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ATRAS DO TRIO ELETRICO ADELE BELITARDO
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Universidade Federal da Bahia Faculdade de Arquitetura Trabalho Final de Gradua~ao
Adele Sa Martins Belilardo de Carvalho
Trabal ho Final de Gradua~ao oferecido ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, como requisito de obten ~ao do titulo de Arquiteta e Urbanista. Orientadoras: Junia Cambraia Mortimer Thais Troncon Rosa
Salvador. Bahia
2019
Ao meu avo Sudario, por sempre ter me contado muitas hist6rias sobre as cidades por on de andou. Uma rua comega em Itabira, que vai dar em Salvador.
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Atodas as pessoas que dedicaram seu tempo a me contarem um pouco sobre suas experiencias carnavalescas, sobretudo: Sudario, Elisabeth, Maria Lucia e Maria Cristina, Maria Luiza, Jose Eduardo, lara, Paulo Ricardo e Andressa. A contribui~ao de voces foi fundamental para 0 pensamento e reflexao sobre esses muitos carnavais de Salvador.
Aminha familia,
agrade~o aos me us avos por sempre terem me
contado tantas historias e serem referencia constante em minha caminhada. Aminha mae, pelo amor e suporte, por vencermos juntas os desafios e as batalhas da vida. Ao meu pai, agrade~o pela alegria e amizade diaria, por confiar em mim e acreditar nos meus sonhos, me incentivando asempre dar 0 meu melhor no que me fa~a feliz. Ao meu irmao, pelo orgulho que me proporciona mesmo distante epor todas as diferen~as que fazem com 0 que nos completemos nessa familia. Aos meus tios eprimos, sobretudo aos que compartilharam comigo seus carnavais, agrade~o pelo carinho eacolhimento constante durante 0 processo. Aos me us grandes amigos e amigas, agrade~o por todo apoio, carinho e todos os momentos de descontra~ao e alegria durante essa jornada, fundamentais para que mantivesse acabe~a tranquila para a conclusao dos trabalhos. Agrade~o em especial ao meu grande amigo e companheiro Vitor Pineiro, por todo 0 amor e apoio, sendo um porto seguro e ponto de refUgio essencial nesse processo e nesses carnavals. •
A Universidade Federal da Bahia, sobretudo
a Faculdade
de Arquitetura, por ter me proporcionado ao longo desses sete an os um ensino de excelencia dentro da Universidade publica, gratuita e de qualidade. Por todos os ensinamentos essenciais em minha forma~ao como pessoa e agora como Arquiteta e Urbanista, por toda a balburdia e encontros incrfveis que atravessaram a minha trajetoria durante esse perfodo:
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Aos me us colegas, companheiros dessa dificil egostosa jornada de gradua~ao em Arquitetura e Urbanismo. Aos me us amigos desde 0 Atelier I: Camila Novaes, Joao Caribe, Mariana Mariani, Sofia Costa e Vanessa Oliveira. Agrade~o em especial aMariana, minha grande dupla durante a gradua~ao, pela amizade, companheirismo, cumplicidade e por deixar mais leves as muitas horas em que trabalhamos juntas. Ao Laborat6rio Urbano, coordenado pela Professora Paola Berenstein Jacques, agrade~o por todo aprendizado que adquiri ao longo dos anos em que fiz parte do grupo, sobretudo no ambito da pesquisa Cronologia do Pensamento Urbanistico, que muito me ensinou e contribuiu na minha forma~ao. Agrade~o imensamente e com muito carinho a todos os membros eamigos do grupo. A banca, por toda contribui~ao e por aceitarem fazer parte da avalia~ao desse trabalho. Ao Professor Joaquim Viana, agrade~o pela interlocu~ao importante com 0 IHAC e pelos ensinamentos enquanto fui aluna da disciplina Arte e Cidade, ainda explorando os primeiros carnavais. A Professora Gabriela Leandro, Gaia, alem do meu agradecimento, destaco a minha profunda admira~ao por todo o trabalho que desempenha e representatividade que carrega, nas tentativas e lutas urgentes do des-embranquecimento das cidades. Ao Professor Oilton Lopes, agrade~o pela especial interlocu~ao no grupo Laborat6rio Urbano e na pesquisa da Cronologia, pelas criticas eaprendizados que me proporcionou em todo esse periodo. Agrade~o
a sorte do encontro com duas mulheres e professoras
incriveis sem as quais esse trabalho, nessa conforma~ao , certamente nao seria possivel. As minhas orientadoras, que admiro tanto, agrade~o por todos os ensinamentos, toda a contribui~ao , dedica~ao e empenho ao desbravarem comigo esses muitos carnavais em Salvador, acreditando no potencial da pesquisa. A Thais Rosa, por ter aceitado me orientar e me acolhido em tantos 7
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momentos, por todo carinho e generosidade, pelas palavras de calma e pelos esforgos constantes em tentar me guiar dentro das minhas proprias confusoes. Por fim, nao sei se alguma palavra - ou alguma imagem - seria suficiente para que eu expressasse 0 meu agradecimento aJunia Mortimer por tudo que significou ao longo da minha graduagao. AJunia, agradego por muitas descobertas e aprendizados e por me apresentar a tantos pensamentos possiveis dentro do campo da Arquitetura edo Urbanismo. Pelas orientagoes, conselhos e leituras criticas, etodos os incentivos durante a minha trajetoria. Agradego pelo encontro, pela amizade, pelos afetos e pelas imagens. Finalmente, gostaria de agradecer a minha cidade, Salvador, Cidade da Bahia, por todos os aprendizados e encantamentos que me oferta todos os dias. Suas ruas cheias de historia me provocam e me langam 0 desafio de conta-Ias, ainda que nunca de conta da complexidade que exala de suas esquinas, ladeiras e pragas: em outra cidade, esse trabalho nao existiria. Salvador faz parte de quem eu sou onde quer que esteja e a saudade ja e grande em deixa-Ia. A ela, deixo um muito obrigada e um ate breve. Voltarei para vivermos juntas muitos outros carnavais.
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As quest6es apresentadas em meu Trabalho Final de Graduagao (TFG) me atravessam' de inilmeras maneiras ao longo de minha trajet6ria, nao somente enquanto estudante de Arquitetura e Urbanismo, mas tambem como baiana, nascida e criada em Salvador. 0 Carnaval consistenum acontecimento incontormlvel no cotidiano da cidade, sobretudo, mas nao exclusivamente, durante alguns meses do ano, todos os anos, e algumas regioes da cidade tem seus espagos e dinamicas diretamente afetados pelo contexto da festa. No final de 2016 cursei uma disciplina optativa na FAUFBA intitu lada "ARQ141 - T6picos de Arquitetura e Urbanismo: Cidades e Fotografia", ministrada pela Prof. Junia Mortimer, na qual buscavamos pensar, discutir e tensionar 0 ambiente construido, da arquitetura e da cidade, atraves da imagem fotogratica. Para a avaliagao final da disciplina deveriamos escolher uma questao urbana ou arquitetOnica para problematizar, construindo uma narrativa por meio de imagens para ta l. 0 periodo coincidiu com o momenta imediatamente anterior ao carnaval de 2017, durante 0 processo de montagem das estruturas da festa. Num dia quente de janeiro, voltando para casa num engarrafamento estressante, um trajeto que usual mente concluiria em poucos minutos me custou quase trinta, devido aos inilmeros bloqueios e interrupgoes ao longo da Avenida Oceanica, sobretudo na regiao de Ondina, por consequencia da insta lagao dos camarotes e do sistema de iluminagao provis6rio do carnaval. Ali, faria uma escolha que caminharia comigo por um tempo maior do que a duragao de uma disciplina, e do que eu poderia prever e imaginar naquele momenta: problematizar a imposigao de toda a conjuntura da cidade carnavalesca soteropolitana sobre sua cidade cotidiana', as sucessivas tentativas de orden amen to dessa cidade para afesta, porem, sem deixar de me atentar ao que desvia, resiste esobrevive a essa 16gica, apesar de tudo. Os inilmeros atravessamentos 13
provocados por essas questOes despertariam em mim 0 interesse por essa investiga~ao de modo mais amplo ecomplexo, mas nunca completo ou esgotado, numa tentativa de tecer rela~5es entre essa cidade, profunda e intrinsecamente marcada pelo carnaval, e essa festa que, sistematicamente, a profana ee profanada por ela. Nesse momento, tateava a minha aproxima~ao com a fotografia 3, ainda tao inicial, enquanto possibilidade de apreensao do espa~o. Descobri nessa pratica, e tambem nesse campo de estudos, uma possibilidade de fazer emergir outros modos de entendimento e reflexao, sobretudo acerca da cidade, que me mobilizam e me instigam, uma maneira de agu~ar 0 meu olhar sobre determinadas quest5es, que me ajuda a entender os ambientes que me cercam, construindo as minhas pr6prias percep~5es. Ademais, as minhas imagens sao tambem testemunhas da experiencia do meu corpo naqueles espa~os , como um certificado de presen~a (BARTHES, 2015, p. 73), de que eu estive ali e de que aquela imagem e 0 meu olhar sobre aquele espa~o , naquele momenta em que 0 vivenciei. Imagens da cidade
Eimprescindivel discutir a rela~ao de Salvador com
carnaval atrelada acria~ao de um "poder de identidade" (ARANTES, 2013, p.16), existindo 0 fortalecimento de um imaginario de massa atrelado a uma ancora identitaria cultural citadina, a qual estaria inserida numa estrategia muito mais amp la, que busca explorar ao maximo 0 capital simb61ico da cidade, e onde determinadas imagens desempenham papel fundamental , vinculadas a publiciza~ao e divulga~ao da cidade de maneira idealizada. Dentre outras a~5es tipicas dessa politica, destacam-se a promo~ao de grandes equipamentos egrandes eventos culturais, onde 0 carnaval soteropolitano estaria vinculado de maneira expressa. 0
Para 0 historiador e critico espanhol Joan Fontcuberta (2017), a grande quantidade de imagens acumuladas na era da p6s15
fotografia', pelo "Homus photographicus" (p. 31), sobretudo a partir das redes sociais, nao estaria relacionada it uma maiar diversidade de conteOdos veiculados, mas sim it reprodugao de cliches e padr5es massivamente repetidos, numa sociedade que nao buscaria conhecer, e sim reconhecer, "preferindo a seguranga do conhecido it vertigem do descobrimento"5 (FONTCUBERTA, 2017, p. 169, tradugao nossa). Pod em os ainda associarmos essas composig5es ficcionais sobre a cidade it construgao de albuns de fotografias, onde 0 mesmo autor ira nos alertar para 0 carater idealizado e subjetivo desse tipo de narrativa, na qual 0 album funcionaria como "um repositorio de sorrisos no qual nao caberia espago para 0 conflito nem a tragildia'" (FONTCUBERTA, 2017, p. 205, tradugao nossa). As imagens apresentadas no con juntode quatro livretos fotograficos, "Vinte e Cinco Arquiteturas na Avenida Oceanica", "Vinte e Dois Btoqueios na Avenida Oceanica", "Trinta e Tres Sinalizag5es na Avenida Oceanica" e "Vinte eSeis Veiculos na Avenida Oceanica", e
a comp5em parte deste trabalho, sao fotografias registradas por mim em momentos anteriores aos carnavais de 2017, para a disciplina optativa, ede 2019, ja imersa no processo do TFG, compreendendo o periodo do processo de montagem da infraestrutura da festa, meses precedentes it mesma. Numa perspectiva onde as fotografias encontram-se cada vez mais desmaterializadas e apartadas de seu suporte fisico, existindo enquanto espectros sem corporeidade, ou informag5es em estado puro (FONTCUBERTA, 2017, p.126), e relevante destacar a insistencia por contempla-Ias e manu sealas impressas em uma dimensao objetual , enquanto construg5es discursivamente aut6nomas, num movimento distinto da experiencia de visualiza-Ias atraves das telas de computadores ou smarthphones, praticas comuns da era dita pos-fotografica. As experiencias em campo faram repletas de descobertas e 17
desafios, sobretudo pela presen~a da camera fotognjfica, que costumava chamar aten~ao e despertar a curiosidade (ou recha~o) de muitos. Em certos momentos nao me senti segura ou confortavel afotografar determinadas cenas, principal mente enquanto mulher e estando muitas vezes sozinha naqueles locais. Eram constantes os "avisos", notadamente de seguran~as ou encarregados das obras dos camarotes, de que eu "nao podia tirarfotoali nao" ou quedeveria "abaixar essa camera ai" '. Por outro lado, algumas pessoas me abordavam para tentar me "proteger" do possivel perigo relacionado aos avisos que recebia, me aconselhando a nao tirar certas fotos, ir em certos lugares, ou para ter cuidado com 0 potencial risco do roubo da camera. Muitos ainda achavam que eu era jornalista e me procuravam no intuito de denunciar problematicas relacionadas a montagem das estruturas do carnaval, particularmente na regiao da pra~a e praia de Ondina, ou simplesmente para me pedirem uma foto', sozinhos ou em grupo, imaginando que pudessem aparecer em algum veiculo midiatico, mesmo que eu insistisse de que nao era 0 caso. Os possiveis estranhamentos disparados pelos registros equestBes aqui apresentados, em rela~ao a Salvador, estao relacionados a nao-associa~ao desse tipo de imagem, etambem de espacialidade, as visualidades mais 6bvias e representa~aes mais emblematicas da mesma, amplamente divulgadas', tanto em seu cotidiano comum quanto em sua conjuntura carnavalesca eespetacularizada. Certamente, essas nao seriam as imagens escolhidas para compor um possivel "album de fotografias" hipotetico, nem no que diz respeito a cidade e nem afesta. Os acontecimentos retratados, muitas vezes, sao de conhecimento da popula~ao , principalmente da parcela que e mais afetada diretamente por essas dinamicas, mas costumam passar despercebidas aos olhares de muitos, sobretudo por tratar-se de uma pratica frequente naqueles territ6rios, repetida anualmente. 19
Nesse senti do, as fotografias causam estranhamento a quem nao esteja habituado a confrontar-se com esse tipo de representagao do carnaval de Salvador, visibilizam e fazem emergir uma serie de quest5es que nao ratificam 0 seu imaginario idealizado sobre essas situag5es. Os limiares e confrontos entre esses dois momentos da cidade, que para determinados contextos podem aparentar conviver em harmonia, sao repletos de tens5es edisputas que costumam ser silenciadas pelos discursos hegemonicos, inclusive 0 fotografico, de cidade e de festa. Oesta forma, entendemos existir nessas imagens uma pulsao espacial (MORTIMER, 2017, p.17) que, para alem da visualidade, demandaria um entendimento proprio do campo da Arquitetura e do Urbanismo, na tentativa do cotejamento das quest5es ali engajadas. Mais do que so mente registros fotograficos desses momentos e espagos, onde h3 a construgao e instalagao da cidade carnavalesca sobre a cidade cotidiana, essas imagens tentam empreender 0 desafio de "fazer aparecer nao as visibilidades mais obvias, mas a invisibilidade relutante de habitos e modos de se relacionar com 0 espago construfdo ecom suas representag5es que ten ham sido por ventura recalcadas por trad ig5es dominantes" (MORTIMER, 2017, p. 17). Nesse sentido, entendemos as narrativas empreendidas nos livretos como capazes de desestabilizar construg5es hegemonicas, possibilitando outros desdobramentos eelaborag5es, muitas vezes invisfveis nos discursos dominantes da cidade e da festa. Para a elaboragao, inclusive metodol6gica lO , das narrativas imageticas presentes no . nto dos Iivretos referenciados e da strip sanfonada ' I em Ondina"' me debrucei sobre 0 trabalho do fot6grafo norteamericana Edward Ruscha, especial mente sobre sua serie de livros de fotografias publicados entre as decadas de 1960 e 1970, no contexto da Pop Art americana. Oentre as publicag5es, algumas problematizam, atraves de imagens, a tematica do ambiente 21
construido 12 nas cidades de urbanismo espraiado (urban sprawl) na costa oeste dos Estados Unidos13, suscitando outros modos de relagao com essas paisagens, a partir de fragmentos e tipologias reproduzidas em series ou, como em "Every Building on the Sunset Strip" (1966), na montagem sequencial de fotografias, dos dois lados de uma avenida (a Sunset Strip, em Los Angeles, Estados Unidos), que sugere a experiilncia de um percurso por aquele espago.
otrabal h0 de Ruscha tambem fo ifundamental para 0 desenvo Ivi men to da linguagem visual do livro "Aprendendo com Las Vegas" , de 1972, de Robert Venturi, Denise Scott Brown e Steven Izenour, on de os auto res utilizam-se de metodologias empregadas pelo fotografo em diversas analises eestrategias 14 , insinuando a relagao significativa desse tipo de construgao imagetica com determinadas correntes do pensamento critico atuantes no campo da Arquitetura e do Urbanismo naquele momento. Venturi et al. argumentam sobre as relagoes de determinadas arquiteturas com simbolos de comunicagao, como os letreiros publicitarios na cidade de Las Vegas, onde as relagoes espaciais dessas arquiteturas seriam empreendidas mais por simbolos do que por formas, em que as mesmas seriam of uscad as, tornando-se, por sua vez, mais um simbolo de comunicagao naquele paisagem.
odiscurso em torno do conceito de "galpao decorado" (VENTURI, SCOTT BROWN, IZENOUR, 2003, p.118), langado por eles, onde simbolos seriam apl icados livremente auma estrutura convencional de pouca complexidade arquitetonica, em muito se assemelha ao que eu observava ao longo da Avenida Oceanica, sobretudo apos a construgao e montagem da minha propria Strip. Atraves dos livretos podemos vislumbrar, de maneira mais direta, essas estruturas on de a espacialidade e profundamente subordinada a sua dimensao simbolica epublicitaria, questao ironizada na propria utilizagao do termo "Arquiteturas" para tratar-se das mesmas. Vale 23
ressaltar
i I nao existindo amesma preocupagao com as fachadas restantes, 0 que tambem pode ser vislumbrado nas imagens, sobretudo nos registros feitos na praia. Mesmo tratando-se de um contexto historico distinto do atual, esses dois referenciais teoricos, as publicag5es de Ruscha e 0 livro "Aprendendo com Las Vegas", foram importantes no desenvolvimento do meu pensamento critico sobre as espacialidades da cidade carnavalesca soteropolitana. As discuss5es e questionamentos suscitados por ambos em muito se assemelhavam ao que eu observava e apreendia ao longo da Avenida Oceanica, especial mente apos a construgao da minha propria strip, num processo de montagem que nao se encerra e se resume asua contemplagao total em carater impresso e continuo, ideia de completude que e ironicamente sugerida em seu titulo. Seu grande comprimento torna quase impossivel uma visualizagao completa de maneira simultanea, e nesse sentido inumeras sao as possibilidades de leitura do objeto, como um jogo com aquele que a manuseia, permitindo que olhares mais atentos possam deter-se adetalhes possivelmente camuflados e sua conformagao objetual sanfonada permite outras associag5es imaginadas e manipuladas pelo proprio leitor, proporcionando outras experiencias e interpretag5es daquelas imagens e, consequentemente, daqueles espagos. As quest5es suscitadas pelos referenciais citados se detem, notoriamente, em considerag5es e discuss5es que emergem acerca do urbanismo rodoviarista que imperava naquele contexto e paisagem norte-american os daquele momenta (LEAL, 2015). A conformagao sequencial das fotografias de Ruscha em "Every Building on the Sunset Strip" sugerem a experiencia do percurso por aquele ambiente construido, sobretudo na escala do automovel. A propria metodologia adotada pelo fotografo, "imitada" pelos 25
outros autores, estava articulada a essa dimensao, onde os registros foram feitos a partir de uma camera acoplada ao fundo de sua caminhonete e configurada para fotografar serial mente em intervalos de inado I 201 a montagem de i .... Ondina" me chamava atengao, aillm do impacto visual gerado pela visualizagao das fachadas de maneira frontal , 0 porte monumental de toda aquela con juntura espacial carnavalesca, que ultrapassava em muito a escala do pedestre e tambem a de um autom6vel comum. Pensando na experiencia do percurso por aquela paisagem, que vefculo daria conta de, de certa forma, corresponder-Ihe dimensional mente? Ou, a que tipo de vefculo aquele espago, naquela escala, estaria tentando adequar-se? Em que medida essa festa, em sua implantagao sobre outras praticas habituais da cidade, tentaria profana-Ia para atender adeterminadas 16gicas, mas tambem seria profanada por ela? Nesse sentido, apartir dos estudos empreendidos, que irao extrapolar as quest5es contemporaneas presentes nas minhas imagens, numa "necessidade de montagens temporais para toda reflexao consequente sobre 0 contemporaneo" (DIDI-HUBERMAN, 2014, p.71), mobil izamos como atravessador do trabalho afigura do trio eletrico, entendendo existir um adensamento nessa figura de discussoes consideradas fundamentais para pensar as relagoes, nao somente espaciais, de Salvador com 0 carnaval. Atraves do entrecruzamento de fontes, no desafio de pensar por nebulosas (PEREIRA, 2018), entendemos que ao friccionar essas diferentes camadas numa malha de acontecimentos mais ampla e numa tentativa de aproximagao e entendimento dos processos historicamente construfdos e implicados nessas quest5es, entre festa e cidade. E, na tentativa de empreender 0 pensamento por imagens (MORTIMER, 2018), outros arquivos fotograficos, alem do meu, tambem foram mobilizados, como os albuns de familia 27
do acervo particular da fotografa amadora Aracy Esteve Gomes 15 , a Fundagao Pierre Verger, 0 Instituto Moreira Salles, onde me debrucei sobre as imagens dos fotografos Marcel Gautherot eMario Cravo Neto, e a Fundagao Gregorio de Mattos, orgao vinculado a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador, onde se localiza 0 Arquivo Historico Municipal da cidade. Consideramos tambem essencial 0 levantamento de fontes primarias como fragmentos de jornais, letras de milsicas e relatos orais de outros folioes, cu ja experiencia abarcava outros tempos e outros carnavais, numa periodicidade que extrapola a minha breve vivencia carnavalesca, trazendo uma serie de quest5es que muitas vezes nao apareciam nos discursos oficiais sobre a festa. No contexto do carnaval, me interessava vislumbrar as relagoes empreendidas entre esses sujeitos e Salvador, e como essa festa foi se utilizando, de modos distintos, de diferentes espagos desta cidade, culminando em sua conformagao e localidade atuais. Esses relatos de outros folioes estao apresentados no que chamei de "mapas psico.geo.carnavalescos", numa referencia aos mapas psicogeograficos dos Internacionais Situacionistas16 que, para alem de representagoes formais do espago, se utilizavam de outros parametros e relagoes de afetividade entre os sujeitos e a cidade (JACQUES, 2012). Ademais, para a construgao dos mapas, alem de trechos dos relatos, interpus uma serie de outros elementos como jornais, letras de milsicas, imagens de arquivos efotografias pessoais dos folioes, complexificando essas narrativas e a construgao empreendida no trabalho, friccionando-as com esses outros fragmentos. Para acessar e ouvir as milsicas utilizadas ao longo deste trabalho, dimensao essencial a discussao sobre 0 carnaval, foi criada uma playlist no servigo de streaming Spotify, intitulada "Atras do Trio Eletrico" , cujo codigo "QR" e tutorial de como acessa-Ia encontram-se a seguir em anexo. Ouvindo a milsica "Atras do Trio Eletrico", de Caetano Veloso, que 29
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intitula esse trabalho, somos capazes de perceber aheterogeneidade de vozes e outros ruidos que atravessam a musicalidade da guitarra, numa multiplicidade de sons e acontecimentos que se dao no espa~o da rua, num estado de rua (SCHVARSBERG, 2011) atras do trio eletrico. Nesse senti do, a mobiliza~ao da figura do trio eletrico e crucial para pensarmos na rela~ao entre rua e carnaval, em Salvador, entendendo 0 momenta de sua cria~ao , em 1951 , como um ponto de inflexao importante que acarretara numa serie de questaes significativas para tratarmos cidade e festa, a partir desse momento, culminando em sua atual configura~ao. 0 trabalho prop5e lan~ar luzes sobre as complexidades da rela~ao festa ecidade, mais especificamente da rela~ao carnaval eSalvador, fazendo emergir tanto as fissuras no predominio de um urbanismo ordenador das cidades (JACQUES, 2011), como as fragilidades de uma festa que se pretende como inversora temporaria da normalidade e cotidianidade da vida urbana (FERREIRA, 2004). Indo na contra mao das sucessivas tentativas de ordenamento do carnaval soteropol itano, nao existe ordem para a leitura desse trabalho. Para come~ar, 0 leitor pode escolher 0 caderno que mais Ihe instigue, 0 que considere ter as imagens que mais Ihe agradam (ou desagradam), 0 importante e manter 0 movimento e 0 dialogo entre eles - nao pode ficar parado! - inclusive para criar suas pr6prias conex5es e interpreta~5es. Aqui e permitido se perder na brincadeira: ecarnaval l S6 nao deixe de ir atras do trio eletrico.
