Expediente
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Eduardo de Paula • MTB 13898 - SP
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Editores:
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Conselho Administrativo:
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Infelizmente não teremos este ano as deliciosas Festas Juninas, mas podemos matar a saudade com uma reportagem que contará como surgiram as tão divertidas quadrilhas.
Diagramação:
Eduarda Leão
Capa:
Adriana Gomes
Futebol e escolas de samba, uma mistura histórica para quem desconhece o início de muitas agremiações paulistanas.
Foto:
Elson Santos
Texto:
Jéssica Souza
A edição de junho está repleta de reportagens maravilhosas, para que nossos leitores possam conhecer melhor a história de personagens do carnaval e também sobre aspectos de nossa cultura brasileira. Nossa capa é estrelada pela porta-bandeira da Mancha Verde Adriana Gomes, sambista bamba de berço que herdou o lindo bailar de sua mãe. Maria Helena Tom, uma das fundadoras da velha guarda da Tom Maior, tem uma vida dedicada em prol ao nosso samba e nossa cultura. O destaque de abre alas João Pasqua da Rosas de Ouro, completará 40 anos de avenida, ele nos conta sua trajetória e muitas curiosidades que envolvem seu posto no carnaval. A presidente Rejane Romano da escola de samba Filhos de Zaire, é uma mulher que esbanja empoderamento e representatividade, o que são reflexos de sua administração. Mestre Zoinho da Império de Casa Verde, conta sobre sua trajetória de ritmista à mestre de bateria. O comandante da Barcelona do Samba, fala sobre a importância de se adaptar às mudanças.......................................................................................
Desejo a todos uma ótima leitura, fiquem em casa! Axé...
Fabi Faria Editora-Chefe
Nesses tempos sombrios de pandemia que vivemos, com o corona vírus batendo em nossas portas atingindo vários lares. Nos solidarizamos com nossos leitores e familiares que perderam seus entes queridos O otimismo está entre nós, acreditando sempre que tudo vai passar, não podemos desistir jamais. Quem sabe após tudo isso, seremos melhores como humanidade. Pesares, fé e sabedoria, dependem somente de nós. Ficar em casa ainda é o nosso melhor remédio de prevenção Forte abraço da Família Sampa!....................................................................................
Eduardo de Paula Fundador Grupo SAMPA
Agradecimento ao Grêmio Recreativo Cultural Escola de Samba Mancha Verde Circulação e Distribuição GRATUITA. É proibida a venda, reprodução parcial ou total desta revista. O objetivo é divulgar a cultura popular brasileira. Visite nosso site: www.revistasampa.com.br Entre em contato: contato@revistasampa.com.br Acompanhe as nossas redes sociais facebook.com/revistasampa
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Mais um mês se inicia, junto com ele a esperança para que tudo volte ao normal logo, mas como disse o poeta “O samba não pode parar”. Mesmo não sabendo como será o futuro do nosso carnaval, continuamos levando as mais diversas informações para o nosso público, na medida do possível.
SAMPA
Os Bambas da Sampa Conheça quem faz com todo carinho e qualidade o conteúdo editorial da Sampa para você leitor.
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Odirley Isidoro
Sumรกrio
Adriana Gomes - Sambista desde o nascimento carrega com altivez a heranรงa da arte de bailar.
Amor em vermelho e amarelo
Joรฃo Pasqua - O destaque de abre alas completarรก 40 anos de avenida
Olhares da Sampa
Quando o carnaval e o futebol se encontram na avenida
O Projetista do Ritmo
Vamos Bater Saia?
