HABITAÇÃO PSICOSSOCIAL MARCELO DONDO/ESCOLA DA CIDADE/TFG 2012
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Marcelo Dondo Habitação Psicossocial: Um manifesto arquitetônico para os usuários de drogas da Cracolândia.
Trabalho Final de Graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da Escola da Cidade
Orientador: Marcio Kogan Co-orientador: Eduardo Pereira Gurian São Paulo 2012
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Agradecimentos Pode parecer um grande delírio afirmar que os melhores anos da minha vida foram transcorridos dentro de um prédio em ruínas. Localizado em uma rua cheia de traficantes, garotas de programa, botecos maltrapilhos, prostíbulos sórdidos, trânsito barulhento. Tal diversidade urbana, muito distante da minha zona de conforto comum, foi a principal lição que tive durante a minha graduação. O aprendizado começava antes de chegar à Escola, muitas indagações surgiam sobre o desenho urbano e as políticas sociais adotadas na cidade de São Paulo. Percebi no decorrer desses anos que o material pouco importava, não fazia diferença se a sala de aula tinha ar-condicionado, o que realmente importava era o conhecimento incomparável que recebia diariamente. Devo reconhecer e agradecer profundamente aos arquitetos que se aventuraram nessa associação, que transformaram esse prédio em ruínas em uma das zonas mais ricas em conhecimento da cidade. Também devo ressaltar que foi muito gratificante ter o Marcio Kogan como tutor do meu trabalho de conclusão, foi um prazer conviver com um arquiteto com tantas obras de destaque, me passando muito de sua experiência. Não posso me esquecer do Eduardo Gurian, que me ajudou amplamente na concepção e na idealização do meu projeto. Sou grato também aos amigos da Universidade Politécnica da Catalunha, por me receberem tão amigavelmente e estarem sempre dispostos a me mostrar sua cultura. Sou muito grato aos professores Anderson Freitas e José Paulo Gouvêa, por participarem da minha banca de qualificação e me darem o ânimo e os conselhos necessários para prosseguir. Devo agradecer também os professores Alvaro Puntoni e Luis Mauro, por aceitarem participar da minha banca final. O trabalho a seguir reflete um pouco do que aprendi, com as pessoas e as instituições que citei anteriormente, espero que ele seja apenas o princípio de um longa carreira. 5
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0.0 INTRODUÇÃO
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1.0 INSPIRAÇÃO
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2.0 TEMA
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3.0 OBJETO
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4.0 REFLEXÃO
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5.0 EMBASAMENTO
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6.0 ABUSO DOS PROBLEMAS URBANOS
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7.0 CRACK
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8.0 GENTRIFICAÇÃO
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9.0 CONCLUSÃO
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10.0 ESTRATÉGIA
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11.0 PROJETO
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12.0 BIBLIOGRAFIA
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“MEMÓRIA” 8
0.0 Introdução: Por uma Habitação Psicossocial na
ança entre os usuários de drogas, consequentemente se torna
Cracolândia.
mais fácil convencer que o dependente aceite o tratamento. A operação policial acabou fracassando totalmente, quando
No princípio do ano de dois mil e doze, o governo es-
o comando da polícia encerrou a intervenção e a fiscalização
tadual de São Paulo desencadeou a Operação Sufoco, uma in-
retornou ao normal, os traficantes voltaram a agir na região.
tervenção policial ostensiva na região da Luz, mais conhecida
A operação também contribuiu para que o ciclo vicioso da
como Cracolândia. Para reprimir o tráfico de drogas da região
droga se espalhasse para outros bairros de São Paulo, pois
e tentar convencer com métodos violentos que os usuários de
o policiamento ostensivo acabou por espantar definitivamente
substâncias psicoativas da área buscassem tratamento médico.
alguns usuários de drogas, desta forma novas cracolândias se
Talvez a operação policial possuía uma intenção mais obscura,
formam pela região central de São Paulo.
no caso o de expulsar à força os usuários de drogas da região, que está sofrendo uma revitalização urbana por um programa público, denominado de Nova Luz. A repressão policial acabou por aterrorizar a área, tratando brutalmente quem a freqüentasse. Os resultados desastrosos da operação justificam a necessidade imediata do projeto de uma unidade psicossocial na região, para atender os dependentes crônicos do crack que vivem em situação de risco social. Reduzindo os danos causados pela droga e os ajudando a se livrar do vicio. O tratamento no local pode ser muito benévolo, pois demonstra simbólicamente que a área não está abandonada pelo estado, gerando confi-
Ilustação de “El Roto” para o Jornal El País.
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1.0 A importância do projeto do Sou Fujimoto.
tais problemáticas tentando recriar a diversidade espacial do mundo exterior com um desenho aleatório, com alguns espaços
O tema do trabalho de conclusão de curso surgiu en-
amplos e outros mais aconchegantes e privativos. Tal ideal es-
quanto buscava por inspirações e referências projetuais.
pacial proposto surgiu para tentar garantir um projeto de viés
Sou Fujimoto foi um dos arquitetos emergentes mais premia-
mais humanista, onde se tenta amenizar o sentimento de con-
dos do ano de 2011, a crítica mundial o considera como um
finamento dos internos. Algo que seria difícil com um projeto
dos jovens arquitetos com um futuro promissor no cenário ar-
estritamente funcional, comum em grande parte da arquitetura
quitetônico mundial. O projeto de um centro de reabilitação
psiquiátrica atual.
psiquiátrica, desenhado por Sou Fujimoto, me pareceu um tema muito interessante a ser utilizado como referência para o trabalho de conclusão de curso. O projeto consiste em um equipamento único, com a função de confinar terapeuticamente crianças com problemas psicológicos. O programa medicinal do equipamento visa uma reabilitação mais humanista dos pacientes, infelizmente a certeza de cura nunca é certo em alguns casos, deste modo algumas das crianças passarão sua infância confinadas neste espaço. Sou Fujimoto teve que lidar com tal problemática, onde ele deveria criar um projeto arquitetônico de confinamento involuntário de seus usuários, que devem ser controlados vinte e quatro horas por dia e isolados do mundo externo por motivos de segurança. Sou Fujimoto solucionou
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Planta baixa do Centro de Reabilitação projetado por Sou Fujimoto.
2.0 Tema: A cidade e a saúde humana. 2.1 A cidade metabólica.
2.2 A acupuntura urbana em Curítiba. Na medicina oriental, a acupuntura propõe com estímulo provocado pelas agulhas a regulação dos fluxos energéticos,
As cidades pós modernas das regiões subdesenvolvidas
das funções metabólicas, do aumento da resistência corporal
do planeta, passam por um período de enfermidade aguda.
e da prevenção e do tratamento de doenças diversas. Jaime
As ruas estão entupidas por carros, como um coração em vias
Lerner, arquiteto e ex prefeito de Curitiba, é um dos grandes
de infarto. Os rios estão poluídos, como uma veia infectada.
defensores da acupuntura urbana. Suas propostas para o plano
O crescimento é sem controle e lógica, como a célula de um
urbanístico de Curitiba se tornaram referência em todo o mun-
câncer maligno. Tal cenário descrito, pode ser visto em grande
do, cito como exemplo, uma solução proposta por Lerner para
parte das metrópoles do continente latino americano. Pensando
as favelas curitibanas. Elas possuíam grandes deficiências com
nas cidades como um elemento metabólico, ou seja, que cresce,
a coleta de lixo, devido ao difícil acesso dos caminhões de lixo
que se reproduz, que mantém suas estruturas, que responde a
por suas estreitas ruas estreitas e mal planejadas. O problema
estímulos e que adoece. É possível propor soluções para curar
foi amenizado com um programa em que a prefeitura trocava
tais males, com técnicas da acupuntura urbana, com o intuito
o lixo por vale transporte, em pouco tempo as favelas ficaram
de reforçar seu crescimento, sua reprodução, sua estrutura e
limpas, a prefeitura revertia os custos do camião do lixo para
seus estímulos. Basicamente utilizando de suas fortalezas para
a mobilidade dos moradores das favelas. Uma pequena e sim-
combater suas debilidades, como um bom medicamento que
ples intervenção cambiou o rumo e a qualidade de vida de uma
reforça o sistema imunológico.
grande parte da população curitibana.
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3.0 Objeto: Unidade de reabilitação para usuários de substâncias psicoativas. 3.1 O turno da madrugada. O tema do lixo, comentado anteriormente nas ações de Jaime lerner, pode ser considerado um dos grandes problemas urbanos dos dias de hoje, a sociedade produz toneladas de resíduos diariamente. São Paulo, por exemplo, produz 19 toneladas de lixo por dia, segundo dados atuais da Secretária de Verde e Meio Ambiente de São Paulo. Toda cidade possuí um lado asco, que a atual sociedade, com ideais assépticos prefere ignorar, exemplifico minha idéia transcrevendo uma idéia de Rem Koolhaas: Igual que nosostros nos reponemos del “espacio basura”, el “espacio basura” se recopone de nosostros: entre las 2 y las 5 de la madrugada, otra población distinta, esta despidamente eventual y apreciablemente más oscura, se dedica a limpiar, rondar, barrer, secar, reponer... El “espacio basura” no inspira lealtad a Diagrama de metrô sobre gravura de pontos de acupuntura do livro de medicina japonesa Yuketsuzukan, de autor desconhecido, ano 1752. É possível resolver grandes problemas com ações pontuais?
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sus limpiadores... (KOOLHAAS, Rem, Espacio basura, Barcelona, Gustavo Gili, 2007, pag 23)
3.2 A cidade nociva.
de choro no ônibus lotado, a noite sem dormir pela preocupação do despejo, pode ser mais grave do que pensávamos.
