Revista Mistérios de Orunmilá nº 13

Page 1

Mae Regina Lucia Entrevista,


UE DE FE

•


FEV.

1018 EDITORIAL

SUMARIO Ol - GENTE QUE GENTE

ABRA~A

Madurem t oea, canta e danc;:a

08 - EVENTOS Bloeo 6runmila

11 - NOSSA CAPA De onde veio

isterios de Orunmila apresenta a maior festa popular do mundo: 0 Carnaval! Tradi<;ao que mistura 0 sagrado com 0 profano. 0 rico e 0 pobre. ele. voce e todos nos. Sem qualquer discrimina<;ao. todos somos foliiles. Nessa edi<;ao temos Afoxe. Bloco Afro. Sapuca!. muito samba cantado por antigos puxadores e uma entrevista exclusiva com 0 interprete mais elegante e popular do carnaval. 0 Neguinho da Beija-Flor. E nesse ano. 0 mes do Carnaval tambem e 0 mes da mais popular divindade feminina do panteao africano: Iyemonja. a rainha dos mares! Espero que mergulhem com muita alegria nas paginas da nossa revista.

M

0

camaval?

-Nara Barcellos

14- NOSSA CAPA Mardi Gras Indians

ERRATAS

1 8 - NOSSA CAPA

Mascaras: Do ritual brincadeira

a

Na edi<;ao de nO 12: • Na ~ 24 no alrrirulo da Psic61cga Priscilla 1Vlartin<;, fultou mencionar que ela eMestrnOOa em psirolcgia pda UFSJ • Na ~ 24 fultou urna c::iJa9io no texID cb 1vJirea Eliade.

11- EVENTOS Tambores de OIokum

14 - ENTREVISTA Celia Domingues sobre Lavagem na Sapueai

18 - ENTREVISTA Elm o Jose dos Santos: Uma hist6rla do Samba

J 1 - ENTREVISTA Iyalorlsa Regina Lueia de Iyemonja

)4 - GENTE QUE GENTE

AGRADECIMENTOS Aghata Barcellos / Iya Yaporan / Hamilton Sowzer Jonas Torres / Mae Paula / Fotogrifo Joran Pai Carlinhos " Agrade<;o em especial ao Babalawo Aftsi Famuiwa, somente urn amigo mostra IFA para uma pessoa" -Sandro Fatoreri

EXPEDIENTE

ABRA~A

David santiago: Um promot er de muito Axe!

Presidente: Diretora Geral: Designer: Jornalista: Revisao de Texto:

41 - RELIGIAO

A retomada da Fe! As comemorac;:oes Mae Iyemanja

a

4 S - MISTERIOS DE ORUNMILA PELO MUNDO

Diretora administrativa: Diretor Executivo: Colaborador: Fotografia: Foto da Cap a Publicidade: OganJunior Alexander Oliveira

Sandro Fatorera Nara Barcellos Felipe Perrot Mirela Maria Roberval Barcellos Joamar de Melo Cunha Beatriz Mello Thiago Lucas Ofarere OganJunior Guilherme Joran

(21) 98780-7140 (21) 99299-3422


H

a 21 anos 0 sambista Waldir Gallo foi procurado por urna jovem menina do subUrbio carioca que revelou o sonho de ser porta-bandeira de alguma escola de samba do Rio de Janeiro. Como ja havia 0 interesse de criar alguma as:ao social para 0 mundo do samba, Sr. Waldir Gallo reuniu urn grupo de arnigos repassar experiencias carnavalescas e definiu urn objetivo para 0 novo grupo criado: manter a tradis:ao do car'na1ra1l atraves da capacitas:ao de jovens e crians:as para 0 mercado de trabalho com cursos gratuitos. Assirn nasceu, Associas:ao Madureira Toca, Canta e Dans:a. Atualmente, a associas:ao e presidida pela Sra. Estelita Oliveira que se diz bastante satisfeita por centenas de jovens de vanas idades ja terem sido atendidos e beneficiados. Somos urna ONG que oferece cursos gratuitos para jovens de 14 a 21 anos e que sejam estudantes da rede publica. Dentre os cursos oferecidos estao 0 desenho e confec~iio de fantasias, aderes:os, chapelaria, arte com espurna, dans:a do mestre sala e porta bandeira.

Ensaios do Madureira Toea, Canto e Danfa

Contato: ....

Tclcfonc: (21 ) 30 18 ~ 35()(J 1 I Site:

W\\¡\\

rnadurelfatoc,lntadanca.\\ ordprc::;s.cnm

Colaborad or: L<'ILIlpe ~listcrios de (), unl111b


CASA OLIVEIRA ~rmarinho

& 'lJordados

MERCADAo DE MADUREIRA ESPECIALIZAOOS EM: LINHAS· FITAS- AGULHAS .. BORDAOO INGLES .. RENDAS PARA/SA .. PASSAMANARIAS · GALOES • ACABAMENTOS • TOALHAS DE BANHO, ROSTO E MAO B ORPA MOS

AMAOUINA

TOALHAS E fA lXASi

# TOALHAS COM NOME E S/MBOLO OU PONTOS 00 ORlxA OU GUIA # FA/XAS PARA SAloA DE SANTO, EKEDY, OGAN, PREMIA~IJES

# TOALHINHAS PINTAOAS PARA

LEMBRAN~A

PATROC INADOR OA FAIXA CAMPtiO DOS CAMPEOES DO ATABAQUE DE OURO OESOE 2009

MARlZAIDAN ARTESANATO

® Mariza Idan 11 Mariza Idan Artesanato M marizanobre.nobre@gmail.com

(21) 98804-9242 (21) 97108-8259 vivo

-80lsas eco bag's com pedraria

.Porta vatu adornados -Imagens de gesso pintadas a mAo

Pianos empresaria is, individuais e adesao

&

(2 1) 99866-7044 ~ (2 1) 98279-4464

0

Golden

eImY Brad .• sea ~,ll Saude Af1Irr'JI

Su~.

Assiio1

Cross

a Q~alicorp

Unlmed !' \


Casa De Umbanda e Candomble

Pedreira De Xango Artigo de umbanda e candomble Trabalhamos com bichos sobre encomenda Estrada de Adrianopolis, 2657 Corumba - Nova Iguac;:u - RJ. 3776-8506/10: 112*61448


Conteudo Historia do dinheiro com conceitos IRE

Histciria de AJE (passagens de Od" ) As iguarias prediletas e seus impedimentos. o cu)to de AJE na Africa e no Brasi) Oriki (reza de AJE)

.. ~v ¡''''~r ....

)~ L

Dura~ao:1

mes (1 aula semanal)

"TAB

l"forrna~6es

Telefone : (21 ) 2570-2730 / 98746-3701

Jogo de Buzlos e cartas. Apostllas de EbOs e Maglas. Cursos Individuals ou em Grupo Para agendnmento lit valores, entre em contato

Talaf..... (21) 2~ (21) 994OO'ncrr I! Email: paulodeoxalS@uoLcom.br

Acesse

0

site:

www.paulodeoxala.C<lm.br

Alexandra Vecchi ~ (21)98772-2837 alevecchi@hotmail.com

fb .comlwacorpcorretora

rasl elra Amll


q-f uar Distribuidoro de Artigos Re/igiosos

Despachamos para 'odo

0

Brasil e Exterior.

R. Bom Postor, 2190 - SP

Central de Atendimento: (1 J) 2063-6464 A luar Importa toda a llnha Indiana" lambem a llnha Jab/onex, contos, ml~ongas, flrmas, ter~os e'c. Possulmos 0 mals varlado estoque em produtos Rellgiosos ft Esotericos (Confira, mals d. 5.000 ilens)

Unho Indlano poro presente

r"nha "m sua

lo;a a linha de produtos

Indiana. em bronze


Vi site a Luar na Internet -www.luar.com.br

e-mail: luardistribuidora@luar.com.br LAN~AMENro

INCENSO QUEIMA SEM BRASA

LUAR PRODUZIDO COM RESINA DE ALTiSSIMA QUALIDADE

_ - - - - . ALFAZEMA' sAHOj\l() • 1 ERVAS • CANELA • CHAMA DlNHEIRO QUE8""·D£MAHDA • OlHO GORDO' lIMPEZA • (""VO • ROSAS ( Munos OUTRAS ESstHclAS AROMATtCAS

Llnlto Compht,.. d.'moe- n • d.Umbondo • Condomb'"

/

\


..................................

BLDeD

Revista Misterios de Orunmil:i - Qual a origem do Bloco Orunmila? Cezinha - 0 Bloco Orunmihi foi formado por uma dissidencia do Alafin Aiye. Em urna viagem a Salvador como 0 vovo do De Aiye, conversamos eu. e minha falecida e querida esposa Mara. Nesse dia 0 De Aiye estava recebendo os tecidos para 0 des@edocarnaval. A Beth chamou a Nara, mostrou os panos, la~os e todos os amarrados ensinando todas as dicas para ela que serviu a Orunmila revolucionando 0 vestuano Afro no Rio de Janeiro. Nesse mesmo dia vovo tambem me sugeriu colocar 0 nome de Orunmila no bloco porque na Bahia tambem exisria urn Moxe com 0 nome de Orumila criado pelo falecido Apolonio. Assim sendo, seguimos 0 conselho do vovo que diz que esse nome tern muita for~ e assim passamos a ter o apadrinhamento de lie Aiye.