O Romantismo das Quatro Linhas
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Da harmonia e o bailado Nasceu a bailarina da passarela Primeira dama da escola,que empunha o Pavilhão Adriana Preta no significar,negra na essência Deusa do fogo! Dri nas pontas dos pés a encantar Bandeira herdada,conduz com galhardia Seu estandarte missão de vida Texto: Eduardo de Paula
No domingo de carnaval de 1981, nascia Adriana Gomes da Silva. A graciosa e simpática porta-bandeira pode ser considerada descendente da linhagem real do samba paulistano. Filha de Maria Gilsa Gomes dos Santos e Raimundo Pereira da Silva, o Mercadoria, Adriana desempenha com amor, dedicação e maestria a arte de bailar e portar um pavilhão...... Ela se define como uma pessoa muito feliz, parceira e apaixonada pelo mundo do samba ao qual dedica todo seu tempo e energia. Apesar de ter boa parte da vida dedicada aos giros na passarela do samba, fora dos portões do Anhembi, gosta de programas simples para se divertir. Rodeada de amigos, ela aproveita o tempo livre para ir nos aniversários, casamentos e fazer seus cachecóis de tricô. Para organizar seus pensamentos, seu hobby favorito é andar pela Avenida Paulista.................... A origem de uma apaixonada pelo carnaval Com mãe porta-bandeira e pai diretor de harmonia era quase impossível Adriana seguir outro caminho. Sempre cercada de grandes sambistas, ela cresceu dentro das quadras de escolas de samba. “O clima em casa era sempre carnaval! Com o samba enredo como trilha sonora a gente sempre conversou e discutiu sobre carnaval aqui em casa. Desde dar pitaco um na escola do outro, já houve um tempo que todos nós estávamos em escolas diferentes, até sobre a construção do Anhembi e fundação da LIGA, no qual meu pai fez parte da fundação. Era um clima muito bom”, relembra. Nordestinos, Maria Gilsa e Mercadoria vieram para São Paulo construir suas histórias. Na terra da garoa, se envolveram e se apaixonaram pelo carnaval, cada um na sua função foram pioneiros e criaram parâmetros que são utilizados até hoje. Maria Gilsa defendeu os pavilhões de escolas como Acadêmicos do Tucuruvi, X-9 e Rosas de Ouro. Além de brilhar nos desfiles, ela foi linha de frente na criação da AMESPBEESP. Já Raimundo Mercadoria, passou pelas harmonias da Unidos da Vila Maria, X-9 e Rosas de Ouro. Também foi um grande articulador na organização e valorização do carnaval paulistano
“Meu pai sempre trabalhou em prol da cultura preta e do carnaval. A construção do carnaval que a gente tem hoje, meu pai teve muita mão ali. Já a minha mãe era uma guerreira em todos os sentidos. Trabalhou 43 anos em casa de família, sempre com muita luta para nos criar. E fora do trabalho se tornava gigante em posse do pavilhão”. Para Adriana, seus pais são suas referências de vida e com certeza de sambistas também. Ela tem muito orgulho do que eles representam para o carnaval de São Paulo e carrega todos os ensinamentos aprendidos em casa e na quadra, dos quais o respeito é principal deles.. Memórias inesquecíveis Ainda muito pequena, começou a desfilar na ala das crianças e posteriormente como passista mirim. Sobre os carnavais da infância ela recorda com carinho de assistir e desfilar na Avenida Tiradentes. Outra lembrança que não sai de sua memória é assistir o desfile da Mangueira na Sapucaí em 1985 pela televisão, enquanto sua mãe, porta-bandeira da Acadêmicos do Tucuruvi na época, terminava a sua fantasia. Para ela o samba daquele ano foi inesquecível e o motivo que a fez torcer para a escola verde e rosa carioca. Assumindo de o posto de porta-bandeira Acostumada a sair como destaque de ala e alegoria da escola Rosas de Ouro, Adriana nunca almejou carregar o pavilhão de uma escola. Seu sonho era ser rainha de bateria. Em 1999, a escola de samba “Só vou se Você for” precisava de mais um casal de porta-bandeira e mestre-sala para completar o seu quadro de componentes para o desfile naquele ano. Por intermédio da Tia Bene, apresentadora de casais da Rosas de Ouro, Adriana foi “convocada” para assumir o cargo. E mesmo achando que não saberia desempenhar a função, ela aceitou. Aos 17 anos, iniciou sua carreira como porta-bandeira. Sua estreia foi no tradicionalíssimo carnaval da Vila Esperança e mesmo sem nenhuma experiência Adriana e seu Mestre-sala Vagner garantiram uma nota 10.
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Com o sucesso da sua apresentação, Adriana ficou realmente contente por ter saído uma foto sua no jornal uns dias após o desfile. Na ocasião ela já desfilou como primeira porta-bandeira e depois disso não parou mais. No ano seguinte representou o pavilhão da Tom Maior e em 2001 migrou para a Mocidade Alegre onde permaneceu por doze anos. Após seu primeiro contato, ela percebeu o quanto era importante a missão de conduzir um pavilhão. “Ser porta-bandeira é praticamente uma religião. Ter a responsabilidade de ostentar o símbolo maior de uma escola é ter normas, regras e condutas. Isso eu sigo muito seriamente e esse sistema se aplica a minha vida pessoal também. Eu tenho que procurar não errar, não cometer gafes, não posso ter atitudes que as pessoas geralmente têm. A gente não é mais um ser normal, a nossa vida é dedicada para aquela história, daquele pavilhão.” Pausa na carreira Após conquistar mais um título conduzindo o pavilhão da Morada do Samba, Adriana foi participar de um evento representando a escola no Rio de Janeiro.
Foto: Arquivo Pessoal
Ao ingressar no elevador do prédio que estava hospedada, ela e outros componentes da agremiação despencaram do sétimo andar. O acidente causou sérias lesões no joelho, rompeu alguns ligamentos, deixando-a um ano afastada da sua grande paixão, a carnaval. “Foi um processo muito difícil de recuperação. Foram 11 meses de fisioterapia, de preparação corporal e física. Mas foi com muito empenho e com muita dor que eu consegui superar essa fase. Tudo deu certo!”
