Revista Carnavalesco nº 1

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Edição 01

Maio,2019

CARNAVALESCO As transformações sociais no Rio de Janeiro da Primeira República e Estado Novo: a imigração portuguesa e seus reflexos no Carnaval carioca

O Brasil na Primeira República e no Estado Novo

A imigração portuguesa na Primeira República e no Estado Novo

Carmem Miranda: “sou filha de Portugal”


"Assim, por meio do maxixe e do samba, de apresentações e mais tarde da indústria fotográfica, os cidadãos pobres tinham um acesso parcial à privacidade do lar dos mais abastados e estes, por sua vez, imaginavam estar penetrando no âmbito clandestino latente à margem da boa ordem". (SEVCENKO, 1998, p. 544-45)


Já se perguntou como era o Carnaval nos séculos XIX e XX? E por que ele é hoje um dos maiores símbolos do país? OS AUTORES

Esta é uma edição incomum. Abordar a

Sentatividade

da

portuguesa

Carmem

imigração portuguesa no Rio de Janeiro

Miranda no Carnaval e na construção da

durante o período compreendido entre a

identidade brasileira, o caso de Laéssio, o

Primeira República e o Estado Novo,

"maior ladrão de livros", dentre outros

correlacionando ambos com um dos maiores

temas envoltos nesse material.

símbolos do país, o Carnaval, é certamente

Pensamos, dessa forma, em transmitir ao

uma forma de demonstrar que sim, o

leitor uma ampla gama acerca do Carnaval entre

Carnaval é cultura e sobretudo, História.

a Primeira República e o Estado Novo, partindo

Além disso, buscamos evidenciar o quão

da premissa de que, sim, Carnaval é História,

importante esses elementos foram e são, no

cultura

Brasil.

Consequentemente, possui extrema importância

e

parte

de

cada

um

de

nós.

Posto isso, no decorrer das páginas

para nossa cultura, história e nossa sociedade

seguintes, o leitor irá presenciar a importância

como um todo. Elaboramos a edição com o maior

das transformações sociais para a imigração portuguesa

durante

os

períodos

aqui

evidenciados, bem como o as transfigurações que o Carnaval passou até se constituir como uma parte de cada um de nós brasileiros, ou seja, uma parte de nossa história. Não

carinho e cuidado, para então demonstrarmos a complexitude e magnificiência do Carnaval atrelada às transformações sociais e a imigração portuguesa, que constitui uma ampla importância nesse contexto. Seja bem vindx à edição 01 da revista Carnavalesco!

obstante, buscamos ainda, evidenciar outras temáticas no decorrer da revista, como os arquivos públicos, o carnaval em sala de aula, Noel Rosa e o samba na década de 30, a repre-

Seja Bem Vindx !


O BRASIL NA PRIMEIRA REPÚBLICA

A Primeira República Almanaque: Entrudo

O ESTADO NOVO

04 10

Contexto social e político

26

O Carnaval no Estado Novo

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Almanaque: Revista Lusitania

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with Heidi Stone

CARMEM MIRANDA

A IMIGRAÇÃO PORTUGUESA Na Primeira República e no Estado Novo

13

Almanaque: sufrágio feminino

19

Almanaque: os arquivos públicos

20

"Sou filha de Portugal"

33

Almanaque: Laéssio

37

As marchinhas de carnaval

38

Almanaque: Noel Rosa

41

O CARNAVAL O carnaval na Primeira República

21

Almanaque: carnaval em sala de aula

25

ATUALIDADES O Carnaval

42

Fique Ligado nos Museus

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Considerações finais

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As transformações sociais numa República recém-proclamada

Avenida Central, no Rio de Janeiro por volta de 1910. Disponível em: http://educacao.globo.com

uando nós tratamos de abordar o Brasil Q inserido no contexto da Primeira República, necessitamos levantar alguns pontos que são necessários. No final do século XIX, o movimento republicano se intensificava cada vez mais, enquanto que alguns grupos abraçavam aquilo que estava sendo colocado. Com a queda da Monarquia e o golpe da República (financiado pelos latifundiários e proclamado posteriormente à revelia do povo, atendendo aos interesses de alguns republicanos), algumas características marcaram esse peculiar momento de transição do regime governamental, que vai muito além dos governos de São Paulo e Minas Gerais.

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O Estado enfrentava uma crise econômica, e para os republicanos, tanto radicais quanto os mais conservadores, o liberalismo econômico seria a única e, talvez, eficaz solução para a melhoria e o avanço do país. Quando a historiografia brasileira retrata o liberalismo nesse contexto de passagem da Monarquia à República, é imprescindível destacar que esse movimento político possuía três vertentes que o compunha: o liberalismo civil, político e econômico. O liberalismo civil nada mais assegurava que a liberdade dos civis e a relação dos indivíduos com o próprio Estado.


Além destas figuras, membros da Baixa Patente militar, como tenentes, soldados e cabos apoiavam o republicanismo, enquanto que a Alta Patente, composta por marechais, generais e coronéis era mais conservadora e religiosa. Com o positivismo no Brasil, houve ainda alguns aspectos levantados como a separação entre Igreja e Estado (um dos grandes marcos da Primeira República), abolição do Conselho de Estado e do Senado Vitalício, o Federalismo e o próprio fim da escravidão que já tinha sido decretado com a Lei Áurea de 1888, assinada pela então princesa Isabel.

http://4.bp.blogs pot.com

em: Disponív el

O político, em suma, embasava o direito do cidadão ao voto, denominado como voto universal. Apesar de possuir esse nome, o voto era restrito apenas a homens letrados, excluindo totalmente a maior parcela da população, principalmente mulheres e pessoa analfabetas. O liberalismo econômico, influenciado pelo liberalismo estadunidense, abraçava a causa do comércio privado. Outro aspecto importante de levantar e que se difere do Liberalismo é o Positivismo. A ideia principal dos positivistas se baseia de que o comando do Estado deveria ser centralizador e autoritário, movido pelos militares. Figuras de nossa história como Marechal Deodoro da Fonseca - que se tornaria o primeiro presidente do Brasil - e outros políticos que formavam a composição do governo, eram influenciados pelas ideias positivistas.

Constituição de 1891, em que possui aspectos concernentes ao liberalismo econômico e político, bem como a desobrigação do Estado com a educação na "nova" República.

Disponível em: https://upload.wikimedia.org

Com a instauração da República, a primeira Constituição do Estado fora de fato fincada em 1891. Na Constituinte, vários aspectos estavam presentes nela, como o Federalismo (a grande bandeira do final do Império) e a desobrigação do Estado quanto à educação. Com a implementação do Federalismo na Primeira República, os estados, que antes eram províncias no Império, passaram a possuir autonomia própria. Cada estado, além de ter a sua constituição própria, poderia decretar e cobrar impostos, contrair empréstimos no exterior, elaborar sistema eleitoral e judiciário próprios, organizar as suas próprias forças militares e legislar, (mesmo que estas leis fossem subordinadas a uma legislação unificada à Justiça Federal). Isso tudo acabou acarretando em uma política de alianças para a ocupação da presidência e a liberdade política dos governadores dos estados da Federação.

"Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-1927). Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo

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Se faz necessário compreender que a “República do Café com Leite” assim descrita pela historiografia tradicional, não se limitava somente aos estados de São Paulo e Minas Gerais. Os partidos PRP e PRM – chapas de São Paulo e Minas para o comando do Poder Executivo - nem sempre estavam de acordo. Os outros estados, que eram também polos econômicos do país como Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco, teriam um papel significativo na definição das candidaturas aos Presidentes da República. A República também nutria expectativas para uma parcela da população. Promover o acesso à cidadania era um desejo da classe média. Além disso, civilizar o país em termos de modos e costumes era um dos anseios dessa camada da sociedade brasileira.

queda da Monarquia. A troca do voto popular (o tão conhecido e polêmico voto de cabresto, controlado pelos potentados locais), por empregos e verbas públicas para os municípios era, um controle absoluto do chefe político local sobre o voto das populações rurais. A maneira em que esse controle era mantido teve nesse contexto um papel importante, ao menos para definir as disputas entre os coronéis. As formas como essas oligarquias estaduais arbitravam essas disputas territoriais, poderiam, muitas vezes, tomar proporções de pequenas guerras civis e locais por meio do faccionalismo.

Representação do voto de cabresto. Disponível em: www.todapolitica.com

Se por um lado temos a política que estava sendo implementada nas cidades, grandes centros urbanos e capitais do país eclodiam rapidamente, por outro lado temos o sistema político dos pequenos municípios e das cidades interioranas da Nação. O maior marco destas políticas rurais é o Coronelismo. Como o próprio nome já diz, o coronelismo foi uma política composta por coronéis oligarcas, homens proprietários de terra e de grande prestígio na sua região. Esta estrutura de poder nada mais era do que um sistema político, baseado em um poder privado e local. O coronel era um agente político que fazia a ponte entre a cultura tradicional e a cultura cívica republicana. Neste sistema havia uma forma de mandonismo local, dentro de um contexto de enfraquecimento do poder privado, ligado à abolição da escravidão e à

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Dis ponível em: todapolit ica.com

Coronelismo

Aspectos sociais e culturais da Primeira República A ideia de Civilização vs Barbárie é também um ponto chave do Brasil no início da República. Para as classes mais elitizadas e para os republicanos no geral a mistura de culturas, valores e costumes era entendida como o desequilíbrio, o descontrole e a desordem do país. Para essas classes, as populações negra, mestiça e imigrante eram culpabilizadas pelo país não progredir. Por conta disso, a repressão e a violência, promovidas pelas práticas policiais, seguiam a lógica elitista e de apoio das classes mais ricas.


