Palavras de purpurina: estudo linguístico do samba-enredo (1972-1982)

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO DE ESTUDOS GERAIS I NSTITUTO DE LETRAS

r. RACHEL TEIXEIRA VALENÇA

.,

PALAVRAS

DE

PURPURINA

ESTUDO LINGülSTICO DO SAMBA-ENREDO

(1972-1982)

DISSERTAÇAO DE MESTRADO

NITERúl

1983


PALAVRAS DE PURPURINA Estudo lingülstico do samba-enredo (19J2-1982)

RACHEL TEIXEIRA VALENÇA

Universidade Federal Fluminense Instituto de Letras 1983


,

PALAVRAS DE PURPURINA Estudo lingüístico do samba-enredo (1972-1982)

por RACHEL TEIXEIRA VALENÇA

Dissertação apresentada

ao

Instituto de Letras da Universi dade Federal Fluminense,

como

parte dos requisitos para obten ção do título de Mestre em Letras: Língua Portuguesa.

Orientador: Prof. Carlos Eduardo Falcão Uchôa

Niterói 1983


Ao SuetĂ´nio "Se acaso terminar O nosso sonho (

Ă‚

luz do dia

Eu rasgo a minha fantasia" -

dedico~


Em memĂłria de JosĂŠ Fernando Vasco de Figueiredo ainda sua risada no bloco de sujo de um carnaval sem fim.


-Ao Prof. Carlos Eduardo Falcão Uchôa, que, contra todas evidências, acreditou neste trabalho e em mim até o

as

último

momento;

A LÚcia Teixeira, paciente interlocutora da angústia

de

transpor para o papel um pedaço da minha vida;

- A Helena Christina Rigueira Cavalcanti de Lyra e Nádia

da

Costa Seckler, colegas da Casa de Rui Barbosa, sem

cuja

colaboração a tarefa de preparo do índice teria sido

mais

árdua;

A Alfredo Brito, colecionador e apreciador do samba das Escolas, que preencheu as lacunas do corpus;

- Â Prof~ Maria de Lourdes Cavalcanti Martini, atenta às

fa-

lhas administrativas da mestranda e incansável na tentativa de remediá-las;

umbeijo afetuoso de

(

AGRADECIMENTO.


SINOPSE

O samba-enredo como discurso de uma comunidade: origem e das Escolas de Samba. do ontem e hoje.

história

O samba-enre

Características

da linguagem do compositor popular: estudo do léxico do samba-enredo en tre 1972 e 1982.


, SUMÁRIO

1

Introdução

1

2

As Escolas de Samba - sua origem e seu significado cultural

8

3

Samba-enredo: mutação e resistência

31

4

Na boca do povo

66

5

"Virando a tristeza pelo avesso"

83

6

Conclusão

150

7

Bibliografia

155

8

Anexo

163


,

í

"Estão certos de que a vida de todo dia

é apenas urna ilusão, e que por

trás

dela existe a sólida realidade do sonho". (Werner Herzog, do filme Fitzcarraldo, 1983.)


1

INTRODUÇÃO

O ensino acadêmico da lingua portuguesa

limitou-se,dura~

te muito tempo, a eleger como objeto de estudo unicamente texto literário erudito.

Não obstante, pode-se dizer

o

que,

desde o século passado, os usos lingüisticos populares

sem-

pre despertaram, de formas diversas, o interesse dos estudio sos brasileiros.

Nos últimos anos, a literatura de folhetos

do Nordeste, por exemplo, tem sido alvo de excelentes

estu

dos, o que mostra o inicio do fim de um preconceito que

oca

sionou durante anos o esquecimento deste tipo de poesia

tão

importante, afora outras razões, por ser o documento de

um

registro lingüístico típico de uma região e de uma classe so cial. A Literatura de Cordel é, porem, um fenõmeno geograficamente afastado de nós, habitantes do Estado do Rio de ro.

Janei sido

Por isso, é de certa forma estranhável que tenha

ela o primeiro texto de produção artistica popular a despertar a atenção de nossos pesquisadores de formação acadêmica. Atentando para este fato e por ser ligada a um tipo de festação de cultura popular tipicamente carioca - as de Samba

mani

Escol~s

optei por encetar o estudo dos procedimentos

li~

güísticos caracteristicos da língua que veicula esta manifes tação, usando como corpus o samba-enredo. A uma observação superficial desse corpus, salta

aos

olhos imediatamente um traço que não se constitui propriamen te novidade: o compositor de samba-enredo demonstra uma ferência marcada por palavras rebuscadas,

por

pr~

construções


2 J

complicadas. explicada.

Esta característica tem sido apontada, mas nao Observei que nunca houve preocupação,

primeiro

em analisar minuciosamente em que consiste este "falar difícil";~,

segundo, em tentar localizar · as . causas deste compoE

tamento lingfiistico.

Eis precisamente as minhas intenções.

Debruçando-me sobre o samba-enredo, desde suas

origens,

que se confundem com as das Escolas de Samba, até J

nossos

dias, observei imediatamente que este rebuscamento das

le-

tras não é uma característica do gênero desde seus primeiros exemplos~

despojados.

Esses, ao contrário, eram extremamente simples SÕ nas décadas de 50 e 60 é que a tendência

empolamento chega ao climax, e na

década

e ao

de 70 e nos

anos

80 parece estar em curso uma simplificação das letras,

par~

lela à maior impetuosidade de ritmo e melodia. Logo, seria de se esperar que, ao delimitar o meu univer so de trabalho, optasse precisamente pelos sambasdas décadas

de 50 e 60, ricos em exemplos dos procedimentos lingfiisticos que pretendo estudar. -lo.

Entretanto, nao me foi possível fazê-

Num trabalho desta natureza, assume grande importância

a confiabilidade do corpus.

Era necessário basear-me

num

registro fidedigno dos textos a serem estudados, e em

rela-

çao aos sambas-enredo de 50 a- 70 isto é quase sempre impossível. Naqueles anos nao desfrutavam as Escolas de Samba do mes mo prestigio que hoje em dia.

Por esta razão, não

houve

qualquer preocupação de conservar de maneira sistemática material impresso e sonoro que testemunharia a produção compositores populares de então.

o dos

As pessoas que teriam tido

condições materiais de fazê-lo não o fizeram por nao

achar


3

que valesse a pena.

As pessoas que valorizavam

esbarravam em obstáculos de ordem prática:

o

material

por demais preo-

cupados com a própria sobrevivência, não lhes restavam recur sos para tal. Os próprios . compositores e demais componentes das

Esco-

las não tinham sequer consciência da imp9rtãncia do que vam fazendo.

est~

Acresce que o samba-enredo é um gênero transi-

tório, feito para ser cantado numa circunstãncia determinada - o desfile da Escola. - Se hoje adquiriu importãncia e é divulgado com insistência, a ponto de, antes do desfile, já da a cidade sabê-lo de cor, este e um fenômeno recente.

t~

Nos

,no s 5 0 e 60 não houve preocupaçao de preservar sua memória, de forma que, até nós, so chegaram exemplos esparsos,

frag-

mentos do que terá sido o discurso de um grupo de compositores atuantes na época.

Se sobreviveram, esses sambas,

taneamente registrados na memória do povo, terão, é suas

espo~

certo,

Mas quem nos garante que serao os mais re-

qualidades~

presentativos do comportamento lingüístico que desejamos estudar?! Por isso, nao nos restou outra opçao senao tomar

como

uniyerso de trabalho os sambas-enredo das Escolas que participaram do desfile do primeiro grupo nos anos compreendidos entre 1972 e 1982.

Porque foi a partir de 1972 que a

Asso-

ciação das Escolas de Samba do Estado do Rio de Janeiro passou a gravar anualmente, antes do carnaval, um disco com

os

sambas das Escolas participantes do desfile do primeiro grupo naquele ano.

Esta gravação é, pois, a versão oficial

cada Escola para seu samba.

de


4

'

Assim, nao se corre o risco de analisar uma letra

como

ela foi cantada vinte anos depois, conspurcada por modificações e acréscimos alheios à vontade de seus autores, o

que

seria uma falta de rigor imperdoável em um estudo desta natu reza.

Se tomarmos como exemplo um samba como Os Cinco

Bai-

les da História do Rio, de Silas de Oliveira, Ivone Lara

e

Bacalhau, feito para o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano para o carnaval de 1965, observaremos que, embora tenha tido inúmeras gravações, todas são muito res à data de sua apresentação na Avenida. apresentam divergências e variantes.

posteri~

Estas gravações

Em qual delas confiar?

Se isto é problemático para um samba, para cem a dificuldade e intransponivel. Afirmamos acima que nosso

corpus ficou delimitado entre

1972 e 1982 e inclui as gravações realizadas pela dos sambas das Escolas participantes do desfile do grupo.

· AESERJ primeiro

Cabe ressaltar que o nosso corpus se compoe de grava-

çoes e não de qualquer texto escrito.

Esta dificil decisão,

a que cheguei depois de não poucas hesitações, será discutida e justificada no corpo

do ~ trabalho.

Por enquanto,

basta

dizer que o samba-enredo é um texto cantado, feito para ouvido e não para ser lido.

ser

Ao ser composto, ao ser inscri-

to no concurso interno que cada Escola realiza nos meses que precedem o carnaval, visando à . escolha do samba vencedor que será cantado no desfile, seu autor não tem a preocupação escrevê-lo, nem em pauta musical,nem com as palavras da tra.

O que ele inscreve, o que ele entrega à Comissão

de lede

Carnaval de sua Escola é mera fita cassete onde, acompanhado de um ritmo rudimentar, ele próprio o canta.

Se

a


5

, felicidade AESERJ

de

vencer, seu

samba é gravado

no disco

da

pelo cantor oficial da Escola, o "puxador",

e

só então e tirada a letra, que acompanha o disco numa cartela. Este processo caracteriza a meu ver o texto oral. uma forma de registro mais perfeito do que o texto

Sendo

escrito,

porque nele se reproduzem também pausas, hesitações e entona çoes, o texto oral é, no presente caso, uma forma de preservar a veracidade da intenção dos autores, que contam com

a

melodia e com os _ instrumentos de ritmo para interferir na le tra pura e simples. Este aspecto do meu trabalho - a adoção de um

corpus

oral, gravado em fita magnética - e inusitado em se tratando de música popular, uma vez que, até o presente, os trabalhos sobre o tema se limitam a estudar as letras impressas cançoes, sem levar em conta que são parte de um todo

das indiss~

lúvel e que letra de música nao e nem será jamais igual

a

poema, pois exatamente a ausência de melodia lhe subtrai

um

elemento fundamental de análise e compreensao. Outro aspecto que talvez cause estranheza neste trabalho e a relativa escassez de citações de textos teóricos.

De · fa

to, limitei-me a utilizar apenas os que apresentavam relação direta com a matéria estudada.

Por se tratar de um tema

quíssimo estudado até agora, não é de admirar ainda a de material em que me pudesse basear.

po~

falta

Se a história das Es-

colas de Samba e a do samba-enr edo como gênero, ainda

que

precariamente documentadas, se encontram nos livros dos

pi~

neiros pesquisadores desse assunto, para a descrição da

si-

tuação atual do samba e das Escolas cont0 apenas com artigos


6

, de jornal e com entrevistas gravadas. Não creio, como alguns, que a preocupaçao teórica

seja

incompativel . com um tema popular, como o deste trabalho.

A-

credito, isto sim, que um instrumental teórico excessivo

e

mal utilizado, bem como um enfoque demasiado hermético, prometam a qualidade de qualquer trabalho,

com

independentemen-

te de seu tema. Não me preocupo, confesso, em evitar que o grande envolvimento que tenho com o assunto interfira no estudo.

Discordo

dos que julgam que num trabalho acadêmico não há lugar a paixão.

para

Apenas me abstenho de externar opiniões sem funda

mentação, da mesma forma que desprezei todos os dados que ca recessem de rigor científico. Para tanto, estabeleci a priori que os cento e vinte

sa~

bas que compoem o corpus seriam encarados e analisados em pé de igualdade, nao levando em conta elementos externos ao tex to, como, por exemplo, a biografia de seus autores.

Nesse

ponto, afastei-me de meu projeto inicial, que incluía um capitulo de entrevistas com compositores de Escolas de

Samba.

E justifico: os autores destes cento e vinte sambas não prestam a uma classificação única, seja racial, mica ou profissional.

se

socioeconõ

Assim, em 1974, a Portela

permitiu

que saíssem vencedores no concurso interno para a escolha do samba-enredo da Escola dois compositores brancos da

classe

média, dois elementos estranhos à comunidade e ao mundo samba.

Que fazEr diante deste dado?

fora do

~orpus?

Considerar este

Impossível, porque, ao levar em conta

do samba este

fato que é do meu conhecimento, comprometer-me-ia a conhecer


7

e analisar as circunstâncias de feitura e os dados da biogra fia dos compositores de cada um dos cento e vinte sambas que compoem o corpus. Agi então de maneira diferente e de pleno acordo com sabedoria popular.

Tracei em linhas genéricas o que

ser um perfil do compositor

julgo

de nossas Escolas de Samba, com

base nos depoimentos que colhi.

Mas, em relação ao

texto,

agi de acordo com a norma que rege o popular jogo do cuja história está tão ligada -à maioria de nossas vale o que está escrito. vado.

bicho, Escolas:

Ou, para ser exata, o que está gra-

Isto significa que analisei os textos acreditando

les, sem questionar a validade do discurso desse ou autor.

~

ne

daquele

como se os cento e vinte sambas pertencessem a

único autor,

a

o Compositor Popular, um ser alegórico

que teria um pouco de Martinho da Vila, um pouco de

um

ideal, David

Correia, um pouco de Zuzuca, .e assim por diante. Este Compositor, partideiro e sambista, tem a sua língua gem própria, cria o seu discurso, os seus clichês.

Estou

tentando debruçar-me sobre este texto e analisar o que

ele

tem a nos dizer, de maneira explicita ou implicita, sobre

a

vida e os anseios de seu autor e da comunidade que ele repre senta.

~

freqüente, nos sambas estudados, a menção a um "te

ma fascinante" a ser cantado por ele.

Ao dizer, nos

da proposição obrigatória na epopéia clássica, aquilo

moldes que

pretende cantar, é quase um lugar-comum do samba-enredo esta adjetivação:

tema fascinante.

Ao definir, nesta introdução,

o objeto do meu estudo, fascinante é também o tema que tenho diante de mim.

Ele dá samba.

Que eu possa desenvolvê-lo com

a correçao e a inspiração do meu Compositor Ideal.


2

AS ESCOLAS DE SAMBA - SUA ORIGEM E SEU SIGNIFICADO CULTUML

Por Escola de Samba se entende, atualmente, uma associaçao popular, recreativa e musical que tem como finalidade cípua a participação no carnaval.

pr~

Com esta denominação se de

signa também apenas o ponto do subúrbio ou do morro onde seus habitantes se reúnem "para suavizar com música a dureza da vi 1

da", no dizer de Edison Carneiro •

Mas a designação àbrangia

também grupos organizados apenas temporariamente pa.ra brincar o carnaval.

A estabilização progressiva de alguns desses

gr~

pos reforçou, porém, o objetivo primordial. Essa manifestação foi, em sua origem, essencialmente lar.

pop~

Enquanto as Grandes Sociedades reuniam a classe média,

comerciantes, artistas, escritores, enquanto os ranchos conta vam com a

particip~ção

de operários fabris, as Escolas de Sam

ba se formaram entre a população marginalizada, composta

de

pessoas sem profissão definida, quase todos remanescentes

da

desordenada migração rural· que sucedeu a abolição da escravatura.

A mão-de-obra trazida da Bahia para o Norte do

Estado

do Rio viera, com o declínio do Ciclo do Café, estabelecer-se na cidade grande, na capital, em busca de melhores des de trabalho e sobrevivência.

oportunid~

Também o fim da Guerra

de

Canudos trouxe para o Rio de Janeiro inúmeros ex-escravos,que haviam sido recrutados para dar combate a Antônio Conselheiro e, agora livres, migravam com suas famílias, ocupando as

are

as menos valorizadas do Centro da Cidade e os morros da peri/

feria. ~

no Centro, mais exatamente na região denominada

Cidade


9

O gr~

Nova, que vai ser cunhada a expressao Escola de Samba. po que faz uso dessa expressão não se diferencia em nada

de

muitos outros blocos carnavalescos que adotaram, na deéada de 20, uma maneira de brincar o carnaval sem tumulto, sem

a ar-

ruaçá típica do entrudo, dado marcante dos carnavais do seculo XIX e início do nosso século. Os ranchos carnavalescos foram os pioneiros desta modali dade de carnaval mais organizada, mais contida.

isso

Sobre

nos fala o cronista Jota Efegê nestes termos:

práticas

Logo depois que se renunciou as

grosseiras do "entrudo", do ensurdecedor marte larde bombos dos "zé-pereira" e dos

briguen-

tos "cordões", eles [os ranchos] surgiram dando nova feição aos festejos de Morno. Ao lado das chamadas "grandes sociedades", Tenentes, Fenianos e Democráticos, que também

tiveram

atuação cívica e política, foram fator de atra ção, nota feérica nos prélios carnavalescos. Derivando dos pastoris, os ranchos, do que· aqueles, profanaram seus mitos. ligiosidade da origem tomou feição

mais A

re-

recreativa

através de uma concepção alegórica. Tais influências negras e de suas

rel~g~

oes foram constatadas, igualmente, por Arthur Ramos. Embora reconhecendo "uma tendência ao seu gradual esquecimento", positiva suas

obse~

vações apontando traços totêmicos encontrados nos ranchos, guais sejam nomes de flores e

de

2

plantas .

E é justamente dos ranchos que as Escolas de Samba herda rao a estrutura, modificando apenas o ritmo, introduzindo no-


1o

vos elementos, e com o tempo apresentando um apelo popular im pressionante que poss.ibili tou seu crescimento, por alguns até mesmo excessivo.

considerado

Sobre as semelhanças e dife-

renças existentes entre os dois cortejos carnavalescos, ·vejamos o que diz o folclorista Edison Carneiro:

Tendo chegado tarde ao Rio de Janeiro, com as atenções populares já monopolizadas rancho, o samba, ao se organizar .em

I

pelo escola -

ou seja, quando deixou de ser uma diversão

do.

morro e da favela para percorrer ensurdecedora mente as ruas . cariocas - não se deu ao trabalho de criar para si uma forma especial de cor tejo.

Desenvolvimento do rancho na sua estru-

tura processional, somente o samba fez a diferença fundamental entre ranchos e escolas: diferenças de ritmo, de ginga, de evoluções e, demonstração de preferência popular, de número de figurantes.

Basta observar escolas e

chos, no domingo e na segunda-feira do

val.

ranCarna-

O abre-alas, as alegorias, a porta-estan

darte e o mestre-sala, os tenores, o dos ranchos têm a sua contraparte, muitas vezes de modo a mascarar a

enredo ampliada

semelhança

para o espectador menos atento, no

abre-alas,

nas alegorias, na porta-bandeira ~o na academia, .no enredo das escola ~

baliza,

Mas se os ranchos serviram de modelo às Escolas de ba; onde foram eles próprios buscar seu modelo?

Sam-

Já menciona-

mos de passagem o aspecto religioso que Arthur Ramos

aponta

na origem, mas somente o caráter totémico ligado às religiões africanas.

No entanto, esta forma processional adotada

pois pelas Escolas de Samba nos faz lembrar exatamente o tual católico das procissões em honra de santos.

deri-

Melo Morais


11

Filho assim as descreve em seu livro Festas e Tradições Populares do Brasil:

De Nossa Senhora do Rosário o formoso

se-

quito eram as Taieiras. Esse grupo, encantador e original, nha-se de faceiras e lindas mulatas,

compuvestidas

de saias brancas, entremeadas de rendas,

de

camisas finíssimas e de elevado preço, deixando transparecer os seios morenos, buliçosos

e

lascivos. Um torço de cassa alvejava-lhes a

fronte

trigueira, enfeitado de argolões de ouro e lacinhos de fita. [ ... ] E adiantada seguia a procissão nas ruas da vila, vencendo o itinerá rio estabelecido, ao som da música e das ções populares, onde o elemento 4 fundia-se com o profano.

can-

rel~gioso

con-

A forma processional deve ter sido adotada nos cortejos carnavalescos desde os primórdios da festa.

Na primeira

me-

tade do século XIX o pintor francês Jean-Baptiste Debret descreve, dentre as cenas da vida cotidiana no Rio de Janeiro, a seguinte:

J'ai vu, cependant, à la fin de mon séjour, se promener pendant le carnaval un ou

deux

groupes de negres masqués et déguisés

en

vieillards européens, imitant tres adroitement leurs gestes, lorsqu'ils saluaient, de

droite

et de gauche, les personnes aux balcons;

ils

étaient escortés par quelques musiciens . 5 leur couleur, egalement degulses.

de


12

Pode-se, desta forma, estabelecer a linhagem das Escolas de Samba: de procissão religiosa a grupo de mascarados,

de-

pois organizado em rancho e finalmente transformando-se

em

Escolas.

~a década de 20 era a Praça Onze a meca do samba.

E nas

suas imediações surge um grupo de sambistas interessado

em

agrupar-se para brincar o carnaval e para désfrutar juntos os folguedos do novo ritmo que se impunha, tendo em 1917 aparec! do pela primeira vez na etiqueta de uma gravaçao em disco: 6

samb a .

Como se reuniam nas proximidades da Escola

o

Normal,

localizada na esquina da Rua Machado Coelho com Joaquim Palha res, surgiu-lhes a idéia de dar a seu grupamento a ção de Escola de Samba.

denomina-

Assim, pretendiam que, enquanto

na

Escola Normal se aprendiam as disciplinas curriculares,

em

sua Escola seria possível ensinar o samba, matéria tão importante que nada ficava a dever às outras.

A denominação reve-

lava um propósito de conferir à sua matéria - o samba - impor tância, e a si próprios, aos que ali se congregavam, a condição de "professores".

A isto se mistura, segundo pensa o cro

nista Jota Efegê, a idéia, tão cara aos malandros da contida na palavra escolado: escola" significava, então, do pela Polícia' .

epoca,

'ladino, experimentado'.

"Ter

'ser experimentado, já ter passa-

Convém não esquecer que o rancho Ameno Re-

sedá, fundado em 1907 e desaparecido em 1941, se intitulava rancho-escola.

Isto demonstra que já é muito antiga e arrai-

gada no espírito dos foliões a pretensão didática, o fascínio da idéia de que, mais do que mero lazer, o que se

intentava

era a transmissão de conhecimentos. Não foi por outro motivo que os sambistas do

Estácio,


13

convencidos de sua superioridade sobre os demais sambistas da cidade, chamaram ao seu bloco escola de samba e deram-lhe sugestivo nome de Deixa Falar, porque a rivalidade já se esboçava corno um fator preponderante no mundo do

o

então samba.

Fica, portanto, patente que a Deixa Falar, ao ser fundada

a

12 de agosto de 1928, não apresentava, à exceção do nome,

na

da que a diferenciasse das outras agremiações

congêneres.

Idêntico a ela era o Fiquei Firme, do Morro da Favela, teve um tempo de vida inferior a dez anos.

que

Idêntico também o

Vai Corno Pode, de Oswaldo Cruz, fundado em 1923,

a

11

de

abril, mas que so passaria a se denominar Escola de Samba

em

1935, ano em que recebeu também, por sugestão das autoridades, o nome de Portela, inspirado em sua localização, na

Estrada

do Portela, já que o nome Vai Corno Pode foi considerado rebar bativo. Vemos, com isso, que a década de 30 generaliza a denorninação introduzida pelo pessoal do Estácio.

E parte,

para a institucionalização do próprio desfile.

mesmo,

Ele se organl

za pela primeira vez em 1932, patrocinado pelo jornal Sportivo.

Até então as Escolas se apresentavam

Mundo

espontanearne~

te, ou na Praça Onze ou em "visitas" às suas coirrnãs: era

pr~

tica cornunissirna na época urna Escola organizar um desfile para homenagear com urna visita outra Escola, que ficava devendo a visitante urna retribuição. A primeira competição entre sambistas teve lugar na casa de urna figura legendária do samba carioca: José Spinelli, conhecido entre os sambistas corno zé Espinguela.

Morava na Rua

Borja Reis, no Engenho de Dentro, era casado com urna rnae santo, mas freqüentava assiduamente o Morro da

de

Mangueira,


14

onde tinha uma amante.

A epoca era de rigorosa repressao ao

samba, atividade considerada caracteristica de marginais. Os sambistas eram obrigado? a valer-se do recurso de

promover

suas rodas e pagodes em casas de macumba, que tinham autorizaçao para funcionar livremente.

Eis por que a casa de

Espinguela se tornou o centro da vida boémia na epoca. No desfile de 1932 a Deixa Falar já nao existe como Escola.

Passa a rancho, categoria considerada superior.

o inicio da década de 50 perdura a tradição de que a

Até Escola

que conseguir sagrar-se campeã um certo número de vezes passa a desfilar como rancho.

A campeã desse desfile de 32 foi

a Estação Primeira de Mangueira, originária do Bloco

dos

Arengueiros, presidido por zé Espinguela, do qual temos noti cias já no carnaval de 1927 e 1928.

Em

1928, a 30 de abril,

alguns meses antes, portanto, da Deixa Falar, e fundada

a

Mangueira.

o

SÓ que, como já observamos, não recebe ainda

imponente nome de Escola de Samba e durante alguns anos mais, quando se falar da Estação Primeira, notaremos uma oscilação quanto as classificações bloco/escola de samba. No ano de 1934, em janeiro, o jornal O Paiz promoveu um desfile de Grandes Sociedades, Ranchos, Blocos e Escolas Samba no Campo de Santana, em homenagem ao Prefeito Ernesto.

Foram cobrados ingressos e a renda arrecadada

assim distribuida: 35% para as Grandes Sociedades; 30% os Ranchos; 25% para os Blocos; 7% para as Escolas de e 3% para o Andarai Clube Carnavalesco 7 .

de

Pedro foi para Samba

Trata-se de um in-

teressante documento sobre a hierarquia de importãncia

dos

tipos de agremiações carnavalescas da época. A 6 de setembro de 1934 surge a União das Escolas

de


15

Samba, sob a presidência de Flávio de Paula Costa, da Deixa Ma lhar.

Como resultado desse importante passo, o desfile das Es

colas de Samba é oficializado em 1935 e não é difícil imaginar o que isto representou para o mundo do samba, -composto,

como

já se disse, de uma população em sua maioria socialmente marg! nalizada.

O reconhecimento oficial de uma produção

cultural

sua significava o fim de uma epoca que se pode resumir com frase histórica:

"Recebemos uma

den~ncia

a

de que aqui se canta

samba", invariavelmente acompanhada de severa repressão 8 . Podemos, porém, ver facilmente, por trás dessa medida, intenção das autoridades de controlar uma manifestação nea do povo, tornando-a, desta forma,

ino~ensiva.

a

espont~

Oficializa-

do e subvencionado o desfile, estaria afastado o suposto "peri go" oferecido por elementos suspeitos, que representavam ameaça à sociedade.

Assim como o professor que tenta

uma

aliciar

os alunos rebeldes, dando-lhes responsabilidades e posição

de

destaque na estrutura escolar, as autoridades "permitiram" que a gente do samba desfilasse nas ruas nobres do centro da cidade, desde que, e claro, esse desfile fosse regulamentado, que vale dizer organizado, contido.

Passam, pois, as

o

Escolas

de Samba de manifestação dionisíaca a apolínea 9 . O fato de os sambistas terem sido, nesse momento, obrigados a pagar um preço - a aceitação de um regulamento oficialização de seu desfile, medida que parecia

pela

reverenciar

ou reconhecer o valor da manifestação cultural, foi o

inicio

de um processo de concessões e de decorrentes transformações que é, ainda hoje, objeto de acirrados debates entre os que se d e bruçam sobre o fenõmeno ou estão integrados nele ~ O primeiro passo para compreender tais transformações e definir

como


16

se apresentava este grupo que foi sendo gradativamente unifor rnizado com a denominação de Escola de Samba.

Se

compreender sua essência, ternos de partir de duas

quisermos caracterís~

ticas básicas: comunitário e artesanal. ~

de grande importância compreendermos, desde já, que as

Escolas de Samba, a par de sua finalidade estritamente carnavalesca, representam para seus componentes urna forma de

la-

zer, de reunião, de atividade comunitária, que transcende caráter de mera agremiação de carnaval.

o

Quem julgar as Esco-

las pelo desfile que se realiza no domingo de carnaval

corre

o risco de incorrer em grave distorção.

Samba

As Escolas de

tinham - e têm até hoje - urna vida que fervilha durante o ano inteiro e que não se limita a atividades sociais, mas complicada política interna.

inclui

Desta vida participavam, na ori

gern, quase exclusivamente os membros de urna comunidade,

em

geral tendo em comum o lugar de moradia. Imaginemos gordas costureiras suando sobre cetins, lamês e babados plissados, em velhas máquinas de costura; bordadeiras esmerando-se em pontos complicados, em delicadas

tramas

para que o estandarte ou bandeira de sua agremiação superasse em beleza e originalidade a das rivais.

Imaginemos um

de senhoras, vizinhas, parentas, comadres, discutindo lhes para, dentro de suas poucas possibilidades,

grupo de ta-

enriq~ecer

sua fantasia de dama-antiga, confeccionada debaixo de rigoroso sigilo, não podendo ser vista nem pelos componentes das mais alas da mesma Escola.

E,

se~pre

âs voltas com dificulda

des e limitações financeiras, utilizavam seu talento rnentar - o culinário - para angariar fundos para suas singelas fantasias.

d~

cornple-

enriquecer


17

Os homens, por seu turno, dividiam entre si as tarefas de fabricar e encourar os instrumentos, de conceber e executar as alegorias.

E que belos exemplos de artistas populares,

artifices, marceneiros e escultores nao nos legou essa

finos ~poca!

Era com o sacrificio de suas horas de lazer que criavam,

mui-

tas vezes após uma jornada de trabalho árduo, suprindo com

a

inventividade e a imaginação as deficiências de material,

a

carência de recursos.

E naturalmente a única recompensa

que

podiam esperar era a satisfação pelo reconhecimento de seu esforço. Outros artistas se reuniam para criar os sambas (e ~poca

nessa

era mais de um) que a Escola cantaria durante o desfile.

Tamb~m

neste setor havia o sentido de cooperação e a noção au-

toral era bastante diluida.

Os sambas surgiam em pagodes, nao

se sabia exatamente quem o compusera, porque um entoava um ver so, o outro o modificava, um terceiro prosseguia, de tal forma que, ao final, era impossivel detectar de quem era o

samba.

Não havia ainda uma grande preocupação de registrar a autoria, porque isto nao representava rigorosamente nada em termos

pe-

cuniários. Quanto aos temas, as composições falavam da realidade cotidiana de seus autores: suas desilusões amorosas, a exaltação da natureza, o próprio samba.

Não havia, à epoca,

obrigatori~

dade de ligar o samba entoado no desfile ao enredo apresentado pela Escola.

A Escola cantava durante o desfile uma ou

composições, aprendidas na .quadra durante os ensaios que

mais prec~

diam o carnaval, e não era necessária a coincidência de temas: o samba era um pretexto para a Escola exibir suas sua bateria e suas evoluções

sua harmonia, enfim.

fantasias,


18

Quando esse grupo, que, pela identidade de seus interesses, realmente constituía uma comunidade, chegava ao local de . 10 b alanas

desfile, com seus passistas, suas pastoras e suas

entoando sambas magníficos ao ritmo delirante de seus instrumentos, podia orgulhar-se de sua condição, por ver que naquele momento - e só naquele momento - os traços que o guiam da sociedade eram valorizados.

Cores e corda

vam a condição de pertinência ao grupo.

11

marca-

Do lado de fora

corda, sem envergar as cores distintivas da Escola, os que, naquele momento, eram marginais.

distin

da

ficavam

Essa inversão momen

tãnea da estrutura social era grata ao sambista,

porque,

oriundo de um grupo marginalizado e oprimido, produtor de uma cultura reprimida até policialmente, encara a progressiva acei tação do samba como um fator de aceitação social. Prova disto é que os sambistas se apresentavam impecavel mente trajados de terno, roupa de "doutor".

No dia-a-dia ves

tiam suas camisas de malandro, lenço no pescoço, chinelo charlotte. Mas no carnaval, nao.

Porque então se acionava um me-

canismo através do qual a estrutura social era invertida. Para tanto era preciso trajar-se com esmero, ou, no Paulo da Portela, "ocupar pé e pescoço", o que

dizer

de

_significava

usar sapato fechado e gravata. Remanescente disto é em nossos dias, em alguns ainda, a Comissão de Frente das Escolas de Samba.

casos Ela usa in

dumentária tradicional, e nao fantasia; veste-se o mais

sun-

tuosamente possível, pois seu papel é apresentar a Escola,

r~

Convém observar que há, nos

comp~

nentes das Escolas mais tradicionais, clara resistência

ao

presentando sua diretoria.

costume moderno de apresentar-se a Comissão de Frente fantasi


19

ada.

Isto e considerado pouco digno e incompatível com a no-

breza de que deve ungir-se esse grupo. A título de ilustração, transcrevo um documento tão inte ressante quanto precioso: trata-se da descrição do carnava1 que a Escola de Samba Depois Eu Digo apresentou em 1935. titulava-se "Uma manhã ~o Salgueiro, o berço do samba''.

12

InA

descrição é feita pelos próprios dirigentes da Escola, que as sim se expressam:

1 ~ parte

Diretoria Comissão de Frente composta da da Escola, trajando terno branco e gravata ver de. Original abre-alas, confeccionado em

um

painel e iluminado com a linda paisagem do Mor ro do Salgueiro, destacando-se ao fundo o Monte do Sumaré, com suas casinhas toscas,

onde

tem servido de berço a vários criadores do saro ba de alta nomeada. Entra em seguida o corpo coral, organizado em duas alas, compostas de um grupo

escolhido

de pastoras fantasiadas de baianas, ninando p~ quenos bebês.

Ambos fantasiados com as

cores

verde e branco, precisamente as cores da nossa bandeira. Ao centro, destaca-se a porta-bandeira representando a Rainha do Samba da nossa escola, empunhando o nosso pavilhão, vindo

prestando

as honrarias o mestre-sala. 2~

parte

Ergue-se um soberbo caramanchão, abrigando um berço ricanente ornarrentado, representando o •nasciirento do samba, que é criado e cultivado com todas as honras do pandeiro, tamborim, cuica, surdo,


20

etc., rodeado de uma guarda de honra,

organiz~

da de pequenas baianas, que serão para o futuro, as substitutas legais do Corpo Coral. Em seguida vem a demonstração da vida morro, constando de um grande grupo de

do ambos

os sexos, na sua azáfama, desde o trabalho samba.

ao

As pastoras estarão carregando trouxas

de roupas para lavar; outras carregando

latas

com agua; outras ainda com feixes de lenha

na

cabeça; representando o serviço caseiro, sendo assim demonstrado o trabalho cotidiano do morro.

vers~

Nesse grupo se encontram também, os

dores e criadores do samba; que além do conju~ to de repentista, é representado por com fantasias diversas, até mesmo a

rapazes paisana,

tocando no chapéu de palha, pandeiros,

latas,

palmas, etc., demonstrando como é feito o

au-

têntico samba. Destaca-se no meio desse conjunto a

Fonte

da Inspiração; que é representada por urna

pila~

tra comum, com uma torneira, donde jorra

agua

natural, captada nas .colinas do Salgueiro,

em

homenagem à Natureza que dotou esse morro

com

grande abundãncia desse precioso liquido, _ que suaviza as gargantas ressequidas dos cantores. Ornamenta essa parte um grande número pequenas pastas, empunhadas por pessoas

de fanta

siadas, dando mais vida ao enredo, onde -·

nas

mesmas se vêem casinhas pobres e toscas. Candieiro a querosene representando a iluminação do morro; torneiras jorrando água, sendo

apar~

das por latas para os serviços domésticos. A iluminação, para fugir dos abatjours, que . . . . 113 Ja se t ornam corr1que1ros, sera- or1g1na .-

Este te x to nos possibilita entrever um tipo de

desfile


21

que muito pouco tem em comum com o das grandes Escolas de nos sos dias.

No entanto, um dado me despertou a atenção no rela

to, exatamente por sua atualidade: a expressão "samba autênti co".

A polêmica em torno do que é o samba autêntico é

uma

constante na história das Escolas de Samba, desde a discussão entre os _grandes compositores do samba-maxixe e os jovens positores do Estácio.

co~

José Barbosa da Silva, o Sinhô, repre-

sentante do primeiro grupo, afirmaria, numa entrevista

de

1930:

A evolução do samba!

Com franqueza eu nao

sei se ao que ora se observa devemos chamar evolução. Repare bem as músicas deste ano. Os seus autores, querendo introduzir-lhes novidades ou embelezá-los, fogem por completo ritmo do samba.

ao

O samba, meu caro amigo,

a sua toada e não pode fugir dela.

tem

Os modernis

tas, porém, escrevem umas coisas muito parecidas com marcha e dizem samba! a mesma coisa: ma 1 an d ragem " .

E lá vem sempre

"Mulher! Mulher! Vou deixar E n f'1m, nao f ogem d'1sso.

Essa preocupaçao autenticidade x evolução nao de existir nunca.

a

14

deixaria

Uma frase colhida de uma entrevista conce-

dida por Paulo da Portela ao Diário Carioca em 22/03/1933 nos mostra sua continuidade. decadência.

Ele afirma: "O samba não está

em

O que há é evolução e inovação de estilo!"

Isto

nos mostra que já naquela época- 1933! - havia quem se preocupasse com a evolução e a inovação como sinônimo de decadên~ cia.

E esta preocupação não se limitou, com o passar dos tem

pos, e x clusivamente ao âmbito do samba enquanto ritmo, dia e letra.

Também as Escolas iriam, com o passar

melo-

dos anos,


22

apresentando modificações substanciais.

~is

modificações

ap~

recem quase sempre ligadas ao fenômeno de progressiva

aceita-

ção das Escolas por parte da classe média.

radical

O mais .

e x emplo disto e o fato de, em 1960, ter ingresso numa

Escola,

Acadêmicos do Salgueiro, um artista plástico de formação

uni-

versitária, oriundo da zona sul do Rio e alheio, portanto, comunidade dos sambistas.

a

Atuando como carnavalesco da Escola

- o elemento que escolhe o enredo, o desenvolve em

alegorias,

fantasias e adereços - Fernando Pamplona trouxe para o seio da .comunidade um discurso que era alheio a ela. Também os valores estéticos afastaram-se do padrão resultante de uma atividade comunitária e artesanal.

Foram introdu

zidos elementos de efeito, corno a ráfia, que antes eram

despr~

zados pelos sambistas exatamente por sua simplicidade.

