UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS I NSTITUTO DE LETRAS
r. RACHEL TEIXEIRA VALENÇA
.,
PALAVRAS
DE
PURPURINA
ESTUDO LINGülSTICO DO SAMBA-ENREDO
(1972-1982)
DISSERTAÇAO DE MESTRADO
•
NITERúl
1983
PALAVRAS DE PURPURINA Estudo lingülstico do samba-enredo (19J2-1982)
RACHEL TEIXEIRA VALENÇA
Universidade Federal Fluminense Instituto de Letras 1983
,
PALAVRAS DE PURPURINA Estudo lingüístico do samba-enredo (1972-1982)
por RACHEL TEIXEIRA VALENÇA
Dissertação apresentada
ao
Instituto de Letras da Universi dade Federal Fluminense,
como
parte dos requisitos para obten ção do título de Mestre em Letras: Língua Portuguesa.
Orientador: Prof. Carlos Eduardo Falcão Uchôa
Niterói 1983
Ao SuetĂ´nio "Se acaso terminar O nosso sonho (
Ă‚
luz do dia
Eu rasgo a minha fantasia" -
dedico~
Em memĂłria de JosĂŠ Fernando Vasco de Figueiredo ainda sua risada no bloco de sujo de um carnaval sem fim.
-Ao Prof. Carlos Eduardo Falcão Uchôa, que, contra todas evidências, acreditou neste trabalho e em mim até o
as
último
momento;
A LÚcia Teixeira, paciente interlocutora da angústia
de
transpor para o papel um pedaço da minha vida;
- A Helena Christina Rigueira Cavalcanti de Lyra e Nádia
da
Costa Seckler, colegas da Casa de Rui Barbosa, sem
cuja
colaboração a tarefa de preparo do índice teria sido
mais
árdua;
A Alfredo Brito, colecionador e apreciador do samba das Escolas, que preencheu as lacunas do corpus;
- Â Prof~ Maria de Lourdes Cavalcanti Martini, atenta às
fa-
lhas administrativas da mestranda e incansável na tentativa de remediá-las;
umbeijo afetuoso de
(
AGRADECIMENTO.
SINOPSE
O samba-enredo como discurso de uma comunidade: origem e das Escolas de Samba. do ontem e hoje.
história
O samba-enre
Características
da linguagem do compositor popular: estudo do léxico do samba-enredo en tre 1972 e 1982.
, SUMÁRIO
1
Introdução
1
2
As Escolas de Samba - sua origem e seu significado cultural
8
3
Samba-enredo: mutação e resistência
31
4
Na boca do povo
66
5
"Virando a tristeza pelo avesso"
83
6
Conclusão
150
7
Bibliografia
155
8
Anexo
163
,
í
"Estão certos de que a vida de todo dia
é apenas urna ilusão, e que por
trás
dela existe a sólida realidade do sonho". (Werner Herzog, do filme Fitzcarraldo, 1983.)
1
INTRODUÇÃO
O ensino acadêmico da lingua portuguesa
limitou-se,dura~
te muito tempo, a eleger como objeto de estudo unicamente texto literário erudito.
Não obstante, pode-se dizer
o
que,
desde o século passado, os usos lingüisticos populares
sem-
pre despertaram, de formas diversas, o interesse dos estudio sos brasileiros.
Nos últimos anos, a literatura de folhetos
do Nordeste, por exemplo, tem sido alvo de excelentes
estu
dos, o que mostra o inicio do fim de um preconceito que
oca
sionou durante anos o esquecimento deste tipo de poesia
tão
importante, afora outras razões, por ser o documento de
um
registro lingüístico típico de uma região e de uma classe so cial. A Literatura de Cordel é, porem, um fenõmeno geograficamente afastado de nós, habitantes do Estado do Rio de ro.
Janei sido
Por isso, é de certa forma estranhável que tenha
ela o primeiro texto de produção artistica popular a despertar a atenção de nossos pesquisadores de formação acadêmica. Atentando para este fato e por ser ligada a um tipo de festação de cultura popular tipicamente carioca - as de Samba
mani
Escol~s
optei por encetar o estudo dos procedimentos
li~
güísticos caracteristicos da língua que veicula esta manifes tação, usando como corpus o samba-enredo. A uma observação superficial desse corpus, salta
aos
olhos imediatamente um traço que não se constitui propriamen te novidade: o compositor de samba-enredo demonstra uma ferência marcada por palavras rebuscadas,
por
pr~
construções
2 J
complicadas. explicada.
Esta característica tem sido apontada, mas nao Observei que nunca houve preocupação,
primeiro
em analisar minuciosamente em que consiste este "falar difícil";~,
segundo, em tentar localizar · as . causas deste compoE
tamento lingfiistico.
Eis precisamente as minhas intenções.
Debruçando-me sobre o samba-enredo, desde suas
origens,
que se confundem com as das Escolas de Samba, até J
nossos
dias, observei imediatamente que este rebuscamento das
le-
tras não é uma característica do gênero desde seus primeiros exemplos~
despojados.
Esses, ao contrário, eram extremamente simples SÕ nas décadas de 50 e 60 é que a tendência
empolamento chega ao climax, e na
década
e ao
de 70 e nos
anos
80 parece estar em curso uma simplificação das letras,
par~
lela à maior impetuosidade de ritmo e melodia. Logo, seria de se esperar que, ao delimitar o meu univer so de trabalho, optasse precisamente pelos sambasdas décadas
•
de 50 e 60, ricos em exemplos dos procedimentos lingfiisticos que pretendo estudar. -lo.
Entretanto, nao me foi possível fazê-
Num trabalho desta natureza, assume grande importância
a confiabilidade do corpus.
Era necessário basear-me
num
registro fidedigno dos textos a serem estudados, e em
rela-
çao aos sambas-enredo de 50 a- 70 isto é quase sempre impossível. Naqueles anos nao desfrutavam as Escolas de Samba do mes mo prestigio que hoje em dia.
Por esta razão, não
houve
qualquer preocupação de conservar de maneira sistemática material impresso e sonoro que testemunharia a produção compositores populares de então.
o dos
As pessoas que teriam tido
condições materiais de fazê-lo não o fizeram por nao
achar
3
que valesse a pena.
As pessoas que valorizavam
esbarravam em obstáculos de ordem prática:
o
material
por demais preo-
cupados com a própria sobrevivência, não lhes restavam recur sos para tal. Os próprios . compositores e demais componentes das
Esco-
las não tinham sequer consciência da imp9rtãncia do que vam fazendo.
•
est~
Acresce que o samba-enredo é um gênero transi-
tório, feito para ser cantado numa circunstãncia determinada - o desfile da Escola. - Se hoje adquiriu importãncia e é divulgado com insistência, a ponto de, antes do desfile, já da a cidade sabê-lo de cor, este e um fenômeno recente.
t~
Nos
,no s 5 0 e 60 não houve preocupaçao de preservar sua memória, de forma que, até nós, so chegaram exemplos esparsos,
frag-
mentos do que terá sido o discurso de um grupo de compositores atuantes na época.
Se sobreviveram, esses sambas,
taneamente registrados na memória do povo, terão, é suas
espo~
certo,
Mas quem nos garante que serao os mais re-
qualidades~
presentativos do comportamento lingüístico que desejamos estudar?! Por isso, nao nos restou outra opçao senao tomar
como
uniyerso de trabalho os sambas-enredo das Escolas que participaram do desfile do primeiro grupo nos anos compreendidos entre 1972 e 1982.
Porque foi a partir de 1972 que a
Asso-
ciação das Escolas de Samba do Estado do Rio de Janeiro passou a gravar anualmente, antes do carnaval, um disco com
os
sambas das Escolas participantes do desfile do primeiro grupo naquele ano.
Esta gravação é, pois, a versão oficial
cada Escola para seu samba.
de
4
'
Assim, nao se corre o risco de analisar uma letra
como
ela foi cantada vinte anos depois, conspurcada por modificações e acréscimos alheios à vontade de seus autores, o
que
seria uma falta de rigor imperdoável em um estudo desta natu reza.
Se tomarmos como exemplo um samba como Os Cinco
Bai-
les da História do Rio, de Silas de Oliveira, Ivone Lara
e
Bacalhau, feito para o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano para o carnaval de 1965, observaremos que, embora tenha tido inúmeras gravações, todas são muito res à data de sua apresentação na Avenida. apresentam divergências e variantes.
posteri~
Estas gravações
Em qual delas confiar?
Se isto é problemático para um samba, para cem a dificuldade e intransponivel. Afirmamos acima que nosso
corpus ficou delimitado entre
1972 e 1982 e inclui as gravações realizadas pela dos sambas das Escolas participantes do desfile do grupo.
· AESERJ primeiro
Cabe ressaltar que o nosso corpus se compoe de grava-
çoes e não de qualquer texto escrito.
Esta dificil decisão,
a que cheguei depois de não poucas hesitações, será discutida e justificada no corpo
do ~ trabalho.
Por enquanto,
basta
dizer que o samba-enredo é um texto cantado, feito para ouvido e não para ser lido.
ser
Ao ser composto, ao ser inscri-
to no concurso interno que cada Escola realiza nos meses que precedem o carnaval, visando à . escolha do samba vencedor que será cantado no desfile, seu autor não tem a preocupação escrevê-lo, nem em pauta musical,nem com as palavras da tra.
O que ele inscreve, o que ele entrega à Comissão
de lede
Carnaval de sua Escola é mera fita cassete onde, acompanhado de um ritmo rudimentar, ele próprio o canta.
Se
a
5
, felicidade AESERJ
de
vencer, seu
samba é gravado
no disco
da
pelo cantor oficial da Escola, o "puxador",
e
só então e tirada a letra, que acompanha o disco numa cartela. Este processo caracteriza a meu ver o texto oral. uma forma de registro mais perfeito do que o texto
Sendo
escrito,
porque nele se reproduzem também pausas, hesitações e entona çoes, o texto oral é, no presente caso, uma forma de preservar a veracidade da intenção dos autores, que contam com
a
melodia e com os _ instrumentos de ritmo para interferir na le tra pura e simples. Este aspecto do meu trabalho - a adoção de um
corpus
oral, gravado em fita magnética - e inusitado em se tratando de música popular, uma vez que, até o presente, os trabalhos sobre o tema se limitam a estudar as letras impressas cançoes, sem levar em conta que são parte de um todo
das indiss~
lúvel e que letra de música nao e nem será jamais igual
a
poema, pois exatamente a ausência de melodia lhe subtrai
um
elemento fundamental de análise e compreensao. Outro aspecto que talvez cause estranheza neste trabalho e a relativa escassez de citações de textos teóricos.
De · fa
to, limitei-me a utilizar apenas os que apresentavam relação direta com a matéria estudada.
Por se tratar de um tema
quíssimo estudado até agora, não é de admirar ainda a de material em que me pudesse basear.
po~
falta
Se a história das Es-
colas de Samba e a do samba-enr edo como gênero, ainda
que
precariamente documentadas, se encontram nos livros dos
pi~
neiros pesquisadores desse assunto, para a descrição da
si-
tuação atual do samba e das Escolas cont0 apenas com artigos
6
, de jornal e com entrevistas gravadas. Não creio, como alguns, que a preocupaçao teórica
seja
incompativel . com um tema popular, como o deste trabalho.
A-
credito, isto sim, que um instrumental teórico excessivo
e
mal utilizado, bem como um enfoque demasiado hermético, prometam a qualidade de qualquer trabalho,
com
independentemen-
te de seu tema. Não me preocupo, confesso, em evitar que o grande envolvimento que tenho com o assunto interfira no estudo.
Discordo
dos que julgam que num trabalho acadêmico não há lugar a paixão.
para
Apenas me abstenho de externar opiniões sem funda
mentação, da mesma forma que desprezei todos os dados que ca recessem de rigor científico. Para tanto, estabeleci a priori que os cento e vinte
sa~
bas que compoem o corpus seriam encarados e analisados em pé de igualdade, nao levando em conta elementos externos ao tex to, como, por exemplo, a biografia de seus autores.
Nesse
ponto, afastei-me de meu projeto inicial, que incluía um capitulo de entrevistas com compositores de Escolas de
Samba.
E justifico: os autores destes cento e vinte sambas não prestam a uma classificação única, seja racial, mica ou profissional.
se
socioeconõ
Assim, em 1974, a Portela
permitiu
que saíssem vencedores no concurso interno para a escolha do samba-enredo da Escola dois compositores brancos da
classe
média, dois elementos estranhos à comunidade e ao mundo samba.
Que fazEr diante deste dado?
fora do
~orpus?
Considerar este
Impossível, porque, ao levar em conta
do samba este
fato que é do meu conhecimento, comprometer-me-ia a conhecer
7
e analisar as circunstâncias de feitura e os dados da biogra fia dos compositores de cada um dos cento e vinte sambas que compoem o corpus. Agi então de maneira diferente e de pleno acordo com sabedoria popular.
Tracei em linhas genéricas o que
ser um perfil do compositor
julgo
de nossas Escolas de Samba, com
base nos depoimentos que colhi.
Mas, em relação ao
texto,
agi de acordo com a norma que rege o popular jogo do cuja história está tão ligada -à maioria de nossas vale o que está escrito. vado.
bicho, Escolas:
Ou, para ser exata, o que está gra-
Isto significa que analisei os textos acreditando
les, sem questionar a validade do discurso desse ou autor.
~
ne
daquele
como se os cento e vinte sambas pertencessem a
único autor,
a
o Compositor Popular, um ser alegórico
que teria um pouco de Martinho da Vila, um pouco de
um
ideal, David
Correia, um pouco de Zuzuca, .e assim por diante. Este Compositor, partideiro e sambista, tem a sua língua gem própria, cria o seu discurso, os seus clichês.
Estou
tentando debruçar-me sobre este texto e analisar o que
ele
tem a nos dizer, de maneira explicita ou implicita, sobre
a
vida e os anseios de seu autor e da comunidade que ele repre senta.
~
freqüente, nos sambas estudados, a menção a um "te
ma fascinante" a ser cantado por ele.
Ao dizer, nos
da proposição obrigatória na epopéia clássica, aquilo
moldes que
pretende cantar, é quase um lugar-comum do samba-enredo esta adjetivação:
tema fascinante.
Ao definir, nesta introdução,
o objeto do meu estudo, fascinante é também o tema que tenho diante de mim.
Ele dá samba.
Que eu possa desenvolvê-lo com
a correçao e a inspiração do meu Compositor Ideal.
2
AS ESCOLAS DE SAMBA - SUA ORIGEM E SEU SIGNIFICADO CULTUML
Por Escola de Samba se entende, atualmente, uma associaçao popular, recreativa e musical que tem como finalidade cípua a participação no carnaval.
pr~
Com esta denominação se de
signa também apenas o ponto do subúrbio ou do morro onde seus habitantes se reúnem "para suavizar com música a dureza da vi 1
da", no dizer de Edison Carneiro •
Mas a designação àbrangia
também grupos organizados apenas temporariamente pa.ra brincar o carnaval.
A estabilização progressiva de alguns desses
gr~
pos reforçou, porém, o objetivo primordial. Essa manifestação foi, em sua origem, essencialmente lar.
pop~
Enquanto as Grandes Sociedades reuniam a classe média,
comerciantes, artistas, escritores, enquanto os ranchos conta vam com a
particip~ção
de operários fabris, as Escolas de Sam
ba se formaram entre a população marginalizada, composta
de
pessoas sem profissão definida, quase todos remanescentes
da
desordenada migração rural· que sucedeu a abolição da escravatura.
A mão-de-obra trazida da Bahia para o Norte do
Estado
do Rio viera, com o declínio do Ciclo do Café, estabelecer-se na cidade grande, na capital, em busca de melhores des de trabalho e sobrevivência.
oportunid~
Também o fim da Guerra
de
Canudos trouxe para o Rio de Janeiro inúmeros ex-escravos,que haviam sido recrutados para dar combate a Antônio Conselheiro e, agora livres, migravam com suas famílias, ocupando as
are
as menos valorizadas do Centro da Cidade e os morros da peri/
feria. ~
no Centro, mais exatamente na região denominada
Cidade
9
O gr~
Nova, que vai ser cunhada a expressao Escola de Samba. po que faz uso dessa expressão não se diferencia em nada
de
muitos outros blocos carnavalescos que adotaram, na deéada de 20, uma maneira de brincar o carnaval sem tumulto, sem
a ar-
ruaçá típica do entrudo, dado marcante dos carnavais do seculo XIX e início do nosso século. Os ranchos carnavalescos foram os pioneiros desta modali dade de carnaval mais organizada, mais contida.
isso
Sobre
nos fala o cronista Jota Efegê nestes termos:
práticas
Logo depois que se renunciou as
grosseiras do "entrudo", do ensurdecedor marte larde bombos dos "zé-pereira" e dos
briguen-
tos "cordões", eles [os ranchos] surgiram dando nova feição aos festejos de Morno. Ao lado das chamadas "grandes sociedades", Tenentes, Fenianos e Democráticos, que também
tiveram
atuação cívica e política, foram fator de atra ção, nota feérica nos prélios carnavalescos. Derivando dos pastoris, os ranchos, do que· aqueles, profanaram seus mitos. ligiosidade da origem tomou feição
mais A
re-
recreativa
através de uma concepção alegórica. Tais influências negras e de suas
rel~g~
oes foram constatadas, igualmente, por Arthur Ramos. Embora reconhecendo "uma tendência ao seu gradual esquecimento", positiva suas
obse~
vações apontando traços totêmicos encontrados nos ranchos, guais sejam nomes de flores e
de
2
plantas .
E é justamente dos ranchos que as Escolas de Samba herda rao a estrutura, modificando apenas o ritmo, introduzindo no-
1o
vos elementos, e com o tempo apresentando um apelo popular im pressionante que poss.ibili tou seu crescimento, por alguns até mesmo excessivo.
considerado
Sobre as semelhanças e dife-
renças existentes entre os dois cortejos carnavalescos, ·vejamos o que diz o folclorista Edison Carneiro:
Tendo chegado tarde ao Rio de Janeiro, com as atenções populares já monopolizadas rancho, o samba, ao se organizar .em
I
pelo escola -
ou seja, quando deixou de ser uma diversão
do.
morro e da favela para percorrer ensurdecedora mente as ruas . cariocas - não se deu ao trabalho de criar para si uma forma especial de cor tejo.
Desenvolvimento do rancho na sua estru-
tura processional, somente o samba fez a diferença fundamental entre ranchos e escolas: diferenças de ritmo, de ginga, de evoluções e, demonstração de preferência popular, de número de figurantes.
Basta observar escolas e
chos, no domingo e na segunda-feira do
•
val.
ranCarna-
O abre-alas, as alegorias, a porta-estan
darte e o mestre-sala, os tenores, o dos ranchos têm a sua contraparte, muitas vezes de modo a mascarar a
enredo ampliada
semelhança
para o espectador menos atento, no
abre-alas,
nas alegorias, na porta-bandeira ~o na academia, .no enredo das escola ~
baliza,
Mas se os ranchos serviram de modelo às Escolas de ba; onde foram eles próprios buscar seu modelo?
Sam-
Já menciona-
mos de passagem o aspecto religioso que Arthur Ramos
aponta
na origem, mas somente o caráter totémico ligado às religiões africanas.
No entanto, esta forma processional adotada
pois pelas Escolas de Samba nos faz lembrar exatamente o tual católico das procissões em honra de santos.
deri-
Melo Morais
11
Filho assim as descreve em seu livro Festas e Tradições Populares do Brasil:
De Nossa Senhora do Rosário o formoso
se-
quito eram as Taieiras. Esse grupo, encantador e original, nha-se de faceiras e lindas mulatas,
compuvestidas
de saias brancas, entremeadas de rendas,
de
camisas finíssimas e de elevado preço, deixando transparecer os seios morenos, buliçosos
e
lascivos. Um torço de cassa alvejava-lhes a
fronte
trigueira, enfeitado de argolões de ouro e lacinhos de fita. [ ... ] E adiantada seguia a procissão nas ruas da vila, vencendo o itinerá rio estabelecido, ao som da música e das ções populares, onde o elemento 4 fundia-se com o profano.
can-
rel~gioso
con-
A forma processional deve ter sido adotada nos cortejos carnavalescos desde os primórdios da festa.
Na primeira
me-
tade do século XIX o pintor francês Jean-Baptiste Debret descreve, dentre as cenas da vida cotidiana no Rio de Janeiro, a seguinte:
J'ai vu, cependant, à la fin de mon séjour, se promener pendant le carnaval un ou
deux
groupes de negres masqués et déguisés
en
vieillards européens, imitant tres adroitement leurs gestes, lorsqu'ils saluaient, de
droite
et de gauche, les personnes aux balcons;
ils
étaient escortés par quelques musiciens . 5 leur couleur, egalement degulses.
de
12
Pode-se, desta forma, estabelecer a linhagem das Escolas de Samba: de procissão religiosa a grupo de mascarados,
de-
pois organizado em rancho e finalmente transformando-se
em
Escolas.
~a década de 20 era a Praça Onze a meca do samba.
E nas
suas imediações surge um grupo de sambistas interessado
em
agrupar-se para brincar o carnaval e para désfrutar juntos os folguedos do novo ritmo que se impunha, tendo em 1917 aparec! do pela primeira vez na etiqueta de uma gravaçao em disco: 6
samb a .
Como se reuniam nas proximidades da Escola
o
Normal,
localizada na esquina da Rua Machado Coelho com Joaquim Palha res, surgiu-lhes a idéia de dar a seu grupamento a ção de Escola de Samba.
denomina-
Assim, pretendiam que, enquanto
na
Escola Normal se aprendiam as disciplinas curriculares,
em
sua Escola seria possível ensinar o samba, matéria tão importante que nada ficava a dever às outras.
A denominação reve-
lava um propósito de conferir à sua matéria - o samba - impor tância, e a si próprios, aos que ali se congregavam, a condição de "professores".
A isto se mistura, segundo pensa o cro
nista Jota Efegê, a idéia, tão cara aos malandros da contida na palavra escolado: escola" significava, então, do pela Polícia' .
epoca,
'ladino, experimentado'.
"Ter
'ser experimentado, já ter passa-
Convém não esquecer que o rancho Ameno Re-
sedá, fundado em 1907 e desaparecido em 1941, se intitulava rancho-escola.
Isto demonstra que já é muito antiga e arrai-
gada no espírito dos foliões a pretensão didática, o fascínio da idéia de que, mais do que mero lazer, o que se
intentava
era a transmissão de conhecimentos. Não foi por outro motivo que os sambistas do
Estácio,
13
convencidos de sua superioridade sobre os demais sambistas da cidade, chamaram ao seu bloco escola de samba e deram-lhe sugestivo nome de Deixa Falar, porque a rivalidade já se esboçava corno um fator preponderante no mundo do
o
então samba.
Fica, portanto, patente que a Deixa Falar, ao ser fundada
a
12 de agosto de 1928, não apresentava, à exceção do nome,
na
da que a diferenciasse das outras agremiações
congêneres.
Idêntico a ela era o Fiquei Firme, do Morro da Favela, teve um tempo de vida inferior a dez anos.
que
Idêntico também o
Vai Corno Pode, de Oswaldo Cruz, fundado em 1923,
a
11
de
abril, mas que so passaria a se denominar Escola de Samba
em
1935, ano em que recebeu também, por sugestão das autoridades, o nome de Portela, inspirado em sua localização, na
Estrada
do Portela, já que o nome Vai Corno Pode foi considerado rebar bativo. Vemos, com isso, que a década de 30 generaliza a denorninação introduzida pelo pessoal do Estácio.
E parte,
para a institucionalização do próprio desfile.
mesmo,
Ele se organl
za pela primeira vez em 1932, patrocinado pelo jornal Sportivo.
Até então as Escolas se apresentavam
Mundo
espontanearne~
te, ou na Praça Onze ou em "visitas" às suas coirrnãs: era
pr~
tica cornunissirna na época urna Escola organizar um desfile para homenagear com urna visita outra Escola, que ficava devendo a visitante urna retribuição. A primeira competição entre sambistas teve lugar na casa de urna figura legendária do samba carioca: José Spinelli, conhecido entre os sambistas corno zé Espinguela.
Morava na Rua
Borja Reis, no Engenho de Dentro, era casado com urna rnae santo, mas freqüentava assiduamente o Morro da
de
Mangueira,
14
onde tinha uma amante.
A epoca era de rigorosa repressao ao
samba, atividade considerada caracteristica de marginais. Os sambistas eram obrigado? a valer-se do recurso de
promover
suas rodas e pagodes em casas de macumba, que tinham autorizaçao para funcionar livremente.
Eis por que a casa de
zé
Espinguela se tornou o centro da vida boémia na epoca. No desfile de 1932 a Deixa Falar já nao existe como Escola.
Passa a rancho, categoria considerada superior.
o inicio da década de 50 perdura a tradição de que a
Até Escola
que conseguir sagrar-se campeã um certo número de vezes passa a desfilar como rancho.
A campeã desse desfile de 32 foi
a Estação Primeira de Mangueira, originária do Bloco
dos
Arengueiros, presidido por zé Espinguela, do qual temos noti cias já no carnaval de 1927 e 1928.
Em
1928, a 30 de abril,
alguns meses antes, portanto, da Deixa Falar, e fundada
a
Mangueira.
o
SÓ que, como já observamos, não recebe ainda
imponente nome de Escola de Samba e durante alguns anos mais, quando se falar da Estação Primeira, notaremos uma oscilação quanto as classificações bloco/escola de samba. No ano de 1934, em janeiro, o jornal O Paiz promoveu um desfile de Grandes Sociedades, Ranchos, Blocos e Escolas Samba no Campo de Santana, em homenagem ao Prefeito Ernesto.
Foram cobrados ingressos e a renda arrecadada
assim distribuida: 35% para as Grandes Sociedades; 30% os Ranchos; 25% para os Blocos; 7% para as Escolas de e 3% para o Andarai Clube Carnavalesco 7 .
de
Pedro foi para Samba
Trata-se de um in-
teressante documento sobre a hierarquia de importãncia
dos
tipos de agremiações carnavalescas da época. A 6 de setembro de 1934 surge a União das Escolas
de
15
Samba, sob a presidência de Flávio de Paula Costa, da Deixa Ma lhar.
Como resultado desse importante passo, o desfile das Es
colas de Samba é oficializado em 1935 e não é difícil imaginar o que isto representou para o mundo do samba, -composto,
como
já se disse, de uma população em sua maioria socialmente marg! nalizada.
O reconhecimento oficial de uma produção
cultural
sua significava o fim de uma epoca que se pode resumir com frase histórica:
"Recebemos uma
den~ncia
a
de que aqui se canta
samba", invariavelmente acompanhada de severa repressão 8 . Podemos, porém, ver facilmente, por trás dessa medida, intenção das autoridades de controlar uma manifestação nea do povo, tornando-a, desta forma,
ino~ensiva.
a
espont~
Oficializa-
do e subvencionado o desfile, estaria afastado o suposto "peri go" oferecido por elementos suspeitos, que representavam ameaça à sociedade.
Assim como o professor que tenta
uma
aliciar
os alunos rebeldes, dando-lhes responsabilidades e posição
de
destaque na estrutura escolar, as autoridades "permitiram" que a gente do samba desfilasse nas ruas nobres do centro da cidade, desde que, e claro, esse desfile fosse regulamentado, que vale dizer organizado, contido.
Passam, pois, as
o
Escolas
de Samba de manifestação dionisíaca a apolínea 9 . O fato de os sambistas terem sido, nesse momento, obrigados a pagar um preço - a aceitação de um regulamento oficialização de seu desfile, medida que parecia
pela
reverenciar
ou reconhecer o valor da manifestação cultural, foi o
inicio
de um processo de concessões e de decorrentes transformações que é, ainda hoje, objeto de acirrados debates entre os que se d e bruçam sobre o fenõmeno ou estão integrados nele ~ O primeiro passo para compreender tais transformações e definir
como
16
se apresentava este grupo que foi sendo gradativamente unifor rnizado com a denominação de Escola de Samba.
Se
compreender sua essência, ternos de partir de duas
quisermos caracterís~
ticas básicas: comunitário e artesanal. ~
de grande importância compreendermos, desde já, que as
Escolas de Samba, a par de sua finalidade estritamente carnavalesca, representam para seus componentes urna forma de
la-
zer, de reunião, de atividade comunitária, que transcende caráter de mera agremiação de carnaval.
o
Quem julgar as Esco-
las pelo desfile que se realiza no domingo de carnaval
corre
o risco de incorrer em grave distorção.
Samba
As Escolas de
tinham - e têm até hoje - urna vida que fervilha durante o ano inteiro e que não se limita a atividades sociais, mas complicada política interna.
inclui
Desta vida participavam, na ori
gern, quase exclusivamente os membros de urna comunidade,
em
geral tendo em comum o lugar de moradia. Imaginemos gordas costureiras suando sobre cetins, lamês e babados plissados, em velhas máquinas de costura; bordadeiras esmerando-se em pontos complicados, em delicadas
tramas
para que o estandarte ou bandeira de sua agremiação superasse em beleza e originalidade a das rivais.
Imaginemos um
de senhoras, vizinhas, parentas, comadres, discutindo lhes para, dentro de suas poucas possibilidades,
grupo de ta-
enriq~ecer
sua fantasia de dama-antiga, confeccionada debaixo de rigoroso sigilo, não podendo ser vista nem pelos componentes das mais alas da mesma Escola.
E,
se~pre
âs voltas com dificulda
des e limitações financeiras, utilizavam seu talento rnentar - o culinário - para angariar fundos para suas singelas fantasias.
d~
cornple-
enriquecer
17
Os homens, por seu turno, dividiam entre si as tarefas de fabricar e encourar os instrumentos, de conceber e executar as alegorias.
E que belos exemplos de artistas populares,
artifices, marceneiros e escultores nao nos legou essa
finos ~poca!
Era com o sacrificio de suas horas de lazer que criavam,
mui-
tas vezes após uma jornada de trabalho árduo, suprindo com
a
inventividade e a imaginação as deficiências de material,
a
carência de recursos.
E naturalmente a única recompensa
que
podiam esperar era a satisfação pelo reconhecimento de seu esforço. Outros artistas se reuniam para criar os sambas (e ~poca
nessa
era mais de um) que a Escola cantaria durante o desfile.
Tamb~m
neste setor havia o sentido de cooperação e a noção au-
toral era bastante diluida.
Os sambas surgiam em pagodes, nao
se sabia exatamente quem o compusera, porque um entoava um ver so, o outro o modificava, um terceiro prosseguia, de tal forma que, ao final, era impossivel detectar de quem era o
samba.
Não havia ainda uma grande preocupação de registrar a autoria, porque isto nao representava rigorosamente nada em termos
pe-
cuniários. Quanto aos temas, as composições falavam da realidade cotidiana de seus autores: suas desilusões amorosas, a exaltação da natureza, o próprio samba.
Não havia, à epoca,
obrigatori~
dade de ligar o samba entoado no desfile ao enredo apresentado pela Escola.
A Escola cantava durante o desfile uma ou
composições, aprendidas na .quadra durante os ensaios que
mais prec~
diam o carnaval, e não era necessária a coincidência de temas: o samba era um pretexto para a Escola exibir suas sua bateria e suas evoluções
sua harmonia, enfim.
fantasias,
18
Quando esse grupo, que, pela identidade de seus interesses, realmente constituía uma comunidade, chegava ao local de . 10 b alanas
desfile, com seus passistas, suas pastoras e suas
entoando sambas magníficos ao ritmo delirante de seus instrumentos, podia orgulhar-se de sua condição, por ver que naquele momento - e só naquele momento - os traços que o guiam da sociedade eram valorizados.
Cores e corda
vam a condição de pertinência ao grupo.
11
marca-
Do lado de fora
corda, sem envergar as cores distintivas da Escola, os que, naquele momento, eram marginais.
distin
da
ficavam
Essa inversão momen
tãnea da estrutura social era grata ao sambista,
porque,
oriundo de um grupo marginalizado e oprimido, produtor de uma cultura reprimida até policialmente, encara a progressiva acei tação do samba como um fator de aceitação social. Prova disto é que os sambistas se apresentavam impecavel mente trajados de terno, roupa de "doutor".
No dia-a-dia ves
tiam suas camisas de malandro, lenço no pescoço, chinelo charlotte. Mas no carnaval, nao.
Porque então se acionava um me-
canismo através do qual a estrutura social era invertida. Para tanto era preciso trajar-se com esmero, ou, no Paulo da Portela, "ocupar pé e pescoço", o que
dizer
de
_significava
usar sapato fechado e gravata. Remanescente disto é em nossos dias, em alguns ainda, a Comissão de Frente das Escolas de Samba.
casos Ela usa in
dumentária tradicional, e nao fantasia; veste-se o mais
sun-
tuosamente possível, pois seu papel é apresentar a Escola,
r~
Convém observar que há, nos
comp~
nentes das Escolas mais tradicionais, clara resistência
ao
presentando sua diretoria.
costume moderno de apresentar-se a Comissão de Frente fantasi
19
ada.
Isto e considerado pouco digno e incompatível com a no-
breza de que deve ungir-se esse grupo. A título de ilustração, transcrevo um documento tão inte ressante quanto precioso: trata-se da descrição do carnava1 que a Escola de Samba Depois Eu Digo apresentou em 1935. titulava-se "Uma manhã ~o Salgueiro, o berço do samba''.
12
InA
descrição é feita pelos próprios dirigentes da Escola, que as sim se expressam:
1 ~ parte
Diretoria Comissão de Frente composta da da Escola, trajando terno branco e gravata ver de. Original abre-alas, confeccionado em
um
painel e iluminado com a linda paisagem do Mor ro do Salgueiro, destacando-se ao fundo o Monte do Sumaré, com suas casinhas toscas,
onde
tem servido de berço a vários criadores do saro ba de alta nomeada. Entra em seguida o corpo coral, organizado em duas alas, compostas de um grupo
escolhido
de pastoras fantasiadas de baianas, ninando p~ quenos bebês.
Ambos fantasiados com as
cores
verde e branco, precisamente as cores da nossa bandeira. Ao centro, destaca-se a porta-bandeira representando a Rainha do Samba da nossa escola, empunhando o nosso pavilhão, vindo
prestando
as honrarias o mestre-sala. 2~
parte
Ergue-se um soberbo caramanchão, abrigando um berço ricanente ornarrentado, representando o •nasciirento do samba, que é criado e cultivado com todas as honras do pandeiro, tamborim, cuica, surdo,
•
20
etc., rodeado de uma guarda de honra,
organiz~
da de pequenas baianas, que serão para o futuro, as substitutas legais do Corpo Coral. Em seguida vem a demonstração da vida morro, constando de um grande grupo de
do ambos
os sexos, na sua azáfama, desde o trabalho samba.
ao
As pastoras estarão carregando trouxas
de roupas para lavar; outras carregando
latas
com agua; outras ainda com feixes de lenha
na
cabeça; representando o serviço caseiro, sendo assim demonstrado o trabalho cotidiano do morro.
vers~
Nesse grupo se encontram também, os
dores e criadores do samba; que além do conju~ to de repentista, é representado por com fantasias diversas, até mesmo a
rapazes paisana,
tocando no chapéu de palha, pandeiros,
latas,
palmas, etc., demonstrando como é feito o
au-
têntico samba. Destaca-se no meio desse conjunto a
Fonte
da Inspiração; que é representada por urna
pila~
tra comum, com uma torneira, donde jorra
agua
natural, captada nas .colinas do Salgueiro,
em
homenagem à Natureza que dotou esse morro
com
grande abundãncia desse precioso liquido, _ que suaviza as gargantas ressequidas dos cantores. Ornamenta essa parte um grande número pequenas pastas, empunhadas por pessoas
de fanta
siadas, dando mais vida ao enredo, onde -·
nas
mesmas se vêem casinhas pobres e toscas. Candieiro a querosene representando a iluminação do morro; torneiras jorrando água, sendo
apar~
das por latas para os serviços domésticos. A iluminação, para fugir dos abatjours, que . . . . 113 Ja se t ornam corr1que1ros, sera- or1g1na .-
Este te x to nos possibilita entrever um tipo de
desfile
21
que muito pouco tem em comum com o das grandes Escolas de nos sos dias.
No entanto, um dado me despertou a atenção no rela
to, exatamente por sua atualidade: a expressão "samba autênti co".
A polêmica em torno do que é o samba autêntico é
uma
constante na história das Escolas de Samba, desde a discussão entre os _grandes compositores do samba-maxixe e os jovens positores do Estácio.
co~
José Barbosa da Silva, o Sinhô, repre-
sentante do primeiro grupo, afirmaria, numa entrevista
de
1930:
A evolução do samba!
Com franqueza eu nao
sei se ao que ora se observa devemos chamar evolução. Repare bem as músicas deste ano. Os seus autores, querendo introduzir-lhes novidades ou embelezá-los, fogem por completo ritmo do samba.
ao
O samba, meu caro amigo,
a sua toada e não pode fugir dela.
tem
Os modernis
tas, porém, escrevem umas coisas muito parecidas com marcha e dizem samba! a mesma coisa: ma 1 an d ragem " .
E lá vem sempre
"Mulher! Mulher! Vou deixar E n f'1m, nao f ogem d'1sso.
Essa preocupaçao autenticidade x evolução nao de existir nunca.
a
14
deixaria
Uma frase colhida de uma entrevista conce-
dida por Paulo da Portela ao Diário Carioca em 22/03/1933 nos mostra sua continuidade. decadência.
Ele afirma: "O samba não está
em
O que há é evolução e inovação de estilo!"
Isto
nos mostra que já naquela época- 1933! - havia quem se preocupasse com a evolução e a inovação como sinônimo de decadên~ cia.
E esta preocupação não se limitou, com o passar dos tem
pos, e x clusivamente ao âmbito do samba enquanto ritmo, dia e letra.
Também as Escolas iriam, com o passar
melo-
dos anos,
22
apresentando modificações substanciais.
~is
modificações
ap~
recem quase sempre ligadas ao fenômeno de progressiva
aceita-
ção das Escolas por parte da classe média.
radical
O mais .
e x emplo disto e o fato de, em 1960, ter ingresso numa
Escola,
Acadêmicos do Salgueiro, um artista plástico de formação
uni-
versitária, oriundo da zona sul do Rio e alheio, portanto, comunidade dos sambistas.
a
Atuando como carnavalesco da Escola
- o elemento que escolhe o enredo, o desenvolve em
alegorias,
fantasias e adereços - Fernando Pamplona trouxe para o seio da .comunidade um discurso que era alheio a ela. Também os valores estéticos afastaram-se do padrão resultante de uma atividade comunitária e artesanal.
Foram introdu
zidos elementos de efeito, corno a ráfia, que antes eram
despr~
zados pelos sambistas exatamente por sua simplicidade.
