A Trama dos Três Acusadores

Page 1

Mensalão

a trama dos três acusadores No julgamento da Ação Penal 470, as autoridades ao lado – dois procuradores-gerais da República e o atual presidente do Supremo Tribunal Federal – agiram numa espécie de conluio para ocultar fatos básicos da história por Lia Imanishi e Raimundo Rodrigues Pereira

Há inúmeros indícios de que os procuradores-gerais da República, primeiro Antonio Fernando de Souza e depois Roberto Gurgel, e o ministro Joaquim Barbosa, que conduziram no Supremo Tribunal Federal o inquérito policial 2245 e a Ação Penal 470 (AP 470), do chamado mensalão, trabalharam ao longo dos já quase oito anos desse feito para esconder dos demais ministros da corte aspectos essenciais da trama que julgavam. Comecemos por mostrar as causas de um incidente entre os ministros Barbosa e Marco Aurélio de Mello, ocorrido na 53ª e última sessão do julgamento, no final do ano passado. Barbosa diz que vai encerrar o julgamento com um elogio a seus auxiliares. Marco Aurélio considera o fato inusitado e descabido. Mas Barbosa não ouve seu argumento e continua sua laudação. Marco Aurélio diz então que não vai continuar ouvindo e se retira do plenário.

A cena poderia parecer apenas uma manifestação do estilo aguerrido dos dois ministros, não fosse pela discussão anterior entre eles, ocorrida minutos antes e que, no fundo, tratou de uma questão central da AP 470: o desvio, entre os anos 2003 e 2005, de 73,8 milhões de reais do Banco do Brasil (BB) que teria sido promovido pelo petista Henrique Pizzolato, então diretor de Marketing e Comunicação do banco. O plenário do Supremo, normalmente com 11, mas então com apenas dez ministros, não era o mesmo que condenara Pizzolato, três meses antes, por quase unanimidade de votos. Tinham saído Ayres Britto e Cezar Peluso e entrado um novo ministro, Teori Zavascki. Mas, entre os presentes, Marco Aurélio era o único que, na época, dera um voto a favor da absolvição de Pizzolato, num dos quatro crimes pelos quais ele foi julgado. Foram 44 votos; 43 de condenação. Só Marco Aurélio votou

pela absolvição, numa das acusações, a de lavagem de dinheiro. A discussão Barbosa-Marco Aurélio deu-se em torno de um agravo regimental do advogado de Pizzolato, Savio Lobato, e era o último recurso dos advogados da defesa a ser julgado na AP 470. O agravo regimental é um recurso que obriga o ministro autor de uma sentença monocrática, ou seja, decidida isoladamente por ele, a submeter o pedido a uma outra apreciação, pelo plenário da corte. Basicamente, Lobato cobrava que Barbosa apresentasse a seus pares a cópia do IPL 0555/2006-SR-DPF-DF, isto é, do inquérito policial de número 0555, instaurado em 2006 pela Superintendência Regional da Delegacia de Polícia Federal do Distrito Federal e supervisionado pelo juiz da 12ª vara daquela região. O leitor pode apreciar a discussão no YouTube: <http://www.youtube.com/ watch?v=eRr2ZByx7MI>. Esse endereço

PROTESTO E COBRANÇA Final da AP 470: Marco Aurélio passa por Barbosa e se retira da corte, para não ouvir a laudação do presidente. Antes, quis saber se o embargo de Pizzolato tinha ou não a ver com a ação penal. Barbosa diz não, de palavra e, com as mãos, diz sim

16

| retratodoBRASIL 71

C RB71mensal.indd 16

06/06/13 10:44


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.