Folha do Estudante nº2

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FOLHA DO ESTUDANTE R$ 2,00

Novembro / 2008 N02

O G U I A D E F I N I T I V O PA R A E S T U DA N T E S E E D U C A D O R E S

Orientação profissional: a grande ferramenta na hora da decisão especialista fala sobre a importância de uma orientação sólida e adequada para todas as idades PÁg. 3

eduCaÇÃo

Cuba: segunda parte. Fidel Castro toma o poder!

PÁG.14

ensino Médio: A hora da transformação é agora PÁG.7 Matemática: porque é tão difícil entendê-la? PÁG.5

Chernobyl: 22 anos depois, uma PÁG.11 reflexão Cultura

eric satie, o músico do surreal PÁG. 9 Meio aMBiente

Bambu: a madeira do PÁG.10 novo milênio esPeCial

Medicina: como os robôs estão revolucionando a área

PÁG.8

artigo

a estatística como arma de manipulação

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Editorial O segundo exemplar da Folha do Estudante chega às bancas e às escolas assinantes. Nosso propósito é levar a informação sobre o mundo da educação e da pedagogia a um público amplo, estabelecendo um debate formador e edificante sobre os problemas e as soluções de tudo o que diz respeito às escolas e às universidades. Reiteramos que nossa proposta é a formação, a orientação e a informação

em benefício de nossos leitores. Para tanto, os artigos, as matérias e a linha editorial da Folha do Estudante aponta sempre a direção e o sentido do ensino público, gratuito e de qualidade. Nesta edição, uma entrevista com a professora Denise Combinato, doutoranda em psicologia da Unesp, aborda a orientação profissional, importante ferramenta de psicólogos e alunos em busca do despertar

das aptidões dos jovens na descoberta da carreira e do futuro. Com a contribuição do Doutor Carlo Passerotti, trouxemos uma matéria sobre a robótica aplicada à medicina. Trata-se de mais um importante campo profissional aberto dentro das carreiras médicas. Nesta edição os leitores também encontrarão: - a continuação da história de Cuba, promessa dos maiores

vestibulares públicos para este final de ano; - uma investigação sobre o problema que os jovens têm em compreender matemática; - um excelente artigo sobre como os meios de comunicação manipulam e mascaram estatísticas; - a história de uma promessa brasileira do xadrez que vem da escola pública; - uma análise do bambu como matéria prima renová-

vel e versátil na conservação ambiental; - uma reflexão sobre o desastre nuclear de Chernobyl, 22 anos depois; - a apresentação de Eric Satie: o músico do surrealismo. Enfim, a segunda edição da Folha do Estudante traz um resumo de tudo o que interessa ao universo da educação. Uma ferramenta indispensável no auxílio de estudantes, professores e pais.

Artigo

O Bilhetinho Revolucionário

Alberto Zagatti Neto (BBC)

Um desses bilhetinhos que recebemos em sala de aula, que por falta de tempo ou negligência acaba esquecido no bolso da calça, foi resgatado pela Ritinha, minha lavadeira. Sem grande cerimônia, numa manhã de segunda-feira, antes mesmo de dar o primeiro gole no meu café, a Ritinha perguntou-me: “-Professor, o que é Emenda Platt?” Atordoado pela pergunta daquela cearense de Crato, um metro e cinqüenta e três centímetros de altura, semi-analfabeta e devota do “padinho” Cícero, pensei até em chamar um psiquiatra, já que o fato me parecia extremamente grave. Ainda estarrecido com a pergunta, concluí que era o efeito parabólica, ou seja, a declaração do Lula de que as recentes descobertas de petróleo no Brasil colocarão o país numa situação confortável, e que os lucros decorrentes dessa matériaprima, com “valor agregado”, serão investidos na educação e na correção de injustiças sociais, melhorando a distribuição de renda. Será que essa declaração provocara um sentimento de dissonância intelectual em parte da população? Senti-me acuado logo nas primeiras horas da semana; será que ela vai me pedir aumen-

to, redução da carga horária, melhores condições de trabalho, creme para as mãos? Porque distribuir melhor a riqueza para a maioria dos brasileiros é aumentar o vale transporte, o vale alimentação, a bolsa escola, o bolsa família, etc... Pensei também que poderia ser a inclusão da Ritinha no mundo globalizado, com mais acesso à informação, mas por que a Emenda Platt? Mais tarde, refeito do susto inicial, tomei coragem e comecei a responder aquela sombria e pervertida pergunta: “-... Cuba liberta-se do domínio espanhol em 1898, mas fica sob a tutela dos Estados Unidos e por força da Emenda Platt (inscrita na Constituição cubana) se estabelece uma faixa de terra para a instalação de uma base naval norte-americana (base de Guantánamo), o direito de intervenção para a manutenção da ordem e dos interesses norte-americanos e concessões para a exploração de carvão na ilha (1901). Resposta dada, coloquei-me na retaguarda, pois senti que a partir daquela “curiosidade histórica”, as condições básicas para a Revolução do Proletariado (ver Marx) estavam postas. A figura aberta naquela relação, patrão amigo e empregada zelosa, era irreversível. Ritinha indelével, com ar de revolucionária no sertão do Cariri, encarou-me como nunca