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A volta ao Anhembi No ano de 2013, Adriana recebeu um convite do diretor de carnaval da época para assumir o pavilhão da Mancha da Verde que disputaria o grupo de acesso naquele ano. “Depois de pensar que nunca mais iria dançar, a Mancha Verde me acolheu e eu voltei a conduzir um pavilhão e a pisar naquela pista sagrada. Eu senti grandes emoções ao voltar ao Anhembi. Poder voltar a andar, a dançar e estar em uma escola tão grande que abraçou a mim, a minha causa e a minha história. Eu sou muita grata a Mancha Verde por ter me dado a oportunidade de voltar a conduzir um pavilhão.” Mesmo sendo algo triste, ela enxerga o seu acidente como um divisor de águas na sua vida. A porta-bandeira acredita que este acontecimento veio para mudar sua história e acertar algumas questões que precisavam ser resolvidas. Segundo ela “foi um processo necessário”. Próximos passos Mesmo com todo gás e animação, Adriana já começa a pensar em parar de dançar. Ela acredita que tudo tem uma hora de acabar, que é preciso dar oportunidade para outras pessoas e dar seguimento para outros projetos da vida. “Não vai ser agora. Eu já planejei e vou seguir dançando por mais um tempo. Vocês vão ter que me aturar mais um pouquinho”. Afirma a porta-bandeira. Para o ano que vem, ela continua como porta-bandeira da Mancha Verde. Diante do cenário atual faz votos que o carnaval 2021 ocorra sem grandes problemas. Ressalta que as escolas de samba fazem muito mais que o desfile no Anhembi, pois as agremiações cumprem um papel cultural e social que são de extrema importância neste momento de crise que o país está passando. “Obviamente eu torço para que o carnaval 2021 aconteça. Com todos seguros, com o país e o mundo em outro momento. O importante é todos atravessarmos este período, chegarmos bem, firmes e fortes. É impossível falar de carnaval 2021 sem antes pensar em como chegar lá. Mas enquanto o próximo carnaval não chega, as escolas estão trabalhando não só para o carnaval, mas também para o bem estar do povo. As escolas de samba chegam aonde o poder público não consegue chegar”, finaliza a porta-bandeira.
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Oriunda de uma família religiosa, quando era menina adorava ver integrantes do cordão baterem de casa em casa com o livro de ouro pedindo donativos para o desfile. Mesmo contra a vontade do pai que era um militar acesso aos festejos de momo, a primogênita de 3 irmãs tinha a mãe como aliada para que juntas se enfeitassem para desfrutar dos batuques a distância. Moradora de um bairro de predominância portuguesa, brincar o carnaval fazia toda a diferença na rotina da família. Com o passar do tempo, o destino evidenciou que a inquietação do pai não foi em vão, pois o samba delineou fatos importantes na história de sua vida. No início da mocidade, a convite de amigos , teve seu primeiro contato real com uma escola de samba, a tão tradicional Vai-Vai , espaço onde sua carreira foi meteórica, tornando-se em pouco tempo uma passista número 1, só que mais uma vez o dispositivo do acaso a fez mudar de rumos levando-a conhecer o seu grande amor, Hélio Bagunça. Figura importante no carnaval, tinha seu histórico de atuação constituído no Camisa Verde e Branco, aos poucos foram se aproximando e por fim o carnaval definitivamente os uniu. Em meados da década de 70 ao preparar-se para mais um desfile da Vai-Vai, foi raptada por integrantes da escola rival e a partir daí começou uma nova história no universo carnaval.
Seu primeiro desfile na escola da Barra Funda, foi cercado de conflitos entre as duas escolas, fato que afastou o casal do carnaval por algum tempo até que os ânimos se acalmassem, no entanto, os projetos já existentes administrados por Hélio no São Paulo Chic e na casa de gafieira Garitão se mantinham. No fim de 1972 junto de um grupo de amigos e intelectuais dissidentes do Camisa Verde, resolveram fundar uma nova escola de samba, escola esta que se tornaria um presente por sua primeira gestação. O objetivo era atender um público novo que aos poucos estava se aproximando do universo do samba a partir das rodas que aconteciam no São Paulo Chic. A maioria era composta por estudantes da USP, por isso a proposta era de a escola ser em um local que fosse mais próximo à universidade, assim surgiu a escola de samba Tom Maior, instalada no Bairro do Sumaré. O nome da escola foi escolhido a partir de um samba do Martinho da Vila com o mesmo nome. Maria Helena foi a primeira diretora social da escola e de lá pra cá desenvolveu várias funções. Foi uma das fundadoras da velha guarda, espaço que ocupa até os dias de hoje, onde tem o cargo de relações públicas e oficialmente conduz o estandarte. Até os dias de hoje contribui para a ascensão da escola levando o seu nome para todos os espaços que ocupa. Em 2007 ao lado de mais 12 damas recebeu o título de Imperatriz e Baluarte do Sampa Paulistano pela Assembleia Legislativa, em 2012 foi consagrada Cidadã do Samba Paulistano. No ano de 2013 recebeu da Liga das escolas de Samba de São Paulo o título de Acadêmica pela Academia dos Baluartes do Samba de São Paulo. Já em 2018 foi homenageada pela Deputada Leci Brandão na Assembleia Legislativa no dia Nacional do Samba por serviços prestados ao samba pelo Projeto Samba do Voluntário, e desde 2013 compõe a Embaixada do Samba, onde ocupa o cargo de Vice-Presidente até os dias de hoje.