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NOTAS
1. 0 termo sera utilizado ao longo do trabalho segundo 0 pensamento de Jacques e Pereira no texto "Modos de Pensar" (JACQUES, PEREIRA, 2018). 2. Carvalho (2013, p.51) chamara essa configuragao de "cidade efemera do carnaval", onde, em seu entendimento, se estruturaria uma outra cidade sobre acidade cotid iana. 3. Gostaria de agradecer, mais uma vez, aminha orientadora Junia Mortimer, que desempenhou (e desempenha) papel essencial e especial nessa descoberta e encontro, tao significativos e bonitos da minha trajetoria, me encantando com 0 seu pensamento por Imagens. •
4. Segundo Fontcuberta (2017) "A pos-fotografia faz referencia a fotografia que flui no espago hfbrido da sociabilidade digital e que e consequencia da superabundancia visual [... J A situagao foi agugada pela implantagao da tecnologia digital, internet, atelefonia movel eas redes sociais. Como se fossem impelidas pela tremenda energia de um acelerador de particulas, as imagens circulam pela rede auma velocidade de vertigem". No original: "La postfotografia hace referencia a la fotografia que fluye en el espacio hfbrido de la sociabilidad digital y que es consecuencia de la superabundancia visual [... J La situacion se ha visto agudizada por la implantacion de la tecnologfa digital, internet, la telefonfa movil y las redes sociales. Como si fuesen impelidas por la tremenda energfa de un acelerador de partfculas, las imagenes circulan por la red a una velocidad de vertigo" (FONTCUBERTA, 2017, p.7, tradugao nossa). 5. No original: "prefiriendo la seguridad de 10 sabido al vertigo del descubrimiento" (FONTCUBERTA, 2017, p.169). 6. Nooriginal: "un repositorio de sonrisas en el que no habfa cab ida 35
para el conflicto ni la tragedia" (FONTCUBERTA, 2017, p.205). 7. Questao que pode ser vislumbrada atraves de interrup~iies na propria strip, pois em determinados locais real mente nao me senti segura, especial mente em frente aos camarotes de maior porte, sempre repletos de muito movimento e fiscais. 8. Tenho uma serie de lindos retratos guardados dessas visitas, sobretudo dos vendedores ambulantes que ja estavam instalados no circuito no perfodo em que 0 fotografei. Como nao portava nada alem da camera, infelizmente nao pude anotar nenhum desses contatos para devolver-Ihes a fotografia, e aos que passei 0 meu, nao recebi resposta. Alem dos que vinham a mim diretamente pedir uma foto, tambem existiram aqueles que, quando se viram diante da objetiva, sorriram ou acenaram, ou tambem os que escondiam o rosto para nao aparecer. Muitas dessas situa~iies podem ser observadas atraves de um olhar atento as imagens. 9. Destaca-se a intensa rela~ao da gestao municipal atual de Salvador, do Prefeito AntOnio Carlos Magalhaes Neto, com as redes socias, onde imagens da cidade sao sistematicamente publicizadas, sobretudo as que concernem a novas obras, pontos turfsticos e eventos culturais. Tanto 0 perfil pessoal do Prefeito quanto 0 da Prefeitura possuem mil hares de "seguidores", espectadores que consomem as inumeras postagens - e imagens - publicadas todos os dias. 10. Antes das idas acampo com acamera, realizei um breve estudo sobre 0 trabalho de Ruscha e suas praticas fotograficas, 0 que teve importancia significativa no meu processo com as imagens, nao so mente para a montagem e constru~ao posterior dos livretos, mas no que concerne a apreensao daqueles espa~os e a dimensao tecnica da fotografia, com a utiliza~ao , com certas adapta~iies, de algumas metodologias empreendidas pelo fotografo.
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11. Optei por acrescentar "em Ondina" no titulo desse livreto pois a montagem expoe os camarotes de maior escala construidos no bairro referenciado, existindo tambem outros camarotes na mesma Avenida, no bairro da Barra, de menor porte e impacto sobre 0 espago publico, construidos majoritariamente dentro ou sobre estruturas pre-existentes. 12. 0 proprio termo "ambiente construido" (built environment), segundo Mortimer (2017, p.22) se originaria no contexto estadunidense dessas decadas, numa tentativa de "constituir um campo multidisciplinar que envolvesse 0 estudo de questoes politicas, sociais e culturais na construgao de edificagoes e da paisagem urbana". 13. Podem ser citados "Twenty Six Gasoline Stations" (1963), "Some Los Angeles Apartments" (1965), "Every Building on the Sunset Strip" (1966), "Thirty Four Parking Lots in Los Angeles" (1967), "Nine Swimming Pools and a Broken Glass" (1968) e "Real State Opportunities" (1970). 14. Em nota de pagina, sobre determinada imagem apresentada na publicagao, os autores escrevem: "Detalhe de uma elevagao da Strip amaneira de Edward Ruscha. Fazem-se mapas do Canal Grande e do Reno mostrando a rota margeada por seus palacios. Ruscha fez um da Sunset Strip. Nos 0 imitamos, fazendo uma representagao grafica da Las Vegas Strip" (VENTURI , SCOTT BROWN, IZENOUR, 2003, p.64). 15. A pesquisa "Imaginarios e Visibilidades: praticas urbanas em fotografias soteropolitanas (1950-1970)" propoe pesquisar 0 arquivo de Aracy Esteve Gomes, professora e fotografa amadora, no periodo de 1950 a 1970, em Salvador, Bahia, utilizando um determinado conjunto de documentos deste arquivo - entre imagens fotograficas, cameras e cartas - como ponto de partida, "Iugar de problematizagao", para discutir espago, sociedade e cultura, na 39
perspectiva da hist6ria da cidade e do urbanismo. 0 projeto se desenvolveu no ambito do grupo Laborat6rio Urbano (PPGAU/ UFBA), desde 2017, sob a coordenagao da Prof. Junia Cambraia Mortimer, da qual fui bolsista de Iniciagao Cientifica. 16. Grupo frances da decada de 1960, critico ao pensamento urbanistico moderno, que alem dos mapas citados, desenvolveu outras concepgiles como a deriva urbana e a errancia pelas ruas (JACQUES, 2012). Dentre uma serie de participantes, destaca-se Guy Debord, referencia que tambem sera utilizada no trabalho aqui apresentado.
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A rua, para alem de sua materialidade e questaes projetuais urbanisticas, pode ser abordada enquanto espa~o de socializa~ao , de encontro, de afetos, de imprevistos, abrigando as mais heterogeneas atividades e apropria~5es. Schvarsberg (2011 , p.17) chamara de estado de rua essa dimensao da experiencia urbana, sujeita a "coexistencia de praticas as mais heterogeneas e conflitantes", ressaltando, no uso do termo estado, seu carater dinamico, momentaneo e sempre em movimento. A rua configurase como elemento comum na cidade, compartilhada de diferentes maneiras entre seus habitantes, em suas mais distintas pnlticas, usos e ocupa~5es possiveis, 0 que acarreta em constantes disputas e conflitos. Oeste modo, historicamente foi alvo de inOmeras tentativas de domestica~ao , ordenamento e pacifica~ao , tanto no que concerne a sua dimensao fisica quanto a dimensao da experiencia na cidade (JACQUES, 2012). Festas populares, como 0 carnaval , costumam estar intimamente relacionadas ao usa da rua e do espa~o urbano de maneira distinta da habitual, de modo que a cidade pode ser apropriada e experimentada pela popula~ao , coletivavemente, em ci rcunstancias diferenciadas de suas praticas cotidianas. 0 soci610go Roberto OaMatta (1997) ira colocar que: No carnaval , porlim, em bora exista um local especial para os desfiles das escolas de samba', a "rua", tomada em seu sentido mais genlirico e categorico, e em oposi~ao il "casa" (que representa 0 mundo privado epessoal), Ii 0 local proprio do ritual. Assim, ouniverso espacial proprio do carnaval sao as pra~as , as avenidas e, sobretudo, 0 "centro da cidade" que, no periodo do ritual , deixa de ser 0 local desumano das decis5es impessoais para se tornar 0 ponto de encontro da popula~o (DAMATIA, 1997, p56). Se para uma determinada vertente do pensamento urbanistico 45
moderno funcionalista, "a casa, a rua e a cidade sao pontos de aplica~ao do trabalho humano e devem estar em ordem" (LE CORBUSIER, 2009, p.15), essa experiencia festiva conjunta, na ambiencia urbana, emerge como elemento de desequilibrio possivel, tensionadora do urbanismo em seu carater disciplinador do espa~o, 0 que, muitas vezes, implica tentativas de domestica~ao de festas e a higieniza~ao , ou ate elimina~ao , de seus locais de ocorrencia' (SUDRE, 2010, p.10). Sendo considerado, em 2005, pelo livro dos recordes Gu Inness Book como "0 maior carnaval de rua do mundo", a rela~ao do carnaval de Salvador com suas ruas ecomplexa, atravessada por uma serie de disputas, hist6rica eespacialmente construidas sobre determinadas regioes, que culminaram em sua configura~ao atual. As ruas soteropolitanas tem importancia essencial para 0 entendimento das transforma~oes de seu carnaval, pois determinadas conforma~oes espaciais da cidade foram determinantes para que alguns tipos de celebra~oes fossem possiveis, assim como certos tipos de mani festa~oes foram fundamentais para se visionar uma serie de modifica~oes que foram realizadas nos espa~os urbanos da cidade.
Afesta e a cidade
o que se conhece atualmente por
"carnaval brasileiro" e fruto de diversos discursos, trocas, transforma~oes e disputas empreendidas ao longo do tempo de sua existencia. EmSalvador, assim como em outras cidades eregioes do pais, 0carnaval remonta ao periodo colonial, sendo proveniente do Entrud03 de Portugal. E festejado nos dias anteriores ao que a religiao cat61ica denomina Quaresma, momenta de grandes restri~oes e limita~oes aos fieis, que consiste nos quarenta dias anteriores a pascoa. Assim, os dias anteriores ao inicio desse periodo restritivo passaram a ser intensamente celebrados pela popula~ao, com grandes excessos 47
e exageros, como forma de compensar os dias de carencia que estavam por vir (FERREIRA, 2004, p. 68). No Brasil, a celebragao iria adquirir algumas caracteristicas proprias, com a presenga de outras culturas, como as africanas, a intensa participagao dos diferentes estratos da sociedade e um carater tipicamente urbano. Ferreira (2004, p. 80) destaca que era comum, durante 0 periodo, que grandes fazendeiros e pequenos lavradores deixassem suas habitagoes rurais e se dirigissem as vilas mais proximas para participarem das diversoes. De finais do seculo XIX ate mead os do seculo XX, 0 carnaval incentivado pela elite soteropolitana sera cad avez mais demarcado territorialmente, assim como a propria cidade de Salvador (PINHEIRO, 2011). Os grandes bailes da elite aconteciam desde mead os do seculo XIX, realizados nos saloes das mansoes, em teatros importantes da cidade enos grandes clubes (MIGUEZ, 1996, p.55), e em finais do mesmo seculo sao criados seus primeiros clubes carnavalescos. Os locais escolhidos para os desfiles dos clubes, com ornamentados carros alegoricos e membros pomposamente fantasiados, se consolidavam como os mais valorizados comercialmente da cidade e muitos foram palco de importantes reformas urbanas', sugerindo uma tentativa de afirmagao de poder na presenga dessa populagao em certas ruas soteropo Iitanas. A rua ira, paulatinamente, se converter num espago privilegiado, palco de novidades, frequentado pela populagao mais abastada "recebendo a moda, 0 footing, a vida social" (SCHWARCZ, STARLING, 2018, p. 350). Uma dessas novidades muito significativa seriam os automoveis, sin6nimos de modernidade, tecnologia e progresso dos novos tempos. A chegada dos automoveis movidos a motor em Salvador, no inicio do seculo XX (PINHEIRO, 2011 , p. 201), e as subsequentes reformas urbanas de alargamento e construgao de novas avenidas, que propiciavam 49
uma melhor fluidez de veiculos, contribuiram para que uma forma de diversao carnavalesca se tornasse popular nesse periodo: 0 corso. Apratica, amplamente aderida pelas classes mais abastadas, consistia no desfile de carros ricamente ornamentados onde as famflias desfilavam e se exibiam fantasiadas, atirando confetes e serpentinas durante 0 trajeto, de dentro do espago privilegiado de seus autom6veis. Era comum que famflias de menor poder aquisitivo alugassem carros para desfilar no carnaval, denunciando o status que era concedido aessa atividade (UZEDA, 2006, p. 149). As elites, em geral, se afastavam da rua festejando nos espagos privados dos bailes, e, quando no espago urbano, a participagao dessa classe era caracterizada, geralmente, pela mediagao de carros e pela separagao espacial proporcionada pelo carater de espetaculo dos desfiles (MIGUEZ, 1996), que garantia certo distanciamento entre os protagonistas e 0 publico espectador. Salvador, nesse momento, passava por um processo de alterag6es urbanas que buscava modernizar suas fisionomias e habitos. Em 1935 ocorre a "I Seman a de Urbanismo" e em 1942 e criado 0 Escrit6rio do Plano de Urbanismo da Cidade de Salvador (EPU CS). Esses do is acontecimentos podem ser vistos como pontos de inflexao na forma de pensar a cidade, com 0 estabelecimento de ideais e pensamentos modernistas no campo da arquitetura e do urbanismo, que aos poucos, tentavam alterar as feig6es de Salvador. Apartir de 1950, num contextode redemocratizagao do pais, ap6s 0 fim do Estado Novo (1937-45) eda Segunda Guerra Mundial (193945), a Bahia e 0 Nordeste vao passar por um grande processo de industrializagao 5, que trara profundas repercuss6es nas cidades. A capital baiana passa de 417 mil habitantes, em 1950, para mais de 1 milhao em 1970 (SAM PAlO, 1999, p.118), aumento significativo de sua populagao, inclusive em termos de concentragao populacional em relagao ao estado e, consequentemente, da extensao de sua ocupagao territorial urbana. Uma serie de obras desse periodo sinal izavam os parametros modernos que comegavam a operar 51
em sua produgao arquitetonica e urbanistica, os quais, mesmo figurando como excegoes na paisagem, apontavam em diregao a nova fisionomia desejada para a cidade.
oautomovel comegou ater grande destaque nas praticas de cidade e tambem da festa nesse mesmo momento, sobretudo a partir da decada de 1930 (UZEDA, 2006). No carnaval, os espectadores se apertavam nas bordas das avenidas para ve-Ios passar e ja se observam modificagoes no trans ito enos horarios/frequencia dos transportes publicos durante os festejos, sugerindo a mobilizagao cada vez maior de determinados espagos da cidade para 0 carnaval. Normas disciplinares de conduta procuravam ordenar as praticas dos automoveis edos pedestres, buscando amaior fluidez possivel e, sobre os folioes, numa portaria da Secretaria de Seguranga Publica, de 1943, le-se que: "so poderao transitar pelo meio fio, conservando-se a direita de modo a nao interromper 0 transito ou trafego de veiculos. Deverao transitar pelos passeios e meio fio observando igualmente, 0 sentido de mao e contra mao" (UZEDA, 2006, p. 250). 0 trecho explicita nao somente 0 protagonismo e maior importancia dos automoveis nas ruas, mas tambem utiliza term os caracteristicos desse contexto, como "mao e contra mao", para referir-se aos transeuntes. Nesse contexto de protagonismo e popularizagao automobilistica, apos uma serie de reformas urbanas que, em sua maioria, privilegiaram aescala do carro, etambem do consideravel aumento populacional que vinha experimentando a cidade, em 1951 , um elemento "com dimensoes de uma verdadeira revolugao" (MIGUEZ, 1996, p. 87), surgira em Salvador e ira transformar profundamente as bases do carnaval baiano: 0 trio eletrico. Afaganha de entrar pelo meio do corso na Rua Chile', abordo de um veiculo Ford "fobica" 1929 e tocando instrumentos musicais sonoramente amplificados (GOES, 1982, p.18), da "Dupla Eletrica"7 Dodo e Osmar', sera abordada como even to (VEYNE, 1982) que provocara um momenta 53
de inflexao fundamental no carnaval, principalmente em suas relag5es socio-espaciais. Em entrevista concedida a Goes (1982), em 1979, Osmar Macedo narra que: Quando despontamos na avenida, acabamos com 0 corso, pois vinha atras de nos uma massa compacta de gente que pulava e se divertia como nunca antes ocorrera na Bahia. Nossa emo~ao era enorme; mais de 200 metros de povo alras da lobica. 0 dado pitoresco dessa historia loi que quando subfamos a Rua Chile, ao passar da Pra~a Castro Alves, pedi ao motorista, um amigo nosso, que parasse 0 carro para tocarmos ali, on de 0 espa~o e mais amplo [. .. J enta~ ele respondeu que ja havia tempo a lobica estava quebrada, havia queimado 0 disco de embreagem, estava sem Ireio e com 0 motor desligado. 0 carro andava empurrado pelo povo. Este lato ilustra bem como essa maneira de se brincar ao som do Trio Eletrico, de segui-Io, e coisa mesmo do povo, na~ loi ninguem que orientou ou disse como lazer (GOES, 1982, p.19). Atraves do relato de um de seus criadores e possivel vislumbrar algumas quest5es essenciais, no sentido do entendimento da transformagao da festa e suas espacialidades a partir desse momento. Como 0 automovel, em relagao a determinadas praticas urbanas, a figura do trio eletrico tambem tensionara uma serie de praticas empreendidas durante 0 carnaval e sua relagao com a cidade. Eapos uma serie de mudangas urbanas em Salvador que 0 trio eletrico, um automovel ornamentado que levava it bordo uma dupla de musicos e equipamentos amplificadores de som, vai circular. Uma cidade, em teoria, mais organizada, com novas e largas avenidas pensadas e projetadas para a melhor fluidez de veiculos, que possibilitarao nao somente a circulagao do trio, mas da multidao que esse vi ria a "arrastar". 0 trio, enquanto automovel,
55
ao mesmo tempo em que se apropria do desenho urbano moderno, para sua circula~ao, profana-o, numa ressignifica~ao temponjria do espa~o , duranteafesta, onde ha uma ocupa~ao maci~a, pelo povo, do espa~o publico e das ruas desenhadas e imaginadas na escala do carro. Nesse sentido, a figura do trio, desde sua cria~ao, assim como a propria conjuntura do carnaval, podem ser abordados como desestabilizadores de logicas dominantes no contexto dos fazeres da cidade e do urbanismo, sendo considerada como "um even to que se destaca sobre um fundo de uniformidade, e uma di feren~a" (VEYNE, 1982, p.12), um momenta de inflexao que, em seus desdobramentos, provoca rupturas, tensoes e instabilidades.