seu Ceará, portanto era só fazer a associação e pronto: Revolução. Mas se fosse necessário, falaria da Revolução cubana liderada por Fidel, Che... das profundas reformas estruturais: reforma agrária, urbana, social... falaria da erradicação do analfabetismo, da extraordinária queda da mortalidade infantil,, entre tantas outras minorias. É lógico que por trás disso tudo havia os subsídios da União Soviética, mas por outro lado era só comparar com o Nordeste brasileiro, onde o analfabetismo é elevadíssimo e as taxas de mortalidade infantil ainda continuam elevadas, principalmente no Maranhão e pronto: passeata em Garanhuns (PE), protestos em Quixeramobim (CE), quebraquebra em Canudos (AL)... Se nem assim, ora!!! Falaria que a fuga de cubanos para a Flórida nada tem a ver com o sistema socialista de Cuba, e sim com o bloqueio econômico promovido contra Cuba desde 1962, quando da sua exclusão da OEA (Organização dos Estados Americanos). De forma panfletária, diria que ao longo da história a fuga do nordeste brasileiro foi muito, ou melhor, infinitamente superior à dos cubanos. Dessa vez não teria erro, mas por garantia, contaria dos quatro cubanos que, numa balsa improvisada com pneus, procuraram chegar a Miami, mas num descuido de rota chegaram à Bahia. E em Salvador, ficaram chocados com a miséria. CNPJ 09028502/0001-03 Pronto, já podia ver na TV as primeiras imagens Jornalista Responsável: da revolução: o Willian Paulo Neves /MTB: 10.253/SP Bonner anunciava que o povo estava nas ruas em Luís Paulo Domingues/MTB: 42.489/SP Piriri (PI), Axixá (MA), Bocodó e Cabrobó (PE). Diagramação e Projeto Gráfico: A participação popular é Marcelo Rino geral. Adesões ao movimento em Brejo das Freiras e Catolé do Rocha Assinaturas: (14) 32273524 (PB), Maxarangape(RN), Entre em contato com a redação Catolândia e Brejolândia (BA), em Xiquexique folhaestudante@gmail.com e Tiririca, também na Bahia. Os militares aderiram ao movimento.

Folha do Estudante Editor Chefe: Carlos D’Incao

Editores Colaboradores: Paulo Neves Pedro D’Incao

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Rua Fuas de Mattos Sabino, 15-65 BauruSP / Tel: (14) 32273524

e disparou a segunda pergunta: “-Professor BBC (quando ela fala assim, a coisa é muito séria), quando é que o senhor vai consertar a máquina de lavar?” A segunda pergunta me atingiu como um artefato bélico de fabricação caseira, o que me provocou seríssimos danos morais. Por alguns segundos, cheguei a acreditar que Cristo era comunista e que o Fernando Haddad (Ministro da Educação) existia. Refeito, percebi que a Ritinha fez o que todo brasileiro faz: deixou prá lá e partiu para o imediato, o duro mas concreto dia-a-dia, desvinculando todo o processo histórico do presente e do futuro. O que importa mesmo é o agora. Mas eu estava pronto para falar da Cuba de Fulgêncio Batista, ditador cubano, títere dos Estados Unidos, da Havana prostíbulo, bordel e cassino para norte-americanos. Uma Havana cujo apartheid era inquestionável: de um lado uma minoria de turistas americanos e europeus, de burocratas e da milícia do governo, de outro, a esmagadora maioria de miseráveis. Eu estava pronto para falar da monocultura do açúcar, do desemprego na entressafra, da concentração fundiária, dos camponeses sem-terra, da corrupção, das concessões aos capitais norte-americanos... cenário semelhante Ritinha deixou lá no

Ritinha “Guevara” esmaga uma tentativa de resistência em Canapi (AL). Naquele momento, eu estava pronto para ir fundo na resposta. Falaria que Fidel não é mais o presidente vitalício de Cuba e que seu irmão, Raul Castro, assumiu o trono, quero dizer, o poder e que Fidel, mesmo afastado por velhice (doença), ainda controla o socialismo cubano... que a União Soviética se desintegrou e não existem mais subsídios para a economia do país... que o que mais ajuda Cuba atualmente é o petróleo de Hugo Chávez. Mas Ritinha deixou prá lá e eu também. Como o aluno que me mandou o bilhetinho e eu deixei no bolso da calça. Dia desses, Ritinha fuzilou outra pergunta: “-Professor, o senhor acredita em anjo?” Desconcertei-me. No momento, só pude imaginar que a revolucionária do sertão havia mudado de idéia: agora a revolução seria teocrática, implantaria o Estado Religioso no sertão do Cariri e imporia ao país total e irrestrita devoção ao “padinho” Cícero. Para não contrariar a agitadora do Nordeste, respondi que acreditava em anjo. Então ela disparou com a sua linguagem simples e honesta: “-Mas “seo” BBC, se os homi aqui na Terra sorta fuguete, eles não acerta os anjo?” “-Por que Ritinha?” “-Ora, porque os anjo mora nas nuvens.” Ufa! Fiquei aliviado com a pureza da Ritinha, mas... pensando melhor, como faz falta a educação no país. Nesse momento, lembrei-me de uma célebre frase dita por Fidel Castro em sua auto-defesa, durante seu julgamento pela invasão do quartel Moncada, em 1953: “-Um povo culto sempre será forte e livre!”