Influenciados pelo darwinismo social, que tinha como base o teor racismo científico, o escalonamento racial promovido pela ciência afirmava que os brancos eram mais evoluídos do que a população mestiça e preta. Não houve, nesse momento, uma tentativa de inserção dessa população. Todo o descontrole no país, pela percepção da elite, era causado por essa maioria da população. Além do racismo científico, o Higienismo urbano também se configura nesse momento. Para as classes mais bemsucedidas, a população com renda mais baixa era culpada também pelas doenças que estavam surgindo naquele contexto. A ideia do Higienismo seria limpar as cidades e distribuir o saneamento para amenizar os surtos de doenças que estavam surgindo, como a febre amarela, sarampo e etc., além de promover uma limpeza social, empurrando e expulsando as populações mais baixas que ocupavam e moravam nos centros das cidades para as periferias e locais mais isolados.

Teatro Municipal do Rio de Janeiro, por volta de 1909. Marc Ferrez. Representa a urbanização que a capital da República passava, bem como o seu embelezamento. Disponível em: mundoeducação.com.

Abertura da Avenida Mem de Sá uma via diagonal ligando a Lapa aos bairros da Tijuca e de São Cristóvão (1.550m de extensão – 17m de largura). Foram abaixo todos os prédios paralelos aos Arcos da Lapa e o Morro do Senado, a fim de liberar passagem para a Avenida.

Havia ainda uma questão voltada com as reformas urbanas. As elites se preocupavam com o embelezamento dos espaços públicos urbanos - expressão essa da burguesia que auxiliaria no alcance do progresso -. Cidades como o Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte (a nova capital projetada na República) tiveram uma tomada do espaço público pela própria burguesia, movida e inspirada nos grandes centros populacionais europeus, como Paris e Londres, por exemplo. As construções de cafés, confeitarias, livrarias, praças, ruas e avenidas iluminadas, edifícios arquitetônicos, monumentos altos e espaços bem requintados eram totalmente espelhadas na urbanização de padrão europeu, principalmente nos centros vistos como civilizados pela elite brasileira. Além dessa tomada de espaço público feita pela burguesia, os movimentos artísticos eruditos marcaram a modernização das grandes cidades.

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Em suma, a Primeira República foi caracterizada como um período de grandes mudanças político-sócio-econômicas, de contradições, alterações e divergências, sendo marcada pela força das oligarquias, do liberalismo excludente e da alternância dos governos civis. A desigualdade social e política desse período motivaram a revoltas em todos os cantos do país, pontos esses bem provenientes e presentes do período republicano.

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Disponível em: https://revistagloborural.globo.com

Imigrantes europeus posando para fotografia no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes, São Paulo, no final do século XIX (Foto: Guilherme Gaensly/Fundação Patrimônio da Energia de São Paulo/Memorial do Imigrante

Disponível em: http://primeirafaveladorj.blogspot.com/

Aconteceu também nesse momento republicano, a migração interna no país devido à perda populacional do Nordeste, eclodindo assim no nomandismo formado por caipiras, sertanejos e caboclos, que deixavam suas cidades do interior para buscarem uma melhor condição de vida nas cidades e capitais, além de claro, estarem, pela maioria das vezes, fugindo das políticas e ameaças dos coronéis e de seus capangas. Com a chegada dos europeus no Brasil devido à política de branqueamento, muitos deles (principalmente italianos, poloneses, portugueses e espanhóis) que trabalhavam nas fábricas e indústrias das cidades vieram da Europa influenciados pelas políticas de matriz esquerdista. A movimentação operária eclodiu, inspirada na Revolução Russa de 1917, nos meios operários dos brasileiros, dando origens a partidos comunistas, marcados também inicialmente com a presença dos anarquistas e dos partidos de classe com os sindicalistas. Muitos desses imigrantes eram ligados a movimentos anarquistas quando viviam em suas cidades natais, trazendo para o Brasil suas ideias.

Morro da Previdência, por volta de 1900. Considerado como a primeira "favela" do Brasil. Denota amplamente as transformações que estavam ocorrendo no Rio de Janeiro no período, bem como a divergência entre o que a República propunha e o que estava sendo colocado em prática na capital.


O Entrudo representado por Debret (1816-1931)

Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br

Almanaque

O ENTRUDO E UMA BREVE HISTÓRIA DO CARNAVAL NO BRASIL E

m sua extensão e multiplicidade, o Brasil

graças à miscigenação contém variados tipos de expressões espalhadas por seu território, e a mais forte e que mais representa o país mundo a fora, é sem dúvida o carnaval. Existem tantos carnavais no Brasil que é difícil representar e falar apenas de um, e é essa pluralidade de expressões que revelam a nossa diversidade cultural. O carnaval, no entanto, não tem origem em terras brasileiras, estuda-se que ele tenha origem na história antiga, com gregos e romanos, e que até os egípcios o festejava. Para o historiador Julio Caro Baroja, o carnaval é descendente do cristianismo desde a Idade Média, tendo ligação direta com a quaresma, e também possuindo conexão com festas pagãs que para nós, juntam-se características portuguesas, africanas e ameríndias.

No Brasil, entretanto, o carnaval chegou com os imigrantes portugueses no século XVIII e tinha o nome de Entrudo, que significa “entrada” em latim. Esta festa era caracterizada por uma “guerra” nas ruas, onde usava-se para atacar os que passavam desavisados, bombas de mau cheiro, farinha, gesso, e entre outros. Muitas das inspirações vieram também do carnaval de Veneza, com seus pierrots, colombinas e máscaras típicas. Característica da “guerra” das ruas está ilustrada na pintura de Jean Baptiste Debret contida na obra Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. Mas cabe ressaltar que a origem do carnaval brasileiro não se limita apenas ao entrudo, tendo também as manifestações religiosas e folguedos populares.

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As festas antecediam em três dias a quaresma, e lotavam as ruas de cidades pelo Brasil. No Rio de Janeiro, jogavam água com farinha e de cheiro forte, as chamadas bombas fétidas, e os escravos eram livres nesse dia para farrear junto ao resto da população, passando farinha no rosto e vestindo roupas velhas de seu senhor, a fantasia de “velho europeu” que servia também como uma crítica à autoridade e poder. Então em 1904 o prefeito do Rio, Pereira Passos lança o “Rio civiliza-se” acabando com os Entrudos.

No ano de 1855 surgiram as primeiras Grandes Sociedades, que hoje conhecemos como as escolas de samba. Eram uniões que desfilavam no domingo de carnaval com música, máscaras, flores e roupas luxuosas, mais famosa e maior desse período era a “Congresso das Sumidades Carnavalescas”. As Grandes Sociedades não se limitavam só ao carnaval, elas se envolviam com questões política sendo elas republicanas, e tiveram participação na abolição, arrecadando dinheiro para comprar escravos e depois libertálos.

Corso de Carnaval de 1907, utilizado quando a aristocracia saía em carros abertos desfilando pela Avenida Central, atual Avenida Rio Branco e Avenida Beira Mar.

Por sua vez a origem das escolas de samba está ligado ao “rancho dos Reis”, que começaram a aparecer no Rio ao final do século XIX e XX, que se caracterizava por ser cortejos mais organizados que os blocos, estes ranchos eram majoritariamente da classe popular, mas alcançava também intelectuais e a classe média. Foi no século XIX que José Nogueira de Azevedo Paredes teve a ideia de animar a festa de carnaval e introduziu o som de tambores e zabumbas, e em 1840 a burguesia brasileira que não gostava da bagunça do entrudo criou o baile de máscaras.

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Já no século XX o corso passou a ser usado no Rio e em outras cidades do país, que eram os desfiles em carros abertos, tendo inícios com as filhas de Afonso Pena, que tiveram a ideia de desfilar em grandes carros pela Avenida Central. O corso vigorou até os anos 30, quando com a modernização do setor automobilístico, os carros passaram a ter os tetos fechados. Em relação à música, o samba e as marchinhas surgiram com o intuito de dar ritmo a desordem ao carnaval, e dividia-se naquela época a música de carnaval e música de meio de ano, as músicas de carnaval eram lançadas nas rádios meses antes do carnaval para que as pessoas aprendessem à cantá-


las, mas o gênero ainda não estava efetivado como hoje. Assim, o samba em si ainda estava muito atrelado ao maxixe, e as marchinhas que eram tocadas eram caracterizadas por serem de sátiras aos políticos, e acontecimentos que ganhavam maior destaque na imprensa. Corso de 1907. Autor desconhecido.

palhou-se pelo subúrbio dos morros as Escolas de Samba, conhecidas até hoje, como a Estação primeira da Mangueira e a Vermelha e Branco do Salgueiro, com pequenas alterações de nomes. Em 1935, é oficializado o desfile das escolas de samba Sendo assim, as escolas de samba que até 1951 ocorria na Praça Onze. passaram a adotar o enredo como característica indispensável do carnaval carioca, junto com o samba, que até 1935 apresentavam-se com temas sobre a história do Brasil por decisão do governo, passando a depois disso, ter representações e críticas na letra. O carnaval segue sendo até os dias atuais a maior e uma das mais bonitas festas do Brasil. Apesar de não ter suas origens em

Disponível em: https://www.riodejaneiroaqui.com/ De 1952 a 1956 foi a vez da Avenida Presidente Vargas receber os desfiles, passando para a Avenida Rio Branco de 1957 a 1962 e finalmente, com o projeto de Oscar Niemeyer, em 1978 cria-se a Sapucaí que até hoje é palco dos desfiles no Rio de Janeiro. Já na década de 80, do século XX, a música carnavalesca passa a se modificar, sendo adotado na Bahia e em outras cidades do nordete, o Axé-music. No Rio de Janeiro, es-

nossa terra, é totalmente a cara do povo brasileiro, sendo vista mundo a fora como a festa de gente feliz. Pessoas do mundo inteiro vem ao Brasil no carnaval assistir aos desfiles de escolas de samba e ir atrás dos trios elétricos na Bahia para dançar o axé. É a única época do ano em que os brasileiros esquecem dos seus empregos e afazeres e vão para as ruas fantasiados, cantando as ainda marchinhas e enredos de samba presentes de diferentes jeitos ao redor do Brasil.