Afesta na cidade A concentra~ao de algumas comemora~oes carnavalescas soteropolitanas em determinadas regioes e ruas da cidade, como acontece na configura~ao dos circuitos atuais', nao erecente eesses locais tambem sao fundamentais para entendermos quais dessas comemora~oes, praticadas de diferentes maneiras e em distintos espa~os, historicamente foram consideradas como simbolo e expressao do que entende-se por "Carnaval de Salvador". Desde 0 inicio do seculo XX, algumas dessas celebra~oes, como os desfiles dos prestitos e dos corsos, praticas desempenhadas normal mente pelas classes mais abastadas, aconteciam em territorios que se consolidavam como "areas nobres" da cidade, emuitos foram palco de importantes reformas urbanas, como a Ladeira da Montanha, a Rua Chile, a Rua Carlos Gomes eaAvenida Setede Setembro, ruas proximas ao Centro Historico. Nesse sentido, essas regioes que foram mais apropriados pelas comemora~oes tambem sofreram, ao longo do tempo, sucessivas tentativas de orden amen to e organiza~ao de seus espa~os , sobretudo apos a cria~ao do trio 57
eletrico. Subindo pela Ladeira da Montanha em diregao a Rua Chile, em 1951, 0 trajeto do primeiro trio eletrico de Dodo e Osmar ja insinua a aproximagao dessa pratica aesses territorios da cidade. Para Caetano Veloso, 0 trio eletrico "foi uma solugao estetica que o povo de Salvador encontrou para continuar se manifestando ativamente" (VELOSO, 1977, p.91). Nessa nova maneira de "pular carnaval", de participar e dangar na rua seguindo 0 trio, tendo como parceiros possiveis a propria multidao (MIGUEZ, 1996, p.8?), umatemporalidade distinta seria provocada pelo movimento dos corpos, musical mente afetados, onde "a danga condensa a musica e dilui a arquitetura. Transforma 0 espago em movimento: temporaliza 0 espago" (JACQUES, 2011 , p.89). Se 0 corpo, atraves da danga, transforma 0 espago, aexperiencia da multidao dangante que ocupa as ruas modernas de Salvador vai desestabilizar determinadas praticas de cidade e de festa, empreendidas no momenta historico referenciado. Na noticia intitulada "Perseguigao aos trios eletricos?" , do jornal A Tarde, de 1958, lemos que: A policia resolveu com bater os "trios eletricos" impedindo a sua passagem pelo principal trecho da Avenida. Essa medida se prende, ao que se acredita, ao falo da Prefeitura ter conlratado os servi,os do principal desses trios e com ele fazer a propaganda do prefeito [.. J Outras fontes alegam que essa persegui,ao da policia visa unica e exclusivamente diminuir a aglomera,ao na Avenida que os "trios" provocam, para que os carros com placas de policia e tomados emprestados a todos os orgaos federais e autarquicos possam melhor se locomover, conduzindo foli5es (PERSEGUICAo . ., 1958). Atraves do trecho jornalistico epossivel apreender que aparticipagao dos trios eletricos e da massa que os acompanha, tensionam 59
uma ordem pre-estabelecida de cidade e de festa, em Salvador, nesse momento. A medida tomada pelo poder publico den uncia uma tentativa de recomposi~ao da disciplina desestabilizada por pnlticas desdobradas pela trajetoria de uma serie de trios. Durante o carnaval, a fim de preservar a transcorrencia e fluidez de outras manifesta~oes, sobretudo as empreendidas pelas classes mais abastadas epela polftica, como 0 desfile do corso ede determinado trio eletrico "principal", contratado aservi~o da Prefeitura, preterese a pratica coletiva dos folioes transeuntes, de maneira similar ao que ocorria, no periodo, em rela~ao a determinadas ordens hegemonicas do planejamento urbano. A partir da decada de 1960, a inventividade "artesanal" de Dodo e Osmar, que desde 1951 ja fazia sucesso pelas ruas soteropolitanas, ganhara uma nova dimensao e propor~ao. Segundo Goes (1982), sera Orlando Campos'0 quem ira instituir 0 carater empresarial dos trios eletricos e a fixa~ao do fenomeno, vislumbrando seu potencial enquanto "negocio", especial mente publicitario", provocando profundas mudan~as na rela~ao do trio com a festa, e consequentemente, da festa com a cidade. 0 Trio Eletrico Tapajos revolucionou as dimensoes e 0 aspecto alegorico dos trios, tendo patrocinio da empresa de refrigerantes Coca-Cola desde 0 primeiro ana em que desfilou no centro de Salvador, em 1962. Nesse mesmo ano, a Prefeitura promove e patrocina 0 primeiro concurso de trios eletricos (MIGUEZ, 1996), insinuando a popularidade da modalidade no carnaval da cidade. E foi 0 Trio Eletrico Tapajos, de Orlando Campos, que em 1969 foi ao Rio de Janeiro, junto a Caetano Veloso, para 0 lan~amento de sua musica "Atras do Trio Eletrico", lan~ada no mesmo ano, consolidando 0 fenomeno e sua visibilidade em escala nacional. Em um informe do jornal Diario de Noticias, em 7 de fevereiro de 1970, intitulado "Secretaria de Seguran~a ja montou esquema do Carnaval", lemos as medidas esquematizadas pelo poder publico 61
para 0 policiamento urbano durante 0 periodo, contando com 0 auxilio das For~as Armadas, Policia Militar e Corpo de Bombeiros. Nesse momento, 0 trio eli§trico ja ganhara bastante destaque no carnaval de Salvador, atraindo uma serie de turistas nacionais e internacionais (GOES, 1982). As regioes da cidade sao divididas em "postos de policiamento de emergencias", "sub-postos" e "setores" , cada qual com a discrimina~ao especifica de ruas e bairros que estariam sob a responsabilidade das organiza~oes citadas. Com base nas informa~oes contidas no informe citado, foram elaborados os mapas 12 1 e 213 , na tentativa de vislumbrar quais seriam essas regioes mobilizadas pelo carnaval, em Salvador, no ana referenciado. Entendemos que essas regioes estariam associadas a comemora~oes de maior expressao e escala no contexto carnavalesco, 0 que acarretaria em a~oes do poder publico sobre esses territ6rios. No entanto, a partir dessas questoes, e possivel perceber que apesar de uma concentra~ao notavel e atividade diferenciada e complexificada no centro, observa-se que anteriormente essa festa apresentou uma maior organicidade em rela~ao a cidade, questao que aparece tambem na maioria dos relatos dos folioes de maior idade nos "mapas psico.geo. carnavalescos", relatando aexistencia, com eventuais participa~oes , de comemora~oes nos mais distintos bairros de Salvador, inclusive com a presen~a de trios eletricos, 0 que nao aparece no relato dos folioes mais jovens.
o mapa 3, realizado com base nas informa~oes divulgadas em 2019pela Transalvador (Superintendencia de Transito de Salvador), refere-se ao zoneamento de transito planejado para 0 carnaval de 2020, cobrindo areas notavelmente distintas do mapa de 1970. o acesso adeterminadas regioes da cidade, atraves de veiculos automotivos, e restrito durante os dias de festa, sendo permitida a circula~ao de moradores, em horarios e locais definidos 14 , 63
8
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POSTO POLICIAL DE EMERGf:NCIA Pl· Pra~a da Piedade
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1 " Praca Castro Alves
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2 - Campo Grande 3 - Ladeira do Sao Bento e adjacencias
4
P2 • Ladeira da Misericordia 1 " Prat;a Municipal 2 - Ladeira cia Praea (ate 0 viaduto) 3 - Praea da Se 4 - Terreiro 5 - Pelourinho 6 - Taboao 7 - Juliao 8 - Cidade Baixa e imediac5es
·elaria de Seguran~a ja Ilou esquema do Carnaval "'- -,--- . _.:......:::"'"' t· -::-. ..:.:._
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2 - Padre Vieira
3 - Tome de Sousa 4 - Rui Barbosa 5 - Praca Castro Alves 6 - Ladeira da Montanha 7 - Gameleira
--57
SUB-POSTO POLICIU DE EMERGf:NCIA P3 • Antigo Pronto Socorro I - Rua Chile
8 - Pre guic;:a
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9 " Conceicao 10 - Prac;::a Mancel Vitorino
lIcil'a·Mar demiLc muhu Il'Ilas
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P4 • Pra~a dos Veteranos 1 " Prac;a dos Vete ranos 2 - Ladeira cia Praea (depois do viaduto) 3 - rua 28 de Setem bra 4 - Barroquinha 5 - rua Dr. Sea bra
Jomal Diario de Nolicias Salvador, 7 de fevereiro de 1970
6 - Baixa dos Sapateiros e adjacencias
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e proximidades
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5ETORE5 51 • Uruguai (Escola Publica da rua Direita) e aeao no baiITo que esta localizado
52 • I,argo do Taaque I - Alto do Peru 2 - Gengibirra 3 - Nilo Pe<;:anha 4 - Baixa do Fiscal
53 . Tororo (Sede dos Escoteiros) I - Amparo do Toror6 e localidades pr6ximas
17
54· Garcia (Largo do Garcia) e adjacencias 55 • Federa~iio (Predio da ex-Sub-Delegacia) e aeaD nos haiITOS e proximidades
56 . Rio Vermelho (rua Euclides de Matos, 69) 1 - Amaralina 2-Pituba 3 - Vasco da Gama 4 - Ave nida Cardeal da Silva
57.llapuii (Posto de Policia) com deaO no baiITO e adjacencias
Q , s MAPA2
500m
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Mapa de zona!: o carnaval de :
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CI: RNAVAl
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Credenciimento c.m.vol2020
ZONAS CREDENCIADAS ROn I - Vale do Canela , Av. Euc lides da Cunha, Rua da Graya
2 - Av. Centenario VERMELBA 3 - Vale do Canela, Av. Euclides da Cunha, Rua da Graya, Av. Princesa Isabel ou Ladeira cia Barra 4 - Av. Centenario 5 - Curva da Paciencia
6 - Avenida
Centenario, RUB Professor Sabino
Silva e Curva da Paciencia ~o
.....
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~
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=
com restricao de acesso durante m20, publicado pela Transalvador
AMABELA 7 - Av. Centenario, Rua Prof. Sabino Silva e RUB
Juiz Rosalvo Torres
MARROM 8 - Av. Anita Garibaldi e Rua Edgar da Mata 9 - Curva cia Paciencia VERDE 10- Av. Euclides da Cunha, Rua da Graya e Largo da Vit6ria
11 - Av. Contorno,
RUB
Banco dos Ingleses OU
Ladeira do Gabriel
12 - Vale do Canela, viaduto Menininha do Gantois eu Rua Basilio da Gama
Q S MAPA3
500m
atraves de cadastro previo realizado no site do orgao referenciado. Os territorios definidos pelo zoneamento do mapa compreendem os circuitos de maior destaque e visibilidade dos carnavais mais recentes, sobretudo a partir dos anos 2000, e e notavel a concentra~ao desses esfor~os apenas nessas regioes. Alem de compreenderem espacialidades distintas, as diretrizes tambem insinuam uma postura diferente em rela~ao aSalvador. No mapa de 1970, os postos e setores sao diferenciados e nomeados de acordo com as ruas, pra~as e bairros da cidade15, inclusive com a utiliza~ao de termos como "Predio da ex-Sub-Delegacia" ou "Antigo Pronto Socorro", remetendo amemoria urbana dessa cidade, que seria de senso comum e entendimento da popula~ao. Porem, no mapa de 2020, acidade edividida em zonas classificadas por cores e numeros genericos, com men~oes mais especificas it determinadas ruas de maior circula~ao, sobretudo avenidas de vale, como aAvenida Centenario e 0 Vale do Canela. Esse vinculo distinto em rela~ao it cidade tambem e observado nos relatos dos folioes sobre suas experiencias na festa. Os folioes de maiar idade costumavam relatar com maiores detalhes os espa~os que frequentavam, nome de ruas , pra~as , enquanto que os mais jovens normal mente se detem em referencias mais genericas como "Barra" e "Ondina". Nas musicas, presentes ao longo dos "mapas psico.geo.carnavalescos", tambem e observada uma mudan~a na liga~ao com a cidade. Uma serie de letras como "Frevo Novo", de Caetano Veloso, e "Depois que 0 tie passar", do tie Aiye, fazem referencias diretas a locais como a Pra~a Castro Alves, a Avenida Sete de Setembro ou 0 Curuzu, no bairro da Liberdade. Atraves delas tambem podemos vislumbrar quais espa~os da cidade estavam sendo mais mobilizados pela festa nesses momentos, e em musicas mais recentes, sobretudo a partir da decada de 1990, outros locais, como 0 Farol da Barra, come~am a aparecer, insinuando 0 engajamento desses espa~os ao carnaval da cidade. 71
Apesar de abrangerem diferentes aspectos e quest5es sobre organizagao e atuagao dos poderes pilblicos em Salvador durante o carnaval, atraves dos mapas, e das fricg5es empreendidas entre eles, podemos vislumbrar como equais locais estariam sendo mais ou menos mobilizados na cidade nesses dois momentos16. 0 mapa de 1970 envolve uma serie de regi5es, desde 0 Centro Hist6rico ate bairros mais distantes do mesmo como Itapua, nao haven do nenhuma men gao nem ao bairro da Barra, nem ao de Ondina. No entanto, cinquenta an os mais tarde, numa outra 16gica e gestao da festa, 0 mapa de 2020 ira concentrar-se justamente nessas areas, onde atualmente se localiza 0 circuito Dodo, de maior destaque e visibilidade no carnaval soteropolitano (SILVA, 2019). A mesma concentragao e observada no mapa do cruzamento dos relatos dos foli5es, nos "mapas psico.geo.carnavalescos", onde as narrativas mais recentes costumam estar mais concentradas e relacionadas if .essas regloes. Nesse sentido, os desdobramentos da festa, sobretudo em term os de escala, intimamente relacionados ao desenvolvimento em paralelo do trio eletrico, se relacionam if mobilizagao e maiar concentragao do carnaval soteropolitano em determinados espagos da cidade, na medida em que 0 mesmo se consolidava eatraia uma serie de outros interesses, sobretudo mercadol6gicos, midiaticos e turisticos. Ese por um lado, ou durante algum momento, 0 trio se destacou por ser uma experiencia de maior carater popular no carnaval, por outro silenciou express5es que nao sobreviveriam if sua potencia tecnica, sonora evisual.
••• Uma serie de outros acontecimentos, nesse mesmo contexto hist6rico, sobretudo no que diz respeito if dinamicas urbanas de Salvador, sao importantes para 0 entendimento das transformag5es 73
do carnaval e sua relagao com a cidade no perfodo. A migragao paulatina das principais atividades administrativas, economicas e comerciais para outras regioes de Salvador, com 0 surgimento de novos polos economicos, ja estava em curso no Centro Hist6rico, progressivamente ocupado por classes mais baixas (ALMEIDA, 2008, p. 39). Bairros outrora tradicionais da classe media soteropolitana, como 0 Barbalho e os Barris, vao perdendo o prestfgio social, com a migragao paulatina dessa populagao para localidades na diregao sui da cidade 17 , como Campo Grande, Graga, Vit6ria e Barra (PINHEIRO, 2011). Em conjunto a esse momenta de transformagoes urbanas e arquitetOnicas em Salvador, 0 turismo comega ase sobressair como uma atividade importante para a economia, ganhando destaque inclusive em poifticas publicas. Sob uma 6tica mais ampla, em 1965 sao criados pelo governo nacional a Embratur (Empresa Brasileira de Turismo) e 0 Conselho Nacional de Turismo, evidenciando a adogao dessas polfticas de investimento na area, como um dos fatores importantes para impulsionar a economia da epoca. Essas polfticas nacionais viriam a reverberar diretamente nas cidades, principal mente nas capitais. Nesse perfodo, 0 turismo se constitui como uma atividade economica central nas polfticas soteropolitanas, sendo chamado de a "industria-sem-chamines" (SAMPAIO, 1999, p. 119). asfaltamento da estrada Rio-Bahia (atual BR 116), em 1963, integrou 0 Estado as regioes a sui do Brasil e a popularizagao do uso do autom6vel, dentro do contexto de expansao rodoviaria e economica do pafs, contribufram no incremento da atividade turfstica que ocorreu no infcio de 1970. Esse incremento teria provocado, segundo Sampaio (1999), valorizagao do patrimonio artfstico e cultural, reestruturagoes espaciais urbanas e insergao da cidade nos circuitos nacional e internacional. Na Bahia, em finais da decada de 1960 houve a criagao da Hoteis da Bahia S. A.lB,
°
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em 1968, para superar 0 deficit e fomentar 0 setor hoteleiro no Estado, e da Superintendencia de Turismo do Salvador (SETURSA). A cidade acompanhara a constru~ao de grandes hoteis, como 0 Grande Hotel da Barra eo Othon Palace Hotel, no bairro de Ondina. Se em 1969, a nave Apollo 11 aterrissou na Lua e 0 homem pisou em solo lunar pela primeira vez, em 1972, a Caetanave19 aterrisa nas ruas soteropolitanas, acompanhada por uma multidao trieletrizada. Ainda na decada de 1960, Caetano Veloso escreve, em uma de suas mOsicas, que "atras do trio eletrico s6 nao vai quem ja morreu"20, e tambem que "a Pra~a Castro Alves e do povo [... J todo mundo na pra~a e muita gente sem gra~a no salao"21, insinuando a forte adesao da popula~ao it nova pratica da festa e tambem os tensionamentos que ela gerou em rela~ao it outras praticas carnavalescas empreendidas no momento, muitas das quais nao sobreviveriam it sua potente cria~ao. Numa noticia do jornal A Tarde, de 12 de fevereiro de 1975, intitulada "0 Carnaval de hoje", lemos que: "A Pra~ Castro Alves e do povo ... " (Caetano Veloso), mas tambem a rua e a avenida. 0 trio-eletrico, criado ha 25 anos, por Dode e Osmar, tem sido, nos Oltimos tempos, 0 maior animador do carnaval baiano. Seus acordos atravessaram os limites da Avenida Sete de Setembro e as fronteiras da Bahia e foram mexer com paulistas, cariocas, mineiros, pernambucanos, paranaenses etc. atraindo-os a Salvador e levan doos de roldao na esteira sonora do trio-eletrico. "Atras do trio-eletrico s6 nao vai quem ja morreu ... " - e tamblim Caetano quem diz e ninguem duvida. [... ] 0 carnaval, nos Oltimos anos, tem se caracterizado pela participa,ao maci,a do povo nos folguedos de rua, se intensificando de ano para ano, envolvendo todas as camadas sociais. Mas 0 fato mais surpreendente e a
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participa,ao cada vez maior da mo,ada da classe Ano carnaval de rua [...1Aclasse A, por exemplo, ja formou seus proprios blocos (0 CARNAVAL. . , 1975) Nesse sentido, e importante pontuarmos a articulagao entre a multiplicagao do numero de folioes no carnaval de Salvador, destacando a presenga cada vez maior de turistas, 0 aumento da quantidade de blocos na rua, numa conformagao distinta de sua inicial, 0 grande interesse da midia e outras mudangas no contexto da cidade, que afetaram diretamente as configuragoes da festa. Com a alta popularidade e adesao cada vez maior da populagao local, das diversas camadas sociais, e tambem do crescente numero de turistas, 0 trio eletrico vai aos poucos concentrando as atengoes do carnaval soteropolitano, inclusive em termos espaciais. Segundo G6es (1982, pA7), 0 grande numero de caminhoes, assim como a quantidade de folioes que os acompanhava, comegam a provocar verdadeiros engarrafamentos de trios eletricos nas ruas, onde muitos permaneciam, por vezes, parados por horas no mesmo lugar, o que inclusive leva 0 mesmo autor a criticar 0 nao alargamento das ruas por on de eles desfilam. Enotavel a concentragao das comemoragoes na regiao da Avenida Sete de Setembro e da Praga Castro Alves, com posterior inclusao da Rua Carlos Gomes nos percursos. A frequencia e popularidade de outras comemoragoes, sobretudo as privadas nos clubes sociais da cidade, serao tensionadas pela presenga cada vez maior no espago da rua (MIGUEZ, 1996, p.1 15), que torna-se objeto de desejo e de disputa, das mais diferentes classes sociais. Nesse momento, muitos trios eletricos comegaram a ser contratados para desfilarem dentro de blocos", e em outras cidades do estado edo pais", 0 que ocasionou numa sistematizagao cada vez maior de percursos, horarios e locais desses desfiles, por parte dos poderes publicos, numa tentativa de maior organizagao e centralizagao dos festejos. 79
No final da decada de 1970 sao criados blocos ja com oobjetivo de desfilarem com os trios eletricos, que circulariam espacialmente separados do restante do publico, limitado por cordas e pelas vestimentas padronizadas dos folioes, inicialmente portando mortal has e depois abadas. Epara alem das quest5es social mente implicadas, as forma~oes desses blocos insinuam algumas articula~oes espaciais importantes empreendidas por eles em determinados territorios da cidade, onde a maioria das sedes dos mesmos estara localizada em bairros como a Gra~a e a Barra" (MIGUEZ, 1996). Em sua maioria, esses blocos pertenciam it jovens de classe media-alta, sobretudo estudantes de colegios particulares e moradores dos mesmos bairros", que nesse momenta eram ocupados principalmente por essas camadas sociais na cidade (ALMEtDA, 2008). Com a sobrecarga de trios a desfilarem na Avenida Sete de Setembro durante 0 carnaval, e a prioridade, principal mente no que diz respeito it horarios, dada aos blocos mais antigos, muitos desses novos blocos come~aram a migrar para outras regioes e a desfilar notadamente na Avenida Oceanica, sobretudo no trecho compreendido entre 0 Farol da Barra e0 Morro do Cristo (MtGUEZ, 1996), culminando no estabelecimento desse circuito de maneira oficial no inicio da decada de 1990. A partir desse momento, sobretudo com a populariza~ao e desdobramentos relacionados aos blocos de trio, aliados it uma transforma~ao do proprio trio eletrico, em term os de escala, porte e potencia tecnica e sonora, 0 carnaval de Salvador ira se reconfigurar numa outra logica e tambem ocupar e consolidar-se em outros territorios da cidade. Se inicialmente 0 trio chamava aten~ao por seu publico plural, com a presen~a de folioes de distintas idades e classes sociais, com sua popularidade, esse carater sera modificado por uma outra logica. Nesse senti do, e importante tecer considera~oes sobre as diferentes caracteristicas 81
espaciais desses outros territorios ocupados pela festa, em relagao as ocupag5es mais tradicionais do carnaval, entendendo que nessas repercuss5es, determinadas espacialidades apresentaramse como mais propicias aalgumas dessas quest5es. Nas imagensdos primeiros trios elijtricos,sobretudo as fotografadas por Marcel Gautherot e Pierre Verger" , 0 trio, ainda enquanto automovel de menor porte, aparece cercado e ate "engolido" pelo publico que 0 acompanha dangante. 0 proprio fotografo, muitas vezes, parece fazer parte da cena, ao fotografa-Ia de maneira tao proxima e em angulos mais fechados, reunindo em seus registros uma serie de detalhes como express5es, objetos e fantasias. No entanto, as imagens dos trios eletricos posteriores insinuam uma posigao distante de quem por ventura a fotografou , provavelmente instalado em algum ediffcio proximo, registrando imagens em angulos mais abertos, como se tentasse abranger 0 maximo de elementos e de pessoas possiveis, apresentando um momenta de festa e aspecto fotografico distinto das imagens anteriores. Essas imagens, em sua maioria, foram veiculadas em jornais da epoca e vao privilegiar 0 aspecto da massa urbana e sua ocupagao na rua, ao mesmo tempo em que destacam e centralizam a figura do trio, esse ja um automovel de maior porte, que se imp5e perante a multidao.