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Natural de Ribeirão Preto - São Paulo, Pasqua tem 69 anos e em 2021 completará 40 carnavais, bodas de esmeralda (no seu casamento com a festa de momo). Atualmente mora na capital, é artista plástico formado pela UNAERP Ribeirão Preto. Com uma longa trajetória no carnaval de São Paulo e Rio de Janeiro ele nos conta sua experiência e como tudo começou. Em 1982 iniciou seus desfiles em São Paulo na Av. Tiradentes, na escola de samba Colorado do Brás, desfilando em alas. Como destaque em abre alas teve passagem pela Vai-Vai (14 anos), Vila Maria (1 ano), X-9 Paulistana (2 anos), Tucuruvi (6 anos), Pérola Negra (2 anos) e Rosas de Ouro (11 anos), onde desfila atualmente. No Rio de Janeiro desfilou pela Mangueira, Cabuçu, Salgueiro e Viradouro, sempre como destaque. Desde 1996 só desfila em abre alas, sua preparação começa entre os meses de julho e agosto, quando as escolas já soltam o figurino, Pasqua conta que possui um pequeno atelier onde confecciona suas fantasias. Ele dá prioridade para a sua fantasia, e assim que finaliza começa a confeccionar para outras pessoas. Nos conta que confecciona fantasias para São Paulo, Rio de Janeiro e até para o carnaval do Japão em Asakusa. “Faço fantasias para uma classe bem restrita de pessoas, em meu atelier quem me ajuda é Aldo de Castro, algumas costureiras e serralheiros”, comenta. No dia do desfile conta que vai para o hotel em São Paulo (onde normalmente os componentes das escolas de samba se preparam), no final da tarde e fica aguardando o horário para montar a fantasia.
Foto: Arquivo Pessoal
Foto: Arquivo Pessoal
No momento que a escola libera para a montagem, geralmente umas 3 horas antes, a fantasia é montada no carro alegórico, depois de montada ele volta para o hotel para finalizar a maquiagem, colocar a roupa e voltar para a alegoria. Quando questionado se não é muito trabalhoso, ele completa “É muito trabalhoso, mas o prazer é muito maior”. A fantasia sempre segue o enredo da escola, que explica plasticamente a inspiração do carnavalesco.
Foto: Arquivo Pessoal
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Em 2013 quando Pasqua saiu na Pérola Negra, no qual o enredo era sobre Ariano Suassuna o Alto da Compadecida, foi confeccionada uma fantasia de destaque com elementos rústicos uma vez que o enredo pedia. Ele saiu no abre alas com uma fantasia de palhaço, que anunciava como mestre de cerimônia o espetáculo mambembe que iria começar, a fantasia foi confeccionada com retalhos de tecidos e fuxicos, bem característico da região nordeste. Na cabeça fitas que imitavam o cabelo do palhaço e para finalizar um costeiro com plumas para dar o ar do luxo. Em São Paulo em 2017 desfilou na Rosas de Ouro, onde fazia parte do 15º elemento da comissão de frente sendo o “Deus Osíris”, e participava também da coreografia, ideia do carnavalesco André Machado. Para este ano de 2020, onde desfilou pela Rosas de Ouro, Pasqua nos conta que não foi feito nenhum figurino, a escola disse que queria um robô e ele foi desenvolvendo, e eles aprovando até chegarem a uma definição. A criação foi toda dele com o tema do carnavalesco André Machado. Sobre valores, ele diz que as fantasias começam com uma média de R$ 10.000,00 (Dez mil reais), podendo chegar a R$ 100.000,00 (Cem mil reais), dependendo do atelier e da mão de obra. “No meu caso, como eu mesmo confecciono as fantasias eu possuo um acervo muito grande, estou a quase 40 anos desfilando, então tenho muito material como plumas, faisão, pavão que é um material mais caro”, diz. “Se tivesse que começar do zero hoje sairia muito caro por volta de R$ 50.000,00 (Cinquenta mil reais), para ficar da forma como gosto”, completa. Pasqua relembra como eram confeccionadas as fantasias há 40 anos. “Quando eu comecei não existia muito material, então era tudo bordado à mão (lantejoulas, canutilhos, miçangas), eu fazia apenas uma fantasia o ano inteiro com outras bordadeiras”. “Tudo era importado, tudo muito caro uma peça de strass era muito difícil de encontrar, todos os materiais vinham da Tchecoslováquia. Depois quando abriram as importações, começou chegar muita coisa, tecidos importados bordados da China, tudo com qualidade. Hoje você consegue fazer uma fantasia em 30 dias”, complementa.