Outro tema ignorado pela sociedade urbana, como a
Segundo uma recente pesquisa da Organização Mundial da
questão dos dejetos urbanos, é o tema da saúde mental huma-
Saúde, cerca de 30% da população paulistana possuí algum
na, talvez por ser tradicionalmente um tabu, o assunto é pouco
tipo de transtorno mental. Em relação a outras 24 metrópoles
discutido pela população. Principalmente por vivermos em uma
também pesquisadas, São Paulo é a que possuí o maior índice,
sociedade “midiática”, que aspira pelo asséptico, pela osten-
seguida por cidades norte americanas com média de 25%
tação e principalmente pela imagem, deixando para o turno
da população afetada. Os transtornos de ansiedade foram os
da madrugada todo o indesejado socialmente. Pergunte para
mais comuns, afetando 19,9% dos entrevistados. Em seguida,
qualquer pessoa na rua para onde vai o lixo que ela joga no
aparecem transtornos de comportamento (11%), transtornos de
cesto de lixo, pergunte também para onde vão os seres huma-
controle de impulso (4,3%) e abuso de substâncias (3,6%). O
nos com problemas mentais, tais temas tabus para o homo sa-
estudo concluí que tal resultado está relacionado com dois moti-
piens urbano, são ignorados para garantir o sono tranquilo dos
vos principais: a alta urbanização e a privação social.
cidadãos de bem. Culturalmente grande parte dos paulistanos esquecem da importância de fiscalizar as políticas públicas. Tal ato está afetando negativamente a população paulistana, chegando a gerar sérios problemas urbanos. Abaixo transcrevo um artigo de jornal que demonstra como a urbanização sem planejamento de São Paulo está afetando na saúde mental de sua população, o ataque de pânico no meio do congestionamento de 300km de extensão, a crise
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[...]Ao cruzar as variáveis, os pesquisadores chegaram aos grupos de maior vulnerabilidade: mulheres que vivem em regiões de alta privação apresentam mais transtornos de humor e homens migrantes que vivem em região de média e alta privação têm mais transtornos de ansiedade. Pessoas com baixa escolaridade têm mais transtornos de ansiedade e de abuso de substâncias. [...] O estudo sugere que é preciso fortalecer, no sistema brasileiro de saúde básica - que inclui o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Programa Saúde da Família - uma integração entre atendimento e promoção da saúde mental. (Jornal O Estado de S.Paulo, 27/02/2012)
A alta urbanização de São Paulo está deixando as pessoas loucas? foto do centro expandido de São Paulo, arquivo pessoal.
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Em uma entrevista para o canal TVE - Televisão Espan-
dade, a discussão sobre a qualidade deles é limitadamente
hola, Shigeru Ban descreve que após ver a tragédia de um
discutida fora dos meios especializados. Consequentemente os
grande terremoto no Japão, se arrependeu profundamente de
seres humanos com problemas mentais estão sendo tratados da
não ter escolhido a carreira de médico, pois se sentiu impotente
mesma forma que os dejetos urbanos, estão sendo despacha-
em não poder ajudar os feridos do desastre, a única coisa que
dos no turno da madrugada para aterros longínquos. Por isso,
pôde conforta-lo foi a possibilidade de criar abrigos provisórios
entre a década de 1980 e o final da década de 1990 a ONU
para os que perderam suas casas. Desde então ele só expandiu
estabeleceu algumas diretrizes relacionadas aos direitos huma-
sua iniciativa, levando abrigos de qualidade para situações de
nos dos doentes mentais, o internamento intensivo nos manicô-
catástrofes, em zonas de refugiados na África ou para vítimas
mios passaram a ser considerados como uma forma de tortura
de desastres naturais no Haiti. Portanto se a arquitetura como
e de exclusão social. No ano de 2001 foi instituída no Brasil
ciência, não pode curar fisicamente os seres humanos, pelo
a Lei Paulo Delgado ou Lei da Reforma Psiquiátrica, criando
menos é possível confortar os mais necessitados e garantir a
um novo modelo de tratamento para pessoas com transtornos
prevenção de certos transtornos, sejam físicos ou mentais. Tal
mentais. Propondo o fim dos tradicionais tratamentos em man-
premissa humanitária deve ser levada em consideração para o
icômios, estabelecendo um limite para o tempo de internação
objeto de estudo do TFG e da carreira profissional de qualquer
clínica, de no máximo três meses. Criando os CAPS - Centro de
arquiteto.
Atenção Psicossocial, que tem como objetivo substituir os manicômios com antigos métodos de tratamento, por um centro de
3.3 Objeto de pesquisa.
cultura e convivência assistida, coordenados por uma equipe multidisciplinar. Atualmente os CAPS do Brasil só possuem va-
Os equipamentos públicos voltados para as pessoas
gas para 40% da população com necessidades de tratamento,
com transtornos mentais são pouco divulgados para a socie-
para atender todos com serviços qualidade, é estimado que
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será necessário a construção de centenas de CAPS. A lei tam-
acuanautas y aeronautas. Con el tiempo, y dentro de la cultura
bém propôs a criação de cooperativas de trabalho protegido,
urbana de este siglo, aquella condición esencial fue subordinada
as oficinas de geração de renda e as residências terapêuticas.
al avance de los vehículos tripulados. (GROSSMAN, Luis. PEA-
Portanto, com a descentralização do serviço psiquiátrico, que
TONES DEL MUNDO, ¡UNÍOS!)
era representado pelos arcaicos manicômios, as pessoas portadoras de doenças mentais poderiam se inserir novamente na sociedade com o apoio de profissionais da saúde..
A descentralização dos serviços psiquiátricos brasileiros pode ser uma grande inspiração para o projeto urbano das cidades, a setorização pode ser muito prejudicial para uma
3.4 A urbanização como fortaleza do objeto.
cidade, principalmente se ela tiver uma escala de metrópole como São Paulo. Os guetos funcionais descritos por Bohigas,
...Si una ciudad ha de ser [...]un sistema de vida colectiva y un
estimulam o estigma social e a falta de diversidade urbana, cri-
instrumento de información y comunicación que utilice incluso las
ando um aspecto de lugar artificial, um não lugar, um espaço
ventajas del azar, es necesario que el ciudadano tropiece constan-
sem identidade e vida. Caminhando por uma deserta rua de
temente con acontecimientos diversos, y sobre todo, es preciso
qualquer distrito financeiro do mundo, após o horário comer-
que ningún ciudadano viva en un gueto, aunque sea un gueto fun-
cial, uma pessoa sã se questiona se é correto esse desenho
cional. (BOHIGAS, Oriol. LA SUPERPOSICIÓN DE FUNCIONES)
urbano, onde é proposto que o trabalho seja em um lugar e o local de moradia seja em uma periferia residencial longínqua.
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La condición peatonal es esencial en las definiciones genéricas de
Essa setorização que cria uma cidade criada apenas para tra-
los seres humanos. Vale decir – aunque pueda parecer demasiado
balhar, para morar e para o carro, acaba gerando o problema
obvio - que somos antes que nada caminantes. Y después, mucho
da mobilidade urbana. Em uma metrópole do tamanho de São
después, ecuestre, carreros, ciclistas, motociclistas, automovilistas,
Paulo, tal desenho urbano na maioria das vezes privilegia o
transporte privado através do carro, acabando com a cultura
urbano não gera mais diversidade, o espaço está se tornando
do pedestre, consequentemente com a vida na rua ou na es-
genérico e sem vida. A própria população está sendo engolida
cala do bairro, ou como Jane Jacobs diria acaba com os gera-
por tais males, perdendo sua própria identidade e memória. Vi-
dores de diversidades. Portanto, conectar o centro de reabili-
vendo amuralhadas e se locomovendo em máquinas de alta ve-
tação, não setorizando seus programas em uma implantação
locidade entre guetos funcionais. Urgentemente se deve buscar
única, mas sim espalhando-os pelo bairro ou pela metrópole
novas soluções para uma cidade emergente como São Paulo,
deve ser uma premissa a ser defendida na proposta. O pro-
para corrigir anos de péssimo planejamento urbano. A melhora
jeto arquitetônico também deve ser elaborado de acordo com
da acessibilidade dos pedestres, pode ser uma solução para
uma série de princípios padronizados, com possibilidades de
atrair mais pessoas para a rua. Diversificar os equipamentos ur-
multiplica-los com facilidade para diversos pontos da cidade
banos nos bairros também ajudariam na renovação urbana da
ou do país. Tomando como exemplo o projeto da rede Sarah
cidade. A criação de um projeto arquitetônico para uma série
proposta pelo arquiteto João Figueiras Lima (Lelé).
de equipamentos que atendam as pessoas com doenças mentais, pode ser um bom partido para o futuro das novas soluções
3.5 Pequena conclusão.
arquitetônicas para a cidade.
