Revista da Imperatriz Leopoldinense 2020

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REVISTA DE CARNAVAL - DISTRIBUIÇÃO GRATUITA


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O MEU SONHODE SER FELIZ Queridos componentes da nossa amada Imperatriz Leopoldinense, em 2020 iremos viver, talvez, um dos momentos mais importantes da nossa história. Mais do que nunca precisamos unir nossas forças, darmos as nossas mãos para fazermos um desfile grandioso, dignos de nossa trajetória. Somos uma escola grande, são oito campeonatos e dezenas de premiações ao longo desses sessenta anos. Um legado inabalável de contribuições para o enriquecimento cultural e estrutural do carnaval carioca onde a Imperatriz serviu de modelo para muitas das agremiações que hoje passam na avenida. Temos o respeito às demais agremiações e sabemos que nada está ganho. Tudo depende da contribuição de cada componente que, ao atravessar a linha de início do desfile, cante, sambe e evolua contagiando a avenida como nunca feito antes. Confio plenamente nos artistas e profissionais que construíram esse imponente carnaval, mas todo o esforço de meses de trabalho no barracão depende agora do empenho de cada desfilante, e não tenho dúvidas: Se cada gresilense desfilar com a mesma força que demonstrou em nossos ensaios, sairemos com a vitória. Amo incondicionalmente o pavilhão leopoldinense, a esta bandeira dedico meu respeito, meu trabalho e a minha vida. Vamos juntos dar a volta por cima e levar a Imperatriz de volta à galeria de grande campeã do carnaval. Luiz Pacheco Drumond Presidente da Imperatriz Leopoldinense


PALAVRA DO GOVERNADOR

A IMPERATRIZ DA PASSARELA Wilson Witzel, governador do Estado do Rio de Janeiro

O carnaval de 2020 representa um desafio para a Imperatriz Leopoldinense de retornar ao grupo especial. Com mais de 60 anos de história e oito títulos de vencedora no maior espetáculo do planeta, a Imperatriz é - e sempre será - motivo de orgulho para a região da Leopoldina. Desejo que os dirigentes da escola e a comunidade possam, juntos, resgatar a grandeza dessa agremiação e levar alegria para todos os cariocas e turistas. Espero ver a Imperatriz cruzar a nossa avenida do samba, levantando a arquibancada, e nos fazendo recordar dos grandes carnavais de 1981, 1989 e 2001, em que foi campeã com nota máxima em todos os quesitos. Viva a Imperatriz e o povo do samba! Viva o carnaval e a cultura popular do nosso estado!


LIERJ

UMA ESCOLA DE HISTÓRIA Wallace Palhares, presidente da LIERJ

Este será o meu primeiro Carnaval à frente da Lierj e poder contar com a Imperatriz Leopoldinense em nosso quadro de agremiações filiadas é um motivo de grande satisfação, pois se trata de uma das mais tradicionais entidades carnavalescas do nosso Rio de Janeiro. Além de Presidente da Lierj, sou Historiador e a Imperatriz sempre faz questão de evidenciar o viés histórico em seus enredos, ajudando a manter vivo o nosso Carnaval, a nossa tradição, a nossa história. Não tenho dúvida alguma de que a Imperatriz Leopoldinense fará um belíssimo desfile, assim como todas as demais coirmãs filiadas à Lierj, mesmo em um ano tão difícil para todos nós.


DEPARTAMENTO DE CARNAVAL

MARCOS AURÉLIO FERNANDES Diretor de Carnaval LEANDRO VIEIRA Carnavalescos THIAGUINHO MENDONÇA Mestre-Sala

DIRETORIA LUIZ PACHECO DRUMOND Presidente MARCOS DRUMOND Vice-Presidente Executivo JOSÉ HENRIQUE PINTO Presidente do Conselho Deliberativo MARCOS AURÉLIO FERNANDES Vice-Presidente de Carnaval WAGNER TAVARES ARAÚJO Vice-Presidente de Finanças WILSON RIBEIRO Vice-Presidente Administrativo ANDRÉ BONATTE Vice-Presidente Cultural OSCAR DE PAULA Vice-Presidente Social DR. CHRISTÓVÃO CELESTINO Vice-Presidente Jurídico

REVISTA DE CARNAVAL Coordenação

LUIZ PACHECO DRUMOND ANDRÉ BONATTE Editor ANDRÉ BONATTE / RICARDO LOURENÇO Fotos MARCELO O’REILLY | PAULO SILVA DIEGO MENDES | NELSON MALFACINI GILVAN DE SOUZA | OSCAR LIBERAL FERNANDO VENUTO Textos LEANDRO VIEIRA | ANDRÉ BONATTE | FELIPE FERREIRA RICARDO LOURENÇO | MARCELO CAMPOS Agradecimentos GOVERNO DO ESTADO DO RJ | LIERJ

RAFAELA THEODORO Porta-Bandeira BETH E HÉLIO BEJANI Coreógrafos da Comissão de Frente JORGE ARTHUR E ANDRÉ BONATTE Departamento de Harmonia ARTHUR FRANCO E PRETO JÓIA Intérpretes LUIZ ALBERTO (LOLO) Mestre de Bateria JAIRO RIBEIRO Presidente da Bateria IZA Rainha de Bateria MARCILIO DIAMANTE 2º Mestre-Sala ELAINE FERNANDA 2ª Porta-Bandeira SOLANGE COSTA Presidente da Velha-Guarda RAUL CUQUEJO Diretor da ala de Baianas JÉSSICA ANDREZA Coordenadora da ala de Passistas ANDRÉ BONATTE Presidente da ala de Compositores


SUMÁRIO 60 ANOS DO 10 PRIMEIRO SAMBA 1981 - SÓ DEU 12 ESPECIAL LALÁ 18 DIREÇÃO DE CARNAVAL 19 CARNAVALESCO 24 BARRACÃO 26 COMISSÃO DE FRENTE 28 THIAGUINHO E RAFAELA 31 INTÉRPRETES 32 ZÉ KATIMBA 34 HARMONIA 36 BATERIA 37 IZA - RAINHA DE BATERIA 42 BAIANAS 43 VELHA-GUARDA 44 PASSISTAS


SÓ DÁ LALÁ Ricardo Lourenço, pesquisador, cientista e membro da velha-guarda-gresilense