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Foto: Arquivo Pessoal
A pergunta que não quer calar, por que ser destaque? “Destaque é ser único no carnaval, as fantasias sempre se repetem, nos destaques jamais! Tem beleza, tem luxo, além de ser um personagem ou elemento da história a ser contada”, finaliza. Finaliza dizendo que ama o que faz, que sente um prazer enorme em confeccionar fantasias, as dele e de seus clientes, conta que hoje é aposentado de seu trabalho principal de vitrinista de joalherias. Mas que seu amor e sua realização maior é ver um tecido e vários elementos se tornarem o sonho de todo destaque de carnaval. “O carnaval não termina na avenida, ele fica eternizado na fantasia e na memória de todos”.
Foto: Fábio Serrano, Studio MyDream
Por mais que tentem, por mais que queiram, a limitação está em nossa cabeça. Que Oxalá permita que sejamos felizes sempre! Foto: Elson Santos
“São Paulo, a cidade que não para de crescer”_ Obras do Anhangabaú Foto: Ismael Toledo
A Associação Filhos do Zaire é uma iniciativa que busca melhorias para a comunidade de Ermelino Matarazzo e bairros vizinhos. Em 2013 a escola conseguiu um espaço junto a igreja São Francisco de Assis, através do padre Ticão, porque a escola não tinha uma sede. Neste local, com ajuda de parceiros, foram ministradas aulas de samba rock, dança afro, cursos de teatro e preparação de jovens para o mercado de trabalho. Mas devido a crise econômica no país, a escola perdeu o espaço que era custeado por uma universidade. "Hoje nós estamos atuando com um projeto para a terceira idade, dando atividade física; um curso de elaboração e encaminhamento para o mercado de trabalho: desde aula de redação e como elaborar um currículo, além da nossa escola de percussão", afirmou Rejane Romano. Filhos do Zaire e Faculdade Zumbi dos Palmares Fecham parceria inédita no Carnaval. Em julho do ano passado a escola de samba procurou o reitor José Vicente, da Faculdade Zumbi dos Palmares, para uma possível parceria, o que foi aceito pela entidade com o objetivo de inaugurar uma nova forma de atuação no carnaval, além de uma ajuda financeira. "Entendemos que foi uma oportunidade boa unir a academia à cultura. Hoje um dos nossos espaços é no campus da universidade, onde ficam as fantasias, os instrumentos e a maior parte do nosso material. Até algumas festas são feitas lá, mas os ensaios são alternados, porque não queremos perder o vínculo com o bairro de Ermelino Matarazzo, que é a nossa origem", ressaltou Rejane. "Nós tínhamos planos de ampliar esta parceria para 2020, unindo e inserindo cada vez mais os integrantes da faculdade na escola de samba, mas por conta do isolamento social está tudo parado", concluiu. Em contato com a Revista Sampa o reitor José Vicente falou sobre a parceria: "Unir a produção de conhecimento existente no âmbito das faculdades e universidades, à ancestralidade que o carnaval contempla é uma proposta inovadora e assertiva. Estamos demonstrando que os negros podem e devem estar onde quiserem. Seja nos bancos acadêmicos ou na bateria de uma escola de samba. Que outras instituições de ensino superior possam seguir esse modelo". Apesar do atual momento, a escola já trabalha pensando no carnaval de 2021. Como a escola não tem disputa de samba-enredo o tema já foi escolhido. Será sobre a educação voltada ao aluno negro, com a inclusão do negro no ensino, sobre tudo no ensino superior. O anuncio será feito em breve através de uma live. Uma curiosidade na vida dos Filhos do Zaire é que hoje um dos seus principais parceiros é outro time da várzea. O Jardim Belém, que tem mais de 64 anos e já enfrentou a equipe do Zaire, atualmente cede o espaço onde é realizado os ensaios da escola de samba. Não há dúvidas de que futebol e samba são paixões do brasileiro e quando se juntam, unem o folião, o atleta e o torcedor. Isso é o que acontece na Escola de Samba Filhos do Zaire, da zona leste da cidade. Tudo teve início após a Copa do Mundo de 1974 quando a seleção do Zaire foi o primeiro país da África negra a pisar num campo de Copa do Mundo. Na mesma época, no bairro de Ermelino Matarazzo, foi criado um time de várzea com o nome de Zaire, formado na sua maioria por homens negros. O time de futebol, que não está muito atuante, chegou a participar das festividades de 1º de maio e integrava a comunidade por meio do esporte e lazer.
