Revista Sampa Carnaval e Turismo n° 20

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val e


Ed ito rial : Mais uma dama de ferro do carnaval paulistano, ilustre sambista, que com admirat;ao e respeito, convidamos para ser a capa da nossa edi<;ao digital de setembro. Angelina Basilio, fala dos desafios a partir do falecimento de seu pai e mentor Eduardo Basilio, das dificuldades em manter a sua escola depois de ter tido conflitos com a familia. Venceu! Garra e luta nunca Ihe faltaram. A Roseira esta ail Como dizia 0 eterno presidente: uSeras eterna como a tempo e refloresceras a cada carnaval ~

o carnavalesco Fabio Gouveia da Independente Tricolor nos mostra que para ser urn grande profissional

e preciso viver urn grande amor

com a arte do carnaval.

o primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira da Unidos do Peruche Kawe Lacorte e Nathalia Bete nos ensinam a nunca desistir de um sonho de infancia. A leoa Rosely Barbosa e a definic;ao de dedicac;:ao e afeto quando a assunto sao os casais com que trabalha. Nossos fotografos estreiam a quadro ~ Pelas Lentes~ no qual nos trazem lindas imagens de seus mais variados trabalhos. o mestre VitorVelioso da Estrela do Terceiro Milenio nos conta sua trajetoria recheada de ousadia e determinac;:ao. As maes baianas da Academicos do Tatuape trazem a axe e a combustivel que as capacitam a serem tao amorosas e dedicadas. As passistas plus size do Camisa Verde e Branco mostram empoderamenta e resistencia com muito encanto. Da pequena cidade de Getulina para a mundo! 0 camaleao do carnaval Maurfcio Pina traz a sua bela trajetoria como destaque.

Estamos Juntos! Saude e paz para todos. Viva a cultura popular! Viva

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carnaval!

Boa leitura. Eduardo de Paula Fundador Presidente


Expediente: CEO Diagrama~ao

Reportagens Editor de Fotos Fotos Editor de Carnaval Web Designer Midias Sociais Executiva Comercial Contato Produtora Executiva Rela~ao Publica Juridico Planejamento Administrativa Financeiro Marketing

Eduardo de Paula MTS; 13.898 - SP 29/12/82 Eduarda Leao Fabi Faria - Karoline Alves - Diney Isidoro - Ubiratan MirandaGislaine Araujo - Ednei Mariano Ismael Toledo Elson Santos - Marcelo Messina - Oayse Pacifico Ednei Ma riano Denis Sena Fabi Faria Rosell Silva (Preta J6ia) Armando C. Miola Debora de Fatima Tulia Yamamoto Flavia Azevedo Oro Luiz Carlos Ribeiro da Silva Thiago de Paula Natacha Dandara Jefferson de Paula Cassius de Paula Produ ~ao

, Cria~o e Publi ca~a o :

Itural

Instit Circula~ e Distribui~

GRATUITA ,

venda proibida

o objetivo edivulgar a cultura popular brasiIeira Capa: Angelina Basilio Foto: lsmael Toledo Texto: Fabi Faria Agradecimento a Sociedade Rosas de O uro www.sampacarnavaleturismo.com .br e-mail revistasampa@globo.com

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.. • Sumario Angelina Basilio

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a emocionado e valente Fabio Gouveia

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A paixao pela

dan~a

que move Kawe Lacorte e Nathalia Sete

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Uma Nleoa" em defesa de seus casais

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Pelas Lentes da Sampa

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"Ousadia vence e 0 medo denuncia"

e0 lema do Mestre Vitor Velloso

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Axe! As baianas vaD passar

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as encantos em Verde e Branco

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Mauricio Pina, 0

camaleao do carnaval

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Filha de sambista, sambista e! A fruta nao cai longe do po Filha de XANGO do trovao e !ANSA das tempestades Sao Gregorio lluminador, ilumina seu conga. Montanhas se movem, mediante a fe. Angelical da roseira, e a "Rosa de Ouro" primeira. Eduardo Paula foto: Ismael Toledo


Angelina Basilio Guerrei ra, resi Iiente e espi ritual i sta por Fabi Faria fotos por Ismael Toledo

Em urn bate papa descontraido. a presidente da 50ciedade Rosas de Ouro contou a reda~ao da revista SAMPA urn pOllea sabre sua trajetoria no carnaval. Em 2003. apos 0 falecim ento de seu pai Eduardo Basnio, ela recebeu a incumhencia de assumir a presidencia da escola. Missilo esta que de inicio teve diversas atribu l a~6es, devido ao interesse de seu tio em querer assumir a escola. Em 2004 teve que ser forte para colocar sell primiero carnaval como lider oa avenida, ainda enfrentando urna batalha intema e judicial com seus familiares. Mas Angelina venceu e com punhos fortes. arnor pela escola e muita fe. seguiu como comandante da agremia~ao azul e rosa.

Relembrando sua infancia, disse tef sofrido muito preconceito oa decada de 70, quando a escola foi fun dada, epoca em que 0 samba era marginalizado. "As pessoas desviavam ao m e ver na rua, eu disse para o meu pai que esse neg6cio de escola de samba nao daria certo e ele me disse: N6s vamos ser uma das melhores escol as de samba do Brasil': Filha (mica, sempre acompanhou os sonhos e as concretiza~oes do senhor Basilio referente a Rosas de Ouro. foi preparada para se tomar presidente no futuro, ocupando diversos cargos ao longo de sua vida na escola. Seu pai sempre foi urn homem bern energico com ela, e estes ensinamentos rigorosos ajudar• am para que a menma que co me~ou seus passos no camaval nas ruas do bairro da Brasihindia se tornasse a mulher forte que hoje preside uma agremia~ao com mais de 2.000 componentes.