A música é um dos elementos mais importantes na formação e fixação da cultura dos povos. Para o brasileiro, a marcha e os gêneros musicais paralelos e com andamentos diferentes e letras mais ou menos jocosas, como a marcha-rancho e a marchinha estão entre os mais cantados. E foi o Rio de Janeiro quem deu ao mundo um fenomenal compositor desses gêneros tão por nós admirados e que, juntamente com o samba e a bossa-nova resumem a identidade internacional musical brasileira: Lamartine Babo (1904-1963), ou simplesmente, Lalá. Ainda que com o seu espírito inventivo e versátil tenha praticado vários gêneros musicais e composto cerca de 100 obras, Lalá se consagrou através da marcha e seu congêneres. Esses ritmos são as bases musicais dos famosos hinos não-oficiais dos clubes cariocas compostos por Lalá e cantados a plenos pulmões nos estádios, nos trens e nas ruas nos dias de disputas futebolísticas o ano inteiro. Cantamos, também, as marchas feitas pelo mesmo consagrado compositor durante o ciclo junino Brasil afora, nas festas dos santos populares, ao dançarmos as quadrilhas, pularmos a fogueira e contemplarmos o céu pintadinho de balão. E, finalmente, são de Lamartine os ritmos que embalam sucessivas gerações, nos carnavais das ruas e dos clubes do Brasil há várias décadas sem perder a força. Em resumo, Lalá está em nosso quotidiano e no inconsciente coletivo brasileiro, onde a manutenção de sua obra é um dos melhores exemplos de sucesso de transmissão da tradição oral e musical na nossa cultura miscigenada. Portanto, nada é mais verdadeiro que se afirmar que “Só dá Lalá” em nossos dias. E todo dia é dia!! Dia de se cantar marchas e marchinhas de Lamartine e nos encher de orgulho verde-branco-ou-


ro em torná-las objeto de nosso próximo desfile. É nessa arrebatada emoção e entusiasmo que a Imperatriz Leopoldinense vem se preparando nos seis últimos meses para o desfile da madrugada de 23 de fevereiro de 2010. Dia a dia, a emoção e o sonho gresilense vem se retraduzindo e transformando no que será o nosso cortejo, desde os croquis de Leandro Ferreira – um dos artistas mais brilhantes no universo do carnaval – até o produto do trabalho das anônimas mãos das bordadeiras, costureiras, chapeleiros... Desde os cantarolares nos quintais das baianas da e dos componentes da velha-guarda gresilense aos ensaios eufóricos na quadra e nas ruas de Ramos, a partir da melodia de um samba composto a três mãos em 1980, por Gibi, Serjão e Zé Catimba, para o inesquecível desfile bicampeão de 1981 e reeditado, agora, em 2020. Tal como as marchas e marchinhas do Lalá, essa composição quarentenária do trio gresilense jamais saiu do repertório dos blocos, bandas, quadras, pagodes, bailes carnavalescos e do quotidiano da orla carioca onde ritmistas ambulantes apresentam o carnaval carioca aos turistas. Conclusão: nós, brasileiros, mas sobretudo nós, os cariocas, desapercebidamente, de janeiro a janeiro, vivemos a cantar Lalá, saudar Lalá, dançar Lalá, disseminar Lalá, transpirar Lalá, rememorar Lalá, e imortalizar Lalá. É com tal emoção que essa revista registra, em síntese, os quadros de dirigentes, artistas e sambistas e as bases e matizes plástico-visuais e musicais com que se outrora construíram e agora se reelaboram a homenagem à força da imemorável obra nos legada por Lalá, que a Imperatriz tem a honra de prestar em 2020. Se o Brasil tem um eterno Rei das Marchas e Marchinhas que é Lalá, só mesmo uma Imperatriz do Samba para, magistralmente, reapresentá-lo à “fidalguia” popular e mais uma vez imortalizar sua obra.


O PRIMEIRO SAMBA-ENREDO

Fundada no fim do carnaval de 1959, a Imperatriz Leopoldinense nasceu, essencialmente, pelas mãos de um farmacêutico, Amaury Jório. Foi ele quem conseguiu com maestria juntar os velhos sambistas do já extinto Recreio de Ramos para a formação do “corpo” da nova escola. Entre estes sambistas podemos destacar Raymundo dos Santos Martins, o Mundinho. Mundinho venceu a primeira disputa de samba-enredo, para o carnaval de 1960, cujo o título era originalmente “Exaltação aos Imortais” e mais tarde passou a ser denominado como “Homenagem à Academia Brasileira de Letras”. Não foi só o título que sofreu alteração. O verso inicial do samba - “desfolhando o livro de nossa história” - passou a ser cantado como “Folheando o livro de nossa história”, por medo de uma penalização vinda dos jurados, já que desfolhar poderia ser interpretado como “arrancar” as páginas do livro. Infelizmente, o Samba de 1960 não possui uma gravação oficial, e a maioria dos torcedores não conhece sua letra e melodia. Na época não havia um “disco” com os sambas enredos, o primeiro foi gravado em 1968, pois, mesmo sendo difícil imaginar hoje com o acesso fácil que temos à tecnologia, em 1960 não era simples fazer uma gravação. Em 2019, o Departamento cultural do GRESIL conseguiu registrar em estúdio o primeiro samba gresilense, graças a memória ativa do Sr. Denir Lobo, um dos membros mais antigos da ala de compositores da Imperatriz, e a pesquisa de Ricardo Lourenço, que conseguiu junto ao herdeiro de Mundinho, Jorge Lourenço, o folheto original do samba.

CARTEIRA DE SÓCIO CONTRIBUINTE DE RAYMUNDO DOS SANTOS MARTINS (1967)

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Lá se vão sessenta anos, mas memória de Raymundo dos Santos Martins permanece viva nos corações gresilenses com seus versos em homenagem à literatura brasileira e seu bastião, Machado de Assis.



ESPECIAL 1981

SÓ DEU LALÁ Felipe Ferreira (Professor dos programas de pós-graduação em Artes e em História da Arte do Iart/Uerj, Coordenador do Centro de Referência do Carnaval e membro do corpo de jurados do Estandarte de Ouro)

O carnaval de 1981 tinha um “tempero” especial: a disputa entre Imperatriz Leopoldinense, Portela e Beija-flor. As três escolas haviam dividido o primeiro lugar no ano anterior e o desfile seguinte era visto como uma espécie de tira-teima entre elas. Portela e Beija-flor entravam com vantagem na contenda. A primeira com autoridade de ser a escola com mais campeonatos e com a força de um samba considerado um dos mais belos de todos os tempos. A IMPERATRIZ 2020 | 12

segunda como a grande surpresa da década, recém-saída de um impressionante tricampeonato. Poucos acreditavam na vitória da Imperatriz frente a duas das maiores potências carnavalescas da época. Entretanto, quando o G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense encerrou seu desfile homenageado o grande compositor Lamartine Babo sob o sol na manhã da segunda-feira de carnaval, ninguém duvidava que ali estava a escola vitoriosa do carnaval. Os gritos de “é cam-