8 Misterlos de Orunmlli Fevereiro 2018

~~~~~

Revista Misterios de Orunmil:i - Como se deu a forma~ao do Bloco Orunmila? Cezinha - Eu e meu irmao Carlinhos, minha esposa Mara, meu amigo Chuchu Edson de lie Aiye, minha irma Edna, a noiva do Chuchu e 0 Marcio Mongol fundamos o grupo Bloco Orunmila e 0 lan~amos no Ferremo, na Aboli~ao, no dia 04 de Agosto. Tres meses antes haviamos come~ados ensaios no Catumbi e para nossa alegria fomos muito bem aceitos por todos, recebendo do publico urna boa resposta ao nosso trabalho. Fomos muito felizes em nossas escolhas. Revista Misterios de Orunmil:i - Porque voces realizaram 0 concurso as Deusa do Ebano? Cezinha - Como nas tradi~6es baianas, nos criamos uma Festa para a escolha da nossa Deusa Beleza Negra e aqui no Aguibara Dudu tambem existia urn concurso chamado Beleza Negra. Entao nos criamos a noite da Deusa do Ebano cuja primeira realiza~ao ocorreu 1990. No final do mesmo ano fizemos a segunda edi¢io e a partir dai passamos a fazer 0 concurso regularmente. A Deusa do Ebano e urn evento mui to procurado, uma tradi~ao nos blocos afro apesar de ser urna prodm;ao com muitas despesas e que precisa de mui ta parceria para a sua realiza~ao.


................

, ~~

~evista Misterios de Orunmilii - Qual a filosofia do Bloco mmila? :ezinha - 0 Bloco Orumilii foi criado com a ideologia de obate ao racismo, a intolerancia re1igiosa e sexual, a todo ) de discrimina~iio que 0 pobre e 0 negro sempre sofreram. J e urn bloco exclusivamente de negros. : urn bloco de combate a discrimina~iio racial e temos muito esso com a proposta de miscigena~ao dentro da cultura o no Rio de Janeiro. lassos ensaios sao na Lapa as sextas-feiras, 0 que nos traz lor ,;sibilidade. Temos hoje urn quadro eferivo de compo':"S na banda com alas de canto e dan~a e 0concurso Deusa Ebano, que funciona tambem como ponto de atra~o para itas pessoas que frequentam nosso espa~o Bloco Orwnili. uscamos com nosso trabalho mostrar as aUlOridades que estio nos orgaos do governo a nossa importincia para a cultura afro no Rio de Janeiro e tam-

bern receber incentivos

..

a presen~a de urn representante masculino na cultura afro no Bloco Orunmilii, mostrando que na dan~a nao ha somente frequencia feminina. No bloco afro, nos nossos concursos, elevamos a autoestima de pessoas que acham que estio fora dos parimetros esrericos impastos e perpetuamos a cultura afro-brasileira que hoje e muito combarida.

Revista Misterios de Orunmila - Como sera 0 carnaval 2018 do Bloco Orunmila? cezinha - Fazemos 0 carnaval que e bastante procurado pelas pessoas. E esse ano por falta verba, sera bastante criarivo! Iremos promover urn encontro de abadas aonde buscaremos componentes de hoje e de anos atras que jii possuem as indumencirias dos anos anteriores. Teremos tambem abadas dos Ultimos quarto anos que iremos comercializar a baixo custo para todos poderem comprar e que estarao it venda is ter~as­ -feiras nos nossos ensaios na FEBARJ e na barraca do Bloco Orunmila no Ferreirao do Samba (Barraca nO 29). A venda de nossas iguatias ;ambem ira reverter para a continuidade da cultura do Bloco Orunmila.

para continuar a difunelir ainda mais a propasta do Bloco Orunmihi.

Revista Misterios de Onuunihi - E 0 concurso do Deus do Ifii? Qual e 0 objetivo? Cezinha - 0 Deus do I fa esci em sua segunda eeli~ao. Significa

Cezinha e idealizador do Bloca OrunnUl' e dos concursos Deusa do Ebano e Deus do lEa

Colaboradora: Yaporan

Fevereiro 2018 Misterios de Orunmila 9


SOPEIRAS E TRAVESSAS

~ LOCA9AO DE BRINQUEDOS

(21) 3555-7822 (9 (21) 99852-0609 (9 (21) 97186-7948 (21) 98941-8574 festaboarrdm@gmail .com

11 fb.com/ festaboaarrdm Toboga - Cama Ela,tlca - Fonte da Chocolate - Algodao Doce· Ammac;.io • maisl


Casa de Umbanda e Candomble Imperio de Maria Padilha

Trabalhamos com bicho sobre encomenda A mais nova loja de artigos religioso de Nova Igua~u!!!

2767-0670/7859-0526/10: 112*61450 AV.M"rpt:h;1i Floriano Peixoto. 2411


!

Temos 0 habito de considera-lo como uma tipica festa brasiJeira. No imaginario de muitos estrangeiros, "carnaval" esta entre as tres primeiras

palavras quando 0 ass unto e Brasil. Afinal, e inegavel que nao apenas e a festa popular mais celebrada no Brasil, mas elemento fundamental da cui tura nacional. Porem, nao e inven~ao brasileira nem tampouco realizado apenas aqui. Entre os antigos egipcios havia as festas de isis e do boi Apis; entre os hebreus, a festa das sones; entre os gregos antigos, as bacanais; na Roma Antiga, as lupercais e as saturnais. Os gauleses tinham festas parecidas, especialmente a grande festa do inverno. Essas festas duravam varios dias com fartura de comidas, bebidas e dan~as. A palavra carnaval e origin aria do tarim, carnis levale, cujo significado e retirar a carne e esta relacionado com

Festa de isis no antigo Egito

12 Misterios de Orunmila Fevereiro 201 8

o jejum que deveria ser realizado durante a quaresma, inventada pela Igreja Cat6lica Romana para impor regras e limites as festas pagas. Na antiga Babil6nia, duas festas possivelmente originaram a que conhecemos como carnaval. Nas Saceias, urn

prisioneiro assumia durante alguns dias a figura do rei, vestindo-se como ele, alimentando-se da mesma forma e dormindo com suas esposas. Ao final, 0 prisioneiro era chicoteado e depois enforcado ou empalado. o outro rito era realizado pelo rei nos dias que anrecediam 0 equin6cio da primavera, periodo de comemora~ao do ano novo na regiao. 0 ritual ocorria no templo de Marduk, urn dos primeiros deuses mesopotamicos, onde o rei perdia seus emblem as de poder e era surrado na frente da estatua de Marduk. Essa humilha~ao servia para demonstrar a submissao do rei a divindade. Em seguida, ele novamente assumia 0 trono. o que havia de comum nas duas festas e que esci ligado ao carnaval era 0 carater de subversao e inversao de papeis sociais: a transforma~ao temporaria do prisioneiro em rei e a humilha~ao do rei frente ao deus. Possivelmente, dessa tradi~ao mesopotamica que veio 0 habito de homens vestirem-se de mulheres e vice-versa durante os dias de carnaval. As associa~6es entre 0 carnaval e as orgias pod em ainda se relacionar as festas de origem greco-romana, como os bacanais (festas dionisiacas, para os gregos). As festas eram dedicadas ao deus do vinho, Baco (ou Dionisio, para


os gregos), marcadas pela embriaguez e pela entrega aos prazeres da carne. Havia ainda em Roma as Saturnilias e as Lupercilias. As primeiras ocorriam no solsticio de inverno, em dezembro, e as segundas, em fevereiro, que seria 0 mes das divindades infernais, mas tambem das purifica~6es. Tais festas duravam dias com comidas, bebidas e dan~as. Os papeis sociais tam bern eram invertidos temporariamente, com os escravos nos !ocais de seus senhores e estes se colo cando no pape! de escravos.

Festa ell/ honreagell1 ao Deus do vinbo, Baco

Com 0 fortalecimento de seu poder, a Igreja nao via com bons othos as fesras e para essa concep~ao do cristianismo havia a critica da inversao das posi~6es sociais: ao inverter os papeis de cada urn na sociedade, invertia-se tambem a rela~ao entre Deus e 0 demonio. Entao, a Igreja Catolica buscou enquadrar tais comemora~6es, ate que no seculo VIII foi instituida a quaresma, submetendo as festas pagas aos tam bern inventados dogmas cristaos. Nos carnavais medievais, no periodo fertil para a agricultura, homens jovens se fantasiavam de mulher e saiam nas ruas e pelos campos durante algumas noires. Diziam-se habitantes da fronteira do mundo dos vivos e dos mortos e invadiam os domicilios, com a aceita~ao dos moradores, fartando -se com comidas e bebidas, e tam bern com os beijos das jovens das casas. No seculo XlII, os nobres franceses come~aram a promover grandes festas onde era obrigatorio 0 uso de mascaras e roupas !uxuosas - os bailes - e provavelmente foi assim que surgiram as primeiras festas a fantasia. Essas festas logo ficaram populares entre as altas classes em toda Eu-

ropa e se espalharam por todo 0 mundo. Os bailes aconteciam em local fechado, 0 publico era compos to por convidados que se dispunham a fantasiar-se e ouvir mUSlca.

Durante 0 Renascimento, nas cidades italian as, surgiu a Commedia dell'Arte, teatros improvisados cuja popularidade manteve-se ate 0 seculo XVIII. Em Floren~a, can~6es foram criadas para acompanhar os des files, que contavam ainda com carros decorados, os trionfi. Em Roma e Veneza, os participantes usavam a bauta, uma capa com capuz negro que encobria ombros e cabe~a, alem de chapeus de tres pontas e uma mascara branca. o carnaval chegou ao Brasil a partir do seculo XlII, quando os portugueses trouxeram a brincadeira do entrudo, tipica da regiao de A~ores e Cabo Verde, que consistia em um jogo em que as pessoas sujavam umas as outras com tinta, farinha, ovos e tambem atiravam agua. A comemora~ao foi mudando, na medida em que se misturavam as culturas indigena e africana. Aos poucos 0 entrudo festejado no Brasil diferenciava-se daquele trazido pelos portugueses, ate tornar-se uma festa com caracteristicas

proprias e a exibir grande diversidade cultural. Os fatores culturais construiram um carnaval distinto em cada parte do Brasil. 0 Rio de Janeiro e famoso pelos des files das esco!as de samba; na Bahia os trios eletricos atraem milh6es de foli6es todos os anos; em Pernambuco e j\finas Gerais, 0 carnaval toma as ruas com blocos perfazendo dan~as tipicas como 0 frevo e 0 maracatu.

Entmdo, fesla que consistia e1l1 sldar as outras pessoas com tinta, fan'nha, ovos e dgua.

Colaboradora: Jornalisra Mirela Maria

Fevereiro 201 8 Misterios de OnlDmila 13


N

ova Orleans, capital da Lousiana, suJ dos Unidos. Enigmitica, uns dizem ser ass;on1brad:l; jl~ \ I

:~~~~ii~~