Os tra

balhosos bordados, belissimos se examinados de perto, mas

de

pouco impacto num desfile que era, mais e mais, assistido

a

distância,' foram cedendo lugar a materiais industrializados. E sendo ele próprio, carnavalesco, um profissional, instaurou na Escola o sistema de trabalho remunerado.

Graças ao

sucesso

obtido pela Escola nos primeiros anos da década de 60,

diante

de um júri também composto de pessoas da classe média, que

se

identificavam, portanto, com os padrões estéticos apresentados, mais do que com o "mau gosto" das concorrentes, com seus desfi les logo classificados corno "pesados", é

f~cil

concluir

as demais Escolas trataram de, na medida do possivel,

" imitar

os Acadêmicos do Salgueiro, adotando aos poucos o recurso profissionais das Artes estética suburbana.

Pl~sticas

que

a

como forma de "corrigir" sua

Atualrnente, rara é a Escola que nao

trata os serviços de profissionais, e quase todos os

conmais


23

atuantes carnavalescos de nossos dias estão ligados ao

grupo

inicial que trabalhou com Fernando Pamplona no Salgueiro. A década de 70 tentaria resolver o impasse surgido: à me dida que as Escolas, impulsionadas por seus carnavalescos

de

formação universitária e burguesa, se aproximavam mais e mais do gosto da classe média, quer por seus enredos, quer maior simplicidade dos seus sambas i

pela

- de que tratarei especi-

ficamente no próximo capítulo -,quer pela estilização de suas fantasias e alegorias, a classe média aderiu com prazer a manifestação cultural, originalmente suburbana e marginalizada. E sua entrada maciça nas Escolas agravou ainda mais a

perda

de identidade, o abandono do caráter comunitário e . .artesanal que apontei atrás.

O desfile, cujos ingressos, pagos, passa-

ram a ser disputados com ardor, mudou substancialmente.

Alas

inteiras de elementos estranhos à comunidade limitam sua participação ao desfile, sem manter com a agremiação · vinculo.

qualquer

Interesses comerciais imperiosos presidem à escolha

do samba-enredo de cada Escola, pois, com o sucesso alcançado por alguns sambas, tornou-se verdadeira mina de ouro ter

seu

samba cantado na Avenida. Seria desnecessário continuar apontando aqui as

caracte~

risticas das Escolas de Samba da atualidade e as decorrências da perda de identidade cultural de que foram vitimas.

Creio,

no entanto, que vale a pena estudar dois casos aparentemente diversos, mas reveladores de um mesmo fenômeno

- duas

Esco-

las que trilharam caminhos opostos na perda de suas características originais.

São o Grémio Recreativo Escola de

Samba

Beija-Flor e a União da Ilha do Governador. A Beija-Flor, Escola da cidade de Nilópolis, na

Baixada


'

24

Fluminense, foi fundada em 1949 e viveu durante quase duas dé cadas uma obscura existência de Escola pequena.

Somente

em

1974 ascendeu pela primeira vez ao desfile do primeiro grupo,

sagrando-se vice-campeã do grupo II em 1973 com o enredo "Edu cação para o desenvolvimento", com um samba que começava

. refrão

o verso "Vejam que beleza de Nação" e terminava no "Graças ao Mobral todos aprendem a ler".

com

Ai apresentou

em

seus dois primeiros desfiles - 1974 e 1975 - enredos patriótl cos, de louvação às.medidas governamentais: "Brasil ano

dois

mil" e "O grande decênio"; seus sambas afirmavam: "A ordem do progresso/Empurra o Brasil pra frente"

(ver samba n9 26,

no

Anexo) e "tembrando PIS e PASEP/E também o FUNRURAL/Que ampara o homem do campo/Com segurança total"

(44).

importante

É

notar que, numa época de forte . propaganda dirigida para o enal tecimento de um governo que mantinha sob censura a

imprensa,

e o pais sob o jugo de medidas de exceção, este discurso

e

tanto mais estranhável quanto as demais Escolas, se não ousavam a critica ao sistema, que, de resto, nunca fez parte

de

sua tradição, mantinham-se num discreto silêncio quanto

as

excelências do regime. Desta forma a pequena Escola contrariou o destino de suas irmãs que normalmente cumprem uma rápida passagem pelo I, para voltar ao grupo II, onde lutam por novo que lhes possibilite ombrear com as grandes. ao contrário, teve uma trajetória vertiginosa.

A

grupo

campeonato -Beija-Flor, No ano

segui~

te, 1976, explode, para surpresa _geral, com um belissimo desfile sobre o enredo "Sonhar com rei dá leão", pea.

sagrando-seca~

Os componen~es da vitória ficaram desde logo bem claros:

o talento do carnavalesco Joãozinho Trinta, oriundo

também


25

ele do grupo de Fernando Pamplona, que no início da década de 60 adaptara os Acadêmicos do Salgueiro ao gosto da zona

sul,

associado ao dinheiro do banqueiro do jogo de bicho Aniz Abra ão David, que patrocinava generosamente os gastos com o desfile.

faraônicos

Este binômio foi responsável por uma

mudança

de enfoque do carnaval, introduzindo no desfile características de show business, com mulatas em trajes sumários

sobre

'carros alegóricos gigantescos, trapizongas giratórias que nada têm a ver com o artesanato populari a interferência vida da comunidade é total:

na

basta ver que o carnavalesco in-

terfere na escolha do samba-enredo, fundindo vários

sambas,

em total desrespeito à criatividade do sambista. O mais grave é que, devido ao sucesso alcançado pela Esco la diante de um júri que via de regra achava deslumbrante resultado de todos esses

~quívocos,

as demais Escolas

o

passa-

rama imitar, quase sempre com menos talento e menos dinheiro, o que a Beija-Flor fazia.

As pequenas Escolas passaram a ter

i como aspiração justamente arranjar um "dono" que lhes tirasse qualquer autonomia, qualquer · capacidade de decisão, que

des-

respeitasse o trabalho de seus compositores, que não os

dei-

xasse opinar na criação e confecção das fantasias, e que, mediante poder econômico, profissionalizasse a atividade de

la

zer do sambista. Houve, no entanto, uma pequena Escola, a União da Ilha do Governador, que, reagindo a essa imposição dos tempos, conseguiu manter-se entre as grandes.

Fundada em 1953, somente em

1975 conseguiria subir ao primeiro grupo, de onde não saiu.

Sua fÓrmula para o sucesso era exatamente oposta a

..

Beija-Flor: a pobreza, o despojamento, a simplicidade.

mais da Esta


26

fórmula nao era, porem, autóctone: fora trazida para a Escola pela carnavalesca Maria Augusta Rodrigues, também ex-participante do grupo que aprendera com Fernando Pamplona nos Acadêmicos do Salgueiro nos primeiros anos da década de 60.

"Bom,

bonito e barato", eis como a Escola se autodefiniria em enredo de 1980.

Esse despojamento, essa elegância

seu

di screta

em suas fantasias sem brilho, embora tenham conseguido

como-

ver o público da Avenida - gente de classe média e alta,

que as classes populares foram afugentadas pelos altos preços dos ingressos - e os jurados, não é do agrado do

autêntico

sambista, que gosta de vestir-se suntuosamente,

empregando

sua criatividade para conseguir os mais belos efeitos

dentro

de seu limitado orçamento. Por isso, a proposta de Maria Augusta, embora menos pred~ tória, me parece tão afastada dos anseios do sambista a de Joãozinho Trinta.

quanto

A percepção desses equívocos é

que

levou os sambistas a reagir contra esta euforia de participação de elementos estranhos à comunidade.

Em 1975, funda-se o

Grémio Recreativo de Arte Negra e Escola de Samba

Quilombo,

advertindo em sua proclamação: "Estão tomando o lugar dos dadeiros sambistas.

Quilombo é um núcleo de resistência con-

tra as deformações que vêm afetando a arte popular ra" 15 .

ve~

brasilei

Escola não alinhada, o que significa que nao partici-

pa do desfile oficial promovido pela RIOTUR, Quilombo não parece haver preenchido os anseios da maioria dos sambistas cariocas, tanto que não teve adesão maciça nem imitadores.

É

dentro de suas antigas Escolas, injetadas de arrivistas,

que

os sambistas mantêm a luta pela preservação de suas caraterls ticas.


27

Esta história das Escolas de Samba, que passa por fases de luta pela imposição, de aceitação, e finalmente de euforia participação, nos mostra que elas são, na verdade, bem fortes do que supomos. fragilidade -

Freqüentemente se atribui a elas

"As Escolas de Samba estão morrendo" - que,

lizmente, é mais fantasiosa do que real.

Não admira: sao coisa do povo.

mais urna fe-

Elas estão bem vivas

e dão, deste ou daquele modo, provas impressionantes de vigor.

de

seu


28

2.1

NOTAS

1 Cf. Edison Carneiro, A sabedoria popular, p. 113. 2 Jota Efege, Ameno Reseda, o rancho que foi escola, p. 19.

«2) Edison

Carneiro, "Prefácio" a Ameno Resedá, o rancho que foi

escola, p. 16. 4 Melo Morais Filho, Festas e tradições populares do Brasil, p. 73-4.

5 Apud Luis D. Gardel, Escolas de samba, p. 6. 6 Refiro-me a Pelo telefone, de Donga e Mauro de Almeida, gravado na voz de Baiano pela Casa Édison do Rio de Janeiro 1917.

em

Não é inquestionável que tenha sido esta a primeiva vez

que a designação samba aparece impressa num selo de disco.

No

entanto, Pelo telefone é considerado historicamente o primeiro samba registrado em disco, por ter sido o primeiro a ser divulgado como um ritmo novo.

Cf. sobre isto Edigar de Alencar, Nos-

so Sinhô do samba, p. 24, nota 3. 7 Estes dados se encontram na História das escolas de samba, de Sérgio Cabral, Fasciculo 3. 8 Sobre a repressao ao samb a, ver o depoimento de Juvenal

Lo-

pes, antigo mestre-sala da Deixa Falar e ex-presidente da

Es-

tação Primeira de Mangueira nos anos 60, no Fasciculo 2 da História das escolas de samba, de Sérgio Cabral.

são igualmente

testemunho deste fato os seguintes versos do sambista Salvador Correa: "Estava na roda do samba/Quando a policia chegou/Vamos acabar com este samba/Que seu delegado mandou".


29

9 Mário Pontes desenvolve esta idéia em "Os triunfos de Apolo

e o adeus de Dionisio", em Cadernos de jornalismo e comunicaçao.

Especial Carnaval, janeiro/fevereiro 1973, p. 9-14.

10 A grande importância que tiveram as alas de baianas em nos

sas primeiras escolas pode ser depreendida da leitura de

"A

ala das baianas pede reforço", de Francisco Duarte, publicado em O Globo de 3/2/79. 11 Devo esta observaçao ao antropologo Roberto da Matta, que, tendo tomado parte, juntamente comigo e com a socióloga Maria J~lia

Goldwasser, da mesa-redonda "O carnaval e as mascaras

do cotidiano", no Colóquio Franco-Brasileiro de Sociõlogia do Cotidiano,

Men-

promovido pelo Centro Universitário Cândido

des em maio de 82, ali a expôs de maneira brilhante. 12 Emprego aqu1. a pa 1 avra carnava 1 nao . . para d es1gnar os

três

dias de folia que precedem a quarta-feira de cinzas, mas

sim

no sentido complementar, não dicionarizado, que lhe dão

os

sambistas e componentes das Escol<?-s, referindo-se ao

enredo

escolhido para o desfile, o plano da apresentação na Avenida. É comum ouvir-se,

por exemplo: "A Vila está com um

carnaval

muito luxuoso" ou "A Portela apresentou um carnaval magnifico". Este emprego da palavra carnaval foi esclarecido pela primeira vez, que eu saiba, por Nonato

Masson em "Brasil pra

seu

governo- Escolas de Samba, escolas de show", Jornal do

Bra-

sil, 14/2/64. 13 Este relato se encontra na História das escolas de samba, de Sérgio Cabral, Fasciculo 3.


'

30

1 4 Este trecho da entrevista ĂŠ reproduzido por SĂŠrgio Cabral

em seu livro As escolas de samba; o que, quem, corno, quando e por

que~

p. 35.

15 Cf. Candeia & Isnard, Escola de samba, arvore que esqueceu a raiz, p. 88.


3

SAMBA-ENREDO

MUTAÇÃO E RESIST~NCIA

O primeiro exemplo de samba que se desenvolve a partir de um enredo parece ter sido o Homenagem que o compositor Carlos Moreira de Castro, o Carlos Cachaça, fez para a Mangueira 1933.

Louvava Olavo Bilac, Castro Alves e Gonçalves

Dias,

poetas homenageados pela Escola em seu enredo daquele ano.

f

Recordar Castro Alves Olavo Bilac e Gonçalves Dias E outros imortais Que glorificaram nossa poesia Quando eles escreveram Matizando amores Poemas cantaram Talvez nunca pensaram De ouvir os seus nomes (

Num samba algum dia

E se esses versos rudes Que nascem e que morrem No cimo do outeiro Pudessem ser cantados Ou mesmo falados Pelo mundo inteiro Mesmo assim como sao Sem perfeição Sem riquezas mil Essas mais ricas rimas

em


32

São provas de estima De um povo varonil

Recordar Castro Alves, etc.

E os pequenos poetas Que vivem cantando Na verde colina Cenário encantador Desse panorama Que tanto fascina Num desejo incontida Do samba querido

A glória elevar Evocaram esses vultos Prestando tributo Sorrindo a cantar.

De ritmo lento e cadenciado, muito pouco semelhante ao que conhecemos hoje, mas em perfeito acordo com o tipo de

desfile

das Escolas à epoca, este samba inovador passaria despercebido.

~ bem verdade que o samba não canta descritivamente o da Escola:

enredo

os poetas "imortais" são mero pretexto para

· . que

"os pequenos poetas/que vivem cantando/na verde colina"

apre-

sentem em seus "versos rudes" o "desejo incontida/do samba qu~ rido/à glória elevar".

Este tema, a necessidade de

elevação

do samba, é desde sempre grato aos sambistas e o Homenagem falar de passagem nos poetas eruditos foi interpretado como mero acaso, e não como modelo a ser seguido.

Prova disto é o depoi

mento que logo a seguir, em 1935, registra o

musicólogo


33

Brasília Itiberê, em uma crônica reproduzida em seu Mangueira, '

l·.

Montmartre e outras favelas.

Man-

Ao descrever um ensaio da

gueira a que assistiu levado por Mestre Júlio, diretor de harmonia da Escola, ele assim se expressa:

As percussoes aumentam de intensidade e, su bito, como uma martelada de bigorna as vozes ir rompem estridentes, guturais, maravilhosamente primitivas.

[ ..• ] Mas por que só cantam aspas-

toras e as crianças?

E estão calados os homens?

E que as vozes masculinas só intervêm nos solos

- .que nos ensaios têm um caráter de

improvisa-

ção, sem uma seqUência lógica nem, sequer, ligação tonal com a parte coral.

uma

Às vezes, pe-

la diferença do texto e disparidade do

desenho

melódico, esse solo chega a ser um corpo estranho dentro do próprio samba. [ •.. ] SÓ mais tarde, nos ensaios gerais que precedem o desfile na Praça Onze, o compositor dá o caráter definitivo à parte solista que, em geral, resulta mais fraca e raramente perde o aspecto de impr~ visação. Nessa noite surpreendente, a verdade me chega direta, pura como água colhida na fonte.

E fonte milagrosa, pois, já há alguns

mo-

mentos, venho constatando essa coisa prodigiosa: toda vez que, após o solo, o coro volta à melodia principal, retoma a tonalidade

primitiva

com uma precisão absoluta, como se houve~se obe decido a um diapasão misterioso.

Como são mui-

tos os compositores e existe um grande

numero

de sambas, pergunto a Mestre Júlio qual o crité rio da escolha.

Ele explica:

[ ... ]

O composi-

tor tira o samba e canta para eu ouvir. meira escolha é minha. novo para as pastoras. tando, lá de fora.

A pri-

Depois, ele canta de A criançada está escu-

Se gostam e repetem com

zer, o samba está adotado. [ ... ]

Agradeço

pr~

a


34

Mestre Júlio essa lição de pedagogia musical .

. . . . . . . .. . . . . .. . . .. .. .. . . .. .. . . . . . .. . . . . . . . . . . . O coro ensaia agora um novo samba de formi dável ímpeto dinamogênico.

É o que eles

cha-

mam de samba de influência, para o desfile Praça Onze.

É ritmo puro.

na

Melodia curta e in

cisiva, para despertar a euforia, e

pretexto

para uma exibição coreográfica do baliza e 1 porta-estandarte.

da

Assim se apresentava naquela época o samba de desfile das Escolas: coral na primeira parte, improvisação na segunda, n~ nhum compromisso com o enredo apresentado pela Escola,

nem

mesmo qualquer obrigatoriedade de apresentar-se no desfile um único samba.

Ainda da década de 30, mais exatamente de 1936,

é o samba Natureza bela do meu Brasil, de Henrique Mesquita e Felisberto Martins, compositores do Grêmio Recreativo de Samba Unidos da Tijuca.

Escola

Mais do que um enredo, é este

tema apresentado durante o desfile - e não temos certeza que era o único.

o de

E pode-se notar ainda que o samba é autocen

trado: é mais uma vez de si que o poeta está falando, enquanto descreve o que ve, o que sente, o que faz.

Natureza bela do meu Brasil Queira ouvir esta canção febril Sem voce nao tenho as noites de luar Pra cantar Uma linda canção ao nosso Brasil

É um sambista apaixonado

Quem lhe pede, natureza,


35

As noites de luar Que vive bem perto de voce Mas sem lhe ver ..• Eu vejo as águas correndo E sinto meu coração palpitar E o meu pinho gemendo Vem minha saudade matar

Foi somente na década de 40 que se generalizou a prática de as Escolas apresentarem samba e enredo coerentes.

Cabe

à dupla Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola a glória

de

ter imposto, em 1946, na Escola de Samba Prazer da Serrinha, esse

que daria origem no ano seguinte ao Império Serrano, marco que modificou o rumo dos desfiles.

Assim se expressa-

ram eles em entrevista concedida ao jornalista José Rego em

Carlos

9/10 de janeiro de 1972:

f'

Até então as Escolas iam disputar na Praça Onze com um de seus sambas de terreiro. NÓs resolvemos fazer o contrário, estabelecer enredo e escolher o samba.

Assim surgiu Con-

ferência de São Francisco, contando o

encon-

tro dos presidentes Roosevelt e Getúlio gas.

Até então os sambas de desfile só

nham primeira parte.

o

Varti-

Ao final dela se impro-

visava [sic] v e rsos conforme a circunstância samba do momento. Nós fizemos o primeiro com segunda parte, historiando um só

aconte-

. to 2 clmen

Já vimos que antes do Conferência de são Francisco houve outros e x emplos de sambas com segunda parte sobre

um

so


36

acontecimento.

O crítico José Ramos Tinhorão, na sua Pequena

3 história da música popular , menciona que já em 1942 a Escola compos~

de Samba Depois Eu Digo cantou no desfile um samba do

tor Pindonga cujas duas partes se referiam ao enredo . da Escola, em homenagem à primeira dama do pais, D. Darei Vargas,

m~

tivado pela criação da Casa do Pequeno Jornaleiro. E no estu 4 do Com Pandeiro, cuica, Surdo e Tamborim · , mais recente, o mesmo Tinhorão aponta um samba de 1938, da Azul e Branco, que se apresentava de acordo com o enredo.

Mas estes

exemplos

nao invalidam a idéia de que foi justamente o Conferência

de

São Francisco, em 1946, que tornou obrigatória a fórmula.

Restabeleceu a paz universal Depois da guerra mundial Com a união entre as Américas Do Sul, Norte e Central Nunca existiu outra igual Na vida internacional

Nosso Brasil sempre teve interferência Nas grandes conferências Da paz universal Sendo o gigante da América Latina Uruguai, Paraguai Bolívia, Chile, Argentina

Nunca e demais lembrar que as Escolas de Samba vinham desenvolvendo uma trajetória interessante em direção a uma acei tação progressiva por parte da população socialmente privilegiada da cidade.

Se a princípio eram a única

forma

de


37

expressao da população pobre e marginalizada, em termos de tra balho, moradia e lazer, tendo chegado a ser reprimida pela policia, num segundo momento o sistema tratou de conceber forma disfarçada de controlar urna manifestação que de

urna certa

forma representava para ele urna ameaça: a oficialização do des file das Escolas de Samba, que, corno já vimos, se deu em 1935. Esta medida, que em sua superficie parecia protetora, custaria às Escolas um alto preço, porquanto a oficialização trouxe

em

seu bojo, gradativarnente, urna série de transformações impostas por um regulamento que determinou, entre outras medidas, a lirnitação do espaço e do tempo de desfile, com todos os

probl~

mas dai decorrentes. acompanhou

O samba-enredo, corno nao podia deixar de ser, pari passu essas transformações.

Não devemos esquecer que ele

e o discurso de urna camada significativa da população da cidasociais

de, não podendo, manter-se alheio às transformações que se verificavam.

Foi através do samba que nao so o

malandro

corno todo o mundo negro e proletário urbano se Isso nao deu a conhecer às classes dominantes. mudou fundamentalmente nada nas relações de

pr~

dução, e também não mudou muita coisa na situaçao económica daqueles sambistas que

desponta-

vam do Estácio por volta de 1930, vendendo suas criações a preço de banana ou recebendo irrisórios direitos autorais.

Mas foi por ai que

se

abriu às classes populares um inestimável canal de expressão.

Com o samba da malandragem nasce

rarn as escolas e seus desfiles pelo num itinerário que quase sempre foi com orgulho e satisfação por seus

asfalto, percorrido componentes


38

proletários, habitualmente relegados à das avenidas.

margem

Como dizia Ismael Silva, a moda

lidade de samba do Estácio nasceu da necessida de de um ritmo que possibilitasse o caminho, o movimento do bloco que quer passar.

5

Assim, o samba-enredo se apresenta a princípio ainda curto, objetivo, singélo, resquicio do velho tempo dos sambas de uma só parte.

Mas à medida que o desiile das Escolas se

vai

tornando mais luxuoso, mais sofisticado, à medida que os sambistas, antes vestidos à vontade, começam a se apresentar fa~ tasiados ou envergando impecáveis ternos brancos, o samba-enredo também começa a cobrir-se de enfeites. Não é dificil perceber o significado desta atitude.

Viti

ma de repressão e depois de uma falsa aceitação que, ao

ten-

tar

con~er

o sambista num espaço e num tempo previstos,

tor-

nava seu comportamento menos espontãneo e portanto mais afastado de sua origem, marcadamente popular, para aproximá-lo de padrões que nao eram os seus, esse sambista adota

[ ... ] uma estratégia popular de resistência, onde, procedendo por avanços e recuos, escaramuças e escamoteamentos, reage-se à exclusão e 6 firma-se uma identidade.

Essa estratégia levou os pioneiros sambistas a nao var as diferenças existentes entre eles e seus possíveis

agraes-

pectadores de outras classes sociais, aprofundando o " abismo. Ao contrário, ocorreu-lhes igualar-se por mimetismo às ses socialmente aceitas.

elas-

Julgaram malandramente que, falando

e se vestindo de outra forma, teriam mais chance

de

ser


39

aceitos.

Não que pretendessem fazer isto o ano todo, mas

ao

menos no carnaval procederiam a uma inversão da estrutura social: dentro da corda, usando as cores da Escola, estaria

o

sistema, enquanto que a não-pertinência ao grupo caracterizaria a marginalidade.

O carnaval seria, como se ve, esse

esp~

ço de inversão. Prova disto, por exemplo, é a declaração de Ismael

Silva

de que, enquanto durante o ano usava camisa listada e chinelo charlotte, no carnaval envergava um impecável terno roupa de doutor.

Paulo da Portela fazia a seus

branco,

· companheiros

de Escola a exigência de no desfile "ocupar pé e pescoço",

o

que significava, como já vimos, usar sapato fechado e gravata. É evidente a preocupação de passar por homem de bem,

abando-

nando a imagem de malandro, a pretensa periculosidade. Que os sambistas desejavam, com a· aceitação de sua produçao cultural, sua própria aceitação social, fica claro a

uma

simples análise de algumas letras de sambas da epoca, como já mencionado Homenagem, de Carlos Cachaça.

o

O poeta classifi

ca seus versos de "rudes" e "sem perfeição", chama a si

pro-

prio e a seus companheiros de "pequenos poetas", mas, por outro lado, fica claro a quem lê o desejo de que os sambas "pudessem ser cantados/ou mesmo falados/pelo mundo

inteiro", da

mesma forma que transparece o "desejo incontida/do samba querido/~

glória elevar".

Igualmente

transp~rece

a ingênua vai-

dade do autor ao afirmar que os poetas imortais, quando

escr~

veram seus versos, "talvez nunca pensaram/de ouvir os seus no mes/num samba algum dia". Cabe acrescentar a essas observações um arguto comentário


40

de José Miguel Wisnik, a respeito de um verso de um samba

de

Paulo da Portela, que corrobora o que se vem tentando mostrar:

"Sambista, anteprojeto de artista" - diria Paulo da Portela num dos seus sambas, indicando o desejo de reconhecimento e cidadania anima parte da cultura negra a buscar no sistema sociocultural. 7

que

posição

~ sintomático também o fato de haverem as agremiações pr~

gressivamente trocado suas denominações originais por

outras

que lhes conferissem caráter menos plebeu, mais "distinto". A Portela, por exemplo, chamava-se originalmente, como já vimos, Vai Como Pode, denominação que permite entrever o caráter espontãneo e improvisado do desfile.

Na década -de 30, com

a

oficialização do desfile e a preocupação de ''limpar" o samba, recebeu da Estrada do Portela, onde ensaiava, sua denominação atual.

São decorrência dessa mesma intenção de conferir

breza ao samba os substantivos Acadêmicos, Império e

no-

~mpera-

triz ligados aos nomes das agremiações, como para atenuar com o titulo o impacto causado pelo toponimico, quase sempre morro (Salgueiro, são Carlos) ou subúrbio (Santa Cruz, Leopoldina) .

É interessante observar também que os nomes das

alas

mais tradicionais de nossas Escolas espelham essa preocupaçao de se atribuir nobreza ou importância: Ala do Conde, Ala

dos

Nobres, Ala da Corte ou Ala dos Impecáveis, Ala das Caprichosas do Samba (cujos nomes atestam o cuidado que se por na atividade carnavalesca) .

deveria

Ou ainda o prestigio que go-

zam em quase todas as Escolas as Alas dos Universitários dos Estudantes, cujos componentes quase sempre deixaram

e há


41

muito os bancos escolares, infelizmente sem obter qualquer di ploma. ~

A preocupação em ser socialmente aceito influenciou bém, durante muitos anos, a escolha dos enredos das

tam-

Escolas.

Nos primeiros anos de sua existência, o sambista era

livre

para cantar em suas composições a natureza, o amor, as desilu sões dele decorrentes, o próprio samba.

Foi somente em

1939

que, com a mentalidade ufanista instaurada pela ditadura

do

Estado Novo, se impõs às Escolas a obrigatoriedade de temática nacional.

Ficou logo marcada a preferência dos composito-

res por temas históricos e literários, tomando sempre

como

ponto de referência a cultura "branca", oficial.

con-

Isso

transtava estranhamente com o caráter marginal das Escolas de Samba à época, como já foi apontado na

~egunda

parte.

Não

tão estranhamente, se nos ativermos à nossa idéia bãsica: falar da cultura branca era mostrar-se capaz de ascender ao nivel dela.

E dava margem ainda a que o componente se apresen-

tasse durante o desfile na pele de reis, princesas, heróis ... Ao menos durante o desfile é preciso ser rei, "jogando fora a roupa do dia-a-dia".

8

Acompanhando a evolução das Escolas, o samba-enredo

vai,

portanto, abandonando aos poucos sua singeleza original e, medida que os componentes começam a vestir-se com

a

- f.antasias

luxuosas, à medida que as alegorias e adereços se tornam mais elaborados, também o compositor reveste de riqueza seu

lingu~

jar, para mostrar-se à vontade num

parece

fascinante, ainda que escorregadio.

terreno que lhe Não é dificil ver

nessa

intencional preocupaçao com o luxo a necessidade de evasao de um cotidiano pobre em todos os sentidos, sobretudo

em


42

perspectivas de solução, aliada à já sobejamente mostrada necessidade de ser socialmente aceito pelas classes que antes o marginalizavam. Nos anos 50 populariza-se um tipo de samba-enredo que

se

tornaria popularmente conhecido como lençol: desenvolve um te ma histórico de maneira detalhada, com datas e nomes tos e caracteriza-se por sua extensão.

comple-

Poderíamos citar inú

meros exemplos desse tipo de samba, mas limitamo-nos a reproduzir aqui o Grande Presidente, samba que o compositor Padeirinho fez para a Estação Primeira de Mangueira em 1955.

No ano de mil oitocentos e oitenta e três No dia dezenove de abril Nascia Getúlio Dorneles Vargas Que mais tarde seria o governo do nosso Brasil Ele foi eleito a deputado

9

Para defender as causas do nosso país E na revolução de trinta ele aqui chegava Como substituto de Washington Luis E do ano de mil novecentos e trinta pra :ca Foi ele o presidente mais popular Sempre em contato com o povo Construiu um Brasil novo Trabalhando sem cessar Como prova em Volta Redonda, cidade do aço, Existe a grande siderúrgica nacional Tendo o seu nome elevado Em grande espaço Na sua evolução industrial


43

Candeias, a cidade petroleira Trabalha para o progresso fabril Orgulho da indústria brasileira Na história do petróleo do Brasil Salve o estadista Idealista e realizador Getúlio Vargas O grande presidente de valor.

Em meio a tantas lições de História, ainda se encontram, nessa década, exemplos de sambas que louvam exatarnente a ascensão do gênero.

É corno se o sambista se preocupasse em re

gistrar, ao lado da História do Brasil, a história da

luta

obscura dos negros e mulatos de nossos morros para impor sua cultura.

Mas essa história é contada sempre do ponto de vis

ta da cultura branca.

Por isso o samba só alcança o

privil~

gio de ser enredo, numa fase tão "histórica", porque se controu um motivo para tal: . a homenagem ao prefeito Pedro nésto.

O samba em questão é da Escola de Samba

enE~

_ Acadêmicos

do Salgueiro, que o cantou em seu segundo desfile, no carnaval de 1955.

Seus autores sao Duduca, Bala e Juca e se inti

tula Epopéia do Samba:

Exaltando A vitória do samba em nosso Brasil Recordamos O passado de infortúnio quando o qual surgiu Porque não queriam chegar à razao Queriam eliminar


44

Um produto genuino da nossa naçao Foi para a felicidade do sambista Que se interessou por nosso samba O eminente Doutor Pedro Ernesto Batista Que hoje se encontra no reino da Glória Mas deixou na terra Portas abertas para o caminho da vitória

6 ô ô ô ô ô ô ô ô A epopéia do samba chegou Foi em nossa antiga Praça Onze Que os sambistas de fibra Lutaram pra vencer Uniram Salgueiro, Mangueira, Portela, Favela, Estácio de Sá Resolveram persistir Até a vitória chegar Hoje o nosso samba é feliz Em qualquer parte do mundo Nós podemos cantar Lá lá lá lá lá lá Contra o samba ninguém mais lutará

Já em 1955 a Praça Onze era c.oisa do passado e o samba se situava em sua fase de aceitação.

O compositor, com seu exa-

gero caracteristico, exalta "a vitória do samba".

E o

faz,

como convém, falando dificil: o pronome relativo o qual, deno tador de erudição, tinha de ser usado, ainda que sem valor relativo:

nenhum


45

Exaltando A vitória do samba em nosso Brasil Recordamos

o passado de infortúnio quando o qual

[=

ele,

o samba] surgiu.

E se o compositor se permite nesse momento cantar a vitólugar

ria do samba em detrimento de outros ternas que tinham

de honra no mundo dos espectadores que ele almeja conquistar, e porque sente que sua luta tem tido algum resultado, que

o

próprio samba já tem em si para esse espectador algum encanto, mesmo quando não fala de D. João VI, Tiradentes ou Castro

Al

ves. A década seguinte assiste a uma importante transformação: exatarnente em 1960 Fernando Parnplona, artista plástico de for mação universitária, assume na Escola Acadêmicos do Salgueiro o papel de carnavalesco, . responsável pela escolha e desenvol virnento do enredo.

Até então houvera urna identidade de

dismesma

curso: o carnavalesco e o compositor, se nao eram urna

pessoa, eram membros da comunidade, com o mesmo grau de . instrução e condições de vida idênticas.

A partir deste

momen-

to, o carnavalesco impõe ao compositor seu discurso, o discur so de urna pessoa estranha à comunidade e diferente dela. Paradoxalmente, é neste momento que o sambista retorna discurso de sua cultura. enredo Zumbi dos Palmares, e Noel Rosa de Oliveira:

O Salgueiro apresenta na Avenida

o o

cantando um belo samba de Anescar


46

Nos tempos em que o Brasil ainda era Um simples pais colonial Pernambuco foi palco da história Que apresentamos neste carnaval Com a invasão dos holandeses Os escravos fugiam da opressão E do jugo dos portugueses Esses revoltosos Ansiosos pela liberdade No arraial dos Palmares Buscavam a tranqüilidade

6 o o ô o o Surgiu nessa história um protetor Zumbi, o Divino Imperador Resistiu com seus guerreiros em sua Tróia Muitos anos ao furor dos opressores Aos quais os negros refugiados Rendiam respeito e louvores Quarenta e oito anos depois De luta e glória Terminou o conflito dos Palmares E lá no alto da s erra Contemplando as suas terras Viu em chamas a sua Tróia E num lance impressionante Zumbi no seu orgulho se precipitou Lá do alto da Serra dos Gigantes


47

Meu rnaracatu ~

da coroa imperial

~

de Pernambuco

~

da casa real

bis

Esse herói da raça negra, que teve coragem de desempenhar um papel de rebeldia em relação ao mundo dos senhores brancos, era uma novidade. tasia?

Afinal, fantasiar-se de negro?

Onde a fan

Fantasia: palavra que em português, e só no português

do Brasil, serve ambiguamente para designar "capricho da imaginação, devaneio" e também ''vestimenta usada pelos lescos". 10 mesma coisa?

carnava-

Atê que ponto estas duas acepções nao serao

uma

Assim, vestir-se de rei equivaleria a dar

vida

a essa fantasia de ser rei que existe dentro do ser

oprimido

e aviltado pelas condições objetivas de seu cotidiano.

Desse

ponto de vista a fantasia de negro teria sido para o cornponen te da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, naquele longi~ quo 60, algo decepcionante.

Mas já naquele instante a reali-

dade do carnaval se mostrava gratificante e era possível

ser

rei ainda que &antasiado de negro: rei de um espaço e de

um

tempo limitados, rei das atenções gerais, urna vez que a cidade começava a prestar atenção à manifestação antes anônirna

e

ignorada, quando não reprimida . . Em 1963, o Salgueiro apresenta outro sucesso de temática negra, o samba Chica da Silva, da mesma dupla de compositores de Zumbi dos Palmares, Anescar e Noel Rosa de Oliveira.

Este

belo samba-enredo foi talvez o ' prirneiro, desde o Exaltação

a

Tiradentes,de Mano Décio da Viola, Penteado e Estanislau Silva - (Império Serrano, 1949), que alguns anos mais tarde,

em


48

1955, foi gravado em 78 r.p.m. a cidade.

11

, a tornar-se sucesso em toda

A divulgação se fez de forma espontânea, de

boca

a ouvido, já que o samba só seria gravado algum tempo depois:

Apesar De não possuir grande beleza Chica da Silva Surgiu no seio Da mais alta nobreza O contratador João Fernandes de Oliveira A comprou para ser a sua companheira E a mulata que era escrava Sentiu forte transformação Trocando o gemido da senzala Pela fidalguia do salão Com a influência e o poder do seu amor Que superou a barreira da cor Francisca da Silva Do cativeiro zombou

ô o o o

oo

o o ô ô ô

No Arraial do Tijuco Lá no Estado de Minas Hoje lendária cidade Seu lindo nome é Diamantina Onde viveu a Chica que manda Deslumbrando a sociedade Com o orgulho e o capricho da mulata


49

Importante, majestosa e invejada Para que a vida lhe tornasse mais bela João Fernandes de Oliveira Mandou'construir Um vasto lago e uma belíssima galera E uma riquíssima liteira Para conduzi-la Quando ia assistir a missa na Capela.

No ano seguinte, 1964, completava o Salgueiro a trilogia negra, com um autêntico ''lençol" que narrava como decorreu a vida de um outro herói da raça negra, não um herói

trágico

como Zumbi, nem uma rainha lírica como Chica da Silva,

mas

um herói matreiro que, como o próprio sambista, arranja

uma

estratégia de resistência que lhe possibilita uma bem sucedi da ascensão no seio da sociedade da época: o quanto a "fanta sia" de um tal rei é grata ao sambista não e difícil nar.

O herói em questão é Chico Rei, cantado no samba

Geraldo Babão, Djalma Sabiá e Binha:

Vivia no litoral africano Uma régia tribo ordeira Cujo rei era símbolo De uma t e rra laboriosa e hospitaleira Um dia, essa tranqüilidade sucumbiu Quando os portugueses invadiram Capturando homens Para fazê-los escravos no Brasil Na viagem agonizante Houve gritos alucinantes

imagide


50

Lamentos de dor

O o o, adeus, Baobá, o o O o o, adeus, meu Bengo, eu já vou Ao longe Minas jamais ouvia Quando o rei mais confiante Jurou a sua gente Que um dia os libertaria Chegando ao Rio de Janeiro No mercado de escravos Um rico fidalgo os comprou Para Vila Rica os levou. A idéia do rei foi genial Esconder o po de ouro entre os cabelos Assim fez seu pessoal Todas as noites quando das minas regressavam Iam a igreja e suas cabeças banhavam Era o ouro depositado na pia E guardado em outro lugar com garantia Até completar a importância Para comprar suas alforrias Foram libertos cada um por sua vez E assim foi que o rei Sob o sol da liberdade trabalhou E um pouco de terra ele comprou Descobrindo ouro enriqueceu Escolheu o nome de Francisco Ao catolicismo se converteu No ponto mais alto da cidade Chico Rei


f

51

Com seu espirito de luz Mandou construir uma igreja E a denominou Santa Efigênia do Alto da Cruz.

A observação atenta desses três sambas nos leva a uma cons tatação singular: um grupo de artistas plásticos brancos liderado por Fernando Pamplona impõe à comunidade e aos compositores da Escola, negros em sua maioria, um enredo negro.

O

redo é aceito: afinal o samba já podia dar-se ao luxo de

encan-

tar como heróis os expoentes dentre seus cultores, abrindo espaço para a raça negra.