A cidade pode comprometer a saúde mental das pessoas, talvez pelo caráter virtual e artificial que ela assumiu nos dias atuais. As maioria das grandes metrópoles, como São Paulo, estão perdendo sua identidade, algo que Walter Benjamim chamaria de “perda ou declínio da experiência”, termo descrito em seu livro “Experiência da pobreza”. O desenho
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4.0 Reflexões sobre a arquitetura e o urbanismo at-
plo, os CIAM - Congressos Internacionais de Arquitetura - que
ual.
surgiram em 1928 e possuíam o intuito de difundir o estilo da arquitetura moderna internacional, que se baseava nas formas
4.1 A importância da retomada da arquitetura de caráter social.
limpas, sintéticas, funcionais e racionais. Seu mais ilustre representante foi o arquiteto suíço Le Corbusier, que em meados
Uma das grandes inovações da vanguarda modernista
dos anos 1920 desenvolveu a teoria arquitetônica nomeada
do século XX, na arquitetura é a implementação do urbanismo
de Os Cinco Pontos da Nova Arquitetura, que serviu de refer-
como ciência de estudo das cidades, essa disciplina nasceu
ência teórica para quase todas as obras do movimento mod-
principalmente pela necessidade de solucionar os problemas
erno, os pontos eram: 1) Planta Livre, 2) Fachada Livre, 3) Pilotis,
urbanos causados pelo rápido crescimento urbano causado
4) Terraço Jardim, 5) Janelas em Banda. [ARGAN, Giulio. Arte
pela Revolução Industrial. O urbanismo surgiu inicialmente
Moderna. São Paulo, Companhia das Letras, 2006 pag 387]
com uma meta humanitária, pela tentativa de atender a de-
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manda habitacional dos proletariados que iam do campo para
O processo de industrialização proporcionou a padroni-
as os centros urbanos industrializados. Essas cidades que ger-
zação do modo de se projetar, a habitação agora assume um
almente possuíam uma estrutura urbana baseada no projeto,
caráter industrial, se tornou uma máquina, como exemplo Mar-
ora clássico, ora medieval, portanto que geralmente eram
garette Schutter-Lihotzky projetou para Ernst May, uma cozinha
projetadas para um pequeno grupo de pessoas e delimitadas
parecida com uma bancada de marcenaria, onde tudo era fun-
por fortificações e muralhas para dificultar a entrada dos in-
cional e prático. Assim o arquiteto assumiu um papel importante
desejáveis. A cidade moderna começou a ser idealizada in-
na sociedade moderna, por ser responsável pela criação das
telectualmente no final do século XIX, através de congressos,
maquinas de morar, dos projetos para uma sociedade padroni-
iniciativas políticas e organizações. Podemos citar como exem-
zada.
Outro fator importante para a ciência arquitetônica do
A arte moderna se torna tão experimental que acaba por afastar-se
século XX, foi a adoção dos conceitos teleológicos da filoso-
do público, que passa a achar suas manifestações , ora estranhas,
fia moderna. Com o progresso industrial, se tornou incoerente
ora inquietantes e de difícil compreensão. [CANTON, Katia. Do
as visões academicistas baseadas nas tradições clássicas. E
Moderno ao Contemporâneo, São Paulo, Martins Fontes, 2009
com isso buscando uma meta não historicista de pesquisa,
pag. 43]
onde se acreditava na busca do progresso como um objetivo. Não se baseado mais nas obras clássicas como referên-
Esse afastamento entre o público comum e os teóricos
cia de perfeição e buscando uma meta através do progres-
modernos e a mudança radical da sociedade do período da
so industrial, a arquitetura pode se desvincular das tradições
Guerra Fria, que não possuía o mesmo ideal positivista, ou
antigas em busca de novas pesquisas de aperfeiçoamento.
seja, que não acreditava mais na industrialização como a salvação da humanidade. Foram o estopim para o surgimento
Portanto, as obras arquitetônicas começaram a ter uma
do movimento pós moderno da arquitetura, onde os teóricos
personalidade experimental, onde se buscava a solução dos
defendiam que a as pesquisas modernas haviam se esgotadas
problemas da sociedade humana através do progresso. O ar-
em assuntos e temas. A condição da anomia urbana, levou a
quiteto moderno se caracterizou por essa busca incessante de
sociedade a questionar a qualidade das experimentações ar-
cunho social. Porém, essa característica também foi responsável
quitetônicas das vanguardas modernista e a valorizar mais as
pela decadência do movimento, a personalidade experimental
obras arquitetônicas das pesquisas pós modernistas que discor-
das obras acabou por distanciar tais projetos de vanguarda
rerei a seguir.
da sociedade. A arquitetura moderna se tornou autoritária, com um excesso de assepsia, minimalismo e padronização. Katia Canton exemplifica tal acontecimento da seguinte foma.
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4.2 A arquitetura pós moderna e seus edifícios símbolos da
dem ser caracterizados pelo alto consumismo e o fascínio pela
sociedade financeira.
opulência material.
É possível explicar o surgimento do movimento pós
Culturalmente, a busca de originalidade e experimen-
moderno de acordo com as mudanças sociais decorrentes das
tações, que caracterizou a vanguarda modernista do
transformações econômicas ocorridas no período posterior a
século XX, é substituída pela busca de fama e celeb-
Segunda Grande Guerra. Se considerarmos os Estados Uni-
ridade. [CANTON, Katia in: Narrativas Enviesadas,
dos da América como referência para exemplificar o processo
São Paulo, Martins Fontes, 2009 pag. 30]
histórico da economia mundial contemporânea, podemos for-
20
mular de maneira nítida como o mercado financeiro influenciou
É interessante destacar a valorização das marcas duran-
fortemente o meio artístico e social da cultura pós moderna oci-
te este período, com a ascensão do mercado high tech, onde
dental. Nos Estados Unidos da América a década de 1980 foi
a nova tecnologia é produzida geralmente para quem detém
chamada de era dos yuppies, que são os jovens urbanos que
o poder econômico, o valor simbólico das marcas assumiram
enriqueceram com o mercado financeiro, durante o período de
um valor imaterial superior ao do próprio produto físico. Fato
políticas republicanas dos governos Reagan e Bush (pai). Onde
que acarretou no surgimento da pirataria moderna, onde se
foram implementadas uma série de políticas econômicas influ-
torna comum o uso indevido de marcas de empresas. Estes
enciadas na filosofia laissez-faire do liberalismo, acrescido ao
acontecimentos discorridos anteriormente, estão presentes na
marcante acontecimento da derrocada do comunismo com a
arquitetura pós moderna. Sendo perceptível o fato que o pro-
queda do mundo de Berlim. Estes fatos estimularam a ascensão
jeto arquitetônico de ponta dos dias de hoje, assume o papel
da classe burguesa urbana, acarretando no surgimento de um
de um produto de grife, ou seja, ele é feito para os poucos que
novo mercado consumidor, a dos jovens urbanos ricos, que po-
possuem capital financeiro, se torna um símbolo único com o
objetivo de gerar lucro, é produzido com a melhor tecnologia
da identidade histórica do local e os softwares CAD de com-
disponível e posteriormente são copiados.
putador influenciam no complexo desenho arquitetônico, que não segue uma lógica euclidiana, as edificações pós modernas
Enquanto os arquitetos modernos defendiam um ra-
possuem formas livres ou arbitrárias. Podemos relacionar estas
ciocínio lógico, onde a forma e a função eram os princípios
características com o expressionismo abstrato norte americano,
básicos para a confecção do desenho dos edifícios, utilizando
por exemplo, os drippings e o action paiting de Jackson Pollock
o plano euclidiano, geralmente defendendo um racionalismo
são caracterizados por sua autonomia e desvinculação com
de materiais, valorizando o brutalismo dos edifícios - deixando
o passado hegemônico europeu, condizendo com o conceito
aparente a estrutura do edifício - e utilizando da industrializa-
de arte per se (arte por si só). Portanto a arquitetura pós mod-
ção para seriar os projetos. A arquitetura pós moderna, nega
erna, assume o pressuposto de arquitetura per se, suas formas
tais características das vanguardas modernistas. As importantes
complexas se assemelham ao dripping de Pollock, e como ele
edificações contemporâneas são construídas visando gerar lu-
trocou o cavalete pelo chão, os arquitetos trocaram a régua e o
cros para as empresas que as financiam, são confeccionadas
compasso pelos softwares CAD.
como uma jóia, um símbolo único, um outdoor publicitário. São
Os principais objetivos da arquitetura atual não são dig-
feitos com um desenho complexo não euclidiano, onde se abu-
nos e nem humanistas como os das vanguardas modernas, a
sa de revestimentos para apagar os processos da produção e
edificação se tornou um mero outdoor gigante das megacorpo-
esconder as complexas estruturas. Na arquitetura moderna, tais
rações financeiras globais.
“edifícios símbolos” geralmente eram construídos por governos
O grande nome desta arquitetura financeira, é com
autoritários, hoje em dia as grandes empresas do capital finan-
certeza o arquiteto canadense Frank Gehry. Seus projetos pos-
ceiro patrocinam estas construções.
suem a impressionante capacidade de se tornarem atrações
A obra arquitetônica agora é implantada independente
turísticas, principalmente por grande parte de suas obras pos-
21
suírem o exterior composto por estruturas metálicas de desenho
de modelagem de última geração, a produção nos canteiros de
arrojado. Por exemplo, o museu Guggenheim de Bilbao, se tor-
obra continuam essencialmente de caráter manual.
nou o co-branding urbano - parceria entre a Fundação Guggen-
Trabalhando em péssimas condições e em turnos absur-
heim, o governo de Bilbao, Gehry Partners e Dessault Systems
dos de mais de 8 horas, os operários da arquitetura financeira
- de maior sucesso no mundo. A construção do Guggenheim
pertencem a outra face dessa sociedade marcada por extre-
de Bilbao, transformou a decadente capital basca, que sofria
mos, como dito anteriormente a arquitetura atual é feita para
com o processo de desindustrialização, em um dos principais
os poucos que possuem o capital financeiro, enquanto o resto
pontos turísticos da Europa. Após tal sucesso em Bilbao, Gehry
da população que vive na condição de pobreza dificilmente
se tornou uma marca, que projeta além de arquitetura, design
possuem acesso as soluções arquitetônicas de ponta. Portanto,
de produtos e até softwares de computador. Este sucesso de
o mundo sofre com um processo de favelização, ou seja, a
Bilbao passou a ser copiado em outras cidades do mundo, pois
criação de cidades informais. Noam Chomsky define que tal
a indústria do turismo é umas das mais promissoras para o fu-
acontecimento social urbano, é uma forma de autoritarismo dos
turo, um grande pólo de adoção destes ideais são os diversos
detentores dos meios financeiros, pois para eles quem não dá
estados do Oriente Médio que prevêem uma futura crise do
lucro não possui importância social e consequentemente são
petróleo, sua principal fonte de renda.
segregados.