Alberto Zagatti Neto (BBC) é professor de geografia


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CAPA

Orientação profissional: envolvendo e despertando aptidões

A

vida moderna e a sociedade contemporânea imprimem um ritmo cada vez mais frenético de atividades e apreensão de informações aos jovens. Devemos levar sempre em conta que é durante a adolescência que o indivíduo descobre o mundo, a sexualidade, as frustrações e diversas outras dimensões da vida com as quais deverá aprender a conviver. Paradoxalmente, é bem nessa época que o jovem se vê na difícil tarefa de escolher uma carreira, ou seja, o que fará (provavelmente) para o resto da vida. A partir dessa realidade, a Folha do Estudante entrevistou a professora Denise Combinato, especialista em Orientação Profissional e professora da Unesp. FE: No que consiste a orientação profissional? R: A orientação profissional é uma atividade desenvolvida com diferentes populações para pensar a relação homem/trabalho. E m bora sua aplicação seja mais frequente no segundo grau e cursinho - que preparam para o vestibular -, a orientação profissional se presta a diferentes momentos ( desde a educação infantil , do adulto que está mudando de carreira, até o aposentado ou pré aposentado). É, portanto, uma área ampla que pensa “de que forma podemos estabelecer um projeto profissional” a partir de alguns temas: Identidade: Quem eu sou? Como eu cheguei a ser assim? Identidade não é algo fixo e sim construído a partir das relações que nós estabelecemos com a nossa cultura e a nossa sociedade. Ou seja, eu preciso me conhecer e conhecer como e por que eu cheguei a ser assim, as influências que eu recebo (da família, do grupo), quais as condições econômicas. informações: Que informações eu preciso ter para fazer uma escolha? - seja do curso ou da profissão. Que curso é esse, quais as