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A religiosidade sempre esteve presente em sua vida, filha de Xango e iansa, gUiada por mentores espirituias e eoti¡ clades. entre des 0 Caboclo Pena Branca, e frequentadora da umbanda ha mais de 20 anos. Mas no ana de 2018 ap6s a escolha do eoredo "Viva Hayastan" seu lade espiritual se envolveu com 0 tema que a escola iria apresentar na avenida no ana seguinte. Desacreditada por muitos pela a escolha deste enredo, mas muito sensitiva como se define, Angelina nao desistiu em provar que a hist6ria do povo armenia iria calocar a Rosas de Ouro em urna boa coloca~ao no camaval. Apos a viagem com urna comitiva para a Armenia e os contatos com as c1ubes do pais na cidade de Sao Paulo. a presidente se apaix¡ onOll pela cultura e devo~ao desse povo que sofreu urn dos maiores genoddios ja ocorridos na hist6ria, mas que nunca perderam sua fe . .. Eu estava defendendo a causa armenia e a Rosas de Ouro, nao podia decepcionar ninguem': Ap6s essa experiencia acumulou mais fe em sua vida, alem de sua religiao, se tornou devota do santo cat6lico Sao Greg6rio Iluminador, e fielmente todos a s domingos fre~ quenta a missa na igreja dele.

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Cerca de 500 armenios desfilaram na escola em 2019, a pres~ idente disse que a Rosas de Ouro transferiu a samba para a cultura deles e os ensinaram a desfilar, muitos por se sim patizarem com a escola continuarao como componentes. Fidelizar seus parceiros e uma das aptidoes de Angelina Basilio, ela man tern fieis patrocinadores ha anos, como sua famasa frase diz: "Quem tern parceiro nao fica na estrada': Para 2020 a Sociedade Rosas de Ouro trara como enredo "Tempos Modernos~ contando a hist6ria das RevolUl;oes lndustriais, a primeira; vapor, a segunda; energia eietrica, a terceira; a era da informatizac;:ao e a quarta ; inteligencia artificial. Acredita que este enredo passaro urna rnensagem de como a tecnologia e muito importante para a vida das pessoas. Sem rnuitas mudanc;:as em seu quadro para 0 pr6x ~ imo carnaval, a presidente confiromou a volta de Luizin ~ ho Butinhao como prirneiro rnestre-sala junto com a atual porta ~ bandeira Isabel Casagrande, ambos "pratas da casa': Sobre 0 carnavalesco ela diz que a vit6ria esta no caminho de Andre Machado e que eie merece todo 0 reconhecimen to pelo seu trahalho.



emocionado e valente Fabio Gouveia e

Para ser um grande artista necessaria viver um grande amor com a arte ----

per Fabi Faria

fotas par Elson Santos

Ha muitos anos a figura do carnavalesco deixau de ser apenas 0 profissional que somente organizava a desfile em urna escola de samba . Com as mudan~as do carnaval contemporaneo. a fun~ao passou aiem de cultural e tecnica a ser social. Muitas comunidades gostam que 0 carnavalesco esteja presente no dia a dia de suas escolas, e muitos profission-

ais acham fundam ental essa

participa~ao

para um

born exita de seu trabalho na avenida. Fabio Gouveia e 0 atual carnavalesco da Independenle Tricolor, entre idas e vindas na agremiat;ao, ele esta confiante para a realizat;ao de urn bela espetaculo para 0 pr6ximo carnaval. Sua carreira na profissao comec;ou como ele define "no sus to~ aos 18 anos de idade quando era estudante de educa~ao artistica foi convidado pa r urn amigo para conhecer 0 barracao da Nene d e Vila Matilde. Desde entao foi se interessando por todo 0 processo de cria ~ao que envoi via 0 carnaval. Nunca imaginou ser carnavalesco, segundo ele as coisas foram acontecendo naturalmente. surgindo oportunidades. Entao come~o u a ter confian ~a no seu trabalho e decidiu deixar sua vida profissional como professor para se dedicar totalmente ao carnaval. Passou a desenhar para alguns carnavalescos, teve passagem como aderecista na Un idos de Vila Maria e Mocidade Alegre. No ana de 2006 foi convid ado para assinar seu primeiro carnaval na cidade de Maua, co me~a ndo assim sua carreira fazendo diversos carnavais na regiao d:O~A~B:C ;;;.._ _~_........

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No ana de 20 10 fi cou fora do carnaval apos urn perfodo de quase depressao e em 20 11 a convite do presidente Mantega fez parte do projeto "Xica da Silva~ integrando a comissao para 0 carna~ val de 20 12. No mesmo ana assinou seu primeiro carnaval na lndependente. continuando nos anos de 2013 e 2014 todos com vitorias consecutivas. Fabio relembra alguns carnavais marcantes em sua vida. "Em 2013 com a escola pronta para entrar na avenida. a primeira porta-bandeira nao chegava. comec;ou urn desespero da escola toda. Ao ligarmos. ela disse que estava em casa. pois se confun diu com honirio e achou que a escola desfilaria mais tarde. Nao sei como ela conseguiu chegar com a escola praticamente entrando e garantiu a nota. 0 meu emocional foi abalado, chorei. pois achei que meu carnaval estava perdido, com essa experiencia me tornei mais frio e equilibrado para realizar meu trabalho': Fabio diz que em 2014 com 0 crescimento da lndependente gan hando carnavais seguidos, os "cientistas do carnaval" como define. comecraram a dizer que ele nao era mais carnavalesco para o porte da escola. mesmo eJe dando resultados, considera que foi muito dificil. "Passei pela aven ida muito chateado e nao quis ficar na escola no ano seguinte. Isso me marcou! Pois eu tive muito trabalho e foi triste ver minha competencia ser julgada': No ana seguinte foi para a Imperador do Ipiranga. 0 carnaval mais marcante na agremiacrao em sua opiniao foi 0 de 2016. com o tema sobre "Don Quixote", pois a escola estava sem verba. Para ele foi urn desfil e emocionante de muita entrega e sofrimento para ser realizado, mas foi 0 maior carnaval da escola nos ultimos 10 anos e e ra uma das favoritas ao titulo. Em 201 7 voltou para a Independente, mas dessa vez integran do a comissao de carnaval, em 20 18 foi realizar urn trabalho em Santos, ;a em 20 19 voltou novamente para a Imperador do Ipiranga. Na concentrac;ao deste ano, recebeu 0 convite do presidente Batata para retornar como carnavalesco da lndependente Tricolor, assinando assim 0 carnaval 2020.

o processo criativo do artista nao para nunca. sua cabecra ja pensa em carnavais fu turos, eJe sempre comec;a suas ideias com 0 risco. para depois desenvolver a escrita, ele d iz que precisa visualizar para posteriormente escrever. Sua linha de enredo e mais voltada para 0 abstrato e 0 ludico, ja fez historicos, mas seus mel hores resultados sao com estas tematicas.

