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1.3.2 O Zé Pereira
características do Carnaval é dar aos escravos de qualquer época o direito de criticar e zombar de seus senhores. (MORAES, 1958, p. 17-18) Hiram Araújo, abordando esse mesmo assunto, afirma que a palavra Entrudo veio do latim (introitu) e significa início, começo, abertura da Quaresma. Corroborando o pensamento de Eneida de Moraes, assegurou que essa manifestação cultural foi uma forma grosseira, violenta e primitiva de brincar o Carnaval, que teve suas origens nas Bacanais e Saturnais e se consolidou no começo da oficialização do Carnaval cristão, após 590 d.C. “O povo passou a comemorar o começo da Quaresma, bebendo e comendo, para compensar o jejum. O ritual foi se tornando bruto e grosseiro, consistindo em espargir água e nela as pessoas banharem-se para purificar o corpo”. (ARAÚJO, 2003, p. 26) O Entrudo brasileiro, segundo esse pesquisador, foi implantado aqui a partir de 1723, pelos ilhéus das ilhas de Madeira, Açores e Cabo Verde, portanto exatamente um século antes do registro de Debret.
1.3.2 – O ZÉ PEREIRA
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Outro fenômeno significativo presente nos estudos sobre as origens do nosso Carnaval é o Zé Pereira. Pautando-se nos estudos de Vieira Fazenda, Eneida de Moraes
afirma que a origem do nome remete a certas localidades de Portugal em que chamam a bombo – um instrumento musical – de Zé Pereira e pondera que, por outro lado, aqui no Brasil, “o português José Nogueira de Azevedo Paredes, reunido com alguns patrícios, recordou com eles das romarias portuguesas e resolveram sair às ruas ao som de zabumbas e tambores em passeatas pela cidade” . (MORAES, 1958, p. 44) Hiram Araújo acrescenta outras informações acerca do José Nogueira, assegura que ele era sapateiro lusitano e fora o criador desse evento, sendo que muitos autores divergem, quanto ao verdadeiro ano de seu surgimento. “Para uns, foi em 1846; para outros, em 1848 ou mesmo em 1850”. (ARAÚJO, 2003, p. 92) O certo é que a manifestação denominada Zé Pereira, composta por um conjunto de bombos e de tambores, por muito tempo, foi um atrativo no Carnaval carioca. Edgar de Alencar, em O Carnaval carioca através da música, observa que “parece ter sido em 1852 que o sapateiro português José Nogueira de Azevedo Paredes, com oficina na Rua São José, 22, reuniu alguns companheiros e saiu na tarde de segunda-feira
de carnaval tocando bombos”. (ALENCAR, 1979, p. 61) Aquela novidade, apreciada pelos foliões, foi repetida em vários carnavais cariocas.
Fonte: http://www.riodejaneiroaqui.com/carnaval/carnaval-cordoes-blocos.html
Sérgio Cabral4, em Escolas de Samba do Rio de Janeiro, afirma que, no século XIX, Zé Pereira era o nome dado aos foliões que brincavam o carnaval, percorrendo a cidade e tocando enormes tambores. Zé Pereira poderia ser um folião solitário, ou mesmo um grupo de carnavalescos, “todos com seus tambores, desfilando pelas ruas e visitando as redações dos jornais, como era hábito dos foliões que se julgavam merecedores de aparecer na imprensa”. Ao citar, igual aos demais autores mencionados, o valoroso trabalho de Vieira Fazenda, sobre o Zé Pereira, Sérgio Cabral acrescenta que faltou-nos o porquê, a razão, de a folia criada por José Nogueira de Azevedo Paredes ser chamada de Zé Pereira e não de Zé Nogueira. (CABRAL, 2011, p. 17)
4 Sérgio Cabral é jornalista, autor de várias publicações sobre o carnaval carioca e participou da criação de O Pasquim.