ESCOLA DÁ SAMBA? O QUE TÊM A DIZER OS COMPOSITORES DO BAIRRO DE OSWALDO CRUZ E DA PORTELA. Augusto César de Lima(PUC-RIO) O samba é um dos ritmos mais populares da cidade do Rio de Janeiro e têm grande importância em sua identidade cultural. Durante o ano inteiro muita gente participa das produções ligadas ao “mundo do samba”. Mas o sambista compositor é que se projeta, tem a visibilidade e é símbolo deste mundo e referência cultural de significativo setor da população carioca. Saber o que ele pensa acerca da escola, como a vê e como ele se vê nela ou fora dela é uma forma de olhar a escola formal a partir de outro ângulo, permitindo que apareçam aspectos privilegiados por este olhar, possibilitando outra leitura da escola em sua relação com a clientela e sua cultura antropológica de origem. Em nossa pesquisa, que resultou numa dissertação de mestrado, entrevistamos 10 compositores do bairro de Oswaldo Cruz, subúrbio intimamente ligado à história do samba na cidade do Rio de Janeiro, e do Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, criado no mesmo bairro, também uma instituição fundamental na história do gênero. Conceitos que dão samba Neste estudo, reconhecemos o caráter polissêmico do conceito de cultura e suas acepções, procurando definir o conceito com o qual trabalhamos. Partimos de uma síntese de Gilberto Velho (1994) quando diz que os homens em interação social, “participam sempre de um conjunto de crenças, valores, visões de mundo, rede de significados que definem a própria natureza humana” (p.63). A cultura, no sentido antropológico, entendida como um elemento dinâmico, em movimento, em transformação, um elemento vivo. Esta é a conceituação que orienta o presente trabalho. Assim, o que fica além das inúmeras concepções do termo, é a compreensão de que não existe a cultura, mas culturas. Reconhece-se, ainda, que as culturas estão em relação, havendo trocas entre elas, não existindo cultura pura, “e que o outro não é nunca absolutamente o outro e que há sempre algo de nós nos outros” (Cuche, 1999:243). Quando se fala em samba, remete-se à concepção de cultura popular. O uso sistemático do termo “cultura popular” na imprensa e na academia mostra a importância que tem, ainda que nesta última o conceito seja, às vezes, desconstruído, buscando