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Conversamos com a jornalista Rejane Romano, presidente da escola de samba, que engrossa o time de mulheres que comandam o carnaval de São Paulo, que nos contou como foi a criação da escola de samba. "A Filhos do Zaire foi fundada em 01/09/2012 pelo meu marido, que é filho do ex-técnico do time de futebol. Como ele sempre foi ligado ao samba, resolveu criar uma escola para praticar a nossa filosofia da forma que a gente vê e pensa o carnaval. Neste novo momento são os filhos dos antigos integrantes do Zaire que buscam por melhorias na comunidade, por isso o nome Filhos do Zaire", disse. "Na família Romano a gente sempre teve muita consciência da nossa ancestralidade e da nossa negritude, então o samba sempre esteve presente na nossa vida. Carnaval a gente assistia pela televisão: jogava o colchão no chão e ficava assistindo aquela maratona. Nunca chegamos a ir assistir ou frequentar quadras de escolas de samba. Já na família Silveira, do meu marido, a participação no carnaval era bem maior", revelou. Em 2013 a escola só cuidou da parte burocrática junto à União das Escolas de Samba de São Paulo (UESP), cuidando do processo de filiação, da documentação e criando o seu o estatuto, mas não houve tempo hábil para desfilar em 2014. O primeiro desfile oficial foi em 2015 pelo grupo de pleiteantes na Vila Matilde, e assim permaneceu até 2018. Nos anos seguintes os desfiles foram pelo grupo de Acesso de Bairros II. No último carnaval o grande destaque da escola foi o seu enredo: "A primavera da resistência. De Dandara à Marielle: histórias de mulheres que nunca se apagam", falando sobre a luta das mulheres. "Nós tínhamos uma expectativa muito grande por conta do enredo muito forte, que não só reconhecia a luta de mulheres do mundo inteiro, com relação a emancipação feminina, seus feitos pessoais, mas também no sentido de um protesto contra o feminicídio e a violência contra a mulher", concluiu a presidente. A escola ficou em quinto lugar.
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Em um bate-papo virtual, Mestre Zoinho diretor de bateria da escola de samba Império de Casa Verde conhecida como “Barcelona do Samba”, conta um pouco da sua trajetória no carnaval de São Paulo. Com 43 anos, Robson Campos conhecido no carnaval paulista como “Mestre Zoinho”, nascido e criado em São Paulo, recém-nascido mudou-se para a cidade de Sorocaba, interior do Estado, começou a tocar com 5 anos na escola de samba Equiperalta que tinha as cores preto e branco, alusão a escola tradicional Vai-Vai. “Eu aprendi a tocar com meu tio, minha família era de músicos e eu aprendi com eles. Meu avô era baterista isso aí facilitou muito para mim, minha família sempre foi musical”. Graças ao seu Tio Mestre Pedrão sua referência, Zoinho entrou no universo da batucada tocando tamborim, seu primeiro instrumento de percussão ainda em Sorocaba. De Volta a Terra da Garoa Com 9 anos de idade sua família retorna para São Paulo, de volta à terra da garoa começou a participar das escolas de samba da cidade, a primeira bateria que tocou foi nos Gaviões da Fiel, onde deu início no carnaval paulistano.
Mestre de Bateria Após o carnaval de 2004, recebeu o convite para comandar a bateria do Império de Casa Verde, onde está até hoje, são 16 anos à frente da Barcelona do Samba. “Uma galera fala Mestre, mas eu me considero primeiro diretor de bateria até hoje, mestre é um nome muito forte e por enquanto ainda não cheguei a esse patamar” Com o passar dos anos comandando a bateria Barcelona do Samba, foi ganhando destaque no samba e se tornando um dos grandes diretores de bateria do carnaval de São Paulo, gabaritando as notas no quesito e conquistando premiações dos veículos de comunicação. Meu Tigre Guerreiro Uma carreira vitoriosa no Tigre Guerreiro, sua trajetória começou em 2005 já sendo campeão, até o momento foram 3 títulos dirigindo a bateria da Império de Casa Verde. São 16 anos regendo a Barcelona do Samba, ele destaca dois desfiles que o marcaram muito dentro da escola. “Dois desfiles que foram muito importantes para mim dentro da escola, 2014 e 2017 foram os melhores anos que eu passei à frente da bateria”
Depois que entrou na bateria dos Gaviões, passou por diversas escolas de samba como ritmista em São Paulo entre elas: Vai-Vai, Mocidade Alegre, Camisa Verde e Nenê de Vila Matilde.
No desfile de 2014, relata que nessa época a bateria não estava tirando nota no quesito, mas pode fazer tudo o que pensou dentro da bateria, nas questões de andamento, bossa, ele conseguiu realizar um belo trabalho mantendo o andamento em 140 BPM. Outro desfile foi em 2017, conta que a bateria do Império não conquistava a pontuação máxima, devido alguns problemas com os jurados, depois de um longo período conseguiu os 40 pontos, conquistando prêmios de melhor bateria naquele ano.