Outros arquitetos pós modernos também alcançaram tal
22
status de grife, podemos citar como exemplo: Zaha Hadid, Her-
Os conceitos de “eficiência” e “economia saudável”,
zog de Meuron, Renzo Piano, Norman Foster, entre outros. Esta
prediletos dos ricos e privilegiados, não têm nada a
arquitetura possui uma contradição comum, entre o processo
oferecer aos crescentes setores da população que não
de desenho do projeto e a produção no canteiro de obras,
dão lucro e que são empurrados para a pobreza e o
enquanto na confecção do projeto é adotado o uso softwares
desespero. Se não puderem ser confinados nas fave-
las, terão de ser controlados de outro modo qualquer.
de construção, de comunicação deverão assumir tal objetivo
[CHOMSK, Noam in: O Lucro ou as Pessoas?: Neolib-
comum. Será normal cidades inteiras serem construídas em me-
eralismo e Ordem Global, Bertrand: pag. 64]
ses, devido ao emprego de todo tipo de tecnologia que seja eficaz no momento. Consequentemente as cidades contem-
O mundo cibernético revolucionou diversos conceitos
porâneas possuirão uma tipologia arquitetônica e urbanística
da sociedade humana, com a introdução da internet como fer-
de caráter genérico, Rem Koolhaas apelida tais zonas urbanas
ramenta de trabalho, grande parte dos trabalhadores podem
de cidades genéricas, a arquitetura genérica dela será definida
trabalhar em seus home offices. Em um curto período de tempo
por uma ampla aplicação de materiais, técnicas construtivas e
quase todo mundo trabalhará em sua própria casa, será uma
formas que são escolhidas geralmente por sua possibilidade de
implosão de movimento populacional inverso, ou seja, a cidade
construção relâmpago. Rem Koolhaas aponta a subversidade
possuíra uma população de cerca de 10 mil habitantes dentro
de tal técnica de produção arquitetônica, comparando-a com o
de casa. Os edifícios de escritórios, agora obsoletos, darão
Merzbau de Kurt Schwitters, que era um monte de resíduos da
lugar a habitações, hotéis e outros programas urbanos. Con-
vida moderna urbana - lixo fabricado industrialmente deixado
sequentemente a cidade se descentralizará, pois a população
na rua - amontoados sem um sentido lógico em uma sala. Os
sairá esporadicamente de casa, na maioria das vezes apenas
edifícios são projetados por uns milhares de escritórios pouco
para fazer compras, portanto os serviços se espalharão por
conhecidos, porém por acidente ou pelo inconsciente coletivo,
toda cidade, para garantir a maior eficácia no transporte, pois
eles possuem o mesmo pensamento de que a arquitetura vive e
é um absurdo um morador da periferia depender de programas
que algo mais inovador deve ser feito para dar vida a arquite-
urbanos centralizados. Uma das principais características da
tura novamente. A construção será financiada e gerida por
cidade contemporânea é a tentativa de atingir a mesma eficá-
prazos curtíssimos criados por empresários, empreendedores e
cia e velocidade da internet. Portanto, os meios de locomoção,
líderes com uma pitada de autoritarismo. Impressionantemente
23
tal dinâmica de construção de cidade, movimenta um capital
Coney Island, um bairro distante do centro, para desfrutar de
de aproximadamente 300 mil milhões de dólares.
uma variedade de atrações naturais e artificiais - A concentra-
A cidade genérica será o oposto da cidade fortaleza,
ção de turistas promove uma variedade especifica de negócios,
sempre haverá espaço para mais alguém morar, afinal a ex-
desde as barracas de fast-food até aos hippies que vendem
pansão dela é feita rapidamente em módulos pré estabeleci-
souvenirs com alguma falsa característica única da cidade, que
dos. Sua expansão é fractal e quase sem nenhum planejamento
geralmente na cidade genérica, sempre será o edifício alto mais
prévio, sua velocidade de expansão acarreta na fagocitose
estranho e diferente. A cidade genérica tende a se estabelecer
urbana, invertendo a tradicional migração do campo para a
cada vez mais próxima ao equador, pois provavelmente uma
metrópole, agora o grande conglomerado urbano engole a
das únicas preocupações de quem habita a cidade genérica é
zona rural periférica. A expansão da cidade genérica é algo
o clima.
inevitável, ela se expande para todos os lados, inevitavelmente para cima e se necessário para baixo.
São as cidades contemporâneas como os aeroportos
Toda cidade genérica deve possuir algum tipo de orla,
contemporâneos, quer dizer, são todas iguais? [KOOL-
não necessariamente de água, para que a população entre
HAAS, Rem. in: La ciudad genérica. Barcelona: Gus-
em contato com outra realidade. É lá que se concentrará todo
tavo Gili, 2006 pag.6]
tipo de turista, consequentemente inclusive o próprio cidadão
24
pouco acostumado com tal realidade, devido a sua permanên-
A identidade histórica dos grandes centros urbanos
cia constante em sua casa ou seu bairro - podemos relacionar
se tornará pequena em relação ao aumento exponencial da
tal fato com o capítulo CONEY ISLAND: A TECNOLOGIA DO
população humana. O grande número de imigrantes e turistas
FANTÁSTICO do livro Nova Iorque Delirante de Rem Koolhaas,
também causam um grande choque na cultura local, portanto
onde os cidadãos de Manhattan iam nas férias de Verão para
a cidade terá de se reinventar, ou se tornará mais uma cari-
catura do passado, uma ratoeira da turistas. As cidades con-
nhum plano diretor fez da cidade de São Paulo uma das mais
temporâneas se tornarão todas iguais, sem existir a melhor e
problemáticas do mundo, mesmo sendo uma cidade com tec-
a pior. A identidade única e histórica, exaltando o passado,
nologia contemporânea um “croqui que não termina nunca”,
será tornará um absurdo, assim como dizer que só no Brasil
creio que como São Paulo, diversos problemas urbanos, sociais
existe uma boa Bossa nova e só na Costa Leste estadunidense
e políticos surgirão de uma cidade não planejada previamente.
existe um bom jazz, a identidade urbana se tornará genérica. As cidades genéricas serão pluriculturais e multiraciais, pois serão
5.0 Embasamento histórico e social.
compostas pelo mesmo tipo de população algo como 8 % de negros, 12 % de caucasianos, 22 % de latinos, 37 % de asiáticos,
5.1 Justificar um futuro desenho.
6 % inderteminado e 10 % de outros. [KOOLHAAS, Rem. in: La ciudad genérica. Barcelona: Gustavo Gili, 2006 pag. 48]
Após uma profunda analise da unidade de reabilitação psiquiátrica infantil de Sou Fujimoto e de outros projetos de
A Anomia será a principal característica da cidade con-
centros de reabilitação, se conclui que o programa de um eq-
temporânea, sem identidade, sem dogmas do clero, sem uma
uipamento psiquiátrico, é uma fusão entre o programa de um
meta. A sociedade urbana propiciara a queda dos fundamen-
hospital com o de uma prisão. Ou seja, é um espaço de con-
tais princípios que permeou a modernidade, estabelecendo o
finamento e tratamento, seja de questões morais ou de saúde,
fim da teleologia como forma de concepção da razão humana.
onde em seu espaço uma disciplina e uma hierarquia distinta do resto de outros equipamentos arquitetônicos. Portanto é im-
Talvez seja um pouco perigosa essa aventura de “ur-
portante analisar e compreender os motivos de existirem equi-
banização sem urbanismo”, vide o exemplo da cidade de São
pamentos de controle ou privação da liberdade humana, como
Paulo, onde séculos de má administração pública e quase ne-
o hospital, a prisão, o manicômio, a creche infantil e o asilo
25
de idosos. Tais equipamentos onde as pessoas são obrigadas
gem e força para levantar uma lança. Mas com o surgimento
a seguir uma disciplina, tentando assim justificar e aprimorar
do rifle, os soldados comuns começaram a custar muito caro
um futuro desenho arquitetônico. Também é interessante buscar
economicamente, pois para manejar um rifle com precisão, se
saber por qual razão alguns seres humanos devem ser força-
necessita de muitas horas de treino. Também existe o custo do
dos a viver isolados socialmente, a seguir uma disciplina im-
equipamento, da moradia, da alimentação. Então surge a ne-
posta e serem obrigados a estarm em uma constante controle e
cessidade de se criar novas técnicas médicas para prevenir que
vigilância. Outro ponto a ser pesquisado foi a compreensão do
o soldado comum, que agora custa muito caro para os exérci-
principal motivo dos equipamentos de saúde geralmente serem
tos, morra antes de entrar em combate.
projetados fora dos centros urbanos. Não se deve esquecer que o índice de mortalidade 5.2 Medicina Social.
dos soldados era imenso no século XVII. Um exército austríaco, por exemplo, que saiu de Viena para Itália
Os padrões da medicina moderna, os quais seguimos
perdeu 5/6 de seus homens antes de chegar ao lugar
até os dias atuais, surgiram durante a era das revoluções eu-
do combate. Esta perda de homens por motivo de
ropéias, que eclodirão em meados do século XIX. A invenção
doença, epidemia ou deserção era um fenômeno rela-
do rifle estabeleceu um marco social muito importante para a
tivamente comum. (FOUCAULT, MICHEL. Microfisica
evolução da medicina, pelo fato de que os exércitos pré moder-
do poder, São Paulo, Graal, 2008.)
nos eram formados essencialmente por mercenários, indigentes
26
e toda a espécie de miseráveis que formavam as sociedades
Desta forma surge a medicina hospitalar que substitui a
antigas, pois para um soldado comum lutar em uma guerra não
medicina de crise. A medicina ocidental anterior ao surgimento
precisava dominar alguma técnica especifica, bastava ter cora-
do rifle, geralmente atuava apenas quando a doença eclodia.
