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0.0 Título: O surto da cidade emergente. “Uma profissão que essencialmente fica apenas se lamentando nunca será capaz de fazer uma contribuição construtiva” (KOOLHAAS, Rem. Conversaciones con Estudantes, Barcelona, Gustavo Gili, pag 40) 1.0 Tema: A Cidade e a saúde humana. 1.1 A cidade metabólica. As cidades pós modernas das regiões subdesenvolvidas do planeta, passam por um período de enfermidade aguda. As ruas estão entupidas por carros, como um coração em vias de infarto. Os rios estão poluídos, como uma veia infectada. O crescimento é sem controle e lógica, como a célula de um câncer maligno. Tal cenário descrito, pode ser visto em grande parte das metrópoles do continente latino americano. Pensando nas cidades como um elemento metabólico, ou seja, que cresce, que se reproduz, que mantém suas estruturas, que responde a estímulos e que adoece. É possível propor soluções para curar tais males, com técnicas da acupuntura urbana, com o intuito de reforçar seu crescimento, sua reprodução, sua estrutura e seus estímulos. Basicamente utilizando de suas fortalezas para combater suas debilidades, como um bom medicamento que reforça o sistema imunológico. 1.2 A acupuntura urbana em Curítiba. Na medicina oriental, a acupuntura propõe com estímulo provocado pelas agulhas a regulação dos fluxos energéticos, das funções metabólicas, do aumento da resistência corporal e da prevenção e do tratamento de doenças diversas. Jaime Lerner, arquiteto e ex prefeito de Curitiba, é um dos grandes defensores da acupuntura urbana, suas propostas para o plano urbanístico de Curitiba se tornaram referência em todo o mundo, por exemplo, as favelas possuíam grandes deficiências com a coleta de lixo, o problema foi solucionado com um programa em que a prefeitura trocava o lixo por vale transporte, em pouco tempo as favelas ficaram limpas, a prefeitura revertia os custos do camião do lixo para a mobilidade dos moradores das favelas. Uma pequena e simples intervenção cambiou o rumo e a qualidade de vida de uma grande parte da população curitibana. 2.0 Objeto: Centro de reabilitação para jovens com transtornos mentais. 2.1 O turno da madrugada. O tema do lixo, comentado anteriormente nas ações de Jaime lerner, pode ser considerado um dos grandes problemas urbanos dos dias de hoje, a sociedade produz toneladas de resíduos diariamente. São Paulo por exemplo produz 19 toneladas de lixo por dia, segundo dados atuais da Secretária de Verde e Meio Ambiente de São Paulo. Toda cidade possuí um lado asco, que a atual sociedade, com ideais assépticos prefere ignorar, exemplifico minha idéia transcrevendo uma idéia de Rem Koolhaas: Igual que nosostros nos reponemos del “espacio basura”, el “espacio basura” se recopone de nosostros: entre las 2 y las 5 de la madrugada, otra población distinta, ésta despidamente eventual y apreciablemente más oscura, se dedica a limpiar, rondar, barrer, secar, reponer... El “espacio basura” no inspira lealtad a sus limpiadores... (KOOLHAAS, Rem, Espacio basura, Barcelona, Gustavo Gili, 2007, pag 23)


2.2 A cidade nociva. Outro tema ignorado pela sociedade urbana, como a questão dos dejetos urbanos, é o tema da saúde mental humana, talvez por ser tradicionalmente um tabu, o assunto é pouco discutido pela população. Ainda mais pela a atual sociedade da era midiática, que aspira pelo asséptico, pela ostentação e principalmente pela imagem, deixando para o turno da madrugada todo o indesejado socialmente. Pergunte para qualquer pessoa na rua para aonde vai o lixo que ela joga no cesto de lixo, pergunte também para onde vão os seres humanos com problemas mentais, tais temas tabus para o homo sapiens urbano, são ignorados para garantir o sono tranquilo dos cidadãos de bem, culturalmente grande parte dos paulistanos esquecem da importância de fiscalizar as políticas públicas. Tal cultura está afetando negativamente a população paulistana, chegando a gerar sérios problemas urbanos.

Ilustração de El Roto, para El País.

