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ESTUDOS DE CASO

Nosso primeiro case é o mais novo exemplar das edificações de madeira que nasceu em março de 2019 em Brumunddal, cidade há 96 km de Oslo, na Noruega e é classificada como a edificação de madeira mais alta do mundo. Nomeado Mjørstårnet, a obra do escritório Voll Arkitekter se estende por 80 metros de altura, detém 18 pavimentos e 11300 m². O complexo, de uso misto, abriga apartamentos, um hotel, restaurantes e uma área comum com uma piscina de 4700 m². Segundo o escritório de arquitetura, a base de 16 metros quadrados permite a ereção do edifício a estes patamares, possibilitando ainda maiores alturas com uma relação proporcional entre a largura da base e a altura atingida.

A New Nordic Heights (2018), uma série de documentários voltados à edificações nórdicas, põe em foco o Mjørstårnet em seu segundo episódio, evidenciando os benefícios da utilização de material local e na considerável diminuição da pegada de carbono - um índice que mede o impacto das atividades do homem sobre a natureza, a partir da quantidade de dióxido de carbono (CO2) que elas emitem - em até 30% a menos do que uma construção com materiais convencionais (Concreto e Aço).

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A estrutura deste empreendimento é puramente feita com madeira estrutural, de modo que as colunas e vigas foram de Glulam e as lajes e paredes em CLT (Cross Laminated Timber/ Madeira Laminada Colada). Em edificações mistas, geralmente as caixas das escadas e elevadores são realizadas em concreto ou perfis metálicos I ou H, - como a HoHo Tower ou a Brock Commons Tallwood House - porém, neste caso, podemos observar abaixo (fig. 19) que esta é feita de madeira treliçada que confere maior estabilidade de forma quase que independente da estrutura principal. Ademais, também podemos extrair desta imagem a presença de elementos diagonais de contraventamento que atravessam a estrutura de modo assimétrico, perfazendo um bonito desenho geométrico. Em detalhe construtivo, é perceptível a presença de travas metálicas (fig.20) que são por fim parafusadas em nós viga x pilar e encontros dos contraventamentos (fig. 21).

MJØSTÅRNET BRUMUNDDAL, NORUEGA

MJØSTÅRNET BRUMUNDDAL, NORUEGA

De modo a vencer os fortes ventos presentes predominantes na região, os projetistas lançaram mão de placas de concreto nos últimos sete pavimentos, aumentando a inércia, além de ancorarem a edificação com estacas de 50 metros de profundidade. Além disso, as vigas calculadas e construídas para este projeto são amplamente reforçadas que chegam a medir 1,5 m x 0,60 m.

Este edifício é icônico porque, além de utilizar a estrutura puramente de madeira, oferece um novo benchmark para arquitetos e engenheiros por todo o mundo no sentido de novas altas edificações. É uma mudança consciente e benéfica em prol de uma nova forma de se pensar a construção de edificações em escala mundial.

Fig. 19

BROCK COMMONS TALLWOOD HOUSE VANCOUVER, CANADÁ

A moradia estudantil da Universidade de British Columbia (UBC) não é de nenhuma forma ordinária. O edifício em Vancouver, Canadá é fruto de trabalho de um conjunto de escritórios e consultores, encabeçado pela Acton Ostry Architects Inc e manufaturado pela empresa de fabricação de artefatos de madeira, a Structurlam.

Como dito no nosso item “Madeira na Construção Civil”, a forma de como se trabalha estruturas chamadas engenheiradas (Paineis, Glulam, Vigas e Colunas de CLT), por serem préfabricadas, atribuem um ganho substancial a todos os usuários da cadeia, criando um obra “limpa”, diminuindo tempo de montagem, retrabalho e aumentando a previsibilidade a possibilidade de antecipar etapas no cronograma que antes seriam impossíveis nas construções convencionais. Em nosso objeto de estudo não poderia ser diferente. O cronograma foi curto e providencial para a instalação em pouco tempo: apenas 70 dias após fabricação das peças. O Brock Commons Tall Wood House foi planejado em softwares 3D com todas as possibilidades de interação e ação de agentes externos e condições climáticas extremas, além da construção de uma maquete de dois pavimentos no terreno para testes de encaixe. Com 54 metros de altura, provê 404 acomodações - dentre quartos e estúdios - além de uma área comum na forma de um lounge no terraço do edifício. Em seu core rígido de concreto guarda a caixa de escadas e os elevadores. Apesar da utilização de muito madeiramento em sua concepção - vigas, pilares em Glulam e lajes em CLT - muitas das lajes inferiores e o núcleo rígido são feitas de concreto, configurando uma edificação mista ou híbrida. O fechamento estrutural é realizado por paineis de drywall e placas cimentícias com tratamento anti chamas.