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Sobre 0 carnaval 2020. Fabio relembra que a lndependente vern de duas derrotas tecnicas. caiu por urn acidente e nao subiu por outro. A escola segundo ele esta preparada de forma tradicional e profissional para que isso nao volte a acontecer. Oiz que 0 componente estava muito chateado. e se tivesse optado por outro enredo teria certeza que nao acenderia a chama dentro deles.

''A independente e exigente, busca 0 melhor acabamento, a melhor fantasia. conhe~o meu povo! A escola motivada consegue sonhar junto com 0 carnavalesco, 0 projeto e construido em conjunto. A escola optou em fazer ensaios shows tematicos em junho e julho, todas as alas tinham uma func;:ao, isso ajudou motivar ainda mais nossa comunidade. que vohou a acreditar em urn campeonato." Sobre seu relacionamento com os componentes. diz ser ate chato, pois cobra muito e conhece todos pelo nome. Realiza trabalhos motivacionais, sabe que pode contar com a maioria . Gosta de ficar sempre proximo, pois acredita se eles tiverem abertura vao entender que fazem parte do projeto. Aiem de ensinar, comenta que aprende todos os dias com os profissionais que trabalham com ele. Emocionado e com lagrimas nos olhos, fala que necessita de material humano. uSe eu nao tiver gente eu nao sou ninguem no carnaval, tenho que saber se 0 meu componente esta feliz, se ele passou na avenida feliz. Estamos aqui em uma missao, acredito na luz e no amor ao ,. " proXlmo. Sobre a escolha do tema para 0 proximo ano, ele relata que tinham tres propostas de enredo, quando apresentou para a diretoria "Utopia, e preciso acreditar~ diz que nao terminou de (alar a paJavra utopia e 0 presidente disse: "0 enredo e este!': A Utopia para Fabio Gouveia e 0 lugar que voce imagina estar, ele nao existe. mas voce cria na sua mente. a partir do momento que acredita nisso. que e

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urn personagem e esta vivendo essa utopia, isso se torna real. A proposta para 2020 e criar na mente das pessoas lugares que jamais poderiam estar, levar para urn passado que nunca existiu. mas tambem jogar em urn futuro que ainda iran viver. Para 0 carnavalesco que se considera uma pessoa emocionada e valente, 0 carnaval tern que ter magia. Alem do samba ser empolgante, 0 componente tern que vestir sua fantasia e entender a proposta, e quem esta na arquibancada conseguir visualizar e perceber a hist6ria que sera contada na avenida, pois 0 jurado tern sua pasta para compreender a pro posta do eoredo. Ele afirma que em seu desfile as pessoas va~ ver na avenida coisas ousadas, com varias surpresas. pois aposta em urn carnaval de imagem e sentimento para disputar urn grupo de acesso bern acirrado. Quando perguntado sobre a eXistencia de preconceito por a Independente ser uma entidade oriunda de torcida organizada. 0 profissional diz "As pessoas precisam conhecer a nossa escoia, a gente sabe receber e acoiher, mas muitos ainda nos julgam por sermos de torcida. aqui existem pessoas tao apaixonadas como em outras agremiac;oes. Respeito muito as escolas tradicionais, mas o diferencial das escolas de torcida e que elas tern uma paixlio a mais, e tambem querem ser vitoriosas . Sempre rala preconceito. s6 nao podemos esquecer as nossas raizes. Quando eu assinei com a escola sabiam que eu era corinthiano, mas nossa ideologia e diferente. sabemos separar 0 futebol do carnaval".

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A paixao pela danc;a que move Kawe Lacorte e Nathal ia Bete Amigos de infancia realizam sonho de ser 0 primeiro casal da Peruche par Fabi Faria

fotos par Elson Santos

Muitos fa lam que a dan~a e a forma de expressao sentimental mais sincera que existe, 0 papel de urn casal de porta-bandeira e mestre-sala e proteger e apresentar 0 simbolo maior de urna agrem ia~ao, 0 seu pavilhao. Quando se nasce em urna familia de sambistas, 0 arnor pela arte do carnaval na maioria das vezes se lorna hereditario, assim aconteceu com Kawe de 23 anos e Nathalia de 2 1 anos. Os fam iliares de ambos sempre foram muito amigos, sempre envolvidos no mundo do samba fund aram juntos a escola Academicos de Vila Gerty, em Sao Caetano do SuI. Foi 1a que come~aram a dar sellS primeiros passos no universe carnavalesco, desfilando na ala das crian~as. Certo d ia Nathalia foi com seu pai na Unidos de Vila Maria, Jj ela se encantou com u rn bailar de uma porta-bandeira e d isse para ele: "Eu nao sei 0 que ela faz, mas quero ser igual a ela': Ele explicou o que aquela dan~a ri n a fazia e d isse que e1a teria que ter muita responsabilidade se quisesse urn d ia ser igual.

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A men ina de 7 anos queria muito danc;ar como a moc;a que ela viu, seu pai fez sua inscric;ao para 0 curso chamado "Molecada da Vila~ na mesma agremiac;ao, mas para isso ela precisava de urn parceiro, foi quando ele conversou com Kawe e sua familia que aceitaram que 0 menino de 8 anos a acompanhasse.