particularidades ou ênfases desse curso? Eu tenho uma boa visão das diferentes profissões em cada área? Portanto, eu tenho que pensar não só em ampliar as informações sobre essas áreas, mas também em corrigir algumas distorções ou estereótipos que nós A criação de novas carreiras amplia as dúvidas de quem tem que decidir pela profissão temos a respeito das do se aplicavam testes vo- nâmicas. colhem a profissão futura profissões. cacionais - e perguntam Além disso, há mui- estritamente por causa de sobre orientação vocacio- tos instrumentos que indi- um suposto sucesso fiTrabalho: Qual é o sig- nal. O que diferencia uma cam uma área (“você ser- nanceiro que essa escolha nificado do trabalho pra orientação profissional de ve pra área de humanas”). possa lhe dar. Ao mesmo mim? Como esse trabalho uma orientação vocacio- Mas no que isso me ajuda? tempo, nós notamos que tem sido significado nesta nal? E em que sentido a Quantos cursos existem em esse tipo de aluno vem sociedade - e aí eu tenho orientação profissional é humanas? Portanto, muitas fortemente reforçado peque considerar a sociedade uma abordagem melhor? vezes o orientando sai desse los pais, que acreditam capitalista -? Qual a função R: Quando falamos em vo- tipo de orientação vocacio- que a melhor escolha é a social desse trabalho? cação, pensamos em algo nal mais angustiado do que que financeiramente vai A partir da discussão biológico, inato. O sentido entrou. trazer o maior retorno. desses 3 eixos, eu estabeleço da orientação vocacional se- A orientação vo- Qual a sua opinião sobre um projeto, que inclui a es- ria descobrir para que aque- cacional ainda é aplicada esse fenômeno? colha profissional. la pessoa serve (como se ela porque os pais e os alunos R: O fator econômico pesa A psicologia sócio- tivesse algumas habilidades esperam uma resposta rápi- porque nós estamos em histórica - o enfoque que eu e competências inatas). En- da e que não contenha os uma sociedade capitalista, trabalho a orientação pro- tão, a tarefa do orientador conflitos nessa escolha Mas que vai cobrar muito o ter, fissional - oferece condições seria descobrir a vocação sempre existem conflitos o possuir, o acesso a esses para que esse orientando daquela pessoa e incluir em quando se trata de uma es- bens. É difícil a gente falar desenvolva ou amplie sua uma profissão. Esse foi um colha. Há ganhos e perdas. para o orientando que ele consciência, para que ele modelo muito divulgado. tem que considerar a sua possa estabelecer o melhor Eu consigo, através des- FE: Nós recebemos uma realização não só em funprojeto profissional (que ses testes, medir algumas série de alunos que apre- ção desse ter, mas daquilo nunca é fixo, não é único; características e traços de sentam um passado re- que vai dar satisfação, reaexiste o melhor projeto para personalidade. Mas o que cente de aplicação de tes- lização. Afinal, ele cresceu aquela pessoa, naquelas nós pensamos desse modelo tes vocacionais. Qual é numa família, numa socondições). teórico (vocação), é que ele a validade desse tipo de ciedade que valoriza isso é um modelo construído. procedimento - a simples - quem tem mais dinheiFE: Quais as vantagens Porém, não existe uma vo- aplicação de testes escritos ro, quem tem mais status, da abordagem sócio-his- cação a priori. A pessoa não - que muitas instituições quem tem mais poder. Por tórica e suas diferenças nasceu pra ser enfermeiro, realizam? isso a gente discute os vários fundamentais para com as dentista ou engenheiro, ela R: A simples aplicação é determinantes da escolha, outras? desenvolve ao longo da sua muito restrita. A gente tra- considerando todas as inR: De forma geral, os prin- vida alguns interesses, algu- balha numa perspectiva de fluências que foram levadas cipais referenciais teóricos mas habilidades, estabelece que o orientando participe em conta. Escolher a carreida atualidade (cada um contatos com algumas pes- do seu processo de orienta- ra só pelo lucro não é natudentro do seu método e teo- soas e profissões, e isso faz ção profissional. É ele quem ral Esse tipo de ação existe rias) trabalham com aqueles com que ela se aproxime vai estabelecer o seu projeto. em função de um grupo, de eixos que eu citei (identida- desta ou daquela carreira. O A idéia é que esse orientan- uma história, de um sistema de, informações e projeto que se falava nesses mode- do possa refletir (pensando econômico. Mas será que é profissional (trabalho)). O los anteriores é que bastava naqueles 3 temas), e desen- isso que o orientando quer grande diferencial na abor- descobrir para que servia, volver um projeto, escolher para sua vida? Nós temos dagem sócio-histórica é e encaixar a pessoa em de- uma profissão, uma carrei- que pensar em quais outras discutir o trabalho (e aí eu terminada área. Mas o in- ra. Só o teste é limitado. satisfações o trabalho pode estou me referindo a pensar divíduo não é estático. No Podemos até utilizar alguns trazer, quais realizações, que “o que é o trabalho”. Qual momento em que se aplica instrumentos, alguns recur- outros aspectos ele traz. As o seu significado para o ser um instrumento, podem ser sos do teste, mas para favo- vezes a família está influenhumano? Ou seja, pensar na reveladas determinadas ha- recer essa conscientização, ciando nessa preocupação transformação da natureza, bilidades, mas não significa e não simplesmente taxar com o financeiro, na medida sociedade e também na que aquilo não vai mudar, ou quantificar habilidades e da em que a os pais estão se do ser humano. ou que aquelas profissões competências. queixando de sua profissão, que melhor encaixam em de sua situação e de como as FE: Muitos pais nos pro- um perfil não vão mudar. FE: Ultimamente temos pessoas ganham mal fazencuram - talvez viciados pe- Assim como o indivíduo, as recebido um número do isso ou aquilo. Às vezes los modismos da década próprias profissões são di- grande de alunos que es- eles não estão ������������� falando direde setenta e oitenta, quan-


