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1.3.7 A Primeira Música do Carnaval

Silva Jardim, Quintino Bocaiúva e Rui Barbosa. “Como clube carnavalesco, o Fenianos estreava nas ruas da cidade com cortejo de alegorias e críticas, iniciando, assim, sua fase de desfiles com carros ricos em ideias, arte e fantasia. ” (ARAÚJO, 2003, p. 128) Nessa direção, Sérgio Cabral confirma que, no século XIX, a classe média carioca divertia-se à europeia nos bailes de máscara – o primeiro deles foi realizado em 1840 no Hotel Itália – e nas chamadas grandes Sociedades, também identificadas como Clubes, destacando-se Tenentes do Diabo e Democráticos, a partir de 1867, e Fenianos, 1869. Seguindo a linha argumentativa de outros estudiosos, aqui mencionados, observamos que a participação das Sociedades no Carnaval influenciou a vida na cidade, principalmente nos movimentos contra a escravidão e naqueles em favor da República.

1.3.7 – A PRIMEIRA MÚSICA DO CARNAVAL

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Segundo Eneida, a primeira música escrita para o Carnaval foi “Abre Alas”, de Chiquinha Gonzaga7 (MORAES, 1958, p. 177) Aquela música, que seria sucesso em 1899, foi escrita para o Cordão “Rosa de Ouro” e o povo, após escutá-la, dela se apropriou coletivamente durante anos. Hoje, é ainda cantada entre as várias marchinhas de Carnaval. Na percepção de Edgar de Alencar, a composição imortal da maestrina Francisca Gonzaga era despretensiosa, uma marchinha de rancho, que criaria um gênero e se tornaria um clássico do cancioneiro no Brasil. “É na verdade a primeira composição nacional, carioca pelo ritmo e pelos versos, especialmente carnavalesca. No poeminha simples e na quentura do seu ritmo balouçante trazia o germe da popularidade”. (ALENCAR, 1979, p. 85) Eis a letra:

7 Francisca Edwiges Neves Gonzaga (1847-1935) foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Era filha de José Basileu Gonzaga, general do Exército e de Rosa Maria Neves de Lima, filha de escrava. Segundo sua biógrafa, Edinha Diniz, Chiquinha Gonzaga participou de todas as grandes causas sociais do seu tempo, denunciando assim o preconceito e o atraso social. Inclusive, abolicionista fervorosa, vendeu partituras de porta em porta, a fim de angariar fundos para a Confederação Libertadora e, com o dinheiro da venda de suas músicas, comprou a alforria de José Flauta, um escravo músico. (Fonte: http://www.chiquinhagonzaga.com/acervo/?page_id=1781)

Chiquinha Gonzaga em foto de 1877 – Acervo Edinha Diniz.

ABRE ALAS

Ó abre-alas Que eu quero passar Eu sou da Lira Não posso negar bis

Ó abre-alas Que eu quero passar bis Rosa de Ouro É que vai ganhar

(ALENCAR, 1979, p. 50)

Não nos parece ser equívoco afirmar que o tema da liberdade é encontrado, de forma implícita, mas intensa, nos versos dessa primeira canção carnavalesca. Liberdade festiva que sinaliza, nessa gênese da música do carnaval, o potencial reivindicatório de outras liberdades, e apresenta um importante recurso estético-ideológico que será recorrente nos futuros sambas-enredos. A título de exemplo, verifiquemos que o anúncio da passagem dos cordões, feito por eles mesmos, possibilita pensar nas futuras relações com os introitos dos sambas-enredos, de modo que são emblemáticos os versos “Ó, abrealas/ que eu quero passar”, uma vez que o verbo no imperativo “abre” implica inferir que

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