Nathalia disse que a primeira vez que colocall 0 pavilhao na cintura. se sentiu tao grande, tao poderosa, tao incrivel e percebeu que aquila era muito mais que urn hobby, era muito mais do que s6 danc;ar, era algo que fazia 0 seu corpo pulsar. J3. Kawe era passista de aura infantil, naD queria parar de sambar, mas na segunda aula como mestre-sala se apaixonou e sentiu que era aquila que queria fazer e comec;ou a sonhar com sua parceria com a amiguinha de infancia. Deram inicio no curso em 2006, logo ap6s assumiram como casal mirim no Academicos de Vila Gerty por 4 anos ate 0 fim do carnaval no ABC. Em 2009 receberam a convite para serem casal mirim da Peruche, permanecendo ate 2012, ja como terceiro casal. Ap6s mudan~as de diretoria, foram para a Terceiro Milenio como terceiro casal entre as anos de 2013 e 2014. Em 20 IS, Kawe por motivos particulares nao desfilou, e Nathalia foi desfilar na Perola Negra sem 0 seu fiel parceiro, mas no ana seguinte eles voltaram a dan~ar juntos na agremia~ao. Em 2017 voltaram como segundo casal novamente na Terceiro Milenio. Urn ano depois se tornam primeiro casal e conseguiram a tao sonhada nota 40. Ambos dizem que tern urn carinho muito especial por toda a hist6ria que tiveram na escola, sempre foram bern acolhidos par toda comunidade e diretoria. Mas em 2019 aceitaram voltar como terceiro casal para a escola que fez seus pequenos cora~oes na infancia bater mais forte, a Unidos do Peruche. Ap6s 0 triste e conturbado carnaval deste ana para a escola, depois do rebaixamento para 0 grupo de acesso 2, eles fi ca ram muito tristes pois nao esperavam este resultado. Em seguida do fatidico ocorrido, a agremia~ao passou par reformula~oes internas, ocorrendo uma elei~ao para a escolha de uma nova diretoria. Urn tempo depois da posse dos novos dirigentes, eles foram convidados para assumirem como primeiro casal. Jamais podiam imaginar que iriam receber 0 convite, pois irem de terceiro para a posi~ao maior, quebraria uma hierarquia do quadro de casais, mas esta decisao foi unanime pela comunidade.

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Tinhamos acabado de relornar para a escola diz Kawe "Poi uma sensa~ao de realiza<;ao, sonho de crian<;a de ambos, estarem juntos defendendo 0 pavilhao da Peruche': J3. para Nathalia agora eles tern urna responsabilidade dobrada "Quando a gente carrega urn pavil haa, carregamos a escola inteira, desde a pessoa que costura urna sapatilha, ate 0 motorista do 6nibus':

o encargo agora e mais pesado, ensaiam no minima 3 haras por semana, com 0 preparo da nova treina dora Daniela Renzo, possuem personal de academia, nutricionista e tada urna comissao h~cnica para estarem extremamente preparados para 0 dia do desfile. A porta-bandeira diz que a bateria e0 cora<;ao da escola, mas a identidade sao eles. que mostram que a Peruche chegou e precisam de todo 0 esfon;o possivel para desempenharem bern a funt;ao. A festa da posse do casal aconteceu no dia 21 de julho, foram dois meses de preparat;aO para 0 even to, 0 casal diz que muitos torceram por eles, foi uma realiza~ao de muitas pessoas que os a;udaram na trajetoria desde a inf:incia. Eles foram abrat;ados pela comunidade, e muitos ja sentiram as mudant;as e evolu~oes na dan~a quando se apresentaram para 0 publico. Kawe diz que vezes e dificil conciliar a vida pessoal com a do carnaval. mas 0 amor e incentivo da familia e amigos sao fundamentais para que eles nao desistam de seus sonhos e objetivos. Nathalia diz que a frase que define sua vida e "'sem esfort;o nao ha viloria". o jovem casal e muito grato a todos que sempre os ajudaram, mas Ednei Pedro Mariano em especial para eles foi fundamental com seus conselhos e dicas, fez com que crescessem como pessoas e como profissionais do carnaval. A expectativa para 2020 e de muita ansiedade para trazerem a nota maxima, para eles pisar na avenida com 0 pavilhao maior da escola de seus cora~6es vai ser incrivel. Finalizam dizendo que a Unidos do Peruche nao cabe na fase que ela esta, 0 momenta pede for~a e uniao e 0 enredo "Ubuntu - Por urn mundo novo" e muito forte. e vern recheado com urn samba incrivel. "A comunidade esta engajada para realizar urn excelente carnaval, todos estao engasgados para :at:h~a~h~ ¡a~._ _~_..._ tirar esse no da garganta" diz N

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Uma "Ieoa" em defesa de seus casals •

Oedica<;:ao e amor definem a coordenadora da Barroca Zona Sui e X9 Paulistana par Ednei Mariano fatos par Fabi Faria, Leandro Nascimento, Rosely Barbosa

, Urn casal de mestre-sala e porta-bandeira sao uma das figuras principais de urna escola de samba. Por tds dos casais estao as apresentadoras e coordenadoras que tern como papel proteger, orientar nos ensaios, dar uns "puxoes de orelha" quando necessaria, mas sempre com 0 objetivo de urn desempenho excelente nas quadras e no grande dia do desfile oficial. Rosely Barbosa, trabalha na area da beleza, moradora da zona suI de Sao Paulo, mae de tres filhos; Rodrigo 33 anos, Diego 29 anos e Inara Gabriela 20 anos. Hoi mais de urna decada vern dedicando sua vida aos casais. em urna caminhada buscando conhecimento que 0 acaso a levou. Sua primeira participa<;ao em escola de samba foi aos 9 anos de idade, no Camisa Verde e Branco, pois morava na Barra Funda, 0 bairro desta grande campea de varios carnavais. Ja aos 12 anos come<;ou a des filar na ala das crian<;as, quando conheceu 0 baluarte Inocencio Tobias, que autorizou ela des filar, passando por varios setores e se tornando chefe de ala, ficando na verde e branco por 16 anos. Os anos se passaram, ela se tornou apoio de casais na Barroca Zona SuI, onde sua fi lha Inara se tornou porta-bandeira mirim aos 9 anos de idade. Com essa experiencia Rosely aprendeu todos os procedimentos com 0 tratamento de casais, tendo como mentoras Nena Cazita, uma grande conhecedora na area e Maria Gilsa, uma personalidade na arte da dan<;a. Ha 22 anos exerceu a fun<;ao de sec retaria na Liga das Escolas de Samba, onde permaneceu por urn curto periodo, mas este trabalho a fez conhecer muita gente no mundo do samba.