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CAPA - ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL tamente para o filho, mas é diferentes daquilo que o FE: Há um outro caso que a música não pode ser um valor que importa para trabalho deveria proporcio- frequente: alunos que re- um projeto profissional e de o pai e isso influencia. nar. E aí, numa sociedade solvem assumir uma pos- vida? E alguns profes- como a nossa, a gente tra- tura pragmática (no caso É claro que isso não sores (ensino médio e curs- balha tendo em vista não o financeiro) e que parale- é tão simples e que algumas inho) também têm, a partir da sua história, alguns valores que influenciam muito os alunos. Ou seja: aquele aluno que vai bem em matemática necessariamente tem que fazer um curso de exatas. Será que isso é certo? Ou outro exemplo: escolhi fazer medicina porque eu era um bom aluno. Ora, bons alunos não podem fazer outros cursos? Então muita gente escolhe influenciada por esses modelos, A professora e psicóloga Denise: é errado pensar que as pessoas já nascem com qualidades específicas mas sem saber realmente o que é a profissão. produto direto do nosso tra- lamente a isso acham que profissões precisam ainda balho, mas o salário no final poderiam desenvolver conquistar um espaço, um FE: Ultimamente há um do mês. Focaliza-se muito um hobbie. (Exemplo: reconhecimento, mas eu grupo de alunos que sim- mais o fator econômico e “-Eu faço administração, acho que é muito difícil alplesmente não se encaixa que não está diretamente mas eu toco guitarra, sou guém estabelecer a adminisem profissão (em área) relacionado com o produto músico. Então, eu poderia tração como projeto profisalguma. Como se faltasse direto do trabalho. ganhar dinheiro durante sional, sem ter um interesse motivação, como se es- o dia e à noite eu poderia real nela. tivessem completamente FE: Esse também seria o tocar). Até quanto isso é Outra coisa que tem perdidos. A atitude deles papel da escola, no sen- uma ilusão ou uma pos- acontecido em função disé alienante perante a reali- tido de criar um modelo sibilidade? Qual seria seu so, são pessoas que tomam dade. Qual é o seu ponto diferenciado? conselho num caso dess- a meta de passar em deterde vista? R: Sim. O que essa escola es? minado vestibular (mesmo R: Essa é uma pergunta tem despertado no aluno? R: Quando falamos de pro- que não seja a meta profisdifícil. Temos que pensar Às vezes a gente encontra jeto profissional, não dá pra sional). Essa pessoa faz a assim: que espectativas essa apenas uma reprodução de desvincular de projeto de escolha baseada em uma pessoa vê na sua vida? O conteúdo, não um desen- vida. O que ele quer para coluna da relação candidaque o trabalho tem trazido volvimento de crítica, de sua vida? Será que ele quer to/vaga. Isso é muito grave; para as pessoas? Que tipo reflexão, de análise dessa so- trabalhar como administra- que escolha é essa? O jovem de trabalho tem sido desen- ciedade e de possibilidade de dor, é dessa forma que ele se pode se frustrar assim; ele volvido na nossa sociedade? superação dessa condição, vê no mundo, que ele se re- às vezes não admite ter que O trabalho deveria ser uma pois quando a gente fala do aliza? O que leva essa pessoa fazer uma nova escolha e acaba continuando naquela profissão, mes“A orientação vocacional ainda é aplicada porque os pais e mo sem ser uma os alunos esperam uma resposta rápida e que não contenha escolha satisos conflitos nessa escolha. Mas sempre existem conflitos fatória. O resultado são inúmequando se trata de uma escolha. Há ganhos e perdas.” ros profissionais insatisfeitos, que estão intervindo transformação, um tipo de trabalho como superação, a pensar na administração de alguma forma no munintervenção na realidade, a gente fala de transforma- como profissão e na músi- do. Por isso, quando se fala algo que contribuísse com ção; não é produzir o que ca como hobbie? Por que de escolha, quem faz essa essa realidade, mas que tam- está aí, já posto. A partir do a nossa sociedade (família, escolha tem que pensar que bém trouxesse uma satisfa- trabalho, que condições escola, grupo) valoriza algu- isso vai ter um reflexo para ção, uma realização, um de- existem para desenvolver e mas profissões e não outras? os outros. senvolvimento. Mas muitas transforma r essa situação? Será que as pessoas não tem vezes o que a gente encon- A escola, muitas vezes, condições, a partir da in- FE: O que pode ser feito tra no trabalho não é isso. não faz essas perguntas e tervenção na sociedade, do em uma orientação profisA gente encontra adoeci- não estimula essa transfor- desenvolvimento, do tra- sional a partir do primeiro mento, stress, condições mação. balho, de mudar isso? Será ano (secundário)? É tarde

demais, ou há tempo suficiente? R: Eu acho ideal, pois muitas vezes o aluno pensa nisso só lá no terceiro ano e lá ele já está muito próximo de fazer a escolha. Quando se discute orientação profissional a partir do primeiro ano (tem projetos que começam antes, até com crianças), realiza-se um trabalho de longo prazo. Nesse caso, o orientando tem um tempo grande para conhecer várias profissões, fazer visitas a universidades, a ambientes de trabalho. Não basta só ler o manual, essa é uma fonte de informação, mas não a única. Também não basta entrevistar um profissional. Podemos encontrar profissionais satisfeitos e insatisfeitos com seu emprego. Há pessoas que ficam no emprego só porque ganham bem, ou por outros motivos. É sempre bom salientar que não existe apenas uma escolha. Às vezes a pessoa tem alguma restrição econômica, por exemplo, e não pode sair da cidade. Então ela tem que analisar qual a melhor escolha naquele momento. FE: Qual a metodologia que você aplica junto ao adolescente na orientação profissional? É individual ou em grupo? R: Preferencialmente em grupo, mas dá para ser realizada individualmente. A gente prefere o grupo, porque a pessoa consegue identificar situações semelhantes às dela. Por exemplo, ela pode não reconhecer as influências dos pais em sua escolha; à medida que o colega fala sobre o mesmo assunto, ela poderá perceber essa influência. E também pode aproveitar as estratégias que o colega usa para lidar com essa influência dos pais. Quando trabalhamos em grupo, temos várias pessoas buscando várias informações diferentes, e isso amplia nossa atuação. Denise Combinato é doutoranda em Saúde Coletiva pela unesp


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especial - EDUCAÇÃO

Matemática: a lógica da dificuldade Por que ninguém mais entende nem os problemas básicos? Luís Paulo Domingues

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m que momento do século XX as pessoas perderam a prática na matemática? Mesmo se levarmos em conta as operações mais cotidianas, percebemos que a matemática se tornou um mistério e um obstáculo para os afazeres diários. Que diremos então das equações mais complexas, usadas no mundo acadêmico? A Folha do Estudante entrevistou especialistas na área, buscando compreender as causas da dificuldade que os alunos têm para compreender matemática.

