Diógenes Marques, Dona Mundica, em 1951, teve duas filhas, Antonieta e Ana Elisa, e três netos, Marcelo, Georgia e Flávia. Ingressou na vida pública e política em 1962, tendo sido eleito vereador nas legislaturas de 1963 a 1966 e de 1967 a 1970, na Câmara Municipal de Maranguape. Em 1974, foi eleito deputado estadual.

AUTÊNTICO MDB X DITADURA - Integrante do “Grupo dos Autênticos do MDB (Movimento Democrático Brasileiro)”, lutou pela redemocratização do país durante o Regime Militar (1964-1985). Denunciou a tortura percorrendo todo o Nordeste, enquanto deputado estadual. Foi um dos primeiros a defender a convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte.No Parlamento Estadual atuou com grande empenho, sobretudo na defesa dos interesses de seu município, Maranguape, e dos municípios em que foi votado, tais como Canindé e Itatira.

Com Leorne Belém e Américo Barreira

Homenagens recebidas com Virgílio Távora, Auri Moura Costa e César Cals FISCALIZAÇÃO E INTERVENTORIA - No Legislativo Estadual, acompanhou o desempenho dos órgãos da administração indireta e foi relator dos processos de prestação de contas dos interventores nos municípios de Juazeiro do Norte, Novo Oriente, Iracema, Penaforte, Meruoca e Guaramiranga.

BEM QUERER A MARANGUAPE -Entre os benefícios que conseguiu para Maranguape, destacam-se a criação da Usina de Pasteurização de Leite, a Cooperativa de Assistência Técnica aos agropecuaristas daquele município, a Companhia de Melhoramentos de Maranguape, a Rádio Iracema, o Maranguape Club, a Companhia Telefônica de Maranguape e as instalações da energia elétrica no município. Antes de morrer, doou para a Biblioteca Capistrano de Abreu a sua Hemeroteca, que continha cerca de seis mil recortes de jornal sobre a política nacional.

Ao lado de Ulisses Guimarães REPRESENTAÇÃO ATUANTE Exerceu a presidência da Comissão de Fiscalização Financeira e Tomada de Contas da Assembleia, no biênio 1975 e 1976. Ele integrou, ainda, a Comissão de Constituição e Justiça no período de 1977 a 1978, e exerceu em 1977 a vice-liderança da oposição no Legislativo. Alfredo Marques representou o Estado na Câmara dos Deputados, tendo sido deputado federal, no período de 1979 a 1983, e no quadriênio de 1983 e 1987, onde desenvolveu um trabalho de grande alcance para o Ceará.

INTERVENÇÃO EM MARACANAÚ No primeiro governo Tasso Jereissati (1987-1990), assumiu o cargo de secretário extraordinário em Brasília. À época, foi nomeado por Tasso, interventor no município de Maracanaú, então desmembrado de Maranguape, após o assassinato do prefeito Almir Dutra, em fevereiro de 1987 e do afastamento do vice-prefeito José Raimundo.


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Fortaleza, 16 a 22 de abril de 2010

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Depoimentos Um “autêntico” da democracia deixa legado de bons exemplos “A política cearense perde mais um dos seus ilustres representantes, com a partida do ex-deputado Alfredo Marques, mas seu legado de bons exemplos permanece para os que ficam. Sempre pautando suas ações pelo diálogo, Alfredo Marques defendia com serenidade, mas firmeza, suas posições. O amor e a dedicação a Maranguape, sua terra natal, contribuíram para o desenvolvimento econômico do município, a quem serviu como vereador. Da Assembleia, lutou pela redemocratização do País, ao integrar o chamado “Grupo dos Autênticos do MDB. Solidarizo-me com seus familiares nesse momento de dor.” Lúcio Alcântara, ex-governador do Ceará e presidente da Executiva Estadual do Partido da República (PR).