Os tra
balhosos bordados, belissimos se examinados de perto, mas
de
pouco impacto num desfile que era, mais e mais, assistido
a
distância,' foram cedendo lugar a materiais industrializados. E sendo ele próprio, carnavalesco, um profissional, instaurou na Escola o sistema de trabalho remunerado.
Graças ao
sucesso
obtido pela Escola nos primeiros anos da década de 60,
diante
de um júri também composto de pessoas da classe média, que
se
identificavam, portanto, com os padrões estéticos apresentados, mais do que com o "mau gosto" das concorrentes, com seus desfi les logo classificados corno "pesados", é
f~cil
concluir
as demais Escolas trataram de, na medida do possivel,
" imitar
os Acadêmicos do Salgueiro, adotando aos poucos o recurso profissionais das Artes estética suburbana.
Pl~sticas
que
a
como forma de "corrigir" sua
Atualrnente, rara é a Escola que nao
trata os serviços de profissionais, e quase todos os
conmais
23
atuantes carnavalescos de nossos dias estão ligados ao
grupo
inicial que trabalhou com Fernando Pamplona no Salgueiro. A década de 70 tentaria resolver o impasse surgido: à me dida que as Escolas, impulsionadas por seus carnavalescos
de
formação universitária e burguesa, se aproximavam mais e mais do gosto da classe média, quer por seus enredos, quer maior simplicidade dos seus sambas i
pela
- de que tratarei especi-
ficamente no próximo capítulo -,quer pela estilização de suas fantasias e alegorias, a classe média aderiu com prazer a manifestação cultural, originalmente suburbana e marginalizada. E sua entrada maciça nas Escolas agravou ainda mais a
perda
de identidade, o abandono do caráter comunitário e . .artesanal que apontei atrás.
O desfile, cujos ingressos, pagos, passa-
ram a ser disputados com ardor, mudou substancialmente.
Alas
inteiras de elementos estranhos à comunidade limitam sua participação ao desfile, sem manter com a agremiação · vinculo.
qualquer
Interesses comerciais imperiosos presidem à escolha
do samba-enredo de cada Escola, pois, com o sucesso alcançado por alguns sambas, tornou-se verdadeira mina de ouro ter
seu
samba cantado na Avenida. Seria desnecessário continuar apontando aqui as
caracte~
risticas das Escolas de Samba da atualidade e as decorrências da perda de identidade cultural de que foram vitimas.
Creio,
no entanto, que vale a pena estudar dois casos aparentemente diversos, mas reveladores de um mesmo fenômeno
- duas
Esco-
las que trilharam caminhos opostos na perda de suas características originais.
São o Grémio Recreativo Escola de
Samba
Beija-Flor e a União da Ilha do Governador. A Beija-Flor, Escola da cidade de Nilópolis, na
Baixada
'
24
Fluminense, foi fundada em 1949 e viveu durante quase duas dé cadas uma obscura existência de Escola pequena.
Somente
em
1974 ascendeu pela primeira vez ao desfile do primeiro grupo,
sagrando-se vice-campeã do grupo II em 1973 com o enredo "Edu cação para o desenvolvimento", com um samba que começava
. refrão
o verso "Vejam que beleza de Nação" e terminava no "Graças ao Mobral todos aprendem a ler".
com
Ai apresentou
em
seus dois primeiros desfiles - 1974 e 1975 - enredos patriótl cos, de louvação às.medidas governamentais: "Brasil ano
dois
mil" e "O grande decênio"; seus sambas afirmavam: "A ordem do progresso/Empurra o Brasil pra frente"
(ver samba n9 26,
no
Anexo) e "tembrando PIS e PASEP/E também o FUNRURAL/Que ampara o homem do campo/Com segurança total"
(44).
importante
É
notar que, numa época de forte . propaganda dirigida para o enal tecimento de um governo que mantinha sob censura a
imprensa,
e o pais sob o jugo de medidas de exceção, este discurso
e
tanto mais estranhável quanto as demais Escolas, se não ousavam a critica ao sistema, que, de resto, nunca fez parte
de
sua tradição, mantinham-se num discreto silêncio quanto
as
excelências do regime. Desta forma a pequena Escola contrariou o destino de suas irmãs que normalmente cumprem uma rápida passagem pelo I, para voltar ao grupo II, onde lutam por novo que lhes possibilite ombrear com as grandes. ao contrário, teve uma trajetória vertiginosa.
A
grupo
campeonato -Beija-Flor, No ano
segui~
te, 1976, explode, para surpresa _geral, com um belissimo desfile sobre o enredo "Sonhar com rei dá leão", pea.
sagrando-seca~
Os componen~es da vitória ficaram desde logo bem claros:
o talento do carnavalesco Joãozinho Trinta, oriundo
também
25
ele do grupo de Fernando Pamplona, que no início da década de 60 adaptara os Acadêmicos do Salgueiro ao gosto da zona
sul,
associado ao dinheiro do banqueiro do jogo de bicho Aniz Abra ão David, que patrocinava generosamente os gastos com o desfile.
faraônicos
Este binômio foi responsável por uma
mudança
de enfoque do carnaval, introduzindo no desfile características de show business, com mulatas em trajes sumários
sobre
'carros alegóricos gigantescos, trapizongas giratórias que nada têm a ver com o artesanato populari a interferência vida da comunidade é total:
na
basta ver que o carnavalesco in-
terfere na escolha do samba-enredo, fundindo vários
sambas,
em total desrespeito à criatividade do sambista. O mais grave é que, devido ao sucesso alcançado pela Esco la diante de um júri que via de regra achava deslumbrante resultado de todos esses
~quívocos,
as demais Escolas
o
passa-
rama imitar, quase sempre com menos talento e menos dinheiro, o que a Beija-Flor fazia.
As pequenas Escolas passaram a ter
i como aspiração justamente arranjar um "dono" que lhes tirasse qualquer autonomia, qualquer · capacidade de decisão, que
des-
respeitasse o trabalho de seus compositores, que não os
dei-
xasse opinar na criação e confecção das fantasias, e que, mediante poder econômico, profissionalizasse a atividade de
la
zer do sambista. Houve, no entanto, uma pequena Escola, a União da Ilha do Governador, que, reagindo a essa imposição dos tempos, conseguiu manter-se entre as grandes.
Fundada em 1953, somente em
1975 conseguiria subir ao primeiro grupo, de onde não saiu.
Sua fÓrmula para o sucesso era exatamente oposta a
..
Beija-Flor: a pobreza, o despojamento, a simplicidade.
mais da Esta
26
fórmula nao era, porem, autóctone: fora trazida para a Escola pela carnavalesca Maria Augusta Rodrigues, também ex-participante do grupo que aprendera com Fernando Pamplona nos Acadêmicos do Salgueiro nos primeiros anos da década de 60.
"Bom,
bonito e barato", eis como a Escola se autodefiniria em enredo de 1980.
Esse despojamento, essa elegância
seu
di screta
em suas fantasias sem brilho, embora tenham conseguido
como-
ver o público da Avenida - gente de classe média e alta,
já
que as classes populares foram afugentadas pelos altos preços dos ingressos - e os jurados, não é do agrado do
autêntico
sambista, que gosta de vestir-se suntuosamente,
empregando
sua criatividade para conseguir os mais belos efeitos
dentro
de seu limitado orçamento. Por isso, a proposta de Maria Augusta, embora menos pred~ tória, me parece tão afastada dos anseios do sambista a de Joãozinho Trinta.
quanto
A percepção desses equívocos é
que
levou os sambistas a reagir contra esta euforia de participação de elementos estranhos à comunidade.
Em 1975, funda-se o
Grémio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba
Quilombo,
advertindo em sua proclamação: "Estão tomando o lugar dos dadeiros sambistas.
Quilombo é um núcleo de resistência con-
tra as deformações que vêm afetando a arte popular ra" 15 .
ve~
brasilei
Escola não alinhada, o que significa que nao partici-
pa do desfile oficial promovido pela RIOTUR, Quilombo não parece haver preenchido os anseios da maioria dos sambistas cariocas, tanto que não teve adesão maciça nem imitadores.
É
dentro de suas antigas Escolas, injetadas de arrivistas,
que
os sambistas mantêm a luta pela preservação de suas caraterls ticas.
27
Esta história das Escolas de Samba, que passa por fases de luta pela imposição, de aceitação, e finalmente de euforia participação, nos mostra que elas são, na verdade, bem fortes do que supomos. fragilidade -
Freqüentemente se atribui a elas
"As Escolas de Samba estão morrendo" - que,
lizmente, é mais fantasiosa do que real.
Não admira: sao coisa do povo.
mais urna fe-
Elas estão bem vivas
e dão, deste ou daquele modo, provas impressionantes de vigor.
de
seu
28
2.1
NOTAS
1 Cf. Edison Carneiro, A sabedoria popular, p. 113. 2 Jota Efege, Ameno Reseda, o rancho que foi escola, p. 19.
«2) Edison
Carneiro, "Prefácio" a Ameno Resedá, o rancho que foi
escola, p. 16. 4 Melo Morais Filho, Festas e tradições populares do Brasil, p. 73-4.
5 Apud Luis D. Gardel, Escolas de samba, p. 6. 6 Refiro-me a Pelo telefone, de Donga e Mauro de Almeida, gravado na voz de Baiano pela Casa Édison do Rio de Janeiro 1917.
em
Não é inquestionável que tenha sido esta a primeiva vez
que a designação samba aparece impressa num selo de disco.
No
entanto, Pelo telefone é considerado historicamente o primeiro samba registrado em disco, por ter sido o primeiro a ser divulgado como um ritmo novo.
Cf. sobre isto Edigar de Alencar, Nos-
so Sinhô do samba, p. 24, nota 3. 7 Estes dados se encontram na História das escolas de samba, de Sérgio Cabral, Fasciculo 3. 8 Sobre a repressao ao samb a, ver o depoimento de Juvenal
Lo-
pes, antigo mestre-sala da Deixa Falar e ex-presidente da
Es-
tação Primeira de Mangueira nos anos 60, no Fasciculo 2 da História das escolas de samba, de Sérgio Cabral.
são igualmente
testemunho deste fato os seguintes versos do sambista Salvador Correa: "Estava na roda do samba/Quando a policia chegou/Vamos acabar com este samba/Que seu delegado mandou".
29
9 Mário Pontes desenvolve esta idéia em "Os triunfos de Apolo
e o adeus de Dionisio", em Cadernos de jornalismo e comunicaçao.
Especial Carnaval, janeiro/fevereiro 1973, p. 9-14.
10 A grande importância que tiveram as alas de baianas em nos
sas primeiras escolas pode ser depreendida da leitura de
"A
ala das baianas pede reforço", de Francisco Duarte, publicado em O Globo de 3/2/79. 11 Devo esta observaçao ao antropologo Roberto da Matta, que, tendo tomado parte, juntamente comigo e com a socióloga Maria J~lia
Goldwasser, da mesa-redonda "O carnaval e as mascaras
do cotidiano", no Colóquio Franco-Brasileiro de Sociõlogia do Cotidiano,
Men-
promovido pelo Centro Universitário Cândido
des em maio de 82, ali a expôs de maneira brilhante. 12 Emprego aqu1. a pa 1 avra carnava 1 nao . . para d es1gnar os
três
dias de folia que precedem a quarta-feira de cinzas, mas
sim
no sentido complementar, não dicionarizado, que lhe dão
os
sambistas e componentes das Escol<?-s, referindo-se ao
enredo
escolhido para o desfile, o plano da apresentação na Avenida. É comum ouvir-se,
por exemplo: "A Vila está com um
carnaval
muito luxuoso" ou "A Portela apresentou um carnaval magnifico". Este emprego da palavra carnaval foi esclarecido pela primeira vez, que eu saiba, por Nonato
Masson em "Brasil pra
seu
governo- Escolas de Samba, escolas de show", Jornal do
Bra-
sil, 14/2/64. 13 Este relato se encontra na História das escolas de samba, de Sérgio Cabral, Fasciculo 3.
'
30
1 4 Este trecho da entrevista ĂŠ reproduzido por SĂŠrgio Cabral
em seu livro As escolas de samba; o que, quem, corno, quando e por
que~
p. 35.
15 Cf. Candeia & Isnard, Escola de samba, arvore que esqueceu a raiz, p. 88.
3
SAMBA-ENREDO
MUTAÇÃO E RESIST~NCIA
O primeiro exemplo de samba que se desenvolve a partir de um enredo parece ter sido o Homenagem que o compositor Carlos Moreira de Castro, o Carlos Cachaça, fez para a Mangueira 1933.
Louvava Olavo Bilac, Castro Alves e Gonçalves
Dias,
poetas homenageados pela Escola em seu enredo daquele ano.
f
Recordar Castro Alves Olavo Bilac e Gonçalves Dias E outros imortais Que glorificaram nossa poesia Quando eles escreveram Matizando amores Poemas cantaram Talvez nunca pensaram De ouvir os seus nomes (
Num samba algum dia
E se esses versos rudes Que nascem e que morrem No cimo do outeiro Pudessem ser cantados Ou mesmo falados Pelo mundo inteiro Mesmo assim como sao Sem perfeição Sem riquezas mil Essas mais ricas rimas
em
32
São provas de estima De um povo varonil
Recordar Castro Alves, etc.
E os pequenos poetas Que vivem cantando Na verde colina Cenário encantador Desse panorama Que tanto fascina Num desejo incontida Do samba querido
A glória elevar Evocaram esses vultos Prestando tributo Sorrindo a cantar.
De ritmo lento e cadenciado, muito pouco semelhante ao que conhecemos hoje, mas em perfeito acordo com o tipo de
desfile
das Escolas à epoca, este samba inovador passaria despercebido.
~ bem verdade que o samba não canta descritivamente o da Escola:
enredo
os poetas "imortais" são mero pretexto para
· . que
"os pequenos poetas/que vivem cantando/na verde colina"
apre-
sentem em seus "versos rudes" o "desejo incontida/do samba qu~ rido/à glória elevar".
Este tema, a necessidade de
elevação
do samba, é desde sempre grato aos sambistas e o Homenagem falar de passagem nos poetas eruditos foi interpretado como mero acaso, e não como modelo a ser seguido.
Prova disto é o depoi
mento que logo a seguir, em 1935, registra o
musicólogo
33
Brasília Itiberê, em uma crônica reproduzida em seu Mangueira, '
l·.
Montmartre e outras favelas.
Man-
Ao descrever um ensaio da
gueira a que assistiu levado por Mestre Júlio, diretor de harmonia da Escola, ele assim se expressa:
As percussoes aumentam de intensidade e, su bito, como uma martelada de bigorna as vozes ir rompem estridentes, guturais, maravilhosamente primitivas.
[ ..• ] Mas por que só cantam aspas-
toras e as crianças?
E estão calados os homens?
E que as vozes masculinas só intervêm nos solos
- .que nos ensaios têm um caráter de
improvisa-
ção, sem uma seqUência lógica nem, sequer, ligação tonal com a parte coral.
uma
Às vezes, pe-
la diferença do texto e disparidade do
desenho
melódico, esse solo chega a ser um corpo estranho dentro do próprio samba. [ •.. ] SÓ mais tarde, nos ensaios gerais que precedem o desfile na Praça Onze, o compositor dá o caráter definitivo à parte solista que, em geral, resulta mais fraca e raramente perde o aspecto de impr~ visação. Nessa noite surpreendente, a verdade me chega direta, pura como água colhida na fonte.
E fonte milagrosa, pois, já há alguns
mo-
mentos, venho constatando essa coisa prodigiosa: toda vez que, após o solo, o coro volta à melodia principal, retoma a tonalidade
primitiva
com uma precisão absoluta, como se houve~se obe decido a um diapasão misterioso.
Como são mui-
tos os compositores e existe um grande
numero
de sambas, pergunto a Mestre Júlio qual o crité rio da escolha.
Ele explica:
[ ... ]
O composi-
tor tira o samba e canta para eu ouvir. meira escolha é minha. novo para as pastoras. tando, lá de fora.
A pri-
Depois, ele canta de A criançada está escu-
Se gostam e repetem com
zer, o samba está adotado. [ ... ]
Agradeço
pr~
a
34
Mestre Júlio essa lição de pedagogia musical .
. . . . . . . .. . . . . .. . . .. .. .. . . .. .. . . . . . .. . . . . . . . . . . . O coro ensaia agora um novo samba de formi dável ímpeto dinamogênico.
É o que eles
cha-
mam de samba de influência, para o desfile Praça Onze.
É ritmo puro.
na
Melodia curta e in
cisiva, para despertar a euforia, e
pretexto
para uma exibição coreográfica do baliza e 1 porta-estandarte.
da
Assim se apresentava naquela época o samba de desfile das Escolas: coral na primeira parte, improvisação na segunda, n~ nhum compromisso com o enredo apresentado pela Escola,
nem
mesmo qualquer obrigatoriedade de apresentar-se no desfile um único samba.
Ainda da década de 30, mais exatamente de 1936,
é o samba Natureza bela do meu Brasil, de Henrique Mesquita e Felisberto Martins, compositores do Grêmio Recreativo de Samba Unidos da Tijuca.
Escola
Mais do que um enredo, é este
tema apresentado durante o desfile - e não temos certeza que era o único.
o de
E pode-se notar ainda que o samba é autocen
trado: é mais uma vez de si que o poeta está falando, enquanto descreve o que ve, o que sente, o que faz.
Natureza bela do meu Brasil Queira ouvir esta canção febril Sem voce nao tenho as noites de luar Pra cantar Uma linda canção ao nosso Brasil
É um sambista apaixonado
Quem lhe pede, natureza,
35
As noites de luar Que vive bem perto de voce Mas sem lhe ver ..• Eu vejo as águas correndo E sinto meu coração palpitar E o meu pinho gemendo Vem minha saudade matar
Foi somente na década de 40 que se generalizou a prática de as Escolas apresentarem samba e enredo coerentes.
Cabe
à dupla Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola a glória
de
ter imposto, em 1946, na Escola de Samba Prazer da Serrinha, esse
que daria origem no ano seguinte ao Império Serrano, marco que modificou o rumo dos desfiles.
Assim se expressa-
ram eles em entrevista concedida ao jornalista José Rego em
Carlos
9/10 de janeiro de 1972:
f'
Até então as Escolas iam disputar na Praça Onze com um de seus sambas de terreiro. NÓs resolvemos fazer o contrário, estabelecer enredo e escolher o samba.
Assim surgiu Con-
ferência de São Francisco, contando o
encon-
tro dos presidentes Roosevelt e Getúlio gas.
Até então os sambas de desfile só
nham primeira parte.
o
Varti-
Ao final dela se impro-
visava [sic] v e rsos conforme a circunstância samba do momento. Nós fizemos o primeiro com segunda parte, historiando um só
aconte-
. to 2 clmen
Já vimos que antes do Conferência de são Francisco houve outros e x emplos de sambas com segunda parte sobre
um
so
36
acontecimento.
O crítico José Ramos Tinhorão, na sua Pequena
3 história da música popular , menciona que já em 1942 a Escola compos~
de Samba Depois Eu Digo cantou no desfile um samba do
tor Pindonga cujas duas partes se referiam ao enredo . da Escola, em homenagem à primeira dama do pais, D. Darei Vargas,
m~
tivado pela criação da Casa do Pequeno Jornaleiro. E no estu 4 do Com Pandeiro, cuica, Surdo e Tamborim · , mais recente, o mesmo Tinhorão aponta um samba de 1938, da Azul e Branco, que se apresentava de acordo com o enredo.
Mas estes
exemplos
nao invalidam a idéia de que foi justamente o Conferência
de
São Francisco, em 1946, que tornou obrigatória a fórmula.
Restabeleceu a paz universal Depois da guerra mundial Com a união entre as Américas Do Sul, Norte e Central Nunca existiu outra igual Na vida internacional
Nosso Brasil sempre teve interferência Nas grandes conferências Da paz universal Sendo o gigante da América Latina Uruguai, Paraguai Bolívia, Chile, Argentina
Nunca e demais lembrar que as Escolas de Samba vinham desenvolvendo uma trajetória interessante em direção a uma acei tação progressiva por parte da população socialmente privilegiada da cidade.
Se a princípio eram a única
forma
de
37
expressao da população pobre e marginalizada, em termos de tra balho, moradia e lazer, tendo chegado a ser reprimida pela policia, num segundo momento o sistema tratou de conceber forma disfarçada de controlar urna manifestação que de
urna certa
forma representava para ele urna ameaça: a oficialização do des file das Escolas de Samba, que, corno já vimos, se deu em 1935. Esta medida, que em sua superficie parecia protetora, custaria às Escolas um alto preço, porquanto a oficialização trouxe
em
seu bojo, gradativarnente, urna série de transformações impostas por um regulamento que determinou, entre outras medidas, a lirnitação do espaço e do tempo de desfile, com todos os
probl~
mas dai decorrentes. acompanhou
O samba-enredo, corno nao podia deixar de ser, pari passu essas transformações.
Não devemos esquecer que ele
e o discurso de urna camada significativa da população da cidasociais
de, não podendo, manter-se alheio às transformações que se verificavam.
Foi através do samba que nao so o
malandro
corno todo o mundo negro e proletário urbano se Isso nao deu a conhecer às classes dominantes. mudou fundamentalmente nada nas relações de
pr~
dução, e também não mudou muita coisa na situaçao económica daqueles sambistas que
desponta-
vam do Estácio por volta de 1930, vendendo suas criações a preço de banana ou recebendo irrisórios direitos autorais.
Mas foi por ai que
se
abriu às classes populares um inestimável canal de expressão.
Com o samba da malandragem nasce
rarn as escolas e seus desfiles pelo num itinerário que quase sempre foi com orgulho e satisfação por seus
asfalto, percorrido componentes
•
38
proletários, habitualmente relegados à das avenidas.
margem
Como dizia Ismael Silva, a moda
lidade de samba do Estácio nasceu da necessida de de um ritmo que possibilitasse o caminho, o movimento do bloco que quer passar.
5
Assim, o samba-enredo se apresenta a princípio ainda curto, objetivo, singélo, resquicio do velho tempo dos sambas de uma só parte.
Mas à medida que o desiile das Escolas se
vai
tornando mais luxuoso, mais sofisticado, à medida que os sambistas, antes vestidos à vontade, começam a se apresentar fa~ tasiados ou envergando impecáveis ternos brancos, o samba-enredo também começa a cobrir-se de enfeites. Não é dificil perceber o significado desta atitude.
Viti
ma de repressão e depois de uma falsa aceitação que, ao
ten-
tar
con~er
o sambista num espaço e num tempo previstos,
tor-
nava seu comportamento menos espontãneo e portanto mais afastado de sua origem, marcadamente popular, para aproximá-lo de padrões que nao eram os seus, esse sambista adota
[ ... ] uma estratégia popular de resistência, onde, procedendo por avanços e recuos, escaramuças e escamoteamentos, reage-se à exclusão e 6 firma-se uma identidade.
Essa estratégia levou os pioneiros sambistas a nao var as diferenças existentes entre eles e seus possíveis
agraes-
pectadores de outras classes sociais, aprofundando o " abismo. Ao contrário, ocorreu-lhes igualar-se por mimetismo às ses socialmente aceitas.
elas-
Julgaram malandramente que, falando
e se vestindo de outra forma, teriam mais chance
de
ser
39
aceitos.
Não que pretendessem fazer isto o ano todo, mas
ao
menos no carnaval procederiam a uma inversão da estrutura social: dentro da corda, usando as cores da Escola, estaria
o
sistema, enquanto que a não-pertinência ao grupo caracterizaria a marginalidade.
O carnaval seria, como se ve, esse
esp~
ço de inversão. Prova disto, por exemplo, é a declaração de Ismael
Silva
de que, enquanto durante o ano usava camisa listada e chinelo charlotte, no carnaval envergava um impecável terno roupa de doutor.
Paulo da Portela fazia a seus
branco,
· companheiros
de Escola a exigência de no desfile "ocupar pé e pescoço",
o
que significava, como já vimos, usar sapato fechado e gravata. É evidente a preocupação de passar por homem de bem,
abando-
nando a imagem de malandro, a pretensa periculosidade. Que os sambistas desejavam, com a· aceitação de sua produçao cultural, sua própria aceitação social, fica claro a
uma
simples análise de algumas letras de sambas da epoca, como já mencionado Homenagem, de Carlos Cachaça.
o
O poeta classifi
ca seus versos de "rudes" e "sem perfeição", chama a si
pro-
prio e a seus companheiros de "pequenos poetas", mas, por outro lado, fica claro a quem lê o desejo de que os sambas "pudessem ser cantados/ou mesmo falados/pelo mundo
inteiro", da
mesma forma que transparece o "desejo incontida/do samba querido/~
glória elevar".
Igualmente
transp~rece
a ingênua vai-
dade do autor ao afirmar que os poetas imortais, quando
escr~
veram seus versos, "talvez nunca pensaram/de ouvir os seus no mes/num samba algum dia". Cabe acrescentar a essas observações um arguto comentário
40
de José Miguel Wisnik, a respeito de um verso de um samba
de
Paulo da Portela, que corrobora o que se vem tentando mostrar:
"Sambista, anteprojeto de artista" - diria Paulo da Portela num dos seus sambas, indicando o desejo de reconhecimento e cidadania anima parte da cultura negra a buscar no sistema sociocultural. 7
que
posição
~ sintomático também o fato de haverem as agremiações pr~
gressivamente trocado suas denominações originais por
outras
que lhes conferissem caráter menos plebeu, mais "distinto". A Portela, por exemplo, chamava-se originalmente, como já vimos, Vai Como Pode, denominação que permite entrever o caráter espontãneo e improvisado do desfile.
Na década -de 30, com
a
oficialização do desfile e a preocupação de ''limpar" o samba, recebeu da Estrada do Portela, onde ensaiava, sua denominação atual.
São decorrência dessa mesma intenção de conferir
breza ao samba os substantivos Acadêmicos, Império e
no-
~mpera-
triz ligados aos nomes das agremiações, como para atenuar com o titulo o impacto causado pelo toponimico, quase sempre morro (Salgueiro, são Carlos) ou subúrbio (Santa Cruz, Leopoldina) .
É interessante observar também que os nomes das
alas
mais tradicionais de nossas Escolas espelham essa preocupaçao de se atribuir nobreza ou importância: Ala do Conde, Ala
dos
Nobres, Ala da Corte ou Ala dos Impecáveis, Ala das Caprichosas do Samba (cujos nomes atestam o cuidado que se por na atividade carnavalesca) .
deveria
Ou ainda o prestigio que go-
zam em quase todas as Escolas as Alas dos Universitários dos Estudantes, cujos componentes quase sempre deixaram
e há
•
41
muito os bancos escolares, infelizmente sem obter qualquer di ploma. ~
A preocupação em ser socialmente aceito influenciou bém, durante muitos anos, a escolha dos enredos das
tam-
Escolas.
Nos primeiros anos de sua existência, o sambista era
livre
para cantar em suas composições a natureza, o amor, as desilu sões dele decorrentes, o próprio samba.
Foi somente em
1939
que, com a mentalidade ufanista instaurada pela ditadura
do
Estado Novo, se impõs às Escolas a obrigatoriedade de temática nacional.
Ficou logo marcada a preferência dos composito-
res por temas históricos e literários, tomando sempre
como
ponto de referência a cultura "branca", oficial.
con-
Isso
transtava estranhamente com o caráter marginal das Escolas de Samba à época, como já foi apontado na
~egunda
parte.
Não
tão estranhamente, se nos ativermos à nossa idéia bãsica: falar da cultura branca era mostrar-se capaz de ascender ao nivel dela.
E dava margem ainda a que o componente se apresen-
tasse durante o desfile na pele de reis, princesas, heróis ... Ao menos durante o desfile é preciso ser rei, "jogando fora a roupa do dia-a-dia".
8
Acompanhando a evolução das Escolas, o samba-enredo
vai,
portanto, abandonando aos poucos sua singeleza original e, medida que os componentes começam a vestir-se com
a
- f.antasias
luxuosas, à medida que as alegorias e adereços se tornam mais elaborados, também o compositor reveste de riqueza seu
lingu~
jar, para mostrar-se à vontade num
parece
fascinante, ainda que escorregadio.
terreno que lhe Não é dificil ver
nessa
intencional preocupaçao com o luxo a necessidade de evasao de um cotidiano pobre em todos os sentidos, sobretudo
em
42
perspectivas de solução, aliada à já sobejamente mostrada necessidade de ser socialmente aceito pelas classes que antes o marginalizavam. Nos anos 50 populariza-se um tipo de samba-enredo que
se
tornaria popularmente conhecido como lençol: desenvolve um te ma histórico de maneira detalhada, com datas e nomes tos e caracteriza-se por sua extensão.
comple-
Poderíamos citar inú
meros exemplos desse tipo de samba, mas limitamo-nos a reproduzir aqui o Grande Presidente, samba que o compositor Padeirinho fez para a Estação Primeira de Mangueira em 1955.
No ano de mil oitocentos e oitenta e três No dia dezenove de abril Nascia Getúlio Dorneles Vargas Que mais tarde seria o governo do nosso Brasil Ele foi eleito a deputado
9
Para defender as causas do nosso país E na revolução de trinta ele aqui chegava Como substituto de Washington Luis E do ano de mil novecentos e trinta pra :ca Foi ele o presidente mais popular Sempre em contato com o povo Construiu um Brasil novo Trabalhando sem cessar Como prova em Volta Redonda, cidade do aço, Existe a grande siderúrgica nacional Tendo o seu nome elevado Em grande espaço Na sua evolução industrial
43
Candeias, a cidade petroleira Trabalha para o progresso fabril Orgulho da indústria brasileira Na história do petróleo do Brasil Salve o estadista Idealista e realizador Getúlio Vargas O grande presidente de valor.
Em meio a tantas lições de História, ainda se encontram, nessa década, exemplos de sambas que louvam exatarnente a ascensão do gênero.
É corno se o sambista se preocupasse em re
gistrar, ao lado da História do Brasil, a história da
luta
obscura dos negros e mulatos de nossos morros para impor sua cultura.
Mas essa história é contada sempre do ponto de vis
ta da cultura branca.
Por isso o samba só alcança o
privil~
gio de ser enredo, numa fase tão "histórica", porque se controu um motivo para tal: . a homenagem ao prefeito Pedro nésto.
O samba em questão é da Escola de Samba
enE~
_ Acadêmicos
do Salgueiro, que o cantou em seu segundo desfile, no carnaval de 1955.
Seus autores sao Duduca, Bala e Juca e se inti
tula Epopéia do Samba:
Exaltando A vitória do samba em nosso Brasil Recordamos O passado de infortúnio quando o qual surgiu Porque não queriam chegar à razao Queriam eliminar
44
Um produto genuino da nossa naçao Foi para a felicidade do sambista Que se interessou por nosso samba O eminente Doutor Pedro Ernesto Batista Que hoje se encontra no reino da Glória Mas deixou na terra Portas abertas para o caminho da vitória
6 ô ô ô ô ô ô ô ô A epopéia do samba chegou Foi em nossa antiga Praça Onze Que os sambistas de fibra Lutaram pra vencer Uniram Salgueiro, Mangueira, Portela, Favela, Estácio de Sá Resolveram persistir Até a vitória chegar Hoje o nosso samba é feliz Em qualquer parte do mundo Nós podemos cantar Lá lá lá lá lá lá Contra o samba ninguém mais lutará
Já em 1955 a Praça Onze era c.oisa do passado e o samba se situava em sua fase de aceitação.
O compositor, com seu exa-
gero caracteristico, exalta "a vitória do samba".
E o
faz,
como convém, falando dificil: o pronome relativo o qual, deno tador de erudição, tinha de ser usado, ainda que sem valor relativo:
nenhum
•
45
Exaltando A vitória do samba em nosso Brasil Recordamos
o passado de infortúnio quando o qual
[=
ele,
o samba] surgiu.
E se o compositor se permite nesse momento cantar a vitólugar
ria do samba em detrimento de outros ternas que tinham
de honra no mundo dos espectadores que ele almeja conquistar, e porque sente que sua luta tem tido algum resultado, que
o
próprio samba já tem em si para esse espectador algum encanto, mesmo quando não fala de D. João VI, Tiradentes ou Castro
Al
ves. A década seguinte assiste a uma importante transformação: exatarnente em 1960 Fernando Parnplona, artista plástico de for mação universitária, assume na Escola Acadêmicos do Salgueiro o papel de carnavalesco, . responsável pela escolha e desenvol virnento do enredo.
Até então houvera urna identidade de
dismesma
curso: o carnavalesco e o compositor, se nao eram urna
pessoa, eram membros da comunidade, com o mesmo grau de . instrução e condições de vida idênticas.
A partir deste
momen-
to, o carnavalesco impõe ao compositor seu discurso, o discur so de urna pessoa estranha à comunidade e diferente dela. Paradoxalmente, é neste momento que o sambista retorna discurso de sua cultura. enredo Zumbi dos Palmares, e Noel Rosa de Oliveira:
O Salgueiro apresenta na Avenida
o o
cantando um belo samba de Anescar
46
Nos tempos em que o Brasil ainda era Um simples pais colonial Pernambuco foi palco da história Que apresentamos neste carnaval Com a invasão dos holandeses Os escravos fugiam da opressão E do jugo dos portugueses Esses revoltosos Ansiosos pela liberdade No arraial dos Palmares Buscavam a tranqüilidade
6 o o ô o o Surgiu nessa história um protetor Zumbi, o Divino Imperador Resistiu com seus guerreiros em sua Tróia Muitos anos ao furor dos opressores Aos quais os negros refugiados Rendiam respeito e louvores Quarenta e oito anos depois De luta e glória Terminou o conflito dos Palmares E lá no alto da s erra Contemplando as suas terras Viu em chamas a sua Tróia E num lance impressionante Zumbi no seu orgulho se precipitou Lá do alto da Serra dos Gigantes
47
Meu rnaracatu ~
da coroa imperial
~
de Pernambuco
~
da casa real
bis
Esse herói da raça negra, que teve coragem de desempenhar um papel de rebeldia em relação ao mundo dos senhores brancos, era uma novidade. tasia?
Afinal, fantasiar-se de negro?
Onde a fan
Fantasia: palavra que em português, e só no português
do Brasil, serve ambiguamente para designar "capricho da imaginação, devaneio" e também ''vestimenta usada pelos lescos". 10 mesma coisa?
carnava-
Atê que ponto estas duas acepções nao serao
uma
Assim, vestir-se de rei equivaleria a dar
vida
a essa fantasia de ser rei que existe dentro do ser
oprimido
e aviltado pelas condições objetivas de seu cotidiano.
Desse
ponto de vista a fantasia de negro teria sido para o cornponen te da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, naquele longi~ quo 60, algo decepcionante.
Mas já naquele instante a reali-
dade do carnaval se mostrava gratificante e era possível
ser
rei ainda que &antasiado de negro: rei de um espaço e de
um
tempo limitados, rei das atenções gerais, urna vez que a cidade começava a prestar atenção à manifestação antes anônirna
e
ignorada, quando não reprimida . . Em 1963, o Salgueiro apresenta outro sucesso de temática negra, o samba Chica da Silva, da mesma dupla de compositores de Zumbi dos Palmares, Anescar e Noel Rosa de Oliveira.
Este
belo samba-enredo foi talvez o ' prirneiro, desde o Exaltação
a
Tiradentes,de Mano Décio da Viola, Penteado e Estanislau Silva - (Império Serrano, 1949), que alguns anos mais tarde,
em
48
1955, foi gravado em 78 r.p.m. a cidade.
11
, a tornar-se sucesso em toda
A divulgação se fez de forma espontânea, de
boca
a ouvido, já que o samba só seria gravado algum tempo depois:
Apesar De não possuir grande beleza Chica da Silva Surgiu no seio Da mais alta nobreza O contratador João Fernandes de Oliveira A comprou para ser a sua companheira E a mulata que era escrava Sentiu forte transformação Trocando o gemido da senzala Pela fidalguia do salão Com a influência e o poder do seu amor Que superou a barreira da cor Francisca da Silva Do cativeiro zombou
ô o o o
oo
o o ô ô ô
No Arraial do Tijuco Lá no Estado de Minas Hoje lendária cidade Seu lindo nome é Diamantina Onde viveu a Chica que manda Deslumbrando a sociedade Com o orgulho e o capricho da mulata
49
Importante, majestosa e invejada Para que a vida lhe tornasse mais bela João Fernandes de Oliveira Mandou'construir Um vasto lago e uma belíssima galera E uma riquíssima liteira Para conduzi-la Quando ia assistir a missa na Capela.
No ano seguinte, 1964, completava o Salgueiro a trilogia negra, com um autêntico ''lençol" que narrava como decorreu a vida de um outro herói da raça negra, não um herói
trágico
como Zumbi, nem uma rainha lírica como Chica da Silva,
mas
um herói matreiro que, como o próprio sambista, arranja
uma
estratégia de resistência que lhe possibilita uma bem sucedi da ascensão no seio da sociedade da época: o quanto a "fanta sia" de um tal rei é grata ao sambista não e difícil nar.
O herói em questão é Chico Rei, cantado no samba
Geraldo Babão, Djalma Sabiá e Binha:
Vivia no litoral africano Uma régia tribo ordeira Cujo rei era símbolo De uma t e rra laboriosa e hospitaleira Um dia, essa tranqüilidade sucumbiu Quando os portugueses invadiram Capturando homens Para fazê-los escravos no Brasil Na viagem agonizante Houve gritos alucinantes
imagide
50
Lamentos de dor
O o o, adeus, Baobá, o o O o o, adeus, meu Bengo, eu já vou Ao longe Minas jamais ouvia Quando o rei mais confiante Jurou a sua gente Que um dia os libertaria Chegando ao Rio de Janeiro No mercado de escravos Um rico fidalgo os comprou Para Vila Rica os levou. A idéia do rei foi genial Esconder o po de ouro entre os cabelos Assim fez seu pessoal Todas as noites quando das minas regressavam Iam a igreja e suas cabeças banhavam Era o ouro depositado na pia E guardado em outro lugar com garantia Até completar a importância Para comprar suas alforrias Foram libertos cada um por sua vez E assim foi que o rei Sob o sol da liberdade trabalhou E um pouco de terra ele comprou Descobrindo ouro enriqueceu Escolheu o nome de Francisco Ao catolicismo se converteu No ponto mais alto da cidade Chico Rei
f
51
Com seu espirito de luz Mandou construir uma igreja E a denominou Santa Efigênia do Alto da Cruz.
A observação atenta desses três sambas nos leva a uma cons tatação singular: um grupo de artistas plásticos brancos liderado por Fernando Pamplona impõe à comunidade e aos compositores da Escola, negros em sua maioria, um enredo negro.
O
redo é aceito: afinal o samba já podia dar-se ao luxo de
encan-
tar como heróis os expoentes dentre seus cultores, abrindo espaço para a raça negra.