musical, terra do vodu dos afro-americanos cendenres dos negros levados ou libertos do Haiti; ber~o do jazz, musica da alma dos negros arrancados de Africa para servirem de escravos aos europeus que se digladiaram pela;;--- na cidade. Sao inUmeras as krewes e inUmeros os bailes em posse da regiao e foram proibidos de tocar seus tambores pelos que os membros esmo mascarados e os com~dados homens brancos. Cora~ao da cultura afro-estadunidense, a cidade foi }. vestem casaca e as mulheres, vestidos de baile. Seguem-se regras fundada peJos franceses no secuJo 17, se tornou espanhola em • protocolares muito rigidas e todos parecem convencidos de - meados do secuJo 18, voltou a ser dos franceses e, por fim, vivenciarem urn verdadeiro baile de corte. foi vendida com toda Lousiana por Napoleao Bonaparte aos Nesse universo do carnaval olicia!, se pode observar como Estados Unidos em 1803,0 que dobrou 0 tamanho do jovem 0 carnaval em vez de subverter, como ocorre enrre nos, pode pals. Este e 0 palco do Mardi Gras, literalmente ter~a-feiJ:a gorda sublimar ou favorecer a perce~ao das diferen~as, preconceitos em frances, 0 que podemos chamar de carnaval dos Estados e segrega~6es cotidianos. Unidos e considerado urn dos melhores do mundo, arraindo A primeiJ:a krewe apenas de mulheres apareceu apenas em milh6es de pessoas durante os mais de 30 dias de dura~ao das 1970 com 0 nome de "Iris". Atualmente hi vanas. Cada krewe festividades que come~am no dia 6 de janeiro. costuma desfilar com urna media de 16 carros aleg6ricos puHi 0 Mardi Gras olicia!, branco, 0 das krewes, nome das xados por rratores - ate 1952, eram puxados por cavalos ou diferentes agremia~6es ou sociedades que promovem os desfiles burros - e reunir urna media de rres mil participantes. Paralelamente ao carnaval das krewes brancas, olicia!, hi urn e bailes da temporada carnavalesca. Krewe e urna corrupteJa da palavra inglesa "crew", que significa "tripula~ao" e lembram as carnaval negro cujo ponto alto e a apresenta~ao de homens Grandes Sociedades surgidas no Brasil em 1855, que faziam 0 negros vestidos de indios, 0 chamado Mardi Gras Indians desfile de carros aleg6ricos e percorriam as principais avenidas (indios do mardi gras). Segundo David Elliot Draper, urn dos das cidades brasileiJ:as. A rradi~ao dos des files carnavalescos estudiosos do assunto, as fantasias de indio teriam como fonte remonta a decada de 1830, em Paris. Consistia em urna evi- de inspira~ao 0 Show do Oeste Selvagem, de Buffalo Bill, que dente demonsrra~ao de poder da burguesia nouveau-riche se apresentou em Nova Orleans em 1885, durante a Exposi("novo-rico", literalmente) que se inspirava no corso romano ~ao Mundial da Industria do Algodao, urna vez que a classe renascentista e "macaqueava" a rradi~ao dos triunfos reais. Tais rrabalhadora negra que frequentava os sho,,'S se identificava como as sociedades aleg6ricas no Brasil, as krewes surgiram com os indios massacrados no especicuJo. para reproduziJ:, em terras ameticanas, a arrnosfera festiva de Os rrajes se destacam pelas minucias, pelos detalhes de cenas Paris, Nice e Veneza. bordadas em minUscuJas mi~angas. Os grupos nao desfilam em Em Nova Orleans, as krewes sao sociedades secretas, origi- carros e nao se apresentam para multid6es. E urna manifesta~ao nalmente formadas por homens brancos e que podem ter rres do proletariado negro, da classe rrabalhadora, das comunidades configura~6es: as que desfi.lan1 e promovem 0 grande baile, pobres que no dia do Mardi Gras saem de seus bairros e se as que so desfilam e as que so promovem 0 baile. As Ultimas dirigem para a Claiborne Avenue. Em meados dos anos 1960, sao as mais fecl1adas e as mais seJetivas. E nesses bailes que as foi consrruido sobre essa avenida urn grande viaduto, que jovens debutam, isto e, sao apresentadas it sociedade. Fazer desligurou 0 local que era urna area de grande efervescencia parte de uma krewe e urna referencia social in1portantissin1a da cultura negra. Em sinal de protesro, os negros fanrasiados

14 Misterios de Orunmihi Fellereiro 201 8


•••••

•••••••••••••••••••

••••••••••••

de indios se reilnem debaixo do viaduto, local em que foram pintados grandes paineis com imagens do Mardi Gras Indians, nas colunas das extremidades do viaduto, como as irvores recordando os tipicos living oaks do pantano que havia no local, onde hoje so hi concreto. Eles desfilam na comunidade e para a comunidade, fora do circuito oficiaL Pot tanto, esti'io fora do circuito turfstico. Os chefes saem para mostrar sua beleza para os vizinhos, celebrar sua cultura sem se preocuparem com consumo QU propaganda, configurando urna ostensiva afirma~ao cultural negra. Apenas em duas ocasioes saem, pela manha, da irea em que \~­ vern: na ter~a-feira gorda, QU "mardi gras day", e no "big Sunday", 0 domingo mais proximo do ilia 19 de mar~o, dia de Sao Jose. A importiincia dessa data se deve ao sincretismo da grande Festa siciliana e ao fato de ser 0 dia em que, no Caribe, celebra-se Legba, 0 guardiao das encruzilhadas e espitito da comunica~ao em todas as esferas da comunidade vodu. Cada indi\~duo desempenha papel especifico na tribo. A estrututa organizacionaJ segue urna hierarquia tigida. Hi 0 grande chefe, 0 segundo chefe, o paje, a rainha, 0 homem selvagem, 0 espiao e 0 portador da bandeira, entre outros. Tambem hi urna hierarquia familiar, em que @hos e netos herdam os pOStos dos pais e avos. 0 espiao sai dois quarteiroes it frente do grande chefe para saber se sua tribo pode passar sem perigo; 0 porta-bandeira, 0 paje, a rainha,

as princesas e a figura maxima, 0 grande chefe, ocupam os principais postos. Cada urn apresenta urn gesrual, urna dan~a e urna fantasia que os identificam. Para merecer 0 cargo de grande chefe, 0 individuo precisa preencher urna serie de requisitos: ser urn membro ativo e representativo de sua comunidade, ser urn chefe de familia com qualidades destaciveis, ser born cantor e conhecer 0 repertorio tradicional, e set habilidoso e criativo para conceber e confeccionar, a cada ano, urn novo traje que deved ser inteiramente bordado por ele proprio. As roupas sao narrativas e, quando as tribos se encontram, os grandes chefes devem ser capazes de ler as roupas uns dos outros. Ate meados do seculo xx, os encontros entre chefes redundavam em verdadeiros confrontos tribais, nos quais muita gente se feria ou ate morria. Hoje, a guerra e pela beleza. Busca-se saber quem e 0 mais bela grande chefe de cada ano. A roupa varia de acordo com a irea - cidade alta, baixa ou centro -, havendo trajes inspirados nos indios das planicies e nas culruras africanas. Sempre hi crian~s, mulheres e uma banda de percussao com vanos insttumentos improvisados (latas, garrafas etc.) em tOtoO do Grande Chefe. As musicas demonstram a diversidade das sonoridades negras da irea do Golfo do Mexico, embora se repitam tanto nos versos quanto na levada ritmica, cuja origem e a bamboula, paJavra derivada de bambu, pois 0 tam bot menor, executado na dan~a, era frequentemente confeccionado de bambu duro. Os ensaios acontecem em bote-

quins fechados das comunidades negras e nao esti'io abertos a qualquer desavisado. o recinto e dividido por urna corda e se 111loa com uma ora~ao do grupo em roda. Depois, 0 canto do repertorio tradicional, cuja sequencia obedece a urna logica especial.

Colaboradora: Jornalista Mitela Maria

Fevereiro 2018 Mistmos de OrunmiLl 15


• ~ t)..Hg!!~.f~..?h............ ¡

..............

..

~.~

FlGURIN08 DE CARNAVAL O carnaval e festa, mas tambem e arte, cultura e ritual e desde sempre oscilou entre 0 sacro e profano. Varios povos antigos utilizavam mascaras e fantasias em seus riruais religiosos. 0 carnaval no Brasil se difundiu pelos colonizadores portugueses unindo ancestralidade e mescla dos costumes europeus, africanos e indigenas e desta forma consolidando idenridade regional. A diversidade caracterfstica do carnaval revela exaltayao as paix6es da carne, a permissao para a felicidade e tambem para a loucura. 0 figurino de Carnaval mostra a criayao da folia que voce ve nas ruas. Depois, esse costume foi adotado nos bades de carnaval brasileiros no imcio do seculo 18 e continuou a se popularizar ao longo dos anos. Hoje em dia, os foli6es continuam abusando do born humor e da criatividade para fazer belas fa ntasias: criar 0 que pode ser chamade de "segunda identidade do foliao". De forma simples, as pessoas encontraram urn tema para dar urn ar mais divertido ao evento. Feitas com roupas adaptadas, tingidas, enfeitadas de forma ingenua, sapatil has, adereyos de cabeya, rudo e valida na composiyao. Das fantasias mais tradicionais no carnaval de rua podemos destacar os politicos, as odaliscas, as caveiras, os malandros, os super-herois, os medicos, 0 diabo, o principe, 0 bobo da corte, o pierro, a colombina,

os palhayos e vale destacar a figura masculina vestida de mulher e vice-versa. A energia do carnaval do Rio de janeiro e contagiante. A festa se propaga unindo foli6es sem distinyao de classe, cor ou credo nos blocos, bandas e escolas d e samba que descendem dos ranchos eo nome foi dado por Ismael Silva, urn dos fundadores da primeira escola de samba do Rio de Janeiro, a Estacio de Sa (antiga Unidos de Sao Carlos). As fantasias das escolas de sa mb a exp li cam a h istoria contada na letra do samba enredo. Coerentes ao tema , a escola e dividida em alas e cada ala possui uma representayao tematica, que deve ser respeitada e seguida por todos os integrantes. Alguns seguimentos nao podem faltar no conjunto visual. Cada segmento tern sua importancia e tradiyao dentro desta organizayao recreativa carnavalesca. A comissao de frente respeita 0 numero


•.J. ..... maximo de l S integrantes. 0 Mestre Sala cortejando e defendendo 0 pavilhao que a Porta Bandeira desfralda rodando em seu bailar, a Velha G uarda se apresenta trajando roupas de ga1a de figurino impecavel respeitando as cores da escola e chapeus em estilo panama, a fantasia classica das baianas compoe-se de turbante, bata, pano da costa e saia rodada. A Bateria tern a Estattio de IsmaelSilva em Estdcio 110 Rio fantasia mais comde Janeiro plexa do conjunto apresentado pelas escolas de samba. Os ritmistas sofrem todos anos por causa das fantasias quentes e pesadas. Esta indumentaria tern por necessidade ser leve, para que a mesma nao prejudique a sonoridade. A tarefa da bateria e executar 0 ritmo para que a escola evolua na avenida.

A resistencia do componente nao se restringe a figurinos pesados e volumosos. Representa<,:oes de temas e formas femininas tambem nao e muito comum para este componente. A rejei<,:ao a indumentiria que caracterize 0 genero diferente, suas rela<,:oes a identidade sexua1, motivam buscas de questionamentos para urn grupo social que corresponde ao chamado