Mas o compositor, deformado por

duas

décadas de predominância da história branca, ainda o faz

de

maneira timida, adaptando o tema ao que supõe ser uma condição para a aceitação de seu samba: histórias exemplares de são social.

Chica da Silva "dá samba" porque "apesar de

ascen-

nao

possuir

grande beleza/[ ... ] viveu no seio da mais alta nobreza". Chico Rei se transforma em enredo não por ter sido rei de sua

tribo

na África, nem por ter descoberto uma engenhosa maneira de libertar seus antigos súditos, mas tão-somente porque"[ ... ] enriqueceu/recebeu o nome de Francisco/ao catolicismo se converteu". No desfile de 1965, ano do quarto centenário do Rio de

Ja

neiro, a Escola de Samba Imp ério Serrano levou para a

Avenida

na boca de seus componentes um samba antológico que

merece,

pôr várias razões, registro e comentário neste histórico gênero samba-enredo.

Trata-se de Os Cinco Bailes da

História

do Rio, de autoria de Silas de Oliveira, Dona Ivone Lara Bacalhau:

do

e


52

Carnaval, doce ilusão Dê-me um pouco de magia De perfume e fantasia E também de sedução Quero sentir nas asas do infinito Minha imaginação Eu e meu amigo Orfeu Sedentos de orgia e desvari o Cantaremos em sonho Cinco bailes da história do Ri o Quando a cidade completava Vinte anos de existência O nosso povo dançou Em seguida era promovida a capital A corte festejou Iluminado

estava o salão

Na noite da coroação Ali no esplendor da alegria A burguesia fez sua aclamaçã o Vibrando de emoçao O luxo, a riqueza Imperou com imponência A beleza fez presença Condecorando a independência Ao erguer a minha taça Com euforia Brindei aquela linda valsa

Já no amanhecer do dia A suntuosidade me acenava


'

i

53

E alegremente sorria Algo acontecia Era o fim da monarquia.

Este samba inauguraria urna prática que irá verificar-se a! gurnas vezes em nosso corpus: a de introduzir, antes da narrati va propriamente dita do enredo, que começa no décimo

primeiro

verso ("Quando a cidade completava/vinte anos de existência~') , clás-

uma invocação e urna proposição nos moldes da epopéia sica. 12

Na invocação o poeta pede inspiração para que sua ima

ginação se alce nas asas do infinito, enquanto que na proposiçao anuncia aquilo que pretende cantar.

O uso da primeira pe~

soa envolve o componente num clima de euforia, não se limitando a narrar com objetividade os fatos que constituem o enredo. Ao contrário, o poeta popular se torna, por um artificio estilistico do qual talvez sequer tenha consciência,

personagem

desses fatos, contagiando os demais sambistas da Escola e mesmo a platéia que assistiu o desfile.

até

Não foi por acaso que

o desfile do Império Serrano, ·naquele ano de 1965, foi acompanhado, segundo relato dos jornais da época, de um

verdadeiro

delirio do público das arquibancadas, tomado de viva

emoçao,

agitando lenços b r ancos e cantando. Em 1967 outra i mportante al ter ação se introduz no sarnba-en redo, embora ninguém se aperceba dela de imediato.

A

Escola

de Samba Unidos de Vila Isabel desfila cantando na Avenida

o

samba de um quase desconhecido Martinho da Vila e de . ." Gemeu: Carnaval de Ilusões.

Na forma é um samba longo, empolado, obe

diente em tudo às regras que pareciam reger a composição famosos "lençóis" das décadas de 50 e 60, dos quais o

dos modelo


54

perfeito é Os Cinco Bailes da História do Rio.

Mas urna sutil

novidade se inoculava neste Carnaval de Ilusões: a de um estribilho folclórico

presença

("Ciranda, cirandinha/Varnos todos

cirandar / Vamos dar a meia volta/Volta e meia vamos dar") que, já conhecido do público, facilitava a sua participação. época em que os sambas não eram gravados antes do

Numa

carnaval,

corno ocorre hoje em dia, e o público tornava conhecimento dele$ apenas na hora do desfile, · o recurso era válido para captar a simpatia e a participação das arquibancadas.

Fantasia Deusa dos Sonhos esteja presente Nos devaneios de um inocente Oh soberana das fascinações PÕe os seres do teu reino encantado Desfilando para um povo deslumbrado Num carnaval de ilusões Na doce pausa dos folguedos infantis Repousam a bola e a bonequinha querida No turbilhão do carrossel Da alegre vida Morfeu embala a criança tão feliz Que num sonho e nc a ntador Viaja ao mundo da fabulação Terra da riqueza e do fulgor De tanta beleza e do esplendor Guiada pela fada ilusão Se juntam lendárias figuras Personagens de leitura Revividos na memória


55

Que ajusta o imperfeito Na perfeição dos conceitos Das deleitosas histórias Neste clima extasiante Dos folguedos deslumbrantes Tudo envolve ao despertar E no mundo da verdade Sem saber à realidade Retorna o petiz a cantar Ciranda, cirandinha Vamos todos cirandar bis

Vamos dar a meia volta Volta e meia vamos dar.

Desde a clássica invocação até o estribilho final, de caráter obviamente popular, tirado de uma cantiga de roda ,

o

samba se desenvolve em versos de linguagem rebuscada, perfeitamente ao gosto da epoca.

Exatamente o contraste entre

o

clássico e o folclórico, entre o extremamente empolado e

o

extremamente simples, é que lhe conferiria, com o passar

dos

anos, o caráter marcante que assumiu.

Mas, apesar do belissi

mo desfile que a pequena Escola conseguiu apresentar, o samba não fez nenhum sucesso.

O próprio jurado do quesito samba-en

redo - nada menos que Chico Buarque de Holanda - lhe atribuiu nota baixa, o que ocasionou um sentido protesto de da Vila, em forma de samba, naturalmente:

SÓ a comissão nao viu Cadência numa grande bateria

Martinho


56

Nem se comoveu Com a beleza do desfile-fantasia Caramba, eh, eh, eh, caramba Nem o Chico entendeu O enredo do meu sarnba

13

O próprio Martinho insiste na fórmula nos anos subseqüentes, e ela se torna quase obrigatória na virada da

década.

Mesmo sua maneira de cantar faz escola: Martinho, um

cantor

sem grandes recursos vocais, mas inovador quanto ao ritmo to e dolente que imprimia a melodia, consegue, por seu so, inúmeros imitadores.

le~

suces

O critico José Ramos Tinhorão cornen

tou à época que Martinho, sorrindo sempre ao cantar,

estaria

tentando aliciar o público, obter-lhe a simpatia ou, ·

indo

mais longe, desculpar-se com um sorriso pelo fato de ser gro e estar fazendo sucesso.

Radicalismo a parte, o fato

nee

que Martinho efetivamente conseguiu impor a inovação. Mas nao é em dois tempos que ela se firma.

Ao contrário, corno

inovação, terá de conviver ainda com o velho estilo, que

toda so

aos poucos irá sendo substituído até desaparecer por completo. E essa mudança se dará mais depressa nas Escolas grandes, mais abertas às influências.

As pequenas Escolas serão quase sem-

pre mais tradicionalistas, mais conservadoras, mais ao passado.

ap?gadas

A Unidos de Lucas, por exemplo, apresentaria

carnaval de 1969, quando a novidade introduzida por

Martinho

da Vila já se ia generalizando, um lindo samba da autoria Nilton Russo, Zeca Melodia e Carlinhos Madrugada, Sublime Pergaminho.

no

de

intitulado

Este samba, considerado por muitos

o

mais perfeito samba-enredo de todos os tempos, é em tudo fiel


57

aos moldes tradicionais: na temática, no desenvolvimento, na ausência de estribilho, no andamento e no próprio rio; mas como, com o passar dos anos, o compositor

vocabulápopular

vai adquirindo mais ousadia ao falar dos temas inerentes sua cultura, nele já é permitido louvar a

a

"insubordinação"

dos escravos ao cativeiro, embora ainda apresente a Princesa Isabel como grande heroina do negro, como se pode verificar a partir do titulo e por toda sua letra:

Quando o navio negreiro Transportava os negros africanos Para o rincão brasileiro Iludidos com quinquilharias Os negros não sabiam Ser apenas sedução Pra vê-los armazenados E vendidos como escravos Na mais cruel traição Formavam irmandades Em grande união Dai nasceram festejos Que alimentaram desejos De libertação Era grande o suplicio Pagavam com sacrificio A insubordinação E de repente uma lei surgiu Que os filhos dos escravos Não seriam mais escravos no Brasil


58

Mais tarde raiou a liberdade Pra aqueles que completassem Sessenta anos de idade Oh! Sublime pergaminho Libertação geral A princesa chorou ao receber A rosa de ouro papal Uma chuva de flores cobriu o salão E o negro jornalista De joelhos beijou a sua mao Uma voz na varanda do Paço ecoou Meu Deus! Meus Deus! Está extinta a escravidão.

Mas ao que tudo indica a inovação introduzida por Martinho da Vila era irreversível.

E é esta inovação que vai possibil~

tara eclosão, no desfile de 1971, de um sucesso

escandaloso:

o Festa para um Rei Negro, do compositor Zuzuca, da Escola

de

Samba Académicos do Salgueiro.

do

Rompendo com a tradição

samba-enredo, esta composição apresentava um contagiante estri bilho que se repetia ao fim de cada estrofe do samba.

Esta

repetição do estribilho, o andamento mais . característico

de

marcha _ou re i sado do que de samba e o fato de apresentar

três

estrofes de melodia idêntica e que se diferenciavam apenas pela l etra fugiam a tudo que se vira e ouvira até então.

Não

faltou quem condenasse com veemência a novidade, mas o

samba,

ou pseudo-samba, tomou conta da cidade, talvez exatamente

por

ser mais fácil de memorizar e cantar, mais próximo dos padrões a que o grande público se acostumara:


59

Olelê, olalá bis

Pega no ganze Pega no ganza Nos anais de nossa história Fomos encontrar Personagens de outrora Que viemos recordar Sua vida, sua glória Seu passado imortal Que beleza A nobreza do Brasil colonial. Olelê, olalá

bis

Pega no ganze Pega no ganza Hoje tem festa na aldeia Quem quiser pode chegar Tem reisado a noite inteira E fogueira pra queimar Nosso rei chegou de longe Pra poder nos visitar Que beleza A nobreza que visita o conga Olelê, olalá

bis

Pega no ganze Pega no ganza Senhora dona de casa Traz seu filho pra cantar Para o rei que veio de longe Pra poder nos visitar Essa noite ninguém chora


1'

60

E ninguém pode chorar Que beleza A nobreza que visita o conga

A narrativa do samba nao e linear, ele nao tem compromisso de esgotar os fatos, narrá-los de maneira integral.

Aborda

flashes de um determinado fato inserido "nos anais da história", o que descaracteriza o "enredo".

nossa

~ntretanto,

se

por um lado a composição é, como já vimos, revolucionária, por outro lado não deixa de significar uma retomada da simplicidade original, em estrofes curtas e empolgadas.

E e essa

ambí-

gua situação que caracteriza o início do período abrangido por nosso corpus: uma preocupação de fidelidade às característica originais do gênero, de resistência às transformações que plicassem descaracterização e desvirtuamento, mas, ao

immesmo

tempo, a necessidade de evoluir para não estagnar e desaparecer.

Porque, sem dúvida, a ausência de renovação acarreta uma

perda de vitalidade.

Foi esse o caso dos Ranchos e das

des Sociedades que, se por um lado são um maravilhoso

Granexemplo

de preservação da tradição, de fidelidade às raízes, por outro lado são um melancólico testemunho de que a resistência não

e

o único problema. este

As mais antigas Escolas de Samba estão completando ano sessenta anos de e x istência.

O samba-enredo tem pelo

nos quarenta anos de vitalidade impressionante. tou a sobreviver.

Não se

Mais que isso, tornou-se o mais

melimi-

importante

gênero de música carnavalesca, sendo responsabilizctdo por muitos pelo desaparecimento da marchinha e do samba de

carnaval.

A sensibilidade de seus compositores levou-os a não se

isolar


61

do público, a acompanhar as mudanças que esse público aprese~ tou, procurando sempre ir ao encontro de seu gosto corno tia de sobrevivência.

gara~

Se isso algumas vezes implicou ernpobr~

cimento, nem por isso deixamos de ter nos últimos anos

belos

exemplares do genero. Corno suas características evoluíram durante os dez

anos

que sao especialmente enfocados neste trabalho é o que

vere-

mos

Mas não posso terminar esse

a seguir.

bre

ve histórico do samba-enredo sem fazer menção ao que foi cantado pelo Grêmio Recreativo Escola de Samba Império ·· Serrano em 1982, de autoria de Aluísio Machado e Beto Sem Braço.

Ele

consegue reunir três fatores muito importantes: a objetividade e adequação de sua letra, que resume sem omissões os fatos a serem narrados, o sucesso que alcançou em toda a cidade antes, durante e depois do carnaval, e um alto grau de consciê~ cia critica quanto ao caráter institucional que tem do o desfile das Escolas de Samba nos últimos anos.

apresent~

Além

de como

ser uma história do próprio desfile e do samba, o que,

vimos, se constitui numa prática tradicional de nossos compositores de Escolas de Samba.

Seu título - Bum Bum Paticumbum

Prugurundum - é a onomatopéia com que Ismael Silva define andamento do samba de desfile.

o

Em entrevista concedida a Sér

gio Cabral, Ismael assim se expressou:

O samba da época nao dava para os grupos

carn~

valescos andarem na rua, conforme a gente

ve

hoje em dia.

Eu

O estilo não dava pra andar.

comecei a notar que havia essa coisa.

O samba dava. era assim: tan tantan tan tantan. Não assim? Corno é que um bloco ia andar na rua


62

Aí, a gente começou a fazer um samba assim: bum 14 bum paticumbum prugurundum.

O samba do Império se propoe, portanto, contar a ria do samba para desfile, definido por seu próprio

trajetóinventor.

E como foi também o que se pretendeu fazer aqui, usamo-lo guisa de resumo, para finalizar:

Enfeitei meu coraçao De confete e serpentina Minha mente se fez menina Num mundo de recordação Abracei a coroa imperial Fiz meu carnaval Extravasando toda minha emoçao

6 Praça Onze, tu és imortal Teus braços embalaram o samba À sua apoteose triunfal

De uma barrica se fez uma cuíca De outra barrica um surdo de marcação bis

jcom reco-reco, pandeiro e tamborim lE lindas baianas o samba ficou assim E passo a passo no compasso O samba cresceu Na Candelária construiu seu apogeu As burrinhas, que imagem, Para os olhos um prazer Pedem passagem pros moleques de Debret As africanas, que quadro original,

a


)

63

Iemanjá, Iemanjá enriquecendo o visual Vem, meu amor, manda a tristeza embora bis

~

carnaval, é folia

Neste dia ninguém chora Sup~rescolas

de Samba S.A.

Superalegorias Escondendo gente bamba Que covardia! Bum Bum Paticumbum Prugurundum Nosso samba minha gente é isso aí Bum Bum Paticumbum Prugurundum Contagiando a Marqués de Sapucai.


64

3.1

NOTAS

1 Cf. Brasilio Itiberê, Mangueira, Montmartre e outras favelas,

p. 20-2. 2 O Rio ainda é uma cidade feliz: tem Silas de Oliveira,

Mano

Décio da Viola e toda sensibilidade deles, de José Carlos Rego, no Correio da Manhã de · 9-10 de janeiro de 1972. 3 Pequena história da música popular, p.

181.

4 Este eitudo foi publicado no Fascículo Samba de terreiro d~

e

enredo, Abril Cultural, 1983, p. 7. láudia Matos, Acertei no milhar; malandragem e samba no tem-

po de Getúlio, p. 125.

~José

Miguel Wisnik, Getúlio da Paixão Cearense, in:Música; o

nacional e o popular na cultura

brasileira, p. 160.

7 Id., ibid., p. 159. 8 Este verso é do samba-enredo O Paraíso da loucura, de

Mara,

Luciano e Walter de Oliveira, do G.R.E.S. Beija-Flor, 1979. Em nosso corpus recebe o número 88. 9 Na gravaçao que Martinho da Vila fez deste samba em 1980, corrigiu esta regência inusitada. 10 Estas definições se encontram no Novo Dicionário da língua portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, s.v. 11 No disco 5 355, lado~' da gravadora Copacabana, na voz do cantor Roberto Silva.


65

1 2 A propos1çao ' aparecera- em nosso corpus, dentre outros,

sambas 17, 18, 19, 27. vocaçao.

nos

No samba 24 há - um exemplo claro de in-

Na quinta parte tratarei mais detidamente do assunto.

1 3 Trata-se do samba Caramba,de Martinho da Vila, gravado

no

LP "Martinho da Vila", em 1969. 1 4 Cf.

Sérgio Cabral, As escolas de samba; o que, quem, como,

quando e por que, p. 28.


4

NA BOCA DO POVO

Vimos na parte anterior corno se desenvolveu a história do samba-enredo corno gênero, desde sua criação até o inicio

.do

decênio que tornei corno objeto de estudo.

de

Agora tratarei

estudá-lo na forma corno ele se apresenta atualrnente, ou, mais exatarnente, de 1972 até nossos dias. Antes de mais nada, e preciso relembrar que, desde há alcornp~

gum tempo, não é o compositor que escolhe o terna de sua sição.

O carnavalesco - palavra que aqui emprego nao na aceE

ção usual de folião de carnaval, mas na de artista

plástico

responsável pela escolha do enredo, bem corno por seu desenvol virnento e execução 1 - apresenta, logo após o término do carna val, urna proposta à diretoria da Escola e entra em negociações com ela para a adoção de seu enredo, de sua idéia para o carnaval do ano seguinte.

Aprovado o enredo, fica o carnavales-

co encarregado de fornecer à Ala dos Compositores da

Escola

urna sinopse do enredo, destacando os pontos que devem

ser

ressaltados no samba, para coincidir com os demais tópicos do desfile: alegorias, adereços, destaques e demais fantasias. A Ala dos Compositores é de capital importância na estrutura das Escolas de Samba.

Seus componentes desfrutam

grande prestigio na comunidade.

de

Porque não é qualquer um que

pode inscrever-se: o compositor tem de ter pelo menos

dois

anos de militância na Escola, ser autor de composições conhecidas por pelo menos três componentes da Ala e submeter

a

apreciação dos companheiros, ao solicitar formalmente seu ingresso, um samba de terreiro e.rn que louve a agremiação a pertence.

que

Urna vez aceito na Ala, o compositor deverá aguardar


67

ainda dois anos para ter o direito de apresentar samba-enredo de sua autoria, sozinho ou com parceiros, ao concurso interno da Escola. Tais exigências têm por finalidade defender a Ala dos Com positores da intromissão de elementos estranhos a comunidade, atraídos pelo crescente sucesso do genero, que

possibilita

atualmente a seus autores elevados lucros com direitos rais.

auto

Felizmente poucos sao os exemplos de que se tem

cia de intromissões desse tipo.

noti-

Nas Escolas mais bem estrutu

radas e mais democráticas, isto é praticamente

impossivel.

Nas Escolas pequenas, onde a organização é mais precária, penetração seria talvez mais fácil, mas são exatamente grandes Escolas do primeiro grupo, por

a as

popularidade,

que

se tornam alvo da cobiça de elementos estranhos ao mundo

do

samba que pretendem espraiar até os redutos de sambistas

sua

influência.

~ua

Nas Escolas onde há um ''dono", nem sempre

dispo~

to a respeitar as hierarquias e os direitos dos componentes, é fácil ver desses absurdos: compositores da classe

média,

alheios à vida da Escola, conseguem convencer os manda-chuvas a inclui-los na disputa de samba-enredo e vencem-na ã

custa

de amizades com discotecários de emissoras de rádio, ou de in timidação e suborno à comissão julgadora que escolhe o

samba

dentro das Escolas. No corpus do presente trabalho, composto de cento e vinte sambas-enredo, temos apenas dois exemplos de sambas de res do tipo acima descrito.

auto-

são ambos da Escola de Samba Por

tela e de autoria da dupla Evaldo Gouveia - Jair Amorim. no carnaval de 1974 que fizeram sua primeira investida. autorização da diretoria da Escola para que concorressem

Foi A ao


68

samba-enredo gerou uma crise na Ala dos Compositores.

Alega-

vam estes que dois compositores consagrados, com inúmeros sucessos gravados e de f o ra do meio do samba, concorreriam eles em situaÇão de vantagem.

Ficou provado que tinham razão.

Evaldo Gouveia e Jair Amorim, que deram parceria ao tor Velha

com

composi-

esse sim um autêntico sambista - acabaram por ter

seu samba O mundo melhor de Pixinguinha (25) cantado pela Escola no carnaval e nesse lamentável episódio, que se constitu iu grave precedente, perdeu a Portela um grupo de

tradicio-

nais e excelentes compositores - dentre os quais Candeia Paulinho da Viola - que se afastaram da Escola por rem da medida.

e

discorda-

Em 1978 a dupla ataca de novo, desta vez

parceiros, e lá vai a Portela para a Avenida cantando

sem

Mulher

a Brasileira (75). Este fato dá margem a uma reflexão sobre o perfil d o nosso compositor de Escola de Samba, que não se confunde com compositor da música popular brasileira em geral.

o

O composi-

tor de Escola pertence .a um mundo peculiar, marginalizado, raramente ê conhecido fora da comunidade do samba.

A esmaga-

dora maioria é composta de cariocas, negros ou mulatos, pouca instrução e sem nenhum conhecimento teórico de

de

música.

Habitando morros ou subúrbios, não vive basicamente de composições, mas de seu trabalho em empregos que, em lhe proporcionam baixa renda.

e

suas geral,

Uma caracteristica marcante do

compositor popular é a adoção de um pseudónimo, espécie de no me artlstico pelo qual é conhecido no mundo do samba e às vezes fora dele, como e o caso de Martinho da Vila e Paulinho da Viola ou Candeia e Cartola.

Apenas cerca de trinta

cento dos compositores do corpus deste trabalho usam

por ao


69

assinar suas composiç6es o nome

civ~l,

ou um pseudônimo forja-

do de maneira ortodoxa, isto é, composto de nome e sobrenome. Ora, essa adoção quase sistemática de um nome artistico

que

rompe com os padr6es usuais da sociedade civil pode ser

enca-

rada como mais uma forma de fantasiar a realidade, de mascarar o cotidiano, de driblá-lo, de libertar-se dele.

Em

respeito

ao que julgo ser um direito individual, mantive neste trabalho tais pseud6nimos, sem qualquer preocupação de associá-bs ao no me civil de seu usuário, na certeza de que dizer Cartola,

por

exemplo, sera sempre suficiente, e nao será menos do que dizer Angenor 'de Oliveira. Uma análise mais detida desses pseudônimos pode revelar-se muito interessante.

Ao lado de simples apelidos sem

qualquer

significado especial, como é o caso de Zuzuca (2), Jajá

(13)

ou Guga (24), aparecem outros que parecem basear-se numa associação de idéias, como e o caso de Comprido (105), Graúna (95) e Barbicha (101).

Ou do interessantíssimo Garganta de

(78), cujas qualidades vocais são lido.

p~ontamente

Ferro

evocadas no ape-

Aparecem também pseudônimos criados a partir do

associado a um qualificativo: Tião Grande (.102), Carlão te (50) ou Robertinho Devagar (92).

nome, Elega~

Neste último se mostra

a

tendência da lingua coloquial de usar o advérbio como adjetivo: "Ele é um sujeito meio devagar".

Um substantivo também poderá

servir para caracterizar o prenome, e disso temos em nosso cor~

exemplos bem curiosos: César Veneno (113), Djalma

Sabiá

(49), Carlinhos Madrugada (67), Aroldo Melodia (86), Carlinhos Bagunça (114), aos quais poderiamos juntar ainda Wilson (21) e Edinho Capeta (92).

Às vezes ao substantivo comum

Diabo se

liga um adjetivo e é todo o sintagma resultante que caracteriza


70

o nome ou apelido: Biel Reza Forte (69).

Pode ser também

a

profissão, o instrumento predileto ou a Escola de Samba a que pertence que vão juntar-se ao nome ou ao apelido do tor para identificá-lo no universo do samba.

composi-

Exemplos do pr~

meiro caso são I. Marinheiro (83) e Wilson Bombeiro (94)

no

i

segundo caso estão Jorginho do Pandeiro (74), Djalma do Cavaco (12), Adilson da Viola (69) e Rato do Tamborim (82)

no

i

( 6 8)

terceiro, Neguinho da Beija-Flor (71), Aurinho da Ilha

1

Ney da Mangueira (98), Martinho da Vila (1) e Aldir do Arranco (79).

Mas a caracterização pode ser também apenas o bair-

ro ou localidade de onde se origina o compositor: nhos do Estácio (54).

Domingui-

Ou uma característica física sua, como

e o caso de Beto Sem Braço (117) ou Djalma Branco (110). O samba-enredo não é a Única produção do compositor de Es cola de Samba.

Fora do carnaval ele compõe também sambas cha

mados "de terreiro" ou "de quadra", que sao cantados nos

en-

saios da Escola, nos festivais de samba e de chopp promovidos durante o ano e nas festividades que têm lugar a cada fim

de

semana nas quadras e que constituem praticamente a única forma de lazer de nossa população suburbana.

Desses sambas

de

quadra a maioria infelizmente nunca chega a ser gravada devido à dificuldade de acesso desse tipo de compositor às gravadoras.

São decorados e repetidos durante anos, associados ao

humilde nome de seu(s) autor(es).

Sua circulação se restrin-

ge, portanto, a esse mundo peculiar, onde não se exige de nin guém sobrenome - aliás, nem sequer nome - para ser aceito. ~ comum encontrarmos ainda em nossas Escolas, de

maneira

espontânea, as famosas rodas de samba, onde se canta o partido alto, também chamado "samba duro", acompanhado por

palmas


71

e dança características.

A um estribilho se sucedem estrofes

improvisadas, numa espécie de desafio.

Alguns

compositores

se tornaram notáveis por sua capacidade de improvisaÇão,

fa-

zendo longas estrofes em linguagem rebuscada, sobre fatos ocor ridos no momento em que a roda se reune. car~

Este é o perfil do compositor que recebe das maos do

navalesco uma sinopse sobre a qual deverá desenvolver seu sam ba.

com~

Sendo o samba uma atividade eminentemente gregária,

nitária, como já vimos, não é de espantar que os compositores se associem em parcerias para responder ao desafio que representam as complicadas sinopses distribuídas pelos carnavalescos.

Assim, dos cento e vinte sambas estudados, somente

te e dois foram feitos por compositores isolados.

vin

Trinta

e

sete foram feitos em dupla e quarenta e três - a maioria,

po~

tanto - por três compositores em parceria.

Apenas nove

bas foram compostos em parceria de quatro ou mais

sam-

sambistas.

No nosso universo de trabalho apresentam-se ainda

casos

especiais de sambas em cuja autoria aparece a expressao dos Compositores".

"Ala

Convém explicar o que isto significou ou-

trora e o que significa em nossos dias.

Quando um compositor

apresenta ao concurso interno da Escola um bom samba-enreda ·e este sai vencedor mas, por qualquer motivo, precisa

ainda,

para ser cantado durante o desfile, de algumas modificações que o adaptem melhor ao enredo a ser apresentado, outros compositores da agremiação sugerem modificações, obedecendo espírito comunitário que imperava outrora e sobrevive em muitas situações em nossas Escolas de Samba.

ao ainda

Esta prática

é bem antiga, havendo exemplo dela já no início da década 50.

de

No caso de Escolas pequenas, como a Tupi de Brás de Pina


72

(14) ou a Unidos de Jacarezinho (16), que so circunstancialmen te ascendem ao primeiro grupo, é normal que, devido ao

grande

acontecimento que representa em sua vida o "desfile principal", queiram os compositores dividir com a ala toda a responsabilidade de fazer samba para a especialíssima circunstância.

Em

casos como a Mocidade Independente de Padre Miguel (16 e 76) e a Imperatriz Leopoldinense (22), agremiações que, apesar do di nheiro e do sucesso obtido nos Últimos anos, conservam sua infraestrutura de Escolas pequenas, este procedimento ainda normal.

Nos Acadêmicos do Salgueiro (96),em 1980,o fato

e repr~

sentou uma grande crise interna na Ala: ao invés de aparecer o nome de um ou dois autores associado ao da Ala, como é de praxe, aparece somente o nome da Ala.

Foi a fórmula

encontrada

para resolver uma grave dissençâo que ameaçava a própria part! cip ação da Escola no carnaval. Caso peculiaríssimo, no entanto, e que

caracteriza

um fenômeno típico de nosso dias, sem nenhum respaldo na tradi ção, é o que vem ocorrendo com certa regularidade na Escola de Samba Beija-Flor.

Apresentaaos os sambas ao concurso

interno

da Escola, é o carnavalesco Joãozinho Trinta quem escolhe nao o samba vencedor, mas os sambas que lhe interessam e

dos

quais tira trechos para montar, conforme as necessidades

do

enredo, o samba-enredo.

Que resultado esperar dessa

ra colcha de retralhos?

Um hibrido sem estilo,

descaracterizado.

Algumas vezes são criadas

completamente

"parcerias-fanta~

ma", juntando arbitrariamente os nomes de todos os res que tiveram fragmentos aproveitados.

verdadei~

composito-

Outras vezes se

re-

corre ao artificio de dar parceria à Ala dos Compositores, mas de uma maneira bem diferente da citada no parágrafo anterior.


73

Este e x emplo de desrespeito à criação popular ilustra

talvez

melhor do que quaisquer outras palavras a face negativa

da

chamada evolução do samba. Felizmente esta não e a regra no tocante a

escolha

do samba-enredo de uma Escola de Samba em nossos dias. ção aprendida pelo musicólogo Brasilio Itiberê com o

A lidiretor

de harmonia da Mangueira em 1935 já não vigora mais - e

bem

verdade:

Como são muitos os compositores e um grande número de sambas, pergunto a JÚlio qual o critério da escolha.

--

--

existe Mestre

Ele explica:

- Samba bom já nasce feito. O compositor ti

ra o samba e canta para eu ouvir. A primeira es colha é minha.

Depois, ele canta de novo

para

as pastoras. A criançada está escutando, lá fora.

Se gostam e repetem com prazer, o

está adotado.

de

samba

Do contrário, nada feito. 2

Atualmente o compositor, ao receber a sinopse do en redo, compõe, sozinho ou com parceiros, seu samba e o

grava

numa fita cassete, acompanhado às vezes de um cavaquinho, vezes só de um ritmo rudimentar.

as

A entrega de fitas e conse-

qüente inscrição de sambas obedece a um prazo determinado pela diretoria da Escola, através de sua comissão de

carnaval.

Nas Escolas maiores chega a haver, a cada ano, cerca de vinte sambas concorrendo.

O processo de escolha se estende mais ou

menos de agosto a novembro e é um periodo de grande movimenta çao e efervescência dentro da agremiação.

É comum, ao se che

gar a quadra, ouvir convite de um ou mais compositores:

"Vem

ouvir o meu pagode" ou "Estou com um sambinha concorrendo ai".


74

O samba é cantado com acompanhamento de palmas ou caixa de fós foro e será repetido tantas vezes quantas necessário.

O

obje~

tivo desta divulgação prévia entre os componentes da Escola angariar uma boa torcida para o seu samba, porque, como na ca descrita por Brasilio Itiberê, a participação e adesão

e ep~

do

público ainda é decisiva para a escolha do samba. A Escola nomeia uma comissão julgadora composta

de

pessoas gradas dentro de sua estrutura: o carnavalesco, o presidente, o diretor do Departamento Cultural e, eventualmente, convidados de fora, pessoas relacionadas com o samba.

Os sam-

has são apresentados em eliminatórias, sempre aos sábados.

Fi

nalmente restam dois finalistas que são cantados na quadra durante algumas semanas, até que há a grande final onde é

esco-

lhido o samba-enredo da Escola para o próximo carnaval.

Esta

~spetáculo

festa, que se prolonga por toda a madrugada, é um que nenhum componente de Escola de Samba pensaria em

perder.

Formam-se torcidas organizadas com faixas, confete,

serpenti-

na, papel picado, foguetes, balões de encher e até

pequenas

alegorias de mão alusivas ao enredo.

A comissão

ju~gadora

se estiver efetivamente preocupada com o brilho de sua Escola, e não em beneficiar este ou aquele compositor, nem em

impor

ditatorialmente sua vontade - deverá ter sensibilidade

para

perceber as preferências da maioria, já que a adesão do componente a este ou àquele samba é espontânea, motivàda apenas pelo gosto.

Não raro, porém, ao ser anunciado o resultado,

raiar da aurora, generaliza-se um tumulto causado pelos tentes.

ao

desco~

Se a maioria foi contrariada, sao maiores as probabi-

lidades de confusão. Escolhido o samba, ele e gravado, na segunda quinzena


75

de novembro, no disco oficial da Associação das Escolas de Sam ba do Estado do Rio de Janeiro.

Até o carnaval, não é

permit~

do a nenhum outro compositor da Escola divulgar seu samba, que haja concorrido e perdido o concurso interno, seja em

disco,

seja em rádio ou televisão: somente o samba vencedor

deverá

ser divulgado e cabe a todos os compositores da Escola

traba-

lhar para o seu sucesso.

Esta norma e seguida com brio e cor-

dura pelos compositores, pondo de lado toda e qualquer gência anterior.

_ diver

Acima de tudo está o interesse da Escola.

A partir desse momento o samba não mais pertence

a

seus autores nem ao reduto onde foi concebido: ele cai na boca do povo.

Receberá talvez uma grande consagração.

será recebido com

indiferença?

sabe

Quem

Será cantado na Avenida

com

entusiasmo e aepois esquecido ou entrará para a história do sam ba-enredo?

Qualquer que seja a resposta a estas perguntas,

fato é que e ao povo que ele se destina.

Ele se

o

encarregara

de transmiti-lo, de difundi-lo, cantado por um, ouvido por outro, que o cantará a seguir a um terceiro.

Será gravado

outros cantores, que talvez já o tenham ouvido com esta aquela alteração.

ou

Ninguém se lembrará de publicá-lo em livro,

de fazer dele uma edição crítica.

Porque ele foi feito

ser cantado, sua tradição se fixará por via oral.

para

Eis por que

estabelecemos na Introdução que o corpus deste trabalho oral.

por

seria

Pois se um samba-enredo é cantado centenas e até milha-

res de vezes, só em três circunstâncias ele tem sua letra

im-

pressa: em prospectos que são distribuídos na quadra durante o processo de escolha do samba da Escola; em revista distribuída na Avenida no dia do desfile, editada por uma firma particular em convênio com a RIOTUR; e finalmente nos principais

jornais


76

da cidade na edição do dia do desfile. Mas não e nenhuma dessas versões que tornamos texto-base.

corno

Corno já foi dito anteriormente, o nosso texto-ba

se é o texto cantado na gravação em disco da Associação Escolas de Samba do Estado do Rio de Janeiro.

das

Este será

o

texto mais difundido, aquele que atingirá centenas e milhares de pessoas.

O texto escrito, corno aliás todo texto

escrito,

e apenas a representação gráfica de urna realidade sonora que, corno diz Herculano de Carvalho, constitui o texto propriarnente dito, ao contrário do que se entende na linguagem corrente:

Precisamos agora de realizar urna outra dis tinção, que, de resto, já ficou irnplicita que até aqui dissemos, mas que convem

no

cornpree~

der bem claramente e, para isso, tornar e x plicita: a distinção entre texto propriamente dito e texto escrito.

Quando na linguagem

rente se fala de tex to é o segundo que esta palavra normalmente se entende.

cor~

· por Não e

p~

rem a ele que nos referimos quando aqui usamos desse termo: para nós será texto propriamente _ dito ou em sentido próprio o produto

imediato

do acto da fala, quer ele seja materialmente explicitado, quer se conserve no interior

da

consciência do sujeito falante, sob a forma de um significante (ou combinação de

significan-

tes), traduzido ou, ao me nos, s e mpre susceptivel de se traduzir em "palavras sonoras", numa cadeia de vibrações fisicas produzidas

pelo

"aparelho fonador" do sujeito emissor e captáveis pelo ouvido; produto em relação ao

qual

o texto escrito é algo de secundário, enquanto constitui unicamente a sua fixação ou tação gráfica.

represe~

Esta representação pode de to-

do faltar e falta, de facto, muitas vezes.

O


77

texto de que falamos, pelo contrário, nunca fal ta, desde que exista um acto verbal, embora

po~

sa nao se manifestar oralmente, como sucede nos ·actos de fala silenciosos, que têm como

produ-

tos textos silenciosos, os quais, tanto corno os f"lxar-se por escrito. 3 outros, po d em ou nao

Daí a decisão de adotar como corpus deste trabalho um texto oral, a gravação dos sambas-enredo das Escolas

participan-

tes do desfile do primeiro grupo nos carnavais de 1972 a 1982. E urna das razões que influenciaram essa decisão foi que um sa~ ba não é · só a letra, aquilo que sai eventualmente mas também a melodia, as pausas, o ritmo.

impresso,

Assim, por exemplo,

nas pausas entre palavras, a participação da bateria tem valor significativo, que se perde, é óbvio, na representação ca.

gráfi-

Da mesma forma, o que se imprime admirou se canta,

se diz, adimirou (34), fixando se ouve fiquissando

como

(27), .-egi-

piciana se grafa egipciana (67). Herculano de Carvalho acentua, adiante, a vantagem da gravaçao sobre a escrita como meio de representação do ato

da

fala:

O texto escrito é por conseguinte uma fixaçao gráfica, visual, do texto em sentido

pro-

prio, mas apenas daquilo que o constitui na sua materialidade e portanto que nele

fisicamente

se pode captar e registrar, isto é, dos cantes.

signif~

Quer dizer que no registro do texto se

nao representam, evidentemente, os significados que àqueles se ligam, senão na medida em que es tes se encontram presentes nos seus sinais,

os

significantesi e também se nao pode fixar, ante riorrnente ainda, o acto da

, fala

na

sua


78

totalidade, como aliás nenhum outro acto, qualquer espécie, visto que um acto e um

de movi-

mento e a fixação a sua própria negação - o re4 pouso, a imobilidade.

E, em nota de pe de página, acrescenta:

O mesmo, em princípio, se pode dizer da

grav~

çao sonora, que, todavia, registra uma

parte

dos contextos, os de natureza sonora, como entoação, as hesitações, etc.

a

O filme e a ban-

da sonora acoplados constituem a forma menos im perfeita, mas de todos os modos insuficiente,de 5 representação do texto e dos seus contextos.