***
Os desdobramentos provocados pelo estabelecimento do circuito Barra-Ondina, ou Dodo, oficialmente na decada de 1990, acarretarao em mudangas radicais no carnaval de Salvador. Esse outro momenta de carnaval estara relacionado a outro tipo de planejamento de cidade e de festa, e sera atravessado por uma serie de outros fatores, como a ascensao do ritmo musical baiano Axe Music, a proliferagao de patrocinios de empresas privadas 83
e a relagao com os vefculos midiaticos, inserindo-o numa outra 16gica que ira reconfigura-Io e re-ordena-Io" , entendendo a festa sobretudo em seu aspecto mercadol6gico, que movimenta cifras volumosas" todos os anos, numa complexa relagao entre economia ecultura (SILVA, 2019, pAD). Para discutir essa conformagao e gestao da festa, operante ate os dias atuais, e indispensavel entende-Ia no contexto de um planejamento dito estrategico" (ARANTES, 2013), onde dentre outras agnes, destaca-se a valorizagao do patrimonio cultural citadino30 , a construgao de novos ou reformas de equipamentos pilblicos existentes e a promogao de grandes eventos culturais, muitas vezes de escala internacional31 . Essas polfticas normal mente estao atreladas a uma forte agao midiatica e marketeira, de grande alcance edivulgagao, que costuma construir uma imagem idealizada da cidade em questao, numa concepgao notadamente turfstica, vinculada as perspectivas economicas desse tipo de agao. Arantes (2013, p. 40) chamara essa estrategia fatal" de "culturalismo de mercado", on de "a cultura tornara-se de tal maneira coextensiva a vida social em geral que 0 'cultural' e 0 economico' teriam passado um no outro e ja significavam a mesma coisa". Ainda segundo a autora: Trocado em miudos, esse e 0 verdadeiro "poder da identidade". Dai a ancora identitaria da nova urbanistica. E como 0 planejamento estrategico e antes de tudo um empreendimento de comunica,ao e promo,ao, compreende-se que tal ancora identitaria recaia de preferencia na grande quermesse da chamada anima,ao cultural. Inutil frisar nesta altura do debatequase um lugar-comum - que 0 que esta assim em promo,ao e um produto inedito, a saber, a propria cidade, que nao se vende, como disse, se nao se fizer acompanhar por uma adequada politica de image-
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making (ARANTES, 2013, p.17) Nesse sentido, a carnaval soteropolitano dialogaria com essa logica, como um megaevento de rafzes culturais fortes e de projegao internacional, ja acumulada ao longo de sua historia, apreendido par essa poiftica de divulgagao da marca carnavalesca soteropolitana, idealizando a imagem nao so do evento, mas principal mente de Salvador, numa tentativa de espetacularizagao de cidade e de festa. Ressalta-se ainda a criagao recente, da "Casa do Carnaval", no Centro Historico da cidade, museu dedicado afesta e inaugurado no infcio de 2018, eatitulagao recebida par Salvador de "Cidade da Musica", entrando para a "Rede de Cidades Criativas da UNESCO"".
o trio
eli§trico ganhara mudangas e aprimoramentos em sua dimensao tecnica, com a incorporagao de novas tecnologias de luzes e de sam, e tambem a acrescimo de "carras de apoio", que disp5em de servigos como bares, primeiros socarras e sanitarios, para a atendimento ao foliao durante as desfiles (MIGUEZ, 1996). Nesse mesmo contexto, um outro elemento ira marcar de maneira contundente a relagao da festa com a espago da cidade, sobretudo no que diz respeito a rua e sua utilizagao e apropriagao antes, durante e depois dos festejos: a camarote. Desde finais da decada de 1980, observa-se a construgao de algumas arquibancadas, nas bard as das Avenidas, para que fosse possfvel assistir aos desfiles dos trios eletricos, de porte cad avez mais avantajado (SILVA, 2019). No entanto, a partir da decada de 1990, essas estruturas irao se ressignificar34 , sobretudo no novo circuito, perdendo a carater de arquibancada para funcionarem como megaestruturas, que viriam a abarcar uma serie de servigos durante a carnaval , incluindo shows proprios privados, e tambem comportar a maior parte da mfdia televisiva. Essas construg5es provocarao uma serie de tensionamentos, sociais, no que diz respeito asegregagao, sobretudo economica35 , 87
dentro da festa, etambem espaciais, em sua imposigao de maneira invasiva no espago urbano, gerando impactos para alem dos dias de festa. Atraves dos fotolivros "Vinte e Cinco Arquiteturas na Avenida Oceanica", "Vinte e Dois Bloqueios na Avenida Oceanica", "Trinta e Tres Sinalizagoes na Avenida Oceanica" e "Vinte e Seis Vefculos na Avenida Oceanica" , pode-se vislumbrar algumas das questoes e problematicas geradas por esses equipamentos nos espagos publicos da cidade, ressaltando amaior concentragao das mesmas, vislumbrada nas legendas de localizagao das imagens ao final de cad a livreto, nas regioes ocupadas pelos camarotes de maior porte. Destaca-se a conjuntura tecnica que essa festa mobiliza, meses antes de sua ocorrencia, as pessoas que possibilitam com que a mesma se erg a e opere, especial mente os operarios das obras e vendedores ambulantes, e tambem os que sao prejudicados todos os an os por essa instalagao, sobretudo vended ores aut5nomos informais 36 • Em relagao a utilizagao do termo "arquiteturas" para referir-se as construgoes apresentadas,eimportante sal ientar que ha, de um lado, uma dimensao ironica dessa associagao eao mesmo tempo pontuar que ha, de outro, uma serie de parametros normativos proprios do campo sao utilizados no grande numero de documentagoes solicitadas para a implantagao dessas estruturas. Dentre elas podem ser citadas "Anotagao de Responsabilidade tecnica atuais (ART/CREA-BA) ou Registro de Responsabilidade Tecnica (RRT/ CAU)", "Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB)", "Projeto arquitetonico em 02 (duas) vias, na escala 1:50 ou 1:100, contendo planta baixa, cortes efachadas" e "Projeto Estrutural com memorial descritivo" , exigidas pela SEDUR (Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo) para a instalagao de camarotes durante 0 carnaval.
Alem disso, a diferenciagao de caracterfsticas territoriais e urbanas entre os locais que abrigam os circu itos Dodo eOsmar efundamental para 0 entendimento do desenvolvimento de determinadas 89
estruturas em certas regioes, em detrimento de outras. No mapa 4, a quanti dade de areas nao edificadas 37 nas bordas da Avenida Oceanica, sobretudo pertencentes a hoteis privados, de grande nilmero na regiao, sao superiores as observadas na Avenida Sete de Setembro e Rua Carlos Gomes, se tratando de um tecido urbano mais antigo da cidade ede ocupagao mais densa, onde as areas nao edificadas constituem principal mente a maior quantidade de pragas da regiao. Esses areas nao edificadas costumam ser ocupadas por essas grandes estruturas de camarotes todos os anos. Ademais, no mapa 5, pode-se vislumbrar a maior complexidade em termos de vias de acesso do circuito Osmar, insinuando que 0 circuito Dodo, por ser mais isolado espacialmente, seria mais facilmente "controlado" em termos de acesso a festa, ja que para ter acessalos, e preciso passar por revista em alguma das entradas e ate a bebida alc061ica que pode ser comercializada nas ruas e de uma marca especifica, patrocinadora da festa" . Dessa forma, a relagao do carnaval com 0 espago da cidade, na conformagao atual, e profundamente alterada, e permeada por uma serie de parametros e institucionalizagoes que intentam ordenar 0 carnaval soteropolitano. Durante a festa em Salvador, 0 foliao nao estaria mais localizado na Avenida Sete de Setembro ou Avenida Oceanica. Numa nova ordenagao para esse outro momenta da cidade, que poderia deixar os arquitetos modernistas orgulhosos, "regidos pela linha reta e pelo angulo reto, para seu pensamento objetivo" (LECORBUSIER, 2009, p.15), as ruas tem suas extensoes seccionadas como num grid cartesiano e moderno, identificadas por nilmeros e letras que indicam: 208-E: voce esta aqui. Se em 1951 0 trio eletrico, ainda um autom6vel "Ford Fobica 1929" de Dodo e Osmar, se apropriou de novas e largas avenidas pensadas e projetadas para a melhor fluidez de veiculos, que possibilitarao a circulagao do mesmo e tambem da multidao que esse viria a "arrastar"; ja em 2019, enquanto um caminhao de 91
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grandes dimensoes, que tambem provocou nos carnavais mais recentes a constru~ao de monumentais camarotes, 0 espa~o da cidade emodificado para dar conta eatender il toda essa conjuntura carnavalesca que se instala durante alguns meses todos os anos. Tanto a Avenida Oceanica quanto a Avenida Sete de Setembro, onde estao localizados os circuitos de maior porte da festa, Dodo e Osmar, passaram recentemente, ou estao passando atualmente, por reformas urbanisticas. A "Nova Orla da Barra", trecho situado na Avenida Oceanica, pr6ximo em Farol da Barra, foi entregue pelo atual prefeito AntOnio Carlos Magalhaes Neto em 2014 e, desde 0 segundo semestre de 2019, estao ocorrendo outras reformas na avenida citada, no trecho do bairro de Ondina, e tambem na Avenida Sete de Setembro, incluindo a Pra~a Castro Alves. Destaca-se, dentre os parametros projetuais estabelecidos, a preferencia por espa~os fluidos e continuos, sobretudo com a ado~ao de cal~amentos compartilhados, mobiliario evegeta~ao de pequeno porte (quando existente)39, aspectos que insinuam uma possivel rela~ao entre os criterios escolhidos para as reformas referenciadas e a necessidade de locais que possam abrigar uma grande quantidade de pessoas ao mesmo tempo, assim como veiculos de dimensoes diferencialmente avantajadas. Atraves da emblematica figura do trio eletrico e possivel tecer uma serie de desdobramentos significativos no que concerne il rela~ao da festa do carnaval com a cidade de Salvador. Nao se pretende, com 0 trabalho, reiterar uma mitifica~ao construida ao redor figura do trio, mas, em certa medida, profaml-ia (AGAMBEN, 2007), e do mesmo modo, entender em que medida esse objeto, por outro lado, profanou, subverteu e se apropriou de determinadas ordens hegemonicas, sobretudo no que tange ao campo do urbanismo, para posteriormente tornar-se hegemonico ele mesmo, apreendido numa outra 16gica que tambem invisibilizou uma serie de outras expressoes e concentrou a festa em determinados espa~os da 97
cidade. Aconsolidagao cada vez mais expressiva e hegem6nica do trio eletrico no carnaval soteropolitano tensionou constantemente outras manifestag5es carnavalescas, inseridas em configurag5es distintas, sobretudo no que diz respeito ao vinculo com 0 territ6rio da cidade, e tambem provocou 0 surgimento de outras praticas empreendidas pelos foli5es, na tentativa de apropriag5es e resistencias possiveis na festa.
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Especialmente a partir da decada de 1970, ocorrera 0 que alguns autores como Miguez (1996) e Riserio (1981) chamarao de "reafricanizagao" do carnaval soteropolitano40 , com 0 surgimento de uma serie de entidades carnavalescas relacionadas aterrit6rios de ocupagao majoritariamente negra da cidade41 , como 0 bairro da Liberdade, onde nasce 0 lie Aiye (1974), 0 Pelourinho, onde nasce 0 Olodum (1979), e Periperi, onde nasce 0 AraKetu (1980). Nesse mesmo momento, 0 afoxe Filhos de Gandhy, criado em 1949, ap6s quase desaparigao tambem ganhara um novo f6lego, sobretudo atraves da atuagao do artista Gilberto Gil, que volta do exilio em 1972 (MIGUEZ, 1996, p.103). A criagao do lie Aiye, que em sua conformagao inicial e durante algum tempo s6 aceitava a associagao de negros, foi polemica, sendo chamado ironicamente de "bloco do racismo". Numa noticia intitulada "Bloco racista, nota destoante", do jornal ATarde, de 12 de fevereiro de 1975, le-se que: Conduzindo cartazes onde se liam inscri~5es tais como: "Mundo Negro", "Black Power", "Negros Para Voce" etc, 0 bloco "lie Aiye", apelidado de "Bloco do Racismo" proporcionou um leio espetaculo nesse carnaval. Alem da impropria explora~ao do tema e da im ita~ao norte-americana, revelando uma enorme lalta de imagina~ao , uma vez que em nosso pais existe 99
uma infinidade de motivos a serem explorados, os integrantes do "lie Aiye" - todos de cor - chegaram ate agoza,ao dos bran cos e das demais pessoas que os observara do palanque oficial. Pela propria proibi,ao existente no Pais contra 0 racismo, e de se esperar que os integrantes do "lie" voltem de outra maneira no proximo ano eusem em outra forma anaturallibera,ao do instinto caracteristico do Carnaval. Nao temos felizmente problema racial. Esta e uma das grandes felicidades do povo brasileiro. (BLOCO .. 1975) Ao que Riserio (1981), colocara que: Que preto pobre e periferico poderia se associar ao late Clube ou a um bloco branco "classe A"? Ja0 lie Aiye nao pode recorrer a essa triagem economica. Sua alternativa e partir para a discrimina,ao racial. E como foram os negromesti,os que criaram 0 carnaval baiano, contra avontade da elite branqueada, nao creio que nenhum branco esteja no direito de censurar 0 lie Aiye Alem disso, alguns blocos exclusivos de brancos ja foram flagrados em praticas racistas epublicamente denunciados. E mais: e mentira dizer, como alguns brancos tem dito, que 0 lie Aiye e discriminador por causa da influencia perniciosa que sobre ele exerce um grupo de intelectuais negros do sui do pais Nada mais longe da verdade. A discrimina,ao foi decidida ali mesmo no Curuzu, local desconhecido pela quase totalidade dos brancos da cidade (RISERIO, 1981, p51) Com a popularizagao da serie de entidades que surgiu no periodo, na tentativa de "domesticar preventivamente 0 fen6meno afrocarnavalesco, a partir de sua regulamentagao I... J adquirindo um certo controle sobre ele, forgando os blocos afro a estabelecerem !OI
um vinculo com ela [Bahiatursa]" (RISERIO, 1981, p.121), foi criada a categoria "bloco afro" pela Bahiatursa, numa reuniao que, segundo relatos dos membros, a diretoria das entidades nao foi convidada (RISERIO, 1981). Atualmente e a term a mais utilizado para referir-se a essas associa~oes , e que desde sua concep~ao , demonstra mais uma vez tentativas de ordenamento dessa festa e de suas manifesta~oes no territ6rio da cidade, par parte do poder publico E, se par um lado, atrio eletrico empreendia rela~oes cada vez mais segregadoras na cidade, se concentrando em regioes e circuitos determinados; para alem da atua~ao e desfile durante a carnaval, essas entidades sao caracterizadas par projetos sociais que atuam diretamente nos bairros onde foram criadas (RISERIO, 1981), durante tad a a ana, 16gica muito distinta do que ocorria com as blocos de trio. Ademais, avinculo com as territ6rios ediferenciado, onde muitas delas nao abdicam de seus percursos e trajetos tradicionais na cidade, como a caso da saida do lie Aiye, do bairro da Liberdade. Essa resistencia, mais uma vez, sera tensionada pela cria~ao, pela Prefeitura de Salvador, em 2019, do circuito "Mae Hilda de Jitolu"", oficializando a percurso pelo Curuzu, regiao que passara par uma grande reforma urbana, assinada pelo atual prefeito AntOnio Carlos Magalhaes Neto, um mes antes da cria~ao do circuito. Par meio de muitos relatos presentes nos mapas psico.geo. carnavalescos, tambem ficam evidentes as tensoes sociais e discrimina~oes etnico-raciais que atravessam a carnaval soteropolitano, assim como no cotidiano da cidade. A popula~ao negra e suas manifesta~oes foram, e ainda sao, constantemente silenciadas einvisibi lizadas par determinadas 16gicas hegemonicas, e par outro lado, tem uma serie de caracteristicas culturais apropriadas pela mesma festa e pela mesma cidade. Ironicamente, "abada" e uma palavra ioruba, que se refere a um tipo de tUnica au 103
vestimenta branca, utilizada inclusive em rituais religiosos .
••• Nesse contexto de disputas e tentativas de ordenamento, sobretudo do espa~o e da experiencia da rua, inerente a festa e cidade, Jacques (2011 , p.163) chamara aten~ao para os inumeros esfor~os de pacifica~ao do espa~o publico pelo espetaculo, atraves da cria~ao de falsos consensos que buscariam encobrir a expressiva complexidade de tensoes inerentes aeles. Ao longo do periodo apresentado, pode-se vislumbrar uma serie de questoes e tensionamentos empreendidos pelo carnaval em rela~ao acidade, sobretudo a partir da cria~ao do trio eletrico, e as sucessivas tentativas de domest ica~ao e orde na~ao dos mesmos. Acria~ao do trio vai proporcionar uma nova maneira de brincar 0 carnaval em Salvador, se utilizando de determinadas espacialidades da cidade, rela~ao que sera modificada ao longo do tempo, sobretudo pela apreensao da pratica numa outra 16gica, provocando uma nova rela~ao entre festa ecidade, que inclui, de certaforma, aadapta~ao de determinados espa~os da mesma para abarcar a conjuntura complexa de estruturas da festa, especial mente em seu modelo mais recente. No en tanto, a mesma autora ira chamar aten ~ao para 0 fato de que "a experiencia urbana nunca e total mente destruida" (JACQUES, 2011 , p.164), resistindo, imaginando e criando outras formas de sobrevivencias possiveis na cidade e, nesse caso, na festa. Nesse sentido, mesmo com as sucessivas tentativas de domestica~ao e ordenamento da experiencia do carnaval, nota-se a apropria~ao e a profana~ao (AGAMBEN, 2007) de suas 16gicas pre-estabelecidas por parte dos que desviam e resistem aelas. Se em determinados momentos e contextos, como 0 dos blocos de trio, levantam-se cordas, os folioes-pipoca promovem uma maneira outra de ir 105
atras do trio eletrico, numa experiencia distinta da instituida, que posteriormente, tambem sofrera tentativas de ser capturada pelo sistema que provocou a sua (r)existencia, 0 que pode ser vislumbrado nos carnavais recentes. Algumas a~5es promovidas por determinados blocos e canto res, como por exemplo a banda BaianaSystem, de desfilarem sem cordas nas avenidas, e tambem de outras iniciativas populares como a cria~ao do Bloco De Hoje a Oito, inicialmente numa escala de bairro no Santo AntOnio Alem do Carmo43 , insinuam outras praticas empreendidas na festa, que tensionam sua logica, ate entao, hegemonica, inclusive no que diz respeito if outros territorios da cidade. No en tanto, percebe-se que if medida em que se popularizam, essas mesmas praticas, que anteriormente consistiam em desvios no cenario padrao dominante do carnaval em Salvador, sofrerao sucessivas tentativas de apreensao por essa mesma logica. Sob um discurso de "maior democratiza~ao" do carnaval, e ate de apropria~ao do espa~o da rua durante afesta, nota-se, sobretudo no discurso do poder publico, uma mudan~a significativa de praticas e postura em rela~ao if festa", com 0 incentivo aos blocos sem corda, muitos dos quais patrocinados pela propria Prefeitura ou Governo do estado, eate da dimensao dos carnavais nos bairros" . Em 2014 e criado 0 Furdun~o , evento que marca um outro momenta de carnaval ede rela~ao com a cidade, com 0 desfile de trios eletricos de menor porte do que os convencionais que operam nos circuitos oficiais, e musicos de visibilidade em escala local. lronicamente, o circuito por onde desfilara 0 Furdun~o , no sentido contrario do circuito Dodo, Ondina-Barra, sera nomeado "Orlando Tapajos", figura decisiva justamente no que diz respeito ao desenvolvimento eampl ifica~ao do trio eletrico. Nesse sentido, historicamente 0 carnaval de Salvador e suas rela~5es com determinadas espacialidades foram construidas e 107
estao relacionadas a uma malha de acontecimentos mais amp la, onde quest5es ecaracteristicas urbanisticas sao fundamentais para entender a relagao dessa festa com acidade, quando e onde essas celebrag5es estariam ocorrendo, equais se tornaram hegemonicas no contexto da festa. Ademais, a serie de disputas inerentes ao processo demonstra que 0 que foi e e considerado hegemonico no carnaval e mutavel e fluido, onde muitas manifestag5es que iniciaram como desvios ou resistencias, muitas vezes foram apreendidas pela me sma 16gica da qual desviavam. Para 0 fil6sofo e critico de arte frances Didi-Huberman (2014, p.118), "deve ser chamado imagem, no que diz respeito aalgo que se revela capaz de transpor 0 horizonte das construg5es totalitarias". Sendo assim, as imagens eas quest5es aqui apresentadas prop5em fazer emergir lampejos e quest5es menos iluminadas, mas nao por isso menos luminosas, sobre as relag5es citadas entre festa e cidade, assumindo, de ante mao, sua incompletude e inabilidade de contemplar toda acomplexidade tanto do carnaval quando da cidade de Salvador. No entanto, reconhecemos a pertinencia de discutilas, inclusive no reconhecimento de resistencias e sobrevivencias, onde: Uma coisa edesignar amaquina totalitaria, outra coisa e Ihe atribuir tao rapidamente uma vito ria definitiva e sem partilha.Assujeitou-se 0 mundo, assim,total mente como 0 sonharam - 0 projetam, 0 programam e querem no-Io impor - nossos atuais "conselheiros perfidos"? Postula-Io e, justamente, dar crEidito ao que sua maquina quer nos fazer crer Ever somente a noite escura ou a of uscante luz dos projetores. E agir como vencidos: e estarmos convencidos de que a maquina cumpre seu trabalho sem resto nem resistencia. Enao ver mais nada. E, portanto, nao ver o espaco - seja ele intersticial, intermitente, nomade,
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situado no improvavel - das aberturas, dos possiveis, dos lampejos, dos apesar de tudo (DIDI-HUBERMAN, 2014, p.42)
III
NOTAS
1. 0 autor, enquanto carioca, ira pontuar especificamente esse tipo de comemora~ao carnavalesca, no entanto abordamos acoloca~ao em sentido mais amplo, entendendo que a rela~ao com 0 carnaval de Salvador, sobretudo no que diz respeito aos circuitos oficiais, tambem seria possivel. 2.