Carro alegórico da escola de samba Mangueira, a campeã do Carnaval 2019, apresentando criticamente o seu enredo. Disponível em: https://diversao.r7.com

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A imigração portuguesa na Primeira República e no Estado Novo

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N a primeira metade do século XX, um grande contingente de portugueses se

Isto é, os fatores que levaram esses imigrantes à abandonar suas terras de origem, estiveram ligadas, eminentemente, à conjuntura interna do país, no período da primeira metade do século XX.

dirigiram ao Brasil, buscando melhorias de vida. A imigração portuguesa, especificamente na cidade do Rio de Janeiro, fora marcada então por essa esperança latente de melhorar a vida no novo país, uma vez que as condições de vida na Europa encontravamse complicadas nos mais variados âmbitos.

Além disso, uma distorção no desenvolvimento do capitalismo aliado ao estopim da crise vinícola portuguesa (18861888) iriam contibuir enormemente para a emigração em massa no país luso.

Minho, Concelho de Esposende, Distrito de Braga por volta de 1927.

Disponível em: https://commons.wikimedia.or g

Passaporte de um imigrante português região do

A d a p t a d o . D i s p o n í v e l e m : h t t p s : / / p

Disponível em: commons.wikimedia.org. Adaptado.

Em Portugal a situação incluía um profundo reordenamento econômico desde meados do século XIX que baseava-se numa implantação de relações de cunho capitalista no meio rural. Este fato privilegiava a instalação de grandes companhias exploratórias comercialmente agrícolas, além de introduzir uma imensa mecanização na produção, de acordo com o consentimento do Estado. Este por sua vez, contribuiu vastamente para instalar a nova conjuntura econômica por meio de medidas legais, o que prejudicou os pequenos proprietários rurais.

Mapa da Península Ibérica com os Rios Douro (1) e Tejo (2)destacados na cor azul. Os portugueses geralmente abandonavam o país utilizando de ambos os rios

A PORTUGAL 1

2 ESPANHA PORTUGAL

Nesse sentido, o “Rio de Janeiro, abria seus braços e o cais de seu porto para os imigrantes que fugiam da miséria na Europa, e mais especialmente para aqueles que deixavam para trás as margens do Tejo e do Douro”. No entanto, assim que chegavam na terra de “fazer riquezas” os imigrantes lusos já percebiam as diversas dificuldades que ela apresentava. Após desembarcarem nos borbotões e ao Cais Pharoux necessitavam arranjar um lugar para se alojarem e conseguir uma ocupação. Numa terra desconhecida e sem auxílio, acabam por ficar ali mesmo na região central da Capital Republicana, estabelecendo-se na Gamboa, na Saúde, no Castelo, e iam trabalhar, na maioria das vezes, em funções que não exigiam qualificações prévias.

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Com isso, muitos eram caixeiros ou estivador, empregos altamente pesados e com baixa remuneração. Aceitavam essas funções que detinham características de exploração degradante, por que eram em suma, camponeses fugidos da proletarização e do obrigatório serviço militar de Portugal. Este fato assustava até mesmo os cariocas na primeira metade do século XIX, uma vez que o próprio cronista João do Rio explicitava as condições sub-humanas do trabalho, demonstrando que os portugueses haviam saído de um país com condições paupérrimas, sendo ingênuos e apavorados só em pensar de voltar pobre ao país de origem. Os portugueses foram associados no imaginário popular carioca como trabalhadores ignorantes e iletrados. Além disso, uma reaproximação com as concepções de colonizador eram perceptíveis sobre o grupo no Rio de Janeiro, fato este que levou à ideia de que os lusitanos enriqueciam por meio de maneiras pouco louváveis e até mesmo, como o imigrante desonesto e exploratório. Este sentimento antilusitano era percebido principalmente nos cortiços após a fundação do jornal O Jacobino (1894) que acusava de forma xenofóbica, a imprensa carioca de ter sido financiada pelos comerciantes portugueses. Capa do jornal antiportuguês O Jacobino, de 1894. Na charge o imigrante português é ridicularizado de modo que chega empobrecido no Brasil, e vai enriquecendo ás custas da “exploração do povo brasileiro.

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O imigrante, desenho de Raul Pederneiras, início do século XX. Representação típica do imigrante português recém-chegado ao Rio de Janeiro em começos da República: as mãos calejadas e grossas, a barba por fazer, as botinas toscas pedindo engraxate. Na cintura, a larga faixa franjada, tecida pela mãe que ficara na aldeia. Na cabeça, o chapéu de feltro, com grandes abas recurvas. Sobre as costas, a trouxa remendada, trazendo os poucos pertences que cruzaram o Atlântico.


Grupos de imigrantes mais numerosos entrando no Brasil, 1890-1929 Como Maria Tereza Schorer Petrone demonstra na tabela, os portugueses representaram o segundo maior contingente imigratório no país, entre 1890 e 1929, contando com mais de 1 milhão de lusos no Brasil. Fonte: Maria Tereza Schorer Petrone. "Imigração". História Geral da Civilização Brasileira, Tomo 3, v. 2 (São Paulo: Difel, 1978). pp.100-101

Além da marca cultural que os portugueses tiveram no Brasil do contexto, e apesar das divergências entre brasileiros e lusos serem uma tônica durante a Primeira República, é certo que os portugueses tiveram uma grande influência no comércio varejista da cidade, que observou o crescimento da malha urbana. Não obstante, estiveram fortemente vinculados ao comércio atacadista e de produtos de lux, inclusive a moda. Exemplo famoso disso, é a luxuosa loja de departamentos Pac Royal, que fora uma imensa referência de elegância durante toda a Bellé Époque.

Na foto vemos, ao centro, D.Maria, mãe de Carmen, e a filha Olinda. À sua direita, Carmen nos braços de parente, ainda em Portugal.

Disponível em: www.multirio.rio.rj.gov.br

Nesse período de imigrações, uma figura que iria marcar a história da música brasileira emigra de Portugal com sua família. No ano de 1910, Carmem Miranda com menos de 1 ano de idade chega ao Brasil junto dos seus familiares. Portuguesa de origem, mas que representaria altamente a identidade brasileira no mundo a fora nas décadas posteriores, marcando também o carnaval brasileiros dos anos 40.

Disponível em: http://carmen.miranda.nom.br/

A loja de departamentos Parc Royal, de propriedade de portugueses, impactou e modernizou o comércio da moda e do Rio de Janeiro. CARNAVALESCO | 16


A imigração portuguesa no Estado Novo

D

Disponível em: aristotelesdrummond,com

urante o período do Estado Novo brasileiro, é sabido que muitas medidas foram adotadas no tocante à imigração para o país. Contudo, para compreendermos como essa imigração se deu no Brasil durante o contexto, inclusive no Rio de Janeiro, é necessário que compreendamos a situação em Portugal, durante a década de 30.

Mas, o que estava acontecendo em Portugal nos anos 30? Em 1930, Portugal assistiu à aprovação do Ato Colonial ainda durante o período da Ditadura Nacional, que definia as relações entre Portugal e suas antigas Colônias, como o Brasil. No ano de 1933, denominado de Estado Novo, o Ato passa a vigorar efetivamente no governo de Antonio Oliveira Salazar. O Ato estava baseado nos princípios de que o país pelo fato de ser cristão, europeu e ocidental, carregava consigo uma função histórica de possuir, civilizar e colonizar os domínios ultramarinos. Desse modo, o Ato Colonial oficializado no governo de Salazar se vincularia altamente com os Decretos de Getúlio Vargas referentes à imigração no Brasil. Com isso, diversos elementos contribuíram para a imigração portuguesa no Brasil, como por exemplo: “As condições económico- financeiras nacionais e internacionais, que tinham implicação direta na própria escolha do destino de emigração; regimes políticos vigentes em cada país e as próprias diretrizes políticas seguidas, quer ao nível da entrada e/ou residência de estrangeiros, quer ao nível das grandes orientações de relacionamento internacional;as linhas de força da política externa de cada regime; a importância da relação bilateral entre Portugal e Brasil”.

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Durante o período, o relacionamento entre Portugal e Brasil será influenciado pela conjuntura internacional e pelas opções políticas, diplomáticas e legislativas seguidas pelos Governos nacionais. Fatores que influenciaram a imigração portuguesa no Brasil.

No entanto, mesmo que a imigração portuguesa representasse um alto contingente durante a Primeira República, e houvesse medidas para ampliá-las, no Estado Novo Brasileiro, a imigração foi alterada vastamente. Nesse sentido, no ano de 1934, o Brasil adotou medidas restritivas aos imigrantes no país, e de forma silenciosa institucionalizou um sistema de cotas para cada nacionalidade utilizado para restringir, principalmente, a entrada de orientais. De acordo com isso, muitos homens do governo, inclusive Vargas acreditavam que o problema do desenvolvimento do país estava vastamente relacionada à etnicidade do povo brasileiro.


Partindo dessa premissa, os setores da elite e intelectuais que defendiam as teses eugenistas exigiam uma maior intervenção do Estado em relação à uma política imigratória mais rigorosa durante 1938. Nesse ano então, o decreto de Lei 3.010, de 1938 passou a exigir dos solicitantes de “vistos que se apresentasse pessoalmente ao cônsul para que o diplomata visse o candidato e relatasse se era branco, negro, ou se tinha alguma deficiência física”.