Mas o compositor, deformado por
duas
décadas de predominância da história branca, ainda o faz
de
maneira timida, adaptando o tema ao que supõe ser uma condição para a aceitação de seu samba: histórias exemplares de são social.
Chica da Silva "dá samba" porque "apesar de
ascen-
nao
possuir
grande beleza/[ ... ] viveu no seio da mais alta nobreza". Chico Rei se transforma em enredo não por ter sido rei de sua
tribo
na África, nem por ter descoberto uma engenhosa maneira de libertar seus antigos súditos, mas tão-somente porque"[ ... ] enriqueceu/recebeu o nome de Francisco/ao catolicismo se converteu". No desfile de 1965, ano do quarto centenário do Rio de
Ja
neiro, a Escola de Samba Imp ério Serrano levou para a
Avenida
na boca de seus componentes um samba antológico que
merece,
pôr várias razões, registro e comentário neste histórico gênero samba-enredo.
Trata-se de Os Cinco Bailes da
História
do Rio, de autoria de Silas de Oliveira, Dona Ivone Lara Bacalhau:
do
e
52
Carnaval, doce ilusão Dê-me um pouco de magia De perfume e fantasia E também de sedução Quero sentir nas asas do infinito Minha imaginação Eu e meu amigo Orfeu Sedentos de orgia e desvari o Cantaremos em sonho Cinco bailes da história do Ri o Quando a cidade completava Vinte anos de existência O nosso povo dançou Em seguida era promovida a capital A corte festejou Iluminado
estava o salão
Na noite da coroação Ali no esplendor da alegria A burguesia fez sua aclamaçã o Vibrando de emoçao O luxo, a riqueza Imperou com imponência A beleza fez presença Condecorando a independência Ao erguer a minha taça Com euforia Brindei aquela linda valsa
Já no amanhecer do dia A suntuosidade me acenava
'
i
53
E alegremente sorria Algo acontecia Era o fim da monarquia.
Este samba inauguraria urna prática que irá verificar-se a! gurnas vezes em nosso corpus: a de introduzir, antes da narrati va propriamente dita do enredo, que começa no décimo
primeiro
verso ("Quando a cidade completava/vinte anos de existência~') , clás-
uma invocação e urna proposição nos moldes da epopéia sica. 12
Na invocação o poeta pede inspiração para que sua ima
ginação se alce nas asas do infinito, enquanto que na proposiçao anuncia aquilo que pretende cantar.
O uso da primeira pe~
soa envolve o componente num clima de euforia, não se limitando a narrar com objetividade os fatos que constituem o enredo. Ao contrário, o poeta popular se torna, por um artificio estilistico do qual talvez sequer tenha consciência,
personagem
desses fatos, contagiando os demais sambistas da Escola e mesmo a platéia que assistiu o desfile.
até
Não foi por acaso que
o desfile do Império Serrano, ·naquele ano de 1965, foi acompanhado, segundo relato dos jornais da época, de um
verdadeiro
delirio do público das arquibancadas, tomado de viva
emoçao,
agitando lenços b r ancos e cantando. Em 1967 outra i mportante al ter ação se introduz no sarnba-en redo, embora ninguém se aperceba dela de imediato.
A
Escola
de Samba Unidos de Vila Isabel desfila cantando na Avenida
o
samba de um quase desconhecido Martinho da Vila e de . ." Gemeu: Carnaval de Ilusões.
Na forma é um samba longo, empolado, obe
diente em tudo às regras que pareciam reger a composição famosos "lençóis" das décadas de 50 e 60, dos quais o
dos modelo
54
perfeito é Os Cinco Bailes da História do Rio.
Mas urna sutil
novidade se inoculava neste Carnaval de Ilusões: a de um estribilho folclórico
presença
("Ciranda, cirandinha/Varnos todos
cirandar / Vamos dar a meia volta/Volta e meia vamos dar") que, já conhecido do público, facilitava a sua participação. época em que os sambas não eram gravados antes do
Numa
carnaval,
corno ocorre hoje em dia, e o público tornava conhecimento dele$ apenas na hora do desfile, · o recurso era válido para captar a simpatia e a participação das arquibancadas.
Fantasia Deusa dos Sonhos esteja presente Nos devaneios de um inocente Oh soberana das fascinações PÕe os seres do teu reino encantado Desfilando para um povo deslumbrado Num carnaval de ilusões Na doce pausa dos folguedos infantis Repousam a bola e a bonequinha querida No turbilhão do carrossel Da alegre vida Morfeu embala a criança tão feliz Que num sonho e nc a ntador Viaja ao mundo da fabulação Terra da riqueza e do fulgor De tanta beleza e do esplendor Guiada pela fada ilusão Se juntam lendárias figuras Personagens de leitura Revividos na memória
55
Que ajusta o imperfeito Na perfeição dos conceitos Das deleitosas histórias Neste clima extasiante Dos folguedos deslumbrantes Tudo envolve ao despertar E no mundo da verdade Sem saber à realidade Retorna o petiz a cantar Ciranda, cirandinha Vamos todos cirandar bis
Vamos dar a meia volta Volta e meia vamos dar.
Desde a clássica invocação até o estribilho final, de caráter obviamente popular, tirado de uma cantiga de roda ,
o
samba se desenvolve em versos de linguagem rebuscada, perfeitamente ao gosto da epoca.
Exatamente o contraste entre
o
clássico e o folclórico, entre o extremamente empolado e
o
extremamente simples, é que lhe conferiria, com o passar
dos
anos, o caráter marcante que assumiu.
Mas, apesar do belissi
mo desfile que a pequena Escola conseguiu apresentar, o samba não fez nenhum sucesso.
O próprio jurado do quesito samba-en
redo - nada menos que Chico Buarque de Holanda - lhe atribuiu nota baixa, o que ocasionou um sentido protesto de da Vila, em forma de samba, naturalmente:
SÓ a comissão nao viu Cadência numa grande bateria
Martinho
56
Nem se comoveu Com a beleza do desfile-fantasia Caramba, eh, eh, eh, caramba Nem o Chico entendeu O enredo do meu sarnba
13
O próprio Martinho insiste na fórmula nos anos subseqüentes, e ela se torna quase obrigatória na virada da
década.
Mesmo sua maneira de cantar faz escola: Martinho, um
cantor
sem grandes recursos vocais, mas inovador quanto ao ritmo to e dolente que imprimia a melodia, consegue, por seu so, inúmeros imitadores.
le~
suces
O critico José Ramos Tinhorão cornen
tou à época que Martinho, sorrindo sempre ao cantar,
estaria
tentando aliciar o público, obter-lhe a simpatia ou, ·
indo
mais longe, desculpar-se com um sorriso pelo fato de ser gro e estar fazendo sucesso.
Radicalismo a parte, o fato
nee
que Martinho efetivamente conseguiu impor a inovação. Mas nao é em dois tempos que ela se firma.
Ao contrário, corno
inovação, terá de conviver ainda com o velho estilo, que
toda so
aos poucos irá sendo substituído até desaparecer por completo. E essa mudança se dará mais depressa nas Escolas grandes, mais abertas às influências.
As pequenas Escolas serão quase sem-
pre mais tradicionalistas, mais conservadoras, mais ao passado.
ap?gadas
A Unidos de Lucas, por exemplo, apresentaria
carnaval de 1969, quando a novidade introduzida por
Martinho
da Vila já se ia generalizando, um lindo samba da autoria Nilton Russo, Zeca Melodia e Carlinhos Madrugada, Sublime Pergaminho.
no
de
intitulado
Este samba, considerado por muitos
o
mais perfeito samba-enredo de todos os tempos, é em tudo fiel
57
aos moldes tradicionais: na temática, no desenvolvimento, na ausência de estribilho, no andamento e no próprio rio; mas como, com o passar dos anos, o compositor
vocabulápopular
vai adquirindo mais ousadia ao falar dos temas inerentes sua cultura, nele já é permitido louvar a
a
"insubordinação"
dos escravos ao cativeiro, embora ainda apresente a Princesa Isabel como grande heroina do negro, como se pode verificar a partir do titulo e por toda sua letra:
Quando o navio negreiro Transportava os negros africanos Para o rincão brasileiro Iludidos com quinquilharias Os negros não sabiam Ser apenas sedução Pra vê-los armazenados E vendidos como escravos Na mais cruel traição Formavam irmandades Em grande união Dai nasceram festejos Que alimentaram desejos De libertação Era grande o suplicio Pagavam com sacrificio A insubordinação E de repente uma lei surgiu Que os filhos dos escravos Não seriam mais escravos no Brasil
58
Mais tarde raiou a liberdade Pra aqueles que completassem Sessenta anos de idade Oh! Sublime pergaminho Libertação geral A princesa chorou ao receber A rosa de ouro papal Uma chuva de flores cobriu o salão E o negro jornalista De joelhos beijou a sua mao Uma voz na varanda do Paço ecoou Meu Deus! Meus Deus! Está extinta a escravidão.
Mas ao que tudo indica a inovação introduzida por Martinho da Vila era irreversível.
E é esta inovação que vai possibil~
tara eclosão, no desfile de 1971, de um sucesso
escandaloso:
o Festa para um Rei Negro, do compositor Zuzuca, da Escola
de
Samba Académicos do Salgueiro.
do
Rompendo com a tradição
samba-enredo, esta composição apresentava um contagiante estri bilho que se repetia ao fim de cada estrofe do samba.
Esta
repetição do estribilho, o andamento mais . característico
de
marcha _ou re i sado do que de samba e o fato de apresentar
três
estrofes de melodia idêntica e que se diferenciavam apenas pela l etra fugiam a tudo que se vira e ouvira até então.
Não
faltou quem condenasse com veemência a novidade, mas o
samba,
ou pseudo-samba, tomou conta da cidade, talvez exatamente
por
ser mais fácil de memorizar e cantar, mais próximo dos padrões a que o grande público se acostumara:
59
Olelê, olalá bis
Pega no ganze Pega no ganza Nos anais de nossa história Fomos encontrar Personagens de outrora Que viemos recordar Sua vida, sua glória Seu passado imortal Que beleza A nobreza do Brasil colonial. Olelê, olalá
bis
Pega no ganze Pega no ganza Hoje tem festa na aldeia Quem quiser pode chegar Tem reisado a noite inteira E fogueira pra queimar Nosso rei chegou de longe Pra poder nos visitar Que beleza A nobreza que visita o conga Olelê, olalá
bis
Pega no ganze Pega no ganza Senhora dona de casa Traz seu filho pra cantar Para o rei que veio de longe Pra poder nos visitar Essa noite ninguém chora
1'
60
E ninguém pode chorar Que beleza A nobreza que visita o conga
A narrativa do samba nao e linear, ele nao tem compromisso de esgotar os fatos, narrá-los de maneira integral.
Aborda
flashes de um determinado fato inserido "nos anais da história", o que descaracteriza o "enredo".
nossa
~ntretanto,
se
por um lado a composição é, como já vimos, revolucionária, por outro lado não deixa de significar uma retomada da simplicidade original, em estrofes curtas e empolgadas.
E e essa
ambí-
gua situação que caracteriza o início do período abrangido por nosso corpus: uma preocupação de fidelidade às característica originais do gênero, de resistência às transformações que plicassem descaracterização e desvirtuamento, mas, ao
immesmo
tempo, a necessidade de evoluir para não estagnar e desaparecer.
Porque, sem dúvida, a ausência de renovação acarreta uma
perda de vitalidade.
Foi esse o caso dos Ranchos e das
des Sociedades que, se por um lado são um maravilhoso
Granexemplo
de preservação da tradição, de fidelidade às raízes, por outro lado são um melancólico testemunho de que a resistência não
e
o único problema. este
As mais antigas Escolas de Samba estão completando ano sessenta anos de e x istência.
O samba-enredo tem pelo
nos quarenta anos de vitalidade impressionante. tou a sobreviver.
Não se
Mais que isso, tornou-se o mais
melimi-
importante
gênero de música carnavalesca, sendo responsabilizctdo por muitos pelo desaparecimento da marchinha e do samba de
carnaval.
A sensibilidade de seus compositores levou-os a não se
isolar
61
do público, a acompanhar as mudanças que esse público aprese~ tou, procurando sempre ir ao encontro de seu gosto corno tia de sobrevivência.
gara~
Se isso algumas vezes implicou ernpobr~
cimento, nem por isso deixamos de ter nos últimos anos
belos
exemplares do genero. Corno suas características evoluíram durante os dez
anos
que sao especialmente enfocados neste trabalho é o que
vere-
mos
Mas não posso terminar esse
a seguir.
bre
ve histórico do samba-enredo sem fazer menção ao que foi cantado pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Império ·· Serrano em 1982, de autoria de Aluísio Machado e Beto Sem Braço.
Ele
consegue reunir três fatores muito importantes: a objetividade e adequação de sua letra, que resume sem omissões os fatos a serem narrados, o sucesso que alcançou em toda a cidade antes, durante e depois do carnaval, e um alto grau de consciê~ cia critica quanto ao caráter institucional que tem do o desfile das Escolas de Samba nos últimos anos.
apresent~
Além
de como
ser uma história do próprio desfile e do samba, o que,
vimos, se constitui numa prática tradicional de nossos compositores de Escolas de Samba.
Seu título - Bum Bum Paticumbum
Prugurundum - é a onomatopéia com que Ismael Silva define andamento do samba de desfile.
o
Em entrevista concedida a Sér
gio Cabral, Ismael assim se expressou:
O samba da época nao dava para os grupos
carn~
valescos andarem na rua, conforme a gente
ve
hoje em dia.
Eu
O estilo não dava pra andar.
comecei a notar que havia essa coisa.
O samba dava. era assim: tan tantan tan tantan. Não assim? Corno é que um bloco ia andar na rua
62
Aí, a gente começou a fazer um samba assim: bum 14 bum paticumbum prugurundum.
O samba do Império se propoe, portanto, contar a ria do samba para desfile, definido por seu próprio
trajetóinventor.
E como foi também o que se pretendeu fazer aqui, usamo-lo guisa de resumo, para finalizar:
Enfeitei meu coraçao De confete e serpentina Minha mente se fez menina Num mundo de recordação Abracei a coroa imperial Fiz meu carnaval Extravasando toda minha emoçao
6 Praça Onze, tu és imortal Teus braços embalaram o samba À sua apoteose triunfal
.·
De uma barrica se fez uma cuíca De outra barrica um surdo de marcação bis
jcom reco-reco, pandeiro e tamborim lE lindas baianas o samba ficou assim E passo a passo no compasso O samba cresceu Na Candelária construiu seu apogeu As burrinhas, que imagem, Para os olhos um prazer Pedem passagem pros moleques de Debret As africanas, que quadro original,
a
)
63
Iemanjá, Iemanjá enriquecendo o visual Vem, meu amor, manda a tristeza embora bis
~
carnaval, é folia
Neste dia ninguém chora Sup~rescolas
de Samba S.A.
Superalegorias Escondendo gente bamba Que covardia! Bum Bum Paticumbum Prugurundum Nosso samba minha gente é isso aí Bum Bum Paticumbum Prugurundum Contagiando a Marqués de Sapucai.
64
3.1
NOTAS
1 Cf. Brasilio Itiberê, Mangueira, Montmartre e outras favelas,
p. 20-2. 2 O Rio ainda é uma cidade feliz: tem Silas de Oliveira,
Mano
Décio da Viola e toda sensibilidade deles, de José Carlos Rego, no Correio da Manhã de · 9-10 de janeiro de 1972. 3 Pequena história da música popular, p.
181.
4 Este eitudo foi publicado no Fascículo Samba de terreiro d~
e
enredo, Abril Cultural, 1983, p. 7. láudia Matos, Acertei no milhar; malandragem e samba no tem-
po de Getúlio, p. 125.
~José
Miguel Wisnik, Getúlio da Paixão Cearense, in:Música; o
nacional e o popular na cultura
brasileira, p. 160.
7 Id., ibid., p. 159. 8 Este verso é do samba-enredo O Paraíso da loucura, de
Mara,
Luciano e Walter de Oliveira, do G.R.E.S. Beija-Flor, 1979. Em nosso corpus recebe o número 88. 9 Na gravaçao que Martinho da Vila fez deste samba em 1980, corrigiu esta regência inusitada. 10 Estas definições se encontram no Novo Dicionário da língua portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, s.v. 11 No disco 5 355, lado~' da gravadora Copacabana, na voz do cantor Roberto Silva.
65
1 2 A propos1çao ' aparecera- em nosso corpus, dentre outros,
sambas 17, 18, 19, 27. vocaçao.
nos
No samba 24 há - um exemplo claro de in-
Na quinta parte tratarei mais detidamente do assunto.
1 3 Trata-se do samba Caramba,de Martinho da Vila, gravado
no
LP "Martinho da Vila", em 1969. 1 4 Cf.
Sérgio Cabral, As escolas de samba; o que, quem, como,
quando e por que, p. 28.
4
NA BOCA DO POVO
Vimos na parte anterior corno se desenvolveu a história do samba-enredo corno gênero, desde sua criação até o inicio
.do
decênio que tornei corno objeto de estudo.
de
Agora tratarei
estudá-lo na forma corno ele se apresenta atualrnente, ou, mais exatarnente, de 1972 até nossos dias. Antes de mais nada, e preciso relembrar que, desde há alcornp~
gum tempo, não é o compositor que escolhe o terna de sua sição.
O carnavalesco - palavra que aqui emprego nao na aceE
ção usual de folião de carnaval, mas na de artista
plástico
responsável pela escolha do enredo, bem corno por seu desenvol virnento e execução 1 - apresenta, logo após o término do carna val, urna proposta à diretoria da Escola e entra em negociações com ela para a adoção de seu enredo, de sua idéia para o carnaval do ano seguinte.
Aprovado o enredo, fica o carnavales-
co encarregado de fornecer à Ala dos Compositores da
Escola
urna sinopse do enredo, destacando os pontos que devem
ser
ressaltados no samba, para coincidir com os demais tópicos do desfile: alegorias, adereços, destaques e demais fantasias. A Ala dos Compositores é de capital importância na estrutura das Escolas de Samba.
Seus componentes desfrutam
grande prestigio na comunidade.
de
Porque não é qualquer um que
pode inscrever-se: o compositor tem de ter pelo menos
dois
anos de militância na Escola, ser autor de composições conhecidas por pelo menos três componentes da Ala e submeter
a
apreciação dos companheiros, ao solicitar formalmente seu ingresso, um samba de terreiro e.rn que louve a agremiação a pertence.
que
Urna vez aceito na Ala, o compositor deverá aguardar
67
ainda dois anos para ter o direito de apresentar samba-enredo de sua autoria, sozinho ou com parceiros, ao concurso interno da Escola. Tais exigências têm por finalidade defender a Ala dos Com positores da intromissão de elementos estranhos a comunidade, atraídos pelo crescente sucesso do genero, que
possibilita
atualmente a seus autores elevados lucros com direitos rais.
auto
Felizmente poucos sao os exemplos de que se tem
cia de intromissões desse tipo.
noti-
Nas Escolas mais bem estrutu
radas e mais democráticas, isto é praticamente
impossivel.
Nas Escolas pequenas, onde a organização é mais precária, penetração seria talvez mais fácil, mas são exatamente grandes Escolas do primeiro grupo, por
a as
popularidade,
que
se tornam alvo da cobiça de elementos estranhos ao mundo
do
samba que pretendem espraiar até os redutos de sambistas
sua
influência.
~ua
Nas Escolas onde há um ''dono", nem sempre
dispo~
to a respeitar as hierarquias e os direitos dos componentes, é fácil ver desses absurdos: compositores da classe
média,
alheios à vida da Escola, conseguem convencer os manda-chuvas a inclui-los na disputa de samba-enredo e vencem-na ã
custa
de amizades com discotecários de emissoras de rádio, ou de in timidação e suborno à comissão julgadora que escolhe o
samba
dentro das Escolas. No corpus do presente trabalho, composto de cento e vinte sambas-enredo, temos apenas dois exemplos de sambas de res do tipo acima descrito.
auto-
são ambos da Escola de Samba Por
tela e de autoria da dupla Evaldo Gouveia - Jair Amorim. no carnaval de 1974 que fizeram sua primeira investida. autorização da diretoria da Escola para que concorressem
Foi A ao
68
samba-enredo gerou uma crise na Ala dos Compositores.
Alega-
vam estes que dois compositores consagrados, com inúmeros sucessos gravados e de f o ra do meio do samba, concorreriam eles em situaÇão de vantagem.
Ficou provado que tinham razão.
Evaldo Gouveia e Jair Amorim, que deram parceria ao tor Velha
com
composi-
esse sim um autêntico sambista - acabaram por ter
seu samba O mundo melhor de Pixinguinha (25) cantado pela Escola no carnaval e nesse lamentável episódio, que se constitu iu grave precedente, perdeu a Portela um grupo de
tradicio-
nais e excelentes compositores - dentre os quais Candeia Paulinho da Viola - que se afastaram da Escola por rem da medida.
e
discorda-
Em 1978 a dupla ataca de novo, desta vez
parceiros, e lá vai a Portela para a Avenida cantando
sem
Mulher
a Brasileira (75). Este fato dá margem a uma reflexão sobre o perfil d o nosso compositor de Escola de Samba, que não se confunde com compositor da música popular brasileira em geral.
o
O composi-
tor de Escola pertence .a um mundo peculiar, marginalizado, raramente ê conhecido fora da comunidade do samba.
A esmaga-
dora maioria é composta de cariocas, negros ou mulatos, pouca instrução e sem nenhum conhecimento teórico de
de
música.
Habitando morros ou subúrbios, não vive basicamente de composições, mas de seu trabalho em empregos que, em lhe proporcionam baixa renda.
e
suas geral,
Uma caracteristica marcante do
compositor popular é a adoção de um pseudónimo, espécie de no me artlstico pelo qual é conhecido no mundo do samba e às vezes fora dele, como e o caso de Martinho da Vila e Paulinho da Viola ou Candeia e Cartola.
Apenas cerca de trinta
cento dos compositores do corpus deste trabalho usam
por ao
69
assinar suas composiç6es o nome
civ~l,
ou um pseudônimo forja-
do de maneira ortodoxa, isto é, composto de nome e sobrenome. Ora, essa adoção quase sistemática de um nome artistico
que
rompe com os padr6es usuais da sociedade civil pode ser
enca-
rada como mais uma forma de fantasiar a realidade, de mascarar o cotidiano, de driblá-lo, de libertar-se dele.
Em
respeito
ao que julgo ser um direito individual, mantive neste trabalho tais pseud6nimos, sem qualquer preocupação de associá-bs ao no me civil de seu usuário, na certeza de que dizer Cartola,
por
exemplo, sera sempre suficiente, e nao será menos do que dizer Angenor 'de Oliveira. Uma análise mais detida desses pseudônimos pode revelar-se muito interessante.
Ao lado de simples apelidos sem
qualquer
significado especial, como é o caso de Zuzuca (2), Jajá
(13)
ou Guga (24), aparecem outros que parecem basear-se numa associação de idéias, como e o caso de Comprido (105), Graúna (95) e Barbicha (101).
Ou do interessantíssimo Garganta de
(78), cujas qualidades vocais são lido.
p~ontamente
Ferro
evocadas no ape-
Aparecem também pseudônimos criados a partir do
associado a um qualificativo: Tião Grande (.102), Carlão te (50) ou Robertinho Devagar (92).
nome, Elega~
Neste último se mostra
a
tendência da lingua coloquial de usar o advérbio como adjetivo: "Ele é um sujeito meio devagar".
Um substantivo também poderá
servir para caracterizar o prenome, e disso temos em nosso cor~
exemplos bem curiosos: César Veneno (113), Djalma
Sabiá
(49), Carlinhos Madrugada (67), Aroldo Melodia (86), Carlinhos Bagunça (114), aos quais poderiamos juntar ainda Wilson (21) e Edinho Capeta (92).
Às vezes ao substantivo comum
Diabo se
liga um adjetivo e é todo o sintagma resultante que caracteriza
70
o nome ou apelido: Biel Reza Forte (69).
Pode ser também
a
profissão, o instrumento predileto ou a Escola de Samba a que pertence que vão juntar-se ao nome ou ao apelido do tor para identificá-lo no universo do samba.
composi-
Exemplos do pr~
meiro caso são I. Marinheiro (83) e Wilson Bombeiro (94)
no
i
segundo caso estão Jorginho do Pandeiro (74), Djalma do Cavaco (12), Adilson da Viola (69) e Rato do Tamborim (82)
no
i
( 6 8)
terceiro, Neguinho da Beija-Flor (71), Aurinho da Ilha
1
Ney da Mangueira (98), Martinho da Vila (1) e Aldir do Arranco (79).
Mas a caracterização pode ser também apenas o bair-
ro ou localidade de onde se origina o compositor: nhos do Estácio (54).
Domingui-
Ou uma característica física sua, como
e o caso de Beto Sem Braço (117) ou Djalma Branco (110). O samba-enredo não é a Única produção do compositor de Es cola de Samba.
Fora do carnaval ele compõe também sambas cha
mados "de terreiro" ou "de quadra", que sao cantados nos
en-
saios da Escola, nos festivais de samba e de chopp promovidos durante o ano e nas festividades que têm lugar a cada fim
de
semana nas quadras e que constituem praticamente a única forma de lazer de nossa população suburbana.
Desses sambas
de
quadra a maioria infelizmente nunca chega a ser gravada devido à dificuldade de acesso desse tipo de compositor às gravadoras.
São decorados e repetidos durante anos, associados ao
humilde nome de seu(s) autor(es).
Sua circulação se restrin-
ge, portanto, a esse mundo peculiar, onde não se exige de nin guém sobrenome - aliás, nem sequer nome - para ser aceito. ~ comum encontrarmos ainda em nossas Escolas, de
maneira
espontânea, as famosas rodas de samba, onde se canta o partido alto, também chamado "samba duro", acompanhado por
palmas
71
e dança características.
A um estribilho se sucedem estrofes
improvisadas, numa espécie de desafio.
Alguns
compositores
se tornaram notáveis por sua capacidade de improvisaÇão,
fa-
zendo longas estrofes em linguagem rebuscada, sobre fatos ocor ridos no momento em que a roda se reune. car~
Este é o perfil do compositor que recebe das maos do
navalesco uma sinopse sobre a qual deverá desenvolver seu sam ba.
com~
Sendo o samba uma atividade eminentemente gregária,
nitária, como já vimos, não é de espantar que os compositores se associem em parcerias para responder ao desafio que representam as complicadas sinopses distribuídas pelos carnavalescos.
Assim, dos cento e vinte sambas estudados, somente
te e dois foram feitos por compositores isolados.
vin
Trinta
e
sete foram feitos em dupla e quarenta e três - a maioria,
po~
tanto - por três compositores em parceria.
Apenas nove
bas foram compostos em parceria de quatro ou mais
sam-
sambistas.
No nosso universo de trabalho apresentam-se ainda
casos
especiais de sambas em cuja autoria aparece a expressao dos Compositores".
"Ala
Convém explicar o que isto significou ou-
trora e o que significa em nossos dias.
Quando um compositor
apresenta ao concurso interno da Escola um bom samba-enreda ·e este sai vencedor mas, por qualquer motivo, precisa
ainda,
para ser cantado durante o desfile, de algumas modificações que o adaptem melhor ao enredo a ser apresentado, outros compositores da agremiação sugerem modificações, obedecendo espírito comunitário que imperava outrora e sobrevive em muitas situações em nossas Escolas de Samba.
ao ainda
Esta prática
é bem antiga, havendo exemplo dela já no início da década 50.
de
No caso de Escolas pequenas, como a Tupi de Brás de Pina
72
(14) ou a Unidos de Jacarezinho (16), que so circunstancialmen te ascendem ao primeiro grupo, é normal que, devido ao
grande
acontecimento que representa em sua vida o "desfile principal", queiram os compositores dividir com a ala toda a responsabilidade de fazer samba para a especialíssima circunstância.
Em
casos como a Mocidade Independente de Padre Miguel (16 e 76) e a Imperatriz Leopoldinense (22), agremiações que, apesar do di nheiro e do sucesso obtido nos Últimos anos, conservam sua infraestrutura de Escolas pequenas, este procedimento ainda normal.
Nos Acadêmicos do Salgueiro (96),em 1980,o fato
e repr~
sentou uma grande crise interna na Ala: ao invés de aparecer o nome de um ou dois autores associado ao da Ala, como é de praxe, aparece somente o nome da Ala.
Foi a fórmula
encontrada
para resolver uma grave dissençâo que ameaçava a própria part! cip ação da Escola no carnaval. Caso peculiaríssimo, no entanto, e que
caracteriza
um fenômeno típico de nosso dias, sem nenhum respaldo na tradi ção, é o que vem ocorrendo com certa regularidade na Escola de Samba Beija-Flor.
Apresentaaos os sambas ao concurso
interno
da Escola, é o carnavalesco Joãozinho Trinta quem escolhe nao o samba vencedor, mas os sambas que lhe interessam e
dos
quais tira trechos para montar, conforme as necessidades
do
enredo, o samba-enredo.
Que resultado esperar dessa
ra colcha de retralhos?
Um hibrido sem estilo,
descaracterizado.
Algumas vezes são criadas
completamente
"parcerias-fanta~
ma", juntando arbitrariamente os nomes de todos os res que tiveram fragmentos aproveitados.
verdadei~
composito-
Outras vezes se
re-
corre ao artificio de dar parceria à Ala dos Compositores, mas de uma maneira bem diferente da citada no parágrafo anterior.
73
Este e x emplo de desrespeito à criação popular ilustra
talvez
melhor do que quaisquer outras palavras a face negativa
da
chamada evolução do samba. Felizmente esta não e a regra no tocante a
escolha
do samba-enredo de uma Escola de Samba em nossos dias. ção aprendida pelo musicólogo Brasilio Itiberê com o
A lidiretor
de harmonia da Mangueira em 1935 já não vigora mais - e
bem
verdade:
Como são muitos os compositores e um grande número de sambas, pergunto a JÚlio qual o critério da escolha.
--
--
existe Mestre
Ele explica:
-·
- Samba bom já nasce feito. O compositor ti
ra o samba e canta para eu ouvir. A primeira es colha é minha.
Depois, ele canta de novo
para
as pastoras. A criançada está escutando, lá fora.
Se gostam e repetem com prazer, o
está adotado.
de
samba
Do contrário, nada feito. 2
Atualmente o compositor, ao receber a sinopse do en redo, compõe, sozinho ou com parceiros, seu samba e o
grava
numa fita cassete, acompanhado às vezes de um cavaquinho, vezes só de um ritmo rudimentar.
as
A entrega de fitas e conse-
qüente inscrição de sambas obedece a um prazo determinado pela diretoria da Escola, através de sua comissão de
carnaval.
Nas Escolas maiores chega a haver, a cada ano, cerca de vinte sambas concorrendo.
O processo de escolha se estende mais ou
menos de agosto a novembro e é um periodo de grande movimenta çao e efervescência dentro da agremiação.
É comum, ao se che
gar a quadra, ouvir convite de um ou mais compositores:
"Vem
ouvir o meu pagode" ou "Estou com um sambinha concorrendo ai".
74
O samba é cantado com acompanhamento de palmas ou caixa de fós foro e será repetido tantas vezes quantas necessário.
O
obje~
tivo desta divulgação prévia entre os componentes da Escola angariar uma boa torcida para o seu samba, porque, como na ca descrita por Brasilio Itiberê, a participação e adesão
e ep~
do
público ainda é decisiva para a escolha do samba. A Escola nomeia uma comissão julgadora composta
de
pessoas gradas dentro de sua estrutura: o carnavalesco, o presidente, o diretor do Departamento Cultural e, eventualmente, convidados de fora, pessoas relacionadas com o samba.
Os sam-
has são apresentados em eliminatórias, sempre aos sábados.
Fi
nalmente restam dois finalistas que são cantados na quadra durante algumas semanas, até que há a grande final onde é
esco-
lhido o samba-enredo da Escola para o próximo carnaval.
Esta
~spetáculo
festa, que se prolonga por toda a madrugada, é um que nenhum componente de Escola de Samba pensaria em
perder.
Formam-se torcidas organizadas com faixas, confete,
serpenti-
na, papel picado, foguetes, balões de encher e até
pequenas
alegorias de mão alusivas ao enredo.
A comissão
ju~gadora
se estiver efetivamente preocupada com o brilho de sua Escola, e não em beneficiar este ou aquele compositor, nem em
impor
ditatorialmente sua vontade - deverá ter sensibilidade
para
perceber as preferências da maioria, já que a adesão do componente a este ou àquele samba é espontânea, motivàda apenas pelo gosto.
Não raro, porém, ao ser anunciado o resultado,
raiar da aurora, generaliza-se um tumulto causado pelos tentes.
ao
desco~
Se a maioria foi contrariada, sao maiores as probabi-
lidades de confusão. Escolhido o samba, ele e gravado, na segunda quinzena
75
de novembro, no disco oficial da Associação das Escolas de Sam ba do Estado do Rio de Janeiro.
Até o carnaval, não é
permit~
do a nenhum outro compositor da Escola divulgar seu samba, que haja concorrido e perdido o concurso interno, seja em
disco,
seja em rádio ou televisão: somente o samba vencedor
deverá
ser divulgado e cabe a todos os compositores da Escola
traba-
lhar para o seu sucesso.
Esta norma e seguida com brio e cor-
dura pelos compositores, pondo de lado toda e qualquer gência anterior.
_ diver
Acima de tudo está o interesse da Escola.
A partir desse momento o samba não mais pertence
a
seus autores nem ao reduto onde foi concebido: ele cai na boca do povo.
Receberá talvez uma grande consagração.
será recebido com
indiferença?
sabe
Quem
Será cantado na Avenida
com
entusiasmo e aepois esquecido ou entrará para a história do sam ba-enredo?
Qualquer que seja a resposta a estas perguntas,
fato é que e ao povo que ele se destina.
Ele se
o
encarregara
de transmiti-lo, de difundi-lo, cantado por um, ouvido por outro, que o cantará a seguir a um terceiro.
Será gravado
outros cantores, que talvez já o tenham ouvido com esta aquela alteração.
ou
Ninguém se lembrará de publicá-lo em livro,
de fazer dele uma edição crítica.
Porque ele foi feito
ser cantado, sua tradição se fixará por via oral.
para
Eis por que
estabelecemos na Introdução que o corpus deste trabalho oral.
por
seria
Pois se um samba-enredo é cantado centenas e até milha-
res de vezes, só em três circunstâncias ele tem sua letra
im-
pressa: em prospectos que são distribuídos na quadra durante o processo de escolha do samba da Escola; em revista distribuída na Avenida no dia do desfile, editada por uma firma particular em convênio com a RIOTUR; e finalmente nos principais
jornais
76
da cidade na edição do dia do desfile. Mas não e nenhuma dessas versões que tornamos texto-base.
corno
Corno já foi dito anteriormente, o nosso texto-ba
se é o texto cantado na gravação em disco da Associação Escolas de Samba do Estado do Rio de Janeiro.
das
Este será
o
texto mais difundido, aquele que atingirá centenas e milhares de pessoas.
O texto escrito, corno aliás todo texto
escrito,
e apenas a representação gráfica de urna realidade sonora que, corno diz Herculano de Carvalho, constitui o texto propriarnente dito, ao contrário do que se entende na linguagem corrente:
Precisamos agora de realizar urna outra dis tinção, que, de resto, já ficou irnplicita que até aqui dissemos, mas que convem
no
cornpree~
der bem claramente e, para isso, tornar e x plicita: a distinção entre texto propriamente dito e texto escrito.
Quando na linguagem
rente se fala de tex to é o segundo que esta palavra normalmente se entende.
cor~
· por Não e
p~
rem a ele que nos referimos quando aqui usamos desse termo: para nós será texto propriamente _ dito ou em sentido próprio o produto
imediato
do acto da fala, quer ele seja materialmente explicitado, quer se conserve no interior
da
consciência do sujeito falante, sob a forma de um significante (ou combinação de
significan-
tes), traduzido ou, ao me nos, s e mpre susceptivel de se traduzir em "palavras sonoras", numa cadeia de vibrações fisicas produzidas
pelo
"aparelho fonador" do sujeito emissor e captáveis pelo ouvido; produto em relação ao
qual
o texto escrito é algo de secundário, enquanto constitui unicamente a sua fixação ou tação gráfica.
represe~
Esta representação pode de to-
do faltar e falta, de facto, muitas vezes.
O
77
texto de que falamos, pelo contrário, nunca fal ta, desde que exista um acto verbal, embora
po~
sa nao se manifestar oralmente, como sucede nos ·actos de fala silenciosos, que têm como
produ-
tos textos silenciosos, os quais, tanto corno os f"lxar-se por escrito. 3 outros, po d em ou nao
Daí a decisão de adotar como corpus deste trabalho um texto oral, a gravação dos sambas-enredo das Escolas
participan-
tes do desfile do primeiro grupo nos carnavais de 1972 a 1982. E urna das razões que influenciaram essa decisão foi que um sa~ ba não é · só a letra, aquilo que sai eventualmente mas também a melodia, as pausas, o ritmo.
impresso,
Assim, por exemplo,
nas pausas entre palavras, a participação da bateria tem valor significativo, que se perde, é óbvio, na representação ca.
gráfi-
Da mesma forma, o que se imprime admirou se canta,
se diz, adimirou (34), fixando se ouve fiquissando
como
(27), .-egi-
piciana se grafa egipciana (67). Herculano de Carvalho acentua, adiante, a vantagem da gravaçao sobre a escrita como meio de representação do ato
da
fala:
O texto escrito é por conseguinte uma fixaçao gráfica, visual, do texto em sentido
pro-
prio, mas apenas daquilo que o constitui na sua materialidade e portanto que nele
fisicamente
se pode captar e registrar, isto é, dos cantes.
signif~
Quer dizer que no registro do texto se
nao representam, evidentemente, os significados que àqueles se ligam, senão na medida em que es tes se encontram presentes nos seus sinais,
os
significantesi e também se nao pode fixar, ante riorrnente ainda, o acto da
, fala
na
sua
78
totalidade, como aliás nenhum outro acto, qualquer espécie, visto que um acto e um
de movi-
mento e a fixação a sua própria negação - o re4 pouso, a imobilidade.
E, em nota de pe de página, acrescenta:
O mesmo, em princípio, se pode dizer da
grav~
çao sonora, que, todavia, registra uma
parte
dos contextos, os de natureza sonora, como entoação, as hesitações, etc.
a
O filme e a ban-
da sonora acoplados constituem a forma menos im perfeita, mas de todos os modos insuficiente,de 5 representação do texto e dos seus contextos.
No parágrafo seguinte, retoma sua explicação:
também,
Nesse registro gráfico do texto
além e em conseqüencia disso, nao ficam fixados certos elementos e circunstâncias que
acompa-
nham o acto da fala, que o condicionam e determinam e que o tornam plenamente
significativo,
elementos e circunstâncias [ ... ]a que
daremos
genericamente o nome de contextos ou correlatas situacionais.