Abaixo transcrevo um artigo de jornal que demonstra como a urbanização sem planejamento de São Paulo está afetando na saúde mental de sua população, o ataque de pânico no meio do congestionamento de 300km de extensão, a crise de choro no ônibus lotado, a noite sem dormir pela preocupação do despejo, pode ser mais grave do que pensávamos. Segundo uma recente pesquisa da Organização Mundial da Saúde, cerca de 30% da população paulistana possuí algum tipo de transtorno mental. Em relação a outras 24 metrópoles também pesquisadas, São Paulo é a que possuí o maior índice, seguida por cidades norte americanas com média de 25% da população afetada. Os transtornos de ansiedade foram os mais comuns, afetando 19,9% dos entrevistados. Em seguida, aparecem transtornos de comportamento (11%), transtornos de controle de impulso (4,3%) e abuso de substâncias (3,6%). O estudo concluí que tal resultado está relacionado com dois motivos principais: a alta urbanização e a privação social. [...]Ao cruzar as variáveis, os pesquisadores chegaram aos grupos de maior vulnerabilidade: mulheres que vivem em regiões de alta privação apresentam mais transtornos de humor e homens migrantes que vivem em região de média e alta privação têm mais transtornos de ansiedade. Pessoas com baixa escolaridade têm mais transtornos de ansiedade e de abuso de substâncias. [...]O estudo sugere que é preciso fortalecer, no sistema brasileiro de saúde básica - que inclui o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Programa Saúde da Família -, uma integração entre atendimento e promoção da saúde mental. (Jornal O Estado de S.Paulo, 27/02/2012)


Em uma entrevista para o canal TVE - Televisão espanhola, Shigeru Ban descreve que após ver a tragédia de um grande terremoto no Japão, se arrependeu profundamente de não ter escolhido a carreira de médico, pois se sentiu impotente em não poder ajudar os feridos do desastre, a única coisa que pôde conforta-lo foi a possibilidade de criar abrigos provisórios para os que perderam suas casas, desde então ele só expandiu sua iniciativa, levando abrigos de qualidade para zonas de refugiados na África ou para vitimas de desastres naturais no Haiti. Portanto se arquitetura como ciência, não pode curar fisicamente os seres humanos, pelo menos é possível confortar os mais necessitados e garantir a prevenção de certos transtornos, sejam físicos ou mentais. Tal premissa humanitária deve ser levada em consideração para o objeto de estudo do TC. 2.3 Objeto de pesquisa.

Francisco Goya - Casa de locos, Real Academia de Bellas Artes de San Fernando

Os equipamentos públicos voltados para as pessoas com transtornos mentais são pouco divulgados para a sociedade, a discussão sobre a qualidade deles é limitadamente discutida fora dos meios especializados. Consequentemente os seres humanos com problemas mentais estão sendo tratados da mesma forma que os dejetos urbanos, estão sendo despachados no turno da madrugada para aterros longínquos. Por isso, entre a década de 1980 e o final da década de 1990 a ONU estabeleceu algumas diretrizes relacionadas aos direitos humanos dos doentes mentais, o internamento intensivo nos manicômios passaram a ser considerados como sessões de tortura e de exclusão social. No ano de 2001 foi instituída no Brasil a Lei Paulo Delgado ou Lei da Reforma Psiquiátrica, criando um novo modelo de tratamento para pessoas com transtornos mentais. Propondo os fim dos tradicionais tratamentos em manicômios, estabelecendo um limite para o tempo de internação clínica, de no máximo três meses. Criando os CAPS - Centro de Atenção Psicossocial, que tem como objetivo substituir os manicômios com antigos métodos de tratamento, por um centro de cultura e convivência assistidos, coordenados por uma equipe multidisciplinar. Atualmente os CAPS do Brasil só possuem vagas para 40% da população com necessidades de tratamento, para atender todos com serviços qualidade, é estimado