Com base nisso, os movimentos imigratórios portugueses para o Brasil acompanharam as tendências gerais dos fluxos nacionais para o estrangeiro, sendo o Brasil, o principal destino dos portugueses. Eles por sua vez, ocupavam a cidade do Rio de Janeiro e acabavam por se envolver em alguns aspectos da vida dos cariocas, como as batucadas presentes no período.

Contingente migratório português para o Brasil - 1927-1945. (fonte: Santos (2010)

Como observado no gráfico, o pico da imigração portuguesa se deu no ano da Crise da Bolsa de Nova York, devido às dificuldades no setor agricultor português. Já, no período do Estado Novo, se destaca o aumento da imigração entre os anos de 1933, 1935 e 1937, resultando dos Decretos instituídos por Vargas e de leis promulgadas no país ibérico.

Por meio disso, o imigrante ideal era o branco, católico e apolítico. A preferência pessoal de Vargas era pelos portugueses. “A maioria dos imigrantes vindos de Portugal era de origem modesta e instrução limitada, acostumados à ditadura salazarista”. Europeus, mas sem “ideias dissolventes”, ao contrário dos grupos intelectualizados originários da Alemanha, França, Áustria, entre outros países, que produziam reflexões em jornais e livros sobre as mazelas nacionais

Entre as década de 30 e 40, o número acabou diminuindo devido à algumas medidas de Vargas. Mas apesar dessa redução, a saída dos portugueses continuou à focalizar-se no Brasil. Contudo, diante da ação diplomática portuguesa, o relacionamento com Portugal não conseguiu se afirmar como uma das prioridades do governo varguista.

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Almanaque... O Sufrágio feminino brasileiro

O voto feminino no Brasil é extremamente recente, mas ainda assim foi um dos primeiros países da América Latina a promulgar tal feito. O dia 24 de fevereiro, por meio da lei 13.086/15, foi instituído no Calendário Oficial do Governo Federal pela ex-Presidenta da República Dilma Rousseff, a primeira mulher eleita para o cargo de chefe máximo do executivo. A data comemora o dia da conquista do Voto Feminino no Brasil. Foi nesse dia, em 1932, que Getúlio Vargas por meio do Código Eleitoral Brasileiro, sancionou o voto da mulher brasileira, mas com algumas restrições. Apenas em 1934, estas foram retiradas do código eleitoral e em 1936, foi estendida as mulheres a obrigatoriedade do voto. Celina Guimarães Viana se destacou como sendo a primeira mulher a obter a inclusão na lista de eleitores se tornando a primeira eleitora do Brasil e da América Latina. A partir disso, diversos e novos

avanços foram realizados pelas mulheres nas reinvindicações feministas. Esta conquista do feminismo pelo movimento sufragista, após extrema campanha nacional, foi de extrema importância para os avanços sociais da mulher na luta por igualdade de gênero e atuação cidadã na vida pública e política. Cada vez mais a mulher tem progredido na representatividade e atuação. Entretanto, é necessária ainda mais participação feminina em todos os âmbitos do mundo político e social. Atualmente com a crescente conservadora, diversos direitos das mulheres que foram adquiridos com grandes esforços e conflitos se encontram em perigo, a luta feminista é constante para se proteger os avanços já conquistados a libertação integral das mulheres de todos os grupos do julgo patriarcal.

Disponív el em : htt ps://www. bra sildefa to.c om.b r

O dia 24 de fevereiro de 1932 é considerado o marco do direito ao voto feminino / Foto: Reprodução

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Almanaque...

Documentação: o que são os arquivos públicos? s arquivos públicos são considerados como O os conjuntos de documentos

Arquivo Público do Paraná. Disponível em: www.arquivopublico.pr.gov.br

produzidos/recebidos no exercício de suas atividades, por órgãos públicos (federal, estadual, municipal) decorrentes das suas funções administrativas, legislativas e judiciárias. São considerados públicos também, o conjunto de documentos produzidos ou recebidos por entidades de caráter público.

Além disso, os arquivos públicos designam as instituições arquivísticas governamentais encarregadas da gestão, o recolhimento dos documentos produzidos pelo Poder Público, a preservação permanente e o acesso. Exemplos de arquivos públicos são: o Arquivo Nacional, Arquivo Público do Distrito Federal, o Arquivo Público do Paraná, etc.

OS ARQUIVOS PÚBLICOS E A MEMÓRIA De forma sucinta, considera-se que a memória compreende a representação por meio de registros de informação, de qualquer suporte que seja passível de recuperação aos fatos ou as próprias ações registradas que se atribui um significado, constituindo a memória desses acontecimentos. Dessa forma, a memória se relaciona vastamente com o acesso a informação. Os arquivos públicos e a memória são comple- tamente inter-relacionados, de tal modo que desde a mais tenra Antiguidade o ser humano demonstrou a necessidade de conservar a sua própria memória.

De início por meio do registro oral, depois com grafites e desenhos, até o sistema codificado. Desse modo, a memória registrada e armazenada constituiu e ainda constitui a base de toda a atividade humana, sendo que a existência de um grupo social seria praticamente impossível sem o registro da memória. Isto é, os arquivos. "No dia 8 de Janeiro de 1991, foi sancionada a Lei 8.519, que afirma em seu Art. 1º - É dever do Poder Público a gestão documental e a proteção especial a documentos de arquivos, como instrumento de apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento científico e como elementos de prova e informação. Ou seja, a Lei dispôs sobre a política nacional de arquivos públicos, privados e outras providências".

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O carnaval na Primeira República

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D

esde a Proclamação da República, em 1889, o Rio de Janeiro, popularmente denominado como o berço do samba, despertava como aspecto característico a fama de cidade festiva. Apesar de no Brasil a grandiosa festa ter as suas origens lá na Bahia nos tempos do Império, o carnaval só foi de fato incorporado nos grandes centros urbanos inicialmente na cidade do Rio de Janeiro. Mesmo com todos os festejos carnavalescos que estavam surgindo e eclodindo no início da República, os interesses da imprensa carioca e da própria elite nesse período a respeito dessa festa eram, na maioria das vezes, comparados com o modelo de carnaval europeu especialmente aos carnavais de Veneza, na Itália e Paris, na França -, sendo este modelo o modelo pelo qual essa camada da sociedade considerava como “civilizado” e “correto”. As práticas carnavalescas mais populares, como os clubes de dança e os blocos de rua, que se difundiam cada vez mais entre os cariocas daquele período, eram sempre tratados e vistos como festejos “bárbaros” e “selvagens”. Há, evidentemente, uma explicação para isto.

No início da então proclamada nova r República das Américas - mais precisamente na década dos anos 1920 - criados às dezenas dos bairros da cidade, os clubes dançantes tinham como característica principal uma formação social composta em maior parte por trabalhadores de baixa renda como caixeiros, operários, marítimos, barbeiros, alfaiates e pessoas autônomas. Isso reflete que as sedes desses clubes se tratavam de centros recreativos para a própria população mais pobre da sociedade. A difusão desses clubes e das associações dançantes estaria diretamente ligado ao papel assumido nos tempos da Primeira República brasileira pelas famílias cariocas. O próprio lazer que era adotado durante essa época do carnaval pelas pessoas, contribuiu para a atmosfera pluri e multicultural da cidade. Esse fato teria sido um estopim para a formação da própria “identidade cultural” do Rio, determinada por um novo comportamento social, na medida em que as pessoas, gradativamente, atravessavam a fronteira dos espaços privados de suas casas, para o espaço público das ruas urbanas.

Aliwu. Carnaval de rua no Rio, entre 1900 e 193?. Rio de Janeiro, RJ.

Disponív el em : www.b rasilian afot ogr afica. bn.b r

Acervo FBN

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Vale lembrar que esses locais e centros de dança carnavalescos eram majoritariamente frequentados por pessoas negras e mestiças, descendentes de ou até mesmo ex escravos. Por causa disso, os clubes eram vistos pelos letrados e pelos mais elitizados da sociedade carioca como espaços sem requinte, que feriam a moral daquela parcialidade mínima da população. É bem perceptível que essa visão que estava no meio da elite e dos que possuíam uma posição mais bem colocada no âmbito social, além dos letrados e intelectuais da imprensa é totalmente associada aos ideários da Primeira República, já que o racismo, o darwinismo e a política de branqueamento são alguns fragmentos fortemente característicos do Brasil republicano nesse momento de sua história.

Disponível em: www.brasilianafotografica.bn.br

Aos olhos daqueles que não frequentavam esses salões, os clubes dançantes apareciam como verdadeiros perigos. Isso ficava bem claro na forma pela qual esses locais animados eram tratados pela própria polícia. Em 1914, centros recreativos, como o “Couraceiros do Inferno”, localizado onde hoje ainda se encontra a Praça Onze, eram descritos como “locais frequentados por homens e mulheres de baixa esfera”.

Anônimo. Carnaval de rua entre 1900 e 193?. Acervo FBN

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Apesar de todos esses estereótipos e dessas visões preconceituosas das classes mais altas, os clubes dançantes, ao reunirem os moradores dos bairros ou das regiões em que eram formados, acabavam se convertendo em centros e localidades de recreações diversificadas para os trabalhadores cariocas. Muito mais do que apenas festas e bailes, podiam encontrar nesses salões “diversões ilícitas”, como está definido nos estatutos das Mimosas Camponesas. O que compunha de fato essas euforias eram, além das reuniões e dos ensaios dançantes, “passeatas nos dias de carnaval”, “pic-nics” e até mesmo os jogos permitidos pela polícia. A partir dos lazeres e dos momentos de divertimento, essas associações apareciam como um espaço de manifestações autônomas de suas tradições festivas, expressas nos bailes da época.