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Picou por 7 anos aprendendo e crescendo na func;ao, ate receber 0 convite do presidente Borjao para ser coordenadora de casais da verde rosa da Vila Mariana, onde esta na func;ao ate hoje. Atraves de seu conhecimento foi convidada para montar 0 quadro e coordenar os casais na Independente Tricolor. Ela considera uma grande experiencia ter trabalhado em uma escola oriunda de torcida , onde recebeu todo apoio e obteve muito sucesso e respeito pela diretoria, permanecendo na entidade por dois carnavais, s6 deixando a mesma quando a Barroca chegou ao grupo de acesso. Em 20 18 foi convidada para coordenar 0 quadro de casais da X 9 Paulistana, segundo ela, foi um momento muito born, no qual pode colocar em pnltica toda a sua bagagem de anos de atividades, conseguindo grande sucesso na func;ao. e permanecera na entidade tambem para 0 Carnaval 2020. E considerada uma "maezona" de seus casais, pois cuida desde a roupa para apresentac;ao em quadra ate os detalhes das fantasias, compra de materiais, faz contatos e acompanha 0 desenvolvimento nos atelies. Em quadra cuida para que nada falte para 0 bom andamento das duplas nos ensaios, se precisar como ja fez varias vezes,leva lanche e marmita para seus casais, esta sempre presente nas provas de roupas, sua preocupac;ao e satisfac;ao ever o resultado satisfat6rio de muitos meses de trabalho. Rosely tambem e diretora da Associalfao dos Apresentadores de Casais do Estado de Sao Paulo, comandada por Dona Cida Cecini, esta neste cargo ha 7 anos, a AACESESP, alem de prestar servilfo na concentralfao e dispersao dos desfiles no Anhembi, ainda promove cursos de aperfeilfoamento para apresentadores e apoios de casais e estandartes, duas vezes por ano. Ela se coloca como a amiga, a mae, pois considera todos os seus "protegidos" como parte de sua familia, faz tudo para 0 crescimento deles, e os resultados de tanto esforlfo e dedicalfao estao nas planilhas de notas dos casais das entidades que ela trabalha.

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Pe a lente ae Dayse P!cfico


usadia vence e 0 medo denuncia" e 0 lema do Mestre Vitor Velloso o

comandante da bateria Pegada da Coruja conta sua trajetoria par Fabi Faria

fotes par Elson Santos

A bateria de urna escola de samba e considerada 0 cora~ao da escola. para liderar este "6rgao" extraordinario e necessaria muita responsabilidade e pulso firme. Vitor Velloso nasceu com 0 dam para ser ritmista, nunea nin guem Ihe ensineu a toear foi autodidata e este talento, cedo ou tarde 0 levaria para 0 maior patamar dentro urna bateria . Nascido em urna famil ia tipica de sambistas, com 0 pai tendo a Mocidade alegre como escola do corac;ao e sua mae e irmaos sendo Vai-Vai. Desde 0 ana de 1987 comec;ou as acompanhar em viagens anuais para 0 carnaval do Rio de Janeiro, chegando ate desfilar na ala das crianc;as da verde e rosa chamada "mangueira do amanha.': Mas somente quando se tornou adolescente decidiu que queria desfilar no carnaval de Sao Paulo, foi levado por urn amigo para a X9 Paulistana, faltando urn mes para 0 desfile fez urn teste para tocar caixa e foi aprovado. Nesse ana a escola foi campeao e logo apbs ele recebeu 0 convite para se tornar diretor de bateria, permaneceu no cargo de 2002 ate 2006. Urn ano apbs acompanhou 0 mestre Tornado para a Sociedade Rosas de Ouro. Onde ele considera que se tornou "homem no samba': pois teve que desenvolver maturi dade para encarar a resistencia dos ritmistas com a nova diretoria que assumia, ficou na agremiat;ao ate 0 ana de 20 13.

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Vitor foi ser diretor na Tucuruvi em 2014 no grupo especial e no acesso na Imperador do lpiranga, onde tiveram apenas dois meses para ajeitar a bateria pois assumiram 0 cargo bern proximo ao carnaval. Fiel diretor, acompanhou mais uma vez 0 mestre Tornado para outra entidade, desta vez para a Dragoes da Real, ficando hi de 2015 a 2017. No ultimo ana como diretor, teve a surpresa de receber uma proposta que mudaria sua vida, ser mestre de bateria da Imperador do lpiranga, fazendo mais uma vez uma jornada dupla entre os grupos especial e de acesso, so que com muito mais responsabilidade. Nos carnavais de 20 18 e 2019 continuou somente na Imperador, apos o terminG do carnaval deste ano foi contratado para assumir a bateria Pegada da Coruja na escola Estrela do Terceiro Milenio. Vitor considera que 0 carnaval de 2019 foi muito compli cado, pois teve diversos problemas pessoais, e pensou na hipotese de parar por urn ana ou ate desistir da profissao que tanto ama. Para ele dois momentos que marcaram sua trajetoria foi seu primeiro ana como mestre pais toda a sua familia estava atds da bateria comemorando sua conquista e a outra ocasiao foi quando ganhou seu primeiro premia. "Me marcou muito 0 carnaval de 2018, me emocionei, passou urn filme na minha cabe~a de tudo que ja tinha vivido desde 0 inicio como ritmista. Quando voce entra no meio, busca crescimento profissional': Vitor se considera uma pessoa tranquila, mas com pitadas de agita~ao e ansiedade, diz que respira carnaval o ana inteiro, estudando, assist indo os mais variados desfiles de epocas diferentes. No dia a dia como mestre exige disciplina, mas gosta de deixar seus ritmistas bern avontade, pois as consideram como parte de sua familia