Diretor de Bateria
Mudança de Andamento
Depois de passar por todos os instrumentos na bateria, se tornou diretor, a primeira experiência foi nos Gaviões da Fiel no ano de 1995, na ocasião dividiu a direção de tamborim com o amigo Paulinho Pirituba, auxiliando o Mestre Roberto Daga. Depois de uma pausa no carnaval de São Paulo, foi convidado pelo Mestre Adamastor para a direção da bateria na X-9 Paulistana no ano 2000, primeiro desfile como diretor sozinho.
A mudança de andamento na bateria ocorreu quando o carnavalesco Jorge de Freitas chegou na Império de Casa Verde, junto com a direção da escola resolveram mudar a cara da escola.
“Quando eu vim para São Paulo com a minha família, comecei a tocar nas baterias e eu queria muito tocar repique, e nos Gaviões eu passei por todos os instrumentos, comecei no tamborim e depois fui pro repique”.
“O Mestre Adamastor me deu a oportunidade de ingressar como diretor de bateria, a escola sagrou-se campeã e a gente realizou um bonito trabalho por lá”. Depois do título do carnaval do ano 2000, Zoinho voltou para os Gaviões como diretor de bateria, auxiliando os Mestres Roberto Daga e Pantinho, sendo campeão nos anos de 2002 e 2003, em 2004 comandou a bateria dos Gaviões ao lado de Chulé.
“A gente resolveu mudar o andamento da bateria, diminuímos o número de bossas, antes a gente desfilava com 4 ou 5 bossas, e passamos a ter 2 bossas musicais que tiveram impacto no desfile” Com a chegada de Jorge de Freitas, Mestre Zoinho conta que ele mudou o projeto da escola em todos os setores, harmonia, samba-enredo e com a bateria não foi diferente, modificou o andamento que antes era 140 BPM e com a mudança ficou em 148, mesmo com a saída do carnavalesco a bateria continuou com o trabalho, com o mesmo andamento para frente, que vem dando certo e não pretende mudar.
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Reconhecimento Fora de São Paulo Zoinho desfila desde 1998 no carnaval do Rio como ritmista, desfilou na Grande Rio, Portela, Unidos da Tijuca e Vila Isabel. Sempre teve contato com cariocas, os diretores e mestres começaram acompanhar o seu trabalho, antes das redes sociais o pessoal do Rio visitava a quadra da escola para verem os ensaios. “Fiquei muito tempo desfilando com o Mestre Odilon na Grande Rio e com o Mestre Mug na Vila Isabel, que são minhas referências e eles começaram a ver o meu trabalho aqui em São Paulo” Nesse tempo no carnaval carioca, fez uma grande amizade com o Mestre Marcão, que na época comandava a bateria do Salgueiro e passou a desfilar com ele no período de 2011 até 2018, com essa amizade o pessoal começou acompanhar e acabaram gostando e repercutindo muito seu trabalho, tendo assim o reconhecimento no samba carioca. Barcelona do Samba O nome Barcelona do Samba surgiu durante a transmissão dos desfiles, os comentaristas começaram a comparar a bateria da Império de Casa Verde com o time do Barcelona que ganhava tudo na época, então surgiu o nome Barcelona do Samba. “O regulamento está ok, o problema maior está na preparação dos jurados, não adianta, tem que julgar bateria realmente quem conhece, não adianta trazer o maestro que for, se não conhece bateria vai errar e vai julgar errado”. E a chuva de notas 10 no carnaval de São Paulo, para ele não é só bateria, mas sim todos os quesitos, às vezes na dúvida os jurados dão nota 10 e quando decidem julgar de verdade, dão uma nota 9,7 e a justificativa não convence. Carnaval 2021 Renovado para mais um ano à frente da bateria da Império, Mestre Zoinho aguarda a passagem da pandemia para começar os trabalhos para o carnaval o próximo ano, por enquanto não tem nada e espera ansiosamente pelos ensaios em setembro.
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Para algumas pessoas leigas no assunto, quando se fala sobre dançar quadrilha a maioria imagina vestir aquele jeans remendado, uma camisa xadrez e um chapéu de palha, já as mulheres um vestido de chita, trancinhas no cabelo e umas pintinhas no rosto. Quem nunca dançou quadrilha na escola? As quadrilhas nordestinas espalhada pelo Brasil são bem diferentes do modelo que estamos acostumados. A quadrilha junina ou quadrilha matuta é uma dança tradicional que ocorrem no período de junho e julho no Brasil. A dança é coletiva, dançada em pares que contam com a participações de vários casais vestidos com roupas coloridas e muito bem confeccionadas. De acordo com historiadores e pesquisadores da cultura popular, a quadrilha surgiu na França no século XVIII, passando a ser adotada nas cortes da Alemanha seguida por Portugal, e posteriormente se introduziu no Brasil. É uma dança hoje conhecida popularmente com origem NORDESTINA, pois abrasileirou-se e buscou seus próprio jeitos e ritmos. As festas dançadas por quadrilhas juninas ganharam vazão devido a época da colheita aqui no Hemisfério Sul, porque nesse período a colheita de mandioca, milho, amendoim, batata doce e grãos era muito farta. Devido essa fartura, as famílias de baixo poder financeiro, buscavam fazer seus casamentos nessa época, pois assim poderiam melhor agradar seus convidados. Com a culinária rica em doces e salgados, assim era realizado os casamentos dos menos afortunados. Como normalmente os casamentos aconteciam na época da colheita, deu-se o nome de Festas Juninas.