SÓ DEU LALÁ Na foto, a animação da ala do time do botafogo, o requinte de nossas baianas, a passista Nayde e o detalhe de uma das alegorias representando Lamartine. Fotos do Acervo da Escola / Fotos Revista Manchete

peã!” ecoavam dentro e fora da passarela montada da Rua Marquês de Sapucaí, coroando um dos mais emocionantes e perfeitos desfiles de uma escola de samba de todos os tempos. À consagração popular, juntavam-se os elogios unânimes da imprensa que ressaltavam a energia do canto, a leveza da evolução, a originalidade do enredo, a força da bateria e a beleza, versatilidade e criatividade dos figurinos e alegorias. Estes últimos verdadeiras obras de arte em movimento criadas por Arlindo Rodrigues, não por acaso considerado o maior carnavalesco de todos os tempos e inspirador de grandes artistas do carnaval contemporâneo, como Rosa Magalhães, Max Lopes, Jack Vasconcelos e Leandro Vieira, responsável pela reedição do

tema para o desfile da Imperatriz em 2020. O valor artístico das fantasias e dos carros alegóricos daquele desfile histórico foi de tal monta que, inclusive, inspirou críticos e autoridades a dar os primeiros passos para a criação de um museu do carnaval sob o grande arco do Sambódromo. O maravilhamento do público e da Imprensa se refletiu nos resultados e premiações que a escola recebeu. O primeira delas seria o prêmio Estandarte de Ouro, considerado o Oscar do Carnaval, que concedeu à Imperatriz o troféu Melhor Escola – à época denominado de Comunicação com o Público – com o aval de Albino Pinheiro, Maria Augusta, Haroldo Costa e

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Os jornais destacam a vitĂłria incontestĂĄvel da Imperatriz Leopoldinense e a conquista do seu bicampeonato. Luizinho Drumond ĂŠ carregado no colo pelos torcedores nas ruas de Ramos


José Carlos Rego, entre outros membros do júri. Além disso a escola foi consagrada como única campeã do carnaval carioca de 1981 pelo corpo de jurados oficial da Prefeitura, conquistando seu primeiro bicampeonato.

IMPERATRIZ 1981

Essa grande vitória reafirmaria a energia da comunidade gresilense e a força criativa de Arlindo Rodrigues. Suas alegorias e fantasias marcariam para sempre

ARLINDO RODRIGUES CARNAVALESCO

o imaginário das escolas de samba ao criar um estilo leve, divertido e ao mesmo tempo luxuoso que se tornaria a marca da Imperatriz. O famoso trem da alegria, com seu surpreendente colorido, seu apito e sua fumaça, as divertidas imagens de Lamartine Babo com suas frases auto derrisórias, as grandes esculturas de “cabeções” que abriam a escola e o mar de bandeiras coloridas de times de futebol que fechavam o desfile se transformaram em verdadeiros ícones do carnaval e consagraram a escola que ousou enfrentar as “potências” carnavalescas com alegria, originalidade e sofisticação. É essa Imperatriz que está de volta a este Palco Iluminado, mais uma vez pelas mãos de um grande carnavalesco, unindo três criadores – Lamartine Babo, Arlindo Rodrigues e Leandro Vieira – em um diálogo através do tempo, envolvendo corações.

LUIZ PACHECO DRUMOND PRESIDENTE O TEU CABELO NÃO NEGA - SÓ DA LALÁ ENREDO

ZÉ CATIMBA, SERJÃO E GIBÍ AUTORES DO SAMBA ENREDO DOMINGUINHOS DO ESTÁCIO INTÉRPRETE BAGDÁ E ELIZABETH NUNES MESTRE-SALA E PORTA BANDEIRA NEI MESTRE DE BATERIA ANTÔNIO CARBONELLI DIREÇÃO DE CARNAVAL OSWALDO CAROÇO PRESIDENTE DA VELHA-GUARDA DONA NAIR RESPONSÁVEL PELA ALA DE BAIANAS


nd Lena Drumo

Mรกrio

Irene

Tuninho

Alcides IMPERATRIZ 2020 | 16

Adalberto


Vania

Adenilson

Ricardo Lourenรงo

Marlene

Felipe Ferreira

Arthur


DIREÇÃO DE CARNAVAL

MARCOS AURÉLIO FERNANDES Ao chegar à Imperatriz, Marquinhos tinha cantando o samba de forma contagiante, fazenconhecimento da responsabilidade que seria do tremer o “caldeirão” Leopoldinense. administrar uma escola do porte da Rainha de Todo o trabalho realizado na quadra camiRamos. A parceria direta com o presidente Luiz nhou em sinergia com as equipes do barracão. MARCOS AURÉLIO FERNANDES Pacheco Drumond deu ao novo diretor a tranTodos caminhando juntos com um único objequilidade e a experiência necessária para a contivo: A vitória! dução dos preparativos rumo ao carnaval. Nossos componentes entram na avenida feO primeiro e grande desafio foi o resgate da lizes e orgulhosos com esta nova Imperatriz autoestima do torcedor, que estava abalada, naque Marcos Aurélio ajudou a construir, nova na turalmente, pelo resultado do último desfile. O forma de “pensar” carnaval, mas que, em mocomponente atendeu ao chamado de Marquimento nenhum, abandonou suas tradições e nhos, e desde os primeiros ensaios, tivemos sua história. uma quadra lotada de apaixonados gresilenses

DIREÇÃO DE CARNAVAL

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CARNAVALESCO

LEANDRO VIEIRA: MAESTRO DA ARTE TOTAL Marcelo Campos, Professor Adjunto do Departamento de Teoria e História da Arte do Instituto de Arte da Uerj e Curador do Museu de Arte do Rio

CARNAVALESCOinterpreta um assunto (enredo) em figurinos,

Arte e carnaval, arte carnavalesca, arte. Com a secular ampliação dos sentidos da VIEIRA arte, talvez LEANDRO contemporânea à data de surgimento dos desfiles das Escolas de Samba, nas primeiras décadas do século XX, a arte carnavalesca se desenvolveu em franca exibição de capacidade criativa e inventiva. Para além da capacitação de escultores, ferreiros, bordadeiras, o carnaval reinventa, a cada ano, as máscaras da cultura popular, as fantasias, cria alegorias e adereços, (verdadeiras esculturas), usa materiais de descarte, agiganta a escala e os movimentos de carros alegóricos,

personagens, visualidades e conduz a maior de todas as artes, a invenção da alegria, “prova dos nove”, como nos alertou o manifesto modernista de Oswald de Andrade. A questão que se coloca é como fazer com que tudo isso se amalgame? Como tornar uma história decodificável pelo público a ponto de fazer nossas tristezas balançarem, transformando um desfile, até, num ato político? Esta utopia foi, algumas vezes, alcançada pelos carnavais campeões de Leandro Vieira.