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Paralelo ao carnaval, come~ou a toear com 8 anos de idade, ficou por muitos anos no grupo Sem Ka6, mas o carnaval te puxou e exigiu mais trabalho e dedica~ao. Faz alguns trabalhos freelances como musico de banda, faz participac;6es no Programa do Bial quando 0 lema e voltado para 0 samba. A frase que define sua vida e "ousadia vence e 0 medo den uncia", diz "'Esta frase foi urn apoio de bateria da Dragoes da Real que em 2017 assistiu 0 ensaio tecnico da lmperador e me disse que a ousadia vence e 0 medo den uncia, que era para eu sempre continuar ousado e nunea demonstrar medo". Ele acha que 0 carnaval tern quer ser ousado, e comec;ou a levar isso consigo, acredita que ler urn born filma, faz er bossas diferentes, naD ficar na mesmice e essenciai, que apresentar alga diferente faz com que se erie uma identidade. Para ele a nova gera~ao de mestres gostam de inovar, e que as baterias estao muito diferentes do que ha 20 anos quando come~ou a tocar. Como inspira~ao se espelha em dais mestres, Zoinho da Imperio de Casa Verde e Moleza da Unidos de Vila Maria, ele gosta da postura e forma de trabalho de ambos e acha que sao as melhores baterias de Sao Paulo. Sabre sua ida para a Estrela do Terceiro Milenio ele diz que foi muito calorosa, a comunidade foi bern receptiva. Em sua primeira apresenta~ao na festa das campeas da Mancha Verde, ele tinha acabado de assumir a bateria e muitos consideraram que ja havia mudado a ritmo para melhor e estava com a sua identidade. A primeira festa da Pegada da Coruja foi urn sucesso a bateria ja seguia a linha para frente que ele gosta e as ritmistas ja estavam muito m ais envolvidos com sua proposta. Para a proximo carnaval Vitor diz que vai se empenhar muito para levar urn born trabalho para a Anhembi. "Eu estava precisando desse projeto novo, dessa mudan~a em minha vida, e urn novo desafio!" Considera que a clima esta muito born e estar no acesso novamente e animador, e a escola esta com muita vontade de veneer.

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Axe!As baianas

VaG

passar

Integrantes da Academicos do Tatuape contam como e ser as "maes do samba" por Fabi Faria

fota s pa r El son Santos

Quem ja roi em urna escoJa de samba com certeza ja roi recebido pela aquele "axe" revigorante da querida ala das baianas. Esta ala aiem se ser tradicional emuita importante dentro das agremiac:;:oes, pais caso urna escola nao apresente baianas ou entre com menos componentes que e permitido pela regulamento, se nt penalizada. A ala das baianas e composta por diversos perfis de mulheres, a origem como 0 nome ja diz vern da Bahia, antigamente existiam as "taieiras': que eram mulatas que se vestiam de baianas para formar urna guarda de honra do andor de Nossa Senhora do Rosario e na procissiio de Sao Benedito. Vma curiosidade que talvez muitos nao saibam, e que no inicio do surgimento das escolas de samba, a tradicional ala das baianas era form ada apenas por homens. Algumas baianas da escola Academicos do Tatuape nos contaram como e fazer parte dessa ala que encanta a todos por onde passa. Maura Filomena. 65 anos, ja perdeu as contas de quantos anos desfila na escoia, relembra que ja foi passista e passou por outros departamentos ate chegar a ser baiana. Ha 18 anos desfila na ala, diz que as baianas sao as "maes" de todo sambista e assim como a bateria sao o corpo da escola e muitas vezes 0 alvo das aten~oes no desfile, e diz "Somos como irmas, sempre nos tratamos bern, nos amamos e a humildade e fundam ental para fazer parte desta famili a': Meire Pereira, 56 anos. desfila ha 15 na agremia~ao e diz que foi parar na escola por inOuencia de uma vizinha que fazia parte da ala e confeccionava fantasias em sua casa. "'Eu fiqu ei encantada com todas aquelas fantasias e pedi para aj udar, logo depois ja estava desfilando': Relembra que era uma epoca muito diffcil e de muito sofrimento para conseguirem desfilar, vaziam diversos mutiroes e "vaquinhas" para a compra de cola e bamboles. passavam madrugadas a fora colando fantasias perto do carnaval.

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Ela diz que foram tempos em que nao tinham perspectiva de crescerem , pois a escola subia urn degrau e caia dois, mas fe, amor e uniao foram ingredientes fundamentais para que a agremia~ao crescesse e chegasse no lugar que estao atualmente. Relata que tudo mudou com a nova gestao, pois aprenderam a recidar e ter mais organiza~ao. Oiz que antigamente teve urn ann que desfilaram e a fantasia se desmanchou por causa da chuva, mas que hoje tudo e diferente e promissor. Para ela muitas pessoas de fora acham que escola de samba e uma bagun~a, uma coisa feia, mas ninguem sabe a uniao que existe, pois sao mais que uma famnia. "Entrar para a Tatuape mudou tudo na minha vida, eu era muito timida, fiquei mais solidaria e humana. Amor e familia definem minha historia aqui! As baianas sao muito respeitadas, elas nao fazem ponto para escola, mas falta ponto caso nao estejam na avenida': Rita de cassia, 61 anos, tambem desfila ha 15 como baiana e foi por incentivo de seu neto que ela foi para a ala, diz que quando pisou na quadra pela primeira vez foi amor a primeira vista. Recorda que no inicio 0 material da fantasia parecia papel de bala, mas mesmo assim se sentia como uma rainha. "Nao acreditavamos que essa escola poderia ser cam pea, pois desfilavamos com sapatilhas furadas e bamboles tort os. Agora a gente fica feliz por termos evoluido': Oiz que sua vida ficou mais alegre depois que come~ou a participar ativamente na entidade, seus problemas de saude melhoraram, e que mesmo com as dificuldades de carregar fantasias pesadas na avenida, 0 afeto pela escola faz com que ganhe for~as. Relata que para ser baiana nao tern idade, pois a mais nova tern 16 anos e trocam muitas experiencias "Todas trazemos nossas hist6rias de vida para ca.". Sua essencia se transformou para melhor e muitas vezes deixa compromissos familiares para estar presente na agremia~ao e com lagrimas escorrendo pelo rosto fala: "Eu amo esse lugar, nao tern outra palavra para definir. Oisse que quando entra no Anhembi e toca a sirene anunciando a Tatuape, parece que e urn parto e 0 bebe esta prestes a nascer. "E como se fosse uma gesta~ao, primeiro a gente quer saber 0 nome da crian~a (a escolha do enredo), depois tern todo 0 processo de meses ate o grande dia do nascimento. e algo inexplicavel".