Porém com a necessidade de manter um exército sano para a batalha, surge a técnica da medicina de prevenção, que é a
O planejamento urbano acompanhou a evolução da
adotada até os dias de hoje. Com isso a função do hospital
medicina hospitalar, com a eclosão do conceito de prevenção
muda radicalmente durante este período. O hospital pré mod-
surgiram pesquisas que relacionavam a urbanização com a
erno, era geralmente uma instituição comandada por religio-
saúde. Assim surge conceito da medicina urbana, onde pes-
sos, que possuíam como principal função a de dar a última
quisadores definiram planos urbanos, com a organização e
assistência aos enfermos, mas não com o intuito de tentar curar
implementação de determinados equipamentos de saúde. Que
fisicamente, mas sim a de tentar dar uma assistência espiritual
possuíam o objetivo de prevenir o surgimento de pragas, que
para as pessoas que sofriam no leito de morte. Era geralmente
foram muito comuns na idade média e chegaram até a ceifar
destinado aos pobres, pois quem possuísse riquezas no período
população de cidades inteiras da europa.
geralmente recorria a um profissional que atendesse em casa
Tomo como exemplo, um plano urbanístico parisiense de
e que tivesse o conhecimento de técnicas para aliviar o sofri-
1742, proposto não por urbanistas, mas pela Acadêmia de Ciên-
mento da doença.
cias da França, por uma equipe composta por químicos, físicos, engenheiros. Intitulado de Exposé d’un plan hidrographique de
5.3 Medicina Urbana.
la ville de Paris, visava catalogar toda a malha hidrográfica da cidade e criar planos de canais navegáveis, mas o principal
Todas as vezes que os homens se reúnem, seus costumes
objetivo era o de estabelecer zonas onde se podia coletar água
se alteram; todas as vezes que se reúnem em lugares
potável e onde se podia despejar lixo e esgoto. Pois com o
fechados, se alteram seus costumes e sua saúde. (cita-
vertiginoso aumento populacional, os rios passaram a ser cada
ção de CABANIS, PIERRE JEAN GEORGES. in: Micro-
vez mais poluídos e os surtos de cólera começaram a surgir
fisica do poder, São Paulo, Graal, 2008.)
constantemente na cidade. Logo o plano hidrográfico seria uma
27
Exposé d’un plan hydrographique de la Ville de Paris, ano 1742, Bibliothèque Nationale de France.
28
política médica de prevenção de surtos urbanos na cidade de
zar por vários elementos: medo das oficinas e fábricas
Paris. Outro fato interessante que surgiu em Paris foi a política
que estão se construindo, do amontoamento da popu-
que obrigou grande parte dos equipamentos públicos ligados
lação, das casa altas demais, da população numerosa
a saúde a serem relocados para fora do centro urbano por
demais; medo, também, das epidemias urbanas, dos
questões de saúde pública. Fato iniciado pelo pânico urbano
cemitérios que se tornam cada vez mais numerosos e
gerado pelo Cemitério dos Inocentes, que estava localizado no
invadem pouco a pouco a cidade; medo dos esgotos,
centro de Paris. O cemitério era uma área onde os mortos, de
das caves sobre as quais são construídas as casas que
famílias que não tinham dinheiro para pagar por uma túmulo
estão sempre correndo o perigo de desmoronar.
individual, eram jogados em pilhas ao céu aberto. Com o au-
(FOUCAULT, MICHEL. Microfisica do poder, São Pau-
mento populacional de Paris o cemitério chegou a ter pilhas de
lo, Graal, 2008.)
mortos que ultrapassavam a altura dos muros e transbordavam para a rua. A poluição do churume de cadáver era tão grande,
5.4 Prisão.
que antigos relatos descrevem que o leite apodrecia instantaneamente em contato com o ar dos arredores do cemitério. O
O surgimento da instituição que conhecemos hoje em
ápice do problema aconteceu quando a pressão de uma pilha
dia como prisão, pode ser facilmente explicado pelo momento
de mortos conseguiu derrubar um prédio que foi construído ao
em que o ato de executar se torna economicamente mais caro
lado do cemitério, espalhando uma pilha de mortos, doenças e
do que o de aprisionar. Seja pelo fato dos métodos de ex-
terror não só na vizinhaça, como na cidade inteira.
ecução se tornarem mais técnicos e caros, como o fuzilamento que necessitava de profissionais treinados como explicado nos
Nasce o que chamarei de medo urbano, medo da
tópicos anteriores, ou também pelo fato do valor humano se
cidade, angústia diante da cidade que vai se caracteri-
tornar mais relevante após o surgimento dos exércitos. Surge
29
também o valor individual do ser humano, que passa a ser visto
camente desfavorecidas e com baixo nível de escolaridade que
como força de trabalho, força militar, etc. Também devemos
estão mais propensas a se viciar em substâncias psicoativas.
considerar que a sociedade inspirada pelas idéias humanistas
Por inúmeras questões sociais muito complexas, mas uma das
da medicina de prevenção, se começa a acreditar na possibi-
principais causas é a política urbana da cidade de São Paulo,
lidade da reabilitação moral das pessoas. Após a revolução
que concentra a maior parte das atividades de lazer na região
industrial, com a ascensão do individualismo humano, as pes-
central. Assim as pessoas das classes mais desfavorecidas pos-
soas passam a ser vistas como força de trabalho, assim surge
suem poucas opções de lazer perto de suas residências, em
a idéia de não poderem ser descartadas como nos períodos
geral elas moram em regiões periféricas da cidade, semi aban-
medievais.
donadas pelo governo. Assim uma das únicas atividades de lazer dessas pessoas é o uso de substâncias psicoativas, seja
6.0 Abuso dos problemas urbanos.
elas lícitas ou ilícitas. Na sociedade atual em que vivemos, que segue grande
6.1 Substâncias psicoativas como forma de lazer.
parte dos preceitos capitalistas. O abuso de substâncias psicoativas é considerado um problema moral gravíssimo, pois a
30
Como citado anteriormente, quem vive em São Paulo
pessoa que abusa de tais substâncias se torna menos efetivo
está propenso a sofrer de distúrbios mentais devido aos prob-
ou perde a total capacidade no trabalho, se tornando um po-
lemas gerados pela alta urbanização, como exemplo o intenso
tencial de mão de obra perdida. Outro problema está relacio-
trânsito, a violência, a privação social. O abuso de substâncias
nado ao cenário da saúde pública, pois o abuso das substân-
psicoativas geralmente é a solução encontrada por pessoas que
cias psicoativas acarreta no surgimento de outros problemas
sofrem com a exclusão social, com o intuito de tentar aliviar os
de saúde. E todos esses problemas são cuidados pelos órgãos
males de sua condição. São essas pessoas das classes economi-
de saúde pública, portanto quanto mais pessoas abusando de
substâncias psicoativas, maiores são os problemas para serem
bendo ajuda e conselho quando necessário. Tal medida se con-
cuidados pelo estado, acarretando em mais gastos na saúde
trapõem as técnicas antigas de tratamento, onde geralmente
pública. Portanto, o abuso de substâncias psicoativas acaba se
eram aplicadas medidas privativas e punitivas. Medidas que
tornando um problema caráter financeiro e de saúde pública.
afastavam os usuários que queriam se tratar, mas possuíam medo de serem mal tratados ou de serem privados socialmente.
6.2 O problema social. 7.0 A droga. A região da Luz em São Paulo, concentra um grande número de usuários e de traficantes de crack. Eles ocupam pré-
7.1 Crack.
dios abandonados e pensões irregulares para utilizar e vender a droga. Também é comum o consumo e a venda da droga
A droga surgiu nos bairros de classe média baixa de
nas vias públicas da região. Geralmente os usuários de crack
Miami e de Nova Iorque, se espalhou pelos Estados Unidos
da região andam em grandes grupos e são sociáveis entre si,
pelo fato de ser muito fácil de ser produzida em laboratórios ca-
diferente de outras “cracolândias” ao redor do mundo, onde
seiros e também pela grande procura dos usuários de cocaína
os usuários de crack são extremamente violentos e pouco so-
que não possuíam renda para manter o vício, pois o crack é
ciáveis.
muito mais barato que a cocaína.
É muito delicado discorrer sobre como tratar o usuário
A droga chegou ao Brasil em meados dos anos 1990,
de crack e de como inserir ele moralmente nos padrões da
inicialmente na cidade de São Paulo e se espalhou posterior-
sociedade. Atualmente é aconselhável a inserção do indivíduo
mente para quase todas as regiões do Brasil, devido princi-
gradualmente através de atividades assistidas, onde o usuário
palmente pelo seu baixo preço. Para popularizar o crack, os
possa abandonar o uso da droga por etapas, sempre rece-
traficantes esgotaram as reservas de outras drogas e passaram
31
a vender somente as pedras
mente oito segundos. Se compararmos com a cocaína em pó
O crack é uma droga obtida através da mistura da pas-
que leva cerca de quinze minutos para chegar ao cérebro após
ta-base de coca ou de cocaína refinada, com bicarbonato de
aspirada, é possível perceber a potência desta droga. Essa é
sódio e água. O nome “crack” vem do barulho que as pe-
uma das razões para o crack ser uma das drogas mais perigo-
dras fazem quando queimadas. O composto possuí o mesmo
sas para a saúde e que ocasiona dependência quase que ime-
princípio ativo da cocaína.
diata. O efeito do crack dura entre dez e quinze minutos, neste
Pelo fato se ser produzido de forma ilegal, não existe
período no corpo do usuário é potencializada a liberação de
um controle de qualidade da droga, acarretando em diversos
neurotrasmissores. O efeito psicoativo da substância inclui sin-
níveis de pureza. O produtor da droga geralmente mistura out-
tomas de alterações de percepção e do pensamento, euforia
ros tipos de substâncias tóxicas com a pasta base de coca para
e irritabilidade. Segundo pesquisa realizada pela Secretaria
render mais. Substâncias altamente nocivas a saúde humana
Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD em 2005, 0,1%
como o querosene, o cal, o cimento, a acetona, a soda cáus-
da população brasileira consumia a droga, ou seja, aproxima-
tica, a amônia são frequentemente adicionados a droga.
damente 190000 pessoas são usuárias de crack no Brasil.