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LEANDRO VIEIRA Leandro Vieira sendo apresentado pelo presidente Luiz Pacheco Drumond à comunidade. P. 21, foto de Gilvan Souza para matéria do Jornal O DIA

Bandeiras, obra pública de Victor Brecheret, pichada pelos movimentos sociais que criticam e denunciam os bandeirantes como assassinos de comunidades negras e indígenas. Com o samba, já clássico, “História para ninar gente grande”, o que vimos na avenida foi um desfile (todo) obra de arte. Um samba que vira hino de protesto, como os Heróis da liberdade, do Império Serrano, mas que, ao mesmo tempo, tem “feitio de oração”, reversão comum pelo Brasil, como acontecera com Sorriso negro, hoje entoado em missas das igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. O desfile de 2019 de Vieira, então, em sua totalidade, tornou-se uma bandeira, em nome de índios, negros e pobres, substituindo o “ordem e progresso” da bandeira nacional. As mulheres invisibilizadas pela história são recriadas, já que seus retratos não existem, como O olhar de Leandro Vieira renova a relação Luisa Mahim, Dandara. E, por outro lado, Vieicom os criadores no âmbito da arte contempora sublinhou outros heróis, como Leci Brandão rânea. Vieira observa a história da escultura no e Jamelão, dois baluartes da Mangueira. Brasil, trazendo referências ao Templo de OxaA religiosidade, a fé, a alegria das ruas, as paslá, de Rubem Valentim, ou ao Monumento às Nascido no Rio de Janeiro, formado pela Belas Artes da UFRJ, Leandro Vieira inicia sua trajetória de carnavalesco na Caprichosos de Pilares, em 2015; um ano depois, sagra-se campeão com o enredo “A menina dos olhos de Oyá”, em homenagem à cantora Maria Bethânia, na Estação Primeira de Mangueira. Segundo o próprio Vieira, a experiência nos barrocões das escolas de samba, adquirida desde 2007, atravessou diversas atuações, como, figurinista, além de assistente de carnavalesco. Com isso, o que se vê nos últimos anos, é a atuação de um artista que se destaca na atualização dos desfiles, seja no renovado olhar sobre o passado, seja no uso de novos recursos dramatúrgicos para o espetáculo, como a inserção de pautas políticas e críticas mais diretas à história do Brasil.

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CARNAVALESCO

seatas de protesto, as notícias de jornal, muitas são as referencias que vemos passar no carnaval de Leandro Vieira. Contudo, há que se destacar a capacidade de se fazer história bem antes do carnaval, colocando o enredo, o assunto, nas rodas de conversa, protesto e discussão.

bicampeonato, apresenta-se, agora, como uma espécie de manifesto da alegria, uma lembrança de que o carnaval é uma forma revolucionária de pensar o mundo.

É sob esta perspectiva que se pode entender a reedição do samba clássico proposta pelo carnavalesco para o desfile da Imperatriz Leopoldinense em 2020. A homenagem à Lamartine Babo, tema que levou a escola a seu primeiro

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SÓ DA LALÁ Leandro Vieira, carnavalesco do G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense

Alguns artistas dão a obra que edificam uma áurea mítica. Eles conseguem dar àquilo que executam um contorno intangível - muitas vezes, de difícil definição – que só aqueles que merecem o adjetivo “genial” parecem alcançar tal êxito. Lamartine Babo, o artista que apresentamos como enredo no carnaval de 2020, parece ter dado à sua obra musical a referida dimensão. Como explicar o estado de plena alegria que Qual a melhor palavra para estar na boca de toma os sentidos daqueles que cantam e dan- foliões em estado de desvario? Como, com uma çam? Como definir com palavras o caráter fes- ou duas linhas, expressar o frenesi de MOREtivo de um ambiente junino? O perfume de NAS, PALHAÇOS, PIRATAS, PIERRÔS, BAuma fogueira queimando em brasa e o colorido TE-BOLAS, DOMINÓS e COLOMBINAS em meio ao ENLACE DE SERPENTINAS? do balão de papel que sobe aos céus? Como dar voz ao grito daquele que torce pelo time que entra em campo? Como expressar com palavras o desespero daquele que vê seu clube na eminencia da derrota? Como escolher a melhor palavra para arrancar da garganta do torcedor a glória do time que vence?

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Para qualquer um de nós, a tradução disso seria árdua tarefa. Para Lamartine Babo não. Lamartine deu a sua obra esse contorno popular sublime. Compôs como quem decifrava - ao tempo em que estimulava - um estado de PLENA ALEGRIA. Para Lamartine - e sua obra festiva – TODO DIA, ERA DIA DE SER FELIZ.


CARNAVAL 2020 P. 22, Detalhe da Escultura de Lamartine Babo, Abre-Alas. P. 23, detalhes das alegorias que a Imperatriz apresentará em seu desfile de 2020. Fotos de Oscar Liberal

“Era” para falar de Lamartine, cai mal. Cinquenta e sete anos após a sua morte, a obra de Lamartine segue viva. Ele “É”. Compositor PRESENTE e IMORTAL. Em junho - quando a celebração de São Pedro, Santo Antônio e São João ganha o calendário - ainda cantamos clássicos como “Chegou a hora da fogueira”, “Noites de Junho” e “Isto é lá com Santo Antônio”. Nos dias de jogos, cariocas seguem externando a extensão de sua paixão pelos principais clubes de futebol do Rio cantando os hinos que LALÁ – o apelido carinhoso dado à Lamartine – compôs já nos distantes anos quarenta do século passado.

AGIGANTA - e sua verve, ou seja, onde ele parece ser ainda mais inspirado - “lindas morenas”, “palhaços”, “galos”, “rainhas da cabeça aos pés”, “mulatas”, “andorinhas”, e tantas outras imagens, seguem sendo cantadas por foliões que desfilam em delírio junto aos blocos e as bandas que ganham as ruas nos festejos de Momo.

Optar por apresentar a obra de Lamartine como o tema do carnaval proposto é desejar que a vida siga em um estado de alegria SEM FIM. É deixar que a música nos convide a uma viagem – quem sabe, NO TREM DE ALEGRIA – para SONHAR, SORRIR e CANTAR, desejando que este estado tão caro – de alegria plena, sonhos, NO CARNAVAL, QUANDO O POVO SE sorrisos e canto - NUNCA MAIS TENHA FIM. IMPERATRIZ 2020 | 23


BARRACÃO

ONDE OS SONHOS SE TORNAM REALIDADE de sua estrutura metálica, a chamada “ferragem”, são toneladas de tubos de ferro que soldados e modelados se transformam no esqueleto do carro alegórico. Em seguida entra em campo o time da carpintaria, placas e recortes de madeira cobrem o carro dando-lhe forma e definição. Esculturas de isopor ou reproduções em fibra de vidro ganham vida nas mãos dos Em 2020 serão quatro alegorias, já que o pintores de arte. Milhares de adereços surgem abre-alas é acoplado, e ainda um tripé abrindo em profusão dando o brilho e o requinte para a o setor do futebol, todas construídas no primei- alegoria que será finalizada nas mãos dos técniro andar de nossa fábrica de sonhos. cos da iluminação e dos efeitos especiais. De um projeto desenhado no papel nasce No quarto andar se concentra a confecção uma alegoria. A primeira etapa é a construção das fantasias, lá encontramos a equipe da cosTodo o esplendor de um desfile de Escola de Samba que, no caso da Imperatriz, dura no máximo 55 minutos, depende de um time de trabalhadores e artistas que se reúnem diariamente em nosso barracão, durante todo o ano para produzir cada detalhe do que será levado para a avenida.