cora<,:ao da escola. Essencialmente no carnaval de rua, 0 foliao do genero masculino veste-se de mulher, e desta forma refletimos por que 0 foliiio de escola de samba resiste a esta forma de se apresentar. Fantasias em tons rosados e maquiagens sofrem resistencia do componente instrumentista em sua totalidade. Alguns pesquisadores classificam este segmento como uma especie de status socia1 que garantiria ao integrante a condi<,:ao de musico, ainda que somente a epoca do carnaval.

Palco de transgressoes e liberdade de ser e estar da fantasia da bateria apresentada na passarela do Samba, ainda nao rompeu barreiras, pois nao foi capaz de superar as restri<,:oes it identidade de genero, ainda que representadas de forma teatral. Ser foliao e assumir 0 faz de conta e incorporar papeis, demonstrar sentimentos, alegrias, inc6modos, expressar suas contradi<,:oes e sentir-se motivado a lidar com 0 acaso, uma vez que a historia e construida no desenrolar da brincadeira. Nesse jogo, cada personagem se veste para delimitar situa<,:oes, regras e atitudes.

Colaborador: Edson Klayton Andre Eler - Coordenador do curso

de pos graduarao Figurino e camava! na Univmidade Veiga de AImeida.Professor na Universidade Candido Mendes no Curso Superior de Gastronomia na discip/ina Arte e Estitica na Umdade Nova Fn"burgo/ RJ e especiaiista e11l l\1oda intima com ~'drios Premios concedidos

pelo: SEBRAEI R], Conselho da Modal R], SENAl Moda Design e Governo do Estado do Rio de Janeiro, SIND VEST e FIRJAIV. Email: klaytonhelle1@hotmail.com

Fevereiro 2018 Misterios de Orunmila 17


N"""

•••• I

•••••••••••••••••••••••••••••••••

DO RITUAL A BRINCADEIRA carnaval de Veneza, na Italia, e uma das festas mais famosas do mundo, atraindo centenas de milhares de turistas e foLioes pela sua hist6rica tradi<;ao de mascaras e fantasias. f\lem de ser um dos objetOs mais cobi<;ados da folia, as mascaras sao tambem pratagonistas de um concurso e deslile em plena Pra<;a Sao

O

Marco. A "Bauta" , de cor branca e usada para cobrir 0 rasto in teiro, e um dos modelos mais usados. To COl/mHO de mascaras 110 prafo de Sao AtJarco elll das, porem, Venezo sao praduzidas com cores vivas, como dourado ou prata, e tern adornos do estilo barroco. Couro, porcelana, acrilico, gesso ou pedras preciosas complementam 0 design. As mascaras do Carnaval de Veneza sao inspiradas nos principais personagens da famosa "Commedia dell'Arte", um genero teatral que nasceu na Italia no lim do seculo XVe se espalhou pela E uropa ate 0 seculo XVIII. Na "Commedia dell'Arte", os atores faziam apresenta<;oes repLetas de improvisa<;oes e satiras sociais, com intera<;ao com 0 publico. Os personagens interpretados nessas apresenta<;oes de rua acabaram influenciando os venezianos em fantasias de car naval e geraram a hist6ria de amor simbolo do carnaval, eternizado em marchinhas diversas no territ6rio brasileiro. Mascaras dos personagens passaram a ser usadas como uma forma de manter 0 anorumato em festas e algazarras, alem de eliminar a diferen<;a entre genera e classe social, tema principal das pe<;as da "Com media deU'Arte". Os bailes de mascara venezianos serviam tambem 18 Misterios de 6runmiIa Fevereiro 2018

__ ,

~~ ,

para encobrir a identidade num contexto de constante di sputa por poder entre as classes abastadas. Os cortesaos mascarados faziam brin cadeiras conliantes no anonimato, extravasando todos os seus impulsos reprirnidos e libertando-os das normas sociais. 0 mais antigo documento sobre 0 uso das mascaras em Veneza data de 2 de maio de 1268. Outro, datado de 22 de fevereiro de 1339, proibia os mascarados de vaguearem it noite pelas ruas da cidade. Todavia, 0 seu uso era perrnitido durante tOdo 0 carnaval, exceto nas festas religiosas e ao entrar nas igrejas. A confec<;ao de mascaras e tambem uma atividade econ6mica de peso para a regiao de Veneza. Mas, de onde surgiu a tradi<;ao adotada por diferentes povos de todo 0 mundo? Ao longo da hi st6ria, as mascaras foram utilizadas com os lins mais distintos, de acordo com a cultura e a religiosidade do povo que as adotavam. Geralmente, elas perrnitiam 0 acesso a universos regidos pela imagina<;ao ou a dimensoes espirituais invisiveis. Nas paredes da caverna de Lascaux, na Fran<;a, esrao os desenhos mais antigos dos primeiros tempos da humanidade no planeta e neles ja aparecem homens mascarado s numa ca<;ada, como um disfarce. A mascara mais antiga encontrada data de 30.000 anos a.c. As mascaras desempenharam, em mui taS civiliza<;oes, um pape! espiritual, como instrumentos principais em rituais sagrados. Assim foi na Africa, quando eram e!aboradas por maos artisticas, com fei<;oes distorcidas, proporcionalmente maiores do que as normais, constituidas de cobre, madeira ou marlim; no Egito Antigo,


r······

.~4J!II~~~.4'

•••••• 4~

onde mascaravam as mumias prestes a se~ rem enterradas, enfeitadas com pedras preclOsas para garantir a passagem para a vida eterna; na China, as mascaras eram usadas para afastar os maus espiritos; entre Parede da caverna de Lascallx fla Franra os indigenas habitantes do noroeste dos EUA, bern como os Hopi e os Zuni, em solenidades nas quais pranteavam seus entes queridos que haviam partido para a espiritualidade; em diversos paises da Asia, elas eram usadas em ritos espirituais e religiosos, ate mesmo na celebra<;ao de casamentos. Os povos indigenas brasileiros, em suas cerimonias, continuam a usar mascaras simbolizando animais diversos, de passaros a insetos. Em varias tribos primitivas, os indios mais velhos usavam mascaras em cerimonias de cura, para expuJsar entidades negativas, com 0 objetivo de unir casais em matrimonio OU nos rituais de passagem, momentos marcados pela transi<;ao da infancia para 0 mundo dos aduJtos. As mascaras tam bern tinham caracteristicas simb6licas, como se veri fica nas tribos de esquim6s que residem no Alaska, onde e!es acreditavam na dupla vida de cada ser, de urn lado humana e de outro, animal. Desta forma, as mascaras ram bern eram produzidas com uma fei<;ao duplicada; em algumas festas erguia-se

pioneiros no uso das mascaras, a exemplo daquelas ado tad as nas festas dionisiacas, em homenagem a Dionisio, divindade responsave! pelo vinho e pelos rituais de fer tilidade. Nessas ocasi6es, todos dan<;avam, cantavam, se embriagavam e rea- Mdscara prodllzida por Esquimos no Alaska flO siculo 19 lizavam orgias, evocando a presen<;a do deus atraves do emprego da mascara. A Grecia foi tam bern o ber<;o do Teatro, modalidade artistica que recorria constantemente ao encantamento das mascaras, ate mesmo como uma forma de evirar que os atores incorporassem os mortos, bern como eram projetadas para funcionarem como verdadeiros "alto-falantes" a fim de que a voz dos atores Fosse ouvida pot toda plateia. Com a conquista romana, os h:ibi tos e a cuJtura dos gregos foram levados a todos os recantos de seu

Grego!Joram pionoeiros no

IIS0

das mascaras tml pCfas de !catro! e

fistas

Povos indigmas brasi/eiro! 1Isavam mascaras em cen'tJJonias

a mais extern a, revelando a outra, ate en tao oculta. No mundo ocidental, os antigos gregos foram os

imenso imperio. Com a queda do Imperio Romano, os cristaos prirnitivos proibitam 0 uso das mascaras porque as consideravam instrurnentos do paganismo, mas aos poucos seu uso foi sendo teintroduzido para os mais diversos fins e hi pelo Renascimento (seculos XV ao XVI) as mascaras estavam plenamente reabilitadas. Mais tarde, os europeus que chegaram it America com as Grandes Navega<;6es, tambem trouxeram para 0 Novo Mundo suas tradicionais mascaras, tanto de bailes quanto de outras festas, e ate mesmo como brinquedo infantil. Colaboradora: Jornalista l\1irela Maria Fevereiro 2018 Misterios de Orunmila 19


• i ~..~!?~~~.~~.~~..............................................

S

ao eles as grandes vozes do Carnaval, os interpretes de sambas-enredo, os verdadeiros condutores desse grande especiculo ao ar livre que por varias gerac;:6es sobrevivem da sua arte de comandar 0 canto harmonica na avenida. 0 comec;:o foi de uma forma muito dificil onde 0 interprete, juntamente com a ala de composltores e pastoras, comec;:ava a cantar 0 samba. 0 restante da escola 0 acompanhava tornando assim esse canto uniforme. Assim as escolas de samba desfilavam e passaram-se alguns anos para que o som fosse aprimorado. Quando is so aconteceu 0 interprete tornou-se mais profissional e tecnica, sua presenc;:a na avenida atingiu outro patamar, aumentando 0 brilhantismo do espetaculo. Podemos citar alguns dos grandes interpretes que fizeram muito para que hoje a profissao fosse

4

respeitada e valorizada. Sao eles: nosso saudoso Jose Bispo Clementino dos Santos 0 "Jamelao" nascido em 1913 e falecido em 2008. Esse grande cantor defendia a tese de que ele nao era puxador, pois nao puxava fumo nao usava droga, nao era puxador de carro e tambem nao puxava 0 saco de ninguem. Era, sim, interprete. Jamelao foi 0 mais respeitado interprete de samba-enredo de todos os tempos. Com uma voz forte, um tenor, dono de uma afinac;:ao impecavel, deixou urn legado fantastico para 0 Carnaval brasileiro, alem da fidelid ade para com a sua querida escala Es tac;:ao Primeira de Mangueira. Defendeu as cores da escola ate sua morte aos 95 anos e com sua palavra simples e muito romantica marcou 0 seu grito de guerra "Minha Mangueira".

20 Mistenos de Orunmila Fevereiro 2018

Jose Bispo CleflJentino dos Santos,

O/Oft/OIO

yome/aol!.


Outro grande nome que fez muito pelo Camaval Brasileiro foi Aroldo Forde "Amldo Melodia" que e ate hoje, ao contrario de Jamelao, considerado como 0 precursor do nome puxador de samba, 0 "entertainer", uma especie de animador do publico na avenida e dos integrantes da escola de samba. Dono de uma voz muito forte e melodiosa, homem das gafieiras, compositor e urn grande interprete com cacos maravilhosos que faziam a diferenya. (Em 1982 ele cantou 0 Samba Onrolagico "E hoje!", uma das letras mais regtavadas do Samba.) GRITO DE GUERRA: Canta, minha llha "cS.etJllRM 1M marimha/';

"f1ar flay"; "eu,falei";

"cSt!iJuriM, cSegWiM, cSegurIM",

"linda, lind(l" /intiÂŁb".

Negllinho da Beijajlor