Método Kumon

Em 1954, o professor de matemática Toru Kumon entrou em conflito com seu filho. Ele havia tirado uma nota baixa (7 para ele era muito baixo) em matemática. Buscando a recuperação do filho na matéria, Kumon criou um material para o estudo da disciplina. Estudando meia hora todos os dias (uma das prerrogativas do mé-

Progressão continuada

A Doutora Emília de Mendonça Rosa Marques é professora do departamento de matemática da Unesp há 18 anos. Segundo ela, há vários fatores que explicam a falta de interesse e compreensão em matemática nos dias atuais. Um deles é a progressão continuada. “-Como a progressão continuada é um problema maior na base, lá na educação infantil e fundamental, acredito que o cerne do problema esteja aí”, comenta.

todo), o filho de Kumon nos do ensino básico, até em que você, sozinho, tornou-se o 1o de sua os do 2o ano de engenha- consegue descobrir onde classe em matemática, ria. “-Em todos os casos, está errando, tudo fica em apenas seis meses. O porém, não há nenhum mais fácil e o aprendizado professor, então, resolveu tipo de mágica”, enfatiza flui”, define Brumatti. divulgar e aperfeiçoar o Vilma. “-É um planejamétodo, e em dois anos mento de estudos base- Questão de edufundou suas primeiras ado em esforços diários, cação escolas, que se tornaram na motivação das caracte Luciana Godoy é franquias e se espalharam rísticas positivas de cada coordenadora de franpelo mundo. Hoje, há indivíduo e no acompaquias da Kumon e acha mais de 4 milhões de alu- nhamento intensivo dos que a dificuldade que os nos do método Kumon pais - no caso de crianças jovens têm para aprenem 45 países. e adolescentes”, compleder matemática é uma “-Trata-se de um menta. “-Quando esses questão de educação. “-A método de estudo com- componentes já estiverem cultura educacional mupletamente individuali- estruturados na mente e dou muito nas últimas zado, que é aplicado di- no cotidiano do estudandécadas. Além da escola, ferentemente para o caso te, ele vai começar a deso jovem tem o dia dividiespecífico de cada aluno”, cobrir os defeitos que o explica Vilma Brumatti, professora de matemática, coordenadora pedagógica e dona de uma franquia Kumon. “-Não é um método para quem vai mal em matemática. Temos muitos casos de alunos que vêm até nós para corrigir deficiências, mas também temos muitos alunos que são excelentes em suas escolas e nos pro- Será que os números ficaram mais confusos ultimamente? curam para aprimorar mais ainda a habilidade levam a errar as equações do em diversas outras atina matemática”, explica. e a pensar que não gosta vidades (futebol, natação, Brumatti diz que o de matemática”, explica. inglês, música...). A escola método ensina desde alu- “-A partir do momento “-Podemos usar essa afirmação até para explicar a questão das escolas particulares. Se você levar em conta que há algumas décadas o ensino público era o melhor, o particular já adotava, por questão de sobrevivência, a progressão. Depois isso foi incluído na esfera pública”, argumenta Emília. Questão lógica Segundo a Doutora Emília, nas últimas décadas as inovações tecnológicas, principalmente as da mídia, foram relevando o pensamento a segundo plano. As pessoas, ainda segundo ela,

passou então a ser apenas mais uma atividade, e isso pode ser muito prejudicial”, salienta Luciana. Ela diz que os pais são muito responsáveis por esta realidade, pois eles também enxergam a escola como mais um assessório. “-No passado, a criança (ou o jovem) chegava em casa vindo da escola, tinha que estudar e pronto. Era uma imposição dos pais. Hoje parece que os filhos negociam tudo e os pais abrem espaço para que isso aconteça. Luciana lembra que o modelo de ensino atual do segundo grau, que só vislumbra a aprovação no vestibular, também é responsável pela deficiência extrema que as pessoas têm na matemática. “-O professor fica tentando tirar dúvidas da equação “x” porque é ela que vai cair no vestibular, mas a dúvida está lá atrás, nas equações básicas. O aluno não sabe dividir”, exemplifica Godoy. A Kumon chegou em 1977 ao Brasil, onde possui mais de 1700 franquias.