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A FÁBRICA DOS SONHOS Parte da Equipe de Trabalho do Barracão da Imperatriz Para o Carnaval de 2020. Edwar Moraes, AnaCeres, Rivelino, Diego e Cristiane Machado; Cátia Drumond e Iza (Rainha de Bateria); Luiz Otávio (Kibe); Mauro Ferreira

tura, modelagem, adereços e chapelaria.

do Presidente Luiz Pacheco Drumond, concentramos nos responsáveis de cada setor o nosso Vale ressaltar que na coordenação da chaagradecimento. pelaria o Sr. Rivelino é quem dá o tom. Com décadas de trabalho dedicado à arte de fazer Direção Artística - Leandro Vieira chapéus, Rivelino é o único artista presente no Administração - Marcos Aurélio Fernandes barracão que trabalhou no “Só dá Lalá” de 1981, Coordenação de Compras - Catia Drumond com Arlindo Rodrigues. São 18 alas, incluindo baianas e bateria, todas confeccionadas por mãos de costureiras e artesãos que empregam sua arte em nome do maior espetáculo da terra. Seria impossível relacionar todos os que fazem parte desta importante força de trabalho, incluindo também os que atuam na parte administrativa e comercial da agremiação. Em nome

Chefe de almoxarifado - Ana Ceres Costureira Chefe de Equipe - Cristiane Machado Aderecista - Mauro Ferreira Chapeleiro Chefe de Equipe - Rivelino Chefe da equipe de adereços - Edward Moraes Ferreiro Chefe de Equipe - Diego Carpinteiro Chefe de Equipe - Fabrício Escultor - Lael e Jucelino Pintor Chefe de Equipe - Leandro Assis Lighting Designer - Luiz Otávio (Kibe) Laminação em fibra de vidro - Renatão IMPERATRIZ 2020 | 25


COMISSÃO DE FRENTE

O casal Beth Bejani e Hélio Bejani, coreógrafos de nossa renomada Comissção de Frente

A ALEGRIA DOS ANTIGOS CARNAVAIS A Imperatriz Leopoldinense se consagrou, buscou inspiração na explosão de alegria dos ao longo dos anos, pela vanguarda apresentada antigos Carnavais, onde as ruas do Rio de Janeiro eram invadidas por grupos de bate bolas, em suas comissões de frente. com um misto de fascínio e alegria contagianPrimeira Escola com uma comissão formada tes. apenas por mulheres, pioneira no uso de adereE é essa tradição festiva que colore o início do ços como elemento de coreografia, fugindo das tradicionais cartolas e bengalas, a Imperatriz se desfile de Ramos convidando a todos a seguir nesse “trem da alegria” que faz parada obrigatornou referência no quesito. tória para apreciar a ginga dos malandros e sua Para o carnaval de 2020 em homenagem ao “musa divinal”. compositor Lamartine Babo, nossa comissão IMPERATRIZ 2020 | 26


O elenco de nossa Comissão de Frente reunido para mais um ensaio.

ELIZABETH SOUZA TINOCO BEJANI Nascida no Rio de Janeiro, iniciou seus estudos de dança clássica no Centro de Danças Johnny Franklin em 1985, tendo o próprio como mestre. Logo depois passou por mestres renomados como Tatiana Leskova, Eugenia Feodorova, Dennis Gray, entre muitos outros.

do o Método da ROYAL ACADEMY OF DANCING, onde trabalhou no Corpo de Baile Lina Penteado sob a Direção Artística de Addy Addor e Cleusa Fernandes.

Através de concurso oficial, ingressou para o Corpo de Baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro em 1985, onde atuou Aos 17 anos passou a integrar o Rio Ballet, como Solista e Bailarino Principal nas suas dançando vários ballets de repertório e sen- principais montagens. do premiada em diversos concursos, inclusive CBDD. HÉLIO BEJANI Iniciou carreira artística, como músico Profissional (trompete), em Piracicaba (SP) cidade onde nasceu. Ingressou para o Ballet, na cidade de Campinas (SP), cursanIMPERATRIZ 2020 | 27


THIAGUINHO E RAFAELA

Thiaguinho Mendonça e Rafaela Theodoro

A COMMEDIA DELL’ARTE DA LEOPOLDINA Arlequim e Colombina

Thiaguinho Mendonça e Rafaela Theodoro representarão na avenida o casal romântico imortalizado no imaginário coletivo carnavalesco como a idealização do amor de carnaval ele o arlequim e ela, colombina. Em 2020, Rafaela Theodoro, completa 10 anos como primeira porta-bandeira da Imperatriz reunindo, fruto de sua experiência, as habilidades da dança com emoção e estilo particular. É exatamente o estilo gracioso, sutil e leve de IMPERATRIZ 2020 | 28

sua dança que emociona plateias. Na Avenida Iluminada, seus giros e deslocamentos graciosos e ágeis sugerem que Rafaela desliza sobre solo, como quem flutua, como uma sílfide que parece ascender com a bandeira aos nossos olhos. Ao bailar com a bandeira, ela encarna todo o imaginário em torno da figura da porta-bandeira, todo o mito da bailarina romântica: seu corpo dançante parece imaterial e flutuante e seus gestos imprimem ao mesmo tempo modéstia e majestade. Sua virtuosidade está igualmente plena dos valores sociais que definem a


MESTRE-SALA E PORTA-BANDEIRA

feminilidade da dançarina. O lírio mimoso, e heroína dos gresilenses, nos parece inacessível, inatingível e intocável ao girar a bandeira acima da massa humana em desfile. Thiaguinho Mendonça, iniciou sua carreira no projeto Escola de Mestre-Sala e Porta-Bandeira Mestre Manoel Dionísio. Durante sua trajetória recebeu diversos prêmios, que o gabaritaram no quesito e que, consequentemente, o levou à Imperatriz. Misturando toda a competência da dança requisitada para um mestre-sala com a malemolência e jovem virilidade de um arlequim conquistador. É com sua coreografia astuta, vigorosa, elegante que o personagem materia-

lizado pelo corpo dançante de Thiaguinho consegue aceder, atingir e tocar aquilo que para todos parece impossível. Suas habilidades como mestre-sala e a perfeição de seus movimentos ao lado da dama e da bandeira criam o contraponto exato e o equilíbrio ideal entre o etéreo e o material, o lúdico e o real, a emoção e a razão. Se ela personifica o ideal feminino e delicado, ele prefigura a força e a dignidade ágil de um valete, características que se opõem e se completam.