Justificada a opçao pelo corpus oral, resta urna última palavra sobre um elemento da maior importância para
estabelecer
a ligação entre o emissor - no caso de nosso corpus, o
compos~
tor de samba-enredo - e o receptor - o público ouvinte: o "puxador".
No mundo do samba é assim que se chama o cantor
cial da Escola, aquele que lidera o canto do samba-enredo rante os oitenta minutos que dura o desfile.
7
Trata~se de
ofiduum
79
elemento primordial, pois sua participação tem grande influência sobre o desempenho da Escola na Avenida. res" conseguiram projetar-se no cenãrio da sileira.
~
Alguns
m~sica
"puxado-
popular
bra
o caso de Jamelão, da Estação Primeira de Manguei-
ra, e Roberto Ribeiro, do Império Serrano.
Mesmo famosos, ten
do gravado inúmeros discos de sucesso e estrelado shows em todo o pais, nem por isso abrem mão da responsabilidade de condu zir com a voz sua Escola na Avenida. Sobre essa responsabilidade assim se e x pressou o ''puxa dor" Ney Viana, da Mocidade Independente de Padre Miguel:
No desfile oficial todo mundo pode menos o puxador e a bateria.
e r r ar,
Além da sua
pro-
pria responsabilidade, quem puxa o samba
deve
rezar para que a harmonia da escola não
falhe.
Se isso vier a ocorrer, o cantor oficial se esconder depois do desfile, porque
ninguém
vai se lembrar dos muitos diretores de
harmo8
nia.
~
pode
A culpa será, exclusivamente, dele.
essa responsabilidade que leva os pux adores a, na semana
que precede o carnaval, levar vida monástica, abrindo mão
de
participar das atividades que agitam a população do Rio de Janeiro nessa epoca.
Aroldo Melodia, compositor muitas
vezes
vencedor na União da Ilha, e tão a dmi ra do como cantor de
seus
próprios s a mbas que acabou se torn ando o pux ador oficial da Es cola, declarava pouco antes do carnaval de 1981:
Há dez dias que procuro nao me ligar
nos
problemas da escola, não aborrecer ninguém
ou
me p r eocupar com envolvime n tos emocionais
de
qualquer natureza.
Tenho que estar bem,
moral
80
e fisicamente, para que possa desenvolver trabalho de puxador com segurança. verdade, a minha concentração.
meu
Esta e, na
Mais ou
menos
como o jogador de futebol, para uma decisão de campeonato.
9
Jamelão e Roberto Ribeiro servem para ilustrar os dois ex tremos desta difícil arte.
Poder-se-ia dizer que Jamelão
um puxador à antiga: sóbrio, discreto, com seu timbre de
e voz
primitivo e rude, que faz lembrar os primeiros tempos do samba, o veterano puxador da Mangueira é, por seu estilo fundível, a tradição viva.
incon-
Desde 1950 no posto, conta que
a
sua maior emoçao num desfile foi em 1955:
Nessa epoca o concurso de carnaval era
na
Avenida Presidente Vargas, onde havia um tabla do para que o público pudesse melhor
visuali-
zar os sambistas e suas fantàsias .
O tema-en-
redo da Mangueira e seu samba eram
fascinan-
tes: "Getúlio Vargas", de autoria de nho.
Padeiri-
A Mangueira vinha inflamada e, quando co
mecei a entoar o samba, caiu um temporal.
A
água entrava em profusão pelo microfone e
no
amplificador, mas a aparelhagem resistiu
a
tudo.
Ensopado até a meia, eu não podia
lhar.
Se paro um instante, a escola ia esmore
cer comigo. isso a todos.
Confiante, senti que
A escola fez uma 10 . - . va 1 en t e, ex t raor d lnarla.
fa-
transmitia apresentação
Roberto Ribeiro, de temperamento esfuziante , puxa o samba desde 1971 no Império Serrano de maneira muito pessoal, e seu estilo já tem alguns adeptos: desce do carro de som da RIOTUR para o asfalto da Avenida e é dali, de dentro das alas
que
81
evoluem, que entoa seu canto, de microfone em punho.
Introduz
entre os versos do samba exortações a seus companheiros e amigos e, como é popularissimo na Escola, consegue levantar o âni mo dos componentes, qual autêntico lider.
Essa prática de in-
troduzir palavras ou frases na letra do samba se difundiu
de
tal maneira que já nas gravações de sambas de nosso corpus
se
podem registrar exemplos em sambas de quase todas as
agremia-
çoes: "Vamos nós, minha gente!" "Que beleza!" "É isso
ai!"
"S'imbora, gente", "AlÕ , meu povão", "Segura, gente!". dia tal estilo já se vulgarizou, mas a exortação do
Hoje
em
"puxador"
ainda tem eficácia junto à comunidade, porque ele é, aos ouvidos do sambista, a própria voz da Escola. Pretendo haver traçado e explicado a trajetória do
samba-
-enredo, desde que ele é concebido na mente do humilde
poeta pe~
de nosso morro até ganhar as ruas, cantado por milhares de soas; haver tornado familiar as
o contexto onde ele se produz,
pessoas que de alguma forma estão ligadas a sua vida,
tranha existência de criação popular, sujeita a durar
e~
apenas
atê o domingo de carnaval, sendo depois esquecido, ou estender-se por muitos e muitos anos, na memória dos que amam as sas do povo.
coi-
82
4.1
1
NOTAS
· · Jose- Car 1 os Rego, em seu art1go Llnguagem do samb a nasce la-
no morro e nao se aprende na escola, publicado no jornal
O
Globo de 30/1/83, assim define o termo carnavalesco: "idealizador do enredo, criador da concepção geral do desfile de uma escola ou executor das alegorias". 2 Brasilio Itiberª, Mangueira~ Montmartre e outras favelas, p. 21 . 3
4
.
Herculano de Carvalho, Teoria da linguagem, t. 1, p. 229. Id.
I
ibid •
1
p. 2 31 .
1
p. 232.
5 Loc. cit.
6
7
Id.
I
ibid.
A definição e de José Carlos Rego, em Linguagem do samba na~
c e lá no morro e na o se aprende na escola, O Globo, 30/1/83. 8 Este depoimento se encontra no artigo Puxadores de Samba. Vem ai o grande momento: é hora de orações e patuás, publicado em O Globo de 27/2/83. 9 Idem. 10
Idem.
5
"VIRANDO A TRISTEZA PELO AVESS0"
1
Vimos até agora que a história do samba-enredo se desenrolou como um conto de fadas: o da Gata Borralheira que consegue ir à festa no palácio do principe.
É pena que o conto não nos
forneça um dado muito importante: se, além das alterações ope-
..
radas pela fada-madrinha - o vestido, o sapatinho de
cristal,
a carruagem e os cavalos com suntuosos arreios- Cinderela necessitou também adequar sua fala à elegância imposta pompa das circunstâncias.
nao pela
O leitor não chega a saber se
no
borralho Cinderela guardou os hábitos lingülsticos de sua origem, que não era humilde, ou se os mod ificou,
necessitando,
portanto, que sua madrinha lhe fizesse advertência quanto uso de formas lingülsticas compativeis com os salões da
ao corte
real. Quanto ao samba-Cinderela, ao ser aceito no baile da elasse dominante, além de transformar em t rajes de gala seus antigos andrajos, em sapatos elegantes seu s chinelos, em ricas ale gerias suas abóboras, precisou também revestir de suntuosidade sua linguagem pobre, cobri-la de adorn o para que fosse julgada compativel com a nova condição, com a metamorfose sofrida. Este é o objeto preclpuo de meu estudo: os recursos lingülsticos utilizados pelo compositor popularoom afinalidade de
conferir
ao samba status compativel com sua nov a condição social. A idéia de que o comportamento l ingülstico é a base para a caracterização social do falante é o fu ndamento mesmo da socio logia ·da linguagem.
Muitas vezes não se fala em
caracteriza-
ção social, mas sim, eufemisticamente, em caracterização tural.
Tudo vem a ser a mesma coisa.
A
cul-
caracterização
84
cultural vincula-se à situação sócio-econôrnica.
Tendo cansei-
ência disso, o compositor tenta superar sua origem,
a dotando
artificialmente urna linguagem que não lhe é própria.
Sobre es
te ponto, os extremos da questão parecem estar de acordo.
De
um lado, um erudito corno o Prof. Gladstone Chaves de Melo afir ma que
Na verdade, o que dá o tom do nível
cultu-
ral de alguém não e a maneira de se vestir, nao e o círculo de relaÇões que freqüenta, nao os ornatos da casa, não é a maneira de 2 mas é a maneira de falar.
sao
viver,
Se a maneira de falar tem tanto peso que funciona corno ele rnento caracterizador mais eficaz do que todo um conjunto de tros fatores, a consciência disto não é privilégio da
o~
minoria
que, em nosso país, tem acesso à escola e à gramática.
Também
o inculto, aquele para quem o saber expressar-se se identifica com o próprio poder, percebe que para sua aceitação social alguma coisa deve mudar, antes de tudo na sua maneira de
falar.
Graciliano Ramos, em seu romance Vidas secas, atribui ao
per-
sonagern Fabiano, um massacrado do ponto de vista social,
a
consciência de que sua falta de recursos lingüisticos
poderia
ser responsabilizada pela situação de opressão de que era viti ma.
Vejamos corno se expressa:
Havia muitas coisas. cá ~ las,
mas havia.
Ele nao podia
Fossem perguntar a seu
más da bolandeira, que lia livros e sabia tinha as ventas.
expliToonde
Seu Tomás da bolandeira conta
ria aquela história. ~ . 3 nao contava nada.
Ele, Fabiano, um
bruto,
85
E mais adiante:
Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, nao sabia explicar-se. isso?
Como era?
Estava preso
por
Então mete-se um homem na ca-
deia porque ele não sabe falar direito? Nunca vira uma escola.
Por isso nao
[
... ]
conseguia
defender-se, botar as coisas nos seus
lugares.
O demónio daquela história entrava-lhe na cabeça e saia.
Era para um cristão endoidecer.
lhe tivessem dado ensino, encontraria meio entendê-la. .
chos.
4.
Se de
Impossivel, só sabia lidar com bi-
Mas a consciência da limitação impõe uma necessidade de su perá-la, ainda que lançando mão de meios que se sabem inúteis:
Fabiano também nao sabia falar.
Às
vezes
largava nomes arrevesados, por embromação. perfeitamente que tudo era besteira. arrumar o que tinha no interior.
Via
Não podia
Se pudesse ...
Ah! Se pudesse, atacaria os soldados
amarelos
5 . t uras lno . f enslvas. . que espancam as crla
A capacidade de expressao oral teria, na fantasia da impotência, um poder bem maior do que o que a realidade lhe reserva: poder de coibir, por si so, o arbitrio e a injustiça.
o
Saber
e xpressar-se bem seria, pois, a aspiração máxima dos que,
so-
cialmente marginalizados, desejam garantir para si e para
sua
produção cultural a aceitação da classe dominante.
por
Eis
que no Nordeste, por exemplo, o repentista, o cantador, o poeta popular goza de tanto prestigio no seio da população analfabeta.
Eis também por que as alas de compositores
quase têm
86
papel tão destacado em nossas Escolas de Samba.
Porque
sao
exatarnente essas pessoas que funcionam nao apenas corno portavozes da comunidade, mas que representam a parte falante
ca-
paz de ombrear e dialogar com os "soldados amarelos" que
se
espalham oprimindo o homem comum, condenado ao silêncio
por
seus escassos recursos. No entanto, a noçao de "expressar-se bem" parece variar de acordo com o ponto de vista adotado.
também
Para um compQ
sitor de classe média expressar-se bem seria, em nossos dias, recorrer a uma linguagem simples, despojada, quase sem mentos.
Para o compositor popular, ao contrário,
orna-
expressar-
-se bem sera mostrar-se familiarizado com o manejo de figuras de retórica, de um vocabulário rebuscado, de urna abundante.
adjetivação
Porque essas características marcariam, para ele,
o limite entre a sua língua coloquial e a língua culta.
literária
E é à segunda que recorrerá para fazer seu samba,
tado em ocasião especialíssima, que deve em tudo e por distinguir-se do cotidiano.
ca~
tudo
Jamais a linguagem do dia-a-dia
seria compatível com a grandiosidade do desfile. Na verdade, a língua popular não se afasta da própria sia.
Se na gíria estão presentes os mesmos recursos que
po~
a
retórica sistematiza, e sinal de que esses mecanismos psíqui-
- sao estranhos ao inconsciente popular e podem cos nao
muito
bem aflorar quando se trata, já não da gíria, mas de sua propria forma de poesia.
É Mattoso Cãmara Jr. que ensina:
[ ... ] a língua culta da comunicação
objetiva
se complementa com o que podemos chama·r a linguagem poética, onde as formas
lingtlísticas
(
~7
adquirem urna carga afetiva e nao valem apenas corno símbolos representativos das coisas, senao corno urna estruturação emotiva, ou estética, que se superpõe ao seu valor representat! vo. Ora, a gíria é justamente a linguagem
po~
tica correspondente à língua popular. Os recursos com que dá sentido afetivo as formas lingüísticas são, em última
análise,
os mesmos que se encontram na linguagem poét! ca mais apurada.
A diferença está no
mate
rial de que se serve, e nao nos processos por que o submete a esse fim:
a metonímia, a me-
táfora, a catacrese, a ironia, e todas as demais figuras de linguagem, que a retórica
de
fine e metodiza, aparecem na gíria, exteriori zando estados psíquicos e visando a nar e sugestionar o próximo.
irnpressi~
A própria
rnaçao da linguagem normal, que logo
defo~
ressalta
da gíria, ela a partilha com a língua . 6 . d a poes1a.
geral
Naturalmente o samba-enredo se filia antes ao genero ép! co do que ao lírico e isso explica a espantosa incidência de proposição e invocação, em moldes mais ou menos que observamos no corpus estudado.
clássicos,
Fato tanto mais estranhá
vel quanto nos dez anos por ele abrangidos já se tendências bem modernas e inovadoras.
encontram
Mas nem assim abando-
narn os compositores o hábito de revelar de antemão ao ouvinte aquilo que pretendem cantar em seus sambas. vocaçao
Quanto à
in
seja a Deus, seja a Orfeu ou à Fantasia -, ela foi
cornuníssirna nas décadas de 50 e 60, mas em nosso corpus
se
verifica apenas um exemplo, no samba n9 24, Réquiem por
um
sambista:
)
88
Senhor, iluminai a minha mente Prestando esta homenagem Ao mestre Silas ausente.
Já a proposição tem nesse universo de trabalho exemplos, desde os mais tradicionais até formas bem de enunciar o tema que será cantado.
inúmeros modernas
O uso clássico da
prop~
sição a situa no inicio do poema e a maioria dos compositores Encontrei nada menos que trinta
segue a risca este molde.
oito sambas que iniciam pela proposição.
Esta será as
e
vezes
direta e simples: o nome da Escola associado ao titulo do seu enredo ou a um resumo dele.
Cidades feitas de memória
t
o tema da História
Que Lucas apresenta neste carnaval (34)
Portela apresenta Do folclore tradições ( 4 o)
Em verde e rosa A Mangueira vem mostrar O fascinante tema
"De Nonô a JK" ( 1 o5)
Amor! Amor! Amor! A mulher em festival Traz a Portela ( 7 5)
89
É tempo de carnaval
Hoje as cores do Império Vêm saudar a imigração
(64)
Baila no ar a poesia A Mocidade irradia Sua magia neste carnaval Oh! Natureza linda
(89)
Paraná ê, e Paraná É o Império da Tijuca
Na Avenida a lhe exaltar ( 1 20)
Pode ainda o poeta omitir o nome de sua Escola e optar por uma forma mais impessoal, como:
Já raiou o dia A passarela vai se transformar Num cenário de magia Lembrando a velha Bahia [ ... ] (52)
O samba vem homena gear Tradições antigas Do folclore popular (58)
É tão sublime exaltar
Neste dia de folia E cantar A odisséia de um valente br a sileiro Contra o monstro estrangeiro ( 1 08)
90
Às vezes é o recurso à primeira pessoa, do singular ou do plural, que caracteriza a proposição, deixando-a mais sem vinculá-la a uma determinada Escola.
Trago para este carnaval Um passado de grande valor ( 7 6)
Me preparei para o desfile principal Jã mandei fazer a fantasia De renda bordada Lá da Ilha da Madeira Já estou pronto Para entrar na brincadeira. ( 11 o)
Vem dos tempos imperiais A história que vamos apresentar De LoureDÇO Madureira ( 2)
Pra que chorar? ~ tempo de samba com empolgação Vamos recordar Rosinha Encantando a multidão (36)
Vai levantar poeira Oi deixa o couro comer O Estácio virou tema Seu passado e um poema Agora e que eu quero ver [
... ]
Viemos mostrar agora O velho Estácio de outrora Revivendo a tradição (97)
livre,
91
Deixa-me encantar Com tudo teu e revelar O que vai acontecer Nesta noite de esplendor ( 1 o3)
Neste palco iluminado SÓ dá L alá
És presente, imortal SÓ dá Lalá Nossa Escola se encanta O povão se agiganta
É dono do carnaval (99)
Vamos recordar Lima Barreto Mulato pobre, jornalista e escritor [
... ]
Lima Barreto Este seu povo quer falar só de voce _ A sua vida, sua obra é nosso enredo E agora canta em louvor e gratidão ( 11 5)
Acontece também vir a mençao à Escola de uma maneira mais sutil
e nao
clara.
É o caso do exemplo seguinte, em
nao e a Escola que narrará os fatos, mas sim os próprios
que fa-
tos que se desenrolarão à vista do espectador dentro da Escola:
Venham ver No Império minha gente Um navegante procurando upabuçu Ansiosamente ( 21 )
•
92
Há ainda o recurso de falar em primeira pessoa nos prime~ ros versos e somente ao final do samba identificar-se.
Hoje venho falar de tradições Das regiões do meu país Do seu costume popular [
... ]
Eis a Mangueira Com seu carnaval (28)
Mas o procedimento mais comum, coerente com a idéia de que se deve enfeitar a expressão, é lançar mão de formas mais buscadas para dizer uma coisa tão simples: que.
quem apresenta
Nesse rebuscamento é preciso descrever o cenário em
se passa o desfile da Escola.
Ou pode-se lançar mão de
reo que ima-
gens como "as asas da poesia", "sonho infinito e colossal'.' .
Ou
ainda descrever em razoável número de versos, exaltando-a,
a
própria Escola a que pertence o compositor ou simplesmente
o
carnaval.
Vejamos alguns exemplos:
Nesta passarela reluzente Contagiando muita gente Ao ver a nossa Escola desfilar Jacarezinho apresenta Um tema fascinante O Ameno Resedá ( 1 7)
Abriu-se a cortina do universo Pra Vila cantar em verso Urna história astral ( 1 8)
•
93
O Império deu o toque de alvorada Seu samba a estrela despertou A cidade está toda enfeitada Pra ver a vedete que voltou (33)
Na festa que Rei Morno anuncia Com suprema alegria Carnaval São Carlos nas asas da poesia Cantará com galhardia Um enredo original
(27)
Voando nas asas da poesia A Porbela em euforia Vive um mundo de ilusão E vem cantar Os mistérios da Ilha de Marajó (46)
Lá vem Portela Com Pixinguinha em seu altar E altar de Escola é o samba Que a gente faz E na rua vem cantar (25)
O povo sambando Cantando a melodia Salgueiro traz o tema Eneida, amor e fantasia ( 1 9)
94
~
de novo carnaval
Para o samba este é o maior prêmio E o Beija-Flor vem exaltar Com galhardia o grande decênio (44)
Viola vadia de vida boa · A Beija-Flor cantando voa Na Literatura de Cordel ( 11 4)
Salgueiro se apresenta novamente Saudando o grande povo em geral Bailando com a pureza dos ventos Num sonho infinito e colossal Trazendo de uma terra tão distante A lenda dos divinos orixãs (96)
Mangueira hoje em evolução Cantando mostra com louvor O mito em sua máxima .expressão Panapanã o segredo do amor (59)
Excitando a mente a poesia O poeta descobria Momentos de raro prazer E nessa linda melodia Coisas nossas dia-a-dia A Mangueira vem trazer (98)
A musa do poeta E a lira do compositor
t
95
Estão aqui de novo Convocando o povo Para entoar um poema de amor Brasil! Brasil! Avante meu Brasil! Vem participar do festival Que a Mocidade Independente Apresenta neste carnaval (87)
Hoje vou erguer meu estandarte Vou mostrar beleza e arte Dos antigos carnavais Vou me vestir de alegria Com a Mocidade minha gente Abrindo alas pra folia ( 1 o6)
Reluzente como a luz do dia Bela e formosa como as ondas do mar Encantadora e feliz Chega a Imperatriz Fazendo o ·povo vibrar Eh! Bahia! Vou cantá-la nos meus versos (90)
Resplandeceu Iluminando a minha vida Urna estrela que surgiu A desfilar nesta Avenida Em raios coloridos Contagiando o povao de alegria Esta é a Vila Brilhando neste dia de folia
(), ô, o Nesta noite reluzente Lembramos um passado envolvente ( 1 o9)
••
96
As vezes, porem, a proposição pode vir somente no meio do samba, ainda respeitada a liberdade do poeta de mencionar
ou
nao o nome da sua Escola e de enunciar com maior ou menor minúcia, com maior ou menor lirismo, aquilo que vai cantar:
Dos carnavais Modernos e de outrora Personagens marcantes Recordamos agora ( 3 8)
Sim, chegou a hora Da passarela conhecer A
idéia do artista
Imaginando .o que vai acontecer No Brasil no ano dois mil ( 2 6)
E a Vila Isabel se faz presente Num vendaval de alegria Cantando em verso e prosa o dia-a-dia ( 1 o2)
Sua lagoa, sua história sobrenatural Que a Mangueira traz pra esse carnaval ( 1 3)
Hoje a Mocidade Independente Convida toda gente A cantar em seu louvor ( 1 6)
A União com seu lirismo Deleitada em romantismo
97
Vem acrescentar Poemas de máscaras em sonhos Para a velha praça engalanar (56)
Pode ser ainda justamente no final do samba que ao
poeta
ocorre dizer aquilo que cantou, como se temesse que nao tenha isso ficado claro para o ouvinte:
• Salve o carnaval Viva a brincadeira Nosso enredo este ano É
sobre Silas de Oliveira (24)
Vejam nesta passarela A imagem daquela festa tão bela (70)
Olha o saci-pererê Cobra-grande e caipora Deslumbrando todo mundo Mocidade mostra agora (72)
Está na hora, é carnaval O artista descreveu Um enredo original (86)
No povo a busca incessante De um momento feliz A Imperatriz em festa Hoje aqui se manifesta No palco da raiz ( 11 9)
98
Lima Barreto Este seu povo quer falar só de voce A sua vida, a sua obra é nosso enredo E agora canta em louvor e gratidão ( 11 5)
Muitas vezes, em formas nao tão bem acabadas de proposição, o poeta não chega a expressar sua intenção de modo claro,
mas
começa o samba com o que julga ser o mais importante: sua
par-
ticipação no desfile do primeiro grupo.
Este é um comportamen-
to tipico das assim chamadas Escolas pequenas, que nao
conse-
guem disfarçar seu deslumbramento diante do fato de se apresentar entre as grandes Escolas, no que chamam respeitosamente
de
"desfile principal":
É Tupi de Brás de Pina no desfile principal
Vejam do homem de cor o samba tradicional ( 1 4)
ou Me preparei para o desfile principal Já mandei fazer a fantasia De renda bordada Lá da Ilha da Madeira ( 11 o)
Além do uso de proposição, ingrediente da epopéia
clássica
sem qualquer traço de permanência em nosso tempo, uma outra caracteristica de estilo do samba-enredo se afasta da retórica mo derna: a abundância na adjetivação. tilí~tica
Enquanto os manuais de es-
recomendam cautela e parcimônia no emprego de adjeti-
vos, como é o caso de Rodrigues Lapa nesta passagem:
99
Toda a cautela é pouca no emprego do vo.
adjet~
Dizia um grande escritor francês, Voltaire,
que o substantivo e o adjetivo são dois gos figadais.
inimi-
Queria ele significar que
há mais censurável no estilo do que a ção supérflua dos adjetivos.
nada
acumula-
Por isso o bom es
critor deve insistir no emprego do
substantivo
expressivo, que contém já em si um elemento caracterização.
de
Evita sobretudo carregar a fra
se de adjetivos, corno quem carrega um fardo. 7
os nossos compositores de Escola de Samba nao poupam adjetivos para enfeitar seus substantivos.
E inútil é o argumento
de
que tais enfeites são supérfluos, pois o limite entre essencial e supérfluo é, entre eles, bem peculiar.
Simplesmente,
se
o enfeite se for considerar supérfluo, a própria noção do carnaval será abalada.
Escolher alguns exemplos não foi
tarefa
fácil, tendo em vista que cada um dos cento e virlte sambas estudados oferece mais de urna ocorrência, e às vezes várias:
Em noite linda Em noite bela Viemos na Avenida ( 2)
o negro na senzala cruciante Olhando o céu pedia a todo instante ( 4)
Terra dos capoeiras Do famoso candomblé ( 6)
100
Lutou pela liberdade E contra o terrível preconceito ( 6)
6 pais de progresso onipresente De notáveis recursos naturais ~
seu profundo mar azul
F~rtil
em peixes, petr6leo e minerais ( 1 o)
Oh! Que linda noite de luar Oh! Que poesia e sedução Branca areia, água escura ( 1 3)
Tudo era fascinante Nesse mundo pequenino ( 1 5)
E num delírio multicor De confete e serpentina Desfilavam pierrôs ( 1 6)
Jacarezinho apresenta Um tema fascinante "O Ameno Resedá" É um fato importante
Com detalhe interessante Do antigo carnaval ( 1 7)
Coração puro e nobre Foi benquista Entre ricos e
p~bres
( 1 9)
1 o1
O folclore brasileiro Com a sua história original Deu um belo colorido Ao cenário cultural (22)
Urna obra fascinante Que o poeta tão brilhante O povo admirou (34)
Barbacena formosa Cidade das rosas Canto teus encantos Com sublime emoção (37)
Podemos explicar, com Rodrigues Lapa, o excesso de adjeti vação por urna tendência a buscar o equilíbrio da frase,
corno
se a simples enunciação do substantivo fosse insuficiente para expressar o que nos vai na mente e no coraçao.
Vejamos
o
que diz:
[ ... ) somos levados a empregar o adjetivo
por
um instinto artístico, urna tendência para
o
arredondamento e para a calafetação da
frase.
Parece-nos que ao substantivo falta um
qualif~
cativo; e, corno a natureza é preguiçosa,
em
vez de escolhermos o bom adjetivo, o único que a circunstãncia requer, adotamos um caracterizador banal, que serve para tudo: lindo, admirável, soberbo, enorme, etc.
Sobretudo
aprendizes de estilo estão sujeitos a deslizes.
Por preguiça, que e o pior
do estilo, usam e abusam destas
os estes inimigo
calafetações
102
. 8 que na d a exprlmem.
Alheio as regras dos manuais de estilo, o que norteia
o
compositor popular é o seu sentimento estético, que não acus~ ria de ''banais" adjetivos como lindo, admirável, maravilhoso, belo, bom.
Aliás, o conceito de banal é que lhe e
alheio,
justamente porque o que já foi usado parece ao compositor pr~ ferivel ao que nunca foi dito.
Mais adiante veremos como
o
samba-enredo desenvolveu, como a poesia de outros generos
e
de outras épocas, seus próprios lugares-comuns. Na escolha dos vocábulos é determinante também a necessidade de rima e de metro e o efeito sonoro da palavra em çao com a melodia.
Num comportamento lingüistico próprio
poesia, a preocupação com o
signific~nte
é maior do que
rela da na
comunicação predominantemente denotativa. ~ o adjetivo afetivo, e não o intelectual, meramente des-
critivo, que aparece com mais freqüência em nosso corpus.
Po
demos afirmar que para cada exemplo de adjetivação descritiva se podem citar dois de adjetivação sentimental. · O
é intelectual num e x emplo como:
E vai chegando o amanhecer Leio a me nsagem zodiacal ( 7 3)
ou em
E os negros africanos Com a sua tradição ( 81 )
adjetivo
103
Ele adquire, porem, "um sentido figurado e superlativo", torna-se ''impregnado de sentimento"
9
em exemplos como estes:
Oh! Doce mae natureza Seus lindos campos Verdes matas e seu imenso mar (83)
Em sonhos coloridos No império das ilusões Viajei por caminhos floridos [
... ]
A luz me levou ao passado milenar Eu vi o reino encantado ( 91 )
Como se depreende com facilidade desses exemplos, a adjetivação predileta do compositor popular e a hiperbólica, aqu~ la que acentua, levando-a ao exagero, a qualidade no substantivo.
~o
implícita imenso
caso de: passado milenar (91);
mar (83), sol escaldante (43), senzala cruciante (4), suprema alegria (27), progresso constante (44), projeção mundial (44), e tantos outros exemplos que se poderiam colher nos sambas es tudados. Curioso e notar que o adjetivo pode até prescindir
de
substantivo e galgar a posição de titulo de um samba.
Trata-
-se daquele que no corpus recebe o número 84: Incrível, t~stico,
Extraordin~rio,
Fan-
que a Portela apresentou em 1979.
como nao podia deixar de ser, o substantivo a que se esses três adjetivos é carnaval.
~
a festa máxima do
E~
referem povo
que se quer caracterizar de modo tão exageradamente positivo,
104
de modo emocional e redundante.
rnobil~
Afinal, um assunto que
za todas as emoções dos sambistas merece ser tratado assim! Ternos visto até agora corno o compositor popular enfeita seu discurso fazendo uso, corno elemento de adorno, de
adjeti-
vos, tornados aí principalmente corno significantes, forma que se acrescenta.
o
enquanto elerne~
Porém, além dessa preocupação
tar de enfeitar o discurso, há também de sua parte o
intento
de refletir nele o universo ideológico-afetivo em que se encon tra inserido.
Passaremos a observar agora corno esse
contexto
extralingüístico se reflete semanticamente no discurso,
pela q~e
incidência de palavras de determinados campos sernãnticos deixam entrever urna preocupação muito clara de tentar
passar
para a fala, por um mecanismo compensatório, o brilho, a
opu-
lência, o esplendor com que o compositor popular sonha, exatarnente por lhe ser tão distante.
Acredito, e pretendo
demons-
trar, que a aproximação do discurso do samba-enredo ao
univer
so ideológico-afetivo de seu autor se expressa, talvez de modo inconsciente, na freqUência e variedade com que emprega
pala-
vras da área semântica que poderíamos rotular, genericamente, de esplendor.
O estudo passa, portanto, a partir de agora,
a
preocupar-se nao mais apenas com o adjetivo corno significante, mas com as palavras lexicais - substantivo, adjetivo e verbo portadoras de significados básicos na estruturação da mensagem do samba-enredo. Existe, por exemplo, certo tipo de substantivo cujo
signi~ .
ficado evoca o contexto ideológico-afetivo do compositor, suscita, independentemente de vir ou não acompanhado de vo, urna idéia de enfeite, de alegoria.
~
que
adjet~
o caso de festa e de
seus cognatos festança, festejo e festival.
Tais
palavras
105
apresentam um elevado iridice de incidência no corpus.
E
nao
apenas para designar a festa do carnaval, mas inúmeras outras que se tornam enredo.
Observem-se os seguinte exemplos:
Jangadas ao mar Pra buscar lagosta Pra levar pra festa em Jaboatão (1)
Tem a festa da Ribeira A festa do lava-pé ( 6)
Mostro as lindas festas Das noites enluaradas ( 2 8)
Reunidos davam inicio à festança Com pandeiros, tamborins ( 4)
Perto do pãlio da soberana Um festival em cores Enfeita a naçao ( 2 3)
Delira meu povo Neste festejo colossal (29)
Revivendo com beleza Os festejos de Veneza ( 7)
•
1 06
Há simplicidade e beleza Na festa do meu coraçao ( 9 2)
Também se encontram, além dessas, palavras da mesma
area
semântica e, para evitar urna excessiva repetição de exemplos, darei entre parênteses o número do samba em que tais palavras ocorrem no corpus, para que se tenha noção da sua fregüência, além de permitir a verificação e análise de cada
ocorrência.
Assim ternos: folia (18, 36, 42, 56, 58, 58, 64, 65, 84, 100,103,106,106,108,109, 117)i folguedo (58, 69)i rnoraçao ( 1 3)
i
a8, come-
animação ( 2 9) ; brincadeira ( 1 5 , 24, 45, 69, 94,
11 o) ; alegria ( 5 , 5, 7, 1 5, 1 7 , 22, 27, 33, 35, 38, 41 ,
42,
79, 84, 86, 92, 93,
93,
(4 1
1 2,
48, 55, 59, 62, 64, 65, 68, 70, 71 1 00 1 102, 106, 1091 111
1
111
1
1
11 4, 11 8)
i
felicidade
1 8 1 84, 9 2) ; carnaval ( 3 1 5 I 7, 7, 7, 7 1 7 1 8 1 11
1
14 1
13 1
1 6 1 1 6 1 1 7 1 1 8 1 1 9 1 22, 22, 23, 24, 2 4, 27, 28, 28, 36,
37,
62, 64, 65, 70,
72,
38, 38, 38
1
41
1
42, 44, 45, 60, 61
1
61
1
1 o4 1
' 7 51 76, 80, 80, 84, 86, 87, 89, 92, 94, 99, 100, 103, 104, 1 o6 1 1 06 1 1 o9 1 11 2 1 11 2 1 11 3 1 11 5 1 11 7 1 11 7) ; ( 1 4 1 1091 11 o) ; show ( 1 o6 1 111
1
desfile
11 9) ; a12oteose (117).
Diretarnente associada à idéia de festa está a idéia de es plendor, luxo, suntuosidade.
Não basta haver o festejo,
alegria: é preciso também que ela se recubra de fulgor. alguns exemplos, fornecerei a relação das ocorrências:
Que maravilha! Que esplendor! ( 1 6)
a Após
107
Seus versos eram tão lindos! Cheios de poesia e esplendor! ( 2 2)
Presença feita de mistério Com fascínio e sortilégio Não consegue desvendar (39)
A Portela em euforia Vive um mundo de ilusão (46)
Vejam em noite de gala ( 2 3)
Tropicália maravilha É enredo e fascinação ( 8 9)
Exemplos semelhantes podem-se encontrar de: maravilha (7, 1 o4) ;
16, 16, 32, 35, 57, 70, 88, 89, 89, 94, 94, 102, 103, esplendor
(16, 18, 22, 23, 37, 39, 57, 59, 64, 65, 67, 71, 78,
82, 83, 84, 103, 104); f·ascinaçáo (56, 56, 6 0 , 89);
fascinio
(39, 65); euforia (22, 46, 58, 111); enlevo (28); encanto (10, 37, 54, 65, 67, 68, 94); encantação prazer
(39); delícia (84,
88);
(39, 98, 100, 117) i sortilégio (39) i magia (13, 14, 28,
31, 31, 39, 41, 42, 46, 50, 51, 54, 56, 67, 77, 86, 87, 88, 89, 90, 94, 114); feitiço 116); sensação
(56, 75); sedução
(13, 72, 84,
91,
(39); resplendor (94); suntuosidade (27); emo-
çao (37, 75, 88, 91, 117); fulgor
(57, 63); luxo
. (92, 106);
108
gala (23, 50, 50); turbilhão (89, 100); louvor (16, 52,
59,
72, 112, 115). A idéia de festa, de luxo e suntuosidade se relaciona
na
mente do compositor popular à de sonho, ilusão e delírio, noçoes que ele tem bem presentes como a própria essência da fes ta que o motiva a compor.
Basta um rápido exame dos exemplos
abaixo para se ter a certeza disso:
Ao embarcar na ilusão Senti palpitar meu coraçao. ( 1 5)
Era contagiante O Rio no carnaval [
... ]
E num delírio multicor De confete e serpentina ( 1 6)
Quero me perder Na minha imaginação E brincar na ilusão ( 9 3)
Ao ressoarem os clarins da folia O sonho Filho da noite e do infinito e o rei No paraíso da loucura Ao povo proclamou A seguinte lei: (88)
109
O anjo pediu-lhe atenção E do faz-de-conta transpôs o portão ( 11 3)
Encontramos ainda alucinação (36) i devaneio (48) i ilusão 24 t
46 t
79
t
84 t
88
t
91
t
91
t
91
t
93 t
97
f
1 o3
nh0 ( 1 8 t
34 f
41
1
45
47
f
56
f
56
f
56
t
56
63
f
79 f
(15 t
88, 91, 91, 91, 95,
t
95,
95,
f
11 2)
f
79
~
80
I
(102) i dellrio
55, 88, 93, 112) i miragem
I
84 f
95, 95, 96, 101, 101, 105, 110)i
fantasia (16, 18, 19, 19, 48, 86, 88, 94, 97, 98, 100, 109, 110) i quimera
SO-
(16) i
(39) i loucura
101,
imaginação (32,
48,
(88, 88, 112) i
ins-
piração (45, 66) i faz-de-conta (113, 113). Também idéias que considera positivas, como riqueza, nobreza, heroismo, prosperidade, harmonia, amor, beleza, veiculadas abundantemente em nossos sambas-enredo.
~
sao como
se o compositor timbrasse em fornecer da realidade essa imagem, como se ele não desejasse estragar a sua festa com nada que não fosse beleza, afeto, galhardia .e grandeza.
Cinqüenta anos de glória Estão no Palácio do Samba (76)
Do nosso Brasil que segue avante Pelo céu, mar e terra Nas asas do progresso constante Onde tanta riqueza se encerra (44)
Há simplicidade e beleza Na festa do meu coraçao (92)
11 o
Mestre-sala e porta-bandeira Girando num conto de amor ( 11 6)
Esta série de exemplos se completa com os seguintes: glória (6, 11, 19, 29, 37, 62, 76, 105)i ápice (37)i apogeu (117)i soberania (10, 23) i grandeza (46, 47, 57, 78) i irnensidãô (41, 89, 103, 119, 120) i riqueza (14, 32, 39, 44, 57, 63, 67,
67,
82, 91, 92, 96,107, 119); prosperidade (102); valor(6,
26,
37, 38, 45, 60, 66, .7 6)i majestade (45); realeza (113)i nobreza (32, · 37, 70, 88,100, 112); galhardia (9, 27, 44)i heroísmo (47, 63, 100); afeto (74)i amor (9, 12, 18, 19, 19, 19, 20, 22, 27, 27, 30, 37, 39, 40, 41 , 43, 53, 56, 56, 58, 59, 59, 59, 59, 61 , 68, 68, 69, 70, 71 , 73, 75, 75, 75, 77, 78, 86, 87, 88, 89, 92, 95, 99, 1 o2, 103, 1 o3, 104, 1 o6, 1 1 5 , 11 6 1 11 6, 11 6, 11 6 , 11 7 , 1 2 o) i ternura ( 1 3, 25, 75, 9 5) ; beleza ,( 7' 1 o, 1 4, 21 , 29, 30, 37, 42, 46, 47, 57, 60, 67, 68, 70, 72, 74, 75, 83, 88, 88, 89, 91 , 92, 104, 1 o4, 106, 106, 107, 11 3 1 11 9) ; singeleza ( 77, 11 3) ; graça ( 2 9, 65) i pureza (46, 96, 9 8) i harmonia (59, 8 6) i sutileza (68, 9 2) . Resta mencionar aqueles substantivos que, sem traduzirem diretarnente a idéia de festa, alegria e suntuosidade, nomeiam símbolos dessas idéias.