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Os encantos em Verde e Branco Ala Plus Size do Camisa Verde e Branco defende empoderamento atraves do samba

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por Diney Isidoro

fotos par Ismael Toledo

Esplendorosas! A melhor palavra para definir a beleza e singuJaridade que cada urna possui. Sensuais, ousadas, mulheres de fibra! Vencem todos as dias 0 preconceito e as barreiras impostas pela sociedade atraves de seu charme. sao sabias pela habilidade de "viver sem ter a vergonha de se r feliz': E tada essa graci osidade. precisava de urn espa~o para se expressar e nada melhor do que urna escola de samba. Logo 0 samba que pode ser considerado 0 fio condutar para expor as diferen\3s da sociedade, desta vez se uniu a urna causa de tamanha nabreza, EMPQDERAR atraves do gingado e de urn surdo de marca~ao. E assim, Ana Marques. responsive! pela ala plus size do Camisa Verde e Branco, entendeu a mensagem e vern conduzindo com maestria. "0 Projeto teve inicio, no momento em que a Debora Tobias convidou Aldria Adiola para juntas criarem uma ala representando as mulheres plus size, eu na epoca era a coordenadora da ala e com a saida da AJdria eu acabei assumindo e com muita responsabilidade estou a (rente" diz Ana.

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A importancia da ala dentro da escola significativa, as pessoas que muitas vezes nao tinham coragem de sair de seu "casulo social" decidiram apoiar e encarar a sociedade, assim como as borboletas, elas colorem, divertern e embelezam 0 ambiente da escola de samba. "ÂŁstamos provando a todos que nao precisa ser magra, para ser urna passista. Acredito que estamos quebrando esta mistica e abrindo caminhos para mais mulheres': Mesmo com a atual acessibilidade. 0 preconceito muitas vezes se mostra latente seja por opinioes e olhares da sociedade. Isto nao exdusividade dentro do mundo do samba e algo intrinseco dentro das diversas esferas sociais e 0 samba muitas vezes reflete este paradigma sociaL

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"Eu teoho muita esperan~a que as coisas mudem, mas hoje ain ~ da vejo muito preconceito, por nossas roupas, pelo modo que sambamos. Porem, eu acredito que a ascensao do mercado plus size nos ajuda a mostrar cada vez mais que n6s devemos nos unif para mudarmos 0 cemirio, ainda existe muita desuniao e 50 mente urna apoiando a outra que vamos mudar istd' afirma Ana. Ana, entende 0 peso da responsabilidade de estar a frente de tan las mulheres e de se r urna representante de urna c1asse que muilas vezes e oprimida socialmente.

Ela se alimenta das boas historias e das portas que muitas vezes se abrem a elas para se equilibrar e assim poder dar fon;as para as demais integrantes de escreverem uma pagina em suas proprias historias.

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Ela sabe que seu papel e ser condutora deste barco que navega em urn mar repleto de diferenlYa, assim ela alimenta, no peito de cada uma, a esperanlYa de aportar em urn novo horizonte. "A nossa expectativa e quebrar paradigmas, que a sociedade nos aceite com nossas medidas, somas tao consumidoras como qualquer outra pessoa e queremos ser tratadas como iguais e estou feliz par cada dia conquistarmos nossos objetivos". Com carinho, Ana e as meninas usam 0 terreiro da escola de samba para celebrar a vida e espantar todas as energias negativas que as tentam oprimir em seu dia a dia. Elas entendem a importancia de ser a vitrine para outras mul¡ heres e atraves de cada mensagem de carinho, cada abralYo e cada novo ensaio elas se revigoram e ja. pensam em urn futuro melhor. "Queremos convidar todas as mulheres plus size a vir para as quadras das escolas de samba, a vir para 0 Camisa Verde e Branco nos conhecer, sambar conosco e estamos de bralYos abertos esperando voces~ sorri Ana. Com urn sorriso confiante, ajeitando seu traje e confraternizan ~ do entre amigos, familiares, fas e admiradores de seus trabalhos elas sam bam e muHo. Provam na ponta do pi! que merecem este destaque e 0 bom publico as cativa a continuar a cada novo en ~ saio. Ana encerra nosso bate papo deixando uma mensagem a todas as mullieres plus size: "Nao se prendam a valores, nao que~ iram agradar a sociedade. se aceitem, se amem. voces sao lindas. sejam voces, sejam felizes~

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f. pela alegria. sorrisos e encanto a Barra Funda esta novamente