que será necessário a construção de centenas de CAPS. A lei também propôs a criação de cooperativas de trabalho protegido, as oficinas de geração de renda e as residências terapêuticas. Portanto, com a descentralização do serviço psiquiátrico, que era representado pelos arcaicos manicômios, as pessoas portadoras de doenças mentais poderiam se inserir novamente na sociedade com o apoio de profissionais da saúde. Por ser um programa recente, com muitas debilidades e ameaças, a busca por novas soluções para equipamentos de tratamento psiquiátrico é um interessante tema para o trabalho de conclusão de curso. 2.4 A urbanização como fortaleza do objeto. ...Si una ciudad ha de ser [...]un sistema de vida colectiva y un instrumento de información y comunicación que utilice incluso las ventajas del azar, es necesario que el ciudadano tropiece constantemente con acontecimientos diversos, y sobre todo, es preciso que ningún ciudadano viva en un gueto, aunque sea un gueto funcional. (BOHIGAS, Oriol. LA SUPERPOSICIÓN DE FUNCIONES) La condición peatonal es esencial en las definiciones genéricas de los seres humanos. Vale decir –aunque pueda parecer demasiado obvio- que somos antes que nada caminantes. Y después, mucho después, ecuestre, carreros, ciclistas, motociclistas, automovilistas, acuanautas y aeronautas. Con el tiempo, y dentro de la cultura urbana de este siglo, aquella condición esencial fue subordinada al avance de los vehículos tripulados. (GROSSMAN, Luis. PEATONES DEL MUNDO, ¡UNÍOS!) A descentralização dos serviços psiquiátricos brasileiros pode ser uma grande inspiração para o projeto urbano das cidades, a setorização pode ser muito prejudicial para uma cidade, principalmente se ela tiver uma escala de metrópole como São Paulo. Os guetos funcionais descritos por Bohigas, estimulam o estigma social e a falta de diversidade urbana, criando um aspecto de lugar artificial, um não lugar, um espaço sem identidade e vida. Caminhando por uma deserta rua de qualquer distrito financeiro do mundo, após o horário comercial, uma pessoa sã se questiona se é correto esse desenho urbano onde é proposto que se trabalhe em um lugar e se more em uma periferia residencial longínqua. Essa setorização que desenha uma cidade criada apenas para trabalhar, para morar e para o carro, acaba gerando o problema da mobilidade urbana. Em uma metrópole do tamanho de São Paulo, tal desenho urbano na maioria das vezes privilegia o transporte privado através do carro, acabando com a cultura do pedestre, consequentemente com a vida na rua ou na escala do bairro, ou como Jane Jacobs diria acaba com os geradores de diversidades. Portanto, conectar o centro de reabilitação, não setorizando seus programas em uma implantação única, mas sim espalhando-os pelo bairro ou pela metrópole deve ser uma premissa a ser defendida na proposta. O projeto arquitetônico também deve ser elaborado de acordo com uma série de princípios padronizados, com possibilidades de multiplica-los com facilidade para diversos pontos da cidade ou do país. Tomando como exemplo o projeto da rede Sarah proposta pelo arquiteto João Figueiras Lima (Lelé). 2.5 Conclusão. A cidade pode comprometer a saúde mental das pessoas, talvez pelo caráter virtual e artificial que ela assumiu nos dias atuais. As maioria das grandes metrópoles como São Paulo, estão perdendo sua identidade, algo que Walter Benjamim chamaria de “perda ou declínio da experiência”, termo descrito em seu livro “Experiência da pobreza”. O desenho urbano não gera mais diversidade, o espaço está se tornando genérico e sem vida. A própria população está sendo engolida por tais males, perdendo sua própria identidade e


memória. Vivendo amuralhadas e se locomovendo em máquinas de alta velocidade entre guetos funcionais. Urgentemente se deve buscar novas soluções para uma cidade emergente como São Paulo, para corrigir anos de péssimo planejamento urbano. A melhora da acessibilidade dos pedestres, pode ser uma solução para atrair mais pessoas para a rua. Diversificar os equipamentos urbanos nos bairros também ajudariam na renovação urbana da cidade. A criação de um projeto arquitetônico para uma série de equipamento que atendam as pessoas com doenças mentais, pode ser um bom partido para o futuro das novas soluções arquitetônicas para a cidade. 4.0 Referências 4.1 Pla Jocs Olímpics de Barcelona’92 O plano urbanístico dos Jogos olímpicos de Barcelona, pode ser considerado um dos grandes exemplos de renovação urbana realizados nos últimos tempos. Utilizou das Olimpíadas de 1992 para a implantação de uma série de reformas que extrapolaram a real função de meras instalações olímpicas. A cidade virou um canteiro de obras, as ruas foram repavimentadas, não só para carros, mas para a acessibilidade dos pedestres também. Foram construídas 150 Plaça de Libertat - Exemplo de espaço público de qualidade praças novas. O porto industrial que havia separado a cidade do mar, foi reconvertido para uma costa marítima com uma série de equipamentos que visavam desenvolvimento da cidade. Barcelona depois dos jogos se tornou uma cidade de prestigio, onde as pessoas desejam trabalhar, visitar e o mais importante: viver.

vista do passeio marítimo criado em 1992

4.2 Sou Fujimoto - Centro de Rehabilitação para Jovens com Transtornos Mentais O projeto parte da premissa de que as crianças passam muito tempo internadas no centro tentando se recuperar, por isso necessitam de um de uma espacialidade espacial no interior do edifício que possua o conforto de uma boa habitação, porém que tenha uma riqueza espacial de uma pequena cidade.