Para recordar...

Entre o final de 2012 e início de 2013, a Rede Globo transmitiu no horário das 18 horas uma novela chamada Lado a Lado, que se propôs a retratar fatos históricos pesquisados por historiadoras de instituições públicas fluminenses, inspirando desse modo os autores da telenovela. A dramaturgia não só abordou as classes sociais, o racismo e a miscigenação no início da república, como também retratou os aspectos culturais e identitários do Rio de Janeiro republicano, como o próprio carnaval de rua e as tradições de cultura afro-brasileiras.


Os bailes de Máscaras e as fantasias no Rio de Janeiro (RJ)

Disponível em: http://www.tjrj.jus.br

Primeiro baile de máscaras do Rio de Janeiro no século XIX

M uitos

historiadores acreditam que a primeira festa de máscaras na cidade foi realizada entre meados da primeira metade do século XIX, como uma parte dos festejos do carnaval. Entretanto, a popularização deste evento só foi ocorrer três décadas depois, quando as fantasias ganharam destaque e grande importância nesta festa. Esses eventos, ainda da época imperial, eram luxuosos e voltados para poucos convidados da alta elite carioca.

Já no início da república, a maioria dos bailes foi realizada em hotéis e boates famosas da cidade, sendo como mais conhecido o luxuoso baile de gala “Baile Mágico”, do Copacabana Palace Hotel, situado na zona sul da cidade. Além das fantasias extravagantes, essas festas glamurosas despertavam estilos de músicas como a mazurca, a polca e a valsa, além das diversas tendências e influências europeias.

Desde a sua

Desde sua inauguraçã inauguração oem (1923), 1923, oo Copacabana Copacaban sediou aPalace Palace por muito sediou por tempo os muito bailes de gala tempo os carnavalescos bailes mais de requintados da gala cidade. carnavalesc os mais requintados da cidade.

Disponível em: http://brasilianafotografica.bn.br

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Almanaque...

Site mentimetter, que pode ser utilizado como ferramenta pedagógica

Trabalhando o Carnaval em sala de aula iversas são as possibilidades que o D profissional da educação pode adotar para trabalhar os distintos aspectos (históricos ou não) do Carnaval. O tema oferece possibilidades de atividades práticas e teóricas. Trabalharemos nesse artigo a abordagem interacionista do tema, utilizando especificamente o método experimental, aos alunos de 14 anos. Vygotsky utilizava-se da teoria sóciointeracionista, pois entendia a aprendizagem com uma experiência social. A partir disso, considerava que só se compreende algo a partir da experiência interna para a externa e essa aquisição “se dá por processos de internalização de conceitos, que são promovidos pela aprendizagem social, principalmente aquela planejada no meio escolar” . Utilizando a ideia de interação no ambiente escolar, dando ênfase ao processo de mediação realizado pelo professor para o aprendizado, considerando que a interação social é o grande palco onde ocorre a experiência do aluno com o objeto da aprendizagem, propomos uma atividade de mobilização prévia dos primeiros conceitos presente no imaginário dos alunos com relação ao Carnaval. Espera-se que nesta etapa eles exponham suas ideias arraigadas, trazidas do ambiente de convívio social, pois o objetivo é realmente a desconstrução destes termos. Após a realização de uma mobilização de conceitos iniciais, busca-se expor a história real do Carnaval, seu surgimento em países europeus e seu desenvolvimento no Brasil, além de mostrar

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sua ligação com a imigração, sua importância cultural e seu desenvolvimento ao longo dos anos. Neste momento o objetivo é mostrar que o carnaval está além das escolas de samba e dos trios elétricos: está completamente ligado com a identidade brasileira. Nesse mesmo contexto, a interação é extremamente importante para a construção de conhecimentos e desconstrução de preconceitos. Para tal, o professor deverá formar grupos e conduzir uma discussão dentro desses mesmos, para que dessa forma os alunos possam discutir suas visões acerca do tema e compartilhem imagens que assumam pertinentes com a temática, possibilitando, dentro da teoria interacionista, a construção do conhecimento novo. Os dois últimos momentos desta atividade se darão em uma nova mobilização dos conceitos acerca da palavra Carnaval. A primeira parte deve ser feita de uma avaliação neutra do conteúdo, podendo o professor perguntar diretamente aos grupos as ideias que acham pertinente relacionar ao carnaval após toda a exposição do conteúdo. Por que a necessidade de uma mobilização neutra? Porque utilizar-se de métodos coloridos, multimídias e/ou anônimos como metodologia final pode “contaminar” a resposta dos alunos. O professor pode escolher o método final o que lhe for pertinente: mentimeter, papéis anônimos, exposição do grupo, entre outros. O que se busca demonstrar é que após todo o processo de exposição do docente e de discussão entre os grupos de alunos, os conceitos se alteraram, e, mesmo que minimamente, os preconceitos acerca do tema também.


O NOVO O ESTADO ESTADO NOVO (1937-1946) (1937-1945)

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CONTEXTO SOCIAL E

POLÍTICO E

stado Novo, ou Terceira Republica Brasileira, foi um regime instituído no Brasil por Getúlio Vargas, através de um golpe de Estado, em 10 de novembro de 1937 (vigorou ate 31 de janeiro de 1946). Assim, Vargas instaurou o denominado Estado Novo, lançando um Manifesto à nação do qual tinha como propósito o reequilíbrio político que se dizia fazer necessário para compreender as necessidades econômicas do país.

“A política de Vargas sempre teve cunho populista” A consolidação do seu poderio se deu pela Constituição de 1937. Tal constituição tinha como características principais a censura de imprensa e a propaganda, tendo como forte pontuação a coibição do comunismo. Seu governo fora marcado pela centralização política no poder Executivo, sendo ele antiliberal e nacionalista, abolindo o regime Legislativo em todos os níveis com ações de cancelamento das eleições de 1938, dissolução dos partidos políticos a fim de extinguir opositores. As ações governamentais incluíram, dentro da opressão e autoritarismo, a violência por conflitos ideológicos, estes marcados por diversas prisões arbitrárias, deportações, assassinatos e torturas cometidas por parte da polícia do Rio de Janeiro e por todo o país; embora não haja nenhum estudo aprofundado que garanta o não envolvimento de Getúlio nestes casos durante o Estado Novo.

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A repressão política tinha como base a oposição e a infiltração do fantasma comunista que tanto assolava boa parte da história mundial e, consequentemente, a brasileira. Tais medidas tinham como características a busca pela unidade e identificação nacional. A atuação política de Vargas sempre teve cunho populista, voltando-se a conquista das massas, tanto da elite empresarial quanto ao operariado, empregava atitudes para a industrialização do país e, desenvolvia ações que compreendessem as necessidades dos trabalhadores, interagindo assim com as classes. Somando o autoritarismo do governo, e as ideias nacionalistas, tinha-se então uma homogeneização no que diz respeito ao objetivo primordial que seria a construção da nação. De acordo com isso, e investindo fortemente na construção e divulgação da nova ordem, a qual exigia a subordinação dos meios de comunicação, foi criado assim o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Tinha como objetivo a disseminação e criação de um imaginário positivo a respeito do novo regime. Este centralizou e controlou os meios de comunicação, sendo amparado constitucionalmente:


a) Com o fim de garantir a paz, a ordem e a segurança pública, a censura prévia da imprensa, do teatro, do cinematógrafo, da radiodifusão, facultando à autoridade competente proibir a circulação, a difusão ou a representação (CONSTUTUIÇÃO DE 1937: art.122, paragrafo 15) e pelo Decreto-Lei nº 1949: Art. 6º Todos os correspondentes de jornais do interior deverão registrar-se no D. I. P. (DECRETO-LEI Nº 1949, artigo 6). Como observado, o DIP tornou-se o principal porta-voz de legitimação governamental, sendo a máxima coercitiva da liberdade de pensamento e expressão. A ideologia do Estado Novo começava a ser empregada já desde os primeiros anos educacionais do primário. A Educação era de grande preocupação do governo, o investimento na mesma tinha prioridade na gestão de Vargas. Foi criado em sua gestão, 1931 (anterior ao Estado Novo), o Ministério da Educação e Saúde, focou as ações a respeito da educação de forma doutrinária. Difundindo para toda a população o ideal de cidadão trabalhador, direcionando as reformas educacionais para o ensino técnico e profissionalizante, tendo o material didático elaborado pelo DIP, do qual cumpria com as designações contundentes as intencionalidades do Estado, sendo ele deveras positivista.

A sociedade carioca No início do século XX, o Rio de Janeiro passou por grandes transformações urbanas, que faziam com que a população mais pobre fosse obrigada a se retirar das regiões próximas aos centros urbanos, indo para o que se originaria “periferia”, subindo os morros. Já na década de 40, grandes favelas tinham sido formadas, em contraposição à Zona Sul, aonde a população mais abastada construiu mansões a beira-mar que mais tarde sucumbiram aos arranha-céus de Copacabana. Empregava-se também o ufanismo patriótico, havendo destaque para as riquezas naturais do Brasil, tendo uma postura nacionalista do governo com destaque para as simbologias nacionais, progresso, engrandecimento da indústria e principalmente ao trabalho como dignificador humano.

Rio de Janeiro por volta de 1940. A imagem demonstra a ampla urbanização que a capital passava. Disponível em: www.brasilianafotografica.bn.br

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Benjamin Vargas que foi eleito em 1934 deputado à Assembleia Constituinte gaúcha, pelo Partido Republicano Rio-Grandense.

Em 29 de outubro de 1945, Getúlio Vargas foi de posto por generais que faziam parte do seu próprio governo, este movimento militar que colocou fim ao Estado Novo teve como estopim a nomeação de Benjamim Vargas, irmão de Getúlio para o cargo de chefe da polícia do Rio de Janeiro.