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Mauricio Pina, o camaleao do carnaval dos destaques mais esperados pelo publico nos desfiles das escolas de samba de Sao Paulo par Karoline Alves

fotes par Elson Santos Na sala de sua casa, a primeira das tres fantasias a serem feitas aguarda por detalhes e ajustes, com a toque carinhoso das maos de urn artista. Mauricio Pina sera destaque do carro abre-alas da Mocidade AJegre em 2020. Como urna alusao a jornada de vida de muitos extraordinarios, ele gosta de comec;:ar a montar 0 figurino por baixo. Depois sobe, degrau a degrau, detalhe a detalhe. lapidando urn diamante brute. ÂŁ. agosto e 0 trabalho jii esta praticamente concluido. Ainda faltam duas fantasias: urna para a primeira alegoria da Tom Maior e outra para 0 quarto carro da Academicos do Salgueira, (mica escola do Rio de Janeiro que faz parte do cronograrna de Mauricio. Ele gosta de se aprontar com antecedencia, assim pode curtir os ensaios de carnaval despreocupado. Quem senta ao meu lado e urn homem que usa cores s6brias, de fala ritmada e tranquila, gestos e sorrisos, com olhos atentos e brilhantes que dizem mais do que as palavras. Mauricio sabe desnudar e avaliar, mas tambem sabe 0 que dizer e 0 que guardar para si. Conhece 0 talento das maos e a sensibilidade que tern sua essencia, mas nao se engrandece. Ao contrario, ele gosta mesmo e de lembrar Getulina. A cidadezinha do interior de Sao Paulo que viu nascer urn apaixonado por carnaval e por arte. Aos cinco anos, Mauricio e os irmaos foram levados pela mae a uma matine. Era 0 primeiro baile dele. "Eu fiquei louco com os con fetes e os recolhi do salao e trouxe dentro de urn saco para casa. lmagina 0 que eu fiz! Espalhei pelo quintal inteiro, na horta, virou urn carnaval! Eu fiquei tao encantado com aquilo! ~ recorda. A primeira fantasia - urn indio - foi feita com penas de galinha tingidas de anil. De Ja pra ca, Mauricio participou de blocos, inclusive liderou alguns, desfilou no chao pela Unidos do Peruche, ate descobrir que gostava de ser destaque de alegoria.

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Com 0 cuidado que s6 quem batalhou poderia ter, ele conserva penas que custam urn carro popular. Nao trabalha s6 com 0 luxo, gosta de testar materiais diferentes, de descobrir a beleza nas coisas que parecem nao servirem para mais do que foram feitas pca ser. Quando chegou a capital. aos 17 anos, ainda nao tinha se encontrado profissionalmente. Por sugestao do irmao, resolveu fazer urn curso de cabeleireiro. Sua habilidade foi notada e logo veio a indica~ao para trabalhar no Jacques Janine, de onde nunca saiu. Hoje, Mauricio e diretor artistico da rede. "Eu sou urn artista do cabela, fac;:o shows de cabela, tenho urna vida profissional bastante ativa ligada a arte': Feila para criar. Nem mesma as clientes passam despercebidas pela sensibilidade de sua alma. "Com essa coisa de ser artista, ate 0 atendimento se torna diferenciado", ele explica. Tudo se encaixa no universo Pina, arte e terapia e trabalho, e essencia e teatralidade, e 0 ludico e a consciencia. Dois lugares que parecem distantes urn do outro se interligam: "Eu dou uma pitada de carnaval no meu mundo de cabelo e trago pro mundo do cabelo, onde tenho a moda, 0 mundo do carnaval. Eles se completam': Fantasia tern que caber em casa e principalmente no bolso. Mauricio Pina gasta fortunas para desfilar todos os anos, e isso nao e sobre dinheiro: "Eu gasto fortunas de tempo, gasto dedica~ao. Fico muito tempo preso dentro da minha casa fazendo a minha arte, deixo de sair e de fazer varias coisas. Minha arte nao tern valor! Tern pessoas que colocam muito valor e eu nao, eu coloco a arte em primeiro lugar': Ele ja perdeu as contas de quantos personagens trouxe para a avenida nestes mais de 30 anos s6 no carnaval de Sao Paulo, mas guarda recorda~oes com muito amor por cada urn. Os figur inos nascem pelas maos do artista e nao morrem, se transformam para novos carnavais. Quando a proposta e leve, alegre, Mauricio se joga no processo de confec~ao. Representa~oes mais serias, duras, 0 deixam reticente: "Eu tenho resistencia a certas situa~oes . Personagens muito do mal ou coisas assim, eu nao gosto de fazer, nao. Prefiro coisas mais brandas, porque eu incorporo rnuito tudo aquilo, e tern horas que voce vira aquilo de que esta vestido':

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desafio a cada ano e se superar. Mauricio deixa a cornpetil;ao de lado e busca apenas ser sua rnelhor versao. D escob riu ~se talentoso e nao tern rnedo de assurnir sua grandeza. Ele nao quer se engrandecer, p reoc up a~se em doar de si, e de uma gentileza que pude comprovar pessoalmente. Dizern que emana uma luz muito propria, 0 que ele repete quase que tentando se convence r disso. Para alguns, existe urn lim ite rigido entre a arte contemponinea de exposir;:oes e a arte popular que vern dos suburbios. Mauricio passeia pelos dois universos com maestria. 0 segredo e saber vestir¡se para caber no erudito e no popular. E ele se veste de elegancia, eonta que herdou isso da mae e da avo, urn saber d ecora r~se. Na Folia de Reis, foi apelidado "earnaleao': Quem notou as mil facetas do artista foi uma cliente, do uni ~ ve rso do cabelo. Mesrno com tantas versoes de si mesmo ao longo dos anos, para ele, urna uni¡ ca coisa mudou de Getulina para ca: 0 tamanho de sua arte. "Onde eu quero chegar? Nao tern onde eu quero chegar. Eu yOU vivendo e vou trabalhando dessa forma , levo a vida assim, de acordo com 0 que ela me oferece. Eu falo que estou sernpre de brar;:os abertos para receber 0 que a vida me da de born", reflete. 0 camaleao do carnaval brinca de ser outros em fevereiro, mas e mesmo fiel a sua essencia: "Fantasias sao sonhos que voce transforma em realidade. Eu continuo realizando esses sonhos e continuo sendo a mesrna pessoa".

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CARNAVAL E TURISMO

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