E interessante pontuar, nesse contexto carnavalesco, a
constru ~ao
do Samb6dromo da Marques de Sapucai, projeto do arquiteto moderno Oscar Niemeyer, no Ri o de Janeiro, em 1984, onde a festa e ordenada e deslocada do espa~o publico da cidade, onde eventual mente outras participa~oes e conforma~oes seriam possiveis. 3. 0 Entrudo era celebrado em muitas regioes de Portugal, sendo uma festa de origem e caracteristicas europeias que viria a encontrar grande receptividade no Brasil colonial. Sua orga niza~ao era apoiada nas rela~oes de vizinhan~a e nos la~os familiares. Eram realizados desfiles, banquetes, bailes e brincadeiras entre os habitantes. (MIGUEZ, 1996). 4. Dentre elas destacam-se a constru~ao da Avenida Sete de Setembro (1912-1916) e 0 alargamento das ruas Ch ile (19121916) e Carlos Gomes (1939-1941), i nterven~oes marcantes 11 epoca, inseridas no contexto do "urbanismo demolidor" eda melhor adequa~ao da cidade ao fluxo de autom6veis (PINHEIRO, 2011 , p.217). Essas ruas eram dotadas de infraestrutura diferenciada, como melhor ilumina~ao e passeios, por elas passavam linhas de bondes eletricos e eram os destinos preferidos das classes mais abastadas em suas comemora~oes carnavalescas. 5. Esse processo de i ndu strializa~ao , aliado ao momenta de politicas desenvolvimentistas do pais, tem notoriedade no periodo entre 1950-1970, destacando a cria~ao da SUDENE (Superintendencia 113
do Desenvolvimento do Nordeste), em 1959, e a implantagao do CIA (Centro Industrial de Aratu), na Regiao Metropolitana de Salvador, em 1967 (SAM PAlO, 1999). 6. A Rua Chile era considerada 0 "ponto chique" da cidade, como uma vitrine social ecultural, onde estavam localizadas lojas de luxo de decoragao, de artefatos femininos e masculinos, restaurantes, hoteis, dentre outros tipos de servigo consumidos pela elite baiana da epoca (UZEDA, 2006, p. 127). 7. Osmar Macedo era tecnico e dono de uma oficina mecanica e
Adolfo Nascimento (Dodo), era especialista em eletronica. Adupla era musica nas horas vagas, conhecida como a"Dupla Eletrica", pela inventividade nos sons que incluia instrumentos artesanalmente fabricados, como 0 "pau eletrico", precursor da guitarra baiana, 0 que demonstra que alem da inventividade musical, a dupla tinha poderio edominio de uma dimensao tecnica para as transformagoes que implantou. Com a inclusao, no ana posterior, de mais um musico para os desfiles carnavalescos, a dupla adotou 0 titulo de "Trio Eletrico", expressao que se consagraria como sinonimo do veiculo (GOES, 1982). 8. E importante destacar uma recente descoberta nas minhas pesquisas que questiona 0 ineditismo da dupla Dodo e Osmar na criagao do trio eletrico. Segundo Torres (2014) existiria em Salvador, no bairro de Periperi, um conjunto composto por 5 irmaos que desfilava pelas ruas abordo de um autom6vel tocando instrumentos musicais. A autora afirma que 0 trio teria sido criado por eles em Peri peri antes da "Dupla Eletrica", no en tanto nao e precisa nas informagoes e nas datas, colocando a criagao dos 5 irmaos no ana de 1951 , ana do primeiro desfile de Dodo e Osmar, e postergando a data da dupla. Pretendo dar continuidade a essa investigagao num momenta posterior desta pesquisa, em nivel de mestrado, 0 que nao foi possivel durante 0 processo do TFG.
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9. Frisamos que "concentragao" refere-se ao maior adensamento da festa em determinados locais, 0 que nao elimina outras manifestagoes possiveis em outros territorios da cidade. 10. Orlando Campos era morador e presidente do Clube Flamenguinho de Periperi, e sua relagao com 0 carnaval se inicia na escala do bairro. Em entrevista aGoes (1982, p.60), ele narra a existencia do trio eletrico dos "5 irmaos" em Periperi, desde a decada de 1950, e por uma desavenga com um dos membros do grupo decide criar seu proprio trio eletrico, no final da mesma decada, que desfila inicialmente pelo bairro para depois migrar para 0 centro da cidade. 11. Em entrevista aGoes (1982, p.63), Campos narra que: "0 trio eletrico, essa loucura inventada por Dodo e Osmar, estabelece uma relagao direta com 0 pilblico, e um contato sem intermediario, consequentemente um meio de publicidade sem igual pois quem nao ouve, ve, e quem nao ve, ouve, de forma que, queira ou nao queira, atinge atodas as pessoas por on de passa. [".J Quando criei a nova carroceria tinha a ideia de transformar 0 trio num veiculo promocional. Criei espagos para letreiros, para textos comerciais. Introduzi 0 microfone para fazer anilncios, dar notas das prefeituras efazer comunicados de achados e perdidos" 12. A autora e ciente do anacronismo de utilizar uma base cartografica atual para discutir a cidade de Salvador em 1970, no entanto, interessa ao trabalho a comparagao das regioes mobilizadas pela festa na cidade em momentos distintos. 13. Pela grande quantidade de informagoes edetalhes referentes ao centro da cidade, optamos por apresentar essa regiao em destaque separadamente, no mapa 1. 14. Adepender da regiao de domicilio, 0 morador ecadastrado em uma das 12 zonas de acesso, podendo transitar apenas pela zona 117
em questao. 15. Algumas ruas referenciadas no informe do jornal nao existem mais com as mesmos names e para localiza-Ias, alem da pesquisa realizada em referenciais historicos da cidade, contei com a ajuda da memoria do meu avo de 93 anos, que residiu e trabalhou na regiao nesse periodo esoube identifica-Ias no mapa. 16. Certamente um mapa que mostrasse a articula~ao e atua~ao do poder publico na cidade em carnavais recentes compreenderia outras regioes, mas essas informa~oes sao confidenciais e nao sao divulgadas pelos orgaos responsaveis. 17. Ressalta-se, em rela~ao aos folioes entrevistados, a mudan~a de domicilio de Sudario, (pai de Paulo e Maria Luiza), de uma casa na Cidade Baixa para um apartamento no bairro da Gra~a ; assim como a folia Maria Lucia que, no final da decada de 1970, ira se mudar de um sobrado nos Barris para um apartamento na Barra. 18. A Hoteis da Bahia S. A. sofreria uma reorganiza~ao estrutural em 1973, se tornando a Empresa de Turismo da Bahia SA Bahiatursa. Em 2014, se tornou Superintendencia de Fomento ao Turismo do Estado da Bahia. 19. A Caetanave foi criada par Orlando Campos em homenagem a volta do exilio de Caetano Veloso (GOES, 1982, p.77). Ressalta-se tambem a profunda rela~ao entre a carnaval baiano e a movimento Tropicalista no pais, onde Miguez (1996, p.114) coloca que esse seria "um movimento cuja estetica se relaciona intensamente com atrama carnavalesca baiana". 20. Caetano Veloso - Atras do Trio Eletrico (1969) 21. Caetano Veloso - Frevo Novo (1977) 22. Os blocos ja existiam no contexto do carnaval de Salvador 119
antes dos trios eletricos. Os cordoes, existentes desde a primeira metade do seculo XX, eram compostos por grupos de folioes, majoritariamente negros e moradores das regioes mais populares, que desfilavam fantasiados e ao som de batucadas, utilizando um cordao para delimitar 0 espago dos participantes. Num periodo posterior, foram criados outros blocos, dos quais alguns eram pertencentes aos grandes clubes da cidade, que desfilavam nas avenidas com bandas e instrumentos de sopro (MIGUEZ, 1996). 23. Goes (1982, p.62) relata que 0 proprio Orlando Campos negociou, junto ao Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, as dimensoes e especificagoes necessarias exigidas aos trios para que pudessem transitar pelas rodovias do pais. 24. Alguns dos blocos criados no periodo, citados em certos relatos dos "mapas psico.geo.carnavalescos", e localizagao de suas respectivas sedes, segundo anexo elaborado por Miguez (1996, p.118): Camaleao (1978) - Graga; Eva (1980) - Barra; Pinel (1981) - Barra 25. Observa-se no relatoda folia Maria Luiza suas colocagoes sobre arelagao dos blocos com os colegios particulares frequentados pela classe media e alta no periodo, assim como a propria localizagao de seu domicflio. 26. Pude me debrugar sobre as imagens dos fotografos referenciados no ambito do Instituto Moreira Salles, em Sao Paulo, e da Fundagao Pierre Verger, em Salvador, respectivamente, sendo um importante momenta de pesquisa para 0 trabalho. 27. Dentre uma serie de instituigoes e associagoes que surgem, relacionadas ao carnaval, destacam-se: Associagao dos Blocos de Trio (1988); Conselho Municipal do Carnaval (1990); Casa do Carnaval (1993), orgao tecnico administrado pela EMTURSA; e posteriormente Associagao Baiana dos Camarotes (2006) (SILVA, 121
2019). 28. Segundo Miguez (1996), as cifras arrecadadas pelos blocos de trio seriam um misterio no carnaval soteropolitano, ja que as associagoes nao divulgavam seu arrecadamento. A grande movimentagao financeira chegou chamar a atengao da Receita Federal brasileira, onde "a Receita Federal esta investigando as contas de nove entidades carnavalescas, sem fins lucrativos, mas de grande rentabilidade. "Recebemos denuncias contra dirigentes que estao aumentando 0 patrimonio pessoal, descaracterizando o carater filantr6pico das entidades" , explica 0 Delegado da Receita Federal (. .. ) Dutra forma (de sonegagao) e 0 patrocinio nao declarado ou parcial mente declarado, que navega invisivel aos olhos da Receita, mas que explode em publicidade aos olhos do publico." (Bahia Hoje, 25-4-1994, apud MIGUEZ, 1996, p.124) 29. Nao s6 dito pois realmente existe uma serie de documentos da Prefeitura de Salvador que carrega 0 termo, como 0 "Planejamento Estrategico 2017-2020. Salvador: uma nova cidade para um novo tempo", onde sao descritos os parametros e metas propostos para o desenvolvimento da cidade durante a gestao referenciada. 30. Em 2015-2016 pude residir por um ana em San Sebastian (Pais Basco, Espanha), atraves do programa Ciencias Sem Fronteiras, justamente no periodo em que a mesma foi escolhida como "Capital da Cultura Europeia" (2016). Era notavel a grande quantidade de obras na cidade, destacando a criagao de muse us, centros culturais e grandes reformas em equipamentos publicos ja existentes, assim como 0 alto numero de turistas. Ressalta-se tambem a proximidade, inclusive politica, de San Sebastian com Bilbao, cidade basca que vivenciou processo semelhante ap6s a construgao do Museu Guggenheim, projetado pelo arquiteto Frank Gehry, em 1997. 31. No contexto brasileiro aponta-se ainda os acontecimentos da 123
Copa do Mundo, em 2014, e das Olimpiadas do Rio de Janeiro, em 2016. 32. Em referencia ao titulo do texto referenciado, "Uma estrategia fatal: Acultura nas novas gest5es urbanas" 33. Organizagao das Nag5es Unidas para a Educagao, a Ciencia e a Cultura, criada em 1946. Choay (201 1) colocara que a politica patrimonial impulsionada pela organizagao referenciada, sobretudo ap6s a "Convengao para aprotegao do patrimonio mundial, cultural e natural", em 1972, ira "marcar simbolicamente 0 acontecimento, a escala do globo terrestre dessa vez, de uma nova revolugao cultural" (CHOAY, 2011, p.28) 34. Destaca-se 0 primeiro "mega-camarote" organizado por Daniela Mercury, na Barra, em 1996, e a criagao do "Expresso 2222", do artista Gilberto Gil, em 1999, e 0 "Camarote Salvador" em 2000. Essas estruturas foram fundamentais para aconsolidagao e desenvolvimento do circuito Dodo, atraindo sobretudo personalidades da midia. Segundo Silva (2019, p.75), em 2000 0 camarote da cantora citada chegou a receber 0 rei e da rainha da Suecia, Gustavo e Silvia. 35. 0 valor cobrado para frequentar um dia de camarote ealto, em alguns cas os ultrapassam ate um ou dois salarios minimos. Para usufruir por uma noite da estrutura do Camarote Salvador em 2020 (os ingressos costumam ser disponibilizados avenda muito antes do inicio do carnaval), por exemplo, 0 foliao precisara desembolsar um valor medio de R$2.250,00, e 0 "passaporte" para os seis dias de festa, na tarifa masculina, ja que existe diferenciagao de genero nas tarifas de compra, 0 valor chega a R$ 10.190,00. Fonte: https:// www.camarotesalvador.com.br/ingressos/. Vale destacar que 0 empreendimento e de propriedade de familiares do atual prefeito da cidade.
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36. Ao longo das minhas idas acampo pude conversar com alguns vendedores inlormais, notadamente vendedores de coco e de praia. Muitos se aproximavam para lazer denuncias, acreditando que trataria-se de uma jornal ista pela presenga da camera, e me relatavam uma serie de problematicas que solriam todos os an os pela instalagao do carnaval, sobretudo dos camarotes na regiao de Ondina, que invadiam os espagos publicos das pragas epraias, Ihes tomando 0 local de trabalho etambem alugentando os costumeiros cl ientes. 37. Essas areas compreendem tanto espagos publicos da cidade, como pragas e largos, quanto areas livres em loteamento privados, entendendo que a lesta se apropria de ambos para a instalagao de suas estruturas, sobretudo os camarotes, onde esta abrigada grande parte da midia. 38. A relagao entre 0 carnaval de Salvador com a industria de bebidas, sobretudo alcoolicas, loi historicamente construida desde 0 inicio dos trios eletricos. Apos 0 primeiro deslile de Dodo e Osmar, no ana seguinte, em 1952, 0 mesmo ja contou com 0 patrocinio da empresa de relrigerantes "Fratelli Vita". Nos an os seguintes, muitas outras marcas patrocinaram ou criaram seus proprios trios eletricos, 0 que pode ser vislumbrado nas imagens do livreto "Muitos Carnavais", onde alguns trios chegavam a ter 0 proprio lormato da bebida em questao, como 0 "Saborosa". 39. Ressalta-se ainda a grande dilerenga entre as imagens do projeto divulgado para a "Nova Orla da Barra", com medidas de paisagismo e mobiliario muito distintas do que loi construido de lato. Esobre a obra em Ondina, nota-se que os equipamentos de maior porte como quadras e banheiros publicos, loram alocados numa regiao posterior ao lim do circuito Dodo. 40. Os autores iraQ associar essas criagoes a uma malha de acontecimentos mais ampla, sobretudo no que diz respeito 127
ao movimento negro. Sobre a cria~ao do lie Aiye, um de seus fundadores, AntOnio Carlos dos Santos, 0 "Vovo" , relata que "tava na epoca daquele negocio de poder negro, black power ... Entao a gente pensou em fazer um bloco so de negros, com motivos africanos. Foi tambem quando as coisas come~aram a acontecer na Africa. Quando a gente come~ou a receber, aqui, as notfcias das coisas que estavam acontecendo na Africa" (AntOnio Carlos dos Santos apud RISERIO, 1981, p.38) 41. Aautora enfatiza a grande relevancia desse aspecto do carnaval soteropolitano e nao dispensa cita-Io, ainda que admita que 0 trabalho apresentado nao da conta nem pretende aprofundar-se na complexidade e importancia da questao apresentada, por construir etecer rela~Des sobre 0 carnaval por outra perspectiva. 42. Em homenagem a ialorixa Hilda Dias dos Santos, mae de AntOnio Carlos dos Santos "Vovo", presidente fundador do Bloco lie Aiye. 43. A grande populariza~ao e comparecimento de muitos foliDes no bloco tem gerado questOes no que diz respeito a sua rela~ao com 0 bairro que 0 abriga, e 0 mesmo quase nao saiu as ruas no ana de 2019. Alem disso, atraiu uma serie de outros interesses para a regiao, numa logica distinta do que prega 0 bloco, onde em 2019 uma associa~ao vinculada ao bloco de trio "Harem", tentou promover no mesmo bairro uma festa a fantasia privada com posterior desfile ao estilo "carnaval de rua" , intitulada "Santo AntOnio Harem do Carmo". Sofrendo varias criticas, sobretudo por parte dos foliDes do Bloco De HojeaOito, apenas afesta privada foi mantida e 0 desfile pelas ruas, cancelado. 44.0 tema do carnaval de Salvador em 2016 foi "Vem pra Rua", que marcou uma ruptura significativa em rela~ao aos temas anteriores, que costumavam promover homenagens como "Homenagem a Axe Music" (2015), "Homenagem aos blocos Afro" (2014), 129
"Homenagem aguitarra baiana" (2013). 45. Podem-se citar carnavais promovidos nos bairros de: Cajazeiras, Peri peri, Itapua, Liberdade, Boca do Rio, Piata, Pelourinho, Pau da Lima, Plataforma. A localizagao desses bairros, distantes dos circuitos considerados oficiais da festa, insinua uma posslvel relagao entre essa implantagao com 0 movimento de "abaixar as cordas" .
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Ali era hem cheio. Rua Chile, Praca da Se. Miseric6rdia, Praca Castro Alves ... Ja comec ava na Praca Castro Alves
Rua Chile e a
Frevo de Trio ElIltrlco Trio Eletrlco Armandinho, Dodo & Osmar Abra alas minha gente Que 0 frevo vai passar Eu descia p Ia Rua Chile, Eo famoso trio de dodo e osmar ficava lei olhan do os Quando arua sai , alegriae geral desliles. Os b loeos d e carnaval desfilavam de Equem mais anima nosso carnaval Pula gente bem noite, Fantoches, Inocentes Pula pau dearara do Progresso, Cruz Ve rmelha ... desfilavam . E Pula ale crian~a pela manha tinha tambem, Evelho babaquara ofrevo da bahia os carros q ue desfilavam Alegria nos da Com 0 trio eletrico de dodo e osmar
Imagem ve/culada no caderno de Turismo do Jornal A Tarde 27 de fevereiro de 1957 De de manha, umas 9 heras ate umas 2 horas, par ai, tinha. Depois esperava esfriar urn pouco e boca de 6 haras comeQdva de novo
BESIDfNCIA 2 BUA
,
-
• --
CHILE __ - - CARLOS GOMES
..