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Diversos outros movimentos contribuíram para o declínio e chegada ao momento final do Estado Novo, como o protesto contra o regime, que se deu em Minas gerias com o Manifesto dos Mineiros, do qual foi assinado por diversos indivíduos de oposição.

Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/

Acervo do Arquivo Nacional. Disponível em: https://commons.wikimedia.org

Esse desenvolvimento se deu, principalmente, pelo trabalho da parcela menos abastada da população que se recusou a se confinar e destruir sua cultura. Nasceu assim, uma nova cultura urbana da qual se expressava por manifestações de dança, música, fala e de uma filosofia muito própria dos grupos. Tendo essas manifestações características de tradições africanas com nuances afro-brasileiras advindas da Bahia, do qual, nasceria o samba carioca e posteriormente as novas significações culturais do carnaval.

Morte de Vargas em 1954, anunciada pelo jornal Última Hora que foi criado para defender o segundo governo Vargas. Contribui também para a renovação da Imprensa no Brasil e

Mesmo com as diversas ações antidemocráticas e autoritárias, a população ainda assim não retirou totalmente seu apoio de Getúlio Vargas, houve ate mesmo grande comoção com sua trágica morte. Ainda nos dias atuais ele é visto como uma figura icônica, existe ate mesmo um sentimento de adoração pela figura controversa deste governante que desempenhou grande papel nas transformações de todos os âmbitos da nação.


O CARNAVAL NO ESTADO NOVO

o período em que perdurou o Estado Novo N (1937-1946), o Brasil estava a passar por grandes transformações culturais devido aos movimentos derivados do processo de modernização, as reformas urbanas e as diferenças entre os grupos sociais dentro desses espaços, marcaram o desenlace da nova identidade nacional que estava a se construir. O Brasil passava por um momento de descoberta de sua própria identidade e reinvenção compondo o cenário internacional.

O carnaval entra como elemento fundamental na expressão dessas mudanças. Este teve ação direta dos acontecimentos derivados da política de Getúlio Vargas. É importante salientar, antes de tudo, a ordenação de costumes impostos a fim de controle e emprego do processo civilizador, este aparatado do uso da força e vigilância policial.

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A aparelhagem de opressão do Estado tem alvos de atuação vinculados às periferias, as favelas dos morros, locais estes da fundação do samba e da organização dos desfiles das escolas, entretanto, todos estavam à mercê da repressão e do discurso politicoideológico. Tal discurso tinha relação direta com dignificação do homem através do trabalho, e com isto foi feita uma ostensiva repreensão do controle da “malandragem”. Consequentemente, fez com que a figura do malandro perdesse seu glamour, pois não condizia com as novas políticas.

A pesar de a elite brasileira querer afastar o negro do espaço público de visibilidade, na Europa estava a ocorrer uma grande valorização da cultura africana, figuras como bahianos e malandros viraram fantasias em ruas, e as religiões de matrizes africanas se tornariam temas das festas e bailes da elite carioca. Exemplo dessas práticas é o personagem lançado pela Disney, Zé Carioca, nos trajes de malandro e cheio de ginga. É exposto por Pilar Drumond, no Correio da Manhã, 19/01/1939, p10, que as escolas de samba se caracterizavam como parte da história brasileira referente ao processo de civilização, suas considerações também englobam a ideia de que estas manifestações seriam do folclore nacional, e não como expressões de expectativas e vontades socioculturais empregadas no que era o samba. A folia expunha dentro da sua dinâmica as desigualdades sociais que se refletem nas personagens típicas de carnaval

“Utilização de expressões culturais populares para benefício dos interesses governamentais...

Zé carioca, personagem criado pela Walt Disney, representando o “jeitinho brasileiro”. Disponível em: agenciauva.net

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É importante salientar como a classe mais abastada buscou se apropriar da criação da folia do povo, sendo este apenas dito como conivente. A grande proliferação de blocos de rua num momento da história brasileira que se encontrava em um regime ditatorial. Estes fatos revelam a utilização de expressões culturais populares para benefício dos interesses governamentais, Getúlio Vargas se apoderou do carnaval como forma de propaganda nacional de governo (DIP). Este facilitou para os compositores e outros artistas as relações de direitos autorais e de divulgação, desde que se adaptassem à sua política A propaganda realizada gelo governo getulista, em relação ao carnaval, levou o evento a um patamar comercial. Partindo disso, turistas do mundo todo começaram a vir ao Brasil para prestigiar a maior festa do país. O samba também se modifica ao gosto industrial, saindo das rodas e indo para os desfiles e competições, criando assim diversas vertentes do gênero. Sendo este artigo de consumo, a música popular brasileira dominou o mercado deste período, deixando assim de ser expressão de um grupo marginalizado, para se integrar a outros grupos da sociedade.


Almanaque

A REVISTA LUSITÂNIA: A REVISTA DE ESTUDOS PORTUGUESES (1929-1934) revista Lusitânia fora publicada entre A fevereiro de 1924 e outubro de 1927. A revista, no entanto, não obteve mais de 10 edições que foram marcadas ainda, por certas oscilações durante o período no qual era publicada. Contudo, a revista possui uma extrema importância para a História, tendo em vista sua vasta utilização como fonte histórica para diversos assuntos. A primeira publicação da revista atingiu uma intensidade equivalente à trimestral. Mas, a partir de 1925, a perda de vitalidade se acelerou por causa da morte de seus redatores fundadores mais carismáticos. Embora a história da revista seja um pouco trágica, sua importância para a história, é extrema. Neste sentido, podemos considerar que a revista constitui um alicerce para os estudos da cultura portuguesa, posta ao serviço de Reconstrução Nacional.

"A revista constitui um alicerce para os estudos da cultura portuguesa"... Do ponto de vista ideológico e politico, a revista constituía um grupo muito heterogêneo, reunindo elementos da falange seareira e das hostes integralistas.Sua extravagância não era inédita nos anos conturbados da Primeira República Portuguesa. Vinha na linha de movimentos como a Liga de Acção Nacional (1918-19), a Cruzada Nuno Álvares Pereira (1919-23), a União Cívica (1923), e de outras realizações. Desse modo, as edições da revista Lusitania são de extrema importância para o estudo do período da Primeira República Portuguesa (1910-1926) em diversos aspectos, e ainda, para o estudo da ditadura no país luso, ocorrida entre 1926 e 1974.

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Carmem Miranda:

Disponível em: http://www.suasletras.com

Carmem Miranda por volta de 1940

Sua imagem no Estado Novo, identidade brasileira e a importância da pequena notável na exportação da imagem do Brasil 33 | CARNAVALESCO


"Como se vê sou morena e tenho o tipo da brasileira. Mas sou filha de Portugal".

Conhecida internacionalmente,

Carmem Miranda tornou-se caricatura de uma brasilidade exportada para o mundo todo. Sua importância vai além dos “muros” da música, pois Carmem transformou símbolos nacionais e fez parte de uma política de exaltação, expressada nas suas roupas, músicas e falas. Maria do Carmo Miranda da Cunha nasceu em Portugal, no dia 09 de Fevereiro. Chegou ao Brasil junto de seus pais ainda criança e começou sua carreira musical no final de 1929, onde obteve o auxílio de Josué de Barros, uma vez que esse conseguiu que a Brunswick gravasse um disco de Carmen. Porém, insatisfeitos com a gravadora, a dupla foi atrás da Victor, estadunidense, recém estabelecida no

Brasil, a qual fechou novo contrato. Em 1930, é lançada em pleno Carnaval a canção “Taí”, que fez de Carmen um sucesso. Apesar da origem portuguesa, Carmem buscou evidenciar em suas canções apenas seu lado brasileiro, mas acabou abrindo-se sobre esse aspecto relacionado a sua terra natal em uma entrevista após seu estrondoso sucesso. Em uma de suas mais famosas falas afirmou: ‘Todos que me conhecem pensam que sou brasileira, nascida no Rio. Como se vê, sou morena e tenho o tipo da brasileira. Mas sou filha de Portugal. Nasci em marco de Canavazes e vim para o Brasil com um ano de idade [na verdade menos]. Mas meu coração é brasileiro e, se assim não fosse, eu não compreenderia tão bem a música desta maravilhosa e encantadora terra’.

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Carmem Miranda evidenciando o seu estilo exótico de se vestir.

Carmem Miranda projetou sua importância além da música, pois o Brasil encontrava-se em um período de busca por uma nacionalidade, impulsionada por políticas externas, e Carmem Miranda se transformou em uma importante figura nacional divulgadora dos “costumes brasileiros” A divulgação dessa brasilidade não se mostrava somente através da cantora portuguesa. Segundo Lopes (2008/2009), o Brasil, estava passando por um importante momento de centralização política (…) que buscava definir a nacionalidade brasileira, meta essa empreendida pelo governo Vargas (...).

Disponível em: https://ambergilchrist.files.wordpress.com

Carmem Miranda e um dos seus icônicos turbantes

D i s p o n í v e l

e m : h t t p s : / / a m b e r g i l c h r i s t . f i l e s . w o r d p r e s s . c o m

Este utilizou a cooperação norte-americana para divulgar nossos produtos, (…) como café, manganês, quartzo e aço; Essa política de “boa vizinhança” encontrava-se como um dos objetivos de uma conquista ideológica dos Estados Unidos, visando uma hegemonia mundial, que logo “casou-se” com os objetivos de construção de uma identidade nacional brasileira, tão visada pelo governo que se instaurava no período chamado de Estado Novo. A imagem nacional que se implantava, era a do tropicalismo, do samba associado a mulher brasileira, além do significado de todas as vestimentas usadas por Carmem que merecem um artigo à parte. O papel da imagem e divulgação de Carmen Miranda nas relações entre o Brasil e os EUA, (…) também está associado a um momento em que o cinema é eleito como um meio eficaz para promover uma aproximação favorável aos interesses estadunidenses na América Latina.