O primeiro nome atribuído à dança de quadrilha no Brasil foi “quadrilha de arraiais”, sendo que nessa época já era uma dança que pertencia as chamadas festas juninas. No início, o estilo era mais popular no sul do Brasil, sendo que depois de algum tempo se espalhou pelo país chegando ao nordeste, onde recebeu contornos de forró. A quadrilha como conhecemos surgiu devido a um processo histórico e cultural que se desenrolou ao longo dos anos. A quadrilha brasileira tem como tema o caipira, bem diferente da quadrilha de Paris. Além disso, antes da apresentação nas festas juninas acontece o casamento caipira e justamente o casal de noivos é quem puxa os demais casais. As tradições que para nós parecem tão comuns foram sendo adicionadas ao longo do tempo ao universo da quadrilha.
“A Quadrilha Junina Sacode Poeira é a caçulinha de São Paulo, com um ano já conquistou um espaço no mundo junino devido sua participação em alguns concursos, campeonatos e disputas”, contou o presidente, marcador e coreógrafo Pedro D"morais". Hoje as centenas de quadrilhas espalhadas pelo Brasil têm uma dança diferenciada, uma vestimenta rica em pedras e brilho, no qual realizam um trabalho o ano todo com ensaios, figurinos e cenários para participarem de competições e campeonatos regionais e nacionais.
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Foto: Roberto Silva
Assim como a leveza da grama nascendo, entre um emaranhado de folhas e um amontoado de terra, embaixo daquela imensidão, uma semente foi plantada. O chão batido e demarcado entre grades, foi o celeiro para formar craques e músicos. Graças a este cenário que para muitos a época era abismal, fora o território principal de formação social. Logo sendo usado como ferramenta de diversão, se tornou o epicentro cultural de grandes novidades, o expoente máximo de uma sociedade que utilizava este instrumento como forma de expressão. O fio tênue que liga as escolas de samba e o futebol, vem bem antes da conexão entre atletas profissionais e o carnaval. Em um período mais romântico, a beira das quatro linhas da várzea de nossa cidade, já se ouvia os batuques das torcidas que incendiavam aqueles jogos, eram os famosos “clássicos” da época. As informações que pipocavam nas paredes dos bares, convocando as comunidades em campeonatos, torneios e taças, mexiam e muito com o imaginário de quem usava aquele momento para extravasar. Dado as necessidades de uma cidade que ao mesmo tempo crescia disparadamente e isso refletia no distanciamento das camadas menos favorecidas com o centro da cidade, a periferia se tornou a “Meca do Esporte”.
A batucada à beira de campo começou a ganhar ares de responsabilidade, apesar de parecer complexo, muitos entenderam que ali poderia ser uma ferramenta para expor a visão e chamar atenção para as suas necessidades. Logo uma boa semente plantada, gera frutos e a atenção voltada a esta semente começa a atrair novas pessoas com ideais igualitários, a batucada ganha força e ares de um processo de administração. Consequentemente, o trabalho começa a ganhar vozes e moldes, entre as nuances deste romantismo, uma escola de samba se formaliza, a fim de levar a frente as durezas de uma sociedade que deseja falar. Mesmo que ainda de forma tímida e na visão de alguns apenas para fazer arruaça, anos após anos, a responsabilidade de representar uma parcela de sua região ganha notoriedade. A partir do momento que uma semente começa a dar certo do outro lado da cidade, se inicia um processo semelhante visando manter uma raiz forte capaz de expor as suas realidades. Claramente, o processo evolui e se expande e como um ciclo, ele se encerra à beira do campo e leva seu charme para um terreiro, para um novo espaço, mas sem perder o charme, sem perder o jeito, sem perder a alma. Assim se iniciou diversos romances moldados por uma batucada a beira das quatro linhas.
Automaticamente, a população que sofria durante o ano, usava a batucada à beira de campo, não apenas como um lazer, mas também para libertar as agruras do dia-a-dia através da combinação: samba e churrasco. Observem, aquela semente que fora plantada no começo deste texto, começou a apresentar grandes folhas no decorrer de sua leitura. Veja que o processo de ligação entre o solo e a semente, foi muito mais fácil quando o mesmo já estava apto a recebê-lo. Ou seja, com o processo de expansão do centro, a periferia foi o solo apto a receber de braços abertos esta semente. E claro, rapidamente os campos de futebol de várzea se tornaram a extensão, conforme as necessidades de cada região e dada as dificuldades vividas pelas comunidades.
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