Luiz Antonio Feliciano Marcondes, ''Neguinho da Beija-F1or". Hoje esse interprete e a nossa maior referencia, pois e 0 mais antigo aruando na Avenida Marques de Sapucai. Dono de urna voz aveludada e forte traz como marca a sua forya de sua interprerayao sem muitas firulas, porem de uma luz e simpatia impar. Seus gritos de guerra "Olba a Beija-F1or ai, gente!" "Chora cavaco". Superou urn cancer e casou-se na avenida mostrando todD

0

seu

amor pelo CamavaJ. E urn grande guerreiro do Camaval, merece todo nosso respeito!!!!

Aroldo Mclodia em 1982

Carlos Miguel,"Carlinhos de Pilares". Esse foi 0 grande criador de cacos no samba-eoredo com uma gargalhda que introduzia sua interpretayiio. Realmente foi 0 precursor desse tipo de recurso para alegrar os folines e 0 fazia com maestria. Tive 0 privilegio de cantar com ele em 2004 na Academicos da Rocinha e vi de perro essa faceta do nosso saudoso Carlinhos de Pilares. Deixou saudades e e born lembrar que era gago e possuidor de uma afinayao maravilhosa. Saudades meu amigo, Luz para seu espiriro. GRITO DE CARNAVAL: Alo Brasil! Alegria geral! Vai comeyar a festal

DO!J1ingtJinhos do Estdcio

Domingos da Costa Ferreira" Dominguinhos do Estacio, urn dos grandes artistas do samba afinado, com uma extenyao de voz maravilhosa aguda e melodiosa, marcou sua histaria no camavaJ carioca com grandes interpretaynes pela estacio de sa como: Ti Ti Ti do Sapoti (1987)e Pauliceia desvairada. (1982) E na imperatriz leupoudinensse com "liberdade liberdade" e na viradouro em varios sambas na sua voz, grito de

guerra "olba a viradouro chegando" merecedor de muito respeito hoje mesmo sem estar cantando em nenhuma escola e tambem urna grande referencia do carnaval brasileiro. Colaboradora: Wander Timbalada Cadinhos de Pi/am

Fonte: www.sambariocarnaval.com

Fevereiro 2018 Misterios de Orunmila 21


Revista Misterios de 6rurunihi - Como foi a sua trajet6ria para forma~ao dos Tambores de Olokum? Garnize - Sou pernambucano e estou no Rio h:i 16 anos. Sou musico desde que me entendo por gente e desde muito pequeno minha mae me levava para ver os des files dos maracatus. Na epoca os dois maiores eram 0 l.cio Coroado e 0 Elefante. Hoje em dia tem mais de 4D em Pernambuco. Vim para 0 Rio a convite do Luka, que era baterista do Rappa, para montar urn trabalho com ele chamado de Furto. Sempre trabalhei com crian~s e adolescentes em area de risco. Entrei para 0 Afro Reggae e vi que nao era 0 que queria e nao batia com meus ideais, sOOais, politicos e pedag6gicos. Procurando por urna form~o bisica na tecnica de percussao descobri que 0 candomble di muita importincia a este aspecto, diferente do ponto de vista das escolas de samba, que nao assurnem isso. Comecei enrao a dar aulas na Maracatu Brasil e Candomble Maracatu. Na Maracatu Brasil dava aula para urna pessoa norte-americana e foram chegando algumas outras,

vendo que era interessante e nao tern como falar de percussao sem falar de religiao. Estava entre 15 e 20 alunos em outra composi~ao e me estimularam a montar urn grupo. Nos reunimos na casa de urn deles e foram sugeridos vitios nomes para 0 novo grupo, mas eu ja tinha urn nome, ja tinha sonhado e fui consultar 0 ociculo. Meu pai abriu 0 jogo, perguntou a IFA e veio 0 nome Tambores de Olokun. Isso oeorreu em 2012. Sao poucas as pessoas que sabem que quase nao se cultua Olokun no Brasil e quem e de O lokun no candomble faz Yemonj:i. 0 culto de Olokun foi trazido para a America em 1975 sendo mais popular em Cuba e tornou-se mais conhecido no Brasil por intermedio de Fernanda Gomes. Revista Misterios de 6runmila - Qual a origem instrumen-

tal do Maracatu e a composi~o dos Tambores de Olokum? Garnize - A orquestra do maracatu e composta por tambores, Congo, Irubata (Iru =: qualquer tambor e batar =: toque para Sango e Yemanji), tambor mineiro, caixa ou tarol eo gongue, instrumento de Ogun, 0 caraque levando a mensagem do Aiye ao Orun. Sem eles nao hi maracatu e sua utiliza~ao tem origem na na~ao Ebos. As composi~6es geralmente sao baseadas nos contos, nos Itans, nos Orisas, nas lendas. Todas nossas musicas sao proprias. Fazemos as musicas com as lendas de todas as ancestralidades. Pode perceber que com~amos a toear a partir de Exu, depois Ode, Ogun, fica parecendo urn Xire. Abro com Exu e fecho com Obatala. Transformou-se em nossa marca. Revista Misterios de 6runrnili - Que tipos de pessoas podem parcicipar dos tambores? Garnize - Qualquer tipo de pessoa, basta ter urn corpo, ter compromisso com 0 grupo e entender a missiio.

22 Misterios de Orunmila Fevereiro 201 8


,............................ .

~........................ ............... . . .

Garnize - A perna de pau foi urn projeto em separado. Q ueDamos coloc,~ os Olixas em cima das pernas de pau fazendo urna representa<;iio, s6 que n 'o vingou, ficando por urn ano. Foi urna parceria naquele ano. R evista Misterios d e Orunmil:i - Como e a rep resen ta<;ao do des file nos T ambores de Olokum? Garnb<e - A m aioria das m eninas sao as catarinas, e 0 form ato de dan<;a e bem voltado para as na<;6es de maracatu. Te mos a corte (rei, rainha, principe, princesa, bacio e baronesa, dama do leque, dama do buque, e baianas de branco) temos as m eninas do afoxe Filhas de Gandhi que representam a Afoxe e dan<;am com a gente, as duas damas d e passo que carregam as calungas (bonecas negras). A calunga d entro do maracatu a representa<;ao da religiosidade do candomble. Sao duas en ticlades ali den tro do des file e a calunga traz esse !ado religioso na hora em que 0 maracatu esta na rua. As damas de passo rem a missao de carregar essas bonecas, sendo que tOOas as vestimentas sao iguais entre si e quem as ve ORl.$ de fora observa que as damas de passo .~ 4 esmo vestidas como a calunga. 1\ ~ A missao d a d ama de passo e m ostrar 0 desfil e para a calunga devido ao fatO de que essas enridades cuidam da ap resenta<;iio. D entro do maracatu essa figura urna das mais irnportantes.

e

Revista Misterios de Orunmil:i - Quais as co res c 0 significado do Brasao? Garnjz{, - As co res azul e branco sao po r co nta de Yemo nja, s6 que em O lokwl sao 7 cores, vermelbo, verde, amarelo, terracota, az ul e b ranco. brasao e 0 babalo tim de O lolmn e se prestar aten<;ao tem algumas figuras bem parecidas com E xu. Voce nao sabe se e hom em o u muJher e no bloco tem de tudo: negros, brancos, ricos, po b res, gays, lesbicas. E ntretanto, as mulheres sao a maioria, a g rande fo r<;a.

o

Revista Misterios de Orunmil:i - Soubemos que existiu urna aprcsenta<;ao que nao hoube d evido a algum problema. Qual 0 m o tivo? Garnb<e - A questao pen ence ao pro blema da persegui<;iio religiosa sobre as manifesta<;6es popuJares afro. Chegamos ao Aterro do Flamengo e fomos irnpedidos de desfilar, fazer 0 nosso ensaio. A desculpa foi a de que estrag:ivamos a grama, perturbavamos 0 sono dos gatos, poluiamos 0 Ateno etc. Foram desculpas sem cabirnento. Fomos depois a U1ll.~ reuniao com a Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro e entramos em urn acordo. Revista Misterios de Orunmil:i - Quais o s planos para 0 futuro? Garnize - A ideia e sair desse nicho e fazer urn trabalho com a comunidade. E tambem fazer 0 maracatu voltar as suas orig ens (favela, comunidade). Revista Misterios de Orunmil:i - Vunos que voces inOvan1 com pernas de pau.

H

e

R evista Misterios d e Orunmil:i - D eixe urna mensagem para nossos leitores sobre 0 mo mento atual que vivemos. Garnize - Gostaria de dizer que nao som os urna na<;iio, nao temos vinculo nenhum com qualquer institui<;ao religiosa. Somos urn grupo pacifico que toca maracatu segundo as bases da na<;ao de Pernambuco. Fazemos com que 0 Aten o do Flamengo, no Rio de Janeiro, se tome um ped a<;o de Pernambuco. Levantamos e levamos a bandeira do maracatu. Convidamos a todos para vireen, principalmente quem mora em comunidade (precisamos de tOOos). Garnizi, fill/dador do Tombom de Venham som ar co m 0 Okkum Tambor de O lokum! Colaborador: Tbiago Lucas

Fevereiro 2018 Misterio s de Orunmila 23


LAVACEM NA SAPUCAI UM MOMENTO DE FE, PAZ E UNIAo Revista Misterios de 6runmil6 fala com uma das coordenadoras da lavagem na Sapucai, Celia Domingues

Revista Misrerios de 6n.mmiIa -Qual a imporcincia da IaVllgem da Sapucru? cetia Domingues - A imporcincia vem pela religiosidade pela fe pelo desejo que as pessoas rem que de certo. Hoje e urn ato de fe a abertura do Carnaval, onde nos encontrarnos com as maes baianas, que na verdade sao as pessoas, as personalidades, as raizes da cultura do Carnaval, que representam a for.;a, a familia, 0 futuro, a continuidade e a fe. Revista Misterios de 6runmilii -Como e a composiyao e a escolha desse desfile? cetia Domingues - Nos fizemos urn convite a Liga lndependente das Escolas de Samba (LIESA), atraves do presidente Jorginho, que entregou para 0 Elmo, que e diretor do camaval, a coordenayao dessa lavagem; ell, Edson, Maestro Jorge, 0 Teteu enos fizemos urn convite as escolas do grupo especial e de acessa pedindo que as Baianas participassern, e foi logo aceito. Depois convidamos os grupos, como por exemplo as crian,,~s, a velha guarda, 0 gato de pram, de mestre sala e porta bandeim, grupo dos destaques e a cada ano vem urn grupo que e passado por urna avalia~ao para ver a imporcincia que esse grupo tem para esse momento de fe, nao para se fantasiar e desfilar porque 0 intuito nao eesse, apesar de ser urn momento que desfila com os sambas das escolas, mas e tudo voltado para a fe e para a cultura.

24 Misterios de 6runmila Fevereiro 2018

Revista Misterios de 6runmilii - Como surgiu a presenp dos Afoxe pra lavagem da Sapucru? cetia Domingues - E urn assunto importante a presen~a desses Afoxes porque tambem representam a cultura e a fe. Nos temos a Umbanda, 0 Candomble, a 19rej. Cat61ica, 0 budismo, mas 0 importante e que todos se sintam representados e que realmente exista a fe e 0 desejo que tudo acont;:~a da me1hor forma possive!, porque no momento que es os passando na avenida, nos estamos pedindo a Oxala, a D eus, aos santos, aos omas, para que tudo acontep da me1hor maneira ssivel. Sao 5 elias de festa que envolvem muitas pessoas e a gen 0 pede que sejam dias com tranquilidade e seguran~a para tod s, enrao os grupos de Moxe, Umbanda e Candomble tambem .sao muito bem-vindos. E essa organizayao emuito cuidadosa para a identifica9io rlas pes.soas e pedimos para todos item de btana:l, pois ali nao e 0 momenta da vaidade. Na lavagem e importante que todos sejam iguais, diferente dos desfiles, onde se tern urna pJastica a Set mostrada. Na lavagem, todos estao desprovidos de vaidade e da compet:ic;iio, apenas todos juntos para samar, para fortalecer.