Alguns, corno confete e serpenti-
na, simbolizam a idéia de carnaval, assim corno ouro e
prata
a suntuosidade, e clarim, sol e sorriso são símbolos de alegria.
Mas luz, cor, som, fogos, enfeite, arco-íris, colori-
do, poesia, perfume, também estas palavras não suscitam, ain da que de modo menos direto, o campo semântico que se configurando corno o predileto de nosso compositor
vem
popular?
111
Uma olhada nos exemplos que seguem pode nos ser de alguma uti lidade:
Resplandeceu Iluminando a minha vida Uma estrela que surgiu A desfilar nesta Avenida ( 1 o9)
Mestre-sala e porta-bandeira Riscam o chão de poesia (84)
A União com seu lirismo Deleitada em romantismo Vem acrescentar (56)
Das matas fez o salão dos espelhos [
... ]
De ouro e prata, o mundo irreal (32)
Ao ressoarem os clarins da folia
O sonho Filho da noite e do infinito é o rei ( 8 8)
Complemente-se esta idéia com os seguintes exemplos: ouro (32, 37, 63, 63, 67, 67, 82, 82, 91, 107, 114, 118, 120, 120, 120); prata (32, 32, 57, 67, 71, 89, 113); enfeite (54);
som
( 4 , 5 , 4 1 , 5 8 , 5 9 , 6 O, 7 O1 9 7 , 1 O6 , 1 1 9 ) ; c la r im ( 3 6 1 6 4 , 7 O, 88); acorde (105); sinfonia (89, 118); cor (9, 10, 14,
23,
11 2
25, 42, 115)
i
45, 56, 57, 58, 64, 65, 67, 68, 70, 75, 75, 98, 100,
colorido (22, 56, 92)
i
aquarela (33, 62)
flor
i
(21, 25,
29, 30, 36, 39, 42, 45, 53, 54, 59, 72, 75, 83, 94, 1.14, 116)i
per fume
( 2 51 4 2)
i
SO 1
85, 85, 88, 91, 93,
(1o1
3 9 1 41
1
43 I
46 I
56
94, 100, 100, 102, 106, 113, 120)i astro
(18, 18, 48, 102) i estrela
(33,
33, 40, 55, 58, 63, 85, 88,
101,109,112, 120); constelação (40, 63); lua 31
1
53, 68, 68, 88,
95, 11 2
43, 53, 85, 91 ) i clarão 11 3) i auror:a
( 77
1
(4
1
1
(4, 18, 18, 30,
11 3 1 11 6 1 11 9) i luar
..
21 ) i arco-1ris
1 o4) i alvorada
(33, 89) i
--
( 81
(29)i confete
81
1
luz -
55, 56, 70, 75, 77, 77, 78, 85, 85, 89, 90, 91 106, 120)i fogos
68 I 6 8 I 8 3 I
67 I
I
( 1 3 1 21 1
81
1
40,
1
81
1
(32, 42, 48, 1
100, 1 o2 1 1 o3 1
(16, 56, 64,109, 117); serpen-
tina (16, 38, 56, 64, 109, 117); sorriso (64, 75, 92, 95); lirismo (19, 56); arte (26, 27, 37, 42, 54, 54, 54, 72, 93, 102, 106 1 116); poesia 100,101
1
(13, 22, 27, 46, 61, 84, 89, 97, 98,
103, 116); paralso (39, 88
1
88,
102)i Éden (102,
1 02) i Eldorado (67, 91, 91).
Também os verbos, classe de palavras lexicais,
dotadas,
portanto, de significação objetiva, ao contrário das palavras gramaticais - preposições e conjunções, por exemplo - portado ra s de significação gramatical, também os verbos, dizia se prestam a um estudo semelhante.
À área semântica de
gria são correlates os verbos que exprimem açoe s deste
.eu, . ale-
resultantes
sentimento, como é o caso de dançar, cantar, sorrir
e
outros similares, testemunho de uma grande necessidade de extravasar os sentimentos:
Olelê, olalá Me solta, me deixa
11 3
Que eu quero sambar Olelê, olalá Eu quero cantar, batucar e pular ( 1 6)
Vamos, meu povo, vamos cantar Quero ver quem e de samba Quero ver quem vai sambar! ( 1 7)
A ordem do rei é brincar Quatro dias sem_.parar! ... (84)
Salões enfeitados em multicores Dançavam até o romper do dia (55)
Quem dera Que a vida fosse assim Sonhar, sorrir Cantar, sambar E nunca mais ter fim ( 9 9)
Baila no ar a poesia A Mocidade irradia Sua magia neste carnaval ( 8 9)
Bailou no ar O ecoar de um canto de alegria! ( 71 )
I
114
A musa do poeta E a lira do compositor Estão aqui de novo Convocando o povo Para entoar um poema de amor (87)
Encontrei ainda inúmeros exemplos que se podem enumerar: bailar ( 6 8' 71 ' 83, 89, 96, 98, 11 2) i dançar ( 5' 5' 5, 1 4 ' 28, 30, 54, 55, 60, 79, 79, 84, 1 o1 '
103, 11 2' 11 9' 11 9' 11 9' 11 9) i
sambar ( 1 2' 1 2' 1 2' 1 6 ' 1 7 ' 18' 1 9 ' 27, 36, 38, 42, 65, 65, 68, 99, 1 o3) i batucar ( 1 6' 61 '
( 1 6' 9 4) ; brincar
11 2) ; pular
cantar ( 1 8' 53, 65, 84, 93, 94, 94, 103, 1 o3) i 8' 11 '
1 6' 1 6' 1 6' 1 6'
1 2' 1 3' 1 4 '
1:] '
31
1
32, 37, 40, 40, 4 1 '
52, 53, 58, 59, 61
1
63, 64, 70, 71 '
27, 28, 30, 31 '
94, 97, 99, 1 o1 1
19 '
3'
3' 5,
20, 24, 25, 27,
4 3 , . 45, 46, 48,
43,
75, 76, 90, 91 '
92, 93,
1 02' 1 o6' 107, 108, 109' 11 3' 11 4' 11 5' 11 8 1
11 9 1 1 20) i entoar ( 1 7 ' 61, 64,
18 '
(1 '
109, 111)i rir
64, 87) i desfilar (108, 108); sorrir
(5 '
8' 1 6' 1 7 '
54,
(5, 12, 53, 93, 99,
103, 114). À idéia de amor corresponde uma série de verbos como amar
(56, 56, 80, 84, 116, 116) i gostar
(108) i adorar
(30, 56,. 120) i
admirar (34); venerar (56) i abraçar (41, 49, 56, 84, 100, 100, 117) i acalentar
(105); embalar (93, 117).
Vejamos os seguin-
tes exemplos:
Raça morena que desbrava a mata Canta a beleza do alto Xingu Adora lendas, rios e cascatas (30)
t
1 15
Pierrô, eu te amo e te quero Te adoro e venero, Coração do meu peito (56)_
Chegou o carnaval Vou me abraçar com a cidade (84)
6 Praça Onze tu és imortal Teus braços embalaram o samba À sua apoteose triunfal
( 11 7)
Já à noçao de enfeite sao correlatas verbos como enfeitar (23, 104, 117) i ornar (10, 71) i adornar (30); engalanar
(56,
70)
(19,
i
colorir (81, 92, 112)
i
emoldurar (107)
37, 41, 117) i agigantar (99).
i
enriquecer
Disso são exemplos:
Enfeitei meu coraçao De confete e serpentina ( 11 7)
A praça em alegria se engalana Para receber o nosso povo ( 7 o)
Colori Com toda a minha simpatia Um visual de alegria (92)
11 6
O povao se agiganta É dono do carnaval ( 9 9)
As noçoes de riqueza, nobreza, grandeza e heroismo pressupoem verbos como homenagear (58, 93); exaltar (5, 24, 27, 44, 57, 75,107,108, 120); enaltecer (29, 31, 31, 46,
64, 65,
79); consagrar
(115); louvar
(112) i perpetuar
dir (80, 93)
decantar (92)
65,
94,
i
l15); relembrar
(107); elevar
i
(15,
(80); festejar
(34, 45, 61);
(27, 57) i valorizar
(69); aplau-
recordar (2, 20, 24, 36, 38, 62, 65,
80, 97); saudar
(10,
9 6) :
O povo com seu sorriso Vem pra Avenida festejar ( 6 4)
É tão sublime exaltar
Neste dia de folia E cantar a odisséia De um valente brasileiro ( 1 o8)
Vamos
laurear
r~cordar
Lima Barreto
Mulato pobre, jornalista e escritor Figura destacada do romance social Que hoje laureamos neste carnaval ( 11 5)
O samba vem homenagear Tradições antigas (58)
23, 64,
•
11 7
Deixa Falar, o, o Deixa Falar, Relembrando aquele tempo Que nao pode mais voltar (97)
Há ainda um grupo de verbos cujo significado exprime o que parece ser a dupla função do sambista no carnaval: _ encantar-se
e encantar.
A esse grupo pertencem fascinar
104, 112, 116) i extasiar
(84) i seduzir
(37, 57, _72, 113)i divertir
(37,
(46, 89) i
(35, 79)i encantar
(6,
57, 70, 91, 92, 99,100,103,109, 112)i contagiar 84, 109, 117)i inspirar
(27)i brilhar
40,
46,
deslumbrar 36, 40, 53, (14,
17,
(1, 7, 30, 33, 63,
88, 95,102,102,104,104,109, 120)i extravasar
(117)i
lirar (29, 56, 88, 92)i vibrar (17, 67, 90, 92, 113). ocorrências podemos destacar:
Noite linda, lua tão bela Mangueira novamente fascinando O povao na passarela ( 11 2)
Vem me fascinar Oh, que sedução O canto de minha gente Assediando meu coraçao ( 11 6)
O povo vai viver doce ilusão Se extasiando no jardim da sedução (84)
56,
83,
de-
Destas
l
11 8
Deixa-me encantar Com tudo teu e revelar O que vai acontecer Nesta noite de esplendor ( 1 o3)
Esta é a Vila Brilhando neste dia de folia ( 1 o9)
Delira meu povo Neste festejo colossal ( 2 9)
Vibrava a platéia em geral Matizando alegria Glorificando nosso carnaval ( 1 7)
A noçao de brilhar se complementa com um outro grupo
de
verbos que, ainda que nao a expressem de modo direto, lhe sao correlatas.
~o caso de iluminar
(10, 24, 30, 47, 94,
96,
102, 104, 105, 109, 119) i acender (48, 116) i clarear (39, 103, 113); resplandecer (33, 109); ressoar (88); ecoar (71, 119) i irradiar (84, 89) char (83, 114)
i
i
faiscar
florescer
52, 70, 93, 103, 113).
(104) (63)
i
i
matizar (17, 77)
reflorescer (83)
Vejamos alguns exemplos:
No meu pais tudo é assim A lua acende a poesia lá no ceu ( 11 6)
i
i
desabro-
raiar (24,
11 9
Eparrei, Iansã, Ilumine o dia de amanhã
(96)
Resplandeceu Iluminando a minha vida Uma estrela que surgiu A desfilar nesta Avenida ( 1 o9)
Saias rodadas de negras baianas Giram faiscando de esplendor ( 1 o4)
E a natureza Com seu cenário multicor Refloresce novamente Com todo seu esplendor ( 8 3)
A luz raiou pra clarear a poesia ( 1 o3)
Finalmente, a idéia de sonho, ilusão, quimera e expressa pelo compositor popular nos verbos imaginar (26, 45, 94); "inventar (65); sonhar (33, 41, 41, 41, 45, 45, 45, 45, 73, 95, 95, 95, 95, 95, 95, 95, 95, 95, 95, 99, 110). como exemplos:
.-. Sim, chegou a hora Da passarela conhecer A idéia do artista Imaginando o que vai acontecer No Brasil no ano dois mil ( 2 6)
91,
Destacamos
•
120
E vinha um rei Num belo carro naval Alegrando a Saturnália Inventando o carnaval (65)
Com seu viver de alegria Fez tanta gente sonhar (33)
Sonhei Que estava sonhando Um sonho sonhado (95)
Quem dera Que a vida fosse assim Sonhar, sorrir ( 9 9)
Já ficou dito acimaque aadjetivação, além de abundante, é afetiva e quase sempre hiperbólica.
Assim como
dividimos
substantivos e verbos em grupos, de acordo com a idéia expressam, com mais razão, e pelos motivos expostos, fazer o mesmo com os adjetivos.
que devemos
No primeiro grupo arrolaria-
mos os adjetivos que traduzem a noçao de tamanho, como grande (6, 9, 9, 11' 12, 27, 29, 30, 31, 37, 37, 37, 44, 44, 47, 60, 63, 71, 76, 76, 76, 78, 86, 96, 99, 105)i colossal (29,
57,
67, 96); ime nso (37, 74, 83, 85, 107, 113)i maior (4, 44, 111); máximo (59) i supremo (14, 27) i extenso (35) i infinito (96) i infindo (89).
121
De uma grande união Formou-se uma naçao ( 7 8)
Salgueiro se apresenta novamente Saudando o grande povo em geral Bailando com a pureza dos ventos Num sonho infinito e colossal (96)
Para tornar o seu mundo bem melhor Morreu numa imensa odisséia (85)
Todo negro dono de sua liberdade Na maior felicidade Se dirigia para lá ( 4)
Mangueira hoje em evolução Cantando mostra com louvor O mito em sua máxima expressao (59)
Dos indigenas a dança Feita de lança na mao Dedicando a Tupã Uma suprema louvação ( 1 4)
Oh! Natureza linda Deu beleza infinda A este pais tropical (89)
122
Um outro grupo poderia acolher os adjetivos que exprimem louvação: célebre (107) i eminente (107) i emérito (26) i notável (105) i admirável (115) i importante (17, 23, 29) i marcante (38, 38, 67)i invulgar (19)i genial (7, 19, 57, 62,
triunfal (34, 57, 117)i heróico (1o, 37); glorioso (90, 104); varonil ( 1 O) •
Hoje o Império Serrano
•
t
80)i
Vem com Pero Vaz de Caminha O célebre eminente precursor ( 1 o7)
A escritora de lirismo invulgar Enriqueceu o folclore nacional ( 1 9)
Ordem e Progresso Este lema genial (57)
Tem no povo heróico a defesa varonil ( 1 o)
A louvação pode referir-se a aspectos mais físicos do que morais, como ós arrolados acima.
Neste caso estão belo
(2,
15, 22, 27, 45, 47, 65, 70, 78, 79, 90, 94, 100, 100, 109, 112, 114); bonito (25, 72, 92, 92, 120); formoso (37, 65, 68, 90 I 1 00)
Í
lindO ( 1 1 2 I 71 71 1 o 1 121 121 1 31 171 21
1
221 281
35, 56, 56, 57, 59, 60, 61, 65, 68, 70, 72, 83, 83, 88, 89, 94, 98, 106,107, 112,117,118, 120); encantador (90); deslumbrante (11, 104).
123
No sol bonito da manhã Na imensidão . da terra dos tupis Iara adorava o deus Tupã ( 120)
Em noite linda Em noite bela Viemos na Avenida ( 2)
'
I
Oh! bela, formosa, eterna capital Do povo carioca tão legal ( 1 00)
O Portela! Portela Ô! Na vida és a Pasárgada mais bela! ( 1 5)
A noçao
de nobreza,
importãncia e riqueza se relacionam
adjetivos como rico (54, 57, 82, 113, 120) i famoso
(6,
19,
51, 72, 72, 76, 77, 90, 106); poderoso (67, 82); soberano (47); cobiçado (10, 63); precioso (107); nobre -(19, 37) i
sa-
grado (10, 57, 71, 96, 120)
di-
i
puro (19, 59, 77, 95, 120)
vino (57, 62, 71, 96, 105)i divinal (56, 57, 91, 99).
Existirá, pergunto eu, pergunto eu, Um reino tão rico e feli z que o meu ( 11 3)
Coração puro e nobre fo i benquista Entre ricos e pobres ( 1 9)
i
124
Como é lindo e divinal O ·colorido de confete e serpentina (56)
Divino veu, manto estrelado Com seus raios cor de prata ~
este céu que o azul destaca (57)
Também a bondade pode ser objeto de louvação e esta idéia se expressa por adjet.ivos como bom (1; 5, 20, 25, 25, 45, 61, 66, 66, 77, 89, 92, 92, 98, 108, 113, 114)i melhor (3, 25, 85) i supremo (14, 27) i ideal
(72) i gentil
(75) i singelo (92) i
gostoso (19, 89, 116), conforme atestam os seguintes exemplos:
Mitavai, bom lavrador e vaqueiro Deixa o sertão brasileiro Vai combater Macobeba maldito ( 1 o8)
Na festa que Rei Morno anuncia Com suprema alegria Carnaval ( 2 7)
O boto se transforma em namorado Bailarino encantado e sedutor ideal (72)
E outra vez na passarela Colorida e tão singela O sangue novo faz toda gente vibrar ( 9 2)
125
Já vimos os verbos e substantivos que se ligam à área semântica do sonho, da imaginação.
Também alguns adjetivos exirreal
pressam esta noção: lendário (41, 53, ·72, 105, 120); (32, 103); legendário
(37, 54); mágico
(102); magnetizado (95);
encantado (21, 21, 21, 28, 32, 41, 55, 55, 67, 72, 79, 83, 85, 88, 91, 93, 93, 94, 96, 101, 112, 113).
Por exemplo:
Lendário passara cantor Quando canta o seu amor Todos param pra escutar ( 41 )
No oriente a força mágica dos astros Era obra da divindade ( 1 o2)
Eis o cortejo irreal Com as maravilhas do mar ( 1 o3)
No seu mundo encantado SÓ na velhice que a morte acontecia (85)
O maior grupo, no entanto, é o
do~
adjetivos que traduzem
a noçao de enfeite, brilho e colorido. São adjetivos as vezes dotados de · forte carga de emoção, certamente porque a de ornato tem grande importância para o sambista:
Neste gru-
po encontramos enfeitado (33, 45, 55, 91 ) ; engalanado 80); multicor
noçao
; . !53,
(16, 55, 59, 83, 86, 104); colorido (54, 57,
65, 68, 91, 109); dourado
(21, 71, 80, 93, 105, "113, 114);
126
aureo (57); prateado (59, 113, 118); fascinante
(15, 17, 34,
35, 53, 78, 79, 105, 111, 114); maravilhoso (14, 68, 107); sensacional (8, 37); fantástico
(41, 67, 84, 84); fenomenal
(37); incrivel (84, 84); extraordinário (8~, 84); emocionante (11); sublime (24, 37, 100, 108, 113); brilhante (34); triunfal
(34, 57, 117); vibrante (57); envolvente (109); radiante
(41, 72); resplandecente
(10)~
luzente (59); reluzente (17,
48, 90, 109); énluarado (28, 39, 76); sonoro (100); feliz
(41); alegre
(7, 15, 46, 47, 49, 68, 73 -, 73, 75, 79, 90, 93,
95, 99, 101, 111, 113, 119).
Desta extensa relação podemos
destacar os seguintes exemplos:
A cidade está toda enfeitada Pra ver a vedete que voltou (33)
Toda a corte engalanada Transformando o mar em flor
vê o Império enamorado Chegar à morada do amor (53)
Era lindo o ente alado Em rodopio multicor (59)
Guerreiro dourado eu sou ( 11 4)
Vibrou extasiado Ao ver a lua no seu reino prateado ( 11 3)
127
E o sol resplandecente Iluminando esta terra de encantos mil ( 1 o) .
Uma obra fascinante Que o poeta tão brilhante O povo admirou ( 3 4)
Nesta passarela reluzente Contagiando muita gente ( 1 7)
Após tão longa análise do que julgo ser a principal característica da linguagem do samba-enredo em nossos dias, o
uso
da palavra como enfeite, quer como significante, quer significado~
como
quando evoca o contexto ideológico-afetivo de seu
usuário - o compositor popular -, caberá naturalmente uma pergunta: enfeitar para quê?
Não basta observar que a
grande
maioria dos compositores populares recorre a este tipo de
pa-
lavras; nem é suficiente comprovar esta preferência com inumeráveis exemplos.
~ necessário tentar explicar a razão
desse
procedimento lingüístico, e explicá-lo com elementos deste dis curso que temos em mãos: cento e vinte sambas cantados na Avenida em onze carnavais próximos de nós no tempo. A resposta que me ocorre de imediato parece óbvia e e preciso agora verificar se ela tem respaldo no discurso do compositor popular, sobre o qual me debruço neste trabalho.
E
a
resposta me ocorre primeiramente por uma ·via extralingüística: a observação de que, diante dos preços cada vez mais elevados das fantasias de nossas Escolas, é o componente humilde,
carente
128
e pobre quem menos reclama.
Ao contrário, faz questão de fan
tasia bordada, de tecido brilhante, de plumas. peito nu e pé descalço, nem pensar.
Fantasia
Pois para este
de
humilde
componente o limite entre a realidade e o espaço do sonho deve ser, de preferência, um abismo.
Assim, na "Avenida colori
da" ou, se quiserem, no "desfile principal", nada deve lembrar a dura realidade do . resto do ano, a realidade da roupa pobre, do pé descalço, do despojamento e da simplicidade forçados. Da mesma forma, a linguagem utilizada- para cantar o "tema fascinante" deve ser também diferente do trivial, do vocabulá Nesta
rio parco, resultante de uma instrução deficiente. "noite reluzente" é preciso embarcar no sonho, falar de alegria, "virando a tristeza pelo avesso".
apenas
Falar de
"lua
cheia" e "céu estrelado", mesmo que chova torrencialmente, lar de um Brasil belo, rico, forte, em constante
f~
progresso,
tão diferente da realidade que nos cerca; falar de festa, bri lho e riqueza, tudo justamente que falta ao resto do ano. Este belo compromisso com a alegria tem sido mal
interpr~
tado por alguns estudiosos do fenômeno das Escolas de
Samba,
que acreditam que é o desejo de ascensão social ou a
ilusão
de poder conseguir, por meio do carnaval, uma vida melhor,que levam os sambistas a não falar, nos seus sambas-enredo, agruras de sua v ida .
Qu~ro
c re r que esta opinião é preconce!
tuosa porque p ressupõe no sambista uma ingenuidade que não tem.
ele
Pelo contrário, sabe perfeitamente que, desta forma,
nada v ai mudar, que não é essa dade.
das
a maneira
de modificar a reali
Esta é tão-somente a sua maneira de se divertir, e nao
de d iver tir os outros, o que muitos pensam ser a sua preocupaçao.
maior
129
No carnaval de 1982, quando o G.R.E.S. Unidos da Tijuca se apresentou com
o enredo "Lima Barreto, mulato pobre mas
livre", ouvi de uma jovem sambista que não poderia desfilar na Escola naquele ano, porque, embora achasse o samba
belí~
simo, não tinha jeito de cantar durante o desfile, toda bem vestida, penteada e maquiada, o refrão
Sem amor, sem carinho, Esquecido morreu na solidão ( 11 5)
Quando a tristeza está tão próxima, e preciso virá-la do avesso com vigor e não deixar chegar ao carnaval vestígio dela. acaba.
Ela voltará,
~
qualquer
certo, porque o carnaval
se
E o sambista tem consciência disto e o expressa
as
vezes de maneira clara, às vezes sutil, em vários
sambas,
nao só em várias passagens do corpus ora estudado, como também fora dele.
Em 1965, Silas de Oliveira, do Império
no, começava assim o seu antológico samba
Serr~
Os Cinco Bailes --------------------
da História do Rio:
Carnaval, doce ilusão, Dê-me um pouco de magia De perfume e fantasia E também de sedução Quero sentir nas asas do infinito Minha imaginação
Demonstra aí uma clara consciência da efemeridade do car naval,mas deseja "embarcar na ilusão'', corno diz o compositor do samba n9 15 de nosso corpus.
Em 1979, o samba do Império
130
Serrano, de autoria de Jorge Lucas e Roberto Ribeiro, que nao faz parte desse corpus _por se achar a Escola naquele ano
no
segundo grupo, começa com este verso significativo : "Carnaval
é ilusão".
E é dessa doce ilusão que falam dois sambas
mesmo ano, so que de Escolas que desfilaram no grupo I e tão, portanto, incluídos neste trabalho. fant~stico,
do es-
Um deles é Incrível,
extraordinãrio, da Portela:
Chegou o carnaval Vou me abraçar com a cidade Eu quero saber só da folia Nesta festa que irradia Sonhos mil, felicidades. Oh! Quanto esplendor! H~ palhaços, colombinas, arlequins e pierrôs O povo vai viver doce ilusão Se extasiando no jardim da sedução
6 ô ô ô ô ô ô ô Alegria
j~
contagiou
A ordem do rei é brincar Quatro dias sem parar! Incrível, fant~stico, extraordin~rio O talento de um povo Que mantém acesa a chama da tradição O carioca tem um que Sabe amar e viver Ao dançar no salão ou no cordão Trabalha de janeiro a janeiro Em fevereiro cai nas delícias da folia Mestre-sala e porta-bandeira Riscam o chão de poesia! Segura baiana! Ioiô e iaiã! Na quarta-feira Tudo vai se acabar. (84)
131
• Esta certeza de que o sonho do carnaval, mais palpável que a realidade, é efémero desmente} preconceito de que o sambista nao tem consciência de seus problemas e pensa que o lhe possibilitará uma mudança de vida.
carnaval
Vejamos o que dizem os
autores deste O paraíso da loucura, que a Beija-Flor cantou em 1979:
[ ••• J Ao ressoarem os clarins da folia O sonho Filho da noite e do infinito e o rei No paraíso da loucura Ao povo proclamou A seguinte lei: Esqueçam os problemas da vida O trem, o dinheiro e a bronca do patrão Não pensem em suas marmitas E no alto preço do feijão Joguem fora a roupa do dia-a-dia E tomem banhos no chuveiro da ilusão. Olhem o ceu que maravilha Retalhos de nuvens, bordados de estrelas Quando o sol e alua brilham A natureza vem mostrar sua beleza Tudo neste mundo é encantado Como o despertar da primavera Tirem do passado a nobreza E do futuro a magia da surpresa. Entrem no jardim das delícias Pela porta da imaginação Criem a fantasia mais linda Delirem neste canto de emoção. (88)
Em 1981 a Imperatriz Leopoldinense daria a sua sutil çao de ilusão e felicidade efémera no samba Teu cabelo
linao
1 32
nega, Lalá, quando diz:
Eu vou me embora Vou no Trem da Alegria Ser feliz um dia Todo dia é dia [
... )
Quem dera Que a vida fosse assim Sonhar, sorrir Cantar, sambar E nunca mais ter fim ( 9 9)
~
triste, sem dúvida, ser feliz so um dia.
do que nao ter nem esse dia de sonho.
Mas é melhor
E esse Único dia
em
que nao e proibido ser feliz vale tanto para o sambista
que
sua magia contamina e impregna o discurso do compositor
pop~
lar com palavras que transmitam de maneira inequivoca
esta
noçao.
Ele nâo consegue atingir a sonhada objetividade
um épico e a toda hora,
~esmo
quando nâo é de si que
de fala
diretamente, evoca, talvez até inconscientemente, a sua realidade, o seu universo ideológico-afetivo, como se, mesmo ao falar de qutra coisa, nâo conseguisse calar essa
mensagem
sutil e latente que compõe, tanto quanto a patente, o discur so.
seu
Por e x emplo, ao falar das práticas religiosas dos
escravos na senzala, diz o compositor:
Eles festejavam os deuses Cantando pra nao chorar ( 31 )
I
1 33
I
Não será também de si mesmo que está falando aí?
Não ex-
pressará ai a emoção de toda uma comunidade que, pobre e rente, ao brincar o carnaval, faz justamente isso?
ca-
Outro com
positor começa desta forma o seu samba:
Pra que chorar? ~
tempo de samba com empolgação (36)
~
certo que, ao contar a triste morte da porta-estandarte
do conto de Aníbal Machado, não é descabida esta inicial.
observação
Mas não valerá este conselho para todo e
qualquer
sambista que, tendo motivos de sobra para chorar, deve, sar disso, entregar-se de corpo e alma à folia?
ape-
O mesmo lem-
brete se encontra em
~
carnaval, é folia
Neste dia ninguém chora ( 11 7)
Este último verso é a confissão de que nao se pode ponder pela alegria nos demais dias do ano, e é mais um
restes-
temunho de que, aqui e ali, de modo nem sempre direto e objetivo, o compositor está a nos falar de seu contexto, de
seu
universo, que chega até nós, nesse enfoque, por meio de
suas
palavras. E mesmo quando ocorre ao compositor usar seu samba
como
forma de protesto contra uma situação social que lhe é
tão
adversa - e isso só acontece raramente:
em cento e vinte sam
bas estudados, apenas um exemplo (108) - é brincando que
ele
134
o faz.
Como se devesse ser alegre mesmo quando empenhado numa Este samba, O que dá pra rir dá pra chorar, é
baseado
no romance Manuscrito holandês, de Manuel Cavalcanti
Proença,
luta.
que versa sobre a luta do caboclo Mitavai contra o monstro Macobeba, alegoria do capital estrangeiro no Brasil; ou, no
di-
z er do sambista
A odisséia de um valente brasileiro Contra o monstro estrangeiro Que com todo seu dinheiro Quer calar a nossa voz ( 1 o8)
O samba se desenvolve de maneira jocosa e termina com
um
refrão que se tornou popular, devido à possibilidade de se alterar, respeitando a rima, o último verso, introduzindo
uma
expressao grosseira que o público das arqu i bancadas adotou imediato:
Tira daqui, leva pra lá O que hoje dá pra rir Amanhã dá pra chorar Maldito bicho se me ouviu E não gostou do meu samba Vá p r a longe do Brasil ( 1 o8)
Eis a manifestação do espirito lúdico de sse povo sofrido que na
[ ... }busca incessante De um momento feliz ( 11 9)
de
1 35
nao hesita em mascarar seu sofrimento e fazer das tripas cora çao para oferecer a si mesmo e aos outros um espetáculo alegria, luz e cor.
Na Avenida, espaço consentido do
espaço nunca determinado por uma especificação (Rio
de sonho,
Branco,
Presidente Vargas, Marquês de Sapucai), sempre descrita de ma neira onirica, como em:
Em noite linda Em noite bela Viemos na Avenida Recordar em passarela ( 2)
Desfilando na Avenida Negro é sensacional ( 8)
O povo com seu sorriso Vem pra Ave nida festejar ( 6 4)
Esta onda que borda a Avenida de espuma Me arrasta a sambar ( 1 o3)
E na Avenida colorida O sol enche a folia de luz e calor (lO 6)
As mil e uma noites cariocas Na Avenida iluminada ( 11 2)
136
nesta Avenida que é sempre colorida e iluminada, o
sambista
se faz protagonista de um espetáculo de duração limitada, mas que, para ele, tem importância muito superior a da realidade.
própria
E é por isso que é tão freqüente, no samba-enredo,
a alusão a elementos do teatro.
Anotei a ocorrência das
vras teatro (32, 42, 80, 112); c e nário (11, 22, 27, 37,
pal~
68,
83, 86, 91); platéia (17, 80); palco (37, 99, 119); personagem (38, 38, 115); passarela (2, 15, 17, 26, 33, 51, 70, 9 2 , 1 1 O , 111 , 11 2) ; show ( 1 O6 , 111 , 1 1 9) , e das abrir a cortina (18) e abrir o pano (33).
Pra todo o céu suburbano Ver sua estrela brilhar ( 3 3)
Abriu-se a cortina do universo Pra Vila cantar em verso Urna história astral ( 1 8)
Vibrava a platéia em geral Matizando alegria Glorificando nosso carnaval ( 1 7)
Neste palco iluminado SÓ da Lalá És presente,irnortal (99)
expressoes
Para conferir:
Outra vez se abre o pano
81,
1 37
Dos carnavais Modernos e de outrora Personagens marcantes Recordamos agora ( 3 8)
E neste teatro- passarela Ela resplandece novamente (33)
Veja que cenário deslumbrante Desta história emocionante ( 11 )
O show da natureza Esculturando a razao ( 11 9)
A observação deste último exemplo me leva a retomar id~ia
já expressa neste trabalho: a de que
p~ra
uma
o compositor
popular o significante prevalece muitas vezes sobre o significado.
A palavra bonita, sonora e imponente tem para
mais valor do que outra que se encaixe melhor no
ele
contexto
semântico, mas que nao ofereça os mesmos recursos de rima de simples sonoridade. ~ privil~gio
Este comportamento lingüistico
do compositor de samba-enredo: em geral,
e nao
todo
poeta popular vê nas palavras mais a camada fónica e sonora, muitas vezes em detrimento da camada do significado. Eis por que seus versos tantas vezes são considerados destituidos de sentido aos olhos dos criticos eruditos. apreciar a poesia desses versos
~
Para compreender e
preciso despir-se de
todo
1 38
Pfeconceito e encarar a beleza de purpurina das palavras harmoniosamente justapostas com o intuito de brilhar. Urna análise mais detida do léxico do samba-enredo me permitiu supor que freqüenternente o poeta popular se sente inseguro no manejo das palavras.
E não são os aspectos
gramati-
cais que o atormentam, porque, com relação a estes, nao
hesi
ta em afastar-se da norma culta da lingua, não deliberadamenpo~
te, e claro, uma vez que nao tem consciência dela: apenas que lhe é totalmente alheia.
Sua insegurança se
manifesta
.exatamente na escolha das palavras: observei uma tendência repetição de sintagmas já usados em sambas anteriores,
ocasi~
nando o aparecimento de verdadeiros lugares-comuns dentro genero.
a
do
Por exemplo, nas três ocorrências do substantivo bum-
bo no corpus, vem ele acompanhado do adjetivo original.
Cer-
tamente muitos adjetivos serviriam para caracterizar
este
substantivo, mas o que se nota e que no samba-enredo a novida de, o inusitado, não tem tanta irnportãncia quanto a repetição de um sintagma já consagrado pela voz do povo.
Assim é
que
em sambas cantados em três carnavais consecutivos (1973, 1974, 1975) por três diferentes Escolas (Mocidade Independente,
Ma~
gueira e Em Cima da Hora), aparece o sintagma bumbo original, sem que isso tenha provocado qualquer comentário negativo sequer despertado estranheza.
O entrudo com suas fantasias E o zé Pereira com seu bumbo original ( 1 6)
ou
139
E o zé Pereira Com seu bumbo original Eis a Mangueira Com seu carnaval ( 2 8)
zé Pereira com seu bumbo original
O Rei Morno comandando o pessoal (38)
Já o sintagma nas asas da poesia levaria dois anos ·ser reutilizado em um samba-enredo na Avenida.
para
Em 1 9 7 4·, te-
mos
são Carlos nas asas da poesia Cantará com galhardia Um enredo original (27)
t '
e em 1976:
Voando Nas asas da poesia A Portela em euforia Vive um mundo de ilusão ( 4 6)
Repare-se que o segundo samba segue até mesmo o ' · modelo de citar o nome da Escola associado ao lugar-comum, não desejando portanto introduzir qualquer inovação que
pudesse
representar uma ruptura com a tradição lingüística. Igualmente a associação dos verbos cantar e.encantar,
140
~troduzida
pela Portela em seu samba de 1975
Canta o uirapuru e encanta Liberta a mágoa do seu triste coraçao (40)
seria reutilizada em 1977 pela mesma Escola, ainda que por ou tros compositores, em
O povo canta e o rei se encanta Com a força do canto de amor (70)
A expressao uma história que fascina foi também integralmente repetida pela Portela em 1976
Uma história que fascina Vem do alto da colina do Pacoval (46)
quando fora já usada no samba da Unidos de são Carlos em 1975
Uma história que fascina E ao mundo deslumbrou (37)
Isto se torna facilmente comprovável num exemplo como que daremos abaixo, em que o sintagma que se cristaliza de alguma forma, inusitado. dância: folclore popular.
o e,
No caso, trata-se de uma redunO sintagma é pleonástico,porque a
palavra folclore já contém em si a idéia de popular.
Pois
1 41
bem: o sintagma, que aparece pela primeira vez no corpus
num
/'
samba da Escola Lins Imperial de 1976, é repetido no ano
se~
guinte no samba do Império Serrano, e posteriormente, em 1981, reaparece no samba da Mocidade Independente de Padre
Miguel.