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MARCÍLIO E ELAINE Marcilio Diamante e Elaine Fernanda formam nosso segundo casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira

A INSPIRAÇÃO JUNINA NA IMPERATRIZ Mesmo não sendo oficialmente avaliados pelos jurados, a rotina de ensaios e o empenho dedicado do nosso segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira seguem intensos durante o ano. A responsabilidade é enorme e poder empunhar o símbolo mais sagrado de uma escola de samba, exige tempo e determinação. Para o ano de 2020, nosso segundo casal representará a inspiração junina nas músicas de Lamartine Babo. Para quem pensa que a dança junina não tem ligação com o bailar de um ca-

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sal de mestre-sala e porta-bandeira, está muito enganado. Vamos ver mais uma vez uma bela performance da nossa dupla Marcilio e Elaine, com todo o garbo, a majestade e a realeza que consagram o pavilhão Leopoldinense.


ARTHUR FRANCO E PRETO JÓIA Arthur Franco e Preto Jóia, intérpretes. Meio Dia, Henrique César, Jefão e Taroba são os cantores de apoio. No violão, Pedro Marques e nos cavaquinhos Vinicius Marques e Leandro Thomaz

O CANTO FORTE DA IMPERATRIZ Dá licença.... Explode Imperatriz Voz marcante e tradicional da Imperatriz durante muitos anos, o intérprete Preto Joia está de volta ao nosso carro de som ao lado de Arthur Franco, nosso cantor oficial desde 2017.

Preto Joia, além da técnica perfeita e da experiência de anos como puxador oficial, carrega na voz a memória afetiva dos milhares de torcedores gresilenses que, ao ouvirem seu canto, se contagiam imediatamente, lembrando dos sambas vitoriosos interpretados pelo cantor nas conquistas da Imperatriz.

Arthur estreou como uma aposta da Imperatriz, maestro e professor de canto, o intérprete Uma dupla que se encaixa na harmonia e no destacou-se durante as eliminatórias de sambalanço, onde o amor pela verde, branco e ouro bas em nossa quadra e seu papel como cantor da Leopoldina é quem dá o tom. de apoio no carro de som foi de fundamental importância para sua ascensão ao “microfone oficial”. IMPERATRIZ 2020 | 31


ZÉ KATIMBA - COMPOSITOR Zé Katimba, compositor e Baluarte da Imperatriz, Zé Katimba na estação de Ramos , entrevista ao Jornalista Pedro Bassan para o programa Bom dia Rio, Os parceiros Serjão, Zé Katimba e Gibi, autores do samba de 1981/2020

SONHAR, SORRIR CANTAR, SAMBAR E NUNCA MAIS TER FIM Como escreveu o professor Luiz Ricardo Leitão na biografia dedicada ao compositor, Zé Katimba é o encontro da sanfona e da viola de fita com o surdo e o cavaquinho. A história de José Inácio dos Santos é digna de um romance ou um folheto de cordel. Mais um retirante que chega ao Rio de Janeiro, ainda capital do Brasil, vai viver no morro do Adeus, e participa ativamente do movimento que culmina da fundação da Imperatriz em 1959.

lizadas nas vozes dos maiores representantes do samba brasileiro, Zé dedicou boa parte de sua inspiração à Imperatriz Leopoldinense. A primeira vitória veio no ano de 1971, com o samba composto em parceria com Niltinho Tristeza para o desfile “Barra de ouro, barra de rio, barra de saia” e não demorou muito para repetir o feito, vencendo a disputa, agora ao lado de Gibi, para o carnaval do ano seguinte.

O Ano de 1972 é um divisor de águas na carAutor de centenas de obras musicais, imorta- reira de Zé Katimba, não só por sair vitorioso

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na disputa de sambas, mas principalmente por termos, pela primeira vez na história, um samba enredo figurar na trilha sonora oficial de uma novela da Rede Globo de Televisão. Martin Cererê ganhou o Brasil e Zé ainda foi presenteado com um personagem na trama de Dias Gomes, interpretado pelo saudoso Grande Otelo. A parceria de 1972 com Gibi rendeu frutos e, para o carnaval de 1981, escreveram um dos sambas mais populares de todos os tempos, contando com a poesia de Serjão, que integrou o time vencedor A obra composta pelo trio levou a Imperatriz à conquista do seu primeiro bicampeonato. Samba este que será novamente cantado na avenida em 2020. A preferência pelo emblemático “Só da Lalá” deu-se em razão dos elementos harmônicos, melódicos e poéticos que o samba reúne e, ainda, o apelo popular que o samba possui. O sucesso do samba foi tão grande, que até hoje ele figura como um dos melhores de todos os tempos, e não existe baile, cortejo, festa ou reunião carnavalesca em que não se entoem os versos sublimes compostos por Zé Katimba, Serjão e Gibi. A Letra consegue refletir com maestria a proposta do enredo, evidenciando o sentimento de felicidade que renasce em nossos corações em cada carnaval, onde somos dominós e colombinas, envolvidos por serpentinas nos blocos, escolas e cordões. O Samba nos convida a embarcar nesse “Trem” onde a obra de Lalá é a trilha sonora fundamental da alegria.

Neste palco iluminado Só dá Lalá És presente, imortal Só dá Lalá BIS Nossa escola se encanta O povão se agiganta É dono do carnaval Lá, lá, lá, lá, Lamartine Lá, lá, lá, lá, Lamartine Em teu cabelo não nega Um grande amor se apega Musa divinal Eu vou embora Vou no trem da alegria Ser feliz um dia Todo dia é dia (Eu já disse que vou...) Eu vou embora Vou no trem da alegria Ser feliz um dia Todo dia é dia (morena...) Linda morena Com serpentinas enrolando foliões Dominós e colombinas Envolvendo corações Quem dera Que a vida fosse assim Sonhar, sorrir Cantar, sambar E nunca mais ter fim


HARMONIA Nosso time nota 10 da harmonia na foto ao lado. abaixo nosso intérprete Arthur Franco e Jorge Arthur