A droga é comercializada geralmente em pedras de uma grama. É comum o uso da substância é feita em cachimbos
7.2 Fatores sociais.
concebidos de forma artesanal pelos usuários. Também não é raro o uso da droga misturada com tabaco ou maconha.
32
O consumo do crack é baseado em diversos fatores,
A pedra de crack quando aquecida a temperaturas su-
como a fácil disponibilidade da droga, pois os traficantes pref-
periores a 100ºC se vaporiza, quando inalado pelo usuário, a
erem comercializar exclusivamente a droga, pois os depen-
substância penetra extremamente rápido na corrente sanguínea.
dentes crônicos em geral consomem grandes quantidades da
O efeito do crack é imediato, atinge o cérebro em aproximada-
droga todos os dias. O crack é uma droga que atinge todas
as classes sociais, porém o uso dela é mais comum entre os
neurológicos, como derrames, atrofia cerebral, convulsões. O
moradores de rua e pessoas de baixa renda, pois ela é mais
sistema respiratório dos usuários também é afetado, pois a alta
barata que as outras drogas e inibe a fome e o frio. Alguns
temperatura do vapor do crack pode causar queimaduras na
sinais característicos são comuns entre os usuários de crack,
laringe, nos brônquios e na traqueia. Também algumas sub-
como exemplo a perda do apetite onde o dependente passa
stâncias nocivas presentes na droga, como a amônia e outros
a sofrer de desnutrição, podendo facilmente perder dez quilos
solventes, podem afetar o equilíbrio do sistema respiratório.
em um mês por causa da droga. O usuário também passa a
Tosse, dor no peito e escarro com sangue e até asmas são prob-
se queimar com frequência no momento em que fuma a droga,
lemas comuns no uso excessivo do crack.
pela falta de atenção provocada pelo uso continuo do crack. A pouca atenção prejudica também na profissão do dependente
7.3 Tratamento.
e muitos usuários deixam de trabalhar para poder consumir o crack durante todo o dia, devido a dependência. Alucinações,
Existem diversos tipos de tratamento para a reabilitação
paranóias e ansiedade são outros problemas mentais que o
dos usuários de substâncias psicoativas, onde os mais comuns
usuário de crack passa a sofrer após o uso continuo da substân-
são o tratamento ambulatorial e a internação em comunidades
cia.
terapêuticas. As técnicas aplicadas no tratamento também posO uso crônico da droga causa severas consequências
suem uma grande variação, sendo as mais utilizadas a de trata-
no organismo do usuário, doenças cardíacas e respiratórias
mento psicoterápico, a de tratamento por medicamentos e o de
são muito comuns. O crack satura os receptores pós-sinápticos,
auto ajuda.
assim os usuários tendem a aumentar as doses da droga para
O tratamento ambulatorial geralmente é adotado por
obter os efeitos dela, gerando assim o uso compulsivo da dro-
aquelas pessoas que conseguem se manter abstémios, ou con-
ga. O grande consumo da droga pode causar sérios problemas
seguem diminuir o consumo da droga. Também é necessário
33
que o usuário não ofereça risco a própria vida ou a de outros.
ou de outras pessoas em perigo, aos usuários crônicos que não
O atendimento busca a melhora da saúde e a reinserção so-
conseguem deixar de utilizar a droga e para os pacientes com
cial do paciente. O tratamento ambulatorial é oferecido por
problemas legais. A internação visa transformar psicossocial-
instituições privadas ou públicas, os Centros de Atenção Psicos-
mente o paciente, com auxilio integral de uma equipe especial-
social para Álcool e outras Drogas (CAPS AD) é um programa
izada multidisciplinar composta por médicos psiquiatras, enfer-
público fomentado pelo governo federal em todo o Brasil, neles
meiros, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais
existem três tipos de atendimento. O diário, o semi-intensivo;
e educadores. O principio básico do tratamento é o de criar
com dois a três dias por semana; e o não intensivo, com três
atividades para motivar o usuário a abandonar o antigo estilo
atendimentos por mês. Equipes multidisciplinares compostas
de vida substituindo por novos hábitos saudáveis. Em geral tais
por médicos psiquiatras, enfermeiros, psicólogos, assistentes
atividades possuem severas regras a serem seguidas, trabalho
sociais, terapeutas ocupacionais e educadores, atuam nesses
e disciplina fazem parte do tratamento. Os pacientes possuem
centros para realizar o diagnostico e tratar dos dependentes de
horário certo para comer, ter cuidados de higiene pessoal, par-
substâncias psicoativas. Utilizando como técnicas de tratamen-
ticipar de atividades em grupo, de estudo e de lazer. Além do
to a prescrição de medicamentos, sessões de psicoterapia e
ensinamento de um oficio também fazer parte das atividades
oficinas de reinserção social. Também é verificado se o usuário
de reinserção moral do paciente. Tal rigidez de tratamento pres-
possuí outros problemas de saúde física ou mental. Outro ponto
supõe que o usuário tenha vontade e procure o tratamento por
importante do tratamento e restabelecer as relações familiares
conta própria, pois quando internado a força e contra a von-
e preparar o paciente para o mercado de trabalho. As inter-
tade, as chances de recuperação são quase nulas.
nações que ocorrem em comunidades terapêuticas, onde os usuários são acolhidos em um período de três até doze meses. É recomendada para as pessoas que colocam a própria vida
34
do projeto para a sociedade. Atualmente a comunidade possuí 7.4 Programas exemplares na reabilitação de usuários de drogas
três projetos de ofício, que geram renda para a manutenção
psicoativas.
da comunidade e formam as pacientes para o mercado profissional. No caso existe uma padaria industrial, uma oficina de
Lua Nova, Sorocaba SP.
costura e uma empreiteira escola, que capacita as pacientes a construírem edificações. O tratamento é tão efetivo que o gov-
O projeto Lua Nova, foi idealizado pela psicóloga Raquel de Barros, com o intuito de reabilitar psicossocialmente
erno federal estuda a implementação de projetos com o mesmo modelo em outros estados do Brasil.
mulheres grávidas ou mães recentes. O programa já ajudou na recuperação de mais de cento e cinqüenta usuárias de drogas.
Instituição Padre Haroldo, Campinas - SP.
Se tornou modelo de referência em treze estados brasileiros para a recuperação de mulheres.
Fundada em Campinas, em 1978. A Instituição Padre
No tratamento as pacientes recebem o apoio psicosso-
Haroldo já tratou de aproximadamente treze mil residentes,
cial, moradia e um oficio. Elementos fundamentais para a re-
que possuíam algum problema relacionado com as drogas psi-
abilitação plena, influenciando também no estreitamento dos
coativas. O programa de tratamento da instituição é baseado
laços afetivos com os filhos, pela segurança gerada pelo acolhi-
em três princípios para a recuperação, no caso a espirituali-
mento do programa. No principio a Comunidade Lua Nova não
dade, a coscientização e o trabalho. A instituição visa princi-
foi bem aceita pela vizinhança, pelo tabu do tema enfrentado
palmente tratar os adolescentes, que em geral estão mais vul-
pelo projeto e também pelo passado obscuro das pacientes, foi
neráveis para o consumo de drogas. Grande parte de seus
necessário fazer um trabalho de integração entre as pacientes
pacientes, passam por algum fator de risco social, como viver
e a população, para a vizinhança compreender a importância
na rua ou ter uma família desestruturada. A instituição mantém
35
parcerias com escolas locais, para educar seus pacientes. Tam-
Consultório de Rua, Salvador - BA.
bém são ministradas atividades socioeducativas, como aulas de esportes, de línguas, de teatro e de música. A partir dos
O Consultório de Rua é um programa de tratamento psi-
quinze anos, os jovens são instruídos a aprender algum oficio,
cossocial, que surgiu na cidade de Salvador no final da década
sendo encaminhados para cursos profissionalizantes como o de
de 1990. Inspirada na ONG francesa Médicos do Mundo, que
eletricista, de técnico em informática, etc.
se tornou mundialmente conhecida por atender moradores de
O principal objetivo do tratamento proposto pela insti-
rua e prostitutas, em ônibus adaptados como clinicas ambu-
tuição é eliminar a vulnerabilidade que esses jovens possuem,
latórias, atuando em zonas urbanas com risco social. No pro-
como programas que construam a auto estima, o conhecimento
grama Consultório de Rua, a estratégia adotada é a de atender
e a integração social. Visando reduzir e eliminar o consumo de
os dependentes químicos diretamente na rua, com o suporte
drogas, a prostituição, a gravidez precoce e a incidência de
de um ambulatório móvel. Uma equipe multidisciplinar, faz um
doenças sexualmente transmissíveis.
mapeamento para determinar em que zona urbana se concen-
A terapia adotada na instituição pretende auxiliar os jovens a desenvolver hábitos, como a pontualidade, a responsab-
tra os usuários de drogas psicoativas, para posteriormente agir nessas áreas afetadas.
ilidade, a persistência e também lidar com críticas, frustrações
O principio do tratamento é o de reduzir os riscos causa-
e a autoridade. Por se tratar de uma instituição de cunho reli-
dos pelo o abuso das drogas, conscientizando os usuários so-
gioso, a internação visa também desenvolver a espiritualidade
bre os perigos do uso da substância, distribuindo camisinhas,
do paciente, resgatando valores e princípios.
