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“Floripa também tem samba de verdade!” O “samba local” nas falas da escola de samba Embaixada Copa Lord51 Áurea Demaria Silva aureademaria@hotmail.com (UNESP) Resumo: Nesta comunicação apresento resultados de pesquisa de mestrado realizada junto à escola de samba Embaixada Copa Lord. A pesquisa objetivou discutir relações entre práticas musicais e formas de sociabilidade enfocando as vivências de batuqueiros, mestres de bateria, compositores de sambas-enredo e intérpretes. Em Florianópolis, os primeiros agrupamentos carnavalescos que se apresentaram sob a designação “escola de samba” surgiram no final da década de 1940, tendo como referência escolas cariocas que adquiriam sucesso nacionalmente. No entanto, apesar da popularidade que as escolas de samba alcançaram como modelo de organização carnavalesca, na região Sul essas formas associativas desenvolvem-se em um contexto onde a história e cultura das populações afro-brasileiras não são reconhecidas no cenário da identidade local/regional, no qual tem prevalecido uma imagem de branqueamento e europeização. As populações organizadas em torno das escolas de samba vivem uma situação de certa invisibilidade e encontram-se inseridas em uma disputa cotidiana pela ocupação de espaços diante das restrições às manifestações afro-brasileiras dentro do campo de políticas culturais locais. Assim sendo, a presente exposição pretende explorar as tensões entre o “local” e o “nacional” – observadas nesse contexto da região Sul – a partir da noção de “samba local” que emerge nas falas de sambistas da Embaixada Copa Lord como elemento central na formação da identidade do grupo. Busca-se compreender a idéia de “samba local” enquanto recurso simbólico que vem sendo mobilizado pelos sambistas considerando o universo de conflitos e negociações que marcam a inserção de manifestações afro-brasileiras no espaço social e cultural da cidade. Palavras-chave: Embaixada Copa Lord. Escola de samba. Samba. Identidade. Carnaval de Florianópolis. Introdução Ao longo da realização de minha pesquisa de mestrado 52 que teve como foco discutir práticas musicais e formas de sociabilidade no contexto da escola de samba Embaixada Copa Lord, as questões da relação entre música e identidade suscitaram algumas reflexões, as quais busco dar seguimento após a conclusão da dissertação, no presente texto. Partindo das falas de sambistas da Copa Lord pretende-se versar aqui sobre a idéia de que o samba praticado em
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Agradecimentos: aos componentes da Embaixada Copa Lord, por acolherem de forma muito carinhosa esta pesquisa em sua agremiação; a todos que disponibilizaram seu tempo para a realização das entrevistas, em especial aos mestres de bateria Tiko e Carlão, ao batuqueiro Jean, aos compositores Celinho da Copa Lord e Edu Aguiar, ao intérprete de sambas Jeisson Dias; aos participantes da Seção de Comunicação “Mudanças culturais e a questão do patrimônio cultural”, pelo proveitoso debate realizado no III Encontro da ABET. 52 No balanço da “Mais Querida”: música, socialização e cultura negra na escola de samba Embaixada Copa Lord – Florianópolis (SC), realizada no Programa de Pós-Graduação em Música da UNESP, sob a orientação do Prof. Dr. Alberto T. Ikeda.