Os ricos espaços interiores são criados por uma ambígua disposição de blocos de serviço e habitação, gerando uma espacialidade lúdica onde as crianças podem se esconder, correr e relaxar. Compartilhar um espaço comunitário internado com várias pessoas pode ser inconveniente algumas vezes, porém a espacialidade do programa tenta amenizar tais incômodos.

foto: Archdaily

5.0 Cronograma, atividades, (((tempo)))? A proposta a seguir foi baseada na metodologia de projeto da disciplina TAP G, da ETSAV-UPC de Barcelona. Onde o tema era a habitação e o objeto de estudo um hotel no interior da Catalunya. Em cinco meses houveram aproximadamente dez entregas, divididas entre provas, correções oficiais e entregas de projeto. Com sub temas mensais similares ao proposto abaixo. março Início da discussão com tutores, estudo da viabilidade da pesquisa, partido inicial das idéias do projeto. Analise urbana e social para a melhor área de implantação. abril Concretização das ideias e do programa do objeto de estudo. Visita aos CAPS e outros equipamentos destinados ao tratamento de doentes mentais. Reconhecimento crítico da elaboração dos projetos arquitetônicos, nos órgãos públicos responsáveis. junho Proposta inicial volumétrica das edificações. Projetar CAPS, oficinas de trabalho assistido, oficinas de capacitação financeira e residências terapêuticas. Julho Viagem de estudos. Salvador da Bahia, estágio na rede Sarah, pesquisa sobre o mobiliário e outras facilidades criadas por Lelé. agosto Desenvolvimento critico do projeto, criação de um sistema agregador, através de ideias urbanísticas. Relações entre o espaço público, compartidos e os limites do sistema. setembro Composição do projeto. Desenho das unidades. outubro Composição do projeto. Sistema de agregação.


novembro Conclusões técnicas do projeto. Estudo da eficácia estrutural, social e ambiental. dezembro Conclusões voltadas para a entrega final. 6.0 Bibliografia AUGÉ, MARC. Os Não Lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade, Campinas, Papirus, 1994. FOUCAULT, MICHEL. Microfisica do poder, São Paulo, Graal, 2008. CANTON, Katia. Espaço e Lugar, São Paulo, Martins Fontes, 2009. BENJAMIN, Walter. A modernidade e os modernos, Rio de Janeiro, Tempos Brasileiros, 1975. KOOLHAAS, Rem. Espacio Basura, Barcelona, Gustavo Gili, 2007. KOOLHAAS, Rem. La Ciudad Genérica, Barcelona, Gustavo Gili, 2007. KOOLHAAS, Rem. Conversa com estudantes, Barcelona, Gustavo Gili, 2002. JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades, São Paulo, Martins Fontes, 2009. ROGERS, Richard. Ciudades para un pequeño planeta, Barcelona, Gustavo Gili, 2010. LERNER, Jaime. Acupuntura Urbana, São Paulo, Record, 2003. CORBUSIER, Le. O Urbanismo, São Paulo, Martins Fontes, 2000. AA VV. 2G Nº50 Sou Fujimoto, Barcelona, Gustavo Gili, 2009. AA VV. Residències d’estudiants, Barcelona, Edicions UPC, 2010. INGELS, Bjarke. Yes is More, Köln, Taschen, 2010. ITO, Toyo. Conversaciones con estudiantes, Barcelona, 2005. EAMES, Charles & Ray. ¿Que es una casa? ¿Que es un diseño?, Gustavo Gili, 2002. SARTRE, Jean-Paul. O Muro, São Paulo, Nova Fronteira, 2005. CAMUS, Albert. O Estrangeiro, São Paulo, Record, 1997. KAFKA, Franz. A Metamorfose, São Paulo, Companhia das Letras, 2000. 6.1 Filmografia Estamira, diretor Marcos Prado, Brasil, 2004. Um estranho no ninho, diretor Milos Forman, EUA, 1975. Bicho de sete cabeças, diretora Laís Bodanzky, Brasil, 2001. 6.2 Sites http://www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0031879 http://www.who.int/en/ http://portal.saude.gov.br/


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