No parágrafo seguinte, retoma sua explicação:

também,

Nesse registro gráfico do texto

além e em conseqüencia disso, nao ficam fixados certos elementos e circunstâncias que

acompa-

nham o acto da fala, que o condicionam e determinam e que o tornam plenamente

significativo,

elementos e circunstâncias [ ... ]a que

daremos

genericamente o nome de contextos ou correlatas situacionais.

Justificada a opçao pelo corpus oral, resta urna última palavra sobre um elemento da maior importância para

estabelecer

a ligação entre o emissor - no caso de nosso corpus, o

compos~

tor de samba-enredo - e o receptor - o público ouvinte: o "puxador".

No mundo do samba é assim que se chama o cantor

cial da Escola, aquele que lidera o canto do samba-enredo rante os oitenta minutos que dura o desfile.

7

Trata~se de

ofiduum


79

elemento primordial, pois sua participação tem grande influência sobre o desempenho da Escola na Avenida. res" conseguiram projetar-se no cenãrio da sileira.

~

Alguns

m~sica

"puxado-

popular

bra

o caso de Jamelão, da Estação Primeira de Manguei-

ra, e Roberto Ribeiro, do Império Serrano.

Mesmo famosos, ten

do gravado inúmeros discos de sucesso e estrelado shows em todo o pais, nem por isso abrem mão da responsabilidade de condu zir com a voz sua Escola na Avenida. Sobre essa responsabilidade assim se e x pressou o ''puxa dor" Ney Viana, da Mocidade Independente de Padre Miguel:

No desfile oficial todo mundo pode menos o puxador e a bateria.

e r r ar,

Além da sua

pro-

pria responsabilidade, quem puxa o samba

deve

rezar para que a harmonia da escola não

falhe.

Se isso vier a ocorrer, o cantor oficial se esconder depois do desfile, porque

ninguém

vai se lembrar dos muitos diretores de

harmo8

nia.

~

pode

A culpa será, exclusivamente, dele.

essa responsabilidade que leva os pux adores a, na semana

que precede o carnaval, levar vida monástica, abrindo mão

de

participar das atividades que agitam a população do Rio de Janeiro nessa epoca.

Aroldo Melodia, compositor muitas

vezes

vencedor na União da Ilha, e tão a dmi ra do como cantor de

seus

próprios s a mbas que acabou se torn ando o pux ador oficial da Es cola, declarava pouco antes do carnaval de 1981:

Há dez dias que procuro nao me ligar

nos

problemas da escola, não aborrecer ninguém

ou

me p r eocupar com envolvime n tos emocionais

de

qualquer natureza.

Tenho que estar bem,

moral


80

e fisicamente, para que possa desenvolver trabalho de puxador com segurança. verdade, a minha concentração.

meu

Esta e, na

Mais ou

menos

como o jogador de futebol, para uma decisão de campeonato.

9

Jamelão e Roberto Ribeiro servem para ilustrar os dois ex tremos desta difícil arte.

Poder-se-ia dizer que Jamelão

um puxador à antiga: sóbrio, discreto, com seu timbre de

e voz

primitivo e rude, que faz lembrar os primeiros tempos do samba, o veterano puxador da Mangueira é, por seu estilo fundível, a tradição viva.

incon-

Desde 1950 no posto, conta que

a

sua maior emoçao num desfile foi em 1955:

Nessa epoca o concurso de carnaval era

na

Avenida Presidente Vargas, onde havia um tabla do para que o público pudesse melhor

visuali-

zar os sambistas e suas fantàsias .

O tema-en-

redo da Mangueira e seu samba eram

fascinan-

tes: "Getúlio Vargas", de autoria de nho.

Padeiri-

A Mangueira vinha inflamada e, quando co

mecei a entoar o samba, caiu um temporal.

A

água entrava em profusão pelo microfone e

no

amplificador, mas a aparelhagem resistiu

a

tudo.

Ensopado até a meia, eu não podia

lhar.

Se paro um instante, a escola ia esmore

cer comigo. isso a todos.

Confiante, senti que

A escola fez uma 10 . - . va 1 en t e, ex t raor d lnarla.

fa-

transmitia apresentação

Roberto Ribeiro, de temperamento esfuziante , puxa o samba desde 1971 no Império Serrano de maneira muito pessoal, e seu estilo já tem alguns adeptos: desce do carro de som da RIOTUR para o asfalto da Avenida e é dali, de dentro das alas

que


81

evoluem, que entoa seu canto, de microfone em punho.

Introduz

entre os versos do samba exortações a seus companheiros e amigos e, como é popularissimo na Escola, consegue levantar o âni mo dos componentes, qual autêntico lider.

Essa prática de in-

troduzir palavras ou frases na letra do samba se difundiu

de

tal maneira que já nas gravações de sambas de nosso corpus

se

podem registrar exemplos em sambas de quase todas as

agremia-

çoes: "Vamos nós, minha gente!" "Que beleza!" "É isso

ai!"

"S'imbora, gente", "AlÕ , meu povão", "Segura, gente!". dia tal estilo já se vulgarizou, mas a exortação do

Hoje

em

"puxador"

ainda tem eficácia junto à comunidade, porque ele é, aos ouvidos do sambista, a própria voz da Escola. Pretendo haver traçado e explicado a trajetória do

samba-

-enredo, desde que ele é concebido na mente do humilde

poeta pe~

de nosso morro até ganhar as ruas, cantado por milhares de soas; haver tornado familiar as

o contexto onde ele se produz,

pessoas que de alguma forma estão ligadas a sua vida,

tranha existência de criação popular, sujeita a durar

e~

apenas

atê o domingo de carnaval, sendo depois esquecido, ou estender-se por muitos e muitos anos, na memória dos que amam as sas do povo.

coi-


82

4.1

1

NOTAS

· · Jose- Car 1 os Rego, em seu art1go Llnguagem do samb a nasce la-

no morro e nao se aprende na escola, publicado no jornal

O

Globo de 30/1/83, assim define o termo carnavalesco: "idealizador do enredo, criador da concepção geral do desfile de uma escola ou executor das alegorias". 2 Brasilio Itiberª, Mangueira~ Montmartre e outras favelas, p. 21 . 3

4

.

Herculano de Carvalho, Teoria da linguagem, t. 1, p. 229. Id.

I

ibid •

1

p. 2 31 .

1

p. 232.

5 Loc. cit.

6

7

Id.

I

ibid.

A definição e de José Carlos Rego, em Linguagem do samba na~

c e lá no morro e na o se aprende na escola, O Globo, 30/1/83. 8 Este depoimento se encontra no artigo Puxadores de Samba. Vem ai o grande momento: é hora de orações e patuás, publicado em O Globo de 27/2/83. 9 Idem. 10

Idem.


5

"VIRANDO A TRISTEZA PELO AVESS0"

1

Vimos até agora que a história do samba-enredo se desenrolou como um conto de fadas: o da Gata Borralheira que consegue ir à festa no palácio do principe.

É pena que o conto não nos

forneça um dado muito importante: se, além das alterações ope-

..

radas pela fada-madrinha - o vestido, o sapatinho de

cristal,

a carruagem e os cavalos com suntuosos arreios- Cinderela necessitou também adequar sua fala à elegância imposta pompa das circunstâncias.

nao pela

O leitor não chega a saber se

no

borralho Cinderela guardou os hábitos lingülsticos de sua origem, que não era humilde, ou se os mod ificou,

necessitando,

portanto, que sua madrinha lhe fizesse advertência quanto uso de formas lingülsticas compativeis com os salões da

ao corte

real. Quanto ao samba-Cinderela, ao ser aceito no baile da elasse dominante, além de transformar em t rajes de gala seus antigos andrajos, em sapatos elegantes seu s chinelos, em ricas ale gerias suas abóboras, precisou também revestir de suntuosidade sua linguagem pobre, cobri-la de adorn o para que fosse julgada compativel com a nova condição, com a metamorfose sofrida. Este é o objeto preclpuo de meu estudo: os recursos lingülsticos utilizados pelo compositor popularoom afinalidade de

conferir

ao samba status compativel com sua nov a condição social. A idéia de que o comportamento l ingülstico é a base para a caracterização social do falante é o fu ndamento mesmo da socio logia ·da linguagem.

Muitas vezes não se fala em

caracteriza-

ção social, mas sim, eufemisticamente, em caracterização tural.

Tudo vem a ser a mesma coisa.

A

cul-

caracterização


84

cultural vincula-se à situação sócio-econôrnica.

Tendo cansei-

ência disso, o compositor tenta superar sua origem,

a dotando

artificialmente urna linguagem que não lhe é própria.

Sobre es

te ponto, os extremos da questão parecem estar de acordo.

De

um lado, um erudito corno o Prof. Gladstone Chaves de Melo afir ma que

Na verdade, o que dá o tom do nível

cultu-

ral de alguém não e a maneira de se vestir, nao e o círculo de relaÇões que freqüenta, nao os ornatos da casa, não é a maneira de 2 mas é a maneira de falar.

sao

viver,

Se a maneira de falar tem tanto peso que funciona corno ele rnento caracterizador mais eficaz do que todo um conjunto de tros fatores, a consciência disto não é privilégio da

o~

minoria

que, em nosso país, tem acesso à escola e à gramática.

Também

o inculto, aquele para quem o saber expressar-se se identifica com o próprio poder, percebe que para sua aceitação social alguma coisa deve mudar, antes de tudo na sua maneira de

falar.

Graciliano Ramos, em seu romance Vidas secas, atribui ao

per-

sonagern Fabiano, um massacrado do ponto de vista social,

a

consciência de que sua falta de recursos lingüisticos

poderia

ser responsabilizada pela situação de opressão de que era viti ma.

Vejamos corno se expressa:

Havia muitas coisas. cá ~ las,

mas havia.

Ele nao podia

Fossem perguntar a seu

más da bolandeira, que lia livros e sabia tinha as ventas.

expliToonde

Seu Tomás da bolandeira conta

ria aquela história. ~ . 3 nao contava nada.

Ele, Fabiano, um

bruto,


85

E mais adiante:

Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, nao sabia explicar-se. isso?

Como era?

Estava preso

por

Então mete-se um homem na ca-

deia porque ele não sabe falar direito? Nunca vira uma escola.

Por isso nao

[

... ]

conseguia

defender-se, botar as coisas nos seus

lugares.

O demónio daquela história entrava-lhe na cabeça e saia.

Era para um cristão endoidecer.

lhe tivessem dado ensino, encontraria meio entendê-la. .

chos.

4.

Se de

Impossivel, só sabia lidar com bi-

Mas a consciência da limitação impõe uma necessidade de su perá-la, ainda que lançando mão de meios que se sabem inúteis:

Fabiano também nao sabia falar.

Às

vezes

largava nomes arrevesados, por embromação. perfeitamente que tudo era besteira. arrumar o que tinha no interior.

Via

Não podia

Se pudesse ...

Ah! Se pudesse, atacaria os soldados

amarelos

5 . t uras lno . f enslvas. . que espancam as crla

A capacidade de expressao oral teria, na fantasia da impotência, um poder bem maior do que o que a realidade lhe reserva: poder de coibir, por si so, o arbitrio e a injustiça.

o

Saber

e xpressar-se bem seria, pois, a aspiração máxima dos que,

so-

cialmente marginalizados, desejam garantir para si e para

sua

produção cultural a aceitação da classe dominante.

por

Eis

que no Nordeste, por exemplo, o repentista, o cantador, o poeta popular goza de tanto prestigio no seio da população analfabeta.

Eis também por que as alas de compositores

quase têm


86

papel tão destacado em nossas Escolas de Samba.

Porque

sao

exatarnente essas pessoas que funcionam nao apenas corno portavozes da comunidade, mas que representam a parte falante

ca-

paz de ombrear e dialogar com os "soldados amarelos" que

se

espalham oprimindo o homem comum, condenado ao silêncio

por

seus escassos recursos. No entanto, a noçao de "expressar-se bem" parece variar de acordo com o ponto de vista adotado.

também

Para um compQ

sitor de classe média expressar-se bem seria, em nossos dias, recorrer a uma linguagem simples, despojada, quase sem mentos.

Para o compositor popular, ao contrário,

orna-

expressar-

-se bem sera mostrar-se familiarizado com o manejo de figuras de retórica, de um vocabulário rebuscado, de urna abundante.

adjetivação

Porque essas características marcariam, para ele,

o limite entre a sua língua coloquial e a língua culta.

literária

E é à segunda que recorrerá para fazer seu samba,

tado em ocasião especialíssima, que deve em tudo e por distinguir-se do cotidiano.

ca~

tudo

Jamais a linguagem do dia-a-dia

seria compatível com a grandiosidade do desfile. Na verdade, a língua popular não se afasta da própria sia.

Se na gíria estão presentes os mesmos recursos que

po~

a

retórica sistematiza, e sinal de que esses mecanismos psíqui-

- sao estranhos ao inconsciente popular e podem cos nao

muito

bem aflorar quando se trata, já não da gíria, mas de sua propria forma de poesia.

É Mattoso Cãmara Jr. que ensina:

[ ... ] a língua culta da comunicação

objetiva

se complementa com o que podemos chama·r a linguagem poética, onde as formas

lingtlísticas


(

~7

adquirem urna carga afetiva e nao valem apenas corno símbolos representativos das coisas, senao corno urna estruturação emotiva, ou estética, que se superpõe ao seu valor representat! vo. Ora, a gíria é justamente a linguagem

po~

tica correspondente à língua popular. Os recursos com que dá sentido afetivo as formas lingüísticas são, em última

análise,

os mesmos que se encontram na linguagem poét! ca mais apurada.

A diferença está no

mate

rial de que se serve, e nao nos processos por que o submete a esse fim:

a metonímia, a me-

táfora, a catacrese, a ironia, e todas as demais figuras de linguagem, que a retórica

de

fine e metodiza, aparecem na gíria, exteriori zando estados psíquicos e visando a nar e sugestionar o próximo.

irnpressi~

A própria

rnaçao da linguagem normal, que logo

defo~

ressalta

da gíria, ela a partilha com a língua . 6 . d a poes1a.

geral

Naturalmente o samba-enredo se filia antes ao genero ép! co do que ao lírico e isso explica a espantosa incidência de proposição e invocação, em moldes mais ou menos que observamos no corpus estudado.

clássicos,

Fato tanto mais estranhá

vel quanto nos dez anos por ele abrangidos já se tendências bem modernas e inovadoras.

encontram

Mas nem assim abando-

narn os compositores o hábito de revelar de antemão ao ouvinte aquilo que pretendem cantar em seus sambas. vocaçao

Quanto à

in

seja a Deus, seja a Orfeu ou à Fantasia -, ela foi

cornuníssirna nas décadas de 50 e 60, mas em nosso corpus

se

verifica apenas um exemplo, no samba n9 24, Réquiem por

um

sambista:

)


88

Senhor, iluminai a minha mente Prestando esta homenagem Ao mestre Silas ausente.

Já a proposição tem nesse universo de trabalho exemplos, desde os mais tradicionais até formas bem de enunciar o tema que será cantado.

inúmeros modernas

O uso clássico da

prop~

sição a situa no inicio do poema e a maioria dos compositores Encontrei nada menos que trinta

segue a risca este molde.

oito sambas que iniciam pela proposição.

Esta será as

e

vezes

direta e simples: o nome da Escola associado ao titulo do seu enredo ou a um resumo dele.

Cidades feitas de memória

t

o tema da História

Que Lucas apresenta neste carnaval (34)

Portela apresenta Do folclore tradições ( 4 o)

Em verde e rosa A Mangueira vem mostrar O fascinante tema

"De Nonô a JK" ( 1 o5)

Amor! Amor! Amor! A mulher em festival Traz a Portela ( 7 5)


89

É tempo de carnaval

Hoje as cores do Império Vêm saudar a imigração

(64)

Baila no ar a poesia A Mocidade irradia Sua magia neste carnaval Oh! Natureza linda

(89)

Paraná ê, e Paraná É o Império da Tijuca

Na Avenida a lhe exaltar ( 1 20)

Pode ainda o poeta omitir o nome de sua Escola e optar por uma forma mais impessoal, como:

Já raiou o dia A passarela vai se transformar Num cenário de magia Lembrando a velha Bahia [ ... ] (52)

O samba vem homena gear Tradições antigas Do folclore popular (58)

É tão sublime exaltar

Neste dia de folia E cantar A odisséia de um valente br a sileiro Contra o monstro estrangeiro ( 1 08)


90

Às vezes é o recurso à primeira pessoa, do singular ou do plural, que caracteriza a proposição, deixando-a mais sem vinculá-la a uma determinada Escola.

Trago para este carnaval Um passado de grande valor ( 7 6)

Me preparei para o desfile principal Jã mandei fazer a fantasia De renda bordada Lá da Ilha da Madeira Já estou pronto Para entrar na brincadeira. ( 11 o)

Vem dos tempos imperiais A história que vamos apresentar De LoureDÇO Madureira ( 2)

Pra que chorar? ~ tempo de samba com empolgação Vamos recordar Rosinha Encantando a multidão (36)

Vai levantar poeira Oi deixa o couro comer O Estácio virou tema Seu passado e um poema Agora e que eu quero ver [

... ]

Viemos mostrar agora O velho Estácio de outrora Revivendo a tradição (97)

livre,


91

Deixa-me encantar Com tudo teu e revelar O que vai acontecer Nesta noite de esplendor ( 1 o3)

Neste palco iluminado SÓ dá L alá

És presente, imortal SÓ dá Lalá Nossa Escola se encanta O povão se agiganta

É dono do carnaval (99)

Vamos recordar Lima Barreto Mulato pobre, jornalista e escritor [

... ]

Lima Barreto Este seu povo quer falar só de voce _ A sua vida, sua obra é nosso enredo E agora canta em louvor e gratidão ( 11 5)

Acontece também vir a mençao à Escola de uma maneira mais sutil

e nao

clara.

É o caso do exemplo seguinte, em

nao e a Escola que narrará os fatos, mas sim os próprios

que fa-

tos que se desenrolarão à vista do espectador dentro da Escola:

Venham ver No Império minha gente Um navegante procurando upabuçu Ansiosamente ( 21 )


92

Há ainda o recurso de falar em primeira pessoa nos prime~ ros versos e somente ao final do samba identificar-se.

Hoje venho falar de tradições Das regiões do meu país Do seu costume popular [

... ]

Eis a Mangueira Com seu carnaval (28)

Mas o procedimento mais comum, coerente com a idéia de que se deve enfeitar a expressão, é lançar mão de formas mais buscadas para dizer uma coisa tão simples: que.

quem apresenta

Nesse rebuscamento é preciso descrever o cenário em

se passa o desfile da Escola.

Ou pode-se lançar mão de

reo que ima-

gens como "as asas da poesia", "sonho infinito e colossal'.' .

Ou

ainda descrever em razoável número de versos, exaltando-a,

a

própria Escola a que pertence o compositor ou simplesmente

o

carnaval.

Vejamos alguns exemplos:

Nesta passarela reluzente Contagiando muita gente Ao ver a nossa Escola desfilar Jacarezinho apresenta Um tema fascinante O Ameno Resedá ( 1 7)

Abriu-se a cortina do universo Pra Vila cantar em verso Urna história astral ( 1 8)


93

O Império deu o toque de alvorada Seu samba a estrela despertou A cidade está toda enfeitada Pra ver a vedete que voltou (33)

Na festa que Rei Morno anuncia Com suprema alegria Carnaval São Carlos nas asas da poesia Cantará com galhardia Um enredo original

(27)

Voando nas asas da poesia A Porbela em euforia Vive um mundo de ilusão E vem cantar Os mistérios da Ilha de Marajó (46)

Lá vem Portela Com Pixinguinha em seu altar E altar de Escola é o samba Que a gente faz E na rua vem cantar (25)

O povo sambando Cantando a melodia Salgueiro traz o tema Eneida, amor e fantasia ( 1 9)


94

~

de novo carnaval

Para o samba este é o maior prêmio E o Beija-Flor vem exaltar Com galhardia o grande decênio (44)

Viola vadia de vida boa · A Beija-Flor cantando voa Na Literatura de Cordel ( 11 4)

Salgueiro se apresenta novamente Saudando o grande povo em geral Bailando com a pureza dos ventos Num sonho infinito e colossal Trazendo de uma terra tão distante A lenda dos divinos orixãs (96)

Mangueira hoje em evolução Cantando mostra com louvor O mito em sua máxima .expressão Panapanã o segredo do amor (59)

Excitando a mente a poesia O poeta descobria Momentos de raro prazer E nessa linda melodia Coisas nossas dia-a-dia A Mangueira vem trazer (98)

A musa do poeta E a lira do compositor


t

95

Estão aqui de novo Convocando o povo Para entoar um poema de amor Brasil! Brasil! Avante meu Brasil! Vem participar do festival Que a Mocidade Independente Apresenta neste carnaval (87)

Hoje vou erguer meu estandarte Vou mostrar beleza e arte Dos antigos carnavais Vou me vestir de alegria Com a Mocidade minha gente Abrindo alas pra folia ( 1 o6)

Reluzente como a luz do dia Bela e formosa como as ondas do mar Encantadora e feliz Chega a Imperatriz Fazendo o ·povo vibrar Eh! Bahia! Vou cantá-la nos meus versos (90)

Resplandeceu Iluminando a minha vida Urna estrela que surgiu A desfilar nesta Avenida Em raios coloridos Contagiando o povao de alegria Esta é a Vila Brilhando neste dia de folia

(), ô, o Nesta noite reluzente Lembramos um passado envolvente ( 1 o9)


••

96

As vezes, porem, a proposição pode vir somente no meio do samba, ainda respeitada a liberdade do poeta de mencionar

ou

nao o nome da sua Escola e de enunciar com maior ou menor minúcia, com maior ou menor lirismo, aquilo que vai cantar:

Dos carnavais Modernos e de outrora Personagens marcantes Recordamos agora ( 3 8)

Sim, chegou a hora Da passarela conhecer A

idéia do artista

Imaginando .o que vai acontecer No Brasil no ano dois mil ( 2 6)

E a Vila Isabel se faz presente Num vendaval de alegria Cantando em verso e prosa o dia-a-dia ( 1 o2)

Sua lagoa, sua história sobrenatural Que a Mangueira traz pra esse carnaval ( 1 3)

Hoje a Mocidade Independente Convida toda gente A cantar em seu louvor ( 1 6)

A União com seu lirismo Deleitada em romantismo


97

Vem acrescentar Poemas de máscaras em sonhos Para a velha praça engalanar (56)

Pode ser ainda justamente no final do samba que ao

poeta

ocorre dizer aquilo que cantou, como se temesse que nao tenha isso ficado claro para o ouvinte:

• Salve o carnaval Viva a brincadeira Nosso enredo este ano É

sobre Silas de Oliveira (24)

Vejam nesta passarela A imagem daquela festa tão bela (70)

Olha o saci-pererê Cobra-grande e caipora Deslumbrando todo mundo Mocidade mostra agora (72)

Está na hora, é carnaval O artista descreveu Um enredo original (86)

No povo a busca incessante De um momento feliz A Imperatriz em festa Hoje aqui se manifesta No palco da raiz ( 11 9)


98

Lima Barreto Este seu povo quer falar só de voce A sua vida, a sua obra é nosso enredo E agora canta em louvor e gratidão ( 11 5)

Muitas vezes, em formas nao tão bem acabadas de proposição, o poeta não chega a expressar sua intenção de modo claro,

mas

começa o samba com o que julga ser o mais importante: sua

par-

ticipação no desfile do primeiro grupo.

Este é um comportamen-

to tipico das assim chamadas Escolas pequenas, que nao

conse-

guem disfarçar seu deslumbramento diante do fato de se apresentar entre as grandes Escolas, no que chamam respeitosamente

de

"desfile principal":

É Tupi de Brás de Pina no desfile principal

Vejam do homem de cor o samba tradicional ( 1 4)

ou Me preparei para o desfile principal Já mandei fazer a fantasia De renda bordada Lá da Ilha da Madeira ( 11 o)

Além do uso de proposição, ingrediente da epopéia

clássica

sem qualquer traço de permanência em nosso tempo, uma outra caracteristica de estilo do samba-enredo se afasta da retórica mo derna: a abundância na adjetivação. tilí~tica

Enquanto os manuais de es-

recomendam cautela e parcimônia no emprego de adjeti-

vos, como é o caso de Rodrigues Lapa nesta passagem:


99

Toda a cautela é pouca no emprego do vo.

adjet~

Dizia um grande escritor francês, Voltaire,

que o substantivo e o adjetivo são dois gos figadais.

inimi-

Queria ele significar que

há mais censurável no estilo do que a ção supérflua dos adjetivos.

nada

acumula-

Por isso o bom es

critor deve insistir no emprego do

substantivo

expressivo, que contém já em si um elemento caracterização.

de

Evita sobretudo carregar a fra

se de adjetivos, corno quem carrega um fardo. 7

os nossos compositores de Escola de Samba nao poupam adjetivos para enfeitar seus substantivos.

E inútil é o argumento

de

que tais enfeites são supérfluos, pois o limite entre essencial e supérfluo é, entre eles, bem peculiar.

Simplesmente,

se

o enfeite se for considerar supérfluo, a própria noção do carnaval será abalada.

Escolher alguns exemplos não foi

tarefa

fácil, tendo em vista que cada um dos cento e virlte sambas estudados oferece mais de urna ocorrência, e às vezes várias:

Em noite linda Em noite bela Viemos na Avenida ( 2)

o negro na senzala cruciante Olhando o céu pedia a todo instante ( 4)

Terra dos capoeiras Do famoso candomblé ( 6)


100

Lutou pela liberdade E contra o terrível preconceito ( 6)

6 pais de progresso onipresente De notáveis recursos naturais ~

seu profundo mar azul

F~rtil

em peixes, petr6leo e minerais ( 1 o)

Oh! Que linda noite de luar Oh! Que poesia e sedução Branca areia, água escura ( 1 3)

Tudo era fascinante Nesse mundo pequenino ( 1 5)

E num delírio multicor De confete e serpentina Desfilavam pierrôs ( 1 6)

Jacarezinho apresenta Um tema fascinante "O Ameno Resedá" É um fato importante

Com detalhe interessante Do antigo carnaval ( 1 7)

Coração puro e nobre Foi benquista Entre ricos e

p~bres

( 1 9)


1 o1

O folclore brasileiro Com a sua história original Deu um belo colorido Ao cenário cultural (22)

Urna obra fascinante Que o poeta tão brilhante O povo admirou (34)

Barbacena formosa Cidade das rosas Canto teus encantos Com sublime emoção (37)

Podemos explicar, com Rodrigues Lapa, o excesso de adjeti vação por urna tendência a buscar o equilíbrio da frase,

corno

se a simples enunciação do substantivo fosse insuficiente para expressar o que nos vai na mente e no coraçao.

Vejamos

o

que diz:

[ ... ) somos levados a empregar o adjetivo

por

um instinto artístico, urna tendência para

o

arredondamento e para a calafetação da

frase.

Parece-nos que ao substantivo falta um

qualif~

cativo; e, corno a natureza é preguiçosa,

em

vez de escolhermos o bom adjetivo, o único que a circunstãncia requer, adotamos um caracterizador banal, que serve para tudo: lindo, admirável, soberbo, enorme, etc.

Sobretudo

aprendizes de estilo estão sujeitos a deslizes.

Por preguiça, que e o pior

do estilo, usam e abusam destas

os estes inimigo

calafetações


102

. 8 que na d a exprlmem.

Alheio as regras dos manuais de estilo, o que norteia

o

compositor popular é o seu sentimento estético, que não acus~ ria de ''banais" adjetivos como lindo, admirável, maravilhoso, belo, bom.

Aliás, o conceito de banal é que lhe e

alheio,

justamente porque o que já foi usado parece ao compositor pr~ ferivel ao que nunca foi dito.

Mais adiante veremos como

o

samba-enredo desenvolveu, como a poesia de outros generos

e

de outras épocas, seus próprios lugares-comuns. Na escolha dos vocábulos é determinante também a necessidade de rima e de metro e o efeito sonoro da palavra em çao com a melodia.

Num comportamento lingüistico próprio

poesia, a preocupação com o

signific~nte

é maior do que

rela da na

comunicação predominantemente denotativa. ~ o adjetivo afetivo, e não o intelectual, meramente des-

critivo, que aparece com mais freqüência em nosso corpus.

Po

demos afirmar que para cada exemplo de adjetivação descritiva se podem citar dois de adjetivação sentimental. · O

é intelectual num e x emplo como:

E vai chegando o amanhecer Leio a me nsagem zodiacal ( 7 3)

ou em

E os negros africanos Com a sua tradição ( 81 )

adjetivo


103

Ele adquire, porem, "um sentido figurado e superlativo", torna-se ''impregnado de sentimento"

9

em exemplos como estes:

Oh! Doce mae natureza Seus lindos campos Verdes matas e seu imenso mar (83)

Em sonhos coloridos No império das ilusões Viajei por caminhos floridos [

... ]

A luz me levou ao passado milenar Eu vi o reino encantado ( 91 )

Como se depreende com facilidade desses exemplos, a adjetivação predileta do compositor popular e a hiperbólica, aqu~ la que acentua, levando-a ao exagero, a qualidade no substantivo.

~o

implícita imenso

caso de: passado milenar (91);

mar (83), sol escaldante (43), senzala cruciante (4), suprema alegria (27), progresso constante (44), projeção mundial (44), e tantos outros exemplos que se poderiam colher nos sambas es tudados. Curioso e notar que o adjetivo pode até prescindir

de

substantivo e galgar a posição de titulo de um samba.

Trata-

-se daquele que no corpus recebe o número 84: Incrível, t~stico,

Extraordin~rio,

Fan-

que a Portela apresentou em 1979.

como nao podia deixar de ser, o substantivo a que se esses três adjetivos é carnaval.

~

a festa máxima do

E~

referem povo

que se quer caracterizar de modo tão exageradamente positivo,


104

de modo emocional e redundante.

rnobil~

Afinal, um assunto que

za todas as emoções dos sambistas merece ser tratado assim! Ternos visto até agora corno o compositor popular enfeita seu discurso fazendo uso, corno elemento de adorno, de

adjeti-

vos, tornados aí principalmente corno significantes, forma que se acrescenta.

o

enquanto elerne~

Porém, além dessa preocupação

tar de enfeitar o discurso, há também de sua parte o

intento

de refletir nele o universo ideológico-afetivo em que se encon tra inserido.

Passaremos a observar agora corno esse

contexto

extralingüístico se reflete semanticamente no discurso,

pela q~e

incidência de palavras de determinados campos sernãnticos deixam entrever urna preocupação muito clara de tentar

passar

para a fala, por um mecanismo compensatório, o brilho, a

opu-

lência, o esplendor com que o compositor popular sonha, exatarnente por lhe ser tão distante.

Acredito, e pretendo

demons-

trar, que a aproximação do discurso do samba-enredo ao

univer

so ideológico-afetivo de seu autor se expressa, talvez de modo inconsciente, na freqUência e variedade com que emprega

pala-

vras da área semântica que poderíamos rotular, genericamente, de esplendor.

O estudo passa, portanto, a partir de agora,

a

preocupar-se nao mais apenas com o adjetivo corno significante, mas com as palavras lexicais - substantivo, adjetivo e verbo portadoras de significados básicos na estruturação da mensagem do samba-enredo. Existe, por exemplo, certo tipo de substantivo cujo

signi~ .

ficado evoca o contexto ideológico-afetivo do compositor, suscita, independentemente de vir ou não acompanhado de vo, urna idéia de enfeite, de alegoria.

~

que

adjet~

o caso de festa e de

seus cognatos festança, festejo e festival.

Tais

palavras


105

apresentam um elevado iridice de incidência no corpus.

E

nao

apenas para designar a festa do carnaval, mas inúmeras outras que se tornam enredo.

Observem-se os seguinte exemplos:

Jangadas ao mar Pra buscar lagosta Pra levar pra festa em Jaboatão (1)

Tem a festa da Ribeira A festa do lava-pé ( 6)

Mostro as lindas festas Das noites enluaradas ( 2 8)

Reunidos davam inicio à festança Com pandeiros, tamborins ( 4)

Perto do pãlio da soberana Um festival em cores Enfeita a naçao ( 2 3)

Delira meu povo Neste festejo colossal (29)

Revivendo com beleza Os festejos de Veneza ( 7)


1 06

Há simplicidade e beleza Na festa do meu coraçao ( 9 2)

Também se encontram, além dessas, palavras da mesma

area

semântica e, para evitar urna excessiva repetição de exemplos, darei entre parênteses o número do samba em que tais palavras ocorrem no corpus, para que se tenha noção da sua fregüência, além de permitir a verificação e análise de cada

ocorrência.

Assim ternos: folia (18, 36, 42, 56, 58, 58, 64, 65, 84, 100,103,106,106,108,109, 117)i folguedo (58, 69)i rnoraçao ( 1 3)

i

a8, come-

animação ( 2 9) ; brincadeira ( 1 5 , 24, 45, 69, 94,

11 o) ; alegria ( 5 , 5, 7, 1 5, 1 7 , 22, 27, 33, 35, 38, 41 ,

42,

79, 84, 86, 92, 93,

93,

(4 1

1 2,

48, 55, 59, 62, 64, 65, 68, 70, 71 1 00 1 102, 106, 1091 111

1

111

1

1

11 4, 11 8)

i

felicidade

1 8 1 84, 9 2) ; carnaval ( 3 1 5 I 7, 7, 7, 7 1 7 1 8 1 11

1

14 1

13 1

1 6 1 1 6 1 1 7 1 1 8 1 1 9 1 22, 22, 23, 24, 2 4, 27, 28, 28, 36,

37,

62, 64, 65, 70,

72,

38, 38, 38

1

41

1

42, 44, 45, 60, 61

1

61

1

1 o4 1

' 7 51 76, 80, 80, 84, 86, 87, 89, 92, 94, 99, 100, 103, 104, 1 o6 1 1 06 1 1 o9 1 11 2 1 11 2 1 11 3 1 11 5 1 11 7 1 11 7) ; ( 1 4 1 1091 11 o) ; show ( 1 o6 1 111

1

desfile

11 9) ; a12oteose (117).

Diretarnente associada à idéia de festa está a idéia de es plendor, luxo, suntuosidade.

Não basta haver o festejo,

alegria: é preciso também que ela se recubra de fulgor. alguns exemplos, fornecerei a relação das ocorrências:

Que maravilha! Que esplendor! ( 1 6)

a Após


107

Seus versos eram tão lindos! Cheios de poesia e esplendor! ( 2 2)

Presença feita de mistério Com fascínio e sortilégio Não consegue desvendar (39)

A Portela em euforia Vive um mundo de ilusão (46)

Vejam em noite de gala ( 2 3)

Tropicália maravilha É enredo e fascinação ( 8 9)

Exemplos semelhantes podem-se encontrar de: maravilha (7, 1 o4) ;

16, 16, 32, 35, 57, 70, 88, 89, 89, 94, 94, 102, 103, esplendor

(16, 18, 22, 23, 37, 39, 57, 59, 64, 65, 67, 71, 78,

82, 83, 84, 103, 104); f·ascinaçáo (56, 56, 6 0 , 89);

fascinio

(39, 65); euforia (22, 46, 58, 111); enlevo (28); encanto (10, 37, 54, 65, 67, 68, 94); encantação prazer

(39); delícia (84,

88);

(39, 98, 100, 117) i sortilégio (39) i magia (13, 14, 28,

31, 31, 39, 41, 42, 46, 50, 51, 54, 56, 67, 77, 86, 87, 88, 89, 90, 94, 114); feitiço 116); sensação

(56, 75); sedução

(13, 72, 84,

91,

(39); resplendor (94); suntuosidade (27); emo-

çao (37, 75, 88, 91, 117); fulgor

(57, 63); luxo

. (92, 106);


108

gala (23, 50, 50); turbilhão (89, 100); louvor (16, 52,

59,

72, 112, 115). A idéia de festa, de luxo e suntuosidade se relaciona

na

mente do compositor popular à de sonho, ilusão e delírio, noçoes que ele tem bem presentes como a própria essência da fes ta que o motiva a compor.

Basta um rápido exame dos exemplos

abaixo para se ter a certeza disso:

Ao embarcar na ilusão Senti palpitar meu coraçao. ( 1 5)

Era contagiante O Rio no carnaval [

... ]

E num delírio multicor De confete e serpentina ( 1 6)

Quero me perder Na minha imaginação E brincar na ilusão ( 9 3)

Ao ressoarem os clarins da folia O sonho Filho da noite e do infinito e o rei No paraíso da loucura Ao povo proclamou A seguinte lei: (88)


109

O anjo pediu-lhe atenção E do faz-de-conta transpôs o portão ( 11 3)

Encontramos ainda alucinação (36) i devaneio (48) i ilusão 24 t

46 t

79

t

84 t

88

t

91

t

91

t

91

t

93 t

97

f

1 o3

nh0 ( 1 8 t

34 f

41

1

45

47

f

56

f

56

f

56

t

56

63

f

79 f

(15 t

88, 91, 91, 91, 95,

t

95,

95,

f

11 2)

f

79

~

80

I

(102) i dellrio

55, 88, 93, 112) i miragem

I

84 f

95, 95, 96, 101, 101, 105, 110)i

fantasia (16, 18, 19, 19, 48, 86, 88, 94, 97, 98, 100, 109, 110) i quimera

SO-

(16) i

(39) i loucura

101,

imaginação (32,

48,

(88, 88, 112) i

ins-

piração (45, 66) i faz-de-conta (113, 113). Também idéias que considera positivas, como riqueza, nobreza, heroismo, prosperidade, harmonia, amor, beleza, veiculadas abundantemente em nossos sambas-enredo.

~

sao como

se o compositor timbrasse em fornecer da realidade essa imagem, como se ele não desejasse estragar a sua festa com nada que não fosse beleza, afeto, galhardia .e grandeza.

Cinqüenta anos de glória Estão no Palácio do Samba (76)

Do nosso Brasil que segue avante Pelo céu, mar e terra Nas asas do progresso constante Onde tanta riqueza se encerra (44)

Há simplicidade e beleza Na festa do meu coraçao (92)


11 o

Mestre-sala e porta-bandeira Girando num conto de amor ( 11 6)

Esta série de exemplos se completa com os seguintes: glória (6, 11, 19, 29, 37, 62, 76, 105)i ápice (37)i apogeu (117)i soberania (10, 23) i grandeza (46, 47, 57, 78) i irnensidãô (41, 89, 103, 119, 120) i riqueza (14, 32, 39, 44, 57, 63, 67,

67,

82, 91, 92, 96,107, 119); prosperidade (102); valor(6,

26,

37, 38, 45, 60, 66, .7 6)i majestade (45); realeza (113)i nobreza (32, · 37, 70, 88,100, 112); galhardia (9, 27, 44)i heroísmo (47, 63, 100); afeto (74)i amor (9, 12, 18, 19, 19, 19, 20, 22, 27, 27, 30, 37, 39, 40, 41 , 43, 53, 56, 56, 58, 59, 59, 59, 59, 61 , 68, 68, 69, 70, 71 , 73, 75, 75, 75, 77, 78, 86, 87, 88, 89, 92, 95, 99, 1 o2, 103, 1 o3, 104, 1 o6, 1 1 5 , 11 6 1 11 6, 11 6, 11 6 , 11 7 , 1 2 o) i ternura ( 1 3, 25, 75, 9 5) ; beleza ,( 7' 1 o, 1 4, 21 , 29, 30, 37, 42, 46, 47, 57, 60, 67, 68, 70, 72, 74, 75, 83, 88, 88, 89, 91 , 92, 104, 1 o4, 106, 106, 107, 11 3 1 11 9) ; singeleza ( 77, 11 3) ; graça ( 2 9, 65) i pureza (46, 96, 9 8) i harmonia (59, 8 6) i sutileza (68, 9 2) . Resta mencionar aqueles substantivos que, sem traduzirem diretarnente a idéia de festa, alegria e suntuosidade, nomeiam símbolos dessas idéias.