Perde a política em um momento de pragmatismos e fisiologia “Trata-se de uma grande perda para o Ceará e para Maranguape o passamento do deputado Alfredo Marques, que foi prefeito de Maracanaú no período mais difícil do início da sua existência como município. Ele assumiu a Prefeitura após o assassinato do prefeito Almir Dutra, quando o vice teve de ser afastado. O clima era bastante tenso, mas Alfredo Marques soube se sair bem na missão de administrar a nova cidade. Por isso, e em homenagem a ele, foi decretado luto oficial de cinco dias. Alfredo Marques era acima de tudo um progressista. Entre as marcas que deixou, estão a do pioneirismo do Lions Clube de Maranguape - um dos mais projetados do Ceará em função do seu trabalho -, a criação da rádio Iracema de Maranguape, e da cooperativa agropecuária, cuja história de sucesso incluiu a cidade entre dos maiores polos de avicultura do Estado. Em sua atuação como deputado do PMDB, num dos períodos mais difíceis que foi o da Ditadura Militar, ele sempre defendeu os ideais democráticos. Num momento que a política cearense e brasileira padecem de um pragmatismo fisiológico e oportunista, o Ceará perde, com a partida de Alfredo Marques, uma referência de político coerente e devotado à causa pública”, Roberto Pessoa, prefeito de Maracanaú.

A voz da democracia na crise institucional “Foi um deputado que marcou época na Assembleia, fazendo parte do grupo dos autênticos do MDB num momento difícil, de crise institucional. Acabou sendo “a voz da democracia aqui na Casa e na Câmara de Maranguape, onde foi vereador.” Domingos Aguiar Filho, presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará.

Bravo que não vacilou. Lutou de peito aberto “Ao lado de poucos, Alfredo Marques, obstinado em seus ideais, foi um dos verdadeiros resistentes pelo estabelecimento da Democracia no Ceará. Não há, em toda a sua vida, sequer um instante de vacilação. Deputado Estadual, líder político, eis um bravo que se negou a ficar calado. Aprendeu, bem cedo, nas lides estudantis, que a luta é feita, não só nas trincheiras, mas também de peito aberto, com desassombro. Quando desaparece alguém assim, é doloroso constatar que estão se exaurindo as últimas forças de um tempo de sonhadores e de guerreiros”, J. Ciro Saraiva, jornalista.

Homem que fez política por devoção ao Ceará e Maranguape “Para mim, Alfredo Marques está entre os dez maiores maranguapenses do século passado. Sempre foi um político aguerrido, defensor dos interesses do município. Deu sua contribuição também como interventor na Prefeitura de Maracanaú, quando o município foi desmembrado de Maranguape. Político duro nas suas posições, nunca aceitou os ‘cambalachos’ políticos do PMDB, por isso acabou deixando a sigla. Em relação a Maranguape, Alfredo Marques pensou sempre no futuro. Desde 1960, ele sabia que a cidade só poderia se desenvolver se tivesse energia. Para isso, criou a Companhia de Melhoramentos de Maranguape, uma instituição privada para atender aos interesses da urbe. Comprou grandes grupos geradores para prover energia à cidade, que só contava com eletricidade durante quatro horas por dia. Fez nascer também a Companhia Telefônica de Maranguape, uma das primeiras cidades do Ceará a ter telefone, e a Rádio Difusora, que a “Rádio Iracema” de Maranguape. Outra iniciativa importante foi a cooperativa agrícola, primeira usina de leite do Ceará. Além do Maranguape Club, primeiro clube moderno da época, construído nos mesmos moldes do Náutico Atlético Cearense. Na oposição, Alfredo Marques lutou sempre o bom combate. Apesar de ser meu adversário político a vida toda, o vejo como um homem que fez política por devoção, pelo engrandecimento do Estado e do município. Foi um maranguapense que honrou a vida e o lugar onde nasceu”, Luiz Girão, ex-senador da República e presidente da empresa Betânia


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Fortaleza, 16 a 22 de abril de 2010

Figura estelar, ardente na defesa da liberdade “No final de semana, faleceu em MARANGUAPE, na Grande Fortaleza, o Ex-Deputado ALFREDO DE ABREU PEREIRA MARQUES, que exerceu sucessivos mandatos parlamentares na Assembléia Legislativa, ali revelando a sua competência e inexcedível espírito público. Pertencendo aos quadros do MDB/PMDB, foi personalidade preeminente em nossa luta pela normalização institucional do País, assumindo posições corajosas que o projetaram, perante os seus colegas e à coletividade de nossa Unidade Federada, como propugnador incansável e destemeroso. Ao lado de seus irmãos Danilo e Jairo, comandou corrente partidária naquela comuna, patrocinando causas intrinsecamente