:~.\ii".

t ....... . . . . . . . . . . . . . . . . •••••••••••_•••••_• • • • • • • • • • • • •.••••••••••••••••••• ~ ••_.

Revista Misterios de 6runmiJa - 0 que representa a preno desliJe? cetia Domingues - A crian~a representa 0 futuro e se nao prepararmos as nossas crian~s, nos nao estaremos cuidando do futuro, e nas escolas de samba nao e diferente. Por isso, no momento da Iavagem e mais importante ainda a presens:a de crians:as, pois e 0 momento de educar, orientar e cuidar. E importante para que eIas aprendam que 0 respeito a religiosidade, as pessoas e aorganizac;iio para que eIas deem continuidade a essa cultura que e 0 Camaval, que est:i Iigada a religiosidade e rno tern como separar. sen~a da crian~

sentanres de todo 0 mundo estarao aqui, no Rio de Janeiro. E o momento para dizermos 0 quanto importante e a nossa fe, a nossa religiosidade, a nossa cultura, a nossa cidade e a nossa criatividade, de mostrar 0 belo para os visitantes e ticar a imagem negativa da nossa cidade. E gostaria de parabenizar todos os ttabalhadores e artistas da industria do carnaval pelo trabalho irduo com que realizam 0 desalio de colocar 0 carnaval na rua, depois de tantas situa~6es que nao abalaram e nao irao impedir 0 nosso carnaval de ser urn linda espetaculo. E pe~o muita uniao para que seja urn carnaval inesquecivel para todos. E gostaria de dizer para as pessoas que nao conhecem a import:incia da lavagem para as Escolas de Samba e a LIESA, presidida pelo Jorge Castanheira, que nao abram mao desse momento de energia boa que traz para todos que trabalham na produ~ao e na realizac;iio do carnaval, para que possamos passar todos esses dias com a prote~ao das energias que nos favorecem. Sera maravilhoso quando pudermos atender a todos os grupos de cren~s, quando sera urn cortejo infinito. Mas lica aqui 0 nosso agradecimento a todos que participam, que querem participar e que nos assisrem ncsse momento de muita uniao e de fe que e a Iavagem da Sapucatl

Revista Misterios de 6runmiJa - Quais as dificuldados encontradas em 2018 para a reaJizac;iio dos desliJes? celia Domingues - A maior di6culdade e dizer nao para os grupos que querem participar conosco porque temos muitas solicita¢cs, mas 0 grupo precisa ter urna representayao da religiosidade, da Ie e do ato para a Iavagem. E dificil 0 of9HD01to e para atender a todos e lica muito complicado. 0 rempo que temos e de no rrubrimode 1 hora, crooometrarla,mas com aajudade Deus, 0xaJa, dos oriris e de Jesus Cristo, estamos conseguindo realizar dentro do que podemos para mostrat urn Camaval com muita energia. RevistaMisrenosde6runmiJa - Deixeurnamensagem para oossos leitos, car:iocas e para quem ttabalha oocamavaL Celia Domingues - You format esse mo0: Que tenhamos mento de mensagem em todos muita re, ta toIer:incia e muita alegria porque a e de alegria. 0 mundo inteiro estlpi voItado para a oossa cidade e repre-

Coordena<;ao da lavagem na Sapucai: • celia Domingues • Elmo Jose Dos Santos • Claudio Vieira • 'Maestro Jorge Cardoso • Edson IYfarcos • Teteu • Milton Cunha • Presidente: Jorge Castanheira Colaboradora: Equipe Misterios de Orunmila

Fevereiro 2018 Misterios de Orunmila 25




JOSE DOS SANTOS

Ex-presidentedo Escola de Samba do Esta¢o Primeira de Mangueira e atual diretor de camaval do UESA Uga Independente des Escolas de Samba do Rio de Janeiro, ern conveoo com Misterios de Orunmil6 fala sobre a sua historia com Camaval.

Fui nascido e criado no Morro da Mangueira e meu rio Chico Pormo foi 0 primeiro ensaiador da l'vIangueira, naquela epoca nao tinha direror de harmonia, so ensaiador. Meu pai (Tinguinha) foi 0 fundador da batetia da Mangueira, que naquela epoca so tinha vinte e dois instrurnentos que ficavam guardados dentro da minha casa e meu pai tinha ci6me daqueles instrurnentos, pois que eram poucos e os tarnbores eram encourados com couro de gatos, que eram muiro caros e dificeis de encontrar as peyas. A primeira pe<;a de rarracha para a bateria nos foi dada pelo Prefeito Pedro Ernesro, que tinha ido inaugurar urna escola publica dentro do Morro da Mangueira. Nossa primeira sede dentro do morro tinha 30 e poucos metros quadrados, feita com zinco e por causa da ferrugem, quando chO\~a molhava rudo, e foi por isso que meu pai levou os instrurnentos para nossa casa, pois ill chovia menos do que na sede. (Risos) o meu pai tirava os instrurnentos da goteira e depois, quando chegavam as fantaSias da bateria, precisivamos ir para a casa da minha avo porque nao tinha espa~o para dormimos. Meu pai fundou a ala da bateria em 1959 e cada ritrnista usava saparo, tbUs e cal~a diferentes uns dos outros e ficivamos com vergonha da Batetia da Portela que era mais organizada e maior, entao ele resolveu fundar a Batetia da Mangueira e organizou o primeiro quadro social com a bateria, que veio antes que a propria Esta~ao Primeira de Mangueira. Os componentes da bateria viraram s6cios e em seguida se formou a Esta~o Primeira da Mangueira. Eu conheci muiros Mestres no morro, tais como Cartola e Carlos cacha~a, este que foi 0 primeiro Presidente de Honra da Mangueira, que eu 0 coloquei como presidente de honra da escola assim que cheguei it presidencia. Conheci Marcelino Jose Claudina, a primeiro Mestre-sala

28 Misterlos de Orunmila Fevereiro 2018

de todas as escolas de samba e fundador da Esta~o Primeira Mangueira, ainda tive a felicidade de conhecer mestre WaIdomiro que me ensinou a tocar todos os instrurnentos pois depois de muito tempo ainda crian~a lamas para as disputas e os instrumentos que eram feitos par nos de papeJao, furavam. Entao, eu ia ill em casa e pegava os instrurnentos da batetia, mas quando meu pai chegava e descobria, dava bolacha em todo mundo, sem querer saber quem tinha culpa e quem nao tinha. Meu rio Chico Pormo dava urn dinheiro para quem ganhava o concurso e a meu apelido era "raro de tamborim" e e1e dizia: "Rato, vamos perder para aqueles caras do Chale? Vamos ser mane?". Set chamado de "mane" era a maior ofens a no Morro e minha irma falava "Somas do buraco quente a zona sul do Morro".

Elmo crianra (tl esquerda) na bateria mirim Waldomiro Tome Pimenta criou a primeira "batetia mirim" e escolheu 50 garotos do morro todo, mas como a Mangueira s6 tinha dinheiro para bancar 30 crian~as, so ficariam os me1hores. Assim, nos tinhamos que tocar quatro instrumentos durante urn ano e urn voce precisava provar que amava aque1e instrumento. Eu queria tocar a caixa porque era fissurado par esse instrurnento, mas meu pai era 0 maior rarolista da Mangueira e ele nao deixou que eu tocasse a caixa. Urn dia eu estava limpando a caixa e e1e me perguntou por que eu estava limpando ela, enta~ eu respondi que era 0 meu instrurnento e e1e falou


galho". Eu nunca mais esqueci essas palavras. Estou na Liga hi 15 anos e isso e urna honra para quem nasceu e foi criado no morro, nurn lugar onde nao se tern muita chance, porque se morria no morro sem querer morrer e quando chovia ficava do lado de fora porque 0 barraco podia cairo Ali urn vizinho ajudava 0 outro e agrade~o muito ao meu pai, aminha mae e a Deus. Eu me sinto urn sobrevivente, urna formiguinha que carrega a bandeira do Samba. Hoje vejo mudan~s, pois anrigamente 0 samba era marginalizado. Cartola, Paulo da Portela, Fuleiro e ate ria Ciata, apanhavam da policia quando estavam com 0 pandeiro na mao. E porque eram do samba, nao se curvaram. carnaval de hoje urn espeticulo onde 0 rico paga para ver o pobre, mas no passado os ricos chegaram a ser a maioria nos desli.les porque podia pagar a fantasia, pot<im isto esti mudando porque as escolas esrao colocando os ricos nos camarotes e vesrindo os componentes das Comunidades. Algumas Escolas de Samba tern 90% de componentes da Comunidade porque eles ensaiam e participam com a escola. Neste ano, mesmo com corte de verba terernos urn grande espeticulo. Mesmo com dificuldades, nos veremos naAvenida o samba no pe levantando a poeiJ:a, na certeza de que irernos honrar a bandeira do Samba. Nao bastasse toda esta integra~ao das escolas de samba com as comunidades que representam, tambern fazem trabalhos sociais maravilhosos. As escolas de samba sao 0 quintal da Comunidade e os presidentes das escolas sao como miniprefeitos, porque as necessidades e dificuldades pelas quais passam as pessoas da Comunidade sao por eles amenizadas e muitas vezes solucionadas.

o

que eu ainda nao estava preparado e que ia toear 0 chocalho. Comecei a chorar. Fui para casa chorando e meu pai brigou comigo. Falou que eu tinha que me sentir honrado por ter sido escolhido para sair na Mangueira, que era igual a ser escalado para a sele~ao brasileira. E eu fui de chocalho para a Avenida desli.lar aos nove anos. Quando na Sapucaf anunciou a Esta~o Primeira da MangueiJ:a, 0 povo cantou acompanhando atcis da Mangueira "Ie Ie 0 Ie Ie, a Mangueira ja ganhou 6le Ie 6, a Mangueira deu Ole, Ie Ie 6 Ie Ie 6, a Mangueira e Pele " . Meu pai gritava, todo empolgado, enquanto lamos ate 0 morro cantando! (risos) Eu ja era musico pro fissional quando 0 mestre Waldomiro veio a falecer aos 80 anos e na quadra havia mais de 200 ritmistas que choravam sua perda. Em seu correjo foram mais de 250 homens da Mangueira ate no cemiterio do Caju, onde foi enterrado. Dentro do cemiterio, meu pai abriu 0 caixao e pegou 0 apito que ele carregava no peito e colocou no pesco<;o do Chibiro, pois ele tinha preparado 0 Chibito para sucede-lo e ali mesmo, no cemiterio, ele se tornou 0 primeiro Diretor de Bateria com 0 rufar dos instrumentos dos ritrnistas que compunham 0 correjo. Na Mangueira fui compositor,ganhei melhor Samba Enredo, fui passista, fui Diretor de Harmonia, fui secretirio de Bateria, fui rela~Oes publicas e fui presidente da Mangueira em 1995. Passei por todos os segmentos da Escola. Aprendi com Cartola, Shampoo, Dona Zica, Nelson Sargento e Dona Neuma. Com todos estes Mestres aprendi a amar 0 Pavilh1io da Escola e quando fui tomar posse como presidente da Escola, Nelson Sargento falou para mim: "Olha, li.lhote de Tlflguinha, a Mangueira e uma grande irvore frondosa que tern raizes, tronco, galhos e da frutos saborosos, e por rnais que os galhos cres~, o tronco sempre sera rnaior e voce nesta irvore apenas urn