Alguns, corno confete e serpenti-

na, simbolizam a idéia de carnaval, assim corno ouro e

prata

a suntuosidade, e clarim, sol e sorriso são símbolos de alegria.

Mas luz, cor, som, fogos, enfeite, arco-íris, colori-

do, poesia, perfume, também estas palavras não suscitam, ain da que de modo menos direto, o campo semântico que se configurando corno o predileto de nosso compositor

vem

popular?


111

Uma olhada nos exemplos que seguem pode nos ser de alguma uti lidade:

Resplandeceu Iluminando a minha vida Uma estrela que surgiu A desfilar nesta Avenida ( 1 o9)

Mestre-sala e porta-bandeira Riscam o chão de poesia (84)

A União com seu lirismo Deleitada em romantismo Vem acrescentar (56)

Das matas fez o salão dos espelhos [

... ]

De ouro e prata, o mundo irreal (32)

Ao ressoarem os clarins da folia

O sonho Filho da noite e do infinito é o rei ( 8 8)

Complemente-se esta idéia com os seguintes exemplos: ouro (32, 37, 63, 63, 67, 67, 82, 82, 91, 107, 114, 118, 120, 120, 120); prata (32, 32, 57, 67, 71, 89, 113); enfeite (54);

som

( 4 , 5 , 4 1 , 5 8 , 5 9 , 6 O, 7 O1 9 7 , 1 O6 , 1 1 9 ) ; c la r im ( 3 6 1 6 4 , 7 O, 88); acorde (105); sinfonia (89, 118); cor (9, 10, 14,

23,


11 2

25, 42, 115)

i

45, 56, 57, 58, 64, 65, 67, 68, 70, 75, 75, 98, 100,

colorido (22, 56, 92)

i

aquarela (33, 62)

flor

i

(21, 25,

29, 30, 36, 39, 42, 45, 53, 54, 59, 72, 75, 83, 94, 1.14, 116)i

per fume

( 2 51 4 2)

i

SO 1

85, 85, 88, 91, 93,

(1o1

3 9 1 41

1

43 I

46 I

56

94, 100, 100, 102, 106, 113, 120)i astro

(18, 18, 48, 102) i estrela

(33,

33, 40, 55, 58, 63, 85, 88,

101,109,112, 120); constelação (40, 63); lua 31

1

53, 68, 68, 88,

95, 11 2

43, 53, 85, 91 ) i clarão 11 3) i auror:a

( 77

1

(4

1

1

(4, 18, 18, 30,

11 3 1 11 6 1 11 9) i luar

..

21 ) i arco-1ris

1 o4) i alvorada

(33, 89) i

--

( 81

(29)i confete

81

1

luz -

55, 56, 70, 75, 77, 77, 78, 85, 85, 89, 90, 91 106, 120)i fogos

68 I 6 8 I 8 3 I

67 I

I

( 1 3 1 21 1

81

1

40,

1

81

1

(32, 42, 48, 1

100, 1 o2 1 1 o3 1

(16, 56, 64,109, 117); serpen-

tina (16, 38, 56, 64, 109, 117); sorriso (64, 75, 92, 95); lirismo (19, 56); arte (26, 27, 37, 42, 54, 54, 54, 72, 93, 102, 106 1 116); poesia 100,101

1

(13, 22, 27, 46, 61, 84, 89, 97, 98,

103, 116); paralso (39, 88

1

88,

102)i Éden (102,

1 02) i Eldorado (67, 91, 91).

Também os verbos, classe de palavras lexicais,

dotadas,

portanto, de significação objetiva, ao contrário das palavras gramaticais - preposições e conjunções, por exemplo - portado ra s de significação gramatical, também os verbos, dizia se prestam a um estudo semelhante.

À área semântica de

gria são correlates os verbos que exprimem açoe s deste

.eu, . ale-

resultantes

sentimento, como é o caso de dançar, cantar, sorrir

e

outros similares, testemunho de uma grande necessidade de extravasar os sentimentos:

Olelê, olalá Me solta, me deixa


11 3

Que eu quero sambar Olelê, olalá Eu quero cantar, batucar e pular ( 1 6)

Vamos, meu povo, vamos cantar Quero ver quem e de samba Quero ver quem vai sambar! ( 1 7)

A ordem do rei é brincar Quatro dias sem_.parar! ... (84)

Salões enfeitados em multicores Dançavam até o romper do dia (55)

Quem dera Que a vida fosse assim Sonhar, sorrir Cantar, sambar E nunca mais ter fim ( 9 9)

Baila no ar a poesia A Mocidade irradia Sua magia neste carnaval ( 8 9)

Bailou no ar O ecoar de um canto de alegria! ( 71 )


I

114

A musa do poeta E a lira do compositor Estão aqui de novo Convocando o povo Para entoar um poema de amor (87)

Encontrei ainda inúmeros exemplos que se podem enumerar: bailar ( 6 8' 71 ' 83, 89, 96, 98, 11 2) i dançar ( 5' 5' 5, 1 4 ' 28, 30, 54, 55, 60, 79, 79, 84, 1 o1 '

103, 11 2' 11 9' 11 9' 11 9' 11 9) i

sambar ( 1 2' 1 2' 1 2' 1 6 ' 1 7 ' 18' 1 9 ' 27, 36, 38, 42, 65, 65, 68, 99, 1 o3) i batucar ( 1 6' 61 '

( 1 6' 9 4) ; brincar

11 2) ; pular

cantar ( 1 8' 53, 65, 84, 93, 94, 94, 103, 1 o3) i 8' 11 '

1 6' 1 6' 1 6' 1 6'

1 2' 1 3' 1 4 '

1:] '

31

1

32, 37, 40, 40, 4 1 '

52, 53, 58, 59, 61

1

63, 64, 70, 71 '

27, 28, 30, 31 '

94, 97, 99, 1 o1 1

19 '

3'

3' 5,

20, 24, 25, 27,

4 3 , . 45, 46, 48,

43,

75, 76, 90, 91 '

92, 93,

1 02' 1 o6' 107, 108, 109' 11 3' 11 4' 11 5' 11 8 1

11 9 1 1 20) i entoar ( 1 7 ' 61, 64,

18 '

(1 '

109, 111)i rir

64, 87) i desfilar (108, 108); sorrir

(5 '

8' 1 6' 1 7 '

54,

(5, 12, 53, 93, 99,

103, 114). À idéia de amor corresponde uma série de verbos como amar

(56, 56, 80, 84, 116, 116) i gostar

(108) i adorar

(30, 56,. 120) i

admirar (34); venerar (56) i abraçar (41, 49, 56, 84, 100, 100, 117) i acalentar

(105); embalar (93, 117).

Vejamos os seguin-

tes exemplos:

Raça morena que desbrava a mata Canta a beleza do alto Xingu Adora lendas, rios e cascatas (30)


t

1 15

Pierrô, eu te amo e te quero Te adoro e venero, Coração do meu peito (56)_

Chegou o carnaval Vou me abraçar com a cidade (84)

6 Praça Onze tu és imortal Teus braços embalaram o samba À sua apoteose triunfal

( 11 7)

Já à noçao de enfeite sao correlatas verbos como enfeitar (23, 104, 117) i ornar (10, 71) i adornar (30); engalanar

(56,

70)

(19,

i

colorir (81, 92, 112)

i

emoldurar (107)

37, 41, 117) i agigantar (99).

i

enriquecer

Disso são exemplos:

Enfeitei meu coraçao De confete e serpentina ( 11 7)

A praça em alegria se engalana Para receber o nosso povo ( 7 o)

Colori Com toda a minha simpatia Um visual de alegria (92)


11 6

O povao se agiganta É dono do carnaval ( 9 9)

As noçoes de riqueza, nobreza, grandeza e heroismo pressupoem verbos como homenagear (58, 93); exaltar (5, 24, 27, 44, 57, 75,107,108, 120); enaltecer (29, 31, 31, 46,

64, 65,

79); consagrar

(115); louvar

(112) i perpetuar

dir (80, 93)

decantar (92)

65,

94,

i

l15); relembrar

(107); elevar

i

(15,

(80); festejar

(34, 45, 61);

(27, 57) i valorizar

(69); aplau-

recordar (2, 20, 24, 36, 38, 62, 65,

80, 97); saudar

(10,

9 6) :

O povo com seu sorriso Vem pra Avenida festejar ( 6 4)

É tão sublime exaltar

Neste dia de folia E cantar a odisséia De um valente brasileiro ( 1 o8)

Vamos

laurear

r~cordar

Lima Barreto

Mulato pobre, jornalista e escritor Figura destacada do romance social Que hoje laureamos neste carnaval ( 11 5)

O samba vem homenagear Tradições antigas (58)

23, 64,


11 7

Deixa Falar, o, o Deixa Falar, Relembrando aquele tempo Que nao pode mais voltar (97)

Há ainda um grupo de verbos cujo significado exprime o que parece ser a dupla função do sambista no carnaval: _ encantar-se

e encantar.

A esse grupo pertencem fascinar

104, 112, 116) i extasiar

(84) i seduzir

(37, 57, _72, 113)i divertir

(37,

(46, 89) i

(35, 79)i encantar

(6,

57, 70, 91, 92, 99,100,103,109, 112)i contagiar 84, 109, 117)i inspirar

(27)i brilhar

40,

46,

deslumbrar 36, 40, 53, (14,

17,

(1, 7, 30, 33, 63,

88, 95,102,102,104,104,109, 120)i extravasar

(117)i

lirar (29, 56, 88, 92)i vibrar (17, 67, 90, 92, 113). ocorrências podemos destacar:

Noite linda, lua tão bela Mangueira novamente fascinando O povao na passarela ( 11 2)

Vem me fascinar Oh, que sedução O canto de minha gente Assediando meu coraçao ( 11 6)

O povo vai viver doce ilusão Se extasiando no jardim da sedução (84)

56,

83,

de-

Destas


l

11 8

Deixa-me encantar Com tudo teu e revelar O que vai acontecer Nesta noite de esplendor ( 1 o3)

Esta é a Vila Brilhando neste dia de folia ( 1 o9)

Delira meu povo Neste festejo colossal ( 2 9)

Vibrava a platéia em geral Matizando alegria Glorificando nosso carnaval ( 1 7)

A noçao de brilhar se complementa com um outro grupo

de

verbos que, ainda que nao a expressem de modo direto, lhe sao correlatas.

~o caso de iluminar

(10, 24, 30, 47, 94,

96,

102, 104, 105, 109, 119) i acender (48, 116) i clarear (39, 103, 113); resplandecer (33, 109); ressoar (88); ecoar (71, 119) i irradiar (84, 89) char (83, 114)

i

i

faiscar

florescer

52, 70, 93, 103, 113).

(104) (63)

i

i

matizar (17, 77)

reflorescer (83)

Vejamos alguns exemplos:

No meu pais tudo é assim A lua acende a poesia lá no ceu ( 11 6)

i

i

desabro-

raiar (24,


11 9

Eparrei, Iansã, Ilumine o dia de amanhã

(96)

Resplandeceu Iluminando a minha vida Uma estrela que surgiu A desfilar nesta Avenida ( 1 o9)

Saias rodadas de negras baianas Giram faiscando de esplendor ( 1 o4)

E a natureza Com seu cenário multicor Refloresce novamente Com todo seu esplendor ( 8 3)

A luz raiou pra clarear a poesia ( 1 o3)

Finalmente, a idéia de sonho, ilusão, quimera e expressa pelo compositor popular nos verbos imaginar (26, 45, 94); "inventar (65); sonhar (33, 41, 41, 41, 45, 45, 45, 45, 73, 95, 95, 95, 95, 95, 95, 95, 95, 95, 95, 99, 110). como exemplos:

.-. Sim, chegou a hora Da passarela conhecer A idéia do artista Imaginando o que vai acontecer No Brasil no ano dois mil ( 2 6)

91,

Destacamos


120

E vinha um rei Num belo carro naval Alegrando a Saturnália Inventando o carnaval (65)

Com seu viver de alegria Fez tanta gente sonhar (33)

Sonhei Que estava sonhando Um sonho sonhado (95)

Quem dera Que a vida fosse assim Sonhar, sorrir ( 9 9)

Já ficou dito acimaque aadjetivação, além de abundante, é afetiva e quase sempre hiperbólica.

Assim como

dividimos

substantivos e verbos em grupos, de acordo com a idéia expressam, com mais razão, e pelos motivos expostos, fazer o mesmo com os adjetivos.

que devemos

No primeiro grupo arrolaria-

mos os adjetivos que traduzem a noçao de tamanho, como grande (6, 9, 9, 11' 12, 27, 29, 30, 31, 37, 37, 37, 44, 44, 47, 60, 63, 71, 76, 76, 76, 78, 86, 96, 99, 105)i colossal (29,

57,

67, 96); ime nso (37, 74, 83, 85, 107, 113)i maior (4, 44, 111); máximo (59) i supremo (14, 27) i extenso (35) i infinito (96) i infindo (89).


121

De uma grande união Formou-se uma naçao ( 7 8)

Salgueiro se apresenta novamente Saudando o grande povo em geral Bailando com a pureza dos ventos Num sonho infinito e colossal (96)

Para tornar o seu mundo bem melhor Morreu numa imensa odisséia (85)

Todo negro dono de sua liberdade Na maior felicidade Se dirigia para lá ( 4)

Mangueira hoje em evolução Cantando mostra com louvor O mito em sua máxima expressao (59)

Dos indigenas a dança Feita de lança na mao Dedicando a Tupã Uma suprema louvação ( 1 4)

Oh! Natureza linda Deu beleza infinda A este pais tropical (89)


122

Um outro grupo poderia acolher os adjetivos que exprimem louvação: célebre (107) i eminente (107) i emérito (26) i notável (105) i admirável (115) i importante (17, 23, 29) i marcante (38, 38, 67)i invulgar (19)i genial (7, 19, 57, 62,

triunfal (34, 57, 117)i heróico (1o, 37); glorioso (90, 104); varonil ( 1 O) •

Hoje o Império Serrano

t

80)i

Vem com Pero Vaz de Caminha O célebre eminente precursor ( 1 o7)

A escritora de lirismo invulgar Enriqueceu o folclore nacional ( 1 9)

Ordem e Progresso Este lema genial (57)

Tem no povo heróico a defesa varonil ( 1 o)

A louvação pode referir-se a aspectos mais físicos do que morais, como ós arrolados acima.

Neste caso estão belo

(2,

15, 22, 27, 45, 47, 65, 70, 78, 79, 90, 94, 100, 100, 109, 112, 114); bonito (25, 72, 92, 92, 120); formoso (37, 65, 68, 90 I 1 00)

Í

lindO ( 1 1 2 I 71 71 1 o 1 121 121 1 31 171 21

1

221 281

35, 56, 56, 57, 59, 60, 61, 65, 68, 70, 72, 83, 83, 88, 89, 94, 98, 106,107, 112,117,118, 120); encantador (90); deslumbrante (11, 104).


123

No sol bonito da manhã Na imensidão . da terra dos tupis Iara adorava o deus Tupã ( 120)

Em noite linda Em noite bela Viemos na Avenida ( 2)

'

I

Oh! bela, formosa, eterna capital Do povo carioca tão legal ( 1 00)

O Portela! Portela Ô! Na vida és a Pasárgada mais bela! ( 1 5)

A noçao

de nobreza,

importãncia e riqueza se relacionam

adjetivos como rico (54, 57, 82, 113, 120) i famoso

(6,

19,

51, 72, 72, 76, 77, 90, 106); poderoso (67, 82); soberano (47); cobiçado (10, 63); precioso (107); nobre -(19, 37) i

sa-

grado (10, 57, 71, 96, 120)

di-

i

puro (19, 59, 77, 95, 120)

vino (57, 62, 71, 96, 105)i divinal (56, 57, 91, 99).

Existirá, pergunto eu, pergunto eu, Um reino tão rico e feli z que o meu ( 11 3)

Coração puro e nobre fo i benquista Entre ricos e pobres ( 1 9)

i


124

Como é lindo e divinal O ·colorido de confete e serpentina (56)

Divino veu, manto estrelado Com seus raios cor de prata ~

este céu que o azul destaca (57)

Também a bondade pode ser objeto de louvação e esta idéia se expressa por adjet.ivos como bom (1; 5, 20, 25, 25, 45, 61, 66, 66, 77, 89, 92, 92, 98, 108, 113, 114)i melhor (3, 25, 85) i supremo (14, 27) i ideal

(72) i gentil

(75) i singelo (92) i

gostoso (19, 89, 116), conforme atestam os seguintes exemplos:

Mitavai, bom lavrador e vaqueiro Deixa o sertão brasileiro Vai combater Macobeba maldito ( 1 o8)

Na festa que Rei Morno anuncia Com suprema alegria Carnaval ( 2 7)

O boto se transforma em namorado Bailarino encantado e sedutor ideal (72)

E outra vez na passarela Colorida e tão singela O sangue novo faz toda gente vibrar ( 9 2)


125

Já vimos os verbos e substantivos que se ligam à área semântica do sonho, da imaginação.

Também alguns adjetivos exirreal

pressam esta noção: lendário (41, 53, ·72, 105, 120); (32, 103); legendário

(37, 54); mágico

(102); magnetizado (95);

encantado (21, 21, 21, 28, 32, 41, 55, 55, 67, 72, 79, 83, 85, 88, 91, 93, 93, 94, 96, 101, 112, 113).

Por exemplo:

Lendário passara cantor Quando canta o seu amor Todos param pra escutar ( 41 )

No oriente a força mágica dos astros Era obra da divindade ( 1 o2)

Eis o cortejo irreal Com as maravilhas do mar ( 1 o3)

No seu mundo encantado SÓ na velhice que a morte acontecia (85)

O maior grupo, no entanto, é o

do~

adjetivos que traduzem

a noçao de enfeite, brilho e colorido. São adjetivos as vezes dotados de · forte carga de emoção, certamente porque a de ornato tem grande importância para o sambista:

Neste gru-

po encontramos enfeitado (33, 45, 55, 91 ) ; engalanado 80); multicor

noçao

; . !53,

(16, 55, 59, 83, 86, 104); colorido (54, 57,

65, 68, 91, 109); dourado

(21, 71, 80, 93, 105, "113, 114);


126

aureo (57); prateado (59, 113, 118); fascinante

(15, 17, 34,

35, 53, 78, 79, 105, 111, 114); maravilhoso (14, 68, 107); sensacional (8, 37); fantástico

(41, 67, 84, 84); fenomenal

(37); incrivel (84, 84); extraordinário (8~, 84); emocionante (11); sublime (24, 37, 100, 108, 113); brilhante (34); triunfal

(34, 57, 117); vibrante (57); envolvente (109); radiante

(41, 72); resplandecente

(10)~

luzente (59); reluzente (17,

48, 90, 109); énluarado (28, 39, 76); sonoro (100); feliz

(41); alegre

(7, 15, 46, 47, 49, 68, 73 -, 73, 75, 79, 90, 93,

95, 99, 101, 111, 113, 119).

Desta extensa relação podemos

destacar os seguintes exemplos:

A cidade está toda enfeitada Pra ver a vedete que voltou (33)

Toda a corte engalanada Transformando o mar em flor

vê o Império enamorado Chegar à morada do amor (53)

Era lindo o ente alado Em rodopio multicor (59)

Guerreiro dourado eu sou ( 11 4)

Vibrou extasiado Ao ver a lua no seu reino prateado ( 11 3)


127

E o sol resplandecente Iluminando esta terra de encantos mil ( 1 o) .

Uma obra fascinante Que o poeta tão brilhante O povo admirou ( 3 4)

Nesta passarela reluzente Contagiando muita gente ( 1 7)

Após tão longa análise do que julgo ser a principal característica da linguagem do samba-enredo em nossos dias, o

uso

da palavra como enfeite, quer como significante, quer significado~

como

quando evoca o contexto ideológico-afetivo de seu

usuário - o compositor popular -, caberá naturalmente uma pergunta: enfeitar para quê?

Não basta observar que a

grande

maioria dos compositores populares recorre a este tipo de

pa-

lavras; nem é suficiente comprovar esta preferência com inumeráveis exemplos.

~ necessário tentar explicar a razão

desse

procedimento lingüístico, e explicá-lo com elementos deste dis curso que temos em mãos: cento e vinte sambas cantados na Avenida em onze carnavais próximos de nós no tempo. A resposta que me ocorre de imediato parece óbvia e e preciso agora verificar se ela tem respaldo no discurso do compositor popular, sobre o qual me debruço neste trabalho.

E

a

resposta me ocorre primeiramente por uma ·via extralingüística: a observação de que, diante dos preços cada vez mais elevados das fantasias de nossas Escolas, é o componente humilde,

carente


128

e pobre quem menos reclama.

Ao contrário, faz questão de fan

tasia bordada, de tecido brilhante, de plumas. peito nu e pé descalço, nem pensar.

Fantasia

Pois para este

de

humilde

componente o limite entre a realidade e o espaço do sonho deve ser, de preferência, um abismo.

Assim, na "Avenida colori

da" ou, se quiserem, no "desfile principal", nada deve lembrar a dura realidade do . resto do ano, a realidade da roupa pobre, do pé descalço, do despojamento e da simplicidade forçados. Da mesma forma, a linguagem utilizada- para cantar o "tema fascinante" deve ser também diferente do trivial, do vocabulá Nesta

rio parco, resultante de uma instrução deficiente. "noite reluzente" é preciso embarcar no sonho, falar de alegria, "virando a tristeza pelo avesso".

apenas

Falar de

"lua

cheia" e "céu estrelado", mesmo que chova torrencialmente, lar de um Brasil belo, rico, forte, em constante

f~

progresso,

tão diferente da realidade que nos cerca; falar de festa, bri lho e riqueza, tudo justamente que falta ao resto do ano. Este belo compromisso com a alegria tem sido mal

interpr~

tado por alguns estudiosos do fenômeno das Escolas de

Samba,

que acreditam que é o desejo de ascensão social ou a

ilusão

de poder conseguir, por meio do carnaval, uma vida melhor,que levam os sambistas a não falar, nos seus sambas-enredo, agruras de sua v ida .

Qu~ro

c re r que esta opinião é preconce!

tuosa porque p ressupõe no sambista uma ingenuidade que não tem.

ele

Pelo contrário, sabe perfeitamente que, desta forma,

nada v ai mudar, que não é essa dade.

das

a maneira

de modificar a reali

Esta é tão-somente a sua maneira de se divertir, e nao

de d iver tir os outros, o que muitos pensam ser a sua preocupaçao.

maior


129

No carnaval de 1982, quando o G.R.E.S. Unidos da Tijuca se apresentou com

o enredo "Lima Barreto, mulato pobre mas

livre", ouvi de uma jovem sambista que não poderia desfilar na Escola naquele ano, porque, embora achasse o samba

belí~

simo, não tinha jeito de cantar durante o desfile, toda bem vestida, penteada e maquiada, o refrão

Sem amor, sem carinho, Esquecido morreu na solidão ( 11 5)

Quando a tristeza está tão próxima, e preciso virá-la do avesso com vigor e não deixar chegar ao carnaval vestígio dela. acaba.

Ela voltará,

~

qualquer

certo, porque o carnaval

se

E o sambista tem consciência disto e o expressa

as

vezes de maneira clara, às vezes sutil, em vários

sambas,

nao só em várias passagens do corpus ora estudado, como também fora dele.

Em 1965, Silas de Oliveira, do Império

no, começava assim o seu antológico samba

Serr~

Os Cinco Bailes --------------------

da História do Rio:

Carnaval, doce ilusão, Dê-me um pouco de magia De perfume e fantasia E também de sedução Quero sentir nas asas do infinito Minha imaginação

Demonstra aí uma clara consciência da efemeridade do car naval,mas deseja "embarcar na ilusão'', corno diz o compositor do samba n9 15 de nosso corpus.

Em 1979, o samba do Império


130

Serrano, de autoria de Jorge Lucas e Roberto Ribeiro, que nao faz parte desse corpus _por se achar a Escola naquele ano

no

segundo grupo, começa com este verso significativo : "Carnaval

é ilusão".

E é dessa doce ilusão que falam dois sambas

mesmo ano, so que de Escolas que desfilaram no grupo I e tão, portanto, incluídos neste trabalho. fant~stico,

do es-

Um deles é Incrível,

extraordinãrio, da Portela:

Chegou o carnaval Vou me abraçar com a cidade Eu quero saber só da folia Nesta festa que irradia Sonhos mil, felicidades. Oh! Quanto esplendor! H~ palhaços, colombinas, arlequins e pierrôs O povo vai viver doce ilusão Se extasiando no jardim da sedução

6 ô ô ô ô ô ô ô Alegria

j~

contagiou

A ordem do rei é brincar Quatro dias sem parar! Incrível, fant~stico, extraordin~rio O talento de um povo Que mantém acesa a chama da tradição O carioca tem um que Sabe amar e viver Ao dançar no salão ou no cordão Trabalha de janeiro a janeiro Em fevereiro cai nas delícias da folia Mestre-sala e porta-bandeira Riscam o chão de poesia! Segura baiana! Ioiô e iaiã! Na quarta-feira Tudo vai se acabar. (84)


131

• Esta certeza de que o sonho do carnaval, mais palpável que a realidade, é efémero desmente} preconceito de que o sambista nao tem consciência de seus problemas e pensa que o lhe possibilitará uma mudança de vida.

carnaval

Vejamos o que dizem os

autores deste O paraíso da loucura, que a Beija-Flor cantou em 1979:

[ ••• J Ao ressoarem os clarins da folia O sonho Filho da noite e do infinito e o rei No paraíso da loucura Ao povo proclamou A seguinte lei: Esqueçam os problemas da vida O trem, o dinheiro e a bronca do patrão Não pensem em suas marmitas E no alto preço do feijão Joguem fora a roupa do dia-a-dia E tomem banhos no chuveiro da ilusão. Olhem o ceu que maravilha Retalhos de nuvens, bordados de estrelas Quando o sol e alua brilham A natureza vem mostrar sua beleza Tudo neste mundo é encantado Como o despertar da primavera Tirem do passado a nobreza E do futuro a magia da surpresa. Entrem no jardim das delícias Pela porta da imaginação Criem a fantasia mais linda Delirem neste canto de emoção. (88)

Em 1981 a Imperatriz Leopoldinense daria a sua sutil çao de ilusão e felicidade efémera no samba Teu cabelo

linao


1 32

nega, Lalá, quando diz:

Eu vou me embora Vou no Trem da Alegria Ser feliz um dia Todo dia é dia [

... )

Quem dera Que a vida fosse assim Sonhar, sorrir Cantar, sambar E nunca mais ter fim ( 9 9)

~

triste, sem dúvida, ser feliz so um dia.

do que nao ter nem esse dia de sonho.

Mas é melhor

E esse Único dia

em

que nao e proibido ser feliz vale tanto para o sambista

que

sua magia contamina e impregna o discurso do compositor

pop~

lar com palavras que transmitam de maneira inequivoca

esta

noçao.

Ele nâo consegue atingir a sonhada objetividade

um épico e a toda hora,

~esmo

quando nâo é de si que

de fala

diretamente, evoca, talvez até inconscientemente, a sua realidade, o seu universo ideológico-afetivo, como se, mesmo ao falar de qutra coisa, nâo conseguisse calar essa

mensagem

sutil e latente que compõe, tanto quanto a patente, o discur so.

seu

Por e x emplo, ao falar das práticas religiosas dos

escravos na senzala, diz o compositor:

Eles festejavam os deuses Cantando pra nao chorar ( 31 )


I

1 33

I

Não será também de si mesmo que está falando aí?

Não ex-

pressará ai a emoção de toda uma comunidade que, pobre e rente, ao brincar o carnaval, faz justamente isso?

ca-

Outro com

positor começa desta forma o seu samba:

Pra que chorar? ~

tempo de samba com empolgação (36)

~

certo que, ao contar a triste morte da porta-estandarte

do conto de Aníbal Machado, não é descabida esta inicial.

observação

Mas não valerá este conselho para todo e

qualquer

sambista que, tendo motivos de sobra para chorar, deve, sar disso, entregar-se de corpo e alma à folia?

ape-

O mesmo lem-

brete se encontra em

~

carnaval, é folia

Neste dia ninguém chora ( 11 7)

Este último verso é a confissão de que nao se pode ponder pela alegria nos demais dias do ano, e é mais um

restes-

temunho de que, aqui e ali, de modo nem sempre direto e objetivo, o compositor está a nos falar de seu contexto, de

seu

universo, que chega até nós, nesse enfoque, por meio de

suas

palavras. E mesmo quando ocorre ao compositor usar seu samba

como

forma de protesto contra uma situação social que lhe é

tão

adversa - e isso só acontece raramente:

em cento e vinte sam

bas estudados, apenas um exemplo (108) - é brincando que

ele


134

o faz.

Como se devesse ser alegre mesmo quando empenhado numa Este samba, O que dá pra rir dá pra chorar, é

baseado

no romance Manuscrito holandês, de Manuel Cavalcanti

Proença,

luta.

que versa sobre a luta do caboclo Mitavai contra o monstro Macobeba, alegoria do capital estrangeiro no Brasil; ou, no

di-

z er do sambista

A odisséia de um valente brasileiro Contra o monstro estrangeiro Que com todo seu dinheiro Quer calar a nossa voz ( 1 o8)

O samba se desenvolve de maneira jocosa e termina com

um

refrão que se tornou popular, devido à possibilidade de se alterar, respeitando a rima, o último verso, introduzindo

uma

expressao grosseira que o público das arqu i bancadas adotou imediato:

Tira daqui, leva pra lá O que hoje dá pra rir Amanhã dá pra chorar Maldito bicho se me ouviu E não gostou do meu samba Vá p r a longe do Brasil ( 1 o8)

Eis a manifestação do espirito lúdico de sse povo sofrido que na

[ ... }busca incessante De um momento feliz ( 11 9)

de


1 35

nao hesita em mascarar seu sofrimento e fazer das tripas cora çao para oferecer a si mesmo e aos outros um espetáculo alegria, luz e cor.

Na Avenida, espaço consentido do

espaço nunca determinado por uma especificação (Rio

de sonho,

Branco,

Presidente Vargas, Marquês de Sapucai), sempre descrita de ma neira onirica, como em:

Em noite linda Em noite bela Viemos na Avenida Recordar em passarela ( 2)

Desfilando na Avenida Negro é sensacional ( 8)

O povo com seu sorriso Vem pra Ave nida festejar ( 6 4)

Esta onda que borda a Avenida de espuma Me arrasta a sambar ( 1 o3)

E na Avenida colorida O sol enche a folia de luz e calor (lO 6)

As mil e uma noites cariocas Na Avenida iluminada ( 11 2)


136

nesta Avenida que é sempre colorida e iluminada, o

sambista

se faz protagonista de um espetáculo de duração limitada, mas que, para ele, tem importância muito superior a da realidade.

própria

E é por isso que é tão freqüente, no samba-enredo,

a alusão a elementos do teatro.

Anotei a ocorrência das

vras teatro (32, 42, 80, 112); c e nário (11, 22, 27, 37,

pal~

68,

83, 86, 91); platéia (17, 80); palco (37, 99, 119); personagem (38, 38, 115); passarela (2, 15, 17, 26, 33, 51, 70, 9 2 , 1 1 O , 111 , 11 2) ; show ( 1 O6 , 111 , 1 1 9) , e das abrir a cortina (18) e abrir o pano (33).

Pra todo o céu suburbano Ver sua estrela brilhar ( 3 3)

Abriu-se a cortina do universo Pra Vila cantar em verso Urna história astral ( 1 8)

Vibrava a platéia em geral Matizando alegria Glorificando nosso carnaval ( 1 7)

Neste palco iluminado SÓ da Lalá És presente,irnortal (99)

expressoes

Para conferir:

Outra vez se abre o pano

81,


1 37

Dos carnavais Modernos e de outrora Personagens marcantes Recordamos agora ( 3 8)

E neste teatro- passarela Ela resplandece novamente (33)

Veja que cenário deslumbrante Desta história emocionante ( 11 )

O show da natureza Esculturando a razao ( 11 9)

A observação deste último exemplo me leva a retomar id~ia

já expressa neste trabalho: a de que

p~ra

uma

o compositor

popular o significante prevalece muitas vezes sobre o significado.

A palavra bonita, sonora e imponente tem para

mais valor do que outra que se encaixe melhor no

ele

contexto

semântico, mas que nao ofereça os mesmos recursos de rima de simples sonoridade. ~ privil~gio

Este comportamento lingüistico

do compositor de samba-enredo: em geral,

e nao

todo

poeta popular vê nas palavras mais a camada fónica e sonora, muitas vezes em detrimento da camada do significado. Eis por que seus versos tantas vezes são considerados destituidos de sentido aos olhos dos criticos eruditos. apreciar a poesia desses versos

~

Para compreender e

preciso despir-se de

todo


1 38

Pfeconceito e encarar a beleza de purpurina das palavras harmoniosamente justapostas com o intuito de brilhar. Urna análise mais detida do léxico do samba-enredo me permitiu supor que freqüenternente o poeta popular se sente inseguro no manejo das palavras.

E não são os aspectos

gramati-

cais que o atormentam, porque, com relação a estes, nao

hesi

ta em afastar-se da norma culta da lingua, não deliberadamenpo~

te, e claro, uma vez que nao tem consciência dela: apenas que lhe é totalmente alheia.

Sua insegurança se

manifesta

.exatamente na escolha das palavras: observei uma tendência repetição de sintagmas já usados em sambas anteriores,

ocasi~

nando o aparecimento de verdadeiros lugares-comuns dentro genero.

a

do

Por exemplo, nas três ocorrências do substantivo bum-

bo no corpus, vem ele acompanhado do adjetivo original.

Cer-

tamente muitos adjetivos serviriam para caracterizar

este

substantivo, mas o que se nota e que no samba-enredo a novida de, o inusitado, não tem tanta irnportãncia quanto a repetição de um sintagma já consagrado pela voz do povo.

Assim é

que

em sambas cantados em três carnavais consecutivos (1973, 1974, 1975) por três diferentes Escolas (Mocidade Independente,

Ma~

gueira e Em Cima da Hora), aparece o sintagma bumbo original, sem que isso tenha provocado qualquer comentário negativo sequer despertado estranheza.

O entrudo com suas fantasias E o zé Pereira com seu bumbo original ( 1 6)

ou


139

E o zé Pereira Com seu bumbo original Eis a Mangueira Com seu carnaval ( 2 8)

zé Pereira com seu bumbo original

O Rei Morno comandando o pessoal (38)

Já o sintagma nas asas da poesia levaria dois anos ·ser reutilizado em um samba-enredo na Avenida.

para

Em 1 9 7 4·, te-

mos

são Carlos nas asas da poesia Cantará com galhardia Um enredo original (27)

t '

e em 1976:

Voando Nas asas da poesia A Portela em euforia Vive um mundo de ilusão ( 4 6)

Repare-se que o segundo samba segue até mesmo o ' · modelo de citar o nome da Escola associado ao lugar-comum, não desejando portanto introduzir qualquer inovação que

pudesse

representar uma ruptura com a tradição lingüística. Igualmente a associação dos verbos cantar e.encantar,


140

~troduzida

pela Portela em seu samba de 1975

Canta o uirapuru e encanta Liberta a mágoa do seu triste coraçao (40)

seria reutilizada em 1977 pela mesma Escola, ainda que por ou tros compositores, em

O povo canta e o rei se encanta Com a força do canto de amor (70)

A expressao uma história que fascina foi também integralmente repetida pela Portela em 1976

Uma história que fascina Vem do alto da colina do Pacoval (46)

quando fora já usada no samba da Unidos de são Carlos em 1975

Uma história que fascina E ao mundo deslumbrou (37)

Isto se torna facilmente comprovável num exemplo como que daremos abaixo, em que o sintagma que se cristaliza de alguma forma, inusitado. dância: folclore popular.

o e,

No caso, trata-se de uma redunO sintagma é pleonástico,porque a

palavra folclore já contém em si a idéia de popular.

Pois


1 41

bem: o sintagma, que aparece pela primeira vez no corpus

num

/'

samba da Escola Lins Imperial de 1976, é repetido no ano

se~

guinte no samba do Império Serrano, e posteriormente, em 1981, reaparece no samba da Mocidade Independente de Padre

Miguel.