Encontrava 0 pessoal todo la na Rua Chile, ficava la conversando, tomando cerveja, pinqa ... Ficava mais la, porque morava perto tambem
Manchete de nolicia do Jornal A Tarde, Salvador, 6 de fevereiro de 1956 o 0 o
u
Maior, Mas e Tambem a Tinha como sair de casa sim na Carlos Gomes, nesse tempo nao era esse movimento todo de carro nao,
nao tinha isso de hear fechando a rua toda que nem hoje. Acho que s6 em determinados horarios Eu vi ol e trio eIetrico . Era urn carro conversivel que saia pela rUd e 0 povo atras, pra Ja. e pra ca.. 0 pessoal achava engraQado, fez sucesso desde olano. 0 gosta disso ne. Eu, mineiro, era mais indiferente
deslocamento £eito a
pe
carro
Sudario M. - 1926 (93 aDos)
durante a decada de 1960 A gente vinha muito de manha, pra Avenida Sete, as vezes de tarde tambem vinha pra hear olhando. Normalmente ali no Rel6gio
de Sao Pedro. A genie Irazia sua mae e sua tia BESIDtNCIA 3
Fotografias dos albuns de retratos pessoais da familia Salvador, 1968
....
'
.
.
MAIS) Saia de carro, estacionava normal mente ali no Largo 2
de Julho, ou por perlo. E de 18 ia andando
Primeiro mais na Rua Chile, depois foi descambando e selecionando mais pra Avenida Sete. Essa epoea a Rua Chile ja foi ficando mais misturada, 0 pessoal ja mais selecionado vinha ca pra Avenida Sete
A gente ia de carro mesmo, nao tinha essas coisas nao, Deixava 0 carro ali nas imedia<;6es, Nao tinha lei seea, 0 povo bebia e dirigia, passava ate por cima dos outros!
•
RUACBILE
RELOGIODE .~AOPEDRO
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PROGRAMA(.\O CARNiVAL 0.1970 DI4I _ It - 2 _ 70 - OomillflO - 23 hotu, Grande &.U, C. ..... v. 1nco trail< RlQ6t ou fon,..i•. DI4I- 9 _:2 - 70 _ ~f.I •• - 10 hor.. eM ",...,. &.,.th. ~ Coni",
"
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Clube Portugues da Bahia
....- -AVENIDA SETE
011 _ 10 _ 2 - 70 _ t 'f{O-fel,. - 16 hot.. _ 6011e Inf.nlll 23 hoi .. - &.I11e Adfin C. ..... v.1 Pi T "
ell .... tt'
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Seaet.rIt. I. __
. . ......1I1on "'rio Pr,f,,6nt;I,o Dlr. Of, bet.... c.nav.J 0 dl. 26 - 1 - )'0,
LARGO 2 DE JULBO
CLUBE PORTUGUES
:.,: "/fortANTE, £: ~~I com So"
Itlqor. '...,'" ,xlQ>0
rlldbo nO 1 • \
Fui muitas vezes tambem numa festa famosa que tinha ali no Clube Portugues, na Pituba, Todo sabado tinha baile, acho que era "Baile de Iemanjl!"
CASA D'IT,i ru.
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do-
Manchele de capa doJornal ATarde Salvador, 5 demar,o de 1962
\NIMADO 0 CARNAVAL NOS CLUBES Eu comecei air pra clube s6 depois que eu casei, antes nao ia n ao. Sua v6 que gostava, a gente ia de noite ali pra Casa D'Italia, eu virei s6cio, pagava a mensalidade
deslocamento fei to a pe carro
Maria Lucia M.· 1948 (71 aaos)
durante a decada de 1950 Minha mae era amiga dos padres da Igreja de Sao Pedro, e eles botavam
,
bancos ali na Avenida Sete, na esquina da iqreja com a Piedade. ftJ a gente tinha .4""",W"
/ /
/
urn banco reservado pra
/
sen tar e assistir 0 carnaval
/
I~REJADE . / _____________S _A _O_ P__ EDRO , A gente ia d e tardinha, umas 3 pra 4 horas, levava lanche e ia andando. Nao tinha issa de ir de carro nao, ia a pe mesmo, descia a ]unqueira Ayres e subia, e ja saia ali na Piedade.
/
,,
,
' .. -
PRA(:ADA PIEDADE
' ...
S6 alguns clubes rna is longe ia de carro
• RESIDi:NCIA / /
FANTOCBES
-- -
-----
A gente ia pros clubes tambem, tinham os bailes infantis e os de adulto. A
ia pro Fantoches, pro Bahiano e pra Associacao. Todes eram a tarde e a fantasia
Cada uma tinha urn saquinho com confete,
serpentina e lanea perfume. Meu pai clava 1 lanea perfume pra cada dia, e eu me lembro que os caretas pediam pra cheirar
0
lanc;:a perfume
Eu me lembro sim dos corsos, que meu pai tinha 0 carro com a parte de cima aberta, com teto solar, ai a gente saia pra passear fantasiada. Mas me lembro pouco disso
Hist6rico Municipal de Salvador /
Os prestitos salam das sed es dos clubes e iam pro Campo Grande, a concentracao e ra la, ali peto Quartel dos Aflitos tambe m ... E d epois iam pela Avenida e m direcoo a Rua Chile
/ / /
•
/
A s mulheres participavam,
fi cavam em eima dos carros aleg6ricos, eram as madames
__ - •
• ... ,
RELOGIODE sAo PEDRO
CAMPO . GRANDE
•
QUABTEL DOSAFLITOS
Sempre tiveram ambulantes, eu lembro que eles ficavam ali no Rel6gio de Sao Pedro, porque tudo aconteda na Avenida, no asfalto, e 0 Rel6gio tinha aquela parte de tras ne, entao ficava muito ambulante p or ali. Eu me le mbro que eu comprava multo picoh~ ali.
-:. JUNQUEIRA / AYRES
Eu MO lembro de ver trio
CLUBE BAKIRNO DE n:NIS ASSOCIA~O
ATLETICA
•
YATCB CLUBE
Tinham os blocos dos riquinhos, ali da Barra, bloco do Ja cu, e tinha bloco do Baroo tambe m, ac ho que 0 Jacu e ra do Yatch e Baroo d o Bahiano.
eletrico nessa epoca nao. Lembro d os blocos, e lembro, olhe 56 , que nao tinham
bloeos d e neg ros na Avenida Sete. 0 bloeo e ra urn cordao com ba nda acompanhando e todo mundo fantasiado den tro. Eram s6 masculinos
Cada urn tinha seu hora rio pre deterrninado
pela Prefeitura" mas demorava urn tempo d e um pro outro, nao e ra essa freque ncia toda nao
d esloca mento feito ape ca rro
Maria Lucia M.· 1948 (71 auos)
durante a decada de 1960
Marcel Gaulheroll Salvador, Acervo Inslilulo Moreira I
PBA(:A
A Ditadura rno lembro de tel alterado muita coisa no carnaval nao. Mas me tocou muito porque eu era da Filosofia, entao tive muitos coiegas que foram presos, torturados ...
BESIDENCIA
A gente nao ia muito o carnaval era separado ne ... 0 carnaval d os brancos, o carnaval dos negr08 ... A gente nao via nada disso, as vezes ouvia falar
BAlXADOS SAPATEIBOS
pra
,, ,, ,, , ,, ,, ,, , •
RUd
Chile nessa ePOed, urn carnaval a parte. Por ali, Praca da Se acho que e ra 0 p essoai d a Baixa dos Sapateiros, do Pelourinho ... que a gente nao se mi.s'
BUACRILE .
•
PELOUBINRO
•
Passava muito eventualmente urn trio na Avenida. Ai 0 pOVO gritava: "la vern 0 trio eletrico! " Ai vi nha aquela muvuca atras, eu me lembro que Quando eu fui uma vez na muvuca eu tomei tanta porracia. Eu nao sei como e que a gente aguentava nao
AVENIDA SETE
--., ----._..
........
~ ..
, ,
Tinha tipo urn camarote dentro dos dubes tambem, no andar superior. Mas acho que nao pagava nao, devia ser assim, 0 pessoal mais chegado a Diretoria. Era 0 pessoal que que ria Hear 56 assistindo, nao queria se
CLUBE FANTOCRES .. DAEUTERPE
segunda-fei ra de noHe. E linha 0 Baile Preto e Branco que era chique, chiqueressimo
•
Fotografias do acervo pessoal das folias, fantasiadas para ir aos bailes dos clubes que nac
CLUBE DE Tf:NIS ;;;;;....-
Gifberto Gif - Tradi~ao (1979) (trecho) I ] Conheci essa garota que era do Barbalho Essa garota do barulho No tempo que Lessa era goleiro do Bahia Um goleiro, uma garantia No tempo que aturma ia procurar porrada Na base da va valentia No tempo que preto nao entrava no Bahiano Nem pela porta da cozinha
salvou
pagar pra
entrar nao, eram 56 os s6cios. Eu me lembro que tinha uma hist6ria com Gil, Gilberto Gil, porque negros nao podiam entrar no Bahiano, no clube. Ai ele disse: -branco eu tenho na sola dos pes· , Ousado ne? Eu acho que ele foi barrado no Bahiano, imagine. Eles eram extremamente
preconceituQsos. As elites aqui da Bahia eram muito preconceituosas contra negros, numa cidade ontem tern tantos
negros. Era visivel isso. Com mulher e negro, nao tinham voz
de 1965
Manchete de noticia do Jornal Diario de Noticias Salvador, 4 de marco de 1965
deslocamento fei to a pe carro
Maria Lucia M.· 1948 (71 auos)
durante a decada de 1970
Fazia 0 circuito e voltava ali pelo Edificio Suiacap, a coisa nao 5e estendia multo mais pra RUd Chile. grande movimento era Avenida Sete, Campo Grande e quando voltava pela Carlos Gomes eu acho que ja era a dispersao, rno era nacla organizado
•
o
FUNDACio • POLlTECN1CA A gente comecou a ir pra Praca Castro Alves pra 0 Clube de
•I
Engenharia, que era
I I I
onde Hcava a turma
I
Folografias do albuns de relralos pessoais da folia
PBACA • CASTRO ALVES
Eu ficava d oida pelo trio quando via Armandinho. Armandinho sempre foi sucesso. Eu me lembro d e Dodo e Osmar no trio, quando eles passavam todo mundo ficava doldo. Era uma coisa que chamava atenc;:ao, porque eletrizava mesmo 0 pavo
Uma coisa que eu amaya, dia de ten;a-feira, umas 3 pra 4 hams da manha, tinha 0 encontro de trios. Armandinho tocava de um lado, Baby Consuelo e Pepeu do outro. Era lindo o encontro dos trios na Prac;:a Castro Alves. 1sso ja e m 70, par ai
Depois d e 70 eu passei a me desinteressar pela
BUA CRILE
Avenida Sete p orque era trio, corn aquela muvUCd ,
aquela pancadaria, eu MO gostava de bloco, achava uma coisa muito aprisionada, rnuito coruinada . Tinha hara pra saif, hara pra chegar, s6 podia hea r ali dentro, e ra uma coisa muito fechada. Eu nunca top ei i550
_ ""BLOS
89
,~OMES
,
~~~~~~~
,
, ....,. ............
-
GARCIA
. . EDF. SULACAP
- _.'-'
~
e 19 o bloco que eu lembro de ter alguma caisa social assim e ra a Mudanca do Garc ia, eles semple protestaram. Sala do Garcia e ia
la pro Campo Grande.
CAMPO
I
-
GBINDE
por outras coisas, fui ver a sa ida
I
,,
do lle... Sata da Liberdade e
I BAlXADOS
,,
,,
-. SAPATEIBOS
,,
,
PJ. eu comecei a me interessar
vinha pela Baixa dos Sapateiros? Ne m sei, nao lemb ro por onde vinha nao, ma s concentrava pelo
,,
Campo Grande. Isso ja bern mais
tarde. I hora da manhiL E s6
~~~~~U~B~EBDADE
desfilava ali no Ca mpo G rande po rque essa hora ja nao tinha mais ninguem na Avenida Sete
RESIDi:NCIA Caetano Veloso . Frevo Novo (1977)
Campo Grande comecou
A pra,a Castro Atves edo povo a fazer umas como 0 ceu edo aviao arquibancadas e e ram um frevo novo, eu pe,o um frevo novo gratuitas. Eu me le mb ro todo mundo na pral;<l que ia pra la e neava emuita gente sem gral;<l no safao esperando ate umas meia Mete0 cotovefo e vai abrindo 0 caminho noite pra poder ver os Pegue no meu cabefo pra nao se perder e bloeos afro, que di ziam terminar sozinho que era muito bonito. Ess tempo passa mas, na ra, aeu chego fa epoca eu ja tava mais Eaqui nessapra,a que tudo vai ter depintar inte ressada pelo cultural
o
d eslocame nto feito a pe ca rro
Elisabeth C•• 1948 (71 anos)
durante a decada de 1950
Quando chegava domingo,
0
carnaval comeQava domingo, issa na nossa infancia, a gente
acordava cedo, nem sei porque tanta cedura, mas nae
Como a gente naD morava na rua
podia nem abrir a janeia, a gente s6 ouvia as meninos passando e voltando, porque
da frente, a principal que era toda asfaltada, que passava onibus,
que passava carro, a gente morava na rua de tras, e quando cheqava 0 carnaval n6s tinhamos permissao d e chegar ate a ponta
naquele tempo tinha caleta
da rua pra ver 0 carnaval passar
RESIDf:NCIA
,.
Naquela epoca chamava-se grito de carnaval n os bairros.
A gente morava na ladeira que emenda a Liberdade com 0 Largo do Tanque. Tinha grito no Largo do
.------,.
,. ,. UDEIRA DE
. . ,.
sAo CBISTOvio
LABGODO TANQUE
Tanque e tinha grito na
Liberdade
Filhos de Gandhy eu conheci ali, passando na Ladeira de Sao Crlst6vao, nao sel de ond e e que eie vlnha, mas subia a Ladeira, era linda aquilo. A gente subia correndo pra ver
Tlnha no Uruguai r mas eu nunca fui, tinha no Largo do Tanque, a gente la, mas esse era de nol te, entao tinha que ter aiguem de confianca de mainha
•
URUGUAI
Minha mae tinha urn grupo de amigas, jovens e dentro delas tinham algumas que eram eostureiras, ai elas faziam as nossas fantasias. Cada ana era uma fantasia, ai mainha levava s6 ali mesmo, na frente da rua, pra ver 0 carro passar
DUQUE DE CAXIAS
-------- ..
Depois a gente eresceu ai mainha dava as ordens e a gente cumpria rigorosamente: vai ate 0 Colegio Duque de Caxias, que ali era 0 centro, nao podia vim urn rei dizer pra gente ir mais pra la que a gente nao ia. Eu nao sei porque, mas minha mae sempre sabia se a gente fizesse errado. E ja pensou? No primeiro dia do carnaval ter isso, a gente esperando 0 ana inteiro pelo carnaval
Tinham muitos blocos nos bairros, blocos bons mesmo, trio eletrico ... Nao e ram esses trios eletrieos eletr6nieos nao. Eu vi saindo aqueles trios eletrieos de boca de alto faiante para trio eietrieo esses modernos que hoje tem, mais sofistieado ainda, mas a gente ainda brineou earnaval com eaminhao velho, nao tinha bloeo de rua, era 0 eaminha.o solto na rua e as pessoas iam atras Tinham muitos bloeos Liberdade, tinha muito earnaval em todos os bairros, tinham suas batueadas, que passavam 0 ana ensaiando, ensaiando, e no carnaval saia
•
A FOLIA desloeamento feito a pe
Elisabeth C.• 1948 (71 anos)
durante a decada de 1960
Mainha marcava a hora de veltar e a gente voltava na hora certa.
Como 0 transporte era todo errado, tudo fora do lugar, ela dizia assim: eu quero 3 horas todo mundo em casa. Entao a gente saia do ca rnaval I h~ra, com uma clor no corac:;::lio mas saia, porque
ate chegar, chegar 0 transporte, nao sei 0 que, mas 3 horas a
A gente ia de 6nibus, de lotac:;::ao. 0 transporte da gente, da Liberdade, normalmente parava no Viaduto, mas no carnaval ele mudava e vinha p ro VIADUTO Pelourinho. Entao a DASi: gente pegava a lotac:;::ao na Liberdade, ai a gente
•
ja saia sozinha ne, e ia
gente tava em casa
BESIDENCIA
•• • • ••
It
CENTRO I •••• • • LlBERDADE I •••.•• Manchete decapadoJornal daBahia ..... ::.::::::: 4de ~d;e.:;19:::65~_ _ _ _ _ _ __ _....._~~~-
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Trios
~~.:..=..::..:..:..::....:...::.;... ~== = - . ; =:........= Q.;..: l! a::..:.;tr..:... o ..:;.:.:;;; Eu me lembro que uma vez a gente levou urn pessoal, umas meninas de Aracaju, elas nunca tinham visto urn trio eletrico. Elas contaram a gente depois, que tava tudo bem a gente la andando e tal, 0 trio se arrumando pra passar e d e repente 0 neg6cio ligou e a gente comecou a dancar e elas morreram de vergonha de danca r. Elas contaram, a gente nao reparou, que era como se tivesse botado uma tomada assim no neg6cio e •tchi" , quando botou a tomada, todo mundo dancou e foi atras
Carnaral bahiano atraiu turist.S
Caetano Veloso • Atras do Trio Eletrlco (1969) Atras do triOeliltrico S6 nao vai quem ja morreu Quem ja botou pra rachar aprendeu Que edo outro lado, do lado de la Do lado queelado lado de la oso l eseu, 0 somemeu Quero morrer, quero morrer ja osomeseu, 0 sol emeu Quero viver, quero viver la Nem quero saber Se 0 diabo nasceu foi na BahiFoi na Bahia otrio eletro·sol rompeu no meio-diNo meio-dia
Esse dia eu bebi, nao tinha condic6es de ficar em pe. Me botaram ali no Cine Guarani, onde hoje e aquele do !tau. Eu fiquei ali sentada porque 0 centro do carnaval era a Praca Castro Alves, a gente vinha da Rua Chile, descia a Praca Castro Alves e subia
AVENIDA SETE
.,,
,,
CARLOS GOMES
,,
•
'. I
I
PBACA
CASTRO ALVES/ -
.
,
. . . . PELOURINBO
Quando a gente ja tava no ginasio, la pra uns 13 14 ane ai carnaval de bairro ja nao satisfazia mais a gente. Foi quando a gente comecou a ir pra cidade, la pra Rua Chile, pra Pra,a da Se
CINE GUARANI
/ /
carnaval e ra da da Se, Rua , nao tinha Gomes, ia Avenida Sete,
Jornal Djario de Nolicias Salvador, 8/2/69
o carnaval comecava cedo viu. 9 horas da manha
deslocamento feito ape onibus
•••••••••
Elisabeth C•• 1948 (71 anos)
durante a decada de 1970
o primeiro ano que a gente saiu em ele vinha de lit do Campo Grande, sei lit de onde vinha, pra ca. Quando ch egou altura cia Piedade, 0 caminhao quebrou 0 som, porque era tuda muito primario, nao
era essa tecnoiogia, os caminhoes nao tinham patencia praquilo. Quem n ao
d am;ad o d e lei ate ali rna d an c;::ou mais
TERMINAL DA ~ BARROQUINRA •• RESIDENCIA
.... -- •.
••
••
• • •
CENTRO
Nota no Jornal ATarde, sobre acria,ao do lie Aiye Salvador, 12 deievereiro de 1975 Arqyivo ", ',".": Jornal Oi Salvador, 3/3/76 IIi! Aiyi! • Depois que 0 IIi! passar (198·) Quero ver voce lie Aiye Eu lembro quando surgiu 0 He, iii no Curuzu, iii Passar por aqu i era arrodeado de candombles. N6s ouviamos Nao me pegue urn zumzumzum sabre alga que ia surgir na Nao me toque Liberdade, tal qual aqueles movimentos "Black" Por favor nao me provoque na America. Eu morria de medo, do que seria Eu s6 quero ver 0 lie passar aqui e como seriam as consequencias Rebentou lie Aiye Curuzu Passo de Angola Ijexa Os clubes foram perdendo a importancia, eu nem sei Vamos pra cama meu bem se tern mais viu, clube. Tinha 0 Portugues, que era da Me pegue agora elite, que a elite ia, se fantasiava toda e tal. Mas n ao Me de um beijo gostoso era bom brincar em clube M O, ficava assim, Pode ate me amassar Mas me solte quando 0 lie passar dancando aquela roda. Era chato. Nossa juventude
nota destoante
nao gostou muito nao, e ra melhor brincar na rua
PBA~DA
PIEDADE
-... --
Mas at foi elitizando ... Ai esse pessoal da perifena na o tinha onde brincar, entao foi ai que
CAMPO GBAKDE __ - - •
\
surQiu 0 Apaches do Toror6, era o rna is dgressivo. Se voce
estivesse na Piedade, e soubesse que 0 Apac hes salu, tava ali por exemplo na Casa da Italia, voce ja tava procurando onde Hear
•
\ \
CASA D 'lTiuI
\ \
------e PBA~A
(arnaval
foi atra(aO nacional Manchete de capa do Jornal ATarde, Salvador, 16 de fevereiro de 1972
CASTRO ALVES
o que hoje chamam arras tao era encontro de trios, na Praca Castro Alves, era a coisa mais maravilhosa da vida. A gente fi eava Ie. e s6 vinha Quando 0 dia amanhecia. Ai descia ali a Barroquinha, a essa altura i<9. tinha modemizado, aquilo e ra urn espetacuio, aquele terminal que fi zeram ali. A gente e 0 muncio inteiro, nao tinha medo,
naD tinha ladrd-c, naD tinha nada CLUBE Tinha urn clube \;1 SUBURBIO embaixo, no Suburbio, que a gente nao conhecia , nao andava muito la, mas esse clube era um sucesso, todo artista bom ia la. ftj esse cara que tava CLUBE querendo paquerar minha PORTUGUf:S prima arranjou pra gente ir, foi ate buscar.