vinculadas àquela urbe, sempre com determinação e bravura cívica, assim identificado pelos seus conterrâneos. Ao tempo em que presidi o Movimento Democrático Brasileiro, depois da injusta cassação do grande MARTINS RODRIGUES, Alfredo foi um dos baluartes de linha oposicionista corajosa e intrépida, tornando-se, por isso, figura destacada no Poder Legislativo e junto aos segmentos da opinião pública cearense, à frente, igualmente, de correntes populares, integradas na conquista dos direitos conspurcados pelo arbítrio. Ao escrever-se a história daquela fase ominosa de nossa vida partidária, o saudoso extinto despontará como uma das figuras estelares, pois sempre

se manteve firme na defesa de suas convicções e do desejo ardente manifestado em prol das liberdades públicas e das garantias individuais. Durante a elaboração da Carta Cidadã, quando exerci, como Senador, a Vice-Presidência da Constituinte, foram varias as sugestões encaminhadas pelo prestigioso líder, algumas delas constantes do texto afinal aprovado pela ANC, o que lhe foi imediatamente transmitido como reconhecimento à sua clarividência, de homem atento aos nossos anseios justos e legítimos. Trecho de discurso proferido pelo deputado Mauro Benevides (PMDB-CE), na sessão de 12 de abril de 2010, na Câmara Federal.

Uma força de resistência contra a ditadura militar “Em nome do PCdoB do Ceará, manifestamos o nosso pesar pelo falecimento do grande democrata Alfredo Marques. Como parlamentar federal no período da Ditadura Militar, ele participou desde o início da luta contra o antigo MDB. Ele fazia parte da tendência popular do MDB e buscava, ao lado de outro parlamentares, repercutir na tribuna os anseios povo, dos segmentos da Igreja Católica, da intelectualidade, da juventude e dos que resistiam na clandestinidade. Era uma das vozes de repercussão da resistência da nossa sociedade pelo fim da ditadura e redemocratização do nosso país. O Estado do Ceará e suas forças democráticas lamentam falecimento do Alfredo, ao mesmo tempo que reverencia sua memória e sua luta num dos momentos mais difíceis da história do nosso país”, Carlos Augusto Diógenes, o Patinhas, presidente do PCdoB do Ceará.

Exemplo da boa política de Aristóteles e São Paulo “O falecimento do ex-deputado Alfredo Marques nos consterna por muitos motivos. Primeiro, porque é a partida de um dos homens mais sérios e entusiasmados com a boa política, a política pregada por Aristóteles e São Paulo, em suas epístolas, que eu conheci na minha atuação de décadas como jornalista político. Segundo, porque perdemos mais um remanescente dos autênticos do saudoso MDB (não confundir, nem de longe, com o PMDB), um daqueles parlamentares que faziam oposição com respeito, mas sem abdicar da coragem, da franqueza e da altivez. Cada vez que morre um militante como Alfredo Marques, se torna menor a política, que ele procurou, de todas as maneiras, engrandecer.” Ossian Lima, jornalista e editor de Política do EXPRESSO.

Perda de um progressista deixa Nasceu sob o signo o Estado e a política mais pobres da ação e do trabalho “Convivi com Alfredo Marques durante o tempo em que morei com meus pais em Maranguape. Posso testemunhar que o processo de desenvolvimento econômico e social por que passou a cidade nas décadas de 60 e 70 foi liderado por ele. Sua privilegiada cabeça usinou idéias que fizeram de Maranguape a sede do associativismo, emulando a juventude a participar da vida política municipal. Alfredo foi um político correto, honesto e, moralmente, limpo. O Ceará e sua política ficaram mais pobres”, Egídio Serpa, jornalista e colunista do Diário do Nordeste.

“Como maranguapense e amigo, acompanhei com interesse e admiração a trajetória do cidadão, advogado e político Alfredo Marques. Nasceu sob o signo da ação e do trabalho. Semeador do progresso de Maranguape, em cada direção em que se encaminhava sua inteligência e obstinação, deixava marcas de acentuado espírito público e vontade de servir às causas coletivas. A par deste perfil de empreendedor, inovador e realizador, foi um defensor vigoroso da democracia, assumindo atitudes desassombradas nos momentos mais desafiadores, articulando e impulsionando movimentos de resistência pelo amplo estado de direito. O doutor Alfredo era bravo, nada lhe agradava mais do que uma boa luta. Político de posições bem definidas, às vezes, muito ousadas, excessivamente, e intransigentes nas diversas tribunas que ocupava, transmitia corajosamente as aspirações mais justas do nosso povo.”, Assis Tavares, jornalista.


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