Confiramos:

O samba vem homenagear Tradições antigas Do folclore popular (58)

O samba é anfitrião Desta gente que ao chegar Semeou nesta terra Seu folclore popular

(64)

Vejam que beleza o Zé Pereira No bloco de sujo com a zabumba a tocar Essas canções tão famosas Do folclore popular ( 1 o6)

Um outro exemplo evidencia também que nao é casual a

.re-

petição de certos sintagmas que, ouvidos pelo compositor

pop~

..

lar em outros sambas anteriores, ficam gravados em sua ria e · lhe vêm a mente quando o contexto o permite,

memo-

poupando-

-lhe o trabalho de criar coisa nova, que poderia não agradar. Assim, quando em 1975 a Portela escolheu como enredo Macunaima, herói de nossa gente, os compositores do samba ao definirem o herói, assim o descrevem no refrão:

vencedor,


1 42

Macunaíma, Índio branco catimbeiro

/

Negro sonso feiticeiro Mata a cobra e dá o nó ( 4 o)

Onde teriam eles ido buscar o sintagma negro sonso feiticeiro, que não é nada comum, nada consagrado, nenhuma feita sobre Macunaíma?

frase

Não foi, é certo, em nenhum samba-en-

redo deste corpus, mas sim no samba 1922- Oropa, França Bahia, com que a Imperatriz Leopoldinense se apresentou 1970.

e em

O samba assim dizia:

Macunaíma, negro sonso feiticeiro Cobra Norato e a Rainha Luziá São personagens do folclore brasileiro Como a mulata, o café e o vatapá (Imperatriz, 1970)

Evidencia-se um comportamento lingüístico que nao criatividade a banalidade, o que contraria, por exemplo,

opoe o

enfoque modernista de que so o novo tem valor, de que se devem procurar sempre novas maneiras de dizer as coisas. o compositor de samba-enredo, o banal, o trivial, o que

Para já

foi dito, ganha ares de verdade poética. Me nos óbvio, mas também interessante e e x aminarmos

como

a Unidos de Padre Miguel, ao usar em seu samba de 1972

o

sintagma cenário deslumbrante, nos versos

Veja que cenário deslumbrante De sta história e mocion ante Que nos faz cantar assim ( 11 )


143

está reproduzindo o que ouvira num samba que a Estação Primei ra de Mangueira cantou na Avenida em 1968, intitulado

Samba

festa de um povo:

No cenário deslumbrante Do folclore brasileiro A Mangueira apresenta A história do samba verdadeiro (Mangueira, 1968)

Dess~

mesmo samba-enredo se retira a expressao

matizando

alegria que se repetirá no samba Ameno Resedã, da Unidos Jacarezinho em 1973.

de

Comparemos:

Quantas saudades Dos cordões da galeria Onde o samba imperava Matizando alegria (Mangueira, 1968)

Vibrava a platéia em geral Matizando alegria Glorificando nosso carnaval ( 1 7)

Muitas vezes nao é um determinado sintagma que se repete até cristalizar-se, vindo a constituir o lugar-comum, mas apenas o que acontece e que se fortalece urna determinada associação de idéias, que e então repetida, até sem sentir, pelo poeta. Em 1974, cantava o samba-enredo da Imperatriz Leopoldinense:


144

Oh! como é tão sublime Exaltar o poeta criador (24)

Em 1981, o samba-enredo da Unidos da Tijuca começava

com

estes versos:

~

tão sublime exaltar

Neste dia de folia ... ( 1 o8)

passem

Pode muito bem ser que todos esses exemplos nao de fruto de coincidências.

Mas a mim pareceu que estas e o~ revelam

tras repetições involuntárias de maneiras de dizer

um certo não estar à vontade com o material lingüistico disponlvel, diante da necessidade de falar de coisas tão familiares quanto são, para o sambista, os enredos cos, literários e, mais modernamente, os chamados abstratos.

'Essa "cerimõnia" com a llngua já foi,

mos, bem maior outrora.

Hoje em dia, nos anos

pouco

histórienredos convenhaabrangidos

por nosso corpus, o compositor se permite usar nos sambas p~ lavras e expressões coloquiais e até glria, como se pode verificar nos seguintes exemplos:

Que grilo é esse Vou embarcar nessa onda É o Império Serrano que canta Dando uma de Carmem Miranda ( 3)


1 45

No verde e branco ~

um barato legal

Oscarito é curtição Do nosso carnaval (80)

Segura baiana Ioiô e iaiá Na quarta~feira tudo vai se acabar (84)

É

samba de roda

Batucada e candomblé Tem capoeira e gafieira dando olé (97)

E no campinho a gurizada Atrás de uma bola a rolar Mata no peito, dá lençol, faz embaixada Se torce o pé vai a rezadeira curar (98)

Neste palco iluminado SÓ dá Lalá (99)

Ohl bela, formosa, eterna capital Do povo carioca tão legal ( 1 00)

E no carnaval de hoje Cheio de loucura Vem a nossa verde-e-rosa Que ninguém segura ( 11 2)


146 '

Cumpre observar ainda que, além de se permitir a introduçao nos sambas de tais vocábulos, o compositor passa,

ainda,

a reproduzir onomatopéias, como é o caso em:

Nos nossos rios e matas, chuês e cascatas Riquezas do chão ( 11 9)

ou em:

Bum Bum Paticumbum Prugurundum Nosso samba minha gente é isso aí! ( 11 7)

e até a criar neologismos, ainda que só muito raramente, como o verbo "barboseava", aí sinónimo de "protestava de

maneira

loquaz, verborrágica", e o verbo "cortajacando" que significa "dançando o corta-jaca", neste exemplo:

Rui barboseava no Senado Dizendo ser grosseira A música popular brasileira Num requebrado bem apertado O corta-jaca eu dancei Cortajacando bem gostoso num roçado Foi tudo um sonho eu acordei ( 1 o1 )

Da mesma forma o compositor popular, negro em geral e qu~ se sempre adepto do candomblé ou da umbanda, guardou silêncio durante tantos anos - os anos de luta pela imposição de

sua

e

50

produção musical - sobre suas tradições religiosas,


147

agora se reserva o direito de falar com alguma freqüência, em seus sambas, de seus orixás, suas saudações, suas tradições, enfim.

t

o que podemos observar em abundantes exemplos:

Oh! Meu pai Ogum Na sua fé Saravá Naná e Oxumaré Xangõ, Oxóssi Oxalá e Iemanjá Filha de Oxum Pra nos ajudar Vem nos dar axe Com os eres dos orixás (52)

Oguntê, Marabô Caiala e Sobá Oloxum, Inaê Janaina, Iemanjá (53)

Vão à Igreja do Bonfim ofertar Água no pote ao pai Oxalá Saravá atotô Abaluaiê Iemanjá Ogum Oxumaré (54)

Olorum, ô, ô, ô Misto de infinito e eternidade Também teve seu momento de vaidade Criou a .terra e o céu de Oxalá Pra gerar Aganju e Iemanjá (77)


148

Eparrei, Iansã Ilumine o dia de amanhã

(96}

E quando isso acontece, quando o negro canta seus orixás nos sambas-enredo de suas Escolas, a classe média estranha e reclama.

Não é raro ouvir e até ver impressos

comentários

sobre a "mania" ou a "moda" de nossas Escolas de Samba

de

macumba".

apresentar o que os estranhos chamam "enredos de

Como se não fosse de esperar que o negro falasse exatamente de suas raizes religiosas ... Ele fala delas, fala também do samba e do carnaval, home nageia artistas como Oscarito e Carmem Miranda, músicos como Pixinguinha, exalta a literatura brasileira, reescreve mas como "Vou me embora pra Pasárgada", de Manuel "Invenção de Orfeu",de Jorge de Lima e "Sonho de um de Carlos Drummond de Andrade.

poe-

Bandeira, sonho",

Fala também de lendas e tra-

dições indígenas, ainda narra a História do Brasil, não

es-

quece de enaltecer o ~olclore, louva a situação do pais

ou

protesta contra ela.

Até de temas tão singelos quanto o jo-

go do bicho e o domingo ele fala.

Mas, seja qual for o

redo, este homem, cuja vida nem sempre e um mar de quase sempre não é um mar de rosas, so tem uma

en-

rosas,

preocupaçao:

o compromisso com a alegria, que é a própria razão de ser da festa que com sua voz primitiva abrilhanta.


149

5.1

NOTAS

1 Este sugestivo verso é o segundo do samba-enredo Traços

troças, de Celso Trindade e Bala, que, por ter sido

e

cantado

pelos Acadêmicos do Salgueiro no carnaval de 1983, não

faz

parte do corpus estudado. 2 Gladstone Chaves de Melo, Ainda é tempo de reagir,

artigo

publicado em Carta Mensal, órgão do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio, n9 294, ano XXV, Rio de

Ja-

neiro, setembro de 1979. 3 Gracl'1'1ano Ramos, V'd 1 as secas, p. 40-1. 4 Ibidem, p. 43. 5 Ibidem, p. 44. 6 Mattoso Câmara Jr., Agiria em Machado de Assis , in: Ensaios Machadianos, p. 136. 7 Rodrigues Lapa, Estilistica da lingua portuguesa, 3. ed . revista e aumentada, p. 114-5. 8 Ibidem, p. 115-6. 9 Ibidem, . p. 118.


150

6

CONCLUSÃO

Ao encerrar o trabalho, sera preciso voltar ao ponto

de

partida: o fascinio que o samba-enredo exerceu sobre mim, por aquilo que me pareceu a primeira vista poder ser definido modo muito genérico como "falar dificil".

de

Quis ver nesse com

portamento lingüistico o reflexo da necessidade que afligia o cultural.

sambista de ver aceita e reconhecida sua produção

Mas, ao debruçar-me sobre o corpus constituido de sambas compostos entre 1972 e 1982, verifiquei que n~o era apenas rebuscamento de linguagem, essa eleição de palavras o traço marcante.

esse

dificeis

Além disso, saltou-me aos olhos a preocup~

ção do compositor popular de fantasiar a sua linguagem,

en-

chê-la de brilho, tornando-a compativel com a suntuosidade da festa.

Assim, enchendo de brilho, luz, colorido o seu discur

so, seja pela adjetivação abundante, seja pela organização do vocabulário em torno fundamentalmente da idéia de

esplendor;

qperendo para a sua festa a lua cheia, o céu estrelado, a pi~ ta iluminada, exigindo, enfim, "tudo a que tem direito",

o

compositor estaria de certa forma se compensando de um cotidiano ao qual falta quase tudo.

E como a Avenida, simbolo do

carnaval, ficou s e ndo para ele o espaço onde é permitida total invers~o de valores, é 1~ que ele vai cantar,

uma

coerente

com sua indumentária, seu canto de purpurina. Essa ilusão dura apenas o tempo do desfile, e não nem o próprio samb ista.

engana

Ele nao acredita que o carnaval pos-

sa mudar a sua vid a, mas cre com firmeza que tem direito esse breve sonho.

a

Naquele momento o sonho e a própria reali-

dade e nele nao ac redita apenas o negro ou o mestiço habitante


151

de nossos morros e subúrbios, socialmente caracterizado

como

pertencente a uma determinada classe social: nesse sonho acre dita quem tem forças para isso. de se vestir de rei.

gosta

De rei se veste quem

Bandeira,

E assim como o ~oeta Manuel

homenageado no enredo da Portela em 1973, criou em

Pasárgada

seu espaço de utopia, tamb~m o poeta popular, compositor samba-enredo, ve na Escola de Samba, no desfile de o momento e o lugar onde tudo de bom é possível.

de

carnaval, E o reafir-

ma, sempre que possível, de maneira clara:

Portela, Portela Na vida ~s ·a Pasárgada mais bela ( 1 5)

quem

prefira uma linguagem sem purpurina ou at~ um carnaval

sem

Nem todo compositor popular pensa dessa forma.

purpurina.

Como exemplo desse tipo de pensamento permitam-me

citar um samba de Élton Medeiros, de parceria com Antônio Valente, que, de modo sintomático, se intitula Sem ilusão:

No carnaval Não vou querer me fantasiar Não vou querer me vestir de rei Não quero mais . colorir a dor E se alguém quiser me aplaudir Vai ter que ser assim como eu sou Não quer dizer que nao vou nem brincar SÓ nao quero e enganar o meu coraçao No carnaval Não vou mais sair fingindo Que passo a minha vida inteira a cantar Eu vou me divertir ., Na certa eu vou sambar


152

Mas dessa vez A ilusão não vai me pegar No carnaval Eu sempre saí sorrindo Me divertindo so pra desabafar Três dias pra sorrir Um ano pra chorar Mas dessa vez A ilusão não vai me pegar.

Este ilustre compositor nao se inclui em nosso corpus, e nele estaria completamente deslocado.

De resto, a

exclusão

partiu dele próprio: ex-integrante da Escola de Samba Unidos de Lucas, Élton é um dos fundadores do Grémio Recreativo Arfalou

te Negra e Escola de Samba Quilombo, de que já se atrás.

A letra deste samba expressa todo o despojamento que

a Quilombo preconiza, e o faz até na forma, por um

discurso

enxuto, linear, que nada tem em comum com a purpurina verbal que venho analisando.

Ora, convenharros

que fantasiar-se e

seu discurso não é obrigação de sambista, é opção.

fantasiar Há

quem

prefira sem ilusão, como há quem pref~ra sem anestesia.

Mas

nao creio que o compositor de samba-enredo engane o seu cora çao ou se deixe pegar pela ilusão.

Também ele não passa

vida inteira a cantar, o que não é razao para que nao

a

cante

no carnaval. Veste-se de rei, e arranca aplausos nao por isso, porque quem vai vê-lo gosta do seu canto, se identifica ele.

mas com

Haverá também quem goste de menos brilho e se identifi

que com a simplicidade e a sobriedade vocabular no melhor es tilo da Quilombo.

O presente trabalho não abrange esse dis-

curso, embora não lhe negue valor.

Apenas, a

motivação


153

primeira para a realização deste estudo foi, como já mencionei, exatamente o fascinio exercido sobre mim pela

torrente

de emoçao e beleza que extravasa tão nitidamente na

escolha

de palavras do compositor popular, escolha que pode ser

de-

terminada simplesmente pelo significante, o que

chamariamos

purpurina de forma, ou ainda pelo significado -

purpurina

evidentemente semãntica. Deste esforço me fica a sensaçao de que o popular é algo muito forte que nao se desse tipo. descrever. observação.

deixa conter, represar num

estudo

Sua força está mais no próprio fazer do que

no

Um fato ocorrido há quase dois anos ilustra esta Estava eu participando

de uma mesa-redonda so-

bre as Escolas de Samba em fevereiro de 1982, na quando entrou no auditório um ruidoso grupo de

FUNARTE, autênticos

sambistas que, atraidos por um outro evento que a

FUNARTE

promovera no mesmo dia, pouco antes, resolveram assistir debate anunciado.

Ouvindo o orador, Fernando Pamplona,

principio com atenção, logo começaram a aparteá-lo em

ao a voz

alta, desmentindo algumas de suas afirmações de modo categórico: -"Deixa disso, Pamplona, você em 1962 no Salgueiro ... " e coisas semelhantes. Presidia a mesa o antropó~ogo Roberto da Matta, que, at~ morizado com a perspectiva de tumulto, oonfidenciou em voz baixa o seu propósito de solicitar auxilio a segurança da

FUNARTE

para retirar do recinto os rebeldes, incapazes de um comportamento comme il faut, numa mesa redonda.

Desaconselhado p~

lo jornalista Sérgio Cabral a agir dessa forma, Roberto

da

Matta teve, um minuto depois, a sa~isfação de ver o grupo indesejável sair tão intempestivamente quanto entrara e

tudo


154

voltar à mais perfeita tranqüilidade. Terminado o debate, encontrei no bar Amarelinho uma quer! da amiga que fazia parte do grupo e que, ao me ver, se pos

a

gritar: - "Rachel, fala com franqueza: tu tava gostando daqu~ le papo lá dentro?

Mas como é que você, uma semana antes

carnaval, fica lá dentro naquela chateação, enquanto a

do

gente

tá aqui cantando, batucando e tomando um chope gelado?" Ao encerrar este trabalho, sinto um certo acanhamento pensar que minha amiga Liete acharia o que aqui foi tão monótono e enfadonho quanto aquele debate.

Mas

em

escrito consola-

-me a idéia de que, ao menos aqui, o sambista tem o seu lugar garantido e não corre o risco de se ver expulso pela segurança.


155

7

7.1

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Lisboa,


8

ANEXO


1 9 7 2


-

1 -

G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Onde o Brasil aprendeu a liberdade (Martinho da Vila) Aprendeu-se a liberdade Combatendo em Guararapes Entre flechas e tacapes Facas, fuzis e canhões Brasileiros irmanados Sem senhor e sem senzala E a Senhora dos Prazeres Transformando pedra em bala Bom Nassau já foi embora Fez-se a revolução E a festa da pitomba ~

a reconstituição

Jangadas ao mar Pra buscar lagosta bis

Pra levar pra festa em Jaboatão Vamos preparar lindos mamolengos Pra comemorar a libertação E lá vem maracatu Bumba-meu-boi, vaquejada Cantorias e fandangos Maculelê, marujada Cirandeiro, cirandeiro Sua hora é chegada Vem cantar esta ciranda Pois a roda está formada Cirandeiro, cirandeiro

bis

A pedra do seu anel { Brilha mais do que o sol

oh!


-

G.R.E.S.

2 -

ACAD~MICOS

DO SALGUEIRO

Nossa madrinha, Mangueira querida (Adil de Paula [Zuzuca]) O! O! O!

O meu Senhor! Foi M~ngueira Estação

bis

P~imeira

Que me batizou fTengo-Tengo, Santo Antônio e Chalé ~inha gente, é muito samba no pe Em noite linda

bis

Em noite bela Viemos na Avenida Recordar em passarela O batizado será lembrado Com o Salgueiro de agora

bis

Alô Laurindo, alô Viola Alô Mangueira de Cartola Tengo-Tengo, Santo Antônio e Chalé { Minha gente, é muito samba no pe .


-

G.R.E.S.

3 -

IMP~RIO

SERRANO

Alô, alô, tai Carmen Miranda (Wilson Diabo- Maneco- Heitor A.P. da Roc. Urna pequena notável Cantou·rnuito samba

t

motivo de carnaval

Pandeiro, camisa listrada Tornou a baiana internacional Seu nome corria chão Na boca de toda a gente

bis

Que grilo é esse Vou embarcar nessa onda t o Império Serrano que canta Dando urna de Carmen Miranda

bis

Cai, cai, cai, cai Quem mandou escorregar Cai, cai, cai, cai

t

melhor se levantar

Oba!


- 4 G.R.E.S. UNIDOS DE SÂO CARLOS Rio Grande do Sul na festa do Preto Forro Dário Marciano) (Nilo Mendes O negro na senzala cruciante Olhando o céu pedia a todo instante bis

Em seu canto e lamentos de saudade

L

Apenas uma coisa: liberdade Na região denominada Preto Forro Lá na serra do Mateus Na Boca do Mato Todo negro dono de sua liberdade Na maior felicidade Se dirigia para lá Reunidos davam inicio à festança Com pandeiros, tamborins, checheréis e ganzas Oeô, oeá

bis

Saravá meu povo [ E salve todos orixás Sob o clarão da lua E o fosco do lampião A capoeira era jogada

bis

Sempre ao som de um refrão jvocê me ~hamou de moleque LMoleque e tu Rio Grande do Sul Seu folclore, sua gente Também participaram Desta festa diferente Oeô, oeá

bis •

Saravá meu povo [ E salve todos ori x ás


-

5 -

G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Rainha mestiça em tempo de lundu (Serafim Adriano da Silva Jurandir C.N. Mello)

Oi que dança boa bis

Para se dançar Dava um negócio no corpo Ninguém conseguia parar vamos falar de nossa história Lembrando o Brasil imperial Exaltando a rainha mestiça Neste carnaval Vamos falar dos bantos Que para alegria geral Trouxeram de Angola O lundu para alegrar o pessoal

bis

~

aiu da senzala

Entrou nos salões Para alegria de todos corações Os violeiros tocavam a melodia Iaiá dançava, sinhá sorria A rainha desfilava Airosa corno a palmeira Ao som da melodia A tristeza da senzala O escravo esquecia Cantando o lundu

bis

~

Dançando o lundu E tudo terminava em alegria


-

6 -

G.R.E.S. EM CIMA DA HORA Bahia, berço do Brasil (Baianinho) Eh Eh Eh! Bahia! Bahia de São Salvador Terra -dos capoeiras Do famoso candomblé Tem a festa da Ribeira bis

A festa do lava-pé Salve Senhor do Bonfim Que os baianos têm muita fé Glória à heroína Maria Quitéria Mulher de grande valor Lutou pela liberdade E contra o terrível preconceito ahia berço do Brasil

bis

t

Terra de São Salvador Que o mundo inteiro encantou


- 7 G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Rio, carnaval dos

c~rnavais

(Nilton Russo - Moacyr - Padeirinho) Tem maracatu Maculelê, batuquejê Tem capoeira de roda E também tem cateretê Vejam que maravilha Temos a festa mais linda Deste meu pais Esta é mais uma que brilha Como este povo é feliz Para alegria geral Este é o nosso êarnaval bis

Em todo o universo Não existe outro igual SÓ neste Rio tradicional O Rio oferece ao mundo Neste solo fecundo O carnaval dos carnavais Revivendo com beleza Os festejos de Veneza Os cortejos geniais Oriundo dos romanos E dos negros africanos Com seus lindos rituais


-

8 -

G.R.E.S. PORTELA Ilu Ayê, terra da vida (Cabana - Norival Reis) bis

rlu-ayê, ilu-ayê, odara LNegro _ cantava na nação .nagô Depois chorou lamento de senzala Tão longe estava de sua Ilu-ayê Tempo passou, ô, o E no terreirão da casa-grande Negro diz tudo que pode dizer t

bis

samba, e batuque, e reza

t dança, e ladainha Negro joga capoeira E faz louvação à rainha Hoje negro é terra, negro e vida

1

Na mutação do tempo

I

Desfilando na Avenida Negro é sensacional É todo a festa de um povo

t dono do carnaval.

r


-

9 -

G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Martim Cererê (Zé Catimba - Gibi) Vem ca, Brasil Deixa eu ler a sua mao, menino Que grande destino Reservaram pra voce

lá,

Fala Martim Cererê

bis

lá, lá lá, lá, ue Fala Martim Cererê Tudo era dia O indio deu a terra grande O negro trouxe a noite na cor O branco a galhardia E todos traziam amor Tinham encontro marcado Pra fazer urna nação E o Brasil cresceu tanto Que virou interjeição

bis

Lá, lá, lá, lá, lá, ue [ Fala, Martim Cererê Gigante pra frente a evoluir

bis

Lã, i&, lã, iá [ MilhÕes de gigantes a construir


-

10 -

G.R.E.S. UNIDOS DE LUCAS Brasil das duzentas milhas (Pedro Paulo de Oliveira João José da Costa Jorge de Souza Santos Odail Leocádio [Capixaba]) Brasil, Brasil, Brasil Do nascente ao poente Existe um céu cor de anil E o sol resplandecente Iluminando esta terra de encantos mil A passarada gorjeia contente Saudando o gigante Brasil O pais de progresso onipresente De notáveis recursos naturais

E seu profundo mar azul Fértil em peixes, petróleo e minerais Belezas tem de Norte a Sul Lindas praias ornando o seu litoral

O pescador, ó pescador bis

Solta o barco e abre a vela Corno se fosses um pintor Estendendo a sua tela! Oh! Duzentas milhas sagradas E por muitos outros cobiçadas Tem no povo heróico a defesa varonil Guardião avançado da soberania do nosso Brasil!


-

11 -

G.R.E.S. UNIDOS DE PADRE MIGUEL Madureira, seu samba, sua história (Antenor F. Silva [Duduca da Aliança]) Vem dos tempos imperiais A história que vamos apresentar De Lourenço Madureira Desbravando terras, caminhos sem fim Veja que cenário deslumbrante Desta história emocionante Que nos faz cantar assim: bis

Madureira, seu samba, sua história [ Madureira, cantamos sua glória Madureira herdou o nome Deste simples boiadeiro E como bairro abençoado Também tem seu padroeiro Berço de g r andes sambistas Atração de todo o ano Da Portela tão querida Do famoso Império Serrano E quando chega o carnaval Madureira é do samba a capital.

bis

Madureira, seu samba, sua história [ Madureira, cantamos sua glória


-

G.R.E.S.

12 -

IMP~RIO

DA TIJUCA

·o samba no morro e na sociedade (Sebastião Vicente da Silva Djalma do Cavaco) Vamos sambar Não importa o lugar Nos salões mais elegantes Lá no morro tão distante Vamos sambar Sem divisas sociais Ou em notas musicais Sou o povo, sou o amante Felicidade no barraco ou no castelo Sou o samba, sou o elo Ligado às grandes amizades bis

Não vim e sim eu vou [ Vou caminhando levando amor Seria lindo meu povo sorrindo Sambando Seria lindo meu povo pedindo Cantando


1 9 7 3

•


-

13 -

G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Lendas do Abaeté (Jajá - Preto Rico - Manoel) Iaiá mandou ir à Bahia No Abaeté para ver sua magia Sua lagoa, sua história sobrenatural Que a Mangueira traz pra este carnaval Janaina ago •.. Agoiá Janaina ago •.. Agoiá Samba, curima com a força de Iemanjá Oh! Que linda noite de luar Oh! Que poesia e sedução Branca areia, agua escura Tanta ternura no batuque e na cançao Lá no fundo da lagoa No seu rito em sua comemoração Foi assim Que eu vi rara cantar Eu vi Alguém mergulhar Para nunca mais voltar.


-

G.R.E.S.

14 -

TUPI DE BRÁS DE PINA

Assim dança o Brasil (Sérgio Ignácio - G.R.E.S. Tupi de Brás de Pina) É Tup~ de Brás de Pina no desfile principal

Vejam do homem de cor o samba tradicional Quanta beleza, quanta magia, no ritmo que contagia bis

[Dos indigenas a dança feita de lança na mao Dedicando a Tupã uma suprema louvação Vejam que tudo aquilo de outrora já transformou-se agora Em riqueza da nossa Nação E na Bahia tem capoeira, que chega a levantar poeira A moçada jogando no chão

bis

Que dança maravilhosa chamada Maracatu [ Que vem lá de Pernambuco, de Caruaru Hoje cantamos o samba do tema das danças Que o povo criou Tem frevos e boi-bumbá que vem do Ceará Nesta onda que eu vou no carnaval


-

15 -

G.R.E.S. PORTELA Pasárgada o amigo do Rei (David Corrêa)

bis

rAo embarcar na ilusão lsenti _palpitar meu cor~ção Na passarela um reino surgia Quanta alegria Desembarquei feliz Tudo era fascinante Nesse mundo pequenino Até relembrei os dias Do meu tempo de menino

bis

Nas brincadeiras de roda [ Rodei pelo mundo afora Nesse reino azul Tem tudo que desejei

bis bis

Auê, auê, auê, eu sei [ Eu sei que sou amigo do rei Nas ondas do mar caminhei [ No azul do céu eu voei Lâ vem · ela na Avenida Cinqfientenária tão florida

O Portela! Portela! O Na vida és a Pasárgada mais bela.


-

16 -

G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Rio, Zé Pereira (Sebastião Nascimento [Tião Da Roça] - Eduardo Ferreira [Edu] G. R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel)

E carnaval ••• Canta Ioiô, canta Iaiá

f: o Zé Pereira Chegando lá da Beira Para anunciar Olelê, olalá Me solta, me deixa '.-'

bis

Que eu quero sambar

,•

Olelê, olalá Eu quero cantar batucar e pular Era contagiante O Rio, no carnaval O entrudo, com suas fantasias E o Zé Pereira com seu burnbo original E num delirio multicor De confete e serpentina Desfilavam pierrôs A Madame Pompadour Luiz XV e Colombinas Que maravilha! •.• Que maravilha! Que esplendor! Hoje, a Mocidade Independente . Convida toda gente A c antar em seu louvor .

Olelê, olalá Me solta, me deixa bis

Que eu quero sambar Olelê, olalá Eu quero cantar batucar e pular


-

17 -

G.R.E.S. UNIDOS DO JACAREZINHO Ameno Resedá

(Nonô- Sereno - Zé Dedão - G. R. E. S. Unidos do Jacarezinho) Vamos_, meu povo~ vamos cantar bis

[

Quero ver quem e de samba Quero ver quem vai sambar, oi! Nesta passarela reluzente Contagiando muita gente Ao ver a nossa Escola desfilar Jacarezinho apresenta Um tema fascinante "O Ameno Resedá"

É um fato importante

Com detalhe interessante Do antigo carnaval Recordamos na Avenida Que passou em sua vida Alegrando o pessoal Vamos, meu povo, vamos cantar bis

Quero ver quem é de samba [ Quero ver quem vai sambar, oi! Sinto na alma, meus senhores Aquela linda melodia Lentamente entoada Quando o rancho aparecia, Vibrava a platéia em geral Matizando alegria Glorificando nosso carnaval


-

18 -

G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Zodíaco no samba (Paulo Brasão - Irany S. Silva) Abriu-se a cortina do universo Pra Vila cantar em verso Uma história astral Com a astrologia criada Na primeira madrugada A sorte foi lançada Daí pra frente Não há futuro nem presente Que o destino esteja ausente bis bis

Nada se fez nada se faz

LOs

astros não mentem jamais

rDim, dim, dlm, dim, dim, dim, destino é assim

Lo

Se cada signo tem sua missão Seja Virgem, Libra ou Leão Porque a sorte procurar Se ela em suas maos virá Hoje tudo e sonho e fantasia Esplendor e folia Nesta era em que Aquarius nos traz Felicidade, amor e paz bis bis

Cheguei a ver na bola de cristal [ Que os astros vêm brincar o carnaval Dindinha l~a, dindinha lua [ Desça do ceu e vem sambar na rua


-

G.R.E.S.

19 -

ACAD~MICOS

DO SALGUEIRO

Eneida, amor e fantasia (Geraldo Babão) O povo sambando Cantando a melodia Salgueiro traz o tema Eneida, amor e fantasia A mulher que veio do Norte Para o Rio de Janeiro Com idéia genial Em busca da glória Na literatura nacional! Expoente jornalista Suas crônicas são imortais Foi amiga dos sambistas Fatos que nao esquecemos jamais Coração puro e nobre foi benquista Entre ricos e pobres ~

famoso o seu Baile do Pierrô

Onde a Colombina procura seu amor A escritora de lirismo invulgar Enriqueceu o folclore nacional Hoje o mundo conhece Através da história do carnaval bis [

f;

açaí

f;

tacacá

Coisa gostosa tem lá no Pará


-

20 -

G.R.E.S. EM CIMA DA HORA O saber

po~tico

da Literatura de Cordel (Eládio Gomes dos Santos [Baianinho))

Era urna vez Era assim que começava Eu era menino hoje recordo As histórias que vovô contava. O pavão misterioso Que Evangelista mandou construir ..• Com seu talento conquistou ...

O, ô ...

A filha do conde o seu amor Quem

~

que nao se lembra

O conto do boi rnandingueiro Quando falava o seu nome Vaqueiro tremia de medo Quem amansasse o boi Tinha um prêmio em dinheiro bis

[E tarnb~rn ca~ava com a filha do fazendeiro O padre Ciço do Juazeiro Homem de bom coraçao Sempre lembrado pelo povo cristão Vamos cantar minha gente

bis

bis

Preste atenção no refrão [ Viva o poeta violeiro lá do sertão E_ boi ê, ê, ê boiada

~E

rnandingueiro gente e vaquejada


-

21 -

G.R.E.S. IHPtRIO SERRANO Viagem encantada

Pindorama adentro (Wilson Diabo - Malaquias)

Venham ver No Império minha gente Um navegante procurando upabuçu, Ansiosamente No pavão misterioso Vi a sereia do mar Em Pindorama coisas lindas Até o Boitatá Oxóssi rei da mata Fez Guaraci · aparecer Numa jangada Segui o Saci-Pererê Le, re, re, re, re bis

Como rema o Saci-Pererê Le, re, re, re, re SÓ remava o Saci-Pererê Quando Jaci surgiu Enfeitiçando o rio-mar rara me levou Sob o clarão do luar Na lagoa dourada De beleza sem par As flores conversavam Tudo era encantado naquele lugar

bis •

rFoi assim, que encontrei

lo

reino encantado, que procurei


-

22 -

G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Abecê do carnaval à maneira da Literatura de Cordel (Nelson Lima - Gilson Russo da Silva [Caxambu] - G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense)

Carnaval Festa tradicional Alegria do povo Euforia geral

bis

[:é

Pereira boi-bumbá O abre ala que eu quero passar Cantarolando na feira Assim dizia

bis

O cantador Seus versos -eram tão lindos [ Cheios de poesia e esplendor O folclore brasileiro Com a sua história original Deu um belo colorido

bis

(Ao cenário cultural Serra velha

bis

Serra serrador Esta velha deu na neta Por ter falado em amor •


1 9 7 4

•


-

23 -

G.R.E.S. IMPÉRIO SERRANO Dona Santa Rainha " do Maracatu (Wilson Diabo - Malaquias - Carlinhos

Vejam em noite de gala· As nações africanas Que o tempo nao +evou É maracatu

Olhem quanto esplendor Na festança real vêm as nações importantes Saudando a rainha Dona Santa Cantarolando no baque virado alucinante

o,

ô, ô, ô Olha costa velha no batuque do tambor

bis

l

O, ô, ô

Maracatu Elefante chegou Perto do pálio da soberana Um festival em cores Enfeita a naçao Vejam a garbosa rainha

bis

bis

Na matriz do Rosário [ Depois da coroaç~o rchegou maracatu no Império original ~aracatu tradiç~o

do carnaval


-

24 -

G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Réquiem por um sambista (Cosme - Damião - Guga)

Recordar e viver Imperatriz não podia esquecer Senhor, iluminai a minha mente bis

Prestando esta homenagem [ Ao mestre Silas ausente Quando o dia raiava Alegremente cantava Oh! minha romântica Senhora tentação Carnaval, doce ilusão Oh! como é tão sublime Exaltar o poeta criador Vou pegar na viola

bis

Vou cantar o samba Rendendo esta homenagem Ao mestre Silas bamba Salve o carnaval Viva a brincadeira Nosso enredo este ano É sobre Silas de Oliveira

o bis

1ê 1ê ..•

o

1á 1á

Até hoje temos saudade

[Do

sambista popular .


-

25 -

G.R.E.S. PORTELA O mundo melhor de Pixinguinha (Jair Amorim - Evaldo Gouveia - Vel

Lá vem Portela Com Pi x inguinha em seu altar E altar de Escola é o samba Que a gente faz E na rua vem cantar Portela, teu carinhoso tema e oraçao bis

Pra falar de quem ficou [ Como devoção em nosso coração Pizindim, Pizindim, Pizindim Era assim que a vovo Pixinguinha chamava Menino bom na sua língua natal Menino bom que se tornou imortal A roseira dá rosa em botão Pixinguinha dá rosa-canção E a canção bonita e como a flor Que tem perfume e cor E ele que era um poema de ternura e paz

bis

Fez um buquê que nao se esquece mais [ De rosas musicais


-

26 -

G.R.E.S. BEIJA-FLOR Brasil ano dois mil (Walter de Oliveira

João Rosa - G.R.E Beija-Flor)

É estrada cortando

bis

A mata em pleno sertão É petróleo jorrando

Com afluência do chão Sim, chegou a hora Da passarela conhecer A idéia do artista Imaginando o que vai acontecer No Brasil no ano dois mil Quem viver verá Nossa terra diferente bis

A ordem do progresso Empurra o Brasil pra frente Com a miscegenação de várias raças Somos um pais promissor O homem e a máquina alcançarão Obras de emérito valor É estrada cortando

A mata em pleno sertão bis

É petróleo jorrando

Com afluência do chão Na arte, na ciência e cultura Nossa terra será forte, sem igual Por isto, o folclore altaneiro bis

fNa comunicaç~o alcançaremos

lo

marco da potência mundial


-

27 -

G.R.E.S. UNIDOS DE SÂO CARLOS Heroinas do romance brasileiro (Djalma das Mercês - Maneco) Na festa que Rei Morno anuncia Com suprema alegria Carnaval são Carlos nas asas da poesia Cantará com galhardia Um enredo original Com arte[sl grandes mestre[s} escritores Perpetuaram amores imortais bis

Fixando na posteridade [ Damas da sociedade nacional Na suntuosidade dos salões Ou nos agrestes sertões e saraus Um clima de romance se fazia Quando uma bela surgia Com seu porte escultural E com seus requintes e maneiras Projetando a mulher brasileira No cenário mundial Músicos, poetas e pintores Inspirado em seus amores As fizeram imortais são conhecidas pelo mundo inteiro As heroinas do romance brasileiro

6 ô ô Vamos cantar As heroinas neste tema singular

o

ô ô Vamos sambar Pras heroinas que viemos e x altar.


-

28 -

G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Mangueira em tempo de folclore (Jajá - Preto Rico - Mano

Hoje venho falar de tradições Das regiões do meu pais Do seu costume popular Canto a magia Do ritual, das lendas encantadas Mostro as lindas festas Das noites enluaradas E ainda em figuras tradicionais Caio no bloco, danço o frevo Enlevo dos nossos carnavais A congada, boi-bumbá

O meu santo sarava O rendeira, muié rendá O baiana, õ sinhá E o Zé Pereira Com seu bumbo original Eis a Mangueira Com seu carnaval.


- 29 G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL A festa do Divino (Tatu - Nezinho - Campo Grande)

Delira meu povo Neste festejo colossal Vindo de terra distante Tornou-se importante e tradicional Bate tambor, toca viola

bis

l

A bandeira do Divino Vem pedir a sua esmola O badalar do sino Anuncia a coroaçao do menino Batuqueiro, violeiro e cantador Alegram o cortejo do pequeno imperador Leiloeiro faz graça Com uma prenda na mão A banda toca com animação Oh que beleza a festa do Divino Flores, músicas e danças E fogos explodindo Roda, gira, gira, roda

bis

Roda grande vai queimar Para a glória do Divino Vamos todos festejar.


-

30 -

G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Aruanã-açu (Paulino da virla - Rodolpho) A grande estrada que passa reinante Por entre rochas, colinas e serras Leva o progresso ao irmão distante Na mata virgem que adorna a terra O uirapuru, o sabiá, a fonte As borboletas, perfumadas flores A esperança de um novo horizonte Traduzem festa, integração e amores Lá, lá, lá, iá,

bis

~

lá, lá, iá

Lá, lá, iá, lá, lá, iá

ô ô Noite de festa na praça da aldeia Dançam em pares índios carajás E lá no céu brilha a lua cheia Iluminando os mananciais Raça morena que desbrava a mata Canta a beleza do alto Xingu Adora lendas, rios e cascatas Pois isso é Aruanã-açu

bis

rTem seringueiro, tem pescador ~ndio guerreiro que também é caçador


-

31 -

G.R.E.S. EM CIMA DA HORA A festa dos deuses afro-brasileiros (Baianinho) Desde os tempos do cativeiro A magia imperou Os negros vieram da África Com sofrimento e dor E chegando à Bahia Bahia de São Salvador Os negros pediam aos deuses Pra amenizar a sua dor Nas noites de lua cheia Eles cantavam com fervor bis

[Arerê, Caô, meu pai, arerê! E nas noites de magia Pretos velhos festejavam O grande mestre Oxalá E a rainha Iemanjá No batuque de lamento A noite inteira sem cessar Eles festejavam os deuses Cantando pra nao chorar

bis

(o,

o, o, ô, etc.


-

G.R.E.S.