e

-

e

Ik; 1999

Colaborador: Equipe Misterios de 6runmili

Fevereiro 2018 Misterios de Onmmila 29


Luiz Antonio Feliciano Neguinho da 8eija-Flor Marcondes e sambista, puxador de samba, interprete musical, cantor e compositor brasileiro. E, desde 1976 e 0 interprete oficial da 8eija-Flor. Revista Mistecios de 6runmila - Como foi 0 infcio da sua carreira? Neguinho da Beija-flor - E u venho de uma familia de musicos. Meu pai era musico, toeava pistom. j\ inten,,~o dele era que eu tambern Ine tornasse musico, que tocasse pistoll1) mas minha rn..1e bcigava com eJe e nao quecia que eu Fosse mUsico. i\s reuni6es eram feims Ja em casa, em Nova 19u..~~u. Eu achava aqueJe mundo fascinante, n1as como eu nao podia (ocar... ell gostava de can tar. Quando eu rinha uns dez anos, eu ganhei duas latas de goiabada num parque de diversoes canmnclo LUlla musica do JameJao. Aos doze, treze anas ell comecei a compor alguma coisa.. Com 16 anas fui para LUna escolinha, que hoje nao existe mais, a AcacJemicos de Miguel Couto, Ii do bairro, com 80 a 150 componentes. Aos 18 fui para 0 Leao de 19ua~u, com 23 fui para a Beija F10L E foi assim a minha hist6ria na n1uslca.

voce tem que deixar essa coisa de baile, gastar no baile, tem que cantar", e coisa e tal. Ate que conseguiram me levar para conh= o Cordio do Bola Preta, em 1972. Sobrou LUlla vaguinha Ii e me chamaram para cantar duas musicas. Foi assim que eu comecei no Bola Preta. Tres anos depois, eu fui para a Beija F1or, mas 0 come,o de tudo foi no Corclao do Bola Preta.

"f\Tilopolis, elJl 1976) set! prillleiro ano na cscola

Revista Mistecios de 6runmila - Entre todas as suas composi,6es, qual foi a que teve a maior repercussao, inclusive internacional' Neguinho da Beija-flor - Fai LUna mUsica que faIa de futebol, das torcidas do flltebol. Chamada 0 Campeao. " ... Domingo/ eu vou ao Maracana/ VOll torcer pro time que sou ta...". Esm mllsica foi tao sllrpreendente no sucesso da minha carreira! 1\ Unica Copa do Mundo que eu rive a oportunidade de assistir, fora a do Brasil, foi a daAlemanhade 2006, onde aconteceu lUlla coisa: Eu estava de lUll Iado e do outro lado estwa lUll grupo da torcida brasileira, e eu estava no meio de gringos. Daqui a pollCO, apOs 0 gol do KaJci, no jogo Brasil e Croao., surgiu uma batucada do outrO lado, e a torcida comeyou a cantar ",.. D omingo/ Eu vou ao Maracana...". Eu olhei ao redor e s6 rinha gringo. Pensei, se eu for faIar para eles que a musica que aqueJe grupo esci cantando e minha, ninguem vai acreditar. A musica chegou are na i\lemanha!

Revista Mistecios de 6runmila - Qual foi a sua contribui,,10 para 0 Bola Preta que esci completando 100 anos? Neguinhoda Beija-flor- Na epoca, eu cIan,ava no Devaneios, Copa 7, Ed Lincoln, Jonny lvIam, s6 nos grandes grupos que existi=. Eu gostava muito de danc;:ar nos bailes. Eu ji compunha, ja fazia a1glUnas coisinhas, ja cantava no Leao de Igt,a,u e os saudosos Dede, Catonho, Bira Guinu, Anesio, os compositores que cantavam no Bola Preta, nas rodas de samba, falaranl: "Vamos,

Revista Misterios de 6runmila -A sua voz e muito popular. Quando escutamos a sua voz, imediatamente sabemos que se tram da voz do eguinho da Beija F10t". Como e a sua vida profissional fora do perfodo do Carnaval? Neguinho da Beija-flor - Eu rive a felicidade de ter a mesma sone que 0 nosso grande mestre ]ameJao teve. 0 Jamelao veio das radios, dos shows, daquelas grava,6es maravilhosas de Lupicinio Rodrigtles para 0 Carnaval. Eu ja vim do Carnaval para as mlisicas medianas. Entao, nas andan,"s pelo mundo, eu

NegllitJho

11(1

Jes/a da vilOria da Beija-Flor de

30 Misterios de 6runmila Fevereiro 2 01 8


.. •••••••

/

/

///

. /

///////////////

vim perseverando para ser exatamente 0 que eu quem ser. Eu olhava a performance do J\1artinho da Vila, do Jameliio, de urn Haroldo Melodia, de urn Roberto Ribeiro, da Alcione, da Beth Carvalho, do Paulinho da Viola e pensava: ''Puxa vida! Sera que urn dia eu vou chegar a ser assim coOOecido, na musica, no mundo do samba como essas pessoas? Ah, eu vou lutar para que urn dia eu veOOa a ser assim como essas pessoas". Ate que urn elia surgiu a oporrunidade para a gente gravar 0 nosso primeirD Ll~ em 1979. Fui dando continuidade e hoje, no mundD da musica, eu atuo mais fora do. Brasil No dia 17 termina 0 Carnaval, no. dia 19 estarei embarcando para os Estados Unidos para wna turne de 40 elias, depois volto para 0 Brasil e fico por quinze elias. Depois, eu embarco para a Europa por 60 elias. E essa ea

NeguinhD da Beija-flor - Claro! Eu lembro 1i atris quando. eu comecei e necessitava de urn apoio. Apoiar e muito importante. Eu costumo dizer que amizade vale mais do que dinheiro. As vezes urn favor vale mais do que urna grana volurnosa. Por exemplo, hDuve urna ocasiao, 0 mm~mentD do funk, eu fui para Ii dar urna forl'a quaodo queriam proibir 0 funk. 0 Moxe Omo ill tem espiritualidade envoh~da e voce nota que hi urn certo preconceito por parte da comunidade evangi:lica, com gente incendiando as casas de Candomble e iSSD nao e legal. Eu apoiei para que iSSD nao venha a crescer. Daqui a pouco o Brasil esci ,~­ do. Oriente Meelio, onde s6 uma fe prevalece. Tern que apOlar mesmo para que aqill nao vire 0 Oriente J'Melio. Revista MisteriDS de 6runmiJa - 0 senhor e urn homem de fe. Como e a sua Fe? NeguinhD da Beija-flDr - Eu acredito em Deus. Frequento pouco a igreja, mas eu costumo dizer que quando se atinge a notoriedade, a pessoa percle 0 tempo e fica sem tempo de dar aten~ao it sua religiosidade (quem e de igreja, quem e de bater cabe~a). Eu SDU urna pessoa que nao tenhD muito tempo, mas acreelito.

vida que eu pedi a Deus. Revista MistenDs de 6mnmila - Entre tantDS premios que o senhor ganhDU, qual foi 0 que mills lhe emocionou? NeguinhD da Beija-flDr - Gra<;as a Deus foram muitos. A Beija F10r conquistou muitos premios que foram importantes para a nossa comunidade e iSSD acrescenta muito na minha trajet6ria. o primeirD premio da Beija Flor foi 0 mais importante. A Beija F10r era considerada urna escola pequena e as quatro grandes escolas que conquistavam titulos eram a Mangueira, a Portela, 0 Salgueiro e 0 Imperio Serrano. A Beija Flor foi a primeira escola considerada de pequeno porte a quebrar esse tabu com as grandes escolas, e justamente com 0 meu samba. Esse premio foi muito importante para a minha carreira, 0 titulo do. Carnaval de 1976. Esse titulo me proporcionou tudo. Revista MisteriDs de OrunmiJa - Onde sua voz esci, e sin6nimo de sucesso. Sabemos que a sua voz e muito procurada para o marketing de varias empresas, insritui~6es e coletivos culturais. o senhor fez wna chamada para 0 Moxe OmD lfaque teve urna grande repercussao nas redes sociais, inclusive abriu mao do seu cache para essa charnada. 0 senhor tern por hibito apoiar esses pequenDs grupos culturais e pessoas que escio come~do, cedendo a sua voz?

Revista Misrenos de Orunmil:i - A te\~sta Mistenos de Orunmila esci lanyando a campanha EU TENHO FE. Gostatiamos que voce completasse a Erase para dar inicio a nossa campanha. Neguinho da Beija-flor - Em Deus, nos Ori.xis, no. homem de boa vDntade como urn Betinho da vida e ao Anisio que faz o bern para sua comunidade Revista Misterios de Orunmila - CDmo urn icDne do. samba e da nDssa musica popular, 0 sr. poderia deixar urna mensagem aos nossos leitores?

Neguinho da Beija-flor - Que haja paz no. corayaD. Que haja muita fe naquilD que VDCe acredita e que nao discrimine aquele que naD acredita no que VDCe acreelita.

Colaborador: Equipe Misterios de Orunmili

Fevereiro 2018 Misterios de Orunmila 31

4

41


rigida, nunca perdia as redeas das situal'6es e rinha 0 respeito de todos. Mae CantU, sempre foi urna mulher de fibra, pulso forte, personalidade e compromissada com as quest6es espirituais. Minha Iyiloorisa sempre nos passou ensinarnentos, como a import:inc.ia do curnprimento da hierarquia, algumas palavras do vocabuIario Iomba e como proceder dentro do candomble. Sempre fomos muito educados, pois ela nos ensinava e exigia 0 exercfc.io do aprendizado. Agora com relal'aO a ensinamento religioso, ela sempre dizia que tinhamos que levan tar a cabel'a pra olharmos o que estava sendo feito, para que pudessemos aprender, e logico que essa oportunidade e1a nos dava na ocasiao certa, cada urn no seu tempo.

Revista Misterios de Orunmila - Como comel'ou sua vida religiosa? Regina Lucia - Minha vida religiosa comeyou, no momento em que minha Mae carnal retornou de Salvador, da Casa onde foi se inic.iar para 0 Orisa Osalufan. Ela me falou sobre sua situal'aO espiritual, a partir desse momento comecei a me interessar pela religiao e acompanha-la em todas as festas de candomble.

,

Revista Misterios de Orunmila - 0 que fez a senhora querer entrar para 0 candomble? Regina Lucia - Eu ver a dedical'ao da minha Mae com os Orisas, a fe em tudo que ela cultuava e 0 retorno espiritual que ela rinha com toda essa devo,ao, foi 0 que despertou meu interesse pela religiao. Eu tarnbem fiquei encantada como os canricos, OC>lTIO 0 som dos atabaques, com as danl'as e com a seriedade LV"'l.lHUC hoje em dia e dificil da gente encontrar. Re1nsl::iJ.\.fis,teriosde Orunmila - Fale das suas 1embranl'as rela,ao a sua Iyiloorisa: Regina Lucia - Mae CantU, como era carinhosarnente cruunad:l, sempre foi urna Mae muito boa, excelente! Ela era mulher exttemarnente limpa e organizada. Mae respeitosa,

,( )runmilla Fevereiro 2018