•
o
ja e Manchete de capa do Jornal ATarde, Salvador, 8 de fevereiro de 1975 Tinham as mudan<;:as, e ra urn protesto. Tudo d e ruim que tinha no bairro, entao na segunda-feira, a Avenida era liberada para que os bairros trouxessem suas reclama<;:6es. Como se £osse 0 grito dos oprimidos, sabe? Dos bairros longe que vinham, muitos hairros da Cidade Baixa, da Ribeira, engarrafava a Avenida Sete nos dias da Mudanya. S6 fi cou a Mudan<;:a do Garcia. deslocamento feito a pe 6nibus
• •••••••• carro
Maria Luiza M. - 1964(55 aaos)
final da decada de 1970
A gente ia assim
adolescente, na epoca do Vieira ainda. S6 tinha o pessoal conhecido das escolas: Vieira, Maristas, 2 de Julho .. ..
•
MARISTAS .
TVDO ESTA. PRONTO:- RUA.S LlMPAS F: ORNAMENTADOS A CAPRICIIO
Manchele do Jornal A Tarde, Salvador, 1 de marco de 1971
mae 56 a gente ir pro Bamano, nao deixava ir pro bloeo nao. Os homens que normalmente iam pra rua e de noite iam pro clube, mas a gente nao ia pra rua nae
VIEIRA 2 DE JULBO
•
I
I
A Qente ia pras festas no Bahiano. Era 0 "Baile Preto e Branco". "Baile do Barao" , rna de sexta·feira a noite. E dia de segunda·{eira tinha a segunda-Ieira gorda do Bahiano
Ia e voltava and ando, encontrava os amiQos que moravam perto e ia tod o mundo junto
RESIDf:NCIA
I
~ Tinha que ir de preto e branco, ai a gen te mandava fazer as fantasias, cada uma mais linda do que a Dutra
I I I I I I I
YATCR . CLUBE
I I
o Bahiano era 0
mais famoso n o carn aval. as outros clubes CLUBE BABIANO tam bern tinham, mas a DE Tf:NIS tradicao era revei1l6n no Yatch e carnaval no Bahiano
deslocamento leilo ape
Maria Laiza M •• 1964 (55 aaos)
durante a decada de 1980
o Pinel e que era top. 0 Pinel e 0 Eva. S 6 0 pessoal conhecido, porque eles surgiram nas escolas ne
A gente saia com 0 bloco ali do Campo Gra nde, as vezes pegava ali mais pra Irente, logo depois do TCA
VIEIRA
TCA
GOMES
PALACIODA ACLAMA~O
Ai seguia a Avenida, virava no Suiacap e pegava a Carlos Gomes
Iii Salvador, 1/3/1987
PELOUBINRO Eu lembro de ver as pessoas lantasiadas de Filhos de Gandhy, sempre tinha. Mas acho que eles nao salam todo did nao .... N ao lembro de ver bloeos afro na Avenida. Acho que eles salam no Pelourinho, nao?
Tinham outros bloeDs tambem, Apaches etc, • mas esses aJ.• eram m alS "b arra pesad a"
o clube virou coisa de
Caetano Veloso • Cara a Cara (1977) gente velha, fieou antiquado. Nas suas andancas Dancas, dancas, dancas, dancas, dancas Os jovens iam pIa rua, foi Na multidao quando a rua come90u a Veja se de vez em quando en contra ficar boa. E era mais barato MARISTAS tam bern ir pra rua ne, clube Contra, contra, contra Os pedacos do meu coracao tinha que 5e arrumar mais, Ti ra essa mascara fazer fantasia, pagar mesa ... 2DEJULBO Cara a cara, cara a cara, cara a cara Rua ia a te na pipoca e se Quero ver voce divertia tanto Quanto no No trio eletrico rico bloco Rico, rico, rico, rico, rico desendoidecer BESIDfNCIA De alegria, ria, ria, ria, ria Que a luz se irradia dia, dia, dia, dia Dia de sol na Bahia
•
CAMPO GRANDE
As vezes a gente ficava paradas ali, mais ou menos no
Palacio da Aclamacao, pIa vel os bloeos passarem
Carnaval era domingo, segunda e terca na Avenida,
de tarde. 12-13 horas 0 Campo Grande tava pegando fogo
A gente ia anclanclo pIa tudo. Na o tinha e5sa de hear levando - Id . nac, com 0 grupo que morava perto, todo mundo andando
Eu acho que nao tenho foto nao ... Nao tinha celular ne. E nao ia hear levando camera pra rua. Antigamente nao tinha essas coisas que voces fieam hoje em dia d e selfie, a gente ia pra se divertir na rua e nao pra ficar tirando foto
Essa epoca eu nao usava mais fantasia
nao. Acho que ninguem mais usava. Quando tava no bloeo ia de Mortalha, e na pipoca ia de roupa nonnal
deslocamento £eito a pe
Maria Luba M. - 1964 (55 aDos'
final da dec ada de 1980
Chame Gente (199-) Ah! Imagina s6 ... Que loucura, essa mistura Alegria, alegria e 0 estado que chamamos Bahia l De todos os santos, encantos e aXel Sagrado eprofano o baiano e carvanal! No corredor da i Vit6ria, Lapinha Caminho de areia Pelas vias pelas veias escorre 0 sangue e 0 vinho pelo mangue, 0 Pelorinho Ape ou de caminhao nao pode faltar a fe ocarnaval vai passar. NaSe ou no Campo Grande Somos os Filhos de Gandhi de Dod6 e Osmar. Par isso, Chame, Chame, Chame gente. Eagente se completa enchendo de alegria A praca e0 Poeta Eum verdadeiro Enxame, enxame, enxame de gente Eagente se completa enchendo de alegria A praca e 0 Poeta
• We Are The Carnaval (1988) Ah , que bom voc@ chegou Bem-vindoa Salvador Coracao do Brasil Vem, voc@ vai conhecer Acidade de luz eprazer Correndo atras do trio Evai compreender que 0 baiano e Um povo a mais de mil Que ele tem Deus no seu coracao Eo Diabo no quadril We are Carnaval We are, we are folia We are, we are the world of Carnaval We are Bahia
Acho que foi nessa ePOed que os clubes corne<;::aram a eair
porque 0 carnaval na Avenida era de dia, sempre foi. PJ.
ONDINA
tinha gente que ia de dia pra
Avenida, descansava pm de noite ir pros dubes. So que ai comecou a ter carnaval de noite na Barra, acho que foi por ai que ninguem rnais
queria ir pros dubes
... ...
FAROLDA BARRA
~ -1;<) J,"' t ~ 9\ ' ' .. , - .. . . ..
Mas isse de Ondina e bern mais novo, foi quando comecou a ter esses camarotes. La tern mais espaco
ne,
pra man tar essas eoisas
i f /p . "",
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•
BEsIDi':NCIA
Eu cheguei a ir na Barra nessa epoca, mas MO era tao born nao. A gente ia pra Avenida de clia, que bombava, e de noite pra Barra
DO CRISTO
A Barra
e mais recente,
ache que final de 80. Mas MO tinha isso de Ondina
rno, era s6 Barra. Do Farol ate ali 0 Cristo eu acho
Arquivo Hislorieo Municipal de Salvador Carnaval1988 deslocamento feite a pe
Jose E. - 1974 (45 anos)
final da d ec ada de 1970
GARCIA
• •
5
5 irmaos 2014, p.95
Aqui tinha carnaval, mas Peri peri era mdis famose por causa do trio eietrico ne. Inclusive onde dizem que
0
trio eietrico foi in ventado.
Ea
hist6ria dos irmaos Klein, eram 6 ou 5 irmaos que saiam num carro tocando. Dizem que esse
FEIRINBA
e'-,
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,,
movimento jei existia la, depois que £oi pro Centro da cidade com
Dodo e Osmar, mas que antes ja. tinha essa invencao de tocar num carro com som eletrificado
CENTRO
•
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,,
, ...
PLATAFORMA
•
Eu lembro de minha mae fazendo as mortalhas de meu pai, meu pai adoravd, que era usar uma bermuda por baixo, sem camisa e
aquelas roupa. Depois que vela essa coisa do abada
•
,,-
RESIDf:NCIA
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• ,,-
Tinha quase as mesmas atrac6es que tinha la fora. Tinha 0 trio eletrico, tinha as caretas, os pierr6s e tinha a Mudanca de Plataforma . Agora s6 tern a do Garcia, mas antes todo bairro grande assim tinha a sua Mudanc;a, que e ra assim na terc;a de carnaval. Saia tudo daqui e e ra muito bonito Eu acho que era mais organico 0 carnaval, em relacao a c idade. Sempre foi um evento grande e totalizante a ssim
VOlANTE
- ,,
,
ALMEII~A' ' -
Bairros de Salvador seD
BBANDAO _ ~~
~
~~
Manchele do Jornal Diario de Nolicias Salvador, 8 de fevereiro de 1970
o que eu Qostava muito era dos sons, •
... ... ~~
..
Todo mundo se fantasiava na rna, mas eu nunca me fantasiei, eu tinha medo. Nunca botei nem mascara. Mas eu gostava muito de ver as pessoas
me impressionava muito a coisa do som. A gente ia atras do trio eletrico mesmo
.... ~
PBA<:A
sAOBBAZ
Vinha da Praca, que hoje voce olha e pensa que e pequena, mas era uma multidao ali. Tinha a Praca sao Braz aqui em cima, depois descia pela feirinha, ai vinha pela Almeida Brandao e chegava na Variante, ia na e ntrada da rua. Era uma coisa muito de familia
Era muito familia aqui, era muito uma coisa de casa, de bailIO. Aqui tinha muito a cultura de Sao Joao e carnaval. Sao 10ao tinha suas quadrilhas e carnaval tinha seus blocos
deslocamento feito a pe
Jose E •• 1974 (45 anos) durante a decada de 1980
A gente ia e voltava todo dia porque naquela epoca a gente ncio pagava 6nibus e passava pOI baixo da
borholeta, e os cobradores deixavarn . Entao ia de galera todo mundo Eu fui pro carnaval do Centro em 86, 87 ... Foi minha primeira
experiencia pra ver Armandinho, porque eu MO acreditava que ele tocava daquele jeito
Saia daqui e descia na Lopa, na Praca cia Piedade. fu de II! voce ia pro Campo Grande e depois Heava indo e voltando pela Avenida
LAPA
PBA(:A PIEDADE
CAMPO GIlllNDE E tinha a coisa bonita da decoracao. Era uma festa bonita e tinha a decoracao, tinham concursos pra escolher as decorac6es. Ai era isso, era uma £esta pIa ver, pIa sentir, pIa se divertir. Entao tinha
essa coisa artistica musical forte, mas tinha a coisa de ver tambem, essa coisa monumental
Arquivo Hist6rico Municipal de Salvador Salvador, Rua Chile, 1983
•
Acervo Instituto Moreira Salles Mario Cravo Neto
RESIDi:NCIA
Uma coisa bonita que eu gostei depois tambem foram dos Filhos de Gandhy, que eu achava muito
•
bonito ver aquele tapete bIanc o saindo 1a. no Centro ...
CENTRO
PRA(:A CASTRO ALVES Essa ePOed 0 carnaval de bairro BARRA jii tava enfraquecendo, porque ai comecou a migrar pros gran des circuitos. Porque tudc ONDINA era Prac;:a Castro Alves, Campo Grande ... Mui to depois, acho que 2000, ja era Barra-Ondina e Quando 0 trio vinha, era tudc se concentrou ali aquela experiencia do mar de gente ne. Ai voce tern . que pensar pra ISSO, que nac
...... ...
tinha uma vioiencia g ratuita como voce tern hOje. Eram as
AVENIDA SETE
pessoas pulando, tanto que
e pular carnaval e nao brincar
Ai a gente saia daqui pra ver essa novidade, porque todo ano tinha uma novidade. E 0 carnaval era uma novidade, nao era uma coisa repetida. Pra mim era urn pouco disso, de ver aquilo que impressionava. E se voce pensar que e 0 maior carnaval de rua do mundo ... . Nossa. , E 0 maior carnaval de rua do mundo.
deslocamento fei to a pe 6nibus
Jose E. - 1974 (45 anos) durante a decada de 1990
Eu morei na Carlos G omes quando fui fazer faculdade, mais ou menos 95, 98 .. E ali sim eu comecei a entender o que era carnaval
Olodum - Protesto do OIodum (1988) For,a e pudor Como eu morava ali perta da Liberdade ao povo do Pel6 Praya 2 d e Julho, aquele periodo Mae que Ii mae no parto sente dar eu vivi carnaval, de hear ate de Ela vou eu madrugada . Porque 0 carnaval Declara a na,ao, nao e 0 que a televisao mostra, 0 Pelourinho contra a prostitui,ao carnaval e quando desligam as Faz protesto, manifesta,ao , cameras, que a1 voce vai ver Ela vou eu ,cada coisa na Avenida ... Ai voce AVENIDA Aids se expandiu ,ve 0 espirito das ruas mesma Eo terror ja domina 0 Brasil sETE Faz denuncia Olodum Pelourinho \ Ela vou eu Eu lembro que 56 uma vez eu \ Brasillideran,a apanhei, porque 0 cara tava \ For,a e elite da polui,ao tocando guitarra, foi Em destaque 0 terror, Cubatao Armandinho ate, ai eu parei na Ela vou eu Casa D' Italia e fiquei olhando 10 io io io io ra urn carnaval bonito pra Clma, al• um grupo me La la la la la la la (I.e vel. Eu lembro muit cercou e me bateu. Mas isso e ra 10 io io io io as b loeos a fro tambem normalissimo, porque cada La la la la la la la ue eu gostavd, do canto e urn bairro, e quem mora Ela vou eu lodum ... em determinados pontos da Brasil nordest6pia cidade de Salvador nao pode Na Bahia existe eti6pia passar Pro nordeste 0 pais vira as costas Ela vou eu N6s somos capazes Por exemplo, a Ladeira de Sao Pelourinho a verdade nos tras Bento ali e toda Plataforma. ,Monumento da for,a e da paz Pergunte pra quem e mais ,Ela vou eu ca rnavalesco que voce vai ver, ,Desmound tutu ,qual e cada canto de cada bairro Contra 0 apartaid la na Africa do Sui Vem saudando 0 Nelson Mandela LADEIRADE oOlodum PLATAFORMA sAo BENTO
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•
•
•
RESIDf:NCIA
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•
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CIRLOS GOMES
PRACA 2 DE JULRO
Que Eo Quando as cervejaria s entram, porque as
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CASA
barracas eram todas feitas pelas pessoas, todos os desenhos ... Ai depois padronizou. Ai Quando padronizou, vulgarizou. Porque ai voce tinha toda uma expressao que era da popula~ao, ela a ser monopolizada por certos mercados. Padroniza pra Hear uma coisa que aparta, aparta vuigariza uma caisa que de certo modo era pra voce ver a expressao artistied das pessoas
D' ITALIA
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Ai voce pede ver como que e que 0 carnaval se organiza territorialmente naquele lugar, que e urn iugar 0 ano todo mas que no carnaval ele passa ser a morada de determinados hairros e determinados grupos
Edaquelas coisas que 56 tern em Salvador... De ocupacao do espaco como uma ... Voce tern uma tradicao, ta na mem6ria afetiva da gente que aquele canto e 0 nosso canto. As
pessoas afetivam determinados lugares, eu adoro esse termo deslocamento leilo a pe
lara D. - 1980 (39 anos)
final da decada de 1980 Margareth Menezes - FaraD Dlvlndade do Eglto (1987) Deuses, Divindade inlinita do universo CABLOS Predominante esquema mitol6gico GOMES Ailnfase do espirito original Shu Formara no Eden um ovo c6smico A Emersao, nem Osiris sabe como aconteceu Eu nao via nada, 56 A Ordem, ou submissao do olho seu conseguia fiear tentando Transformou-se na verdadeira humanidade respirar, e dava mordida Epopeia! Do c6digo deGerbi e colovelada la de baixo ENut gerou as estrelas , no pavo. Minha irma Osiris proclamou matrimonio com Isis heava com pena de rnim Eo mau Set, irado, 0 assassinou e me botava no om bro Eimpera H6rus levando avante a vinganca do pai Derrotando 0 imperio do mau Set TERMINAL Eo grito da vit6ria que nos satisfaz DA FRINCA Cadil? Tutancamon Hei Gize' Akhaenaton Eu lembro que eu goslava de Hei Gize! Tutancamon uma musica de Margarelh, Hei Gize! Akhaenaton ate hoje eu me emociono Eu lalei Fara6: Eeeh Fara6! E, eu clamo Olodum Pelourinho Eee Fara6' EPiramide, a base do Egito Eee Fara6! E, eu clamo Olodum Pelourinho Eee Fara6! Que mara mara mara maravilha il! Egito, Egito il! RESIDf:NCIA Pelourinho Uma pequena comunidade PERIPERI Que porem Olodum unira Em laco de confraternidade A genie sala daqui de Despertai-vos para a cultura Egipcia no Brasil Peri peri e ia pro Centro, Em vez de cabelos trancados nao ncava aqui nao, nem Veremos turbantes sei se tinha coisa. PeQava De Tutancamon o onibus e parava ali no Enas cabecas, enchem-se de liberdade Terminal da Fran<;:a opovo negro pede igualdade Deixando de lado as separacoes
•
GRRNDE Subiamos pela Carlos Gomes ai lamas pro
Campo Grande, voltamos atlas do trio e tinha aquela concentracao ali na Castro Alves
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Acervo Instituto Moreira Sal les Mario Cravo Neto
Minha mae pegava os fitho tudo e ia pIa carnaval. No me io dos negao m inha mae queria hear, ali na Castro Alves
Eu chorava, naa gostava nao, era muito cheio
deslocamento feito ape
onib us
lara D.• 1980 (39 anos) durante a decada de 1990
Dona Dora ali, ela que £azia as abaclas do AraKetu. Acho que ja tern 84 anos
•
PMeA CASTRO ALVES
A gente ensaiava 0 ana todo e se apresentava em alguns lugares assim, independente do carnaval, mas se apresentava mais no Pelourinho
•
PELODRINBO
Nessa apoca eu nao ia mais pra Castro Alves nao, ia pIa Barra-Ondina. Ia e voltava, tode dia
ONDINA Eu participava do grupo de do AraKetu. 56 teve qrupo de danca afro no AraKetu por causa de mim, eu exigi. 0 instituto varios cursos, 56 nao 0 de danca eu queria part icipar, eu moradora claqui, praticamente funclei 0
AraKetu porque sou de 1980, cresci ali dentro na verdade, al eles tiveram que 5e virar. Veia
professor, 0 professor Neguinho, eu acho que hoje ele ainda
o AraKetu foi criado em 80. Ele
•
•
PABIPE
•
•• •• •• •• •• •• •
•
•• •
•• •• PERIPEBI •• •• Algumas amigas minhas DFBA
••
que moravam em Vit6ria • da Conquista veio, ai eu fui acompanhar pra elas RESIDi:NCIA fica rem no carnaval
•
e daqui do Suburbio. Eles
tocavam ali no campo, ali era a quadra do AraKetu, s6 que ali e ra alugado entao eles tiveram a necessidade de passar pra cd. C instituto AraKetu tern uma hist6ria muito grande, muito rica. Eu faco parte disso tude
Eu nao seguia trio. Geralmente eu gostava mais dos grupos de pagode e esperava 0 Ara Ketu por causa do meu irmao mais velho que trabalhou muitos anos no AraKetu. A gente tinha torcida organizada
Acervo Instituto Moreira Salles Mario Cravo Neto
".
na Barra mesmo, eu fui pro
na Barra, eu ·os :a"a mais de fiear praia tomando
o ano que e les apresentaram no carnaval eu nao sai pra dancar. 0 grupo de danc;:a no AraKetu mesmo, na £rente do bloco apresentando. Acho que foi ali no Campo Grande, Carlos Gomes, Avenida Sete .. .
BIO VEBMELBO Teve urn ano que eu trabalhava ali no Rio Vermelho e ai eu tive que voltar no carnaval. Ai a gente reuniu algun s funcionarios pra pegar uma condw;ao ate O ndina, porque 0 terminal aqui pro Suburbio ficou ali na Ondina. Ai minhas irmas sairam nos Mascarados e quando eu cheguei em Ondi na que vi 0 bloco, ave maria, era tanto homem lindo, tanta mulher linda, cada deus gregG
AraKetu • Tambores Na Avenlda (1999) Estou ouvindo 0 som desses tam bores CAMPO Sao culturas negras e clamores GRANDE Clamores pela paz mundial, tudo igual • Enormal no carnaval Ara Ketu na avenida AVENIDA SETE • toque do tambor revela l eu sonho de menino e magia Esperando crescer e sair comafantasia • Eu sou Ara Ketu Ii alegria CARLOS No rneio da rnultidao, me leva GOMES Eu ja pedi ao meu santo-guia Pazeprote,ao, muito amor no cora,ao Eu sou Ara Ketu e seu guia Arara 6 6 6, Arara 6 6 6, Arara 6 6 6
o
M eu irmao mais
novo conheceu a mulher no carnaval, no bloee. Arnor de carnaval. Agora ele mord nos Estados Unidos, na Calif6rnia, e faz
carnaval por la.. Ja. ate me chamou pra danc;:ar afro la, mas eu nao danc;:o mais. ]a eu nunca peguei urn gringo
Eu gostava mais de olhar de longe, mas rno gostava porque era muita aglomerac;::ao
deslocamento feito a pe 6nibus
•••••••••
Paulo RIcardo M•• 1981 (38 aDos)
final da decada de 1990
o mesmo nivel de p essoas que tinha n o bloeD, tinha n a
Netlnho • Bello na Boca (1996) Foi sem Querer Que eu beijei a sua boca Menina lao louca Eu Quero Ie beijar Beijo na boca seu corpo no meu suado Tem sabor de pecado Com jeilo de bem me Quer Todo dia de !esla na Bahia Eo Irio irradia alegria oFarol Que ilumina Salvador e5, e5, Todo 0 dia e!esla em salvador e5, e5, Suor, swing maneiro, pecado e amor
rna, os bleeos eram mais baratos, entao muita gente fazia como eu, pegava
elias de b loco, tipo Timbalada, Academicos, e depois heava na rUd 0 reste da noi te e os
FABOLDA
tt-- .,!IABRA ......
