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6.3 CONTRIBUIÇÕES PARA O MODELO DE MACIEL E WALLENDORF (2017)
A análise do processo de transformação de gosto no contexto do samba de competição permitiu identificar oportunidades de contribuição ao modelo estendido do consumidor de constituição de competência cultural (MACIEL e WALLENDORF, 2017). O fato da prática estudada ser essencialmente baseada na competição, como objetivo final, e no uso do corpo permitiu identificarmos pontos de reflexão a acrescentar. Apresentaremos a seguir as contribuições ao modelo de Maciel e Wallendorf (2017) e por fim a representação do modelo com as adaptações. O primeiro ponto acrescenta uma camada de análise ao habitus do consumidor. Inicialmente, a bagagem cultural dos indivíduos ajuda a explicar como ele formula o objetivo de desenvolver a competência. Todavia, trazendo contribuições de outras áreas, podemos nos debruçar sobre as vivências corporais anteriores para compreender como elas formam um corpo habilidoso que encontra ressonância com o regime de gosto almejado. Tratando-se de uma prática que se baseia no uso ativo do corpo, podemos buscar em experiências prévias o desenvolvimento de habilidades motoras que são de certa forma similares com as contidas na competência desejada. As habilidades motoras são tarefas ou ações de movimento voluntárias, aprendidas e orientadas para um objetivo, que usam uma ou mais partes do corpo (GALLAHUE, et al 2013). Dominamos uma série de habilidade motoras ao longo da vida, algumas que são usadas diariamente como caminhar e outras mais específicas como dirigir ou tocar piano. Dentro dessas habilidades performamos uma série de movimentos, determinada como “característica do comportamento de um membro específico ou combinação de membros” (MAGILL, 2000, p. 7). As habilidades motoras são segmentadas de diferentes formas na literatura, mas para fins de ilustração explicaremos um tipo de classificação, a que recai sobre o grupo muscular utilizado. Algumas habilidades motoras recrutam grandes musculaturas, como é o caso das pernas em uma corrida, enquanto outras se utilizam de músculos menores, como o controle dos dedos no tocar piano. O primeiro grupo é denominado habilidade motora grossa, enquanto o segundo, habilidade motora fina (MAGILL, 2000). Se um indivíduo domina uma habilidade dessa segunda ordem, como por exemplo desenhar, ele terá maior controle da sua musculatura fina do que um outro indivíduo que não tenha aprendido nada semelhante. A nível intelectual isso se torna mais claro. Se dois alunos exemplares do ensino médio, um que apresenta suas melhores notas em ciências exatas e outro com melhor desempenho em ciências humanas, ingressarem em uma faculdade de engenharia mecânica, provavelmente o primeiro terá mais