Confiramos:
O samba vem homenagear Tradições antigas Do folclore popular (58)
O samba é anfitrião Desta gente que ao chegar Semeou nesta terra Seu folclore popular
(64)
Vejam que beleza o Zé Pereira No bloco de sujo com a zabumba a tocar Essas canções tão famosas Do folclore popular ( 1 o6)
Um outro exemplo evidencia também que nao é casual a
.re-
petição de certos sintagmas que, ouvidos pelo compositor
pop~
..
lar em outros sambas anteriores, ficam gravados em sua ria e · lhe vêm a mente quando o contexto o permite,
memo-
poupando-
-lhe o trabalho de criar coisa nova, que poderia não agradar. Assim, quando em 1975 a Portela escolheu como enredo Macunaima, herói de nossa gente, os compositores do samba ao definirem o herói, assim o descrevem no refrão:
vencedor,
1 42
Macunaíma, Índio branco catimbeiro
/
Negro sonso feiticeiro Mata a cobra e dá o nó ( 4 o)
Onde teriam eles ido buscar o sintagma negro sonso feiticeiro, que não é nada comum, nada consagrado, nenhuma feita sobre Macunaíma?
frase
Não foi, é certo, em nenhum samba-en-
redo deste corpus, mas sim no samba 1922- Oropa, França Bahia, com que a Imperatriz Leopoldinense se apresentou 1970.
e em
O samba assim dizia:
Macunaíma, negro sonso feiticeiro Cobra Norato e a Rainha Luziá São personagens do folclore brasileiro Como a mulata, o café e o vatapá (Imperatriz, 1970)
Evidencia-se um comportamento lingüístico que nao criatividade a banalidade, o que contraria, por exemplo,
opoe o
enfoque modernista de que so o novo tem valor, de que se devem procurar sempre novas maneiras de dizer as coisas. o compositor de samba-enredo, o banal, o trivial, o que
Para já
foi dito, ganha ares de verdade poética. Me nos óbvio, mas também interessante e e x aminarmos
como
a Unidos de Padre Miguel, ao usar em seu samba de 1972
o
sintagma cenário deslumbrante, nos versos
Veja que cenário deslumbrante De sta história e mocion ante Que nos faz cantar assim ( 11 )
143
está reproduzindo o que ouvira num samba que a Estação Primei ra de Mangueira cantou na Avenida em 1968, intitulado
Samba
festa de um povo:
No cenário deslumbrante Do folclore brasileiro A Mangueira apresenta A história do samba verdadeiro (Mangueira, 1968)
Dess~
mesmo samba-enredo se retira a expressao
matizando
alegria que se repetirá no samba Ameno Resedã, da Unidos Jacarezinho em 1973.
de
Comparemos:
Quantas saudades Dos cordões da galeria Onde o samba imperava Matizando alegria (Mangueira, 1968)
Vibrava a platéia em geral Matizando alegria Glorificando nosso carnaval ( 1 7)
Muitas vezes nao é um determinado sintagma que se repete até cristalizar-se, vindo a constituir o lugar-comum, mas apenas o que acontece e que se fortalece urna determinada associação de idéias, que e então repetida, até sem sentir, pelo poeta. Em 1974, cantava o samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense:
144
Oh! como é tão sublime Exaltar o poeta criador (24)
Em 1981, o samba-enredo da Unidos da Tijuca começava
com
estes versos:
~
tão sublime exaltar
Neste dia de folia ... ( 1 o8)
passem
Pode muito bem ser que todos esses exemplos nao de fruto de coincidências.
Mas a mim pareceu que estas e o~ revelam
tras repetições involuntárias de maneiras de dizer
um certo não estar à vontade com o material lingüistico disponlvel, diante da necessidade de falar de coisas tão familiares quanto são, para o sambista, os enredos cos, literários e, mais modernamente, os chamados abstratos.
'Essa "cerimõnia" com a llngua já foi,
mos, bem maior outrora.
Hoje em dia, nos anos
pouco
histórienredos convenhaabrangidos
por nosso corpus, o compositor se permite usar nos sambas p~ lavras e expressões coloquiais e até glria, como se pode verificar nos seguintes exemplos:
Que grilo é esse Vou embarcar nessa onda É o Império Serrano que canta Dando uma de Carmem Miranda ( 3)
1 45
No verde e branco ~
um barato legal
Oscarito é curtição Do nosso carnaval (80)
Segura baiana Ioiô e iaiá Na quarta~feira tudo vai se acabar (84)
É
samba de roda
Batucada e candomblé Tem capoeira e gafieira dando olé (97)
E no campinho a gurizada Atrás de uma bola a rolar Mata no peito, dá lençol, faz embaixada Se torce o pé vai a rezadeira curar (98)
Neste palco iluminado SÓ dá Lalá (99)
Ohl bela, formosa, eterna capital Do povo carioca tão legal ( 1 00)
E no carnaval de hoje Cheio de loucura Vem a nossa verde-e-rosa Que ninguém segura ( 11 2)
146 '
Cumpre observar ainda que, além de se permitir a introduçao nos sambas de tais vocábulos, o compositor passa,
ainda,
a reproduzir onomatopéias, como é o caso em:
Nos nossos rios e matas, chuês e cascatas Riquezas do chão ( 11 9)
ou em:
Bum Bum Paticumbum Prugurundum Nosso samba minha gente é isso aí! ( 11 7)
e até a criar neologismos, ainda que só muito raramente, como o verbo "barboseava", aí sinónimo de "protestava de
maneira
loquaz, verborrágica", e o verbo "cortajacando" que significa "dançando o corta-jaca", neste exemplo:
Rui barboseava no Senado Dizendo ser grosseira A música popular brasileira Num requebrado bem apertado O corta-jaca eu dancei Cortajacando bem gostoso num roçado Foi tudo um sonho eu acordei ( 1 o1 )
Da mesma forma o compositor popular, negro em geral e qu~ se sempre adepto do candomblé ou da umbanda, guardou silêncio durante tantos anos - os anos de luta pela imposição de
sua
e
50
produção musical - sobre suas tradições religiosas,
147
agora se reserva o direito de falar com alguma freqüência, em seus sambas, de seus orixás, suas saudações, suas tradições, enfim.
t
o que podemos observar em abundantes exemplos:
Oh! Meu pai Ogum Na sua fé Saravá Naná e Oxumaré Xangõ, Oxóssi Oxalá e Iemanjá Filha de Oxum Pra nos ajudar Vem nos dar axe Com os eres dos orixás (52)
Oguntê, Marabô Caiala e Sobá Oloxum, Inaê Janaina, Iemanjá (53)
Vão à Igreja do Bonfim ofertar Água no pote ao pai Oxalá Saravá atotô Abaluaiê Iemanjá Ogum Oxumaré (54)
Olorum, ô, ô, ô Misto de infinito e eternidade Também teve seu momento de vaidade Criou a .terra e o céu de Oxalá Pra gerar Aganju e Iemanjá (77)
148
Eparrei, Iansã Ilumine o dia de amanhã
(96}
E quando isso acontece, quando o negro canta seus orixás nos sambas-enredo de suas Escolas, a classe média estranha e reclama.
Não é raro ouvir e até ver impressos
comentários
sobre a "mania" ou a "moda" de nossas Escolas de Samba
de
macumba".
apresentar o que os estranhos chamam "enredos de
Como se não fosse de esperar que o negro falasse exatamente de suas raizes religiosas ... Ele fala delas, fala também do samba e do carnaval, home nageia artistas como Oscarito e Carmem Miranda, músicos como Pixinguinha, exalta a literatura brasileira, reescreve mas como "Vou me embora pra Pasárgada", de Manuel "Invenção de Orfeu",de Jorge de Lima e "Sonho de um de Carlos Drummond de Andrade.
poe-
Bandeira, sonho",
Fala também de lendas e tra-
dições indígenas, ainda narra a História do Brasil, não
es-
quece de enaltecer o ~olclore, louva a situação do pais
ou
protesta contra ela.
Até de temas tão singelos quanto o jo-
go do bicho e o domingo ele fala.
Mas, seja qual for o
redo, este homem, cuja vida nem sempre e um mar de quase sempre não é um mar de rosas, so tem uma
en-
rosas,
preocupaçao:
o compromisso com a alegria, que é a própria razão de ser da festa que com sua voz primitiva abrilhanta.
149
5.1
NOTAS
1 Este sugestivo verso é o segundo do samba-enredo Traços
troças, de Celso Trindade e Bala, que, por ter sido
e
cantado
pelos Acadêmicos do Salgueiro no carnaval de 1983, não
faz
parte do corpus estudado. 2 Gladstone Chaves de Melo, Ainda é tempo de reagir,
artigo
publicado em Carta Mensal, órgão do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio, n9 294, ano XXV, Rio de
Ja-
neiro, setembro de 1979. 3 Gracl'1'1ano Ramos, V'd 1 as secas, p. 40-1. 4 Ibidem, p. 43. 5 Ibidem, p. 44. 6 Mattoso Câmara Jr., Agiria em Machado de Assis , in: Ensaios Machadianos, p. 136. 7 Rodrigues Lapa, Estilistica da lingua portuguesa, 3. ed . revista e aumentada, p. 114-5. 8 Ibidem, p. 115-6. 9 Ibidem, . p. 118.
150
6
CONCLUSÃO
Ao encerrar o trabalho, sera preciso voltar ao ponto
de
partida: o fascinio que o samba-enredo exerceu sobre mim, por aquilo que me pareceu a primeira vista poder ser definido modo muito genérico como "falar dificil".
de
Quis ver nesse com
portamento lingüistico o reflexo da necessidade que afligia o cultural.
sambista de ver aceita e reconhecida sua produção
Mas, ao debruçar-me sobre o corpus constituido de sambas compostos entre 1972 e 1982, verifiquei que n~o era apenas rebuscamento de linguagem, essa eleição de palavras o traço marcante.
esse
dificeis
Além disso, saltou-me aos olhos a preocup~
ção do compositor popular de fantasiar a sua linguagem,
en-
chê-la de brilho, tornando-a compativel com a suntuosidade da festa.
Assim, enchendo de brilho, luz, colorido o seu discur
so, seja pela adjetivação abundante, seja pela organização do vocabulário em torno fundamentalmente da idéia de
esplendor;
qperendo para a sua festa a lua cheia, o céu estrelado, a pi~ ta iluminada, exigindo, enfim, "tudo a que tem direito",
o
compositor estaria de certa forma se compensando de um cotidiano ao qual falta quase tudo.
E como a Avenida, simbolo do
carnaval, ficou s e ndo para ele o espaço onde é permitida total invers~o de valores, é 1~ que ele vai cantar,
uma
coerente
com sua indumentária, seu canto de purpurina. Essa ilusão dura apenas o tempo do desfile, e não nem o próprio samb ista.
engana
Ele nao acredita que o carnaval pos-
sa mudar a sua vid a, mas cre com firmeza que tem direito esse breve sonho.
a
Naquele momento o sonho e a própria reali-
dade e nele nao ac redita apenas o negro ou o mestiço habitante
151
de nossos morros e subúrbios, socialmente caracterizado
como
pertencente a uma determinada classe social: nesse sonho acre dita quem tem forças para isso. de se vestir de rei.
gosta
De rei se veste quem
Bandeira,
E assim como o ~oeta Manuel
homenageado no enredo da Portela em 1973, criou em
Pasárgada
seu espaço de utopia, tamb~m o poeta popular, compositor samba-enredo, ve na Escola de Samba, no desfile de o momento e o lugar onde tudo de bom é possível.
de
carnaval, E o reafir-
ma, sempre que possível, de maneira clara:
Portela, Portela Na vida ~s ·a Pasárgada mais bela ( 1 5)
Há
quem
prefira uma linguagem sem purpurina ou at~ um carnaval
sem
Nem todo compositor popular pensa dessa forma.
purpurina.
Como exemplo desse tipo de pensamento permitam-me
citar um samba de Élton Medeiros, de parceria com Antônio Valente, que, de modo sintomático, se intitula Sem ilusão:
No carnaval Não vou querer me fantasiar Não vou querer me vestir de rei Não quero mais . colorir a dor E se alguém quiser me aplaudir Vai ter que ser assim como eu sou Não quer dizer que nao vou nem brincar SÓ nao quero e enganar o meu coraçao No carnaval Não vou mais sair fingindo Que passo a minha vida inteira a cantar Eu vou me divertir ., Na certa eu vou sambar
152
Mas dessa vez A ilusão não vai me pegar No carnaval Eu sempre saí sorrindo Me divertindo so pra desabafar Três dias pra sorrir Um ano pra chorar Mas dessa vez A ilusão não vai me pegar.
Este ilustre compositor nao se inclui em nosso corpus, e nele estaria completamente deslocado.
De resto, a
exclusão
partiu dele próprio: ex-integrante da Escola de Samba Unidos de Lucas, Élton é um dos fundadores do Grémio Recreativo Arfalou
te Negra e Escola de Samba Quilombo, de que já se atrás.
A letra deste samba expressa todo o despojamento que
a Quilombo preconiza, e o faz até na forma, por um
discurso
enxuto, linear, que nada tem em comum com a purpurina verbal que venho analisando.
Ora, convenharros
que fantasiar-se e
seu discurso não é obrigação de sambista, é opção.
fantasiar Há
quem
prefira sem ilusão, como há quem pref~ra sem anestesia.
Mas
nao creio que o compositor de samba-enredo engane o seu cora çao ou se deixe pegar pela ilusão.
Também ele não passa
vida inteira a cantar, o que não é razao para que nao
a
cante
no carnaval. Veste-se de rei, e arranca aplausos nao por isso, porque quem vai vê-lo gosta do seu canto, se identifica ele.
mas com
Haverá também quem goste de menos brilho e se identifi
que com a simplicidade e a sobriedade vocabular no melhor es tilo da Quilombo.
O presente trabalho não abrange esse dis-
curso, embora não lhe negue valor.
Apenas, a
motivação
153
primeira para a realização deste estudo foi, como já mencionei, exatamente o fascinio exercido sobre mim pela
torrente
de emoçao e beleza que extravasa tão nitidamente na
escolha
de palavras do compositor popular, escolha que pode ser
de-
terminada simplesmente pelo significante, o que
chamariamos
purpurina de forma, ou ainda pelo significado -
purpurina
evidentemente semãntica. Deste esforço me fica a sensaçao de que o popular é algo muito forte que nao se desse tipo. descrever. observação.
deixa conter, represar num
estudo
Sua força está mais no próprio fazer do que
no
Um fato ocorrido há quase dois anos ilustra esta Estava eu participando
de uma mesa-redonda so-
bre as Escolas de Samba em fevereiro de 1982, na quando entrou no auditório um ruidoso grupo de
FUNARTE, autênticos
sambistas que, atraidos por um outro evento que a
FUNARTE
promovera no mesmo dia, pouco antes, resolveram assistir debate anunciado.
Ouvindo o orador, Fernando Pamplona,
principio com atenção, logo começaram a aparteá-lo em
ao a voz
alta, desmentindo algumas de suas afirmações de modo categórico: -"Deixa disso, Pamplona, você em 1962 no Salgueiro ... " e coisas semelhantes. Presidia a mesa o antropó~ogo Roberto da Matta, que, at~ morizado com a perspectiva de tumulto, oonfidenciou em voz baixa o seu propósito de solicitar auxilio a segurança da
FUNARTE
para retirar do recinto os rebeldes, incapazes de um comportamento comme il faut, numa mesa redonda.
Desaconselhado p~
lo jornalista Sérgio Cabral a agir dessa forma, Roberto
da
Matta teve, um minuto depois, a sa~isfação de ver o grupo indesejável sair tão intempestivamente quanto entrara e
tudo
154
voltar à mais perfeita tranqüilidade. Terminado o debate, encontrei no bar Amarelinho uma quer! da amiga que fazia parte do grupo e que, ao me ver, se pos
a
gritar: - "Rachel, fala com franqueza: tu tava gostando daqu~ le papo lá dentro?
Mas como é que você, uma semana antes
carnaval, fica lá dentro naquela chateação, enquanto a
do
gente
tá aqui cantando, batucando e tomando um chope gelado?" Ao encerrar este trabalho, sinto um certo acanhamento pensar que minha amiga Liete acharia o que aqui foi tão monótono e enfadonho quanto aquele debate.
Mas
em
escrito consola-
-me a idéia de que, ao menos aqui, o sambista tem o seu lugar garantido e não corre o risco de se ver expulso pela segurança.
155
7
7.1
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Lisboa,
8
ANEXO
1 9 7 2
-
1 -
G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Onde o Brasil aprendeu a liberdade (Martinho da Vila) Aprendeu-se a liberdade Combatendo em Guararapes Entre flechas e tacapes Facas, fuzis e canhões Brasileiros irmanados Sem senhor e sem senzala E a Senhora dos Prazeres Transformando pedra em bala Bom Nassau já foi embora Fez-se a revolução E a festa da pitomba ~
a reconstituição
Jangadas ao mar Pra buscar lagosta bis
Pra levar pra festa em Jaboatão Vamos preparar lindos mamolengos Pra comemorar a libertação E lá vem maracatu Bumba-meu-boi, vaquejada Cantorias e fandangos Maculelê, marujada Cirandeiro, cirandeiro Sua hora é chegada Vem cantar esta ciranda Pois a roda está formada Cirandeiro, cirandeiro
bis
A pedra do seu anel { Brilha mais do que o sol
oh!
-
G.R.E.S.
2 -
ACAD~MICOS
DO SALGUEIRO
Nossa madrinha, Mangueira querida (Adil de Paula [Zuzuca]) O! O! O!
O meu Senhor! Foi M~ngueira Estação
bis
P~imeira
Que me batizou fTengo-Tengo, Santo Antônio e Chalé ~inha gente, é muito samba no pe Em noite linda
bis
Em noite bela Viemos na Avenida Recordar em passarela O batizado será lembrado Com o Salgueiro de agora
bis
•
Alô Laurindo, alô Viola Alô Mangueira de Cartola Tengo-Tengo, Santo Antônio e Chalé { Minha gente, é muito samba no pe .
-
G.R.E.S.
3 -
IMP~RIO
SERRANO
Alô, alô, tai Carmen Miranda (Wilson Diabo- Maneco- Heitor A.P. da Roc. Urna pequena notável Cantou·rnuito samba
t
motivo de carnaval
Pandeiro, camisa listrada Tornou a baiana internacional Seu nome corria chão Na boca de toda a gente
bis
Que grilo é esse Vou embarcar nessa onda t o Império Serrano que canta Dando urna de Carmen Miranda
bis
Cai, cai, cai, cai Quem mandou escorregar Cai, cai, cai, cai
t
melhor se levantar
Oba!
- 4 G.R.E.S. UNIDOS DE SÂO CARLOS Rio Grande do Sul na festa do Preto Forro Dário Marciano) (Nilo Mendes O negro na senzala cruciante Olhando o céu pedia a todo instante bis
Em seu canto e lamentos de saudade
L
Apenas uma coisa: liberdade Na região denominada Preto Forro Lá na serra do Mateus Na Boca do Mato Todo negro dono de sua liberdade Na maior felicidade Se dirigia para lá Reunidos davam inicio à festança Com pandeiros, tamborins, checheréis e ganzas Oeô, oeá
bis
Saravá meu povo [ E salve todos orixás Sob o clarão da lua E o fosco do lampião A capoeira era jogada
bis
Sempre ao som de um refrão jvocê me ~hamou de moleque LMoleque e tu Rio Grande do Sul Seu folclore, sua gente Também participaram Desta festa diferente Oeô, oeá
bis •
Saravá meu povo [ E salve todos ori x ás
-
5 -
G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Rainha mestiça em tempo de lundu (Serafim Adriano da Silva Jurandir C.N. Mello)
Oi que dança boa bis
Para se dançar Dava um negócio no corpo Ninguém conseguia parar vamos falar de nossa história Lembrando o Brasil imperial Exaltando a rainha mestiça Neste carnaval Vamos falar dos bantos Que para alegria geral Trouxeram de Angola O lundu para alegrar o pessoal
bis
~
aiu da senzala
Entrou nos salões Para alegria de todos corações Os violeiros tocavam a melodia Iaiá dançava, sinhá sorria A rainha desfilava Airosa corno a palmeira Ao som da melodia A tristeza da senzala O escravo esquecia Cantando o lundu
bis
~
Dançando o lundu E tudo terminava em alegria
-
6 -
G.R.E.S. EM CIMA DA HORA Bahia, berço do Brasil (Baianinho) Eh Eh Eh! Bahia! Bahia de São Salvador Terra -dos capoeiras Do famoso candomblé Tem a festa da Ribeira bis
A festa do lava-pé Salve Senhor do Bonfim Que os baianos têm muita fé Glória à heroína Maria Quitéria Mulher de grande valor Lutou pela liberdade E contra o terrível preconceito ahia berço do Brasil
bis
t
Terra de São Salvador Que o mundo inteiro encantou
- 7 G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Rio, carnaval dos
c~rnavais
(Nilton Russo - Moacyr - Padeirinho) Tem maracatu Maculelê, batuquejê Tem capoeira de roda E também tem cateretê Vejam que maravilha Temos a festa mais linda Deste meu pais Esta é mais uma que brilha Como este povo é feliz Para alegria geral Este é o nosso êarnaval bis
Em todo o universo Não existe outro igual SÓ neste Rio tradicional O Rio oferece ao mundo Neste solo fecundo O carnaval dos carnavais Revivendo com beleza Os festejos de Veneza Os cortejos geniais Oriundo dos romanos E dos negros africanos Com seus lindos rituais
•
-
8 -
G.R.E.S. PORTELA Ilu Ayê, terra da vida (Cabana - Norival Reis) bis
rlu-ayê, ilu-ayê, odara LNegro _ cantava na nação .nagô Depois chorou lamento de senzala Tão longe estava de sua Ilu-ayê Tempo passou, ô, o E no terreirão da casa-grande Negro diz tudo que pode dizer t
bis
samba, e batuque, e reza
t dança, e ladainha Negro joga capoeira E faz louvação à rainha Hoje negro é terra, negro e vida
1
Na mutação do tempo
I
Desfilando na Avenida Negro é sensacional É todo a festa de um povo
t dono do carnaval.
r
•
-
9 -
G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Martim Cererê (Zé Catimba - Gibi) Vem ca, Brasil Deixa eu ler a sua mao, menino Que grande destino Reservaram pra voce
lá,
Fala Martim Cererê
bis
lá, lá lá, lá, ue Fala Martim Cererê Tudo era dia O indio deu a terra grande O negro trouxe a noite na cor O branco a galhardia E todos traziam amor Tinham encontro marcado Pra fazer urna nação E o Brasil cresceu tanto Que virou interjeição
bis
Lá, lá, lá, lá, lá, ue [ Fala, Martim Cererê Gigante pra frente a evoluir
bis
•
Lã, i&, lã, iá [ MilhÕes de gigantes a construir
-
10 -
G.R.E.S. UNIDOS DE LUCAS Brasil das duzentas milhas (Pedro Paulo de Oliveira João José da Costa Jorge de Souza Santos Odail Leocádio [Capixaba]) Brasil, Brasil, Brasil Do nascente ao poente Existe um céu cor de anil E o sol resplandecente Iluminando esta terra de encantos mil A passarada gorjeia contente Saudando o gigante Brasil O pais de progresso onipresente De notáveis recursos naturais
E seu profundo mar azul Fértil em peixes, petróleo e minerais Belezas tem de Norte a Sul Lindas praias ornando o seu litoral
O pescador, ó pescador bis
Solta o barco e abre a vela Corno se fosses um pintor Estendendo a sua tela! Oh! Duzentas milhas sagradas E por muitos outros cobiçadas Tem no povo heróico a defesa varonil Guardião avançado da soberania do nosso Brasil!
-
11 -
G.R.E.S. UNIDOS DE PADRE MIGUEL Madureira, seu samba, sua história (Antenor F. Silva [Duduca da Aliança]) Vem dos tempos imperiais A história que vamos apresentar De Lourenço Madureira Desbravando terras, caminhos sem fim Veja que cenário deslumbrante Desta história emocionante Que nos faz cantar assim: bis
Madureira, seu samba, sua história [ Madureira, cantamos sua glória Madureira herdou o nome Deste simples boiadeiro E como bairro abençoado Também tem seu padroeiro Berço de g r andes sambistas Atração de todo o ano Da Portela tão querida Do famoso Império Serrano E quando chega o carnaval Madureira é do samba a capital.
bis
Madureira, seu samba, sua história [ Madureira, cantamos sua glória
-
G.R.E.S.
12 -
IMP~RIO
DA TIJUCA
·o samba no morro e na sociedade (Sebastião Vicente da Silva Djalma do Cavaco) Vamos sambar Não importa o lugar Nos salões mais elegantes Lá no morro tão distante Vamos sambar Sem divisas sociais Ou em notas musicais Sou o povo, sou o amante Felicidade no barraco ou no castelo Sou o samba, sou o elo Ligado às grandes amizades bis
Não vim e sim eu vou [ Vou caminhando levando amor Seria lindo meu povo sorrindo Sambando Seria lindo meu povo pedindo Cantando
•
1 9 7 3
â&#x20AC;¢
-
13 -
G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Lendas do Abaeté (Jajá - Preto Rico - Manoel) Iaiá mandou ir à Bahia No Abaeté para ver sua magia Sua lagoa, sua história sobrenatural Que a Mangueira traz pra este carnaval Janaina ago •.. Agoiá Janaina ago •.. Agoiá Samba, curima com a força de Iemanjá Oh! Que linda noite de luar Oh! Que poesia e sedução Branca areia, agua escura Tanta ternura no batuque e na cançao Lá no fundo da lagoa No seu rito em sua comemoração Foi assim Que eu vi rara cantar Eu vi Alguém mergulhar Para nunca mais voltar.
-
G.R.E.S.
14 -
TUPI DE BRÁS DE PINA
Assim dança o Brasil (Sérgio Ignácio - G.R.E.S. Tupi de Brás de Pina) É Tup~ de Brás de Pina no desfile principal
Vejam do homem de cor o samba tradicional Quanta beleza, quanta magia, no ritmo que contagia bis
[Dos indigenas a dança feita de lança na mao Dedicando a Tupã uma suprema louvação Vejam que tudo aquilo de outrora já transformou-se agora Em riqueza da nossa Nação E na Bahia tem capoeira, que chega a levantar poeira A moçada jogando no chão
bis
Que dança maravilhosa chamada Maracatu [ Que vem lá de Pernambuco, de Caruaru Hoje cantamos o samba do tema das danças Que o povo criou Tem frevos e boi-bumbá que vem do Ceará Nesta onda que eu vou no carnaval
•
-
15 -
G.R.E.S. PORTELA Pasárgada o amigo do Rei (David Corrêa)
bis
rAo embarcar na ilusão lsenti _palpitar meu cor~ção Na passarela um reino surgia Quanta alegria Desembarquei feliz Tudo era fascinante Nesse mundo pequenino Até relembrei os dias Do meu tempo de menino
bis
Nas brincadeiras de roda [ Rodei pelo mundo afora Nesse reino azul Tem tudo que desejei
bis bis
Auê, auê, auê, eu sei [ Eu sei que sou amigo do rei Nas ondas do mar caminhei [ No azul do céu eu voei Lâ vem · ela na Avenida Cinqfientenária tão florida
O Portela! Portela! O Na vida és a Pasárgada mais bela.
-
16 -
G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Rio, Zé Pereira (Sebastião Nascimento [Tião Da Roça] - Eduardo Ferreira [Edu] G. R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel)
E carnaval ••• Canta Ioiô, canta Iaiá
f: o Zé Pereira Chegando lá da Beira Para anunciar Olelê, olalá Me solta, me deixa '.-'
bis
Que eu quero sambar
,•
Olelê, olalá Eu quero cantar batucar e pular Era contagiante O Rio, no carnaval O entrudo, com suas fantasias E o Zé Pereira com seu burnbo original E num delirio multicor De confete e serpentina Desfilavam pierrôs A Madame Pompadour Luiz XV e Colombinas Que maravilha! •.• Que maravilha! Que esplendor! Hoje, a Mocidade Independente . Convida toda gente A c antar em seu louvor .
•
Olelê, olalá Me solta, me deixa bis
Que eu quero sambar Olelê, olalá Eu quero cantar batucar e pular
-
17 -
G.R.E.S. UNIDOS DO JACAREZINHO Ameno Resedá
(Nonô- Sereno - Zé Dedão - G. R. E. S. Unidos do Jacarezinho) Vamos_, meu povo~ vamos cantar bis
[
Quero ver quem e de samba Quero ver quem vai sambar, oi! Nesta passarela reluzente Contagiando muita gente Ao ver a nossa Escola desfilar Jacarezinho apresenta Um tema fascinante "O Ameno Resedá"
É um fato importante
Com detalhe interessante Do antigo carnaval Recordamos na Avenida Que passou em sua vida Alegrando o pessoal Vamos, meu povo, vamos cantar bis
Quero ver quem é de samba [ Quero ver quem vai sambar, oi! Sinto na alma, meus senhores Aquela linda melodia Lentamente entoada Quando o rancho aparecia, Vibrava a platéia em geral Matizando alegria Glorificando nosso carnaval
-
18 -
G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Zodíaco no samba (Paulo Brasão - Irany S. Silva) Abriu-se a cortina do universo Pra Vila cantar em verso Uma história astral Com a astrologia criada Na primeira madrugada A sorte foi lançada Daí pra frente Não há futuro nem presente Que o destino esteja ausente bis bis
Nada se fez nada se faz
LOs
astros não mentem jamais
rDim, dim, dlm, dim, dim, dim, destino é assim
Lo
Se cada signo tem sua missão Seja Virgem, Libra ou Leão Porque a sorte procurar Se ela em suas maos virá Hoje tudo e sonho e fantasia Esplendor e folia Nesta era em que Aquarius nos traz Felicidade, amor e paz bis bis
•
Cheguei a ver na bola de cristal [ Que os astros vêm brincar o carnaval Dindinha l~a, dindinha lua [ Desça do ceu e vem sambar na rua
-
G.R.E.S.
19 -
ACAD~MICOS
DO SALGUEIRO
Eneida, amor e fantasia (Geraldo Babão) O povo sambando Cantando a melodia Salgueiro traz o tema Eneida, amor e fantasia A mulher que veio do Norte Para o Rio de Janeiro Com idéia genial Em busca da glória Na literatura nacional! Expoente jornalista Suas crônicas são imortais Foi amiga dos sambistas Fatos que nao esquecemos jamais Coração puro e nobre foi benquista Entre ricos e pobres ~
famoso o seu Baile do Pierrô
Onde a Colombina procura seu amor A escritora de lirismo invulgar Enriqueceu o folclore nacional Hoje o mundo conhece Através da história do carnaval bis [
•
f;
açaí
f;
tacacá
Coisa gostosa tem lá no Pará
-
20 -
G.R.E.S. EM CIMA DA HORA O saber
po~tico
da Literatura de Cordel (Eládio Gomes dos Santos [Baianinho))
Era urna vez Era assim que começava Eu era menino hoje recordo As histórias que vovô contava. O pavão misterioso Que Evangelista mandou construir ..• Com seu talento conquistou ...
O, ô ...
A filha do conde o seu amor Quem
~
que nao se lembra
O conto do boi rnandingueiro Quando falava o seu nome Vaqueiro tremia de medo Quem amansasse o boi Tinha um prêmio em dinheiro bis
[E tarnb~rn ca~ava com a filha do fazendeiro O padre Ciço do Juazeiro Homem de bom coraçao Sempre lembrado pelo povo cristão Vamos cantar minha gente
bis
bis
•
Preste atenção no refrão [ Viva o poeta violeiro lá do sertão E_ boi ê, ê, ê boiada
~E
rnandingueiro gente e vaquejada
-
21 -
G.R.E.S. IHPtRIO SERRANO Viagem encantada
Pindorama adentro (Wilson Diabo - Malaquias)
Venham ver No Império minha gente Um navegante procurando upabuçu, Ansiosamente No pavão misterioso Vi a sereia do mar Em Pindorama coisas lindas Até o Boitatá Oxóssi rei da mata Fez Guaraci · aparecer Numa jangada Segui o Saci-Pererê Le, re, re, re, re bis
Como rema o Saci-Pererê Le, re, re, re, re SÓ remava o Saci-Pererê Quando Jaci surgiu Enfeitiçando o rio-mar rara me levou Sob o clarão do luar Na lagoa dourada De beleza sem par As flores conversavam Tudo era encantado naquele lugar
bis •
rFoi assim, que encontrei
lo
reino encantado, que procurei
-
22 -
G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Abecê do carnaval à maneira da Literatura de Cordel (Nelson Lima - Gilson Russo da Silva [Caxambu] - G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense)
Carnaval Festa tradicional Alegria do povo Euforia geral
bis
[:é
Pereira boi-bumbá O abre ala que eu quero passar Cantarolando na feira Assim dizia
bis
O cantador Seus versos -eram tão lindos [ Cheios de poesia e esplendor O folclore brasileiro Com a sua história original Deu um belo colorido
bis
(Ao cenário cultural Serra velha
bis
Serra serrador Esta velha deu na neta Por ter falado em amor •
•
1 9 7 4
â&#x20AC;¢
-
23 -
G.R.E.S. IMPÉRIO SERRANO Dona Santa Rainha " do Maracatu (Wilson Diabo - Malaquias - Carlinhos
Vejam em noite de gala· As nações africanas Que o tempo nao +evou É maracatu
Olhem quanto esplendor Na festança real vêm as nações importantes Saudando a rainha Dona Santa Cantarolando no baque virado alucinante
o,
ô, ô, ô Olha costa velha no batuque do tambor
bis
l
O, ô, ô
Maracatu Elefante chegou Perto do pálio da soberana Um festival em cores Enfeita a naçao Vejam a garbosa rainha
bis
bis
•
Na matriz do Rosário [ Depois da coroaç~o rchegou maracatu no Império original ~aracatu tradiç~o
do carnaval
-
24 -
G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Réquiem por um sambista (Cosme - Damião - Guga)
Recordar e viver Imperatriz não podia esquecer Senhor, iluminai a minha mente bis
Prestando esta homenagem [ Ao mestre Silas ausente Quando o dia raiava Alegremente cantava Oh! minha romântica Senhora tentação Carnaval, doce ilusão Oh! como é tão sublime Exaltar o poeta criador Vou pegar na viola
bis
Vou cantar o samba Rendendo esta homenagem Ao mestre Silas bamba Salve o carnaval Viva a brincadeira Nosso enredo este ano É sobre Silas de Oliveira
o bis
•
1ê 1ê ..•
o
1á 1á
Até hoje temos saudade
[Do
sambista popular .
-
25 -
G.R.E.S. PORTELA O mundo melhor de Pixinguinha (Jair Amorim - Evaldo Gouveia - Vel
Lá vem Portela Com Pi x inguinha em seu altar E altar de Escola é o samba Que a gente faz E na rua vem cantar Portela, teu carinhoso tema e oraçao bis
Pra falar de quem ficou [ Como devoção em nosso coração Pizindim, Pizindim, Pizindim Era assim que a vovo Pixinguinha chamava Menino bom na sua língua natal Menino bom que se tornou imortal A roseira dá rosa em botão Pixinguinha dá rosa-canção E a canção bonita e como a flor Que tem perfume e cor E ele que era um poema de ternura e paz
bis
Fez um buquê que nao se esquece mais [ De rosas musicais
•
-
26 -
G.R.E.S. BEIJA-FLOR Brasil ano dois mil (Walter de Oliveira
João Rosa - G.R.E Beija-Flor)
É estrada cortando
bis
A mata em pleno sertão É petróleo jorrando
Com afluência do chão Sim, chegou a hora Da passarela conhecer A idéia do artista Imaginando o que vai acontecer No Brasil no ano dois mil Quem viver verá Nossa terra diferente bis
A ordem do progresso Empurra o Brasil pra frente Com a miscegenação de várias raças Somos um pais promissor O homem e a máquina alcançarão Obras de emérito valor É estrada cortando
A mata em pleno sertão bis
É petróleo jorrando
Com afluência do chão Na arte, na ciência e cultura Nossa terra será forte, sem igual Por isto, o folclore altaneiro bis
fNa comunicaç~o alcançaremos
lo
marco da potência mundial
-
27 -
G.R.E.S. UNIDOS DE SÂO CARLOS Heroinas do romance brasileiro (Djalma das Mercês - Maneco) Na festa que Rei Morno anuncia Com suprema alegria Carnaval são Carlos nas asas da poesia Cantará com galhardia Um enredo original Com arte[sl grandes mestre[s} escritores Perpetuaram amores imortais bis
Fixando na posteridade [ Damas da sociedade nacional Na suntuosidade dos salões Ou nos agrestes sertões e saraus Um clima de romance se fazia Quando uma bela surgia Com seu porte escultural E com seus requintes e maneiras Projetando a mulher brasileira No cenário mundial Músicos, poetas e pintores Inspirado em seus amores As fizeram imortais são conhecidas pelo mundo inteiro As heroinas do romance brasileiro
6 ô ô Vamos cantar As heroinas neste tema singular
o
ô ô Vamos sambar Pras heroinas que viemos e x altar.
-
28 -
G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Mangueira em tempo de folclore (Jajá - Preto Rico - Mano
Hoje venho falar de tradições Das regiões do meu pais Do seu costume popular Canto a magia Do ritual, das lendas encantadas Mostro as lindas festas Das noites enluaradas E ainda em figuras tradicionais Caio no bloco, danço o frevo Enlevo dos nossos carnavais A congada, boi-bumbá
O meu santo sarava O rendeira, muié rendá O baiana, õ sinhá E o Zé Pereira Com seu bumbo original Eis a Mangueira Com seu carnaval.
- 29 G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL A festa do Divino (Tatu - Nezinho - Campo Grande)
Delira meu povo Neste festejo colossal Vindo de terra distante Tornou-se importante e tradicional Bate tambor, toca viola
bis
l
A bandeira do Divino Vem pedir a sua esmola O badalar do sino Anuncia a coroaçao do menino Batuqueiro, violeiro e cantador Alegram o cortejo do pequeno imperador Leiloeiro faz graça Com uma prenda na mão A banda toca com animação Oh que beleza a festa do Divino Flores, músicas e danças E fogos explodindo Roda, gira, gira, roda
bis
Roda grande vai queimar Para a glória do Divino Vamos todos festejar.
-
30 -
G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Aruanã-açu (Paulino da virla - Rodolpho) A grande estrada que passa reinante Por entre rochas, colinas e serras Leva o progresso ao irmão distante Na mata virgem que adorna a terra O uirapuru, o sabiá, a fonte As borboletas, perfumadas flores A esperança de um novo horizonte Traduzem festa, integração e amores Lá, lá, lá, iá,
bis
~
lá, lá, iá
Lá, lá, iá, lá, lá, iá
ô ô Noite de festa na praça da aldeia Dançam em pares índios carajás E lá no céu brilha a lua cheia Iluminando os mananciais Raça morena que desbrava a mata Canta a beleza do alto Xingu Adora lendas, rios e cascatas Pois isso é Aruanã-açu
bis
rTem seringueiro, tem pescador ~ndio guerreiro que também é caçador
-
31 -
G.R.E.S. EM CIMA DA HORA A festa dos deuses afro-brasileiros (Baianinho) Desde os tempos do cativeiro A magia imperou Os negros vieram da África Com sofrimento e dor E chegando à Bahia Bahia de São Salvador Os negros pediam aos deuses Pra amenizar a sua dor Nas noites de lua cheia Eles cantavam com fervor bis
[Arerê, Caô, meu pai, arerê! E nas noites de magia Pretos velhos festejavam O grande mestre Oxalá E a rainha Iemanjá No batuque de lamento A noite inteira sem cessar Eles festejavam os deuses Cantando pra nao chorar
bis
(o,
o, o, ô, etc.
-
G.R.E.S.