\ \
~~----------------------Os bleeos nao -dava pra quem queria-, tinha proposta pra voce se associar dO bloee. Ou seia, pra voce sair, por exemplo, no Eva, tinha uma fichinha que voce tinha que preencher, com sua fotc 3x4, ender ec;o,
eu ficava sozinho ai chamava os amigos pra fica rem iil em casa ai de Ia a gen te d escia, s ubia pIa casa, descia de novo, nao tinha assalto, nae tinha zorra nenhuma. Era bern mais tranquilo do que hOje
......... ...... ...........
\\ \
...... \ \ \
varios dados, mandava pro bleee, ai ele aprovava depois pra voce poder comprar 0 abada, nao vendia pra qualquer urn nao. E era abertamente iSSQ, se fosse uma pessoa feia, 0 bIDeD n ao liberava a proposta , vetava
Como meus pais sempre viajavam,
2 ou 3
\ J...
•
RESIDi'!NCIA
o pessoal da minha idade nao ia pra Avenida Sete nao. Eu pessoaimente nem sei como e camavalla, nunca nem fui, era
mais a galera mais velha. 0 p essoal mais jovem d escia pIa B arra, a gente pegava
0
do bloco ali no Faro! e terminava 1a em Ondina
inicio
Os pouquinhos camarotes que tinham e ra eoisa de velho, e nte nde u. Nao tinha esse glamour nao, camarote era os "veio." CLUBE A oale ra mesmo ficava ESPANBOL na rua, 0 glamour e ra na rua e nos bloeos
Foram os camarotes que apertaram as pessoas. E at hoje e desconforUlvel ir pra rua por causa disso, mas antes e ra super eonforUlvel
•
Praticamente NO tinha camarote. O s poucos que tinham eram aquelas arquibancadazinhas sem estrutura nenhuma, 56 pra quem que ria ve r mesmo e tal, ali pe rto do Espanhol. resto e ra as varandinhas dos predios e ac ho que s6 urn hotel a li que tinha uma estrutura mas e ra bern mod esta, nada como hoje, e ra 56 urn espayO pra ver a festa mesmo
o
... ...
........ _ - -
-_ ... -
ONDINA
BECODE ONDINA
Depois 0 ponto do pessoal com nivel melhor assim era naquele beco de Ondina . Ficava todo mundo ali tranquilo, vendo os bloeos passarem ate de manha.
•
AVENIDA SETE
Todo mundo ficava na rua. Tinha me nos rouba, tinha mais espa yo tambem, porq ue os camarotes hoje toma ram 0 espayo da rua ne . Entao imagine, se tirassem os eamarotes todos ali, s obra espac;:o na rua
Tinha muito turista ne m sei se mais ou menos que ge nte daqui. E a fue Music tava no a uge
d esloca me nto feito ape
Andressa M •• 1994 (25 anos)
o Happy e capitulo a parte
final da d ecada de 1990
pra mim, era urn bloeo infantil, de Tio Paulinho, eu nem 5ei se existe ainda . Tinham dois: 0 Happy e
0
Algodao
Doce, que
era de Carla Perez. Era uma eoisa super classiea pra gente, a gente sempre ia
Depois dessa lase eu passei muito tempo sem
ir... Meu pai era da area de saude e trabalhava em carnaval, entao ele recebia
JI. ~DINA
muita gente acidentada,
de briga, de faca, essas coisas, entao ele vireu uma pessoa que passou a
/
/
/
/
odiar 0 carnaval e ficava com medo da gente ir
/
........ ....
........ ........
/
........
/ / / RESIDENCIA •
\
\ No Pelourinho a gente ficava naquelas prac;::as que tinham 0 carnaval com bandinha, bern infantil. Tinham bailes infantis de tarde, ali na Praca Teresa Batista
Eu lembro de ir nuns bloquinhos no Pelourinho, de fantasia, infantil e tudo mais, eu acho que tern ate hoje
\
\
~ PELOURINBO I I I I I I
•
PRACA TERESA • BATISTA
Era uma estrutura bern proxima do que e a de urn bloeo mesmo, tinha 0 trio eletrico do artista e 0 trio do apoio, tinharn abadas, que geralrnente voce cornprava urn de adulto que vinha urn de crianca . Era urn kit: 0 abada, 0 short e 0 'rnarnae sacode·
A gente tambem ia de carro, deixava ali naqueles edificios garagem perto, e iamos pras pracas
.
Eu lembro 0 quanto isso influenciava a gente, essa cultura carnavalesca, principalmente num momento onde a Axe Music tava muito em alta ne, esse fim dos anos 90, enta o basicamente
todo mundo dan9ava EO Tehan, eerto? 0 que era muito louco porque e uma galera que fala muito de duplo sentido, tem muito erotismo, e fazia
0
maior sucesso entre as crianc;:as
A gente ia de carro, deixava
0
carro em Ondina. Ai 0 percurso era d e Ondina pra Barra, seguindo 0 Trio d e Tio Paulinho. Come<;:ava 10 horas da manha
..
E0 Tehan· Pega no Bumbum (1998) Menina linda, nao va embora Esta chegando a hora Evoce vai ter que pegar No cabelinho, ai Mao no queixinho, ai , ai , ai No umbiguinho Edesce, desce, remexe sem parar Pega,pega Pega, pega, pega, pega Pega, pega, pega, pega Pega, pega, pega Ja peguei Pega, pega, pega, pega Pega, pega, pega, pega Ve se pega de uma vez Ja pegou no cabelinho Ja peguei Ja pegou no narizinho Ja peguei Ja pegou na orelhinha Japeguei Japegou na barriguinha Ja peguei T5 mundo parando vai , vai Agora, pare! Pegue no bumbum (que beleza) Agora, desce (desce) Pegue no compasso Pegue no bumbum (opa) Pegue no compasso Olha 0 verao Se 0 verao chegou Es6 alegria Estou no pega, pega am or No compasso da Bahia d eslocamento
o bloco nao era muito cheio Fotogralia do acervo pessoal da lolia
de gente, a gente ncava bem solta era bem suave
fei to a
pe
ca rro
Andressa M. - 1994 (25 anos)
a partir da decada de 2010 Teve uma fase que teve muito bloeo assim sertanejao, Ivete, essas eOisas, que nao era uma parada que eu eurUa. Al dado momento eomec;ou a ter muito bloeo de fantasia, quer dizer, ja tinha Masearados ne, mas eu nao tinha idade pra ir. Ai eu acho tu' foi no ana de 2014, que eu jA tinha me entendido enquanto pessoa LGBT e tudo mais, que eu jii me sentia muito mais a vontade de ir pros blocos gays, inclusive os Mascarados, e a1 eomeeei a me jagar, fazer fantasia
Ai eu eomeeei a fazer esse resgate do que e que era esse earnaval mais antigo, 0 eamaval que meus pais iam, de Armandinho, essas eoisas todas. Hoje virou um role familiar, de irmos todos juntos. Tenho ido pro da Barra-Ondina mais com os amigos e pessoas mais jovens e pro Campo Grande com minha mae
Minha mae sempre gostou muito de Hear ate 0 Rel6gio de sao Pedro, porque tinha toda essa eoisa tradicional dos anos 80 que depois do Rel6gio tinha muita briga, nao sei se ainda tern isso
PIEDADE .
TeA ••••••••
.....
l.sPA •• .-.
......... _ _._ •
••
• • • • • • • •
Naticia di I aliciaI da i carnaval de 2017
.....
• • •
..... •
• • •
---
dos lugares que • • eu mais gosto de ncar • • na Barra e no Beco BARRA •• • OH, porque e bern tranquilo, dado seus / ............... devidos horarios / / ONDINA / Pro Campo Grande e hem mais facil pra gente, morando em BECO Brotas, pegava 0 Lapa, DAOFF sala ali na Piedade, e voltava ate 0 Campo Grande pra pegar a Pra Barra normalmente eu ia inieio do pereurso. As de 6nibus, de Brotas ate a vezes pegava 0 Lapa e de Iii pegava outro Barbalho tambem, que 6nihus pra Barra. para ali no TeA eu voltava de taxi mesmo
fJ-_
BE
• • •
Eu tambem fui me
SIDf:NCIA
muito nesses blocos mais do Centro. Eu trabalhei la no Santo Antonio, ai varias ve ze s a gente saia d o trabalho e 1a pras festas da previa do carnaval
\ \
..
Q uase no mesmo tempo que eu voltei a ir pro carnaval, nessa segunda fase, foi a e poca que eu comecei a trabalhar com cinema, e 0 pessoal collava
\ BROTAS
a.. • • • • • • • • • •
..•-.., .. •
.
........
malS nessas de fantasia, por
d o De Hoje a a timidez
••••••
SANTO ...,. ANTONIO
\
\ \ BELOGIODE
sAo PEDRO
.
........
\
\
............', ....
\
,,
•
BLOCODE
........ '
----------~ BalanaSystem - 0 carnaval quem Ii que faz? (2010) A luz da lua, a noite escura a cena toda como num cinema o bumbo ao longe, 0 metal anuncia tii come,ando mais um carnaval A rua estii cheia eu vou me esgueirando feito um ninja no meio da multidao o peito inflama, a lagrima derrarna tii come,ando mais umcarnaval ocarnaval, quem eque faz? ocarnaval ainda quem faz e0 foliao No empurra, empurra, no ra,a ro,a a massa avan,a num filme medieval a fantasia tii na sua cabe,a ta come,ando mais um carnaval Quem esta em baixo quer mais espa,o quem esta em cima quer 0 seu calor quem tii na chuva, pula e se enxuga tii come,ando mais um carnaval
Fei quando come<,::ou tambem e sse lance do BaianaSyste m ne, com 0 Furdun<;:o, essas releitura s
todas. Baiana no Campo Grande era uma parada que minha gostava muito, como se fosse banda que unisse esses dois ladas, 0 mais jovem e 0 mais tradic ional da g uita rra baiana
deslocamento £eito a
pe
carro onibus
•••••••••
Adele B. - 1994 (25 aDos)
durante a decada de 1990
Tinha uma grande curiosidade em observar 0 grande fluxo de maquinas, carnara tes, ou tra i!uminacao, pessoas, propagandas, n oti cia s, que creie terem uma proporcao
Lembro d a grande quantidade d e barracas e isopores dos vended ores que chegavam antes da festa para reservarem urn lugar mais pr6ximo dO c ircuito e que ali
habitavam durante 0 periodo: adultos, idosos e criancas, assim como eu, que se instalavam temporariamente nas redondezas
da minha casa durante
0
o telmo que mais costumava ouvir para re£erir-se ao carnaval era confusao.
Quase nunca heavamos em Salvador, pelo menes nao ern casa, durante 0 carnaval. dO
infantil, anunciando que 0
carnaval ja iria chegar
• BUA BESIDi!NCIA
camaval
siTlo
Normalmente lamas
ainda maior no imaginario
5itio
dos meus avos e u viajavamos
Observava nos adultos ao meu redor, av6s, tios, pais, os incomodos disparados pelo periodo. Para meus pais, 0 carnaval era motivo de grandes transtornos em suas rotinas todos os a nos: os engarrafamentos, as limitac6es de circulacao, as queixas do aumento de violencia nas redondezas, estabelecimentos e servicos pr6ximos fechados ...
A rua e uma ausemcia nas minhas mem6rias infantis.
Nao tenho lembrancas de ter frequentad o 0 carnaval pequena, mesmo que na minha epoca e xistissem algumas comemoracoes destinadas ao publico infantil, inclusive com a presenca de trios eletri cos
o contato que tinha com 0 carnaval era mediado por outros meios e discursos, pelo que assistia na TV, 0 que observava atraves das janelas do carro, da varanda de casa ou nas festas dentro da escola
Lembro das festas na escola, das fantasias, confetes, serpentinas, das musicas tipicas da epoca do baiano (que voce nem sabe como aprendeu porque parece ja ter nascido sabendo todas elas de
I
,
Aesquerda, eu com 2 anos de idade Acima, com 5 anos (no meio), com minha prima Carol e meu irmao na festa da escola
deslocamento feito de carro
Adele B. - 1994 (25 aDos) en tre os an os de 2007-2013 BlOCO DAS PRINCESAS
Estar dentro da corda MO era mais confortavel au folgado do que fora,
pela grande numero de pessoas dentro daquela limitaydo espacial. Varias deslocamentos eram feHos fora da corda, onde muitas vezes era mais vazio e
as passagens
No ensino medio (2010-) alguns amigos comec;:aram a participar
dos bloeDs. 0 Harem era muito popular pela gratuidade feminina. Para ser 'Princesinha
do Harem" era preciso solicitar, enviar fotos e 0 link de uma rede social, para ser selecionada, ou nao, para conseguir 0 abada. Nunca participei do Harem, mas a malaria das minhas amigas 8im
£BJ'A
••
-... - --
-
.... ....
.... ....
-" --
meus amigos na casa de uma amiga na Barra e de Ia fomos andando juntos ate os arredores do PORTO'e- - - - - Porto da Barra, onde fieava a DABARRA eoncentrayao dos bloeos. Nao era dificil encontrar os blocos peia Tinham fot6grafos dentro dos agiomerayao de pessoas que vestiam bloeDs para registrar os foHoes. o mesmo abada, com as mesmas co.res As fotos eram disponibilizadas ~.., que os nossos, dentro da multidao
A (mica vez que participei de bloco loi em 2013. Paguei pelo abada do NuOutro e atraves de algum eonheeido eonsegui ganhar 0 Yes, bloeo reeente que se popuiarizava no earnavai tocando musieas eletronieas, com DJs intemaeionais.
ESiA
....
-
Sempre fui e voltei andanclo
Na casa de uma amiga. antes d e Sdlrmos
Nenhum dos meus amigos e conhecidos da escola ia pra
pro carnaval . Saia de casa com amigos, pela Centenario, pra ir direto ou parava na casa d e algum outro amigo pra irm os juntos . No final do percurso, em Ondina, voltava andando pra casa p ela Sabino Silva •
Asa de Aguia - Quebra Ai! (2008) plpoca, e m eu s palS SABINO Eu vou arrasar me decidir SILVA nunca te riam me Vou me jogar por essa vida deixado ir Quero te ganhar te possuir Tenamorar vida bandida '\ _ - OCEANICA Tem Babado la, Chiclete ae, Ivete ca, Olodum no Pe16, Dod6 e Osmar Timbalada no gueto \ Vamos decolar nesse avia~ , '\ I Sentir 0 fogo do dragao , \ I No maior trio do planeta .. \ I • Fa,o tudo pra te dar meu grande amor, I Sacudir toda poera do porao I RESIDENCIA\ \ I I Balancei a corda bamba \ I I Pendurei no bibeI6 ... \ I Quebra ae, quebra ae CENTENARIO \ I Olha 0 ASA ae \I o ASA chegou, 0 ASA bombou, 0 ASA voou, o ASA pirouO Asa ag itou ONDINA Por isso eu digo que meu cora,ao EASA eASA eASA .
.
_1.-,-
,
.---,
,
--.
•
Nao te mbro d e shows de ntro dos camarotes e as rnusicas eram
tocadas nos inte rval os d os trios, normalme nte atraves de alg um DJ sem maior importancia. 0 ponto
alto da noite eram as trios, corn grande frequencia na rua. As
varandas (abe rtura s para ver a rua) fi cavam lotadas e os iugares na frente e ram muito di sputad os
Os camarotes que frequentei no perioclo, em Ondina tinham comodidades como customizac;:a.o de abaclas, banheiros, restaurantes,
bares e 'lan ho uses· com acesso a inte rnet (e5sa epoca e anterior aos
smart phones) d eslocamento
feito a pe
Adele B. - 1994 (25 aDos)
a partir do ano de 20 15
Notei uma grande diferenca na festa. 0 Furdunc;:o, os
bloquinhos e fanfarras, no pre-carnaval no circuito Barra·Ondina, comecaram a ganhar destaque ent re os meus amigos e conhecidos, que passaram a fre que ntar a pipaca au carnar ates, quase
Fui de carro ate a casa de urn amigo na GraCd e de la fornos andando pela Vit6ria ate 0
PELOUBII'lBO
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circuito da Avenida e
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Dentro dos carnara tes foi uma g rande mudanca dos que jil tinha ido. Era uma festa a parte do que ocorria na rua, com varias atraeDes e cornodidades Nunca mais paguei
ir p ro carnaval, nem bloco nem camarate, que fui algumas vezes quando ganhei. sempre em Ondina
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BESmEI'lCIA
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Os trios estavam menos frequentes e as poucos bleeos que observava, 0 publico aparentava ser majoritariamente turista, sobretudo homens
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Camarote Schin Ae 2018
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OI'lDII'lA
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Continuei indo andando pro camaval, ou saindo da minha casa, indo pela Centenario ate a Barra e de la seguindo pra Ondina, ou saindo da casa do meu namorado ja em Ondina
Em 2019, pela primeira vez fui ao circuito cia Avenida Sete e Pelourinho. Senti uma grande diferen<;a de publico e na experiencia da festa, realmente pa recia um carnaval em Salvador
rmandlnho - Pra que corda? (2017) Pipoca! Pipoca! Pra que corda? Se apipoca ta com acorda toda Pra que corda? Abaixe acorda Que a pipoca vai passar • Sou foliao da paz ;, BARRA Eu Quero emais I Carnaval ealegria Tona folia da uniao edo am or Em Salvador yOU ate 0 fim da linha se Deus Tona pipoca pro Que der e i Pra Que Se apipoca la comacorda toda Pra que Abaixe acorda Que apipoca vai passar A pipoca ta ai? Eu Quero ver Essa pipoca ta botando pra ferver A pipoca ta ai? Eu yOU S6 Quero corda na guitarra pra
De repente todo mundo tava cheio
de brilho e fantasiado na rua
Ao contrArio dos anos anteriores, ninguem mais queria ir pra bloco e a pipoca passou a ser
Barra 2017
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o aperto da multidao as vezes era sufocan te, e 0 pior era quando passava o cordao da poltcia,
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deslocamento feito ape carro
R - Residencia 01 - Clube Flamenguinho Periperi
23 - Igreja de Sao Pedro
02 - Pra~ Sao Braz
24 - Casa O'ital ia
03 - Feirinha
25 - Palacio da Aclamacao 26 - Teatro Caslro Alves
04 - Rua Almeida Brandao 05 - Largo do Tanque
09 - Pelourinho
27 - Campo Grande 28 - Corredor da Vitoria 29 - Avenida Centenario 30 - Clube Bahiano de Tenis 31 - Rua Prof. Sabino Silva
10 - Largo Tereza Batisla
32 - Praca de Ondina
11 - Misericordia
33 - Beco de Ondina
12 - Pra~dase
34 - Porto da Barra
13 - Pra~ Caslro Alves
35 - Associacao Allelica
14 - Cine Guarani 16 - Edificio Sulacap
36 - Morro do Cristo 37 - Farol da Barra 38 - Rio Vermelho
17 - FundaCao Polilecnica
39 - Clube Portugues
18 - Relogio de Sao Pedro
40 - Ladeira de Sao Bento
19 - EslaCao da Lapa
41 - Terminal da Franca
20 - Clube Fantoches da Eulerpe
42 - Santo Anl6nio Alem do Carmo
21 - Largo 2 de Julho
43 - Beco da 011
06 - Ladeira de Sao Cristovao 07 - Curuzu
08 - Colegio Ouque de Caxias
15 - Terminal da Barroquinha
22 - Pra~ da Piedade Oecada de 1950 Oecada de 1960 Oecada de 1970
Oecada de 1980 Oecada de 1990 Oecada de 2000 Oecada de 2010
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MUITOS . . CARNAVAIS
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ATUS DO TRIO ELETRICO ADELE BEUTARDO
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Imagem 01 O!<ada de 1950 Folo Pierre Verger © Fundacao Pierre Verger
Imagem 02 Oecada de 1950 Foto Pierre Verger © Fundat;ao Pierre Verger
Imagem 03 s/dala ArQuivo pessoal de Aracy Esteve Gomes
Im'gem 04 1952 ArQuivo Hist6rico Municipal de Salvador
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Imagem 05 Decada de 1950 Foto Pierre Verger © Fundat;ao Pierre Verger
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Imagem 06 O!<ada de 1950 ArQuivo Hist6rico Municipal de Salvador
Imagem 07 Oecada de 1950 Foto Pierre Verger © Fundat;ao Pierre Verger
Imagem 08 O!<ada de 1950 Folo Pierre Verger © Fundacao Pierre Verger
Imagem 09 Decada de 1960 Folo Marcel Gautherot © Acervo Instituto Moreira Salles
Imagem 10 O!<ada de 1950 Folo Pierre Verger © Fundacao Pierre Verger
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Im'gem 11 1972 Oiario de i I de
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Imagem 14 1984 Eslado de Sao Paulo ArQuivo Hisl6rico Municipal de Salvador
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Imagem 15 1984 Eslado de Sao Paulo ArQuivo Hisl6rico Municipal de Salvador
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Imagem 16 1986 Eslado de sao Paulo ArQuivo Hisl6rico Municipal de Salvador
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Imagem 17
1985
oEslado de Sao Paulo
ArQuivo Hisl6rico Municipal de Salvador
Imagem 18 1981 Diario de Nolicias ArQuivo Hisl6ricQ Municipal de Salvador
Im'gem 19 1988 ArQuivo Hist6rico Municipal de Salvador
Imagem 20 O!<ada de 1950 Folo Pierre Verger © Fundacao Pierre Verger