32 -

ACAD~MICOS

DO SALGUEIRO

Rei de França na ~lha da Assombração (Zé Di - Malandro) Em credo em cruz eh eh Virgem Maria

bis

A preta velha se benze e arrepia o ô Xangô preta velha na o mente na o sinhô

[~

Não cantaram em vão O poeta e o sabiá Na fonte do ribeirão Lenda e assombração Contam que o rei criança·· Viu o reino de França no Maranhão Das matas fez o salão dos espelhos Em candelabros - palmeirais Da gente índia a corte real De ouro e prata o mundo irreal Na imaginação do rei mimado bis

A rainha era a deusa [ Do reino encantado Na praia dos lençóis Areia assombração O touro negro coroado É D. Sebastião É meia-noite

Nhá Jança vem Desce do além Na carruagem Do fogo vivo luz da nobreza Saem azulejos sua riqueza E a escrava que maravilha É a serpente de prata

Que rodeia a ilha


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-

G.R.E.S. Zaquia Jorge vedete do

33 -

IMP~RIO

SERRANO

subúrbio estrela de Madureira (Avarese)

Bale iro-bala bis

Grita o menino assim Da Central a Madureira ~

pregão até o fim. O Império deu o toque da alvorada Seu samba a estrela despertou A cidade está toda enfeitada Pra ver a vedete que voltou Com seu viver de alegria Fez tanta gente sonhar Outra vez se abre o pano

bis

Pra todo o céu suburbano [ Ver sua estrela brilhar Viagem, revista, aquarela O passado é presente E neste teatro-passarela Ela resplandece novamente


-

34 -

G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Imagens poéticas de Jorge de Lima (Tolito - Mosar - Delson)

Na epopéia triunfal Que a literatura conquistou Em sintese de um sonho Um poeta tão risonho Assim se consagrou

bis

O, ô, o, o, o Essa é a Negra Fulô Uma obra fascinante Que o poeta tão brilhante O povo admirou Jorge de Lima em Alagoas nasceu ouviu tudo dos antigos o que aconteceu

,I

Com os escravos na senzala E no Quilombo dos Palmares Foi um sábio que .seguiu as tradições Com seus versos, poemas e cançoes Boneca de Pano, Jóia Rara, Calabar e o Acendedor de Lampiões bis

[

Zumb~~ Floriano e Padre Cicero

Lamp1ao e o Pampa . é o Amor


-

35 -

G.R.E.S. UNIDOS DE SÃO CARLOS Festa do Clrio de Nazaré (Dário Marciano - Nilo Mendes Aderbal Moreira)

Mês de outubro em Belém do Pará

bis

r

são dias de alegria e muita fé Começa com extensa romaria matinal [ O Clrio de Nazaré Que maravilha a procissão E como é linda A santa em sua berlinda E o romeiro a implorar Pedindo à dona em oraçao Para lhe ajudar ó Virgem Santa

bis

Olhai por nos Olhai por nos, ó Virgem Santa Pois precisamos de paz Em torno da matriz As barraquinhas com seus pregoeiros Moças e senhoras do lugar Três vestidos fazem pra se apresentar Tem o circo dos horrores Carrossel, roda-gigante As crianças se divertem Em seu mundo fascinante E o vendeiro de iguarias a pronunciar Comidas tlpicas do Estado do Pará Tem pato no tucupi

bis

Muçuã e tacacá Maniçoba e tucumã Açal e aluá


- 36 G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE A morte da porta-estandarte (Walter da Imperatriz - Nelson Lima Caxarnbu - Denir)

Pra que chorar É tempo de samba com ernpolgação vamos recordar Rosinha Encantando a multidão Mulata brejeira Seu nome uma flor

r

Empunhava o estandarte Do bloco Lira do Amor Era carnaval A Praça Onze estava em festa Cantos e toques de clarins Pandeiros, surdos e tamborins Lá vem o bloco e o povo a gritar Abram alas minha gente Deixa Rosinha passar No auge da folia Urna alma em alucinação A morte da porta-estandarte E o negro sambista pedindo perdão

o, bis

o, o, o Ao longe um cantar dolente Levanta Rosinha, vem sambar Ela já não estã presente!


-

37 -

.-. G.R.E.S. UNIDOS DE LUCAS Cidades feitas de memória (Baianinho - Laci - Ledi Goulart)

Cidades feitas de memórias t o tema da História Que Lucas apresenta neste carnaval

Seus grandes amores, suas glórias, Cenário de beleza sem igual De Sabará as suas crenças E as atrações imensas Nos seus contos sensacionais A verdadeira legião de heróis Vila Rica de Ouro Preto Palco dos mais nobres ideais Terra de Chico Rei Negro que com sua inteligência enriqueceu E da grande amorosa da literatura Eterna Marí1ia de Dirceu Também nascida da febre do ouro Mariana, o tesouro De aventureiros que buscavam emancipação Barbacena formosa Cidade das rosas Canto os teus encantos com sublime emoçao São João del Rei, berço hatal De uma geração fenomenal Tiradentes, o heróico inconfidente Heliodora, poetisa imortal

t

grande o esplendor

Das obras de raro valor Lá em Congonhas do Campo bis

(Ápice da arte do mestre escultor Da legendária Diamantina Uma história que fascina E ao mundo deslumbrou Chica da Silva, a esc r ava, A alta nobreza conquistou.


-

38 -

G.R.E.S. EM CIMA DA HORA

' \ ·.

Personagens marcantes dos carnavais cariocas (Cigarra)

bis

t; Praça Onze t; pierrô e colornbina Arlequim e serpentina Tia Ciata a sambar Dos carnavais Modernos e de outrora Personagens marcantes Recordamos agora Compositores e cantores Reconhecemos seus valores Zé Pereira corn . seu burnbo original O Rei Morno comandando o pessoal E urna porta-bandeira Quanta alegria ve No .c arnaval As Escolas de samba são aquela atração Os blocos de sujo Arrastando a multidão olê, olê, olê, olã

bis

Sociedades rninh~ gente

r

E o Ameno Reseda.


-

G.R.E.S.

39 -

ACAD~MICOS

DO SALGUEIRO

O segredo das minas do Rei Salomão (Dauro - Zé Pinto - Mário Pedra Miragem de uma época distante Mil princesas procuravam descobrir Do Rei Salomão o segredo Das minas guardadas em terras de Ofir A rainha de Sabá apareceu Num cortejo que jamais se viu igual Com negrinhos e ao rei ofereceu De olhos verdes um presente original Presença feita de mistério Com fascínio e sortilégio Não consegue desvendar O caminho faiscante da riqueza Paraíso verde de encantação E da Fenícia veio o Rei Irã Em galeras alcança a terra das amazonas bis

Que sensação, que esplendor [ A natureza em flor Com elas numa noite enluarada Entre cantos e magia Fez a festa do prazer O muiraquitã da sorte Este amor mais forte Que jamais vão esquecer E o sol nascendo

bis

Vem clarear O tesouro encantado Que o rei mandou buscar.

Nininha Rossi)


'

40 -

\

G.R.E.S. PORTELA Macunaima, herói de nossa gente (David Correa - Norival Reis) Vou-me embora, vou-me embora bis

Eu aqui volto mais não Vou morar no infinito E virar constelação Portela apresenta Do folclore tradições Milagres do sertão A mata virgem Assombrada por mil tentações Ci, a rainha mãe do mato Macunairna fascinou Ao luar se fez poema Mas ao filho encarnado Toda a maldição legou Macunaima, índio branco catimbeiro

bis

Negro sonso feiticeiro [ Mata a cobra e dá o nó Ci em forma de estrela A Macunaima dá Um talismã que ele perde E sai a vagar Canta o uirapuru e encanta Liberta a mágoa do seu triste coraçao Negrinho do Pastoreio Foi a sua salvação E derrotando o gigante Era urna vez Piairnã Macunaíma volta com a rnuiraquitã Màrupiara na luta e no amor Quando sua pedra Para sempre o monstro levou O nosso herói assim cantou:


-

41 -

.

\

G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL O mundo fantástico do uirapuru (Tatu - Nezinho - Campo Gran

Sonhei, sonhei, sonhei Com a floresta encantada E o seu pequenino rei E o sol, os rios e as matas E sonoras cascatas Espelhando o céu azul E ao longe eu ouvia Em som de magia O canto do uirapuru Lendário pássaro cantor Quando canta seu amor Todos param pra escutar bis

[E quem ouvir o seu cantar Abraça a sorte e afasta o azar E no auge do meu sonho Um uirapuru surgiu Na imensidão da floresta Enriquecendo o folclore do Brasil

bis

Eu acordei Com seu canto original Radiante de alegria Porque era carnaval


-

42 -

' i

G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Quatro séculos de paixão (Tião Graúna - Arroz)

Quero o perfume das flores Ação luz e cores Nesta festa popular Eu sou o teatro brasileiro Da vida o espelho verdadeiro Sambando neste carnaval bis

Com a minha arte [ Que é imortal Barreiras as venço com bravura Transmitindo a toda gente Distração e cultura Sou a magia permanente Que na História do Brasil Sempre se fez presente

bis

Tenho beleza Sou a esperança Trago alegria Neste dia de folia


'

43 -

\

G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR Nos confins de Vila Monte (Cezão) Sob o sol escaldante Gemia o Nordeste de dor Nos confins de Vila Monte Uma triste história se passou O beato rezadeiro Arrastava a multidão E a fúria do cangaço Assolava o sertão Violeiros repentistas Cantam trovas ao luar Bumba-meu-boi, maracatu Mulher rendê, mulher rendá

0 Sinhô, ô Sinhá! bis

SÓ Isaura na Viola

[ Fazia o Nordeste cantar Numa união de sangue No adeus da despedida Nhá Branca deu a Bento Seu amor pra toda vida Velho Coronel Tonico Num ataque traiçoeiro Transformou menino Bento Num temivel cangaceiro Correu chuva, correu sangue Misturando-se no chão Branca e Bento Lampejo Foi mais um drama no sertão


'

- 44 -

.

G.R.E.S. BEIJA-FLOR O grande decênio (Bira Quininho)

~

de novo carnaval Para o samba este é o maior prêmio E o Beija-Flor vem exaltar Com galhardia o grande decênio Do nosso Brasil que segue avante Pelo

bis

c~u,

mar e terra

Nas asas do progresso constante [ Onde tanta riqueza se encerra Lembrando PIS e PASEP

bis

E também o FUNRURAL Que ampara o homem do campo Com segurança total O comércio e a indústria Fortalecem nosso capital E no setor da economia Alcançou projeção mundial Lembraremos também O MOBRAL, sua função Que para tantos brasileiros Abriu as portas da educação


1 9 7 6


- 45 G.R.E.S. BEIJA-FLOR Sonhar com Rei dá Leão (Neguinho - G.R.E.S. Beija-Flor)

Sonhar com anjo é borboleta Sem contemplação - sonhar com rei dá leão Mas nesta festa de real valor nao erre nao O palpite certo é Beija-Flor Cantando e lembrando em cores Meu Rio querido

dos jogos de flores

Quando o Barão de Drumond criou Um jardim repleto de animais, então lançou Um sorteio popular e para ganhar Vinte mil réis com dez tostões O povo começou a imaginar Buscando no belo reino dos sonhos Inspiração para um dia acertar Sonhar com filharada e o coelhinho Com gente teimosa na cabeça dá burrinho bis

E com rapaz todo enfeitado O resultado pessoal e pavao ou e veado Desta brincadeira Quem tomou conta em Madureira Foi Natal o bom Natal Consagrando sua Escola Na tradição do carnaval Sua alma hoje é águia branca Envolta no azul de um véu saudada pela majestade o samba

bis

l

E sua brejeira corte Que lhe vê no céu


-

46 -

G.R.E.S. PORTELA O homem do Pacoval (Noca - Colombo - Edir)

voando Nas asas da poesia A Portela em euforia Vive um mundo de ilusão E vem cantar Os mistérios da Ilha de Marajó Uma história que fascina Vem do alto da colina do Pacoval Sob o poder de Atauã O seu povo evoluindo Nas crenças, costumes e tradições E o Deus Sol Era figura de grandeza .A mãe Tanga a pureza Era simbolo da vida dos Aruãs

bis

Belzebu o Rei do Mal Era festejado em cerimônia especial

t

La, la, la •.• rara que seduzia pela magia do seu cantar E os Aruãs que felizes viviam Não há explicação no seu silenciar O seu tesouro foi a causa da invasão Mas os tempos se passaram Veio a colonização Viveram neste recanto de beleza Catarina de Palma e outros mais Terra abençoada pela natureza Com suas festas tradicionais

bis

[Vaquejada, boi-bumbá Vem o gaiola, vou viajar


- 47 G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Por mares nunca

bis

dantes navegados (Gibi - Sereno - Guga)

Eu vi mundos Nunca vistos nem sonhados Andei mares Nunca dantes navegados A História traz Feitos singulares Do heroísmo e da fé De outros mares De outras terras

bis

Que iluminaram poemas [ Que a nossa História . encerra Ao sabor das ondas

vem as naus

A branca espuma cortando E chegam afinal 'A ilha verde sem fim Onde num belo dia A saudade se fez bonança bis

[Ao chegar na terra da esperança Fundaram cidades Cruzaram raças Tornaram o sonho em realidade Tantos heróis, tanta grandeza A nossa História, oh! que beleza

bis

[Nasceste grande, ó meu País ~s soberano de um povo feliz


-

48 -

G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Invenção de Orfeu (Rodolpho - Paulo Brazão - Irani

Ilhado na imaginação Que mar de fantasia O poeta vai cantando Histórias tão sem história De tristeza e alegria No seu veleiro sem vela bis

Peixe que voa ( Ave que é proa Tem o barão triste barão Homem sem reinado Tem girassol reluzente Tem leão rei coroado Navegando, navegando

bis

Navegando sem parar Dedilhando sua lira Fazendo o vento cantar Em seu devaneio Imagens diferentes Cavalos todos de fogo Mulheres metade serpentes Nesta ilha inventada Procurando sua amada Seu candelabro astro rei A mulher imaginada Desperta então o poeta Clamando Orfeu, clamando Orfeu Uma luz nas trevas_se a~endeu

bis

Mentira pra quem nao cre [ Milagre pra quem sofreu


-

49 -

G.R.E.S. ACAD~MICOS DO SALGUEIRO Valongo (Djalma Sabiá)

Lá no seio d'Âfrica vivia Em plena selva fim da sua monarquia Terminou o guerreiro No navio negreiro Lugar do seu lazer feliz Veio cativo povoar nosso pais Seguiu do cais do Valongo No Rio de Janeiro Com suas tribos chegando Foi o chão cultivando sob o ceu brasileiro Nações Haússa Jeje e Nagô Negra Mina e Angola Gente escrava de sinhô Foram muitas suas lutas Para integração Inda hoje Desenvolvendo esta naçao Sua cultura, suas músicas e danças Reúnem aqui suas lembranças O negro assim alcançou A sua libertação E seus costumes abraçou Nossa civilização bis

r~ ~ ~ quando o tumbeiro chegou o o o negro se libertou

lo


-

50 -

G.R.E.S. UNIDOS DE LUCAS Mar baiano em noite de gala (Carlão Elegante

Pedro Paulo Joãozinho)

Zamburei, atotô, aiê

ieÔ, agoiê

O negro chegou às terras da Bahia No tempo do Brasil colonial Com seus costumes e crenças, fé sem igual O Delogun mareou todo o povo do mar Netuno a participar das louvações à rainha do Aiucá bis

~

ma

pedra, uma concha

Pedra e concha têm areia Quem mora no fundo do mar e sereia E o povo da terra em romaria Integrava-se à magia Os saveiros dos milagres No azul-verde do mar Senhores, sinhazinhas arrumadas E os pregoeiros a gritar: Tenho frutas, balangandãs

bis

Vem comprar Para a deusa -do mar lhe ajudar

t

Hoje a festa continua E a raça se iguala Cantos e batuques anunciam O mar baiano em noite de gala Muçurumim, . Nagô

bis

l

Omolocô, Congo e Guiné Atotô de Zambi-rei do Candomblé


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51 -

G.R.E.S. EM CIMA DA HORA Os Sertões (Edeor de Paula)

Marcado pela própria natureza O Nordeste do meu Brasil Oh solitário sertão De sofrimento e solidão A terra é seca Mal se pode cultivar Morrem as plantas E foge o ar A vida e triste nesse lugar Sertanejo é forte Supera a miséria sem fim bis

Sertanejo homem forte Dizia o poeta assim Foi no século passado No interior da Bahia Um homem revoltado com a sorte Do mundo em que vivia ocultou-se no sertão Espalhando a rebeldia Se revoltando contra a lei Que a sociedade oferecia Os jagunços lutaram

bis

Até o final Defendendo Canudos Naquela guerra fatal


- 52 G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Menininha do Gantois (Toco - Djalma Cril - G.R.E.S. Mocidade Independente de Padre Miguel)

Já raiou o dia A passarela vai se transformar Num cenário de magia Lembrando a velha Bahia E o famoso Gantois Arerê. . . bis

arerá

Candomblé vem da Bahia [ Onde baixam orixás Oh! meu pai Ogum Na sua fé Saravá Naná e Oxumaré Xangô, Oxóssi Oxalá e Iemanjá Filha de oxum :ra nos ajudar

bis

Vem nos dar axe Com os erês dos orixás

t

Minha mae Oh! minha mae Menininha

bis

Vem ver como toda a cidade Canta em seu louvor Com a Mocidade


-

53 -

G.R.E.S. IMPÉRIO SERRANO

A lenda das sereias, rainhas do mar (Vicente Mattos - Dinoel - Velo ,

O mar misterioso mar Que vem do horizonte É

o berço das sereias

Lendário e fascinante Olha o canto da sereia Ialaô

oque

ialoá

Em noite de lua cheia Ouço a sereia cantar E o luar sorrindo Então se encanta Com a doce melodia Os madrigais vão despertar

bis

Ela mora no mar Ela brinca na areia No balanço das ondas A paz ela semeia Toda corte engalanada Transformando o mar em flor Vê o Império enamorado Chegar à morada do amor Oguntê, Marabô

bis

Caiala

e Sobá

Oloxum, Inaê Janaina, Iemanjá


- 54 -

G.R.E.S. UNIDOS DE SÃO CARLOS Arte negra na legendária Bahia (Caruso - Caramba Dominguinhos do Estácio)

Abram alas meus tumbeiros Aos sete portais da Bahia ~ a arte negra que desfila Com seus encantos e magia Da sua terra trouxeram a saudade A capoeira, o berimbau Os enfeites coloridos O pilão, colher de pau Iorubá Banto Jej ê bis

No terreiro dançavam [ Samba e batuquejê Falavam a lingua nago Rezavam forte com fé Talhando arte deixaram Imagens do candomblé

bis

(Pro mau olhado figa de guiné Ricas mucamas de branco Com flores num só canto vão a Igreja do Bonfim ofertar

bis bis

(Ãgua ·no pote ao pai Oxalá Sarav~ _atotô Abaluaiê

[Ieman)a

Ogum Oxumaré


- 55 -

G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA No reino da Mãe do Ouro {Tolito Caminhando pela mata virgem Bravo bandeirante encontrou Grupos de nativos comentavam O que um trovão proporcionou No céu, sem as estrelas Mais um raio de luz se dirigia

à gruta de uma alma encantada

r

Era a Mãe do Ouro que surgia

bis

Obabá-ola-o-babá t a Mãe do Ouro que vem [ Nos salvar Num palácio encantado Onde um .tesouro existia Pedras preciosas bem guardadas Que a Mãe do Ouro presidia Homens e mulheres dominados Por imaginações e alegria Salões enfeitados Em multicores Dançavam até o romper do dia Obabá-ola-o-babá

bis

t

a Mãe do Ouro que vem

[ Nos salvar •..

Rubem da Mangueira)


-

56 -

G.R.E.S. UNIÃO DA ·ILHA DO GOVERNADOR Poema de máscaras em sonhos (Da Vila - L. Barbicha - Wilson Jangada - Dito - Mestrinho)

Delira a Praça Onze de encanto Com o mesmo quê de quebranto Em fascinação, feitiço e magia Ela que foi berço de bamba Santuário do samba Das Escolas e folia A União com seu lirismo Deleitada em romantismo Vem acrescentar Poemas de máscaras em sonhos Para a velha praça engalanar Em qualquer terra bis

O sonho fascina Na roda do tempo O amor de colombina Como é lindo e divinal O colorido de confete e serpentina E o desejo ardente de ar~equim Por amar a linda colombina Oh! mulher fascinação Dos cabelos cor de sol És a luz, minha vida, o arrebol Pierrô, eu te amo e te quero Te adoro e venero, coraçao do meu peito Pierrô abraçado à guitarra Sufoca o sonho do amor desfeito Crava, crava, crava as garras

bis

No meu peito em dor ( Diz o poeta, no seu desamor


- 57 G.R.E.S. TUPI DE BRÁS DE PINA Riquezas áureas da nossa bandeira (Caciça)

Ordem e Progresso bis

Este lema genial Alma vibrante Do pavilhão nacional O verde que envolve teu vulto Sagrado retrata Nossos lindos campos, nossas matas Espelhando as grandezas das serranias floridas

r

Tanto fulgor, quanta beleza Reproduz a natureza Nossos verdes mares, praias coloridas Que maravilha! o esplendor das terras brasileiras No amarelo da nossa bandeira Revelando os tesouros De um solo rico e fecundo Divino véu, manto estrelado Com seus raios cor de prata ~

este céu que o azul destaca

Perpetuando serenatas ~s

triunfal! Deslumbras, encantas, es colossal

bis

[A paz o branco exalta lTua legenda é divinal


-

58 -

G.R.E.S. LINS IMPERIAL Folia de Reis (Agnelo Campos - F. Alves)

Abre a porta oh! senhora bis

Muitas léguas caminhei Eu estou chegando agora Repetindo os três reis O samba vem homenagear Tradições antigas Do folclore popular Folguedos e cantigas Violas e violeiros Repentistas e trovadores Um singular cancioneiro As folias de reis euforia e cores Urna estrela anunciando Que chegou trazendo amor

bis

Pastorinhas vão cantando Dando loas ao Senhor Nas janelas as donzelas Moços, velhos e crianças Repicam os sinos da matriz Salvas e vivas às cheganças Miçangas, colares de dentes Lamentos e sons de correntes Na dança dos cururnbis Bumba-meu-boi olê, olá Me perdoe a confiança Em sua casa vou mandar


1 9 7 7


- 59 G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Panapanã o segredo do amor (Jajá - Tantinho) Mangueira! hoje em evolução Cantando mostra com louvor O mito em paz em sua máxima expressao Panapanã o segredo do amor Noite, inquietação transparecia No sussurro das matas Onde o amor existia No prateado arvoredo Pressentindo o segredo Aves com plangência se ouvia E Jaci engalanada Reinava até o raiar do dia Lindo amanhecer! Flores, terra, gente Guaraci todo luzente Dando a todos seu calor (para o amor) Chuva, som de cachoeira rara toda faceira Já surgia em seu esplendor Uirapuru era pura alegria Onde se via que da harmonia Dos seres nasce o amor Era lindo o ente alado Em rodopio multicor Era Rudá em pleno reinado Mostrando que a força da vida É o amor


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60 -

G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL "Samba" marca registrada do Brasil (Dico da Viola - Jurandir Pachec

Através dos tempos Que o nosso samba despontou, Trazido pelos africanos Em nosso país se alastrou Foi Donga que tudo começou bis

Com um lindo samba [ (Pelo Telefone) se comunicou E

no limiar do samba,

Que beleza, que fascinação! bis

Na casa da Tia Ciata [ Oh! Como o samba era bom! Dança o batuque Ao som da viola,

bis

Cai no fandango, Dá umbigada Na dança de roda. Grandes sambistas Mostraram o seu valor: Ismael Silva, Carmen Miranda Noel e Sinhô Mas surgiram As Escolas de Samba O ponto alto do nosso carnaval, E o nosso samba evoluiu E se tornou marca registrada do Brasil.


61

G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL "Ai que saudade que eu tenho" {Dida - Gemeu - Rodolpho)

bis

Abre a roda meninada [Que o samba virou batucada Ai que saudade que eu t e nho Da Lapa que simbolizou A boemia de ontem Que nem o tempo apagou Do Teatro de Revistas Que na Tiradentes Muito tempo imperou Ah! que saudade do Cassino

bis

Que mudou tanto destino [ E o artista consagrou

bis

Noel! ... ~s amor, es poesia Tua Vila carnaval Cantando nostalgia Como era lindo Nos carnavais O pierrô, a colombina E os ranchos tradicionais Da Praça Onze Que bom lembrar Quando as Escolas iam desfilar Onde os sambistas iam batucar


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G.R.E.S. UNIDOS DE SÃO CARLOS AlÔ! Alô! Brasil, quarenta anos de Rádio Nacional (Dominguinhos do Estácio)

A Rádio Nacional Está presente neste carnaval E vem contar a sua história Quatro décadas de glórias Descrita de maneira genial Divino é recordar Seu auditório cheio de alegria bis

fAnimado por César de Alencar ~utrora campeão da simpatia Locutores e cantores Que lhe deram aquela dimensão Sobrevive ainda Jorge Cúri Dos tempos de Cordeiro e de Frazão Fazem parte da sua aquarela Roberto e Floriano Faissal Cauê Filho, Henriqueta Brieba Isis de Oliveira e Elza Gomes Filho de Maria homem nasceu

bis

Cerro Bravo foi seu berço natal O Detetive Anjo e o Metralha são partes da parte policial O Primo Pobre Procurava o Primo Rico Sempre que se via em aflição O Peladinho Dava o pulo da vitória Depois de cada jogo do Mengão Hei Balança Balança Balança Balança Mas Não Cai Oi Balança Balança Balança Mas Não Cai


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S.E.R.E.S. UNIDOS DO CABUÇU Sete Povos das Missões (Waldir Prateado)

Vamos cantar Os jesuitas e os indios do Brasil Com heroismo fundaram . Os Sete Povos das Missões Em terras férteis bis

Não tardaram a florescer Grandes cidades, riqueza e cultura Onde irmanados trabalhavam pra vencer Cobiçados pelos Bandeirantes De sbravadores de terras a procura do ouro Chegaram a Tupã-Abaé E pelo Natal atacaram as missões Indígenas e jesuitas Deram combate aos cruéis bandeirantes Sangue dos dois lados

bis

Corria a todo instante Pouco a pouco as missões começaram a cair [ Estava desfeito o sonho de uma nação Guarani Lá ... no ceu Continua brilhando o valente cacique Sepé Tiaraju Que fulgor têm as estrelas Da constelação do Cruzeiro do Sul Boi-Barroso ~ingué~ consegue laçar

bis

Tata-Manha, Mae do Oure [ A guarda fiel de Cumbaé-Avá


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64 -

G.R.E.S. IMPÉRIO SERRANO Brasil berço dos imigrantes (Roberto Ribeiro - Jorge Lucas)

É tempo de carnaval Hoje as cores do Império vêm saudar a imigração Numa doirada alegria Neste dia de folia O samba é anfitrião Desta gente que ao chegar Semeou nesta terra Seu folclore popular Brasil berço dos imigrantes Sua raça e mistura Sem cessar O povo .com seu sorriso Vem pra Avenida festejar Violas e pássaros bis

Clarins de vento O arlequim Entoando um canto lento Num céu de serpentina Um pierrô a desfilar O dominó ganhou confete E ao imigrante foi saudar Olha o passo da mulata

bis

Esplendor da colombina Canta e samba minha gente Nesta festa que domina Lá, lá, lá, lá


- 65 G.R.E.S. BEIJA-FLOR Vovó e o rei da Saturnália na Corte Egipciana (Savinho - Luciano - G.R.E.S. Beija-Flor Caiu . dos olhos da vovo Uma lágrima sentida Lembrando imagens de criança Do velho tempo que passou O seu pranto é colorido Nas vivas cores da televisão Que hoje assiste recordando Formosos Ranchos E Grandes Sociedades O esplendor da noite Como era lindo"A Presença do Dia" "A Corte Egipciana 11 Enredos de nostalgia Não chóre nao vovo Não chore nao Veja quanta alegria Dentro da recordação Relembre a graça do entrudo E o fascinio do baile de Veneza Lá em Roma pagã Para festejar a primavera Colhiam frutos e faziam orgia Que começavam ao romper do dia E vinha um rei Num belo carro naval bis

Alegrando a saturnália · Inventando o carnaval De lá pra ca tudo se transformou Mas a vitória da folia ficou No encanto do meu povo que brinca Sambando quando samba a Beija-Flor


G.R.E.S.

66 ACAD~MICOS

DO SALGUEIRO

Do cauim ao efó, com moça branca, branquinha (Geraldo Babão - Renato de Verd A moça branca é amiga Não há quem diga que nao tem valor Só por ser tão boa Vive assim à-toa, sem querer se impor Ela dá coragem, dá vantagem Dá inspiração bis

E não admite [Falta de apetite numa refeição No Salgueiro vem Vem · gente que bebe pra esquecer Vem gente que sabe beber e comer Vem gente que bebe pra esquecer Vem gente que sabe beber e comer Churrasco no Sul, Buchada no Norte, Tutu à mineira, Com pinga, da forte Comendo efó Jerimum com jabá Feijoada, peixada, Ou um bom vatapá Tem que ter cachaça Ela nao pode faltar ...

bis

[···E depois quindim E doce de leite com amendoim


-

67 -

G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Viagem fantástica às terras dQ Ibirapitanga (Walter d~ Imperatriz - Carlinhos Madrugada - Nelson Lima) Partiram caravelas de Portugal Em busca de riquezas Das terras descobertas por Cabral Seguindo por caminhos verdejantes Chegam às terras dos Incas Uma paisagem colossal Guainapac era seu rei Filho do sol coroado Era só de ouro e prata Seu palácio encantado Iludida a expedição Do tesouro tão sonhado Alcançam as montanhas de vidro E surge o país namorado Ibirapitanga que esplendor Mulheres guerreiras em orgia Borboletas em cores e a Iar.a Deusa do encanto e magia Seguem o Rio Amazonas Despontam no Eldorado Que tinha um rei todo em ouro Poderoso estimado Chegam à foz os navegantes A pororoca, beleza sem igual Vibram com tanta riqueza Um fato marcante Do desbravamento nacional


G.R.E.S~

68 -

UNIÂO DA ILHA DO GOVERNADOR Domingo (Aurinho da Ilha - Ione do Nascimento - Adhemar de A. Linhares Waldir da Vala)

Vem amor Vem à janela ver o sol nascer Na sutileza do amanhecer Um lindo dia se anuncia Veja o

despert~r

da natureza

Olha amor quanta beleza O domingo

~

de alegria

No Rio colorido

pelo sol

As morenas na praia Que gingam no samba E no meu futebol Veleiros que passeiam pelo mar E as pipas vão bailando pelo ar E no cenário de tão lindo matiz O carioca segue o domingo feliz Vai o sol e a lua traz no manto Novas cores mais encanto A noite ~ maravilhosa E o povo na boate ou gafieira Esquece da segunda-feira Nesta cidade formosa Há os que vao pra mata bis

Pra cachoeira ou pro mar Mas eu que sou do samba Vou pro terreiro sambar


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G.R.E.S. IMPtRIO DA TIJUCA O mundo de barro do mestre Vitalino (Biel Reza Forte

Adilson da Vio Chipolléchi)

O Nordeste novamente é lembrado Na figura deste humilde escultor bis

Vi talino com seu mundo de barro

[Matéria que Deus criou ele valorizou Poeta do sentido figurado De uma simplicidade sem igual Que fascinado simplesmente Retrata o Nordeste e sua gente Grupo de bravos soldados Camponês e lenhador Boiadeiros e rendeiras Lampião e seu amor O caçador com seu cao a farejar

[

~~do isso lá na feira

bis

E louça de brincadeira Feita de barro tauá Folguedo do Maracatu Urna festa tradicional Onde o poeta Se fez internacional óia bonecos de barro

bis

.

-

Quem que compra-

Leva boneco freguesa Pras crianças alegrá


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70 -

G.R.E.S. PORTELA Festa da Aclamação (Catoni - Dedé da Portela - Jabolô Waltenir)

bis

Carnaval ... Festa do povo Aclamação é festa de novo O dia raiou  tarde a passarada anunciou Que a noite era festa Ao som de clarins A corte se apresentou Em vários dias de festa A cidade se veste Com seu traje mais novo A praça em alegria se engalana Para receber o nosso povo Tribuna real, camarote e nobreza Que maravilha de luz e de cor O povo canta e o rei se encanta Com a força do canto de amor Viva o Rei, viva o Rei Dom João

bis

O Rei mandou vadiar Na festa d'aclarnação Que beleza Urna india com o seu manto real Que lindas alegorias O deus Netuno protegendo o pessoal Vejam nesta passarela A imagem daquela festa tão bela


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71 -

G.R.E.S. BEIJA-FLOR Criação do mundo na tradição nagô (Neguinho da Beija-Flor - Mazinho Gilson)

rê rê rê iê rê iê rê ô ô o o bis

Travam um duelo de amor [ E surge a vida com seu esplendor Bailou no ar O ecoar de um canto de alegria! Três princesas africanas Na sagrada Bahia Iakalá, Iadetá, Ianassô Cantaram assim a tradição nago Olorum!

senhor do infinito!

Ordena que Obatalá Faça a criação do mundo Ele partiu desprezando Bará E no caminho adormecendo se perdeu Odudua A divina senhora chegou E ornada de grande oferenda Ela transfigurou Cinco galinhas d'angola e fez a terra Pombos brancos criou o ar Um camaleão doirado Transformou em fogo E caracóis no mar Ela desceu por cadeia(s) de prata Em viagem iluminada Esperando Obatalá chegar Ela e rainha Ele e rei e vem lutar


- 72 G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Brasiliana (Gilson Loiola - Djalrna Santos Dornenil)

bis

Ei ... terra-chão, terra-chão [Nosso céu azul de anil Veja a alma brasileira Radiante, hospitaleira Artes e festas do Brasil Foi Dona Santa, rainha do rnaracatu E famoso Vitalino, na feira de Caruaru

bis

Bumba-meu-boi, meu boi-burnbá [ Cadê meu boi, Mateus, onde e que está No lendário São Francisco Tem carrancas a navegar E tecem rendas com belezas Rendeiras do Ceará Que sedução a festa do Divino Cristãos na cavalhada Pelejando corno é lindo Na Bahia tem romaria, tem, tem sim

bis

Flores e água de pote [ Na lavagem do Bonfim Louvor a São Benedito Barco tão bonito, segue a procissão E o nosso Rio

e um desafio

Com seu carnaval atração O boto se transforma em namorado Bailarino encantado e sedutor ideal E o sacristão guarda o tesouro Da famosa Salamanca do Jarau Olha o saci pererê bis

Cobra grande e caipora Deslumbrando todo mundo Mocidade mostra agora


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73 -

G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR

o amanhã (João Sérgio) A cigana leu o meu destino Eu sonhei Bola de cristal, jogo de búzios, cartomante Eu sempre per guntei O que será "o amanhã"? Corno vai ser o meu destino? Já desfolhei o mal-me-quer Primeiro amor de um menino E vai chegando o amanhecer Leio a mensagem zodiacal E o realejo diz Que eu serei feliz sempre feliz Corno será amanhã? bis

Responda quem puder O que irá me acontecer O meu destino será corno Deus quiser


- 74 G.R.E.S. ARRASTÃO DE CASCADURA

Talaque, talaque .•. O romance da Maria Fumaça (Pestana - Jorginho do Pandeir ' Plantando cidades bis

Em cada rincão "Maria Fumaça" Conquista o sertão Através dos campos e vales De rios e lagos Deste imenso Brasil Qual um bandeirante Com raça, valente A "pretinha" seguiu ..• Lá vai o trem, lá vai

bis

Subindo a serra Deixando e levando saudades, Pra quem vive nesta terra Abertos caminhos A primeira "maria" passou Com afeto e carinho De "baronesa" o povo a chamou Outras "marias" vieram: "Zezé Leoni" beleza sem par "A Romana", a "Faustina" Quantas estórias pra contar ...


r

r

- 75 G.R.E.S. PORTELA Mulher ã brasileira (Jair Amorim - Evaldo Gouveia)

bis

Olê! Olê! Olê! Olá! Podem falar Mas mulher como a nossa igual nao há Amor! amor! amor! A mulher em festival Traz a Portela ~

riso! e luz! ê cor!

É poema o carnaval

Falando nela Tanta história pra contar Tantos nomes pra lembrar Com ternura e emoção Das heroínas que são Nosso orgulho e nossa tradição Dessas mulheres gentis Que fizeram meus país Feliz! Vou cantar pra exaltar! Um sorriso em sua boca Um olhar daquele jeito Nossa alma fica louca Coração bate no peito Brancas, negras e morenas têm, ora se têm! O feitiço que as mulatas têm, e como têm! Brasileira é uma beleza em flor E beleza não tem cor!


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76 -

G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Dos Carroceiros do Imperador ao Palácio do Samba (Rubens da Mangueira - Jurandir) Trago para este carnaval Um passado de grande valor Quem descreve este tema ~

o Carroceiro do Imperador

Quantas saudades Do famoso Marcelino Foi um grande mestre-sala Desde os tempos de menino Brigão e arruaceiro bis

Era o grande destaque [

Do Bloco dos Arengueiros Não posso esquecer Buraco Quente, Santo

Antôn~o

e Chalé

E o ponto alto da E3cola Mestre Candinho, Tia Tomázia e Cartola Chorava a viola Em noite enluarada Samba duro no Faria Ia até de madrugada Canto a minha história bis

De um celeiro de bamba CinqUenta anos de glória Estão no palácio do samba


-

G.R.E.S.

77 ACAD~MICOS

DO SALGUEIRO

Do Iorubã ã luz, ã aurora dos deuses (Renato de Verdade)

bis

Saruê! baiana iorubana [Da saia amarrada coa "pãia" da cana Olorum ... ô ô ô

Misto de infinito e eternidade

Também teve seu momento de vaidade Criou a terra, e o céu de Oxalã Pra gerar Aganju e Iemanjã E Iemanjã, além de Xangô Em seu ventre doze entidades gerou Pra reinarem pregando a paz e o amor Enquanto Oxumaré

com bom gosto e singeleza

Matizava a natureza Ifã mandou Exu, o mensageiro Abrir caminhos pelo mundo inteiro E quando os tumbeiros apertaram Reis, heróis e deuses de Iorubã Em seu novo mundo aclamaram Xangô, seu pai no axé opô afonjá E os pretos-velhos, na Bahia Ainda seguem seus antigos rituais Usando a mais pura magia Nos terreiros de famosos babalorixás


- 78 G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Dique, Um mar de amor (Jarbas - Boanézio - Garganta de Ferro - Augusto Messias) Vindo da África distante Lendas e crenças fascinantes Só vovo sabe contar Como se fez bela a natureza Os deuses de grandeza O céu, a terra e o mar De uma grande união Formou-se uma naçao Com todos os seus orixás Força, luz e esplendor Pra governar O seu reino de amor Todo ano na Bahia tem romagem Na mistura de seus cantos São preces em homenagem Chuê chuê Chuê chuá bis

As ondas levam saveiros [Com oferendas à Iemanjá Lendas e crenças Vamos mostrar pra voces

bis

vovô, por favor conte outra vez


-

79 -

G.R.E.S. ARRANCO Sonho infantil (Aldyr do Arranco- Sinval [Vovô]~ A natureza está em festa ~

natal no meu Brasil

Rena e trenó não tem

bis

Papai Noel vem de trem D~rme filhino ou Papai Noel nao vem,

[Ve

se sossegas ou Bicho Papão te pega No sonho infantil, tudo foge à realidade Uvas se transformam em belas damas Presentes chegam dançando Surge o mundo de ilusão Nas histórias que contava a vovozinha

bis

Onde Dom Ratão todo feliz Casava com a Dona Baratinha Chegou o macaco cozinheiro, divertindo a bicharada [ Vai correndo pra cozinha, preparar a feijoada Num castelo fascinante, bate o sino na capela ~

hora do desencanto, sai correndo Cinderela

E o príncipe

~ncantado

o seu sapatinho encontrou

E a alegria foi geral, quando com ela se casou bis

A orquestra tocou Lará, Lará, lará, lará, larã, lará, lará [E dançando esta valsa a corte festejou


- 80 -

G.R.E.S.