32 -
ACAD~MICOS
DO SALGUEIRO
Rei de França na ~lha da Assombração (Zé Di - Malandro) Em credo em cruz eh eh Virgem Maria
bis
A preta velha se benze e arrepia o ô Xangô preta velha na o mente na o sinhô
[~
Não cantaram em vão O poeta e o sabiá Na fonte do ribeirão Lenda e assombração Contam que o rei criança·· Viu o reino de França no Maranhão Das matas fez o salão dos espelhos Em candelabros - palmeirais Da gente índia a corte real De ouro e prata o mundo irreal Na imaginação do rei mimado bis
A rainha era a deusa [ Do reino encantado Na praia dos lençóis Areia assombração O touro negro coroado É D. Sebastião É meia-noite
Nhá Jança vem Desce do além Na carruagem Do fogo vivo luz da nobreza Saem azulejos sua riqueza E a escrava que maravilha É a serpente de prata
Que rodeia a ilha
1 9 7 5
-
G.R.E.S. Zaquia Jorge vedete do
33 -
IMP~RIO
SERRANO
subúrbio estrela de Madureira (Avarese)
Bale iro-bala bis
Grita o menino assim Da Central a Madureira ~
pregão até o fim. O Império deu o toque da alvorada Seu samba a estrela despertou A cidade está toda enfeitada Pra ver a vedete que voltou Com seu viver de alegria Fez tanta gente sonhar Outra vez se abre o pano
bis
Pra todo o céu suburbano [ Ver sua estrela brilhar Viagem, revista, aquarela O passado é presente E neste teatro-passarela Ela resplandece novamente
-
34 -
G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Imagens poéticas de Jorge de Lima (Tolito - Mosar - Delson)
Na epopéia triunfal Que a literatura conquistou Em sintese de um sonho Um poeta tão risonho Assim se consagrou
bis
O, ô, o, o, o Essa é a Negra Fulô Uma obra fascinante Que o poeta tão brilhante O povo admirou Jorge de Lima em Alagoas nasceu ouviu tudo dos antigos o que aconteceu
,I
Com os escravos na senzala E no Quilombo dos Palmares Foi um sábio que .seguiu as tradições Com seus versos, poemas e cançoes Boneca de Pano, Jóia Rara, Calabar e o Acendedor de Lampiões bis
[
Zumb~~ Floriano e Padre Cicero
Lamp1ao e o Pampa . é o Amor
-
35 -
G.R.E.S. UNIDOS DE SÃO CARLOS Festa do Clrio de Nazaré (Dário Marciano - Nilo Mendes Aderbal Moreira)
Mês de outubro em Belém do Pará
bis
r
são dias de alegria e muita fé Começa com extensa romaria matinal [ O Clrio de Nazaré Que maravilha a procissão E como é linda A santa em sua berlinda E o romeiro a implorar Pedindo à dona em oraçao Para lhe ajudar ó Virgem Santa
bis
Olhai por nos Olhai por nos, ó Virgem Santa Pois precisamos de paz Em torno da matriz As barraquinhas com seus pregoeiros Moças e senhoras do lugar Três vestidos fazem pra se apresentar Tem o circo dos horrores Carrossel, roda-gigante As crianças se divertem Em seu mundo fascinante E o vendeiro de iguarias a pronunciar Comidas tlpicas do Estado do Pará Tem pato no tucupi
bis
Muçuã e tacacá Maniçoba e tucumã Açal e aluá
- 36 G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE A morte da porta-estandarte (Walter da Imperatriz - Nelson Lima Caxarnbu - Denir)
Pra que chorar É tempo de samba com ernpolgação vamos recordar Rosinha Encantando a multidão Mulata brejeira Seu nome uma flor
r
Empunhava o estandarte Do bloco Lira do Amor Era carnaval A Praça Onze estava em festa Cantos e toques de clarins Pandeiros, surdos e tamborins Lá vem o bloco e o povo a gritar Abram alas minha gente Deixa Rosinha passar No auge da folia Urna alma em alucinação A morte da porta-estandarte E o negro sambista pedindo perdão
o, bis
o, o, o Ao longe um cantar dolente Levanta Rosinha, vem sambar Ela já não estã presente!
-
37 -
.-. G.R.E.S. UNIDOS DE LUCAS Cidades feitas de memória (Baianinho - Laci - Ledi Goulart)
Cidades feitas de memórias t o tema da História Que Lucas apresenta neste carnaval
Seus grandes amores, suas glórias, Cenário de beleza sem igual De Sabará as suas crenças E as atrações imensas Nos seus contos sensacionais A verdadeira legião de heróis Vila Rica de Ouro Preto Palco dos mais nobres ideais Terra de Chico Rei Negro que com sua inteligência enriqueceu E da grande amorosa da literatura Eterna Marí1ia de Dirceu Também nascida da febre do ouro Mariana, o tesouro De aventureiros que buscavam emancipação Barbacena formosa Cidade das rosas Canto os teus encantos com sublime emoçao São João del Rei, berço hatal De uma geração fenomenal Tiradentes, o heróico inconfidente Heliodora, poetisa imortal
t
grande o esplendor
Das obras de raro valor Lá em Congonhas do Campo bis
(Ápice da arte do mestre escultor Da legendária Diamantina Uma história que fascina E ao mundo deslumbrou Chica da Silva, a esc r ava, A alta nobreza conquistou.
-
•
38 -
G.R.E.S. EM CIMA DA HORA
' \ ·.
Personagens marcantes dos carnavais cariocas (Cigarra)
bis
t; Praça Onze t; pierrô e colornbina Arlequim e serpentina Tia Ciata a sambar Dos carnavais Modernos e de outrora Personagens marcantes Recordamos agora Compositores e cantores Reconhecemos seus valores Zé Pereira corn . seu burnbo original O Rei Morno comandando o pessoal E urna porta-bandeira Quanta alegria ve No .c arnaval As Escolas de samba são aquela atração Os blocos de sujo Arrastando a multidão olê, olê, olê, olã
bis
Sociedades rninh~ gente
r
E o Ameno Reseda.
-
G.R.E.S.
39 -
ACAD~MICOS
DO SALGUEIRO
O segredo das minas do Rei Salomão (Dauro - Zé Pinto - Mário Pedra Miragem de uma época distante Mil princesas procuravam descobrir Do Rei Salomão o segredo Das minas guardadas em terras de Ofir A rainha de Sabá apareceu Num cortejo que jamais se viu igual Com negrinhos e ao rei ofereceu De olhos verdes um presente original Presença feita de mistério Com fascínio e sortilégio Não consegue desvendar O caminho faiscante da riqueza Paraíso verde de encantação E da Fenícia veio o Rei Irã Em galeras alcança a terra das amazonas bis
Que sensação, que esplendor [ A natureza em flor Com elas numa noite enluarada Entre cantos e magia Fez a festa do prazer O muiraquitã da sorte Este amor mais forte Que jamais vão esquecer E o sol nascendo
bis
Vem clarear O tesouro encantado Que o rei mandou buscar.
Nininha Rossi)
'
40 -
\
G.R.E.S. PORTELA Macunaima, herói de nossa gente (David Correa - Norival Reis) Vou-me embora, vou-me embora bis
Eu aqui volto mais não Vou morar no infinito E virar constelação Portela apresenta Do folclore tradições Milagres do sertão A mata virgem Assombrada por mil tentações Ci, a rainha mãe do mato Macunairna fascinou Ao luar se fez poema Mas ao filho encarnado Toda a maldição legou Macunaima, índio branco catimbeiro
bis
Negro sonso feiticeiro [ Mata a cobra e dá o nó Ci em forma de estrela A Macunaima dá Um talismã que ele perde E sai a vagar Canta o uirapuru e encanta Liberta a mágoa do seu triste coraçao Negrinho do Pastoreio Foi a sua salvação E derrotando o gigante Era urna vez Piairnã Macunaíma volta com a rnuiraquitã Màrupiara na luta e no amor Quando sua pedra Para sempre o monstro levou O nosso herói assim cantou:
-
41 -
.
\
G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL O mundo fantástico do uirapuru (Tatu - Nezinho - Campo Gran
Sonhei, sonhei, sonhei Com a floresta encantada E o seu pequenino rei E o sol, os rios e as matas E sonoras cascatas Espelhando o céu azul E ao longe eu ouvia Em som de magia O canto do uirapuru Lendário pássaro cantor Quando canta seu amor Todos param pra escutar bis
[E quem ouvir o seu cantar Abraça a sorte e afasta o azar E no auge do meu sonho Um uirapuru surgiu Na imensidão da floresta Enriquecendo o folclore do Brasil
bis
Eu acordei Com seu canto original Radiante de alegria Porque era carnaval
-
42 -
' i
G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Quatro séculos de paixão (Tião Graúna - Arroz)
Quero o perfume das flores Ação luz e cores Nesta festa popular Eu sou o teatro brasileiro Da vida o espelho verdadeiro Sambando neste carnaval bis
Com a minha arte [ Que é imortal Barreiras as venço com bravura Transmitindo a toda gente Distração e cultura Sou a magia permanente Que na História do Brasil Sempre se fez presente
bis
Tenho beleza Sou a esperança Trago alegria Neste dia de folia
'
43 -
\
G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR Nos confins de Vila Monte (Cezão) Sob o sol escaldante Gemia o Nordeste de dor Nos confins de Vila Monte Uma triste história se passou O beato rezadeiro Arrastava a multidão E a fúria do cangaço Assolava o sertão Violeiros repentistas Cantam trovas ao luar Bumba-meu-boi, maracatu Mulher rendê, mulher rendá
0 Sinhô, ô Sinhá! bis
SÓ Isaura na Viola
[ Fazia o Nordeste cantar Numa união de sangue No adeus da despedida Nhá Branca deu a Bento Seu amor pra toda vida Velho Coronel Tonico Num ataque traiçoeiro Transformou menino Bento Num temivel cangaceiro Correu chuva, correu sangue Misturando-se no chão Branca e Bento Lampejo Foi mais um drama no sertão
'
- 44 -
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G.R.E.S. BEIJA-FLOR O grande decênio (Bira Quininho)
~
de novo carnaval Para o samba este é o maior prêmio E o Beija-Flor vem exaltar Com galhardia o grande decênio Do nosso Brasil que segue avante Pelo
bis
c~u,
mar e terra
Nas asas do progresso constante [ Onde tanta riqueza se encerra Lembrando PIS e PASEP
bis
E também o FUNRURAL Que ampara o homem do campo Com segurança total O comércio e a indústria Fortalecem nosso capital E no setor da economia Alcançou projeção mundial Lembraremos também O MOBRAL, sua função Que para tantos brasileiros Abriu as portas da educação
1 9 7 6
- 45 G.R.E.S. BEIJA-FLOR Sonhar com Rei dá Leão (Neguinho - G.R.E.S. Beija-Flor)
Sonhar com anjo é borboleta Sem contemplação - sonhar com rei dá leão Mas nesta festa de real valor nao erre nao O palpite certo é Beija-Flor Cantando e lembrando em cores Meu Rio querido
dos jogos de flores
Quando o Barão de Drumond criou Um jardim repleto de animais, então lançou Um sorteio popular e para ganhar Vinte mil réis com dez tostões O povo começou a imaginar Buscando no belo reino dos sonhos Inspiração para um dia acertar Sonhar com filharada e o coelhinho Com gente teimosa na cabeça dá burrinho bis
E com rapaz todo enfeitado O resultado pessoal e pavao ou e veado Desta brincadeira Quem tomou conta em Madureira Foi Natal o bom Natal Consagrando sua Escola Na tradição do carnaval Sua alma hoje é águia branca Envolta no azul de um véu saudada pela majestade o samba
bis
l
E sua brejeira corte Que lhe vê no céu
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46 -
G.R.E.S. PORTELA O homem do Pacoval (Noca - Colombo - Edir)
voando Nas asas da poesia A Portela em euforia Vive um mundo de ilusão E vem cantar Os mistérios da Ilha de Marajó Uma história que fascina Vem do alto da colina do Pacoval Sob o poder de Atauã O seu povo evoluindo Nas crenças, costumes e tradições E o Deus Sol Era figura de grandeza .A mãe Tanga a pureza Era simbolo da vida dos Aruãs
bis
Belzebu o Rei do Mal Era festejado em cerimônia especial
t
La, la, la •.• rara que seduzia pela magia do seu cantar E os Aruãs que felizes viviam Não há explicação no seu silenciar O seu tesouro foi a causa da invasão Mas os tempos se passaram Veio a colonização Viveram neste recanto de beleza Catarina de Palma e outros mais Terra abençoada pela natureza Com suas festas tradicionais
bis
[Vaquejada, boi-bumbá Vem o gaiola, vou viajar
- 47 G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Por mares nunca
bis
dantes navegados (Gibi - Sereno - Guga)
Eu vi mundos Nunca vistos nem sonhados Andei mares Nunca dantes navegados A História traz Feitos singulares Do heroísmo e da fé De outros mares De outras terras
bis
Que iluminaram poemas [ Que a nossa História . encerra Ao sabor das ondas
vem as naus
A branca espuma cortando E chegam afinal 'A ilha verde sem fim Onde num belo dia A saudade se fez bonança bis
[Ao chegar na terra da esperança Fundaram cidades Cruzaram raças Tornaram o sonho em realidade Tantos heróis, tanta grandeza A nossa História, oh! que beleza
bis
[Nasceste grande, ó meu País ~s soberano de um povo feliz
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48 -
G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Invenção de Orfeu (Rodolpho - Paulo Brazão - Irani
Ilhado na imaginação Que mar de fantasia O poeta vai cantando Histórias tão sem história De tristeza e alegria No seu veleiro sem vela bis
Peixe que voa ( Ave que é proa Tem o barão triste barão Homem sem reinado Tem girassol reluzente Tem leão rei coroado Navegando, navegando
bis
Navegando sem parar Dedilhando sua lira Fazendo o vento cantar Em seu devaneio Imagens diferentes Cavalos todos de fogo Mulheres metade serpentes Nesta ilha inventada Procurando sua amada Seu candelabro astro rei A mulher imaginada Desperta então o poeta Clamando Orfeu, clamando Orfeu Uma luz nas trevas_se a~endeu
bis
Mentira pra quem nao cre [ Milagre pra quem sofreu
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49 -
G.R.E.S. ACAD~MICOS DO SALGUEIRO Valongo (Djalma Sabiá)
Lá no seio d'Âfrica vivia Em plena selva fim da sua monarquia Terminou o guerreiro No navio negreiro Lugar do seu lazer feliz Veio cativo povoar nosso pais Seguiu do cais do Valongo No Rio de Janeiro Com suas tribos chegando Foi o chão cultivando sob o ceu brasileiro Nações Haússa Jeje e Nagô Negra Mina e Angola Gente escrava de sinhô Foram muitas suas lutas Para integração Inda hoje Desenvolvendo esta naçao Sua cultura, suas músicas e danças Reúnem aqui suas lembranças O negro assim alcançou A sua libertação E seus costumes abraçou Nossa civilização bis
r~ ~ ~ quando o tumbeiro chegou o o o negro se libertou
lo
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50 -
G.R.E.S. UNIDOS DE LUCAS Mar baiano em noite de gala (Carlão Elegante
Pedro Paulo Joãozinho)
Zamburei, atotô, aiê
ieÔ, agoiê
O negro chegou às terras da Bahia No tempo do Brasil colonial Com seus costumes e crenças, fé sem igual O Delogun mareou todo o povo do mar Netuno a participar das louvações à rainha do Aiucá bis
~
ma
pedra, uma concha
Pedra e concha têm areia Quem mora no fundo do mar e sereia E o povo da terra em romaria Integrava-se à magia Os saveiros dos milagres No azul-verde do mar Senhores, sinhazinhas arrumadas E os pregoeiros a gritar: Tenho frutas, balangandãs
bis
Vem comprar Para a deusa -do mar lhe ajudar
t
Hoje a festa continua E a raça se iguala Cantos e batuques anunciam O mar baiano em noite de gala Muçurumim, . Nagô
bis
l
Omolocô, Congo e Guiné Atotô de Zambi-rei do Candomblé
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51 -
G.R.E.S. EM CIMA DA HORA Os Sertões (Edeor de Paula)
Marcado pela própria natureza O Nordeste do meu Brasil Oh solitário sertão De sofrimento e solidão A terra é seca Mal se pode cultivar Morrem as plantas E foge o ar A vida e triste nesse lugar Sertanejo é forte Supera a miséria sem fim bis
Sertanejo homem forte Dizia o poeta assim Foi no século passado No interior da Bahia Um homem revoltado com a sorte Do mundo em que vivia ocultou-se no sertão Espalhando a rebeldia Se revoltando contra a lei Que a sociedade oferecia Os jagunços lutaram
bis
Até o final Defendendo Canudos Naquela guerra fatal
- 52 G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Menininha do Gantois (Toco - Djalma Cril - G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel)
Já raiou o dia A passarela vai se transformar Num cenário de magia Lembrando a velha Bahia E o famoso Gantois Arerê. . . bis
arerá
Candomblé vem da Bahia [ Onde baixam orixás Oh! meu pai Ogum Na sua fé Saravá Naná e Oxumaré Xangô, Oxóssi Oxalá e Iemanjá Filha de oxum :ra nos ajudar
bis
Vem nos dar axe Com os erês dos orixás
t
Minha mae Oh! minha mae Menininha
bis
Vem ver como toda a cidade Canta em seu louvor Com a Mocidade
-
53 -
G.R.E.S. IMPÉRIO SERRANO
A lenda das sereias, rainhas do mar (Vicente Mattos - Dinoel - Velo ,
O mar misterioso mar Que vem do horizonte É
o berço das sereias
Lendário e fascinante Olha o canto da sereia Ialaô
oque
ialoá
Em noite de lua cheia Ouço a sereia cantar E o luar sorrindo Então se encanta Com a doce melodia Os madrigais vão despertar
bis
Ela mora no mar Ela brinca na areia No balanço das ondas A paz ela semeia Toda corte engalanada Transformando o mar em flor Vê o Império enamorado Chegar à morada do amor Oguntê, Marabô
bis
Caiala
e Sobá
Oloxum, Inaê Janaina, Iemanjá
- 54 -
G.R.E.S. UNIDOS DE SÃO CARLOS Arte negra na legendária Bahia (Caruso - Caramba Dominguinhos do Estácio)
Abram alas meus tumbeiros Aos sete portais da Bahia ~ a arte negra que desfila Com seus encantos e magia Da sua terra trouxeram a saudade A capoeira, o berimbau Os enfeites coloridos O pilão, colher de pau Iorubá Banto Jej ê bis
No terreiro dançavam [ Samba e batuquejê Falavam a lingua nago Rezavam forte com fé Talhando arte deixaram Imagens do candomblé
bis
(Pro mau olhado figa de guiné Ricas mucamas de branco Com flores num só canto vão a Igreja do Bonfim ofertar
bis bis
(Ãgua ·no pote ao pai Oxalá Sarav~ _atotô Abaluaiê
[Ieman)a
Ogum Oxumaré
- 55 -
G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA No reino da Mãe do Ouro {Tolito Caminhando pela mata virgem Bravo bandeirante encontrou Grupos de nativos comentavam O que um trovão proporcionou No céu, sem as estrelas Mais um raio de luz se dirigia
à gruta de uma alma encantada
r
Era a Mãe do Ouro que surgia
bis
Obabá-ola-o-babá t a Mãe do Ouro que vem [ Nos salvar Num palácio encantado Onde um .tesouro existia Pedras preciosas bem guardadas Que a Mãe do Ouro presidia Homens e mulheres dominados Por imaginações e alegria Salões enfeitados Em multicores Dançavam até o romper do dia Obabá-ola-o-babá
bis
t
a Mãe do Ouro que vem
[ Nos salvar •..
Rubem da Mangueira)
-
56 -
G.R.E.S. UNIÃO DA ·ILHA DO GOVERNADOR Poema de máscaras em sonhos (Da Vila - L. Barbicha - Wilson Jangada - Dito - Mestrinho)
Delira a Praça Onze de encanto Com o mesmo quê de quebranto Em fascinação, feitiço e magia Ela que foi berço de bamba Santuário do samba Das Escolas e folia A União com seu lirismo Deleitada em romantismo Vem acrescentar Poemas de máscaras em sonhos Para a velha praça engalanar Em qualquer terra bis
O sonho fascina Na roda do tempo O amor de colombina Como é lindo e divinal O colorido de confete e serpentina E o desejo ardente de ar~equim Por amar a linda colombina Oh! mulher fascinação Dos cabelos cor de sol És a luz, minha vida, o arrebol Pierrô, eu te amo e te quero Te adoro e venero, coraçao do meu peito Pierrô abraçado à guitarra Sufoca o sonho do amor desfeito Crava, crava, crava as garras
bis
No meu peito em dor ( Diz o poeta, no seu desamor
- 57 G.R.E.S. TUPI DE BRÁS DE PINA Riquezas áureas da nossa bandeira (Caciça)
Ordem e Progresso bis
Este lema genial Alma vibrante Do pavilhão nacional O verde que envolve teu vulto Sagrado retrata Nossos lindos campos, nossas matas Espelhando as grandezas das serranias floridas
r
Tanto fulgor, quanta beleza Reproduz a natureza Nossos verdes mares, praias coloridas Que maravilha! o esplendor das terras brasileiras No amarelo da nossa bandeira Revelando os tesouros De um solo rico e fecundo Divino véu, manto estrelado Com seus raios cor de prata ~
este céu que o azul destaca
Perpetuando serenatas ~s
triunfal! Deslumbras, encantas, es colossal
bis
[A paz o branco exalta lTua legenda é divinal
-
58 -
G.R.E.S. LINS IMPERIAL Folia de Reis (Agnelo Campos - F. Alves)
Abre a porta oh! senhora bis
Muitas léguas caminhei Eu estou chegando agora Repetindo os três reis O samba vem homenagear Tradições antigas Do folclore popular Folguedos e cantigas Violas e violeiros Repentistas e trovadores Um singular cancioneiro As folias de reis euforia e cores Urna estrela anunciando Que chegou trazendo amor
bis
Pastorinhas vão cantando Dando loas ao Senhor Nas janelas as donzelas Moços, velhos e crianças Repicam os sinos da matriz Salvas e vivas às cheganças Miçangas, colares de dentes Lamentos e sons de correntes Na dança dos cururnbis Bumba-meu-boi olê, olá Me perdoe a confiança Em sua casa vou mandar
1 9 7 7
- 59 G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Panapanã o segredo do amor (Jajá - Tantinho) Mangueira! hoje em evolução Cantando mostra com louvor O mito em paz em sua máxima expressao Panapanã o segredo do amor Noite, inquietação transparecia No sussurro das matas Onde o amor existia No prateado arvoredo Pressentindo o segredo Aves com plangência se ouvia E Jaci engalanada Reinava até o raiar do dia Lindo amanhecer! Flores, terra, gente Guaraci todo luzente Dando a todos seu calor (para o amor) Chuva, som de cachoeira rara toda faceira Já surgia em seu esplendor Uirapuru era pura alegria Onde se via que da harmonia Dos seres nasce o amor Era lindo o ente alado Em rodopio multicor Era Rudá em pleno reinado Mostrando que a força da vida É o amor
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60 -
G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL "Samba" marca registrada do Brasil (Dico da Viola - Jurandir Pachec
Através dos tempos Que o nosso samba despontou, Trazido pelos africanos Em nosso país se alastrou Foi Donga que tudo começou bis
Com um lindo samba [ (Pelo Telefone) se comunicou E
no limiar do samba,
Que beleza, que fascinação! bis
Na casa da Tia Ciata [ Oh! Como o samba era bom! Dança o batuque Ao som da viola,
bis
Cai no fandango, Dá umbigada Na dança de roda. Grandes sambistas Mostraram o seu valor: Ismael Silva, Carmen Miranda Noel e Sinhô Mas surgiram As Escolas de Samba O ponto alto do nosso carnaval, E o nosso samba evoluiu E se tornou marca registrada do Brasil.
61
G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL "Ai que saudade que eu tenho" {Dida - Gemeu - Rodolpho)
bis
Abre a roda meninada [Que o samba virou batucada Ai que saudade que eu t e nho Da Lapa que simbolizou A boemia de ontem Que nem o tempo apagou Do Teatro de Revistas Que na Tiradentes Muito tempo imperou Ah! que saudade do Cassino
bis
Que mudou tanto destino [ E o artista consagrou
bis
Noel! ... ~s amor, es poesia Tua Vila carnaval Cantando nostalgia Como era lindo Nos carnavais O pierrô, a colombina E os ranchos tradicionais Da Praça Onze Que bom lembrar Quando as Escolas iam desfilar Onde os sambistas iam batucar
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G.R.E.S. UNIDOS DE SÃO CARLOS AlÔ! Alô! Brasil, quarenta anos de Rádio Nacional (Dominguinhos do Estácio)
A Rádio Nacional Está presente neste carnaval E vem contar a sua história Quatro décadas de glórias Descrita de maneira genial Divino é recordar Seu auditório cheio de alegria bis
fAnimado por César de Alencar ~utrora campeão da simpatia Locutores e cantores Que lhe deram aquela dimensão Sobrevive ainda Jorge Cúri Dos tempos de Cordeiro e de Frazão Fazem parte da sua aquarela Roberto e Floriano Faissal Cauê Filho, Henriqueta Brieba Isis de Oliveira e Elza Gomes Filho de Maria homem nasceu
bis
Cerro Bravo foi seu berço natal O Detetive Anjo e o Metralha são partes da parte policial O Primo Pobre Procurava o Primo Rico Sempre que se via em aflição O Peladinho Dava o pulo da vitória Depois de cada jogo do Mengão Hei Balança Balança Balança Balança Mas Não Cai Oi Balança Balança Balança Mas Não Cai
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S.E.R.E.S. UNIDOS DO CABUÇU Sete Povos das Missões (Waldir Prateado)
Vamos cantar Os jesuitas e os indios do Brasil Com heroismo fundaram . Os Sete Povos das Missões Em terras férteis bis
Não tardaram a florescer Grandes cidades, riqueza e cultura Onde irmanados trabalhavam pra vencer Cobiçados pelos Bandeirantes De sbravadores de terras a procura do ouro Chegaram a Tupã-Abaé E pelo Natal atacaram as missões Indígenas e jesuitas Deram combate aos cruéis bandeirantes Sangue dos dois lados
bis
Corria a todo instante Pouco a pouco as missões começaram a cair [ Estava desfeito o sonho de uma nação Guarani Lá ... no ceu Continua brilhando o valente cacique Sepé Tiaraju Que fulgor têm as estrelas Da constelação do Cruzeiro do Sul Boi-Barroso ~ingué~ consegue laçar
bis
Tata-Manha, Mae do Oure [ A guarda fiel de Cumbaé-Avá
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G.R.E.S. IMPÉRIO SERRANO Brasil berço dos imigrantes (Roberto Ribeiro - Jorge Lucas)
É tempo de carnaval Hoje as cores do Império vêm saudar a imigração Numa doirada alegria Neste dia de folia O samba é anfitrião Desta gente que ao chegar Semeou nesta terra Seu folclore popular Brasil berço dos imigrantes Sua raça e mistura Sem cessar O povo .com seu sorriso Vem pra Avenida festejar Violas e pássaros bis
Clarins de vento O arlequim Entoando um canto lento Num céu de serpentina Um pierrô a desfilar O dominó ganhou confete E ao imigrante foi saudar Olha o passo da mulata
bis
Esplendor da colombina Canta e samba minha gente Nesta festa que domina Lá, lá, lá, lá
- 65 G.R.E.S. BEIJA-FLOR Vovó e o rei da Saturnália na Corte Egipciana (Savinho - Luciano - G.R.E.S. Beija-Flor Caiu . dos olhos da vovo Uma lágrima sentida Lembrando imagens de criança Do velho tempo que passou O seu pranto é colorido Nas vivas cores da televisão Que hoje assiste recordando Formosos Ranchos E Grandes Sociedades O esplendor da noite Como era lindo"A Presença do Dia" "A Corte Egipciana 11 Enredos de nostalgia Não chóre nao vovo Não chore nao Veja quanta alegria Dentro da recordação Relembre a graça do entrudo E o fascinio do baile de Veneza Lá em Roma pagã Para festejar a primavera Colhiam frutos e faziam orgia Que começavam ao romper do dia E vinha um rei Num belo carro naval bis
Alegrando a saturnália · Inventando o carnaval De lá pra ca tudo se transformou Mas a vitória da folia ficou No encanto do meu povo que brinca Sambando quando samba a Beija-Flor
G.R.E.S.
66 ACAD~MICOS
DO SALGUEIRO
Do cauim ao efó, com moça branca, branquinha (Geraldo Babão - Renato de Verd A moça branca é amiga Não há quem diga que nao tem valor Só por ser tão boa Vive assim à-toa, sem querer se impor Ela dá coragem, dá vantagem Dá inspiração bis
E não admite [Falta de apetite numa refeição No Salgueiro vem Vem · gente que bebe pra esquecer Vem gente que sabe beber e comer Vem gente que bebe pra esquecer Vem gente que sabe beber e comer Churrasco no Sul, Buchada no Norte, Tutu à mineira, Com pinga, da forte Comendo efó Jerimum com jabá Feijoada, peixada, Ou um bom vatapá Tem que ter cachaça Ela nao pode faltar ...
bis
[···E depois quindim E doce de leite com amendoim
-
67 -
G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Viagem fantástica às terras dQ Ibirapitanga (Walter d~ Imperatriz - Carlinhos Madrugada - Nelson Lima) Partiram caravelas de Portugal Em busca de riquezas Das terras descobertas por Cabral Seguindo por caminhos verdejantes Chegam às terras dos Incas Uma paisagem colossal Guainapac era seu rei Filho do sol coroado Era só de ouro e prata Seu palácio encantado Iludida a expedição Do tesouro tão sonhado Alcançam as montanhas de vidro E surge o país namorado Ibirapitanga que esplendor Mulheres guerreiras em orgia Borboletas em cores e a Iar.a Deusa do encanto e magia Seguem o Rio Amazonas Despontam no Eldorado Que tinha um rei todo em ouro Poderoso estimado Chegam à foz os navegantes A pororoca, beleza sem igual Vibram com tanta riqueza Um fato marcante Do desbravamento nacional
G.R.E.S~
68 -
UNIÂO DA ILHA DO GOVERNADOR Domingo (Aurinho da Ilha - Ione do Nascimento - Adhemar de A. Linhares Waldir da Vala)
Vem amor Vem à janela ver o sol nascer Na sutileza do amanhecer Um lindo dia se anuncia Veja o
despert~r
da natureza
Olha amor quanta beleza O domingo
~
de alegria
No Rio colorido
pelo sol
As morenas na praia Que gingam no samba E no meu futebol Veleiros que passeiam pelo mar E as pipas vão bailando pelo ar E no cenário de tão lindo matiz O carioca segue o domingo feliz Vai o sol e a lua traz no manto Novas cores mais encanto A noite ~ maravilhosa E o povo na boate ou gafieira Esquece da segunda-feira Nesta cidade formosa Há os que vao pra mata bis
Pra cachoeira ou pro mar Mas eu que sou do samba Vou pro terreiro sambar
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69 -
G.R.E.S. IMPtRIO DA TIJUCA O mundo de barro do mestre Vitalino (Biel Reza Forte
Adilson da Vio Chipolléchi)
O Nordeste novamente é lembrado Na figura deste humilde escultor bis
Vi talino com seu mundo de barro
[Matéria que Deus criou ele valorizou Poeta do sentido figurado De uma simplicidade sem igual Que fascinado simplesmente Retrata o Nordeste e sua gente Grupo de bravos soldados Camponês e lenhador Boiadeiros e rendeiras Lampião e seu amor O caçador com seu cao a farejar
[
~~do isso lá na feira
bis
E louça de brincadeira Feita de barro tauá Folguedo do Maracatu Urna festa tradicional Onde o poeta Se fez internacional óia bonecos de barro
bis
.
-
Quem que compra-
Leva boneco freguesa Pras crianças alegrá
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70 -
G.R.E.S. PORTELA Festa da Aclamação (Catoni - Dedé da Portela - Jabolô Waltenir)
bis
Carnaval ... Festa do povo Aclamação é festa de novo O dia raiou  tarde a passarada anunciou Que a noite era festa Ao som de clarins A corte se apresentou Em vários dias de festa A cidade se veste Com seu traje mais novo A praça em alegria se engalana Para receber o nosso povo Tribuna real, camarote e nobreza Que maravilha de luz e de cor O povo canta e o rei se encanta Com a força do canto de amor Viva o Rei, viva o Rei Dom João
bis
O Rei mandou vadiar Na festa d'aclarnação Que beleza Urna india com o seu manto real Que lindas alegorias O deus Netuno protegendo o pessoal Vejam nesta passarela A imagem daquela festa tão bela
1 9 7 8
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71 -
G.R.E.S. BEIJA-FLOR Criação do mundo na tradição nagô (Neguinho da Beija-Flor - Mazinho Gilson)
rê rê rê iê rê iê rê ô ô o o bis
Travam um duelo de amor [ E surge a vida com seu esplendor Bailou no ar O ecoar de um canto de alegria! Três princesas africanas Na sagrada Bahia Iakalá, Iadetá, Ianassô Cantaram assim a tradição nago Olorum!
senhor do infinito!
Ordena que Obatalá Faça a criação do mundo Ele partiu desprezando Bará E no caminho adormecendo se perdeu Odudua A divina senhora chegou E ornada de grande oferenda Ela transfigurou Cinco galinhas d'angola e fez a terra Pombos brancos criou o ar Um camaleão doirado Transformou em fogo E caracóis no mar Ela desceu por cadeia(s) de prata Em viagem iluminada Esperando Obatalá chegar Ela e rainha Ele e rei e vem lutar
- 72 G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Brasiliana (Gilson Loiola - Djalrna Santos Dornenil)
bis
Ei ... terra-chão, terra-chão [Nosso céu azul de anil Veja a alma brasileira Radiante, hospitaleira Artes e festas do Brasil Foi Dona Santa, rainha do rnaracatu E famoso Vitalino, na feira de Caruaru
bis
Bumba-meu-boi, meu boi-burnbá [ Cadê meu boi, Mateus, onde e que está No lendário São Francisco Tem carrancas a navegar E tecem rendas com belezas Rendeiras do Ceará Que sedução a festa do Divino Cristãos na cavalhada Pelejando corno é lindo Na Bahia tem romaria, tem, tem sim
bis
Flores e água de pote [ Na lavagem do Bonfim Louvor a São Benedito Barco tão bonito, segue a procissão E o nosso Rio
e um desafio
Com seu carnaval atração O boto se transforma em namorado Bailarino encantado e sedutor ideal E o sacristão guarda o tesouro Da famosa Salamanca do Jarau Olha o saci pererê bis
Cobra grande e caipora Deslumbrando todo mundo Mocidade mostra agora
-
73 -
G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR
o amanhã (João Sérgio) A cigana leu o meu destino Eu sonhei Bola de cristal, jogo de búzios, cartomante Eu sempre per guntei O que será "o amanhã"? Corno vai ser o meu destino? Já desfolhei o mal-me-quer Primeiro amor de um menino E vai chegando o amanhecer Leio a mensagem zodiacal E o realejo diz Que eu serei feliz sempre feliz Corno será amanhã? bis
Responda quem puder O que irá me acontecer O meu destino será corno Deus quiser
- 74 G.R.E.S. ARRASTÃO DE CASCADURA
Talaque, talaque .•. O romance da Maria Fumaça (Pestana - Jorginho do Pandeir ' Plantando cidades bis
Em cada rincão "Maria Fumaça" Conquista o sertão Através dos campos e vales De rios e lagos Deste imenso Brasil Qual um bandeirante Com raça, valente A "pretinha" seguiu ..• Lá vai o trem, lá vai
bis
Subindo a serra Deixando e levando saudades, Pra quem vive nesta terra Abertos caminhos A primeira "maria" passou Com afeto e carinho De "baronesa" o povo a chamou Outras "marias" vieram: "Zezé Leoni" beleza sem par "A Romana", a "Faustina" Quantas estórias pra contar ...
r
r
- 75 G.R.E.S. PORTELA Mulher ã brasileira (Jair Amorim - Evaldo Gouveia)
bis
Olê! Olê! Olê! Olá! Podem falar Mas mulher como a nossa igual nao há Amor! amor! amor! A mulher em festival Traz a Portela ~
riso! e luz! ê cor!
É poema o carnaval
Falando nela Tanta história pra contar Tantos nomes pra lembrar Com ternura e emoção Das heroínas que são Nosso orgulho e nossa tradição Dessas mulheres gentis Que fizeram meus país Feliz! Vou cantar pra exaltar! Um sorriso em sua boca Um olhar daquele jeito Nossa alma fica louca Coração bate no peito Brancas, negras e morenas têm, ora se têm! O feitiço que as mulatas têm, e como têm! Brasileira é uma beleza em flor E beleza não tem cor!
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76 -
G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Dos Carroceiros do Imperador ao Palácio do Samba (Rubens da Mangueira - Jurandir) Trago para este carnaval Um passado de grande valor Quem descreve este tema ~
o Carroceiro do Imperador
Quantas saudades Do famoso Marcelino Foi um grande mestre-sala Desde os tempos de menino Brigão e arruaceiro bis
Era o grande destaque [
Do Bloco dos Arengueiros Não posso esquecer Buraco Quente, Santo
Antôn~o
e Chalé
E o ponto alto da E3cola Mestre Candinho, Tia Tomázia e Cartola Chorava a viola Em noite enluarada Samba duro no Faria Ia até de madrugada Canto a minha história bis
De um celeiro de bamba CinqUenta anos de glória Estão no palácio do samba
-
G.R.E.S.
77 ACAD~MICOS
DO SALGUEIRO
Do Iorubã ã luz, ã aurora dos deuses (Renato de Verdade)
bis
Saruê! baiana iorubana [Da saia amarrada coa "pãia" da cana Olorum ... ô ô ô
Misto de infinito e eternidade
Também teve seu momento de vaidade Criou a terra, e o céu de Oxalã Pra gerar Aganju e Iemanjã E Iemanjã, além de Xangô Em seu ventre doze entidades gerou Pra reinarem pregando a paz e o amor Enquanto Oxumaré
com bom gosto e singeleza
Matizava a natureza Ifã mandou Exu, o mensageiro Abrir caminhos pelo mundo inteiro E quando os tumbeiros apertaram Reis, heróis e deuses de Iorubã Em seu novo mundo aclamaram Xangô, seu pai no axé opô afonjá E os pretos-velhos, na Bahia Ainda seguem seus antigos rituais Usando a mais pura magia Nos terreiros de famosos babalorixás
- 78 G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Dique, Um mar de amor (Jarbas - Boanézio - Garganta de Ferro - Augusto Messias) Vindo da África distante Lendas e crenças fascinantes Só vovo sabe contar Como se fez bela a natureza Os deuses de grandeza O céu, a terra e o mar De uma grande união Formou-se uma naçao Com todos os seus orixás Força, luz e esplendor Pra governar O seu reino de amor Todo ano na Bahia tem romagem Na mistura de seus cantos São preces em homenagem Chuê chuê Chuê chuá bis
As ondas levam saveiros [Com oferendas à Iemanjá Lendas e crenças Vamos mostrar pra voces
bis
(ó
vovô, por favor conte outra vez
-
79 -
G.R.E.S. ARRANCO Sonho infantil (Aldyr do Arranco- Sinval [Vovô]~ A natureza está em festa ~
natal no meu Brasil
Rena e trenó não tem
bis
Papai Noel vem de trem D~rme filhino ou Papai Noel nao vem,
[Ve
se sossegas ou Bicho Papão te pega No sonho infantil, tudo foge à realidade Uvas se transformam em belas damas Presentes chegam dançando Surge o mundo de ilusão Nas histórias que contava a vovozinha
bis
Onde Dom Ratão todo feliz Casava com a Dona Baratinha Chegou o macaco cozinheiro, divertindo a bicharada [ Vai correndo pra cozinha, preparar a feijoada Num castelo fascinante, bate o sino na capela ~
hora do desencanto, sai correndo Cinderela
E o príncipe
~ncantado
o seu sapatinho encontrou
E a alegria foi geral, quando com ela se casou bis
A orquestra tocou Lará, Lará, lará, lará, larã, lará, lará [E dançando esta valsa a corte festejou
- 80 -
G.R.E.S.