seringas descartáveis, curativos e panfletos informativos. Também prestando o auxilio médico e odontológico básico e encaminhando se necessário para hospitais, para receber um tratamento médico completo. Posteriormente, quando se ganha
36
a confiança dos usuários de drogas que freqüentam o local, em
8.0 Nova Gentrificação
que o ambulatório móvel se encontra, os profissionais começam a fazer um trabalho educativo e psicossocial. Orientando os
No princípio do ano de 2012, o Governo do Estado de
usuários com atividades, porém parte do próprio usuário a in-
São Paulo criou uma ação que visava reprimir os usuários de
tenção de querer receber o tratamento psicossocial. O intuito
drogas da região da Luz, para tentar expulsa-los da área que
do projeto é restabelecer a cidadania que os usuários crônicos
passa por processo de revitalização urbana. Com o uso da
de drogas perdem quando se encontram em situação de risco
força policial, vinte quatro horas por dia, os agentes públicos
na rua, inserindo novamente essas pessoas na sociedade.
obrigavam os usúarios de crack a irem para os centros de tratamentos e albergues, que se encontram fora da região da luz. Ou simplesmente expulsavam os dependentes de drogas para outro lugar incerto, fora da região da Luz. O objetivo da ação
Cotidiando da Cracolândia: Pessoas utilizando e traficando drogas no meio da rua, em pleno dia, nas proximidades da Estação da Luz. [Foto:Eli Correa Filho]
37
era demonstrar como forma de propaganda, alegando que a cracolândia estava acabando, algo que a sociedade saciava a anos. Porém tal ação só dispersou a cracolândia para outros cantos do centro de São Paulo, mantendo o ciclo vicioso nocivo, não resolvendo o problema. O projeto da Nova Luz visa revitalizar o bairro, possuí seus pontos positivos, no caso a criação de espaços melhores para pedestres, a criação de diversos equipamentos culturais e a criação de novas habitações sociais. Porém faltou a criação de um centro de reabilitação para os usuários de crack da região, fica claro que o Governo do Estado quer mandar os usuários de crack, que conformaram a cracolândia, para fora dela, é nitidamente um projeto gentrificador. Talvez seja muito mais efetivo o tratamento de tal problema de saúde urbano, se for criado algum equipamento que tratasse o problema do crack na região. Pois, além de ajudar na redução dos danos causado pela droga nos usuários crônicos imediatamente. É mais fácil conquistar a confiança dos dependentes que querem receber ajuda para largar o vicio, pois a imagem simbólica Repressão policial como parte do programa Nova Luz [Foto:Agência AE]
de uma instituição no local quebrando o estigma de estarem abandonados pela sociedade. Isso acaba ajudando na “cura
38
O uso crônico do crack é um caso de saúde pública e não caso de polícia.. [Foto:abvn.org.br]
urbana” da região, sem a imagem de abandono, sendo mais
gam impostos, não trabalham, ou seja, para a sociedade eles
fácil criar um ambiente mais humano e digno.
não são seres humanos que merecem usar as novas melhorias
Para não criar muita polêmica o Governo criou o Com-
públicas.
plexo Prates, que está localizado na Rua Prates na altura da Avenida do Estado, a aproximadamente dois quilômetros do centro da região da Luz. Lá existe um centro de tratamento psi-
9.0 Conclusões e memória
cossocial de boa qualidade e um abrigo público, porém mesmo assim seria muito mais positivo se o tratamento fosse no centro
O projeto de uma unidade de reabilitação psicossocial
do problema. Portanto, o governo realmente pretende que os
na região da Luz, como discorrido anteriormente é um objeto
seres humanos consumidores de crack fora da região de revi-
com muitos desafios, além de ser uma necessidade imediata
talização, pois financeiramente não são interessantes, não pa-
na região. Se propõe no projeto uma pequena intervenção ar 39
40
quitetônica em uma quadra conformada pela Avenida Rio Bran-
em um único edifício. Mas sim, um objeto em que o usuário
co, Rua Santa Efigênia, Rua Vitória e pela Rua dos Gusmões.
tenha que se relacionar com a cidade para se deslocar entre
Onde atualmente existe um estacionamento privado ao ar livre
os programas propostos, gerando uma circulação constante de
de aproximadamente 4000m2. O programa inclui a criação de
pessoas pela área. Os programas serão articulados por uma
elementos articuladores e agregadores, como praças, comér-
praça de miolo de quadra que serve de passagem de conexão
cios de rua, sala de atos, midiateca e salas de estudo. Outra
entre as ruas da quadra por vãos de térreo livre projetadas nos
parte do programa seria destinado ao tratamento dos usuários
edifícios. Ou pelo fato de grande parte das construções da Rua
de substâncias psicoativas, com a criação de uma comunidade
Santa Efigênia possuírem aberturas para o pátio dos fundos, as-
terapêutica, onde o usuário de drogas pode se internar voluntar-
sim as edficações comerciais, que conformam grande parte das
iamente e receber um tratamento humanista, onde se mantém a
construções da Rua Santa Efigênia poderão ter um outro acesso
privacidade e a liberdade do paciente e o tratamento só é apli-
pela praça de miolo de quadra. Tal projeto de pequena escala
cado quando necessário. Na residência é implantada também
pode ter uma influência social de grande escala no bairro, pois
uma serie de salas de atividades, onde o paciente possa apre-
possuí a pretensão de integrar as pessoas que originalmente
nder um oficio para se inserir na sociedade.Por outro lado tam-
habitam a área, no caso os usuários de drogas que receberão
bém é projetado um centro de atendimento ambulatorial psicos-
tratamento na comunidade terapêutica, os moradores do bairro
social vinte e quatro horas, para atender as pessoas do bairro
que irão na mediateca estudar, os clientes das lojas da Rua
que necessitem de alguma assistência em relação a saúde men-
Santa Efigênia. Com o tratamento dos usuários de drogas na
tal. Tais programas serão organizados em quatro edificações
região problemática, talvez seja possível quebrar o duradouro
diferentes, cada qual com seu programa especifico, garantindo
ciclo vicioso que assola a cidade, pois com certeza mandar tais
assim a privacidade de seus usuários. Assim não se pretende
pessoas com problemas para outro canto da cidade não é a
no projeto, criar um programa de equipamento centralizado
melhor forma de tentar acabar com tal ciclo vicioso.
“CIMENTO NÃO CURA CRACK” diz o cartaz de um protesto ocorrido no dia 21/01/2011. Contra a atual especulação imobiliária que afeta o centro de São Paulo e o processo de gentrificação que será formado pelo projeto Nova Luz. [foto: http://panoptico.wordpress.com]
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Diversas galerias comerciais ocupam o bairro da Luz. Principalmente nas imediações da Rua Santa Efigênia, o principal mercado é o de artigos eletrônicos, seguido pelas lojas de peças de motos. Também existem nas galerias, uma gama de servicós diversos, para atender as necessidades dos moradores do centro, como cabelereiros, chaveiros, copiadoras, etc. [foto: arquivo pessoal]
42
É comum ver no bairro da Luz edificações comerciais e até algumas moradias que foram convertidas em estacionamentos, a máquina tomou o espaço do homem. Atualmente é mais rentável manter um estacionamento do que qualquer outro negócio em um bairro degradado como o da Luz. O desenho urbano de São Paulo e as políticas públicas de mobilidade criaram esse estigma, onde o carro prevalece sobre o homem. [foto: arquivo pessoal]
43
Panorama do bairro, edificações históricas convivem com enormes edifícios modernos. Em ambos os casos, estão em péssimas condições de conservação. [foto: arquivo pessoal]
44
O comércio tradicional do bairro está em plena decadência, eles surgiram quando a Estação da Luz era o principal meio modal e atraía gente de todos os cantos do Brasil e do mundo. Enquanto que o comércio sexual está em alta no bairro, muitas mulheres vicíadas em crack vendem seu corpo para comprar droga. [foto: arquivo pessoal]
45
46
Rua Santa Efigênia, um pólo comercial de São Paulo, com comércio de eletrônicos. Nas fotos é possível ver o conflito urbano que ocorre diariamente, com calçadas pequenas cheias de pedestres e congestionamentos. Porém, durante a noite, quando o comércio fecha, a rua se infesta de usuários de drogas. Sem uma vizinhança, os traficantes se sentem mais a vontade para vender as drogas. [foto: Henrique Aires]
47
“ESTRATÉGIA” 48
Las Ramblas de la Nueva Luz
O programa Nova Luz possuí rua peatonal, sala de concertos, escola de dança, torre de escritórios, estacionamento... Tem até uma imitação da Rambla de Barcelona. Pretende demolir mais da metade do bairro. Mas não existe um programa que ajude os usúarios de crack, que atualmente habitam a região? Para aonde eles serão mandados? A especulação imobiliária novamamente falou mais alto na decisão do desenho urbano. [imagens: Consórcio Nova Luz]
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50
SITUAÇÃO URBANA DO PROJETO
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ANÁLISE DA ÁREA
51
ESTACIONAMENTO PRIVADO CONFORMADO PELA QUARA DA RUA SANTA EFIGÊNIA COM A AVENIDA RIO BRANCO. E PELA RUA VITÓRIA COM A RUA DOS GUSMÕES. POSSUÍ APROXIMADAMENTE QUATRO MIL METROS QUADRADOS
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FOTO AÉREA DA ZONA DE ESTUDO
RUA SANTA EFIGÊNIA AVENIDA RIO BRANCO
FOTO AÉREA DA ZONA DE ESTUDO
53
PORCENTAGEM DE ADITIVO (%)
COMPONENTE
MASSA (KG/M³)
CIMENTO PORTLAND
325 KG/M³
CINZAS VOLÁTEIS
50 KG/M³
GRANULADO DE CIMENTO RECICLADO
825 KG/M³
50%
354 KG/M³
20%
106 KG/M³
20%
16/32
425 KG/M³
6%
TOTAL DE ÁGUA
228 KG/M³
24%
CONTEÚDO EFETIVO DE ÁGUA
174 KG/M³
ADITIVO FLUIDIFICANTE
27 KG/M³
DENSIDADE BRUTA DE CONCRETO FRESCO
2340 KG/M³
RESISTÊNCIA A COMPRESSÃO (28 DIAS)
45 N/mm²
MÓDULO (28 DIAS)
27 000 N/mm²
ADITIVO DE PEDRA 0/4 8/16
foto: Danilo Verpa
Segundo padrões do DO certificado LEED,LEED, o concreto é considSEGUNDOosOS PADRÕES CERTIFICADO O CONCRETO É erado reciclávelRECICLÁVEL se possuirSEpelo menosPELO 25%MENOS de sua 25% composição CONSIDERADO POSSUIR DE SUA COMPOSIÇÃO DE CIMENTO E O MATERIAL de granulado DE deGRANULADO cimento reciclado e oRECICLADO material reciclado utiRECICLADO UTILIZADO DEVE SER PROVENIENTE DE FONTES lizado deve ser proveniente de fontes de no máximo 25 DE KMNO de MÁXIMO 25 KM DE DISTÂNCIA. distância.