CANTAR, SAMBAR ...E NUNCA MAIS TER FIM

Técnica e Emoção são os dois ingredientes básicos que cada componente da Imperatriz Levará para avenida em seu desfile. A escolha de um samba que pontua entre os melhores da história do carnaval é um facilitador, mas isso não diminuiu a responsabilidade do time de diretores de harmonia da Imperatriz durante os ensaios de canto. Além do canto, os diretores de harmonia cui- Neoci e Neto de João da Baiana, Jorge Arthur dam diretamente da evolução dos componen- começou cedo na ala de compositores da Imtes, e a orientação do Departamento de Carna- peratriz. val foi bem simples: Os componentes devem Vencedor de cinco sambas na Imperatriz, desfilar soltos, sem se prenderem a desenhos Jorge Arthur reúne a qualidade musical necescoreográficos ou interpretações, a coisa tem sária para a condução de um desfile perfeito em que fluir de maneira natural e espontânea, essa termos de evolução e Harmonia. é a essência de um desfile. André Bonatte, que integra o Departamento Jorge Arthur é o que podemos definir como de Harmonia, é músico percussionista formado Cria do Samba, filho do lendário compositor IMPERATRIZ 2020 | 34


EVOLUÇÃO Na foto ao lado, a alegria de nossos coordenadores de alas. Abaixo, André Bonatte e Preto Joia.

pela EPM (escola portátil de música) e atuou como jurado em mais de 10 desfiles dos grupos de acesso. Além de atuar como jurado, Bonatte, coordenou e ministrou alguns cursos direcionados à formação de julgadores nos quesitos musicais (harmonia, bateria, evolução e samba-enredo)

O resultado de meses de ensaio será colhido no dia do nosso desfile, onde o canto forte e a animação dos componentes da Imperatriz Leopoldinense contagiarão o Sambódromo do primeiro setor até a apoteose, impulsionando a escola na busca pelo sonhado título.

Diretor Geral de Harmonia: Jorge Arthur Departamento de Harmonia: Jorge Arthur e André Bonatte Outros Diretores de Harmonia: Coelho, Carlos Jorge, Chico Bala, Fabinho, Fábio Caprichosos, Fábio Churrasqueiro, Haroldo, Jairo, L. Neto, Patrick, Raul, Regis, Tuninho, Uiliam, Vitinho, Wlamir e Wilmar

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NO BALANÇO E NA ALEGRIA Nosso mestre de Bateria Lôlo durante o ensaio técnico na Sapucaí, no ensaio de quadra e na gravação para o programa Bom dia Rio.

Mestre Lolo, maestro da nossa bateria, consolidada como uma das melhores do carnaval, aposta na ousadia para levantar a Sapucaí no dia de desfile. O segredo para ousar sem colocar em risco o andamento do desfile está pautado sob três princípios:

monia entre os timbres médios, graves e agudos.

E ainda na versatilidade, na chamada “paradinha” ou “bossa” que precisa ser executada corretamente no tempo do samba, permitindo que o componente possa evoluir normalmente Entender que a Bateria é um quesito que in- durante sua execução fluencia diretamente vários outros, como harO destaque da Bateria da Imperatriz no prómonia e evolução, e a manutenção rítmica tem ximo desfile será justamente a combinação dos que se dar de forma cadenciada, mas com uma desenhos rítmicos mais tradicionais, elaborapulsação forte e constante, não deixando o samdos para o samba no desfile de 1981, sobretudo ba “cair”. na batida dos tamborins, em conjunto com as Um perfeito equilíbrio de sons, onde todos inovações propostas para 2020. É o moderno e os naipes possam ser ouvidos distintamente e o tradicional, junto e misturado! em conjunto, possibilitando uma perfeita harIMPERATRIZ 2020 | 36


VOSSA MAJESTADE, IZA

Iza, nossa Rainha de Bateria na festa de sua coroação

Iza desponta atualmente como uma das maiores personalidades brasileiras em evidência no cenário popmusic, além de participar como “jurada” no programa The Voice Brasil, da Rede Globo de televisão, uma projeção internacional que tem lotado, com milhares de Nascida em Olaria, bairro vizinho, Iza paspessoas, todos os shows realizados pela cantora. sava diariamente por nossa quadra no caminho A gigante Iza nos prestigiará com sua simpapara a escola, o Instituto Pio XI, e muitas das suas brincadeiras de festejos de infância foram tia, graça e beleza sambando à frente de nossa bateria. Para o mundo, a artista que arrasta as sob nosso teto. multidões, para nós a menina Isabela Cristina, De sua casa era possível ouvir o batuque de moradora de Olaria, fruto de nossa comunidanossa bateria nas madrugadas de ensaio, perde e digna representante da mulher brasileira mitindo à pequena Iza, os primeiros requebrano posto de Rainha da Imperatriz dos ao som de nossos surdos e tamborins. Ocupar o posto de Rainha de Bateria da Imperatriz Leopoldinense não é tarefa fácil, consagrado durante anos por Luiza Brunet, o lugar à frente dos ritmistas de Ramos é lugar de Honra e Tradição.

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Ainda sobre a coroação de Iza, nas fotos com o Presidente Luiz Pacheco Drumond e com o presidente de Conselho Deliberativo, José Henrique Pinto. Abaixo Iza com Nathália Drumond, Luiz Pacheco Drumond e Simone Drumond. Iza em visita ao Barracão e com Mestre Lôlo, em sua bateria

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ALA MIRIM

Nossa Intrépida Trupe Leopoldinense - Nossa Ala Mirim

SOU CRIANÇA, SOU FOLIA, SOU VONTADE DE BRINCAR O futuro da Imperatriz está garantido na alegria e nos sorrisos dos nossos pequenos sambistas, que encontram na ala mirim a porta de entrada para Escola. Ali começam a desfilar nossos ritmistas, passistas, mestres-salas e porta-bandeiras do amanhã, e desde cedo cultivam o amor e o respeito pelo pavilhão. A Imperatriz Leopoldinense é uma das poucas agremiações que possui uma ala, exclusivamente, de crianças e muito se orgulha disso. Formada por 100 meninos e meninas de nossa

comunidade, a ala conta com a dedicação e o carinho das tias Jussara, Mayara, Juliana e Roberta Paz que juntas coordenam nossa intrépida trupe. Este ano nossos pequenos representarão “A Marcha do Grande Galo”, uma marchinha composta por Lamartine Babo. Na fantasia, uma alusão carnavalesca para a canção, figura em evidência o Galo, personagem principal da trama que promete encantar os brincantes durante o nosso desfile IMPERATRIZ 2020 | 39



HÁ 40 ANOS

A arte genial de Arlindo Rodrigues impressa nas baianas de 1980

O QUE QUE A BAHIA TEM? Há 40 anos, em 1980, a Imperatriz Leopoldinense conquistava seu primeiro título. O enredo era “O que que a Bahia tem?”, do carnavalesco Arlindo Rodrigues, que criou nada menos que três alas de baianas e dezenas de tripés representando essa personagem.

referência em nossos desfiles.