Fig. 22

Fig. 25

Fig. 24

Fig. 26

AMATA SÃO PAULO, BRASIL

O exemplar em estrutura de madeira em terra brasilis tem o seu debut com uma edificação de 13 pavimentos e 4700 m² em um terreno de 1025 m², localizado no bairro da Vila Madalena em São Paulo. A dona do empreendimento é o escritório Tryptyque e a empresa florestal AMATA - nome adotado pelo edifício - que propõem para o espaço ambientes como restaurante, bar, café, lobby coworking e coliving - novas tendências de compartilhamento de amplos ambientes de trabalho e moradia, respectivamente-. A longa durabilidade, a resistência performática superior e, naturalmente, a beleza estética levaram a escolha de paineis CLT e Glulam para a construção do empreendimento paulistano. Juntamente à utilização de muita massas arbóreas e espaços de permanência sombreadas, o conceito do projeto foi dar ao visitante a metáfora da floresta e uma experiência sensorial diferenciada. Aproveitando o grande desnível do terreno (cota 787 m a 770 m - 17 metros) o projeto acompanha o perfil, criando espaços mistos com áreas cobertas e descobertas, privilegiando a todos com uma vista privilegiada, escalonada.

Estruturalmente, podemos analisar que o edifício AMATA é composto por dois elementos primários : pilares em Glulam em forma de V que resistem aos esforços de cisalhamento, tração e compressão em um e lajes autoportantes, em CLT, para os módulos escalonados que acompanham o perfil do terreno. No edifício principal, o sistema respeita a mesma lógica com a adição de capitéis em formato de losangos que suportam o avanço da laje. Aparentemente, o invólucro é realizado por somente vidro, o que pode ser um problema na questão térmica e, por conseguinte, energética. A importância deste projeto, além de ser de um escritório de origem brasileira e ser construída em território nacional, resta na possibilidade da construção em terreno acidentado e no design aplicado com o conceito diferenciado, em que os pilares em V fazem uma dupla função viga + pilar, visto em muitas das obras de Oscar Niemeyer (Fig. 27).

Fig. 28

Fig. 29

HORIYU-JI TEMPLE NARA,JAPÃO

Horiyu-ji, o complexo de templos em Nara, Japão é considerado o mais antigo complexo de templos de madeira do mundo. Segundo o site oficial da patromônio mundial, estima-se que o templo foi construído na Era Asuka (538-710 DC) enquanto a civilização Maia florescia nas Américas, os anglo saxões dominavam a região da Bretanha após a queda do império romano do ocidente. Com a crescente onda do budismo espalhado pela China, no ano de 607 DC alcança o Japão pelas mãos do Príncipe Shotoku, cuja ação de promoção do Budismo foi uma das mais importantes para a disseminação da filosofia, fomentando a construção de templos, pagodes e altares suntuosos no território que, posteriormente, iria desenhar a forma de se construir no país. O complexo (Fig. 33) conta com duas Alas - Oeste e Leste - que contam com mais de 2300 itens de importância ímpar na história e cultura mundial, o que atribuiu em 1993 o título de patrimônio cultural da UNESCO e o título de estruturas de madeira mais antigas do mundo. Podemos observá-las na figura ao lado (fig.34). Em todas as edificações, podemos observar o uso do Kimiki (Encaixe japonês / Joinery) para vigas, pilares e estruturação de telhado, principalmente o Okuri-AriTsugi no encontro do pilar com a mão francesa anterior ao sistema de telhas de madeira capa-canal (Fig. 37 e 38) e o Tenjo-Koshi-Gumi no contrafrechal do telhado do Hall Principal (Fig. 40 e 41). Ademais, observamos a utilização da técnica Okkake-Tsugi (Fig. 36) nos pilares externos do complexo Horiyu-ji (Fig. 35) e a utilização da milenar técnica do Shou Sugi Ban (Tratamento pelo fogo) que protege a madeira contra a água da chuva, pestes e apodrecimento (Fig. 39).

O estudo de obras de referência nos traz maior confiança e nitidez no processo de concepção de um novo projeto, formando o amálgama necessário para vislumbrar uma solução mais arrojada para os desafios presentes. Em termos gerais, a utilização da madeira não é um evento novo, porém se apresenta aliada à tecnologias dos novos tempos que permitem partidos e liberdade de designs mais orgânicos que antes pareciam inefáveis. A força e a resistência dos paineis de CLT e Glulam junto à novas possibilidades de adesivos cada vez mais fortes, abrem um leque de vantagens no design de soluções das mais diversas modalidades. Sob esta perspectiva e munido da pesquisa realizada até o presente momento, nos tornamos confiantes e capazes de pensar a formulação de módulos construtivos em madeira estrutural, o objeto de nosso estudo. Fig. 35

Fig. 37

Fig. 39.

Fig. 38

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