foram se acostumando a sição com as crianças que gente que pensa que este receber as coisas prontas se divertiam na rua e com problema não atinge um e a não ter mais que pen- as antigas brincadeiras”, aluno de matemática na sar sobre elas. completa Emília. faculdade, mas isso é um “-Antes, nós tínhaengano. Eles têm facilimos problemas para resolver a todo tempo, “-Eu privilegio a teoria, nunca as fórmulas. A problemas que incentivavam o geração de hoje está treinada para fazer só o pensamento e que já sabe, quando deveria buscar o que não as soluções lógicas”, declara. sabe. Por isso eu não dou mais exemplos. Explico “-Hoje, uma a teoria e digo para eles buscarem como fazer.” pessoa que fica em frente a TV pode apenas receber informações prontas. Se ela Ensino superior dade em entender as tefica 8 horas em frente a Emília explica que orias mais difíceis, mas TV, pode passar 8 horas a dificuldade aparece in- chegam aqui com muitos sem pensar em nada”, ex- clusive com seus alunos problemas de operações plica. “-É a mesma coisa da Unesp, que já estão fundamentais, de base”, com uma criança com o na formação superior conta a Doutora. videogame em contrapo- em mátemática. “-Tem


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ESPECIAL - CIÊNCIA

Quando a ciência é uma necessidade

Reconhecidos internacionalmente, PHD’s da USP e Unesp falam sobre física e pesquisa

V

ivendo em um mundo que vislumbra o lucro e o conforto material em primeiro (e às vezes único) plano, a procura pelas carreiras científicas e o interesse pelas preocupações que a ciência suscita podem estar em declínio. Bem, isso se partirmos do senso comum. Já para os professores George Matsas e Manoel Robilotta, que dedicam sua vida à física, a ciência continua a ser uma paixão e um grande desafio. Matsas é Titular do Instituto de Física Teórica da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e Robilotta é Titular do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo). Ambos têm pós-doutorados realizados no exterior, assim como trabalhos publicados em diversos países. Eles falaram para a Folha do Estudante sobre a dedicação à ciência e a realidade dos profissionais que trabalham com pesquisa no Brasil. (LPD)

A ciência é constantemente colocada em segundo plano quando se pensa em traçar carreiras: reflexo dos dias de hoje

so. É um reflexo do modelo de ensino, que prepara especificamente para o vestibular, e também da própria família, que quer garantir o futuro financeiro do filho e foca a atenção dele em um vestibular que traga a oportunidade de conseguir isso. Porém, sempre haverá os verdadeiros idealistas da ciência. A nata da ciência continua existindo e sempre existirá.

privadas, quase nada de pesquisa pode ser desenvolvido. Mesmo nos Estados Unidos, onde a maioria das universidades são privadas, o investimento dos órgãos federais é o mais importante para o financiamento das pesquisas. Nem as mais conceituadas universidades privadas americanas conseguiriam sustentar a pesquisa sem dinheiro público. Por outro lado, a iniciativa privada também participa dos investimentos em pesquisa nos Estados Unidos. Empresas como Dell e IBM financiam trabalhos científicos a longo prazo. Isso no Brasil, quando existe, só acontece por parte de alguma empresa que necessita de um produto desenvolvido para ela, rapidamente. Trata-se de financiamento a curto pra-

tista não é como um profissional liberal, que pode terminar o expediente, ir para casa e se desligar do trabalho. A ciência é um estilo de vida e a pessoa que opta por essa vida tem que estar preparada. Se ela estiver em dúvida (se quer a ciência ou não), é porque não está preparada e não será cientista.”

Manoel Robilotta

“-Eu não acredito muito que o jovem de hoje não queira a ciência. Acho que ele é levado a Investimento em procurar outra carreira George Matsas por causa do modo que “-O mundo era pesquisa o mundo de hoje está esA universidade bem diferente há 30 anos. truturado. Por exemplo: a pública é a pilastra da As causas abraçadas pela humanidade sempre espepesquisa no Brasil. Se ela rou o melhor da ciência, juventude naquela época acabar, acaba a pesquisa. mas hoje a mídia é a grannão eram as mesmas de É meio um senso comum de divulgadora da ciência hoje. Aquele mundo da dizer que a universidade para o grande público, e utopia, da luta pela mu- pública está sucateada e ela trata das descobertas dança e pela coletivida- que não há investimento como se tudo fosse um de, foi suplantado pelo em pesquisa. Mas isso, espetáculo superficial. O poder público, por sua vez, tirou do ensino básico toda a ênfa“Às vezes me perguntam se, no mundo de hoje, a ciência é se e a profundidade que uma opção para o jovem. Eu digo que não, pois a ciência a ciência tem. E esse é o maior problema do Branunca é uma opção e sim uma necessidade.” George Matsas sil, em relação a este assunto. Nós estamos bem de ciência. Estamos cheimediatismo da sociedade pelo menos no campo de zo, que não serve tanto à gando aos patamares dos atual, extremamente pre- exatas das universidades ciência, mas sim à tecno- melhores do mundo. Mas paulistas, não condiz com ocupada com o conforto a realidade. Há o inves- logia. o problema é: como o aluno consegue enxergar material. Hoje o mundo timento e ele está sendo Ciência é uma a ciência desde o ensino é um ambiente pragmáti- convertido em trabalho, necessidade fundamental? co demais, que pouco tem desenvolvimento e des Às vezes me percobertas. No meu caso, guntam se, no mundo de a ver com a ciência. Investimento em A ciência, portan- além da Unesp, eu ainda hoje, a ciência é uma oppesquisa II to, é o ambiente das pes- sou financiado pela FA- ção para o jovem. Eu digo Não há como fazer soas curiosas, e hoje o es- PESP, pelo CNPQ e pela que não, pois a ciência pesquisa sem a universiCAPES. nunca é uma opção e sim tudante secundarista não Nas faculdades uma necessidade. O cien- dade pública. Isso porque as instituições privadas é estimulado a ser curio-