IMP~RIO

SERRANO

Oscarito, carnaval e samba, uma chanchada no asfalto (Nina Rodrigues - Aidno Si Ubirajara Cardoso)

Era criança Ficou com a herança Que sua família deixou O seu sonho dourado Foi realizado A platéia lhe amou Quem não viu bis

Venha ver O rei das gargalhadas Na Avenida acontecer Nos picadeiros O povo lhe aplaudiu No teatro e no cinema O seu conceito subiu "Cupim" "Papai Fanfarrão" "Golpe" "Zero à Esquerda" Foram seus sucessos teatrais Relembramos suas fitas geniais Hoje Uma chanchada no asfalto O Império

engalanado o eleva

No pedestal mais alto No verde e branco bis

É um barato legal

Oscarito é curtição Do nosso carnaval


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G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Oxumaré - lenda do Arco-1ris (Gibi - Darcy do Nascimento Dominguinhos do Estácio) O arco-iris Colorindo a passarela Para Oxumaré passar Os orixás estão em festa Oi deixa a Gira girar Bata palma mae pequena bis

Batam palmas iaôs Firma ponto meu oga No rufar do seu tambor Olha lá o arco-iris Fazendo a natureza chorar Menino vira menina Quando por baixo passar Diz a crendice popular O rei ficou ciente De tudo que aconteceu Por que foi que os rios secaram E o ceu escureceu E os negros africanos Com a sua tradição Quando vêem o arco-íris Fazem esta louvação

bis

[Arroboboia, Oxumaré


- 82 G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Avatar ... e a selva transformou-se em ouro (Rato do Tamborim - Tolito Ananias)

bis

Tem mulata pessoal [ Na colheita do cacau Vem do céu Todo esplendor A transformação em ouro Da selva que Deus criou verde Onde a mata Cacaueira Que a mae natureza despontou Neste solo rico e fecundo Onde o plantio se alastrou

bis

Tem

mulatapessoal

[Na colheita do cacau Amazônia foi a região Onde surgiu Incentivando a indústria Cacaueira Como fonte de riqueza do Brasil E na Bahia onde o braço forte Na lavoura prosseguiu Motivado pelos bravos camponeses No trabalho poderoso Do Brasil


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83 -

G.R.E.S. ACADEMICOS DO SALGUEIRO O reino encantado da Mãe Natureza contra o Rei do Mal (Bala - L. Marinheiro - Caica)

bis

E a natureza Com seu cenário multicor Refloresce novamente Com todo seu esplendor Oh! Doce mãe natureza Seus lindos campos Verdes matas e seu imenso mar Oh! que beleza .•. no infinito O sol ardente sempre a brilhar E o revoar da passarada Bailando neste céu sem fim Na primavera

bis

As lindas flores [ Desabrocham nos jardins Mas surgiu o rei do mal Com a chegada do progresso Abalando a estrutura mundial Poluindo nossa terra Aniquilando o que Deus abençoou E quem sofre é a naçao Nesta batalha Onde não há vencedor


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84 -

G.R.E.S. PORTELA r

Incrível, fantástico, extraordinário (David Correa - Tião Nascimento J. Rodrigues)

Chegou o carnaval, Vou me abraçar com a cidade Eu quero saber só da folia Nesta festa que irradia Sonhos mil, felicidades, Oh! quanto esplendor! Há palhaços, colombinas, arlequins e pierrôs O povo vai viver doce ilusão Se extasiando no jardim da sedução! ...

6 6 O O 6 O O O! Alegria já contagiou bis

A ordem do rei é brincar

[ Quatro dias sem parar! ... Incrivell fantásticoJ extraordinário! O talento de um povo Que mantém acesa a chama da tradição O carioca tem um que Sabe amar e viver Ao dançar no salão ou no cordão Trabalha de janeiro a janeiro Em fevereiro cai na delicia da folia, Mestre-sala e porta-bandeira Riscam o chão de poesia! "Segura" baiana bis

Ioiô e iaiá! Na quarta-feira Tudo vai se acabar


- 85 G.R.E.S. UNIDOS DE SÃO CARLOS Das trevas à luz do sol, uma odisséia dos Carajás (Elinto Pires - Leleco)

Olê Olê bis

Olê Olá Se a vida tem segredo Urubu-rei pode contar Conta a lenda Que os Carajás Vieram do furo das pedras Tal e qual os javaés E os xambioás No seu mundo encantado SÓ na velhice que a morte acontecia E a siriema despertou ô o A curiosidade que havia Kaboi o avoengo reuniu Guerreiros para explorar a terra E ficou desiludido Resolveu contar tudo a seu povo Que dividido partiu para um mundo novo Kanax ivuê Bravo guerreiro casou com Mareicó E foi procurar a luz Para tornar o seu mundo bem melhor Morreu numa imensa odisséia Quando urubu-rei apareceu Lhe deu a vida, o Sol, as estrelas E o luar E assim surgiu A lenda dos Carajás


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86 -

G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR O que será? (Didi - Aroldo Melodia) Eu queria saber agora O que será Vou perguntar À Menininha do Gantois Pode ser um grande herói índios, africanos ou magia Ou sera um tema da velha Bahia? Já ouvi dizer que é Debret Ou antigos carnavais Mas se for-candomblé bis

Eu peço axe [Aos meus orixás Depois no barracão Suor, amor e fantasias Alas, figurinos e passistas Harmonia e ritmistas Até o raiar do dia E as lágrimas de alegria e dissabor Modificam o rosto do poeta No meio de um cenário multicor Está na hora é carnaval

bis [

O artista descreveu Um enredo original


-

87 -

G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Descobrimento do Brasil (Toco - Djalma Cril)

A musa do poeta E a lira do compositor Estão aqui de novo Convocando o povo Para entoar um poema de amor Brasil! Brasil! Avante meu Brasil Vem participar do festival Que a Mocidade Independente Apresenta neste carnaval De peito aberto é que eu falo bis

Ao mundo inteiro [ Eu me orgulho de ser brasileiro Partiu de Portugal com destino as índias Cabral comandando as caravelas Ia fazer a transação com o cravo e a canela E de repente o mar transformou-se em calmaria Mas Deus Netuno apareceu Dando aquele toque de magia E uma nova terra Cabral descobria Vera Cruz, Santa Cruz

bis

Aquele navegante descobriu E depois se transformou nesse gigante Que hoje se chama Brasil


- 88 -

G.R.E.S. BEIJA-FLOR O paraíso da loucura (Mara - Luciano - Walter de Oliveira) Hoje sou livre Sou criança beija-flor bis

Amante da beleza Sou um ser espacial O O O O O O O O brindando a vitória do amor Ao ressoarem os clarins da folia O sonho Filho da noite e do infinito e o rei No paraíso da loucura Ao povo proclamou A seguinte lei: Esqueçam os problemas da vida O trem, o dinheiro e a bronca do patrão Não pensem em suas marmitas E no alto preço do feijão

bis

Joguem fora a roupa do dia-a-dia [ E tomem banhos no chuveiro da ilusão Olhem o ceu que maravilha Retalhos de nuvens, bordados de estrelas Quando o sol e a lua brilham A natureza vem mostrar sua beleza Tudo neste mundo é encantado Como o despontar da primavera Tirem do passado a nobreza E do futuro a magia da surpresa Entrem no jardim das delícias Pela porta da imaginação Criem a fantasia mais linda Delirem neste canto de emoção


f'l

1 9 8

o


- 89 -

G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Tropicália maravilha (Djalrna Santos - Arsênio - Dornenil

Baila no ar a poesia A Mocidade irradia Sua magia neste carnaval Oh

natureza linda

Deu beleza infinda A este pais tropical Tropicália

maravilha

É enredo e fascinação

Rios e cascatas bis

Corno um véu de prata [ Na imensidão E neste turbilhão de luz Vem a flora e a fauna Brasileira que ~eduz O cravo brigou com a rosa Por causa da margarida gostosa Terra boa, tudo que se planta dá E o gorjear da passarada Anunciando a alvorada Numa sinfonia de amor Tupinarnbá ê ê iorubá

bis

Oropa, França e Bahia [ Salve meu pai Oxalá


- 90 G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE O que que a Bahia tem (Darcy do Nascimento - Dominguinhos do Estácio) Reluzente como a luz do dia Bela e formosa como as ondas do mar Encantadora e feliz Chega a Imperatriz Fazendo o povo vibrar Eh

Bahia vou cantá-la

Nos meus versos, vou contar Teu passado glorioso, teu presente já famoso E o futuro Deus dirá Pega na barra da saia Vamos rodar bis

[La laiá, la laiá, lá laiá Bahia terra da magia, da feitiçaria E do candomblé

bis

Caô meu pai caô [ Caô meu pai Xangô Que coisa

~inda

ver

O ritual do lava-pés A lavagem do . adro, as catedrais E o pregoeiro a dizer Quem vai querer bis

Quem vai querer Fubá de castanha Pé-de-moleque e dendê


- 91 -

G.R.E.S. Império das

IMP~RIO

SERRANO

ilusões, Atlântida, Eldorado, sonho e aventura (Durval - Joaquim)

Em sonhos coloridos No império das ilusões Viajei por caminhos floridos Num carrossel de emoções Ao se abrir a porta do sol A luz me levou ao passado milenar Eu vi o reino encantado Que aventureiros sonhavam encontrar Pelas matas verdejantes Rios bravios ouvi cantar Vi guerreiras enfeitadas com brilhantes Vitórias-régias flutuando ao luar Nas cidades por onde passei Com castelos de safiras me encantei Nessa aventura divinal Encontrei montanhas de cristal O vento trazia poeira, poeira de ouro bis ,ri

[ E transformava meu caminho em tesouro A roda do tempo transformou em mar Um cqntinente de riqueza Minha ilusão foi procurar O que restou de tanta beleza Quando despertei do meu sonho

bis

Num cenário iluminado Vi no Império Serrano A sedução do Eldorado


- 92 -

G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR Bom, bonito e barato (Robertinho Devagar - Jorge Ferreira Edinho Capeta)

Colori Com toda a minha simpatia Um visúal de alegria Cante comigo esta cançao de amor Sou a comunicação Não tenho luxo e nem riqueza

t

Há simplicidade e beleza Na festa do seu coraçao Muito bom, o meu bonito e barato bis

Da simpatia, o retrato ( Do povo no carnaval Obrigado Madrinha Portela Que me ajudou a caminhar Caminhei ... e onde andei Pelos caminhos meu nome deixei Nos Confins de Vila Monte eu decantei Com um sorriso de esperança A Praça Onze delirei Domingo, na sutileza do amanhecer Meu colorido encantou você será? Amanhã, o que será? o que E outra vez na passarela Colorida e tão singela O sangue novo faz toda gente vibrar

bis

Sou eu , sou eu [ Trazendo felicidade, sou eu


- 93 -

r G.R.E.S. PORTELA Hoje tem marmelada (David Corrêa - Norival Reis - Jorge Macedo)

A brisa me levou ô ô Para um reino encantado Onde eu me fiz menino-rei E era o circo O meu palácio dourado Como é doce Ser criança outra vez E me atirar nos braços da alegria Quero me perder na minha imaginação E brincar na ilusão

oooooo bis

Vem de lá Ô criançada Que hoje tem marmelada [ Pois o circo já chegou E neste reino encantado A arte se faz aplaudir Me embala na rede do tempo Feliz sonhador, sou criança e vou sorrir Arranco do peito um aplauso E num abraço venho homenagear Hoje a alegria do palhaço Na tristeza dá ·um laço E faz minha Escola cantar

o bis

raia o sol o dim, dim Suspende a lua dim, dim

Salve o palhaço Que está lá no meio da rua


-

94 -

G.R.E.S. BEIJA-FLOR

o sol da meia-noite lima viagem ao país das maravilhas (Zé Do Maranhão - Wilson Bombeiro - Aluizio) Preta velha imaginou outra estória e vai contar Preta velha já falou que nos vamos viajar Galopando em cavalos alados Chegamos ao País das Maravilhas Iluminado

pelo sol da meia-noite

Bela fantasia infantil Recebidos por soldadinhos de chumbo Entramos na floresta encantada Brincamos com cataventos, pipas e piões No enlace da Barata e Dom Ratão bis

~ogar

xadrez, pique-bandeira

~ular carniça tudo

é brincadeira

Um gênio cria fogos de artifício Os animais falam e as flores cantam Neste lindo encanto eis o resplendor E a magia das mil e urna noites Chapeuzinho, Lobo, Cinderela a Gata Branca de Neve e os Sete Anões A Chita correndo com o Saci Pererê E todos falando a língua do P

bis

P-B P-RU P-XA Levantando a poeira [ Até a bruxa vem brincar Olha ciranda vamos todos cirandar E na terra dos brinquedos Todo mundo recordar índio, malandro, a baianinha, oriental Outra vez eu sou criança e Beija-Flor no carnaval


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95 -

G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Sonho de um sonho (Martinho da Vila- Rodolfo - Graúna)

Sonhei Que estava sonhando um sonho sonhado O sonho de um sonho Magnetizado As mentes abertas Sem bicos calados Juventude alerta Os seres alados bis

Sonho meu [ Eu sonhava que sonhava Sonhei Que eu era um rei que reinava Corno um ser comum Era um por milhares Milhares por um Corno livres raios Riscando os espaços transando o universo Limpando os rnorrnaços

bis

Ai de mim [ Ai de mim que mal sonhava Na limpidez do espelho so vi coisas limpas Corno a 1~ redonda Brilhando nas grimpas Um sorriso sem fúria Entre réu e juiz A clemência, a ternura Puro amor na clausura A prisão sem tortura Inocência feliz Ai meu Deus Falso sonho que eu sonhava Ai de mim Eu sonhei que nao sonhava Mas sonhei

I,


- 96 G.R.E.S. ACAD~MICOS DO SALGUEIRO

o

bailar dos ventos, relampejou mas não choveu (Ala dos Compositores) Salgueiro se apresenta novamente Saudando o grande povo em geral Bailando com a pureza dos ventos Num sonho infinito e colossal Trazendo de uma terra tão distante A lenda dos divinos Orixás

bis

(Eparrei, Iansã, ilumine o dia de amanhã A tarde desceu mais cedo

bis

Quando da taça bebeu [Na caminhada trovejou mas nao choveu Conta a lenda que a deusa Oiá Foi aconselhada por Ifá A buscar a cura em Sabadã Pra Obaluaiê se levantar A borboleta encantada Enfeitiça a deusa Oiá Que irada espalha o bem ... Oiá No reino sagrado e salva os Orixás

bis

Oxum vaidosa Querendo Odé conquistar Veste riqueza E consegue se casar


- 97 G.R.E.S. UNIDOS DE SÂO CARLOS Deixa Falar (Elinto Pires - Sidney da Conceição)

Vai levantar poeira Oi deixa o couro comer O Estácio virou tema Seu passado e um poema Agora e que eu quero ver ... ~ o samba,

iaiá

:t: o samba, ioió bis

Mostrando pro mundo inteiro O seu berço verdadeiro Onde nasceu e se criou :t;

bis

samba de roda

Batucada e candomblé capoeira e gafieira dando olé

[ Tem

Foi Ismael O criador da primeira Escola Ao som do surdo e da viola Fez o nosso povo cantar Poesia e fantasia Num carrossel de ilusão Viemos mostrar agora O velho Estácio de outrora Revivendo a tradição - . . o ... Deixa falar, o.

-

bis

Deixa falar Relembrando aquele tempo Que não pode mais voltar


- 98 G.R.E.S. ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA Coisas nossas (Carlos Roberto - Ney da Mangueira Aylton da Mangueira)

Excitando a mente a poesia

o poeta descobria Momentos de raro prazer E nessa linda melodia Coisas nossas dia-a-dia A Mangueira vem trazer Juruna, fantasia e frevo Petrobrás sondando o mar Coisas que ora descrevo A ainda há mais pra narrar Frutas de todas as cores bis

Num pomar de pureza Os mais diversos sabores Obra da Mãe Natureza E no campinho a gurizada Atrás de uma bola a rolar Mata no peito, dá lençol; faz embaixada Se torce o pé vai a rezadeira curar Rosto colado a noite inteira Baila-se na gafieira Se há bebida, há comida e violão Tem sempre um pagode do bom

bis

[Quem vai mais, quem vai mais Pode parar que o galho é valete e as


r

1 9 8 1


-

99 -

G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE O teu cabelo não nega Lalá (Gibi - Serjão - zé Catimba)

Neste palco iluminado SÓ da Lalá És presente, imortal bis

SÓ dá L alá Nossa Escola se encanta O povão se agiganta É dono do carnaval lá Lamartine lá Lá lá lá Lamartine lá Lá - lá Em teu cabelo não nega Um grande amor se apega

bis

Musa divinal Eu vou m'embora Vou no trem da alegria Ser feliz um dia Todo dia é dia Linda morena Com serpentinas enrolando foliões Dominós e colombinas Envolvendo corações Quem dera Que a vida fosse assim Sonhar, sorrir Cantar, sambar E nunca mais ter fim


-

G.R.E.S.

100 -

ACAD~MICOS

DO SALGUEIRO

Rio de Janeiro (Buguinho - Henrique - Mauro Torrão) Quem pode pode se sacode, explode Se sacode, explode no jogo ô ... Quem pode pode veste a fantasia Ou e so folia o ano todo SÓ voce Enche minh'alma de alegria e prazer

('.

Dá ao sol o mais sublime amanhecer Quero lhe abraçar e desejar Muitos anos de existência Oh meu Rio de Janeiro Mar aberto sob o sol Como é belo seu arrebol Quando Estácio de Sá aqui chegou Em plena natureza com heroismo lhe berçou Oh bela ••• formosa~ .. eterna capital Do povo carioca tão legal bis

Lar doce lar que o Senhor abençoou [ Enchendo o Rio de amor E a nobreza lhe abraçou Na colônia, na coroa imperial E logo a República chegou Sempre encantando o seu porte natural Num turbilhão de luz e cor A boemia e o alegre carnaval Mulatas ... poesias ... e humor Faz sua vida tão arteira e cultural


- 101 G.R.E.S. UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR 1910 - burro na cabeça (Franco - Barbicha - Jangada - Dazinho

O mago ô ... do tempo Me apareceu em sonho E me levou por um chão salpicado de estrelas Numa carruagem encantada voltei Ao meu Rio de Janeiro Cantando em poesia, louca fantasia Eu vivi As cacetes me chamavam de cherie Mon amour, oui oui, mon petit O bonde de ceroula eu peguei Pra ver "Aída" no Municipal Na Avenida Central eu vi A moda e o charme de Paris bis

(Tudo era festa e o meu povo era feliz E no Palãcio do Catete Com seu violão num dedilhado Dona Nair de Teffé Tocava Chiquinha Gonzaga Provocando um movimento musical Rui "barboseava" no Senado Dizendo ser grosseira A música popular brasileira Num requebrado bem apertado O corta-jaca eu dancei Cortajacando bem gostoso num roçado Foi tudo um sonho eu acordei


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102 -

G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Dos jardins do ~den a era de Aquarius (Jonas - Lino Roberto - Tião Grande)

Uma nova era O sol iluminará Num facho de quimera A luz nos alcançará Oh! Que maravilha é o jardim

bis

Ao qual iremos retornar, retornar Nas previsões para a era de Aquarius, · a paz [ A paz sobre nós reinará O homem com a sua expulsão Saiu do ~den a explorar nosso planeta Desenvolvendo a arte e a ciência Impulsionando o poder da razao Para desvendar todos segredos Que envolviam a mãe natureza No Oriente a força mágica dos astros Era obra da divindade E o homem confiante consultava O caminho da prosperidade A chama brilha, brilha a .. chama do progresso Num futuro que virá Está bem perto o paraiso Com a conquista do universo E a Vila Isabel se faz presente Num vendaval de alegria Cantando em verso e prosa o dia-a-dia Gira, gira meu mundo

bis

Deixe a vida girar No final desta gira SÓ o amor encontrar


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103 -

G.R.E.S. PORTELA Das maravilhas do .mar

fez-se o esplendor de uma .rio i te (David Corrêa - Jorge Macedo)

Deixa-me encantar Com tudo teu e revelar O que vai acontecer Nesta noite de esplendor O mar subiu na linha do horizonte Desaguando como fonte Ao vento a ilusão teceu O mar oi o mar por onde andei mareou! mareou! Rolou na dança das ondas No verso do cantador Dança quem tá na roda bis

Roda de brincar Prosa na boca do vento E vem marear Eis o cortejo irreal Com as maravilhas do mar Fazendo o meu carnaval É a vida a brincar

A luz raiou pra clarear a poesia Num sentimento que desperta na folia Amor! Amor! Amor sorria, ô ô ô Um novo dia despertou

bis

E lá vou eu Pela imensidão do mar Esta onda que borda a Avenida de espuma Me arrasta a sambar


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104 -

G.R.E.S. BEIJA-FLOR Carnaval do Brasil· - A oitava das sete maravilhas do mundo Dicró - Picolé) (Neguinho da Beija-Flor

Leleô, leleÔ skindô bis

Criou belezas mil E a oitava maravilha vem brilhar, vem brilhar Neste carnaval do meu Brasil Rompendo auroras Gloriosa ela surge deslumbrante!

f: a terra Senhora de um mistério tão profundo Que os homens enfeitaram Com as sete maravilhas deste mundo Os Jardins Suspensos da Babilônia Que um rei construiu com amor E orgulhoso à rainha ofertou

bis

E a muralha de longe fascina [ "Quem tem olho grande nao entra na China" A estátua de Zeus O deus de todo o povo grego E o templo de Diana Relicário de beleza! O Colosso de Rodes E as pirâmides do Egito O Farol da Alexandria Iluminava até o infintto Mas agora é hora De um monumento vivo e multicor Corpos nus em rituais De gingados sensuais Tamborins e agogos Saias rodadas de negras baianas Giram faiscando de esplendor


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105 -

G.R.E.S. ESTAÇAO PRIMEIRA DE MANGUEIRA De Nonô a JK (Jurandir - Comprido - Arroz)

Em verde e rosa A Mangueira vem mostrar O fascinante tema: "De Nonô a JK" Juscelino Kubistchek de Oliveira, De uma lendária cidade mineira, O grande presidente popular Surgiu "Nonô" em Diamantina E uma chama divina Iluminou sua formação. Subindo os degraus da GlÓria, Imortalizou-se na história, bis

(como chefe da nação, ô ô Em sua marcha progressista, O notável estadista O planalto desbravou Brasília, o sonho dourado, Que ele tanto acalentou Juscelino descansa na fazenda, E os acordes de um violão Levam ao povo a saudade, Lembrado

neste refrão:

Como pode um peixe vivo Viver fora d'água fria! bis

(como poderei viver! Sem a tua - sem a tua Sem a tua companhia?


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106 -

G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL Abram alas pra folia, aí vem a Mocidade (Ney Vianna - Nezinho) Hoje vou erguer meu estandarte Vou mostrar beleza e arte Dos antigos carnavais Vou me vestir de alegria Com a Mocidade minha gente Abrindo alas pra folia Vejam que beleza o Zé Pereira No bloco de sujo com a zabumba a tocar Essas canções tão famosas Do folclore popular Quebra quebra gabiroba bis

Quero ver quebrar [ Mamãe eu quero oi mamar E na Avenida colorida O sol enche a folia de luz e calor Onde o pierrô e a colombina alegremente Trocam lindas juras de amor As negras, brancas e mulatas Mostrando um show de visual Ao som do - batuque alucinante Vindo de terra distante Para alegrar o carnaval O corso e as grandes sociedades Eram o luxo da cidade Lá vai a baiana

bis

Rodando pra lá e pra ca Arrastando a sandália Fazendo o meu povo cantar Lara larara larara

oooo Lara larara larara

oooo


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107 -

G.R.E.S. IMPERIO SERRANO Na terra do pau-brasil nem tudo Caminha viu (Jorge Lucas - Edson Paiva)

Maravilhosa terra De legendas Que o passado nao contou Hoje o Império Serrano Vem com "Pero Vaz de Caminha" O célebre eminente precursor ..• bis

Ô Ô ÔÔÔ ÔÔ Ô Ô ÔÔ Em tempos idos Chegavam a uma vasta região Audazes descobridores Dando-se a integração Com os primitivos habitantes Deste imenso torrão

bis

Canta gente Esta linda canção Exaltando o Brasil Em sua dimensão A beleza da mulata Enaltece a raça Com seu requebro febril Nossos rios, campos e florestas Emolduram a natureza •.• O ouro e pedras preciosas são riquezas do solo deste Brasil Que Pero Vaz de Caminha não viu Lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá lá


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108 -

G.R.E.S. UNIDOS DA TIJUCA O que dá pra rir dá pra chorar (Celso Trindade - Nega - Azeitona Ronaldo - Ivar - Buquinha - Edmundo Araújo Santos) ~

tão sublime e x altar

Neste dia de folia E cantar a odisséia de um valente brasileiro 1

Contra o monstro estrangeiro Que com todo o seu dinheiro Quer calar a nossa voz E o nosso herói sai no rastro da maldade Pelos campos e cidades

bis

Atrás do gafanhoto feroz Tetaci, Tetaci agasalha com seu manto [ O nosso herói Mitavai Mitavai bom lavrador e vaqueiro Deixa o sertão brasileiro Vai çombater Macobeba maldito Que

devor~o

mato e o mito

{ Rádio, jornal e TV Lança e com certeiro bote Fere o monstro no cangote, pra valer! E ferido assim de morte Bicho ruim não quer morrer E o caboclo injuriado Toma o caminho do mar Jurando que um dia vai voltar Tira d a qui, leva pra lá O que hoje dá pra rir Amanhã dá pra chorar Maldito bicho bis

Se me ouviu E não gostou do meu samba Vá pra longe do Brasil


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G.R.E.S. UNIDOS DE VILA ISABEL Noel Rosa e os poetas da Vila nas batalhas do Boulevard (J. Albertino)

Resplandeceu Iluminando a minha vida Uma estrela que surgiu A desfilar nesta Avenida Em raios coloridos Contagiando o povão . de alegria Esta é a Vila Brilhando neste dia de folia

o oo o o bis

ooo Nesta noite reluzente Lembramos um passado envolvente As batalhas do Boulevard E os poetas da Vila Isabel Belos corsos, pierrôs e colombinas Sob chuvas de confetes e serpentinas Desfiles de fantasias Blocos de sujos e outros mais Encantavam os antigos carnavais

bis

fDe azul e branco por este mundo sem fim lLembrando Noel Rosa eu vou cantando assim Até amanhã se Deus quiser Eu volto novamente pra lhe ver

bis

E vou fazer o que puder Pra você nunca mais me esquecer


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110 -

G.R.E.S. UNIDOS DE SÃO CARLOS Onde há rede há renda (Caruso - Djalma Branco)

Me preparei Para o desfile principal Já mandei fazer a fantasia De renda bordada Lá da Ilha da Madeira Já estou pronto Para entrar na brincadeira

O O O O O ho rendar rendou bis

A lenda diz Que a moça india foi primeira Tecelã e que a renda e brasileira Vem de Portugal eu sei Quem joga a rede pega o peixe e faz a renda Sá Maria artesã e bordadeira imperial Fazia renda no tear do casarão colonial E a rendeira do sertão Virou poema, cantiga de Lampião Tudo isto vem mostrar Que há rede e renda Tanto aqui quanto além-mar

bis

vou deitar na rede Vou sonhar os sonhos dela E trazer muié rendeira Pra rendá na passarela


-

111 -

G.R.E.S. UNIAO DA ILHA DO GOVERNADOR :E: hoje (Didi - Mestrinho)

A minha alegria Atravessou o mar E ancorou . na passarela Fez um desembarque fascinante No maior show da terra Será que eu serei O dono desta festa Um rei no meio De uma _gente tão modesta Eu vim descendo a serra Cheio de euforia para desfilar O mundo inteiro espera Hoje é dia do riso chorar

bis

Levei o meu samba Pra mãe-de-santo rezar Contra o mau olhado Carrego o meu patuá Acredito ser o mais valente Nesta luta do rochedo com o mar É hoje o dia da alegria

E a tristeza nem pode pensar em chegar [Diga espelho meu bis

Se h~ na Avenida Alguem mais feliz que eu


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112 -

G.R.E.S. ESTAÇÂO PRIMEIRA DE MANGUEIRA As mil e uma noites cariocas (Heraldo Farias

Tolito - Flavinho Machado)

bis

Noite linda, lua tão bela Mangueira novamente fascinando [ O povão na passarela Céu salpicado de estrelas encantadas As mil e uma noites cariocas

(

.'

Na Avenida iluminada A imaginação foi me levando Vi índias dançando em seus rituais Bailam conde, condessa e princesa Na festa da nobreza Sob lustres de cristais Elá, elá, ô nana bis

Elá, elá, ori-rá Os negros batucando na senzala Em louvor a Oxalá Rio antigo Teatros e salões Da Lapa dos malandros e gingados Damas da noite vendedor.a s de ilusões E nas noites suburbanas Balões colorindo o céu E na Vila eu ouvi melodias de Noel Na Zona Sul, ã beira-mar O povo em sua fé louvava Iemanjá Os nossos carnavais de antigamente O pierrô, a colombina encantando a gente E no carnaval de hoje cheio de loucura Vem a nossa verde e rosa que ninguém segura


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113 -

G.R.E.S. ACAD~HICOS DO SALGUEIRO No reino do faz de· conta (Zedi - César Veneno)

bis

Virou, virou Passarinho de cristal Cantou, cantou E deslumbrou o carnaval Se deu no baile mascarado Que o rei concedeu Existirá pergunto eu, pergunto eu Um reino tão rico e feliz que o meu Lá vai o rei, lá vai na carruagem De corcéis alados fazer a viagem Hontado no dragão, o anjo bom lhe ouviu Com ele ao encantado seguiu Ficou o o maravilhado Com o rei sol e o palácio dourado O anjo pediu-lhe atenção E do faz de conta transpôs o portão Vibrou extasiado Ao ver a lua no seu reino prateado Clareia o coche dos leôes É de iôiô, é de iôiô rei dos trovôes

bis

Pai Xangô seu Oxé Justiceiro do reino de quem tem fé ••. Que singeleza olhar Anfitrite e Netuno imenso mar O polvo de prata, que beleza Guardião da realeza Sublime véu O arco-íris levando água pro ceu Rainha fada oi serpente magia Corra Cinderela vai raiar o dia No reino de cristal pediu não percebeu E a · fonte dos desejos lhe atendeu


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G.R.E.S. BEIJA-FLOR O "olho azul da s·e rpente (Wilson Bombeiro - Carlinhos Bagunça Joel Meneses)

Viola Vadia de vida boa A Beija-Flor cantando voa Na Literatura de Cordel No reino de Paranambuco Numa serpente a bruxa Destruía tudo sob o ceu Lá em Palmares Um ritual desencantou O olho azul da serpente Naquela flor atraente A princesa desabrochou ô o Vem das trevas bruxaria Enfeitiçando com ouro e magia Maracatu bumba ei bis

Tão fascinante chegou No caboclinho sou rei Guerreiro dourado eu sou Mas o mestre Vitalino Molda em barro o destino Do povo tão sofredor E Maurício de Nassau Laça o gênio do mal Oh, quanta alegria Com Iarabela se casou o o Sete laços, sete pontes No Rio Capibaribe A serpente se transformou Geme viola o repente

bis

Vem pro forró si menino Caruaru tá contente O Nordeste está sorrindo


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G.R.E.S. UNIDOS DA TIJUCA Lima Barreto, mulato, pobre · mas livre (Adriano) Vamos recordar Lima Barreto Mulato pobre, jornalista e escritor Figura destacada do romance social Que hoje laureamos neste carnaval O mestiço que nasceu nesta cidade Traz tanta saudade em nossos corações

(

seus pensamentos, seus livros Suas idéias liberais Impressionante brado de amor pelos humildes Lutou contra a pobreza e a discriminação Admirável criador ô ô ô o De personagens imortais Mesmo sendo excelente escritor Inocente, Barreto não sabia Que o talento banhado pela cor Não pisava o chão da Academia Vencido pela dor de uma tragédia Que cobria de tristeza a sua vida Entregou-se à bebida, aumentando seu sofrer bis

bis

Sem amor, sem carinho [ Esquecido morreu na solidão Lima Barreto de voce Este seu povo quer falar so nosso enredo A sua vida, a sua obra e e gratidão E agora canta em louvor


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G.R.E.S. PORTELA Meu Brasil brasileiro (David Corrêa - Jorge Macedo)

Vem me fascinar Oh, que sedução O canto de minha gente Assediando meu coração Semente que a arte germinou E o tempo temperou

r

Amor Como é gostoso amar Se a vida é contradança O folclore é o par Espalhei no meu caminho o bis

Olê olê olá Sou folclore sou a brisa Esta noite no meu verso Vou lhe beijar No meu país tudo e assim A lua acende a poesia lá no ceu Violeiro, repentista, seresteiro e sambista Desafiam em cordel Sou namorado, troco magoas pela flor Capoeira também chora Quando perde seu amor Amar eu sei Isso e muito mais que amor Eu sou amante Sou menino sonhador Das Escolas de samba Me leva, me leva Me leva baiana que eu também vou

bis

Mestre-sala e porta-bandeira Girando num conto de amor


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G.R.E.S. IMPtRIO SERRANO Bum Bum Paticumbum Prugurundum (Beto Sem Braço - Aluisio Machado)

Bum bum paticumbum prugurundum Nosso samba minha gente é isso ai Bum bum paticumbum prugurundum Contagiando a Marquês de Sapucai Enfeitei meu coraçao De confete e serpentina Minha mente se fez menina Num mundo de recordação Abracei a coroa imperial Fiz meu carnaval Extravasando toda minha emoçao Oh, Praça Onze, tu és imortal Teus braços embalaram o samba À sua apoteose triunfal

De uma barrica se fez uma cuica De outra barrica um surdo de marcação bis

rcom reco-reco, pandeiro e tamborim LE lindas baianas o samba ficou assim E passo a passo no compasso o samba cresceu Na Candelária construiu seu apogeu As burrinhas, que imagem, para os olhos um prazer Pedem passagem pros moleques de Debret As africanas - que quadro original Iemanjá, Iemanjá enriquecendo o visual

bis

rvem meu amor manda a tristeza embora ~ carnaval, é folia neste dia ninguém chora Superescolas de samba S/A, superalegorias Escondendo gente bamba que covardia


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G.R.E.S. MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL O velho ·Chico (Da Roça - Edu - Adil - Dico da Viola)

No meu tempo de criança Dei de beber E ouvi cantar os passarinhos Dei cambalhotas pela casca d'anta Atravessando o sertão com alegria E as cascatas murmuravam sinfonia Anunciando

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0

velho Chico .. que surgia

Mas ·. é que o tempo passou Minha vida mudou assim Vem mergulhar No meu mundo de agua doce bis

O navegante foi quem trouxe Gaiola, batelão e ubá Bate bateia na peneira fica o ouro O que cai não é tesouro Deixa a agua carregar Casei donzelas, me fizeram oferendas Fiz mistérios, criei lendas Decidi meu caminhar

o

Q Q o o o Até carranca no meu leito navegou

5

o

Lindo cortejo para o mar me carregou

bis

r~~v~:~::i:~: :~:::ado lreman]a me leva embora


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G.R.E.S. IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE Onde canta o sabiá (Tuninho - Dominguinhos - Darcy)

Caminhando Um canto se ouve no ar Vem da terra Vem do meu cantar Dança quem dança bis

Dança quem não dançou Neste samba envolvente Nossa gente chegou O show da natureza Esculturando a razão Um toque de beleza Batendo forte em meu coraçao Do céu à terra a lua iluminando a imensidão Dos nossos rios e matas, chuês de cascatas Riquezas do chão Chove chuva Chove sem parar

bis

Assim canta o sertanejo Nessa terra onde ecoa O som do sabiá No povo a busca incessante De um momento feliz A Imperatriz em festa Hoje aqui se manifesta No palco da raiz


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G.R.E.S.

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IMP~RIO

DA TIJUCA

rara, ouro e pinhão na terra· da gralha azul (Jorge Melodia) Paraná, ê, ê Paraná bis

~

o Império da Tijuca [ Na Avenida a lhe exaltar No sol bonito da manhã Na imensidão da terra dos tupis rara adorava o deus Tupã Pedindo a paz com os guaranis Quando uma linda arara Em puro Tupi lhe falou Que a ervateira lendária Salvaria o seu povo da dor ..• Gupi o guarani guerreiro Como o amigo Carai quase morreu

bis

Foram ~alvos p~lo chá milagreiro [ E uma nova naçao nasceu Da estrela briihou

bis

A luz do amor, ô [ E rara com Gupi se casou Na era do ouro O bandeirante ali chegou Dos arraiais e dos seus tesouros Foi que o Paraná começou Hoje a ave sagrada Que semeou o pinhão Em prosa e versos cantada ~o

~

povo mora no coraçao lenda é tradição

No rico solo do sul rara, ouro e pinhão Na terra da gralha azul


VALENÇA, Rachel Teixeira.

Palavras de purpurina; estudo lin-

güistico do samba-enredo (1972-1982).

Niterói, 1983.

Dis-

sertação de Mestrado apresentada à Universidade Federal Flu minense.

;

RESUMO

Dissertação em que se estuda o com portamento lingüistico do

compositor

de Escola de Samba entre os anos 1972 e 1982.

de

É traçado um rápido his-

tórico das escolas de samba e do ba-enredo como gênero.

saro-

Discutem-se

ainda as condições de criação e

divul

gaçao do samba-enredo em nossos

dias,

bem como os aspectos lingüisticos caracterizam o discurso do popular · atualmente.

que

compositor


I ...\. I

EXAME DE DISSERTAÇÃO

VALENÇA, Rachel Teixeira.

Palavras de purpurina; estudo lin-

güistico do samba-enredo (1972-1982).

Niterói, 1983.

Dis-

sertação de Mestrado apresentada ã Universidade Federal Flu minense.

BANCA EXAMINADORA:

Examinada a Dissertação Conceito: Em

de

de 1984.


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