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O samba passeia em festa por São Luís Ronald Ericeira* A literatura antropológica comumente aponta que os rituais falam. Eles revelariam coisas das pessoas e das estruturas sociais neles envolvidas. Em se tratando das particularidades dos processos rituais de um desfile de escola de samba, CAVALCANTI (1995) sugere que a apreciação analítica desses cortejos permite desvelar tensões e conflitos das cidades que os realizam. Na sua acepção, a expressividade simbólica desses desfiles é marcada pela tensão entre a dimensão ‘visual’ e a ‘musical’. A primeira materializa-se em adereços, fantasias e carros alegóricos, enquanto a segunda consubstancia-se como um texto oral, cujos significantes são cantados na avenida pelos componentes das agremiações. Tratase do samba-enredo, artefato lingüístico, confeccionado através de recursos estilísticos e poéticos, e sempre versando sobre uma temática específica. Nesse sentido, procuro apreender algumas fo rmas pelas quais a cidade de São Luís foi cantada pelas suas escolas de samba 10 . Não pretendo esgotar essa discussão, nem me estender em décadas ou anos específicos. Circunscrevo este trabalho a uma análise antropológica das músicas presentes no disco intitulado ‘Carnaval do Maranhão século XX: *
Mestrando em Ciências Sociais – UFMA. Um histórico sobre a evolução dos sambas-enredo em São Luís por si só renderia um extenso trabalho de investigação. À guisa de informação, esse gênero musical se consolida em 1974, juntamente com a oficialização dos desfiles de avenida. 10