A pequena notável (apelido dado a Carmem Miranda que acabou ficando imortalizado), que destacou-se pela desenvoltura, voz e roupas, fez sua estréia no cinema nacional em 1932 e em 1938 realizou uma viagem aos Estados Unidos, onde participou de uma peça chama-

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Carmem Miranda em 1941.

da Streets of Paris, onde canta e dança, e acaba por notadamente envolver o público com repertório recheado de letras que expressam características e anseios do povo brasileiro. (LOPES, 2008/2009). É importante perceber que a imagem de Carmem Miranda foi alvo de críticas no período por estar relacionada a propagação da política da “boa vizinhança.” Como abordado por Lopes (2008/2009), é inegável o papel de Carmem Miranda na construção de um mito nacional. No entanto, na construção de uma identidade nacional, com seus respectivos signos, incluindo aí a sua indumentária, bem como o modo de dançar e as letras de suas músicas é assunto a ser considerado. Apelidada de “a pequena notável” por possuir apenas 1,52 m de altura, Carmem foi uma das artistas brasileiras mais bem pagas no exterior.

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Último ponto a ser relembrado, mas não menos importante, é perceber o significado das construções apresentadas através da imagem de Carmem Miranda dentro do carnaval brasileiro. Sua imagem apresenta a valorização nacional, tanto quista pelo governo varguista, juntamente com o próprio carnaval. Entretanto, essa imagem contrastava com as políticas repressivas do período, o ambiente de guerra, ainda que externo naquele momento promoveu um reordenamento das prioridades e dos usos feitos pelo Estado Novo desses carnavais, provocando seu arrefecimento ao longo do período analisado. Saiba mais em: Carmem Miranda: O que que a bahiana tem? Vídeo: https://www.youtube.com/watch? v=ojo3I59Gn6c

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LAÉSSIO: O "MAIOR LADRÃO DE LIVROS"

Láessio Rodrigues de Oliveira no documentário “cartas para um ladrão de livros”, em 2018.

No

ano de 1990, Laéssio Rodrigues de Oliveira cometeu seu primeiro furto às obras raras no Museu da Imagem e Som, um exemplar da revista “Fon Fon” de 1940 com Carmem Miranda na capa. Foi o primeiro de muitos roubos que se sucederam, inspirados pelo amor à cantora que levou Laéssio de 45 anos a ser preso pelo crime de furto de obras raras no Brasil. Para ter um currículo enorme de roubos e para ser conhecido como o maior ladrão de obras de arte do país, Laéssio carrega o histórico de ter roubado fotos do enterro de Dom Pedro II, Mapas do século XVII, troféus originais de Debret e entre outros. E, apesar de ser um ladrão, Laéssio tem formação acadêmica e sua moralidade incomoda muita gente, já que declara ter vindo ao mundo para deixar sua marca.

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O “maior ladrão de obras raras” vem de uma família humilde de Teresina com crescimento no Rio de Janeiro. Assumindo-se homossexual após a morte do pai, Laéssio era apaixonado por Carmem Miranda e está preso pela quinta vez na Penitenciária Miltton Dias Moreira, em Japeri, no Rio, acusado de roubo no Museu Nacional. Foi lançado um documentário de nome “cartas para um ladrão de livros” de Caio Cavechini e Carlos Juliano Barros em 2018, contando a história de Laéssio e sua trajetória até sua última prisão, em que, por meio de troca de cartas e entrevistas, o ladrão relata desde seu primeiro roubo até o último e os motivos que o levaram a isto.


As marchinhas de Carnaval As marchinhas de Carnaval foram predominantes entre os anos de 1920 e 1950, sendo substitúidas pelo samba enredo. Com sátira, irreverência e bom-humor, marcaram amplamente a história do Brasil.

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Chiquinha Gonzaga aos 32 anos.

Disponível em: www.todamateria.com.br

Análise musical e social das marchinhas no carnaval brasileiro

Disponível em: www.oglobo.globo.com

M esmo após Cartola, o grande músico, se

Disponível em: www.oglobo.globo.com

Foliões em Carnav al de rua no Rio de Janeiro, por volta de 1945

Foliões em bloco de rua no Centro do Rio de Janeiro, trajados de Carmem Miranda. Meados de 1945. 39 | CARNAVALESCO

mudar para a mangueira, a primeira escola de samba do brasil não continha em seu desfile um samba enredo bem estruturado como temos hoje. Na verdade, em meados de 1928, o desfile era musicalmente caracterizado apenas por dois ou três refrões, que eram seguidos de improvisos pelos versadores. Carmem Miranda já era um sucesso por volta de 1931, com canções que representaram o carnaval brasileiro, porém o vislumbre de um samba enredo bem estruturado musicalmente seria visto apenas a partir da década de 50. Apesar da primeira marchinha ter sido composta por Chiquinha Gonzaga em 1899, com o título “Ò abre alas”, elas se consolidaram entre 1920 e 1950, com sua característica satírica, divertida e irreverente. Com letras fáceis, repetitivas e ritmo alegre, mesclados à crítica social, esse gênero musical tornou-se importantíssimo na formação culturalmusical brasileira. Abaixo, um trecho de uma das marchinhas mais famosas, “Allah-lá-oh”, composição de Haroldo Lobo-Nássara:


Haroldo Lobo Nássara, em meados de 1940.

“ALLAH-LÁ Ô Ô Ô Ô Ô MAS QUE CALOR Ô Ô Ô Ô Ô

ATRAVESSAMOS O DESERTO DO SAARA O SOL ESTAVA QUENTE E QUEIMOU

A NOSSA CARA. VIEMOS DO EGITO E MUITAS VEZES NÓS TIVEMOS QUE REZAR (…)” Dis ponível em: http:/ /www.drzem.com.b r/

(HAROLDO LOBO-NÁSSARA, 1940). Musicalmente falando, o ritmo traz uma herança portuguesa, e inicialmente, pela influência das marchinhas militares de Portugal, o andamento das musicas não eram rápidos como conhecemos hoje. Tinham um certo tom melancólico. Ao chegar ao Brasil, esse ritmo sofre uma alteração, dispondo-se do compasso binário proeminente (basicamente a contagem de tempo seria “um, dois, um, dois...”) e foi acelerando com passar dos anos, até chegar ao que conhecemos por características típicas da marchinha do carnaval brasileiro. As marchinhas brasileiras também foram bastante influenciadas entre as décadas de 20 e 30 pela era dourada do jazz americano. Os instrumentos de sopro (saxofones, trompetes, etc) ganharam a atenção dos compositores brasileiros, e as marchinhas ganharam um toque diferente em sua textura musical. Entre indas e vindas, o ritmo envolvente, com melodias de fácil assimilação, e instrumentalização empolgante, as marchinhas seguem vivas oportunizando a inclusão musical e o protesto quanto as questões sociais no país.

A partir de 1950, com o surgimento do samba enredo, as marchinhas foram perdendo um pouco de espaço no carnaval brasileiro. Curiosamente, nos ultimos anos elas tem retornado, devido a situação política do país. Em 2018, em Belo Horizonte-MG, a marchinha vencedora de um concurso no carnaval era uma crítica à demora na entrega do metrô prometido pelo governo à população

Você sabia? Nos anos iniciais da república, o costume dos homens se vestirem como mulheres já era praticado. No Rio de Janeiro, grupos de foliões masculinos se travestiam de mulheres durante o evento do carnaval não só para se divertirem e satirizarem, como também para participarem, na maioria das vezes, de concursos e eventos das melhores customizações e fantasias, promovidos pelas próprias associações e clubes de dança. Grupo de homens fantasiados de mulheres para o carnaval, As Marrequinhas, 1913.

Disponível em: http://brasilianafotografica.bn.br

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almanaque... Disponível em: https://www.rollingstone.com.br/edicoes/25/texto s/3471/

NOEL ROSA E O SAMBA NA DÉCADA DE 30 Saiba um pouco mais sobre um dos maiores

sambistas do Brasil

N oel de Medeiros Rosa fora um boêmio e branco sambista nascido no dia 11 de dezembro de 1910, no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Vítima da tuberculose, morreu em 4 de maio de 1937, aos 26 anos de idade. Embora sua vida tenha sido muito breve, Noel ganhou imenso destaque na capital republicana por meio de canções que denotam representavam a vida e o cotidiano das "pessoas comuns" na cidade, envolto num contexto de diversas transfigurações sociais, econômicas e políticas que o Brasil atravessava, como a "Revolução de 1930".

Partindo dessa premissa, uma de suas canções,"Eu vou pra Vila" de 1931, remete a esse cotidiano dos grupos sociais que participavam das batucadas, o "malandro" do samba, o gingado do ritmo, a vida em diversos bairros cariocas como a Gamboa, a Vila Isabel e a Pavuna, a restrição do samba pela polícia em alguns desses bairros e outros aspectos do cotidiano da população carioca, numa sociedade altamente categorizada e que ainda, observava a dinamização do rádio.

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Noel Rosa por volta de 1936.