Revista Misterios de Orunmila - Quais sao as pessoas que marcararn a sua vida religiosa? Regina Lucia - Minha Mae Carnal, Eunice Rodrigues Fortes; Railda de Osoo, foi quem levou a mim e a minha familia no lie Ase 6p6 Afonja, para assisrirmos a nossa primeira Proc.issao de OsaIa aqui do Rio de Janeiro; minha Mae de Santo, Cantulina Garcia Pacheco - Air:i Tom', minha avo Agripina, eu adorava ficar com ela, its vezes quando saia da escola e fa passar a tarde em sua companhia; Nilson de Osaniyn e Joaquim Mota que me ajudaram muito assim que ingressei como 1yiloorisa; Pai Nino de OgUn, frequencivarnos muito a casa dele; Beata; OgUn Jobi; minha saudosa irma de santo Carmem de Osoosi; Palmira; meu irmao Bira de Sang6 que sempre esteve comigo e esci ate hoje; minha irma carnal Rose Mary que e a 1ya Tebese do Ase, quando Eu assumi a casa ela foi aprender a cantar so pra me ajudar e estar ao meu lado; meus irmaos de Ase que esmo ao meu lado e me ajudarn bastante; meus filhos que fazem pane da minha trajetoria religiosa e a minha familia que entrou para 0 candomble para me ajudar e me apoiar. Enfim, sao muitos os que riveram e tern marca forte na minha vida religiosa, se eu citar todos vai dar urn livro (osos), mas sei que esmo ffiuito bern representados pelos que citei aqui.

•


cionamento da casa e, no entanto ela sempre se mantem de pe e funcionando perfeitamente. Quanro as dificuldades, essas foram muitas, mas nada c1iferente, do que qualquer lider tern de enfrentar. 0 f.to e que enfrentei com dignid.de, sempre respaldada pelos meus Orisis que amo tanto e hoje estou vitorios. e aqui pro contar a historia. Revista Misterios de 6rurunill - Qual Festa (cerimonia) que a Sra mais gosta? Regina Lucia - Aaaah! As festas de Osala. Sao dezesseis elias de obriga~ao, rres domingos no total que comemoramos. primeiro domingo de Osalufan, 0 segundo domingo. procissao e no terceiro domingo 0 pilao de Osagian. As festas de Osali me rrazem Paz, alem de lindas me emocionam muito pela sua histori., pela belez. e porque me reporto .0 Osali d. minh. Mae carnal, lembro muito de quando ela estava viva, aqw conosco.

o Tombamento do Axe Opo Afonja do Rio de janeiro Revista Mistenos de 6rurunihi - Quais as pessoas que a Sra buscou se espelhar? Regina Lucia - Na minha Mae carnal, na minha Mae de Santo e no Pai Nino. Pessoas dignas, integras e de born carater. Revista Misterios de 6rurunila - Quais sao seus pianos para • lnsritui~ao Religiosa que a Sra comanda? Regina Lucia - Urn dos meus maiores sonbos ji esci realiz.do, que foi 0 Tombamento do Ase, daqui pra frente e so fazer obras para a melhoria da estrutura da casa, para melhor .colher a todos os filhos e visitas. Revista Mistenos de 6runmil:i - 0 que a Sra ve de positivo no candomble atualmente e, 0 que a Sra gosraria que melborasse? Regina Lucia - De Positivo vejo as respostas dos Orisas, que todo tempo me mostram que sao vivos e presentes em minha vida. Agora, pra melborar tem muira coisa. Eu gostaria que houvesse mais respeito, mais compreensao, mais identific.~ao uns com os ourros, que as pessoas preservassem mais a rradi~ao, que fossem mais comprometidas com a religiao, que tivessem mais fe, mais dedica~io no culto, que houvesse mais uniao, que todos lutassem para urn bem comurn que e 0 crescimento da nossa espiritualidade, do lugar onde cultuamos os nossos Orisas e que levassem com fe, esperan~a e mais seriedade 0 culto aos Orisas e aos flOSSOS ancestrais.

Revista Misterios de 6runrniill - Qual casa ou Ase que. Sra teve mais convivio / amigos? Regina Lucia - A c.s. de Pai Nino Nilson de Osanyin Reinaldo de Air:i, Beata, Jo.quim,Jobi e' Bir. de Sitng6. ' Revista Misterios de 6runmila - Deixamos esse espa~o para a senbora comentar 0 que river vonrade. A palavra esci com a senhora. . Regina Lucia - E u gostatia de deixar urna mensagem muito unportante para todos os filhos e adeptos de todas as na~6es do candomble, vamos tet mais uniao, vamos set menos vaidosos, vamos lutar para que nossa religiao nao seja extinta. Estio tentando nos engolir, nos banir, nos e!iminar, entio nao podemos deixar isso acontecer. A disputa e, a vaidade so nos empurra para 0 abismo. Nos do candomble tambem temos que eleger urn representante para lutar pelos nossos direitos, se formos todos unidos poruma mesma causa it gentevence. A uniio faz a for~. Vamos ter mais fe e mais comprometimento com 0 que e sagrado. OlorUn mo dupe e que Yemanji aben~oe a rodos com muita vida, saude, progresso, prosperidade, felicidade e bons caminhOs.

, Revista Misterios de 6rurunila - Hoje, a casa de Sitng6 e uma fortaleza, fale pouco das dificuldades que • Sra teve e como fez para superar essas supeci-las. Esse seu depoimento servici para os novos babalorixas como exemplo a nao esmorecer diante das suas dificuldades. Regina Lucia - A casa de Siing6 sempre foi urna fortaleza, ja aconteceram muitas coisas que poderi. abalar 0 born funFevereiro 2018

Miistl~ri({s~(le ~~~~


1) r

avid Santiago e urn dos promoters mais requisitados entre os famosos e ha 20 anos domina 0 universo dos eventos com eJegancia e dinamismo.

Com seu rurbante e sua bela voz grave inconfundivel que menciona 0 bordao "Coisa rica!", David que nasceu em Salvad~r, e urn comunicador irreverente com personalidade uruca. E conhecido por todos como 0 Axe, que em Yoruba significa, no sentido amplo da palavra, "fon;:a, a ideia de poder, de realiza<;:ao".

34 Misterios de Oummila Fevereiro 2018


...................................... ............... ................. . ~

Alem de promover alegrias por onde passa e ser 0 queridinho dos famosos, David Santiago tambem e o gueridinho de muitos an6nimos que precisam de solidatiedade. Todo ano, David realiza urn evento beneficente, 0 ''Arraia do Ax.e", onde arrecada fraldas para serem doadas aos pacientes do Hospital Mario KrofÂŁ Alem desse evento, ele tambem organiza doa<;6es de brinquedos para as crian<;as com cancer internadas no mesmo hospital David acredita que 0 importante e a essencia dessas a<;6es, pelas quais deseja despertar no outro a vontade de ajudar ao proximo, que muitas vezes precisa apenas de aten<;ao e urn pouco de carinho para amenizar seu sofrimento. nosso promoter, que atua em radio, revista e em outros meios de comunica<;ao, traz junto ao seu peito 0 OFA do ca<;ador e 0 raio de Oiya para fortalecer ainqa mais o seu nome: AXE!

o

.,.,

Facebook: D avid Santiago e David San tiago II Instagram: @davidsantia Contato David Santiago - (21) 998537759 Colab orador: N eno Ferreira

Fevereiro 2018 Misterios de OrunmUa 35

~,


AFOXE OMO IFA

EPURA ALEGRIA NA SAPUCAi

A ALA DAS IYALORIXAs E GUARDIAS DO AFOXE OMO IFA JUNTO COM 0 SEU PADRINHO COMENDADOR BANGBALA E OS DIRETORES THIAGO LUCAS, CARLOS PRACIAS ELEONORA ABREM CAMINHO NO DESFILE DA LAVAGEM DA SAPUCAi PARA 0 IRE (BOA SORTE) ENTRAR.

36 MJstUios de Onuunna Fevereiro 2018


ALA DAS IYALORIXAs E GUARDIAs FAZEM A FESTA NA SAPUCAi C.OM C.ELEBRIDADES!

Elico Bras, Asfreneticas, Dhulv/omis e Kenia

Nando Cllnha

Erico Bras

Carlinhos de Jeslls e Soca

Colaborador: Equipe Misterios de Orunmila Fotos: Guilherme Joran Fevereiro 2018 Misterios de OnlDmila 37


••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

HOMENAGEADOS

2018

PELO AFOXE OMOIFA EM RECONHECIMENTO A SUA CONTRIBUI~O,

MANUTEN~O E PRESERVA~O DACULTURAAFRO NO BRASIL. ~~----~

H om en ageados: padrinho do AJoxe Comendador Bangba/a, Mae Marcia de Obalwaiye, Kaiiyllane Coelho, Oga Alexandre de Bessen, Mestre Cotoqtfinho e a Vice- Presidente do Afoxe 6molja, Mae Pallia de Ode. A ALEGRIA DA ALA MIRIM (ONTAGIOU 0 DESFILE DO AFOXE OMO IFA (OM AS DIRETORAS LEO E TANINHA

I'

l(!1 ~",III')

\-"UIIN I \

A I . « lin li RE ITO de csColha.RESPElTE!

ALA DAS IYALORIXAs SAUDANDO A ENTRADA DO ESTANDARTE DA MAE BEATA NA ALA DOS ANCESTRAIS


PERFORMANCE DA PORTA ESTANDARTE NATHALYA COM 0 PROFESSOR WANDERCYR

ALA DAS IYALORlxAs E GUARDIAs VARRERAM E LAVARAM COM AGUA DE CHEIRO, PEDINDO SORTE OANO INTEIRO.

CHARANGA DO AFOXE OMO IFA

IYAPETEBI BIA E A

REPRESENTA~O DOS IBEJI COM OS GEMEOS AFRICANOS DANIEL E GABRIEL E COM A EKEDI DITINHA

Col aborad or: Equipe )Ylisterios de Orunmihi Fotos: Guilherme Joran

Participafiio Meslre ColoqllitliJo e Pai Ilallgbala


r

NOV~ TfMPO~~D~

Df CONTOS M~IC~NOS. tiIST6'R1+lS Df 000 If~ ~D~PT~D~S P~~~ C~I~NC~S. ! fnclereco: Rua clemente falcoo 54 - Tjuca. Rio de Janeiro Telefone: (21) 2570-2730 / (21) 98746-3701

Site: www.iitahcombr Email: institutoiretab@gmail.com

, 10 DE MARCO "

PEC;A A REVISTA MISTERIOS DE ORUNMILA

14AS19h~


'iI Ii .

,

. , A

A RETOMADA DA FE I - ,/

AS COMEMORAc;OES A MAE IYEMOn0A InUnDAM 0 RIO DE 0AnEIRO InTEIRO.

n

este ano,

clia 2 de fevereiro, clia de Iyemonja, se estendeu para 0 mes inteiro. Ainda nao terminaram as comemora~6es em homenagem i Rainha do Mar, Nossa Senhora dos Navegantes, a querida mae Iyemonja. A onda de fe que I yemonja produz, na forma de sereia ou de mulher, e inexpIicivel! A sua popularidade vai alem. Vai de encontro com a intolerancia e a ultrapassa, transbordando esperan~a de paz e amor a codos os seus filhos de fe! A Revista Misterios de Orunmila esteve nos presentes do Pier da Barra, em Marici e em Saquarema. 0

TE no PIER DA BARRA DA TI0UCA (poSTO I) o presente na Barra da Tijuca representa urn ato de resistencia devido ao monurnento de Iyemonja ter sido rantas vezes atacado pela intolecincia; e no clia 2 de fevereiro houve a consagra~ao, que come~ou no clia anterior, com a Cerim6nia das Aguas rea1izada pelo Centro de Tracli~6es Nativas do RJ Teve vigilia it noite e cafe da manha no TIe Om6 Eja, carreata, roda de conversas sobre 0 tema "Conservando 0 Lar da Rainha do Mar", Ire em louvor aRainha do Mar(Ketu,Jeje, Angola e Umbanda), presentes trazidos para serem entregues no mar, presen~as ilustres e muita alegria, dan~ e afoxe. T udo para agradar a Rainha dos Mares, Iyemonj:i!


/

/

16° BALAIO DE IYEMOn0A EM MARleA Todos os anos devido uma promessa feia it mae l yemonja pela qual foi agraciado, 0 babaJoti". Oiya G inde e 0 IIe Axe l atape realizam 0 Balaio de I yemanja em Marid e recebem muitas celebridades do Candomble e amigos com maestria digna da rainha do mar.


A

/

/

PAl ELIAS DE OIYA E 0 LE A>--(E EFOn REALIZAM 0 / PRE5EnTE PARA IYEMAn0A EM VACOnE SAQUAREMA /

Sempre no Ultimo s:ibado de janeiro, Pai Elias, realiza 0 presente de Iyemonj:i no Balneario de Jacon,; em Saquarema, aonde homenageia diversas personalidades que contribuem para a culrura afro.

Colaborador: Equipe Misterios de orunmil:i

44 Misterios de Orunmi1a Fevereiro 2018


MISTERIOS DE ORUNMILA PELO MUNDO

•••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• LUGARES POR ONDE VISITAMOS E QUEM ENCONTRAMOS

Pai Adailton com Carlinhos, Taninha e Adriana

Fontana Di Trevi



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.