No carnaval de 80, o artista deixou clara a poética de seu trabalho artístico em vários detalhes, dentre os quais as profusões de babados de rendas, as falanges de anjos e o contraste do colorido das alegorias que pareciam emergir O desfile foi um divisor de águas na história das massas brancas formadas pelas alas. da Escola, muito deveu-se ao empenho do preArlindo Entrou para a história do carnaval sidente Luiz Pacheco Drumond, na contratação como um dos maiores carnavalescos de todos do carnavalesco campeão do ano anterior. os tempos, e deixou na Imperatriz um legado Arlindo trouxe para a Imperatriz sua estética de arte que muito nos orgulha e nos dá referênmarcante, que virou a “cara” da própria Escola cia. e que, quarenta anos depois, ainda serve como IMPERATRIZ 2020 | 41


ALA DAS BAIANAS Toda majestade de nossas baianas, abaixo tio Raul ao lado de Neuza Nogueira, com seus 84 anos é a baiana mais idosa e de Carla galvão, a mais nova com 46 anos

PEGA NA BARRA DA SAIA, VAMOS RODAR... O verso do famoso samba enredo de 1980 nos remete à poesia do giro encantado de uma baiana com sua saia de renda rodada. Elas, as senhoras do samba ornamentadas com seus colares de contas, turbantes e pulseiras, são as donas do terreiro.

extensão de suas casas. Formam uma verdadeira família, que se mantem unida ao longo do ano, em encontros festivos nas quadras das escolas coirmãs e na própria sede da Imperatriz.

Para o carnaval em homenagem ao compositor Lamartine Babo, nossas baianas representaNos ensaios da quadra, são elas as primei- rão a famosa marcha junina “Isto é lá com Sanras a se apresentarem, despertando respeito e to Antônio”. admiração no público que as rodeiam. Salve a Bahia Sinhô. Sob a tutela do tio Raul Cuquejo Marinho, de 71 anos, que preside a ala por 27 carnavais, nossas tias baianas encontram na Imperatriz uma IMPERATRIZ 2020 | 42


VELHA-GUARDA Nossa Galeria da Velha-guarda, ao centro da foto Solange Gosta, presidente entre Josina Braga, a mais idosa da turma (91 anos) e Adalberto, com a faixa de Baluarte.

O FUNDAMENTO DOS MESTRES Entre uma cerveja e um caldo de feijão, riPara quem busca saber dos casos e das curiosidades da Imperatriz, ao longo desses quese sadas e batucadas na mesa, a escola vai se dessessenta e um anos de existência, não há lugar vendando nas palavras daqueles que viveram e melhor do que um encontro da galeria da ve- fizeram a história da nossa escola. lha-guarda. Dona Solange Costa é a presidente da ala. O Fim de tarde de uma terça-feira suburbana, o baluarte gresilense é Adalberto, com décadas de sol mal se põe no morro, e eles vem chegando, desfiles dedicados à Imperatriz. de mansinho com seus sapatos e sandálias arAbram alas para os reis e rainhas da Imperastados no chão marcando a cadência da vida. ratriz! São os guardiões dos nossos saberes, Sempre trajados nas cores do pavilhão, bra- memória viva de nossa escola, são os antigos são bordado no peito, o orgulho estampado por ritmistas, passistas, baianas e componentes que pertencerem à galeria dos sambistas mais res- escreveram as páginas de nossa história. peitados do bairro. IMPERATRIZ 2020 | 43


ALA DE PASSISTAS

NA GINGA E NO BALANÇO DA IMPERATRIZ Cabrochas e malandros frequentam o imagi- tas que a elas rodeiam como beija-flores. nário coletivo do carnaval há muitos anos. Nossa ala de passistas, coordenada pela inEles possuem a ginga do samba ligeiro que trépida Jéssica Andreza, é fruto de um trabalho confunde os olhos de quem os assiste riscar o sério e de muita dedicação. Passado um carnaterreiro. Se vestem com a elegância dos sambis- val, logo os encontros são retomados em nossa tas de outrora, que precisavam da “beca” impe- quadra e os ensaios começam. cável para que a dona Polícia não implicasse e Um dos motivos de grande orgulho para a tomasse seus instrumentos. escola é a formação de passistas mirins, que a Elas são as divas da avenida, musas inspira- cada ano recebe um número maior de crianças doras de poetas e pintores que seduzem, no ba- e adolescentes com o desejo de fazer parte deste lanço e nos requebrados dos quadris, os sambis- seleto time de sambistas.

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Durante nossos ensaios de quadra, a apresentação do nosso elenco de passistas é, sem dúvidas, um dos momentos mais aguardados. Logo a grande roda se forma e o público, em êxtase com as performances, vai ao delírio. Centenas de celulares, gravando cada momento da dança, iluminam o terreiro para que os sambistas de Ramos possam dar seu show. Na avenida em 2020, nossos passistas virão no setor do futebol, a fantasia é uma surpresa preparada por Leandro Vieira, que promete levantar a Sapucaí do setor um até a praça da apoteose. IMPERATRIZ 2020 | 45


UNIDOS SOMOS MAIS FORTES André Bonatte, Vice-presidente Cultural do GRESIL

O ano de 2020 definitivamente ficará marcado na história da Imperatriz Leopoldinense como um carnaval do reencontro entre a Escola e sua comunidade. Independente de resultado, uma nova Imperatriz nasceu, mais forte, mais unida e mais feliz! O resultado ruim do carnaval anterior não diminuiu o sentimento de grandiosidade da escola, pelo contrário, o reencontro com sua essência, com a sua raiz e com a sua maneira de fazer carnaval constrói a base que nos faz olhar para o futuro e acreditar em muitas outras conquistas que ainda estão por vir. É uma nova Imperatriz? Sim, mas com orgulho do seu passado e do seu legado construído com muito samba, amor e arte durante seus sessenta anos de existência. A Imperatriz se reconhece hoje no coletivo, não existe diretoria de um lado e componente do outro, somos todos instrumentos da mesma engrenagem. O sentimento de pertencimento

a uma instituição que é referência em cultura popular genuinamente brasileira é de todos que pisarão na avenida no dia 22 de fevereiro vestindo as cores da nossa bandeira. Saudamos cada ritmista que doa seu sangue no couro sagrado dos surdos que marcam a nossa cadência, saudamos nossa velha-guarda e ala das baianas, nossos alicerces de saberes e de história, saudamos nossos passistas, que riscam o chão da avenida com graça e majestade, saudamos nossos diretores, nossa “harmonia”, nossos cantores e músicos. Saudamos nossa comissão de frente e nossos casais de Mestres-Salas e Porta-bandeiras, defensores de nossa maior relíquia: o nosso pavilhão. Saudamos cada componente, que veste a fantasia e dedica à Imperatriz o seu amor e a sua dedicação. Juntos somos mais fortes, e de mãos dadas caminharemos nessa avenida. São 55 minutos que nos separam do apogeu de mais uma grande vitória!


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