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PARTIDO CONSTRUTIVO: CONCRETO RECICLADO
FONTE: SIA 2030 RECYCLED CONCRETE
Beirais e ripados de madeira protegem da insolação solar direta, garantindo a iluminação natural sem ganho excessivo de calor. A ventilação cruzada garante um maior conforto térmico nos KPHZ THPZ X\LU[LZ KPTPU\xUKV V \ZV KL ]LU[PSHsqV HY[PÄJPHS Os jardins possibilitam uma diminuição de temperatura em até 10 Cº, propiciando úmidade constante nos dias secos.
PARTIDO BIOCLIMÁTICO
55
TRABALHO TRABALHO
X HABITAÇÃO
HABITAÇÃO
56
LAZER
LAZER
SÃO PAULO ATUAL SÃO PAULO ATUAL
CIDADE IDEAL CIDADE IDEAL
-BAIRROS COM FUNÇÕES -BAIRROS COM FUNÇÕESCENTRALIZADAS CENTRALIZADAS -LARGAS DISTÂNCIAS -LARGAS DISTÂNCIAS -TRANSPORTE MOTORIZADO -TRANSPORTE MOTORIZADOPRIVADO PRIVADO
-BAIRROS COMFUNÇÕES FUNÇÕES MISTAS -BAIRROS COM MISTAS -PEQUENAS DISTÂNCIAS -PEQUENAS DISTÂNCIAS -LOCOMOÇÃO PORBICICLETA TRANSPORTE PÚBLICO -LOCOMOÇÃO POR
PROPOSTA URBANA: EQUIPAMENTO POLIVALENTE PARA O BAIRRO
RUA DOS GUSMÕES
RUA SANTA IFIGÊNIA
AVENIDA RIO BRANCO
RUA VITÓRIA
UTILIZAR O MIOLO DE QUADRA COMO ELEMENTO ARTICULADOR DO BAIRRO
57
“PROJETO”
RUA DOS GUSMÕES
RUA SANTA EFIGÊNIA
AVENIDA RIO BRANCO
RUA VITÓRIA
IMPLANTAÇÃO
4000M2
60
DIAGRAMA
MÓDULO 1: AMBULATÓRIO PSICOSSOCIAL 24 HORAS. -CONSULTÓRIOS -BANHEIROS PÚBLICOS -RECEPÇÃO -SALAS DE CONVIVÊNCIA -16 LEITOS
O tratamento ambulatorial é destinado para as pessoas que conseguem se manter abstémios, ou conseguem diminuir o consumo da droga. O usuário também não deve oferecer risco a própria vida ou a de outros.
DIAGRAMA
61
A midiateca é um equipamento público para o bairro, um espaço de convivência, onde se pode alugar um livro, usar a internet, estudar, ler uma revista. Possuí o intuito de quebrar o possível estigma da área se tornar um “gueto” de reabilitação de usuários de crack. O equipamento pode integrar a sociedade com os pacientes da unidade de tratamento, ajudando na reinserção social.
62
DIAGRAMA
MÓDULO 2: MIDIATECA AGREGADORA DO BAIRRO -SALA DE LEITURA -SALA DE COMPUTADORES -SALA DE CONVIVÊNCIA -LIVROS -FOYER -SALA DE ATOS
O térreo comercial, além de atrair pessoas para o miolo da quadra, tem o objetivo de vender os produtos criados nas oficinas da unidade de reabilitação, consequentemente gerando renda para os pacientes.
MÓDULO 3: COMÉRCIO -SALAS COMERCIAIS -BANHEIRO PÚBLICO -BICICLETÁRIO
DIAGRAMA
63
MÓDULO 4: COMUNIDADE TERAPÊUTICA -40 SUÍTES DUPLAS DE PACIENTES -4 SUÍTES DE FUNCIONÁRIOS -8 ÁREAS COMUNS E DE LAZER -ALMOXERIFADO -SALA DE VISITAS -PORTARIA -BANHEIROS
A comunidade terapêutica é destinada aos usuários de drogas que vivem em condições extremas de risco social. É recomendada para as pessoas que colocam a própria vida ou de outras pessoas em perigo, aos usuários crônicos que não conseguem deixar de utilizar a droga e para os pacientes com problemas legais. A internação visa transformar psicossocialmente o paciente, com auxilio integral por até 3 meses (Tempo recomendado pela comissão de direitos humanos da ONU).
64
DIAGRAMA
Os espaços comuns, visam oferecer os serviços necessários para a comunidade terapêutica. Com áreas de lazer e salas de aula para os pacientes aprenderem um ofício. Serviços coletivos como lavanderias e cozinha. E salas administrativas para os funcionários da comunidade terapêutica.
MÓDULO 5: ESPAÇOS COMUNS REFEITÓRIO COZINHA LAVANDERIA SALA DE GINÁSTICA SALA DE MÚSICA SALAS DE ATIVIDADES E OFÍCIO ÁREAS DE LAZER CABELEREIROS ADMINISTRATIVO ALMOXERIFADO
DIAGRAMA
65
66
DIAGRAMA
DIAGRAMA: CIRCULAÇÃO HORIZONTAL
67
68
DIAGRAMA: CIRCULAÇÃO HORIZONTAL E ACESSOS
3
RUA SANTA IFIGÊNIA
1
2
4
4
4
4
6
1 - MIDIATECA 2 - SALA DE CONVIVÊNCIA 3 - RECEPÇÃO AMBULATORIAL 4 - SALA COMERCIAL 5 - ACESSO COMUNIDADE TERAPˆÊUTICA 6 - ACESSO VISITATANTES
RUA VITÓRIA
PLANTA TÉRREO
69
3
2 RUA SANTA IFIGÊNIA
1
6
4
6
5
RUA VITÓRIA
70
PLANTA PRIMEIRO
1 - SALA DE CONVIVÊNCIA 2 - TRATAMENTO AMBULATORIAL 3- LEITOS 4 - HABITAÇÕES PARA 33 PESSOAS 5 - ACADEMIA 6 - ESPAÇO COLETIVO
3
2 RUA SANTA IFIGÊNIA
1
5
4
5
7
6
7
1 - SALA DE CONVIVÊNCIA 2 - TRATAMENTO AMBULATORIAL 3- LEITOS 4 - HABITAÇÕES PARA 33 PESSOAS 5 - ESPAÇO COLETIVO 6 - COZINHA 7 - REFEITÓRIO
RUA VITÓRIA
PLANTA SEGUNDO
71
RUA DOS GUSMÕES
4 4
3 RUA SANTA IFIGÊNIA
4
2
1
5
6
72
PLANTA QUARTO
RUA VITÓRIA
1 - FOYER 2 - SALA DE ATOS PARA 180 PESSOAS 3- TRATAMENTO AMBULATORIAL 4 - CONSULTÓRIOS 5 - HABITAÇÕES PARA 33 PESSOAS 6 - SALA DE CURSOS PROFISSIONALIZANTES
RUA DOS GUSMÕES
4 4
3 RUA SANTA IFIGÊNIA
4
2
6
1
5 6
7
1 - FOYER 2 - SALA DE ATOS PARA 180 PESSOAS 3- TRATAMENTO AMBULATORIAL 4 - CONSULTÓRIOS 5 - HABITAÇÕES PARA 33 PESSOAS 6 - ESPAÇO COLETIVO 7 - ESTÚDIO DE MÚSICA 8 - OFICINAS DE REABILITAÇÃO
8
RUA VITÓRIA
PLANTA QUINTO
73
RUA SANTA IFIGÊNIA
1
2
1 - VARANDA 2 - HORTA COLETIVA
RUA VITÓRIA
74
PLANTA SEXTO
RUA DOS GUSMÕES
1
1 - SALAS ADMINISTRATIVAS E DE TERAPIA EM GRUPO.
RUA VITÓRIA
PLANTA TIPO SÉTIMO, OITAVO, NONO E DÉCIMO.
75
76
ELEVAÇÃO AVENIDA RIO BRANCO
ELEVAÇÃO PRAÇA ARTICULADORA
77
78
ELEVAÇÃO RUA DOS GUSMÕES
0 1
5
CORTE LONGITUDINAL
10
79
80
CORTE TRANSVERSAL
0 1
5
10
CORTE TRANSVERSAL
81
0 1
82
CORTE TRANSVERSAL
5
10
83
84
85
86
87
88
89
90
91
92
93
94
95
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