Não tenho medo de bamba Na roda do samba Eu sou bacharel (sou bacharel) Andando pela batucada Onde vi gente levada Foi lá em Vila Isabel

Trecho de "Eu vou pra Vila" (1931)

Na Pavuna tem turuna Na Gamboa gente boa (Eu vou pra Vila) Aonde o samba é da coroa. Já saí de Piedade Já mudei de Cascadura (Eu vou pra Vila Pois quem é bom não se mistura

O legado de Noel é visível até hoje na cultura popular brasileira, de forma que em seu bairro de origem, a Vila Isabel, uma estátua do cantor fora construída em razão da preservação de sua memória. Além desse monumento, livros como "No tempo de Noel Rosa", publicado em 2013 e o filme "Noel Rosa o poeta da vila" de 2007, demonstram essa excentricidade do cantor, bem como o reconhecimento do samba durante o contexto. O samba assim, começou a abandonar aquela visão de atentado civilizacional, para se tornar uma representação da cultura popular brasileira, principalmente em 1935, quando o Carnaval é oficializado no país.


O CARNAVAL ATUALMENTE

C omo bem visto, o carnaval, desde seu principio tem cunho contestatório e político, é um espaço em que os mais diversos grupos sociais interagem. Atualmente há a possibilidade de se ver diversos grupos marginalizados se expressarem e terem visibilidade dentro do carnaval, como negros, mulheres e LGBT+. É uma lastima que ainda haja pessoas que se utilizem de fantasias que podem ter cunho depreciativo referente aos grupos marginalizados. Entretanto, o período de carnaval se tornou um espaço para a repre-

sentatividade das minorias, devido justamente ao espirito carnavalesco de liberdade. Tem se havido nos últimos quinze anos uma grande retomada dos blocos de rua, além dos ritmos comumente referenciados ao carnaval, tem festas carnavalescas para todos os gostos, compreendendo desde a música eletrônica à sertaneja, a diversidade é realmente o que pode melhor caracterizar o maior evento do país. Pessoas do mundo todo desembarcam nas

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cidades brasileiras para desfrutar da folia da qual é a mais rentável economicamente, beneficia todos os níveis comerciais. Justamente por ser um espaço que se pode denominar democrático ao que se refere às diversidades, o carnaval também é um espaço de protesto e militância, as marchinhas e os sambas-enredo então imbuídos de um alto teor político, o aumento crescente do carnaval de rua coincide, ou não, com o momento de crise política em que o Brasil entrou, tendo assim os festejos um cunho ideológico. É bastante comum transformar a luta em festa, o que ocorreu no percurso no jazz, funk, rap, etc., tais ritmos vieram de um ambiente de contestação e resistência. As escolas de samba, que tem seu espetáculo transmitido através de diversos meios de comunicação de massa, denunciam dentro de seu enredo as principais pautas da sociedade. A escola campeã do desfile de carnaval 2019 foi a Estação Primeira de Mangueira, com o enredo do carnavalesco Leandro Vieira, “História pra Ninar Gente Grande”. Ele buscou dentro da história brasileira

Dentro do desfile, questionaram-se os eventos históricos que estão fixos no imaginário da população, como a história dos “excluídos” dos quais deveriam estar nos livros, mas que foram deixados no anonimato. Tem a intencionalidade de quebrar com a predominância das versões contadas pelos vitoriosos, versão esta que é elitizada. Desmistificando o imaginário nacional e a memória coletiva em certos aspectos e voltando-se à atuação de pessoas “comuns” ou mesmo a articulação da luta negra dentro do contexto histórico de abolição.

Buscaram na consciência do povo as suas próprias características para que se vejam como são realmente, deixando de lado o complexo de “vira-latas”, este que fomenta a perspectiva de inferioridade, para que o brasileiro se orgulhe de suas raízes e da sua luta que está em processo.

Estação Primeira da Mangueira durante o desfile de Carnaval das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, em 2019. Representação da luta indígena e de Marielle Franco. .

Disponível em: https://racismoambiental.net.br

uma nova visão a respeito dos acontecimentos, dos heróis marginalizados e esquecidos pelos autos oficiais. Com isso, foram apresentados diversas personas que participaram do processo histórico e até o momento atual, fazendo referência e homenageando Marielle Franco, bem como outros que lutaram pelos seus ideais dentro da comunidade, sendo combativos e defensores das causas das minorias; e como tantos outros, foi assassinada, mas seu legado foi deixado como uma semente que brota significativamente dentro das manifestações. 43 | CARNAVALESCO

É interessante de se observar que as maiores expressões carnavalescas se dão em momentos críticos da história brasileira, nas situações de opressão em que o carnaval mais se efervesceu. Os blocos de rua estão marcados pelo protesto, desde plaquinhas e fantasias, até as marchinhas e palavras de ordem, em que, multidões declaram em alto som sua indignação e posicionamento. O carnaval foi, e é, uma das maiores formas de expressões culturais brasileiras e que mais revelam o âmago do ser brasileiro.


O tweet de Jair Bolsonaro

N o dia 05 de março de 2019, uma terça de carnaval, o presidente Jair Bolsonaro, que é bastante ativo na rede social, postou em seu perfil um vídeo com imagens ditas de um bloco de rua do qual expunha um conteúdo escatológico e pornográfico. Este comentou a cena com: “Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro”, “Comentem e tirem suas conclusões”. No dia seguinte ainda publicou mais um tuite sobre o assunto do qual questionava o que é a pratica de “Golden Shower”. Tal ato foi visto como uma forma de rebater as críticas à sua administração que foram realizadas durante o carnaval.

Disponível em: https://www.reddit.com

Como bem observado, o carnaval é uma festa de extrema importância no país, que movimenta a economia beneficiando todos os níveis comerciais, além de que é um momento em que os olhos do mundo se voltam para o Brasil para apreciar os espetáculos da folia brasileira. O presidente que a partir do momento eleito se torna o representante máximo do país, do qual tem suas ações refletidas em todos os âmbitos nacionais e em relações exteriores, tal como visto, a repercussão que se teve por esta postagem nos jornais do mundo sendo um dos assuntos mais comentados nas redes sociais. As atitudes do mesmo vêm sendo questionadas e criticadas duramente por diversos grupos sociais que se sentem atacados diretamente. A publicação teve repercussão negativa, sendo considerada imprópria e ofensiva, tendo até mesmo, pedidos de impeachment pelos usuários que se apoiaram na lei 1.070 (Lei do Impeachment) da Constituição Federal, apresentando como argumento, o fato que este cometeu crime de improbidade administrativa por se portar de modo “incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo”. Nos blocos de rua e nos grandes desfiles, que possuem como característica marcante a militância e o protesto de ordem política, houve diversos atos de indignação e contestação à figura de Jair Bolsonaro e seu governo. Com palavras de ordem, fantasias e marchinhas, a população se utilizou mais uma vez do espaço democrático que o carnaval dispõe, expondo seus sentimentos e posicionamentos.

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FIQUE LIGADO NOS MUSEUS 01

MUSEU IMPERIAL

Localização: Rua da Imperatriz, 220 - Centro, Petrópolis (RJ). Horário de funcionamento: 11 às 18h. O museu Imperial está instalado no antigo Palácio de Verão do Imperador Dom Pedro II. Seu acervo conta com peças ligadas à monarquia brasileira, que incluem mobílias, documentos, obras de arte, etc.

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INSTITUTO RICARDO BRENNAND

Disponível em: www.jornalopcao.com.br

Localização: Rua Mario Campelo, 700 - Várzea, Recife (PE). Horário de funcionamento: Segunda a Sexta das 13h às 17h. O Instituto Ricardo Brennand é uma instituição cultural brasileira sem fins lucrativos. Nele se encontra um complexo de edificações constituído pelo Museu Castelo São João, Pinacoteca, Biblioteca,, auditório, Parque das Esculturas e uma galeria para exposições temporárias.

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03 MUSEU DA INCONFIDÊNCIA Localização: Praça Tiradentes, 139 Centro Histórico, Ouro Preto (MG). Horário de funcionamento: Terça a domingo das 10h às 17h. O museu é dedicado à preservação da memória da Inconfidência Mineira, além de oferecer um amplo painel da cultura e da sociedade mineira no período do ciclo do ouro e dos diamantes no século XVIII.

Acesse os sites dos Museus através dos links abaixo: Museu Imperial: http://museuimperial.museus.gov.br/ Instituto Ricardo Brennand: https://www.institutoricardobrennand.org.br/ Museu da Inconfidência: http://www.museudainconfidencia.gov.br/home

Museu Imperial, 2018.


Considerações finais... OS AUTORES

om a elaboração dessa edição da revista C Carnavalesco consideramos que sim, o Carnaval foi, e é, extremamente importante para a nossa sociedade, nossa cultura e também a nossa história. Além do mais, no decorrer das páginas de nossa revista, buscamos demonstrar as transformações sociais que o Brasil atravessava, além da imigração portuguesa e seus amplos reflexos para o Carnaval carioca, de modo que buscamos evidenciar o alto contingente de imigrantes portugueses na Primeira República, contando inclusive com a portuguesa Carmem Miranda no Brasil desse período. Alicerçado nisso, objetivamos evidenciar a diminuição do contingente imigratório português no Estado Novo, e a correlação que esse contexto teve na história e nas transfigurações do carnaval carioca.

Posto isto, é indubitavelmente importante que o/a leitor (a) tenha observado a importância da imigração, do Carnaval e também de outras temáticas que foram colocadas na revista no tocante ao contexto, a área historiográfica e também, a área de documentação, metodologia didática sobre o carnaval e as atualidades sobre o mesmo. Deste modo, a revista Carnavalesco de despede com grande honra em ter realizado essa edição, para então evidenciarmos a importância do Carnaval, e, principalmente a sua relação com os processos históricos, sociais, políticos e econômicos. Obrigado!

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REFERÊNCIAS

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CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA TRABALHO DISCENTE EFETIVO 2019/1º SEMESTRE BEATRIZ RAMOS DA CRUZ CAIO MURILO PEREIRA LUCAS MEIRELES NICOLI FERREIRA DE MELLO PRISCILA PADILHA DE LIMA TAYSA SILVA


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