IMP~RIO
SERRANO
Oscarito, carnaval e samba, uma chanchada no asfalto (Nina Rodrigues - Aidno Si Ubirajara Cardoso)
Era criança Ficou com a herança Que sua família deixou O seu sonho dourado Foi realizado A platéia lhe amou Quem não viu bis
Venha ver O rei das gargalhadas Na Avenida acontecer Nos picadeiros O povo lhe aplaudiu No teatro e no cinema O seu conceito subiu "Cupim" "Papai Fanfarrão" "Golpe" "Zero à Esquerda" Foram seus sucessos teatrais Relembramos suas fitas geniais Hoje Uma chanchada no asfalto O Império
engalanado o eleva
No pedestal mais alto No verde e branco bis
É um barato legal
Oscarito é curtição Do nosso carnaval
1 9 7 9
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G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Oxumaré - lenda do Arco-1ris (Gibi - Darcy do Nascimento Dominguinhos do Estácio) O arco-iris Colorindo a passarela Para Oxumaré passar Os orixás estão em festa Oi deixa a Gira girar Bata palma mae pequena bis
Batam palmas iaôs Firma ponto meu oga No rufar do seu tambor Olha lá o arco-iris Fazendo a natureza chorar Menino vira menina Quando por baixo passar Diz a crendice popular O rei ficou ciente De tudo que aconteceu Por que foi que os rios secaram E o ceu escureceu E os negros africanos Com a sua tradição Quando vêem o arco-íris Fazem esta louvação
bis
[Arroboboia, Oxumaré
- 82 G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Avatar ... e a selva transformou-se em ouro (Rato do Tamborim - Tolito Ananias)
bis
Tem mulata pessoal [ Na colheita do cacau Vem do céu Todo esplendor A transformação em ouro Da selva que Deus criou verde Onde a mata Cacaueira Que a mae natureza despontou Neste solo rico e fecundo Onde o plantio se alastrou
bis
Tem
mulatapessoal
[Na colheita do cacau Amazônia foi a região Onde surgiu Incentivando a indústria Cacaueira Como fonte de riqueza do Brasil E na Bahia onde o braço forte Na lavoura prosseguiu Motivado pelos bravos camponeses No trabalho poderoso Do Brasil
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83 -
G.R.E.S. ACADEMICOS DO SALGUEIRO O reino encantado da Mãe Natureza contra o Rei do Mal (Bala - L. Marinheiro - Caica)
bis
E a natureza Com seu cenário multicor Refloresce novamente Com todo seu esplendor Oh! Doce mãe natureza Seus lindos campos Verdes matas e seu imenso mar Oh! que beleza .•. no infinito O sol ardente sempre a brilhar E o revoar da passarada Bailando neste céu sem fim Na primavera
bis
As lindas flores [ Desabrocham nos jardins Mas surgiu o rei do mal Com a chegada do progresso Abalando a estrutura mundial Poluindo nossa terra Aniquilando o que Deus abençoou E quem sofre é a naçao Nesta batalha Onde não há vencedor
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84 -
G.R.E.S. PORTELA r
Incrível, fantástico, extraordinário (David Correa - Tião Nascimento J. Rodrigues)
Chegou o carnaval, Vou me abraçar com a cidade Eu quero saber só da folia Nesta festa que irradia Sonhos mil, felicidades, Oh! quanto esplendor! Há palhaços, colombinas, arlequins e pierrôs O povo vai viver doce ilusão Se extasiando no jardim da sedução! ...
6 6 O O 6 O O O! Alegria já contagiou bis
A ordem do rei é brincar
[ Quatro dias sem parar! ... Incrivell fantásticoJ extraordinário! O talento de um povo Que mantém acesa a chama da tradição O carioca tem um que Sabe amar e viver Ao dançar no salão ou no cordão Trabalha de janeiro a janeiro Em fevereiro cai na delicia da folia, Mestre-sala e porta-bandeira Riscam o chão de poesia! "Segura" baiana bis
Ioiô e iaiá! Na quarta-feira Tudo vai se acabar
- 85 G.R.E.S. UNIDOS DE SÃO CARLOS Das trevas à luz do sol, uma odisséia dos Carajás (Elinto Pires - Leleco)
Olê Olê bis
Olê Olá Se a vida tem segredo Urubu-rei pode contar Conta a lenda Que os Carajás Vieram do furo das pedras Tal e qual os javaés E os xambioás No seu mundo encantado SÓ na velhice que a morte acontecia E a siriema despertou ô o A curiosidade que havia Kaboi o avoengo reuniu Guerreiros para explorar a terra E ficou desiludido Resolveu contar tudo a seu povo Que dividido partiu para um mundo novo Kanax ivuê Bravo guerreiro casou com Mareicó E foi procurar a luz Para tornar o seu mundo bem melhor Morreu numa imensa odisséia Quando urubu-rei apareceu Lhe deu a vida, o Sol, as estrelas E o luar E assim surgiu A lenda dos Carajás
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86 -
G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR O que será? (Didi - Aroldo Melodia) Eu queria saber agora O que será Vou perguntar À Menininha do Gantois Pode ser um grande herói índios, africanos ou magia Ou sera um tema da velha Bahia? Já ouvi dizer que é Debret Ou antigos carnavais Mas se for-candomblé bis
Eu peço axe [Aos meus orixás Depois no barracão Suor, amor e fantasias Alas, figurinos e passistas Harmonia e ritmistas Até o raiar do dia E as lágrimas de alegria e dissabor Modificam o rosto do poeta No meio de um cenário multicor Está na hora é carnaval
bis [
O artista descreveu Um enredo original
-
87 -
G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Descobrimento do Brasil (Toco - Djalma Cril)
A musa do poeta E a lira do compositor Estão aqui de novo Convocando o povo Para entoar um poema de amor Brasil! Brasil! Avante meu Brasil Vem participar do festival Que a Mocidade Independente Apresenta neste carnaval De peito aberto é que eu falo bis
Ao mundo inteiro [ Eu me orgulho de ser brasileiro Partiu de Portugal com destino as índias Cabral comandando as caravelas Ia fazer a transação com o cravo e a canela E de repente o mar transformou-se em calmaria Mas Deus Netuno apareceu Dando aquele toque de magia E uma nova terra Cabral descobria Vera Cruz, Santa Cruz
bis
Aquele navegante descobriu E depois se transformou nesse gigante Que hoje se chama Brasil
- 88 -
G.R.E.S. BEIJA-FLOR O paraíso da loucura (Mara - Luciano - Walter de Oliveira) Hoje sou livre Sou criança beija-flor bis
Amante da beleza Sou um ser espacial O O O O O O O O brindando a vitória do amor Ao ressoarem os clarins da folia O sonho Filho da noite e do infinito e o rei No paraíso da loucura Ao povo proclamou A seguinte lei: Esqueçam os problemas da vida O trem, o dinheiro e a bronca do patrão Não pensem em suas marmitas E no alto preço do feijão
bis
Joguem fora a roupa do dia-a-dia [ E tomem banhos no chuveiro da ilusão Olhem o ceu que maravilha Retalhos de nuvens, bordados de estrelas Quando o sol e a lua brilham A natureza vem mostrar sua beleza Tudo neste mundo é encantado Como o despontar da primavera Tirem do passado a nobreza E do futuro a magia da surpresa Entrem no jardim das delícias Pela porta da imaginação Criem a fantasia mais linda Delirem neste canto de emoção
f'l
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- 89 -
G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Tropicália maravilha (Djalrna Santos - Arsênio - Dornenil
Baila no ar a poesia A Mocidade irradia Sua magia neste carnaval Oh
natureza linda
Deu beleza infinda A este pais tropical Tropicália
maravilha
É enredo e fascinação
Rios e cascatas bis
Corno um véu de prata [ Na imensidão E neste turbilhão de luz Vem a flora e a fauna Brasileira que ~eduz O cravo brigou com a rosa Por causa da margarida gostosa Terra boa, tudo que se planta dá E o gorjear da passarada Anunciando a alvorada Numa sinfonia de amor Tupinarnbá ê ê iorubá
bis
Oropa, França e Bahia [ Salve meu pai Oxalá
- 90 G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE O que que a Bahia tem (Darcy do Nascimento - Dominguinhos do Estácio) Reluzente como a luz do dia Bela e formosa como as ondas do mar Encantadora e feliz Chega a Imperatriz Fazendo o povo vibrar Eh
Bahia vou cantá-la
Nos meus versos, vou contar Teu passado glorioso, teu presente já famoso E o futuro Deus dirá Pega na barra da saia Vamos rodar bis
[La laiá, la laiá, lá laiá Bahia terra da magia, da feitiçaria E do candomblé
bis
Caô meu pai caô [ Caô meu pai Xangô Que coisa
~inda
ver
O ritual do lava-pés A lavagem do . adro, as catedrais E o pregoeiro a dizer Quem vai querer bis
Quem vai querer Fubá de castanha Pé-de-moleque e dendê
- 91 -
G.R.E.S. Império das
IMP~RIO
SERRANO
ilusões, Atlântida, Eldorado, sonho e aventura (Durval - Joaquim)
Em sonhos coloridos No império das ilusões Viajei por caminhos floridos Num carrossel de emoções Ao se abrir a porta do sol A luz me levou ao passado milenar Eu vi o reino encantado Que aventureiros sonhavam encontrar Pelas matas verdejantes Rios bravios ouvi cantar Vi guerreiras enfeitadas com brilhantes Vitórias-régias flutuando ao luar Nas cidades por onde passei Com castelos de safiras me encantei Nessa aventura divinal Encontrei montanhas de cristal O vento trazia poeira, poeira de ouro bis ,ri
[ E transformava meu caminho em tesouro A roda do tempo transformou em mar Um cqntinente de riqueza Minha ilusão foi procurar O que restou de tanta beleza Quando despertei do meu sonho
bis
Num cenário iluminado Vi no Império Serrano A sedução do Eldorado
- 92 -
G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR Bom, bonito e barato (Robertinho Devagar - Jorge Ferreira Edinho Capeta)
Colori Com toda a minha simpatia Um visúal de alegria Cante comigo esta cançao de amor Sou a comunicação Não tenho luxo e nem riqueza
t
Há simplicidade e beleza Na festa do seu coraçao Muito bom, o meu bonito e barato bis
Da simpatia, o retrato ( Do povo no carnaval Obrigado Madrinha Portela Que me ajudou a caminhar Caminhei ... e onde andei Pelos caminhos meu nome deixei Nos Confins de Vila Monte eu decantei Com um sorriso de esperança A Praça Onze delirei Domingo, na sutileza do amanhecer Meu colorido encantou você será? Amanhã, o que será? o que E outra vez na passarela Colorida e tão singela O sangue novo faz toda gente vibrar
bis
Sou eu , sou eu [ Trazendo felicidade, sou eu
- 93 -
r G.R.E.S. PORTELA Hoje tem marmelada (David Corrêa - Norival Reis - Jorge Macedo)
A brisa me levou ô ô Para um reino encantado Onde eu me fiz menino-rei E era o circo O meu palácio dourado Como é doce Ser criança outra vez E me atirar nos braços da alegria Quero me perder na minha imaginação E brincar na ilusão
oooooo bis
Vem de lá Ô criançada Que hoje tem marmelada [ Pois o circo já chegou E neste reino encantado A arte se faz aplaudir Me embala na rede do tempo Feliz sonhador, sou criança e vou sorrir Arranco do peito um aplauso E num abraço venho homenagear Hoje a alegria do palhaço Na tristeza dá ·um laço E faz minha Escola cantar
o bis
raia o sol o dim, dim Suspende a lua dim, dim
Salve o palhaço Que está lá no meio da rua
-
94 -
G.R.E.S. BEIJA-FLOR
o sol da meia-noite lima viagem ao país das maravilhas (Zé Do Maranhão - Wilson Bombeiro - Aluizio) Preta velha imaginou outra estória e vai contar Preta velha já falou que nos vamos viajar Galopando em cavalos alados Chegamos ao País das Maravilhas Iluminado
pelo sol da meia-noite
Bela fantasia infantil Recebidos por soldadinhos de chumbo Entramos na floresta encantada Brincamos com cataventos, pipas e piões No enlace da Barata e Dom Ratão bis
~ogar
xadrez, pique-bandeira
~ular carniça tudo
é brincadeira
Um gênio cria fogos de artifício Os animais falam e as flores cantam Neste lindo encanto eis o resplendor E a magia das mil e urna noites Chapeuzinho, Lobo, Cinderela a Gata Branca de Neve e os Sete Anões A Chita correndo com o Saci Pererê E todos falando a língua do P
bis
P-B P-RU P-XA Levantando a poeira [ Até a bruxa vem brincar Olha ciranda vamos todos cirandar E na terra dos brinquedos Todo mundo recordar índio, malandro, a baianinha, oriental Outra vez eu sou criança e Beija-Flor no carnaval
-
95 -
G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Sonho de um sonho (Martinho da Vila- Rodolfo - Graúna)
Sonhei Que estava sonhando um sonho sonhado O sonho de um sonho Magnetizado As mentes abertas Sem bicos calados Juventude alerta Os seres alados bis
Sonho meu [ Eu sonhava que sonhava Sonhei Que eu era um rei que reinava Corno um ser comum Era um por milhares Milhares por um Corno livres raios Riscando os espaços transando o universo Limpando os rnorrnaços
bis
Ai de mim [ Ai de mim que mal sonhava Na limpidez do espelho so vi coisas limpas Corno a 1~ redonda Brilhando nas grimpas Um sorriso sem fúria Entre réu e juiz A clemência, a ternura Puro amor na clausura A prisão sem tortura Inocência feliz Ai meu Deus Falso sonho que eu sonhava Ai de mim Eu sonhei que nao sonhava Mas sonhei
I,
- 96 G.R.E.S. ACAD~MICOS DO SALGUEIRO
o
bailar dos ventos, relampejou mas não choveu (Ala dos Compositores) Salgueiro se apresenta novamente Saudando o grande povo em geral Bailando com a pureza dos ventos Num sonho infinito e colossal Trazendo de uma terra tão distante A lenda dos divinos Orixás
bis
(Eparrei, Iansã, ilumine o dia de amanhã A tarde desceu mais cedo
bis
Quando da taça bebeu [Na caminhada trovejou mas nao choveu Conta a lenda que a deusa Oiá Foi aconselhada por Ifá A buscar a cura em Sabadã Pra Obaluaiê se levantar A borboleta encantada Enfeitiça a deusa Oiá Que irada espalha o bem ... Oiá No reino sagrado e salva os Orixás
bis
Oxum vaidosa Querendo Odé conquistar Veste riqueza E consegue se casar
- 97 G.R.E.S. UNIDOS DE SÂO CARLOS Deixa Falar (Elinto Pires - Sidney da Conceição)
Vai levantar poeira Oi deixa o couro comer O Estácio virou tema Seu passado e um poema Agora e que eu quero ver ... ~ o samba,
iaiá
:t: o samba, ioió bis
Mostrando pro mundo inteiro O seu berço verdadeiro Onde nasceu e se criou :t;
bis
samba de roda
Batucada e candomblé capoeira e gafieira dando olé
[ Tem
Foi Ismael O criador da primeira Escola Ao som do surdo e da viola Fez o nosso povo cantar Poesia e fantasia Num carrossel de ilusão Viemos mostrar agora O velho Estácio de outrora Revivendo a tradição - . . o ... Deixa falar, o.
-
bis
Deixa falar Relembrando aquele tempo Que não pode mais voltar
- 98 G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Coisas nossas (Carlos Roberto - Ney da Mangueira Aylton da Mangueira)
Excitando a mente a poesia
o poeta descobria Momentos de raro prazer E nessa linda melodia Coisas nossas dia-a-dia A Mangueira vem trazer Juruna, fantasia e frevo Petrobrás sondando o mar Coisas que ora descrevo A ainda há mais pra narrar Frutas de todas as cores bis
Num pomar de pureza Os mais diversos sabores Obra da Mãe Natureza E no campinho a gurizada Atrás de uma bola a rolar Mata no peito, dá lençol; faz embaixada Se torce o pé vai a rezadeira curar Rosto colado a noite inteira Baila-se na gafieira Se há bebida, há comida e violão Tem sempre um pagode do bom
bis
[Quem vai mais, quem vai mais Pode parar que o galho é valete e as
r
1 9 8 1
-
99 -
G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE O teu cabelo não nega Lalá (Gibi - Serjão - zé Catimba)
Neste palco iluminado SÓ da Lalá És presente, imortal bis
SÓ dá L alá Nossa Escola se encanta O povão se agiganta É dono do carnaval lá Lamartine lá Lá lá lá Lamartine lá Lá - lá Em teu cabelo não nega Um grande amor se apega
bis
Musa divinal Eu vou m'embora Vou no trem da alegria Ser feliz um dia Todo dia é dia Linda morena Com serpentinas enrolando foliões Dominós e colombinas Envolvendo corações Quem dera Que a vida fosse assim Sonhar, sorrir Cantar, sambar E nunca mais ter fim
-
G.R.E.S.
100 -
ACAD~MICOS
DO SALGUEIRO
Rio de Janeiro (Buguinho - Henrique - Mauro Torrão) Quem pode pode se sacode, explode Se sacode, explode no jogo ô ... Quem pode pode veste a fantasia Ou e so folia o ano todo SÓ voce Enche minh'alma de alegria e prazer
('.
Dá ao sol o mais sublime amanhecer Quero lhe abraçar e desejar Muitos anos de existência Oh meu Rio de Janeiro Mar aberto sob o sol Como é belo seu arrebol Quando Estácio de Sá aqui chegou Em plena natureza com heroismo lhe berçou Oh bela ••• formosa~ .. eterna capital Do povo carioca tão legal bis
Lar doce lar que o Senhor abençoou [ Enchendo o Rio de amor E a nobreza lhe abraçou Na colônia, na coroa imperial E logo a República chegou Sempre encantando o seu porte natural Num turbilhão de luz e cor A boemia e o alegre carnaval Mulatas ... poesias ... e humor Faz sua vida tão arteira e cultural
- 101 G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR 1910 - burro na cabeça (Franco - Barbicha - Jangada - Dazinho
O mago ô ... do tempo Me apareceu em sonho E me levou por um chão salpicado de estrelas Numa carruagem encantada voltei Ao meu Rio de Janeiro Cantando em poesia, louca fantasia Eu vivi As cacetes me chamavam de cherie Mon amour, oui oui, mon petit O bonde de ceroula eu peguei Pra ver "Aída" no Municipal Na Avenida Central eu vi A moda e o charme de Paris bis
(Tudo era festa e o meu povo era feliz E no Palãcio do Catete Com seu violão num dedilhado Dona Nair de Teffé Tocava Chiquinha Gonzaga Provocando um movimento musical Rui "barboseava" no Senado Dizendo ser grosseira A música popular brasileira Num requebrado bem apertado O corta-jaca eu dancei Cortajacando bem gostoso num roçado Foi tudo um sonho eu acordei
-
102 -
G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Dos jardins do ~den a era de Aquarius (Jonas - Lino Roberto - Tião Grande)
Uma nova era O sol iluminará Num facho de quimera A luz nos alcançará Oh! Que maravilha é o jardim
bis
Ao qual iremos retornar, retornar Nas previsões para a era de Aquarius, · a paz [ A paz sobre nós reinará O homem com a sua expulsão Saiu do ~den a explorar nosso planeta Desenvolvendo a arte e a ciência Impulsionando o poder da razao Para desvendar todos segredos Que envolviam a mãe natureza No Oriente a força mágica dos astros Era obra da divindade E o homem confiante consultava O caminho da prosperidade A chama brilha, brilha a .. chama do progresso Num futuro que virá Está bem perto o paraiso Com a conquista do universo E a Vila Isabel se faz presente Num vendaval de alegria Cantando em verso e prosa o dia-a-dia Gira, gira meu mundo
bis
Deixe a vida girar No final desta gira SÓ o amor encontrar
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103 -
G.R.E.S. PORTELA Das maravilhas do .mar
fez-se o esplendor de uma .rio i te (David Corrêa - Jorge Macedo)
Deixa-me encantar Com tudo teu e revelar O que vai acontecer Nesta noite de esplendor O mar subiu na linha do horizonte Desaguando como fonte Ao vento a ilusão teceu O mar oi o mar por onde andei mareou! mareou! Rolou na dança das ondas No verso do cantador Dança quem tá na roda bis
Roda de brincar Prosa na boca do vento E vem marear Eis o cortejo irreal Com as maravilhas do mar Fazendo o meu carnaval É a vida a brincar
A luz raiou pra clarear a poesia Num sentimento que desperta na folia Amor! Amor! Amor sorria, ô ô ô Um novo dia despertou
bis
E lá vou eu Pela imensidão do mar Esta onda que borda a Avenida de espuma Me arrasta a sambar
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104 -
G.R.E.S. BEIJA-FLOR Carnaval do Brasil· - A oitava das sete maravilhas do mundo Dicró - Picolé) (Neguinho da Beija-Flor
Leleô, leleÔ skindô bis
Criou belezas mil E a oitava maravilha vem brilhar, vem brilhar Neste carnaval do meu Brasil Rompendo auroras Gloriosa ela surge deslumbrante!
f: a terra Senhora de um mistério tão profundo Que os homens enfeitaram Com as sete maravilhas deste mundo Os Jardins Suspensos da Babilônia Que um rei construiu com amor E orgulhoso à rainha ofertou
bis
E a muralha de longe fascina [ "Quem tem olho grande nao entra na China" A estátua de Zeus O deus de todo o povo grego E o templo de Diana Relicário de beleza! O Colosso de Rodes E as pirâmides do Egito O Farol da Alexandria Iluminava até o infintto Mas agora é hora De um monumento vivo e multicor Corpos nus em rituais De gingados sensuais Tamborins e agogos Saias rodadas de negras baianas Giram faiscando de esplendor
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105 -
G.R.E.S. ESTAÇAO PRIMEIRA DE MANGUEIRA De Nonô a JK (Jurandir - Comprido - Arroz)
Em verde e rosa A Mangueira vem mostrar O fascinante tema: "De Nonô a JK" Juscelino Kubistchek de Oliveira, De uma lendária cidade mineira, O grande presidente popular Surgiu "Nonô" em Diamantina E uma chama divina Iluminou sua formação. Subindo os degraus da GlÓria, Imortalizou-se na história, bis
(como chefe da nação, ô ô Em sua marcha progressista, O notável estadista O planalto desbravou Brasília, o sonho dourado, Que ele tanto acalentou Juscelino descansa na fazenda, E os acordes de um violão Levam ao povo a saudade, Lembrado
neste refrão:
Como pode um peixe vivo Viver fora d'água fria! bis
(como poderei viver! Sem a tua - sem a tua Sem a tua companhia?
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106 -
G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Abram alas pra folia, aí vem a Mocidade (Ney Vianna - Nezinho) Hoje vou erguer meu estandarte Vou mostrar beleza e arte Dos antigos carnavais Vou me vestir de alegria Com a Mocidade minha gente Abrindo alas pra folia Vejam que beleza o Zé Pereira No bloco de sujo com a zabumba a tocar Essas canções tão famosas Do folclore popular Quebra quebra gabiroba bis
Quero ver quebrar [ Mamãe eu quero oi mamar E na Avenida colorida O sol enche a folia de luz e calor Onde o pierrô e a colombina alegremente Trocam lindas juras de amor As negras, brancas e mulatas Mostrando um show de visual Ao som do - batuque alucinante Vindo de terra distante Para alegrar o carnaval O corso e as grandes sociedades Eram o luxo da cidade Lá vai a baiana
bis
Rodando pra lá e pra ca Arrastando a sandália Fazendo o meu povo cantar Lara larara larara
oooo Lara larara larara
oooo
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107 -
G.R.E.S. IMPERIO SERRANO Na terra do pau-brasil nem tudo Caminha viu (Jorge Lucas - Edson Paiva)
Maravilhosa terra De legendas Que o passado nao contou Hoje o Império Serrano Vem com "Pero Vaz de Caminha" O célebre eminente precursor ..• bis
(ô
Ô Ô ÔÔÔ ÔÔ Ô Ô ÔÔ Em tempos idos Chegavam a uma vasta região Audazes descobridores Dando-se a integração Com os primitivos habitantes Deste imenso torrão
bis
Canta gente Esta linda canção Exaltando o Brasil Em sua dimensão A beleza da mulata Enaltece a raça Com seu requebro febril Nossos rios, campos e florestas Emolduram a natureza •.• O ouro e pedras preciosas são riquezas do solo deste Brasil Que Pero Vaz de Caminha não viu Lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá
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108 -
G.R.E.S. UNIDOS DA TIJUCA O que dá pra rir dá pra chorar (Celso Trindade - Nega - Azeitona Ronaldo - Ivar - Buquinha - Edmundo Araújo Santos) ~
tão sublime e x altar
Neste dia de folia E cantar a odisséia de um valente brasileiro 1
Contra o monstro estrangeiro Que com todo o seu dinheiro Quer calar a nossa voz E o nosso herói sai no rastro da maldade Pelos campos e cidades
bis
Atrás do gafanhoto feroz Tetaci, Tetaci agasalha com seu manto [ O nosso herói Mitavai Mitavai bom lavrador e vaqueiro Deixa o sertão brasileiro Vai çombater Macobeba maldito Que
devor~o
mato e o mito
{ Rádio, jornal e TV Lança e com certeiro bote Fere o monstro no cangote, pra valer! E ferido assim de morte Bicho ruim não quer morrer E o caboclo injuriado Toma o caminho do mar Jurando que um dia vai voltar Tira d a qui, leva pra lá O que hoje dá pra rir Amanhã dá pra chorar Maldito bicho bis
Se me ouviu E não gostou do meu samba Vá pra longe do Brasil
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G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Noel Rosa e os poetas da Vila nas batalhas do Boulevard (J. Albertino)
Resplandeceu Iluminando a minha vida Uma estrela que surgiu A desfilar nesta Avenida Em raios coloridos Contagiando o povão . de alegria Esta é a Vila Brilhando neste dia de folia
o oo o o bis
ooo Nesta noite reluzente Lembramos um passado envolvente As batalhas do Boulevard E os poetas da Vila Isabel Belos corsos, pierrôs e colombinas Sob chuvas de confetes e serpentinas Desfiles de fantasias Blocos de sujos e outros mais Encantavam os antigos carnavais
bis
fDe azul e branco por este mundo sem fim lLembrando Noel Rosa eu vou cantando assim Até amanhã se Deus quiser Eu volto novamente pra lhe ver
bis
E vou fazer o que puder Pra você nunca mais me esquecer
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110 -
G.R.E.S. UNIDOS DE SÃO CARLOS Onde há rede há renda (Caruso - Djalma Branco)
Me preparei Para o desfile principal Já mandei fazer a fantasia De renda bordada Lá da Ilha da Madeira Já estou pronto Para entrar na brincadeira
O O O O O ho rendar rendou bis
A lenda diz Que a moça india foi primeira Tecelã e que a renda e brasileira Vem de Portugal eu sei Quem joga a rede pega o peixe e faz a renda Sá Maria artesã e bordadeira imperial Fazia renda no tear do casarão colonial E a rendeira do sertão Virou poema, cantiga de Lampião Tudo isto vem mostrar Que há rede e renda Tanto aqui quanto além-mar
bis
vou deitar na rede Vou sonhar os sonhos dela E trazer muié rendeira Pra rendá na passarela
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111 -
G.R.E.S. UNIAO DA ILHA DO GOVERNADOR :E: hoje (Didi - Mestrinho)
A minha alegria Atravessou o mar E ancorou . na passarela Fez um desembarque fascinante No maior show da terra Será que eu serei O dono desta festa Um rei no meio De uma _gente tão modesta Eu vim descendo a serra Cheio de euforia para desfilar O mundo inteiro espera Hoje é dia do riso chorar
bis
Levei o meu samba Pra mãe-de-santo rezar Contra o mau olhado Carrego o meu patuá Acredito ser o mais valente Nesta luta do rochedo com o mar É hoje o dia da alegria
E a tristeza nem pode pensar em chegar [Diga espelho meu bis
Se h~ na Avenida Alguem mais feliz que eu
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112 -
G.R.E.S. ESTAÇÂO PRIMEIRA DE MANGUEIRA As mil e uma noites cariocas (Heraldo Farias
Tolito - Flavinho Machado)
bis
Noite linda, lua tão bela Mangueira novamente fascinando [ O povão na passarela Céu salpicado de estrelas encantadas As mil e uma noites cariocas
(
.'
Na Avenida iluminada A imaginação foi me levando Vi índias dançando em seus rituais Bailam conde, condessa e princesa Na festa da nobreza Sob lustres de cristais Elá, elá, ô nana bis
Elá, elá, ori-rá Os negros batucando na senzala Em louvor a Oxalá Rio antigo Teatros e salões Da Lapa dos malandros e gingados Damas da noite vendedor.a s de ilusões E nas noites suburbanas Balões colorindo o céu E na Vila eu ouvi melodias de Noel Na Zona Sul, ã beira-mar O povo em sua fé louvava Iemanjá Os nossos carnavais de antigamente O pierrô, a colombina encantando a gente E no carnaval de hoje cheio de loucura Vem a nossa verde e rosa que ninguém segura
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G.R.E.S. ACAD~HICOS DO SALGUEIRO No reino do faz de· conta (Zedi - César Veneno)
bis
Virou, virou Passarinho de cristal Cantou, cantou E deslumbrou o carnaval Se deu no baile mascarado Que o rei concedeu Existirá pergunto eu, pergunto eu Um reino tão rico e feliz que o meu Lá vai o rei, lá vai na carruagem De corcéis alados fazer a viagem Hontado no dragão, o anjo bom lhe ouviu Com ele ao encantado seguiu Ficou o o maravilhado Com o rei sol e o palácio dourado O anjo pediu-lhe atenção E do faz de conta transpôs o portão Vibrou extasiado Ao ver a lua no seu reino prateado Clareia o coche dos leôes É de iôiô, é de iôiô rei dos trovôes
bis
Pai Xangô seu Oxé Justiceiro do reino de quem tem fé ••. Que singeleza olhar Anfitrite e Netuno imenso mar O polvo de prata, que beleza Guardião da realeza Sublime véu O arco-íris levando água pro ceu Rainha fada oi serpente magia Corra Cinderela vai raiar o dia No reino de cristal pediu não percebeu E a · fonte dos desejos lhe atendeu
- 114 -
G.R.E.S. BEIJA-FLOR O "olho azul da s·e rpente (Wilson Bombeiro - Carlinhos Bagunça Joel Meneses)
Viola Vadia de vida boa A Beija-Flor cantando voa Na Literatura de Cordel No reino de Paranambuco Numa serpente a bruxa Destruía tudo sob o ceu Lá em Palmares Um ritual desencantou O olho azul da serpente Naquela flor atraente A princesa desabrochou ô o Vem das trevas bruxaria Enfeitiçando com ouro e magia Maracatu bumba ei bis
Tão fascinante chegou No caboclinho sou rei Guerreiro dourado eu sou Mas o mestre Vitalino Molda em barro o destino Do povo tão sofredor E Maurício de Nassau Laça o gênio do mal Oh, quanta alegria Com Iarabela se casou o o Sete laços, sete pontes No Rio Capibaribe A serpente se transformou Geme viola o repente
bis
Vem pro forró si menino Caruaru tá contente O Nordeste está sorrindo
- 115 -
G.R.E.S. UNIDOS DA TIJUCA Lima Barreto, mulato, pobre · mas livre (Adriano) Vamos recordar Lima Barreto Mulato pobre, jornalista e escritor Figura destacada do romance social Que hoje laureamos neste carnaval O mestiço que nasceu nesta cidade Traz tanta saudade em nossos corações
(
seus pensamentos, seus livros Suas idéias liberais Impressionante brado de amor pelos humildes Lutou contra a pobreza e a discriminação Admirável criador ô ô ô o De personagens imortais Mesmo sendo excelente escritor Inocente, Barreto não sabia Que o talento banhado pela cor Não pisava o chão da Academia Vencido pela dor de uma tragédia Que cobria de tristeza a sua vida Entregou-se à bebida, aumentando seu sofrer bis
bis
Sem amor, sem carinho [ Esquecido morreu na solidão Lima Barreto de voce Este seu povo quer falar so nosso enredo A sua vida, a sua obra e e gratidão E agora canta em louvor
-
116 -
G.R.E.S. PORTELA Meu Brasil brasileiro (David Corrêa - Jorge Macedo)
Vem me fascinar Oh, que sedução O canto de minha gente Assediando meu coração Semente que a arte germinou E o tempo temperou
r
Amor Como é gostoso amar Se a vida é contradança O folclore é o par Espalhei no meu caminho o bis
Olê olê olá Sou folclore sou a brisa Esta noite no meu verso Vou lhe beijar No meu país tudo e assim A lua acende a poesia lá no ceu Violeiro, repentista, seresteiro e sambista Desafiam em cordel Sou namorado, troco magoas pela flor Capoeira também chora Quando perde seu amor Amar eu sei Isso e muito mais que amor Eu sou amante Sou menino sonhador Das Escolas de samba Me leva, me leva Me leva baiana que eu também vou
bis
Mestre-sala e porta-bandeira Girando num conto de amor
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G.R.E.S. IMPtRIO SERRANO Bum Bum Paticumbum Prugurundum (Beto Sem Braço - Aluisio Machado)
Bum bum paticumbum prugurundum Nosso samba minha gente é isso ai Bum bum paticumbum prugurundum Contagiando a Marquês de Sapucai Enfeitei meu coraçao De confete e serpentina Minha mente se fez menina Num mundo de recordação Abracei a coroa imperial Fiz meu carnaval Extravasando toda minha emoçao Oh, Praça Onze, tu és imortal Teus braços embalaram o samba À sua apoteose triunfal
De uma barrica se fez uma cuica De outra barrica um surdo de marcação bis
rcom reco-reco, pandeiro e tamborim LE lindas baianas o samba ficou assim E passo a passo no compasso o samba cresceu Na Candelária construiu seu apogeu As burrinhas, que imagem, para os olhos um prazer Pedem passagem pros moleques de Debret As africanas - que quadro original Iemanjá, Iemanjá enriquecendo o visual
bis
rvem meu amor manda a tristeza embora ~ carnaval, é folia neste dia ninguém chora Superescolas de samba S/A, superalegorias Escondendo gente bamba que covardia
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G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL O velho ·Chico (Da Roça - Edu - Adil - Dico da Viola)
No meu tempo de criança Dei de beber E ouvi cantar os passarinhos Dei cambalhotas pela casca d'anta Atravessando o sertão com alegria E as cascatas murmuravam sinfonia Anunciando
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velho Chico .. que surgia
Mas ·. é que o tempo passou Minha vida mudou assim Vem mergulhar No meu mundo de agua doce bis
O navegante foi quem trouxe Gaiola, batelão e ubá Bate bateia na peneira fica o ouro O que cai não é tesouro Deixa a agua carregar Casei donzelas, me fizeram oferendas Fiz mistérios, criei lendas Decidi meu caminhar
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Q Q o o o Até carranca no meu leito navegou
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o
Lindo cortejo para o mar me carregou
bis
r~~v~:~::i:~: :~:::ado lreman]a me leva embora
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G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Onde canta o sabiá (Tuninho - Dominguinhos - Darcy)
Caminhando Um canto se ouve no ar Vem da terra Vem do meu cantar Dança quem dança bis
Dança quem não dançou Neste samba envolvente Nossa gente chegou O show da natureza Esculturando a razão Um toque de beleza Batendo forte em meu coraçao Do céu à terra a lua iluminando a imensidão Dos nossos rios e matas, chuês de cascatas Riquezas do chão Chove chuva Chove sem parar
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Assim canta o sertanejo Nessa terra onde ecoa O som do sabiá No povo a busca incessante De um momento feliz A Imperatriz em festa Hoje aqui se manifesta No palco da raiz
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G.R.E.S.
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IMP~RIO
DA TIJUCA
rara, ouro e pinhão na terra· da gralha azul (Jorge Melodia) Paraná, ê, ê Paraná bis
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o Império da Tijuca [ Na Avenida a lhe exaltar No sol bonito da manhã Na imensidão da terra dos tupis rara adorava o deus Tupã Pedindo a paz com os guaranis Quando uma linda arara Em puro Tupi lhe falou Que a ervateira lendária Salvaria o seu povo da dor ..• Gupi o guarani guerreiro Como o amigo Carai quase morreu
bis
Foram ~alvos p~lo chá milagreiro [ E uma nova naçao nasceu Da estrela briihou
bis
A luz do amor, ô [ E rara com Gupi se casou Na era do ouro O bandeirante ali chegou Dos arraiais e dos seus tesouros Foi que o Paraná começou Hoje a ave sagrada Que semeou o pinhão Em prosa e versos cantada ~o
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povo mora no coraçao lenda é tradição
No rico solo do sul rara, ouro e pinhão Na terra da gralha azul
VALENÇA, Rachel Teixeira.
Palavras de purpurina; estudo lin-
güistico do samba-enredo (1972-1982).
Niterói, 1983.
Dis-
sertação de Mestrado apresentada à Universidade Federal Flu minense.
;
RESUMO
Dissertação em que se estuda o com portamento lingüistico do
compositor
de Escola de Samba entre os anos 1972 e 1982.
de
É traçado um rápido his-
tórico das escolas de samba e do ba-enredo como gênero.
saro-
Discutem-se
ainda as condições de criação e
divul
gaçao do samba-enredo em nossos
dias,
bem como os aspectos lingüisticos caracterizam o discurso do popular · atualmente.
que
compositor
I ...\. I
EXAME DE DISSERTAÇÃO
VALENÇA, Rachel Teixeira.
Palavras de purpurina; estudo lin-
güistico do samba-enredo (1972-1982).
Niterói, 1983.
Dis-
sertação de Mestrado apresentada ã Universidade Federal Flu minense.
BANCA EXAMINADORA:
Examinada a Dissertação Conceito: Em
de
de 1984.