(de ensino ou não) só se interessam pelo investimento a curto prazo, que desenvolva o projeto que elas precisam no momento. Isso está longe das verdadeiras preocupações da ciência, pois trata-se de desenvolver um produto, e desenvolvimento é diferente de ciência. Apenas algumas empresas americanas, como a Dell, têm laboratórios parecidos com os das universidades. As universidades públicas paulistas, portanto, são as grandes fomentadoras da pesquisa no Brasil, assim como os órgãos governamentais, como a FAPESP, o CNPQ e a CAPES. O pesquisador que é assistido por essas instituições é privilegiado, pois não há intervenção do governo ou do órgão financiador na pesquisa. O cientista tem liberdade para desenvolver seu trabalho. Por isso, é um absurdo quando dizem que as universidades públicas têm que ser privatizadas e que o ensino deveria ser pago, pois as mensalidades nunca pagarão a pesquisa que é desenvolvida no país. Já para citar alguma instituição de ensino privada que se destaca em pesquisa, eu me lembraria de alguns trabalhos desenvolvidos pela PUC e pelo Mackenzie.” Envie comentários para folhaestudante@gmail.com


2008  FOLHA DO ESTUDANTE  7

especial - EDUCAÇÃO

Ensino médio: métodos e focos para a transformação Luís Paulo Domingues

A

educação é repensada de tempos em tempos de acordo com o momento histórico em que está inserida. Ao longo dos séculos, os métodos de ensino vão se sucedendo em busca da compreensão, da assimilação e da

interação das crianças e dos jovens com o mundo do qual participam. Porém, pouco da conformação - do design e da arquitetura interior - da sala de aula mudou com o tempo. As carteiras enfileiradas, uma atrás da outra, o professor como detentor do

saber e autoridade dentro da classe foram a tônica do ensino até hoje. Agora, novos desafios são proposto no universo escolar. A tecnologia aplicada à educação (vídeos, projetores, computadores) já é uma realidade presente na vida de uma boa parcela dos

jovens no Brasil. E essa parcela tende a aumentar, atingindo, inclusive, o ensino público. De que forma, então, as escolas podem estar prontas para implantar adequadamente essa prática em seu cotidiano? Como o ensino médio pode ser pensado

dentro desse contexto, para que deixe de ser apenas uma ferramenta para o ingresso nas universidades e cumpra seu papel de formação do indivíduo? - e dentro dessas questões, como pensar o ensino apostilado?

José Carlos Martins da do as escolas se põem característica fundamen- didáticos que treinam os e pronto, sem focar o Silva: Diretor Pedagógico do a fazer um verdadeiro tal do segundo grau - que alunos para o vestibular. aprendizado. Aí os pais Colégio Pueri Domus, de São Paulo;

Para o diretor do Pueri Domus, o ensino médio possui duas vertentes. “-A principal é a conclusão da educação básica, que deve consolidar o que o aluno aprendeu desde a escola infantil, para que seja possível a construção de um novo conhecimento posterior”, diz José Carlos. “-Mas também não se deve desprezar o vestibular. Hoje o mercado já está disputadíssimo para aqueles que têm bons cursos superiores. Imagine, então, as dificuldades para alguém sem diploma. Por isso o vestibular deve ser focado pelo ensino médio como um fator importante”, define. O problema, segundo Martins, é quan-

“adestramento”, treinando o aluno apenas para decorar fórmulas que proporcionem a aprovação. “-Mesmo assim, esse método não deixa de ser uma opção”, garante. “-Há famílias e escolas que optam por esse condicionamento puro e simples. Isso é uma escolha, que não é a melhor, mas que acaba colocando muita gente em bons cursos”, diz José Carlos. O diretor diz ainda que esse fato é um reflexo das provas oferecidas por muitos vestibulares de instituições importantes. “-As provas da Vunesp e da Fuvest, por exemplo, não refletem o conteúdo que o aluno terá dentro da instituição se for aprovado”, declara Martins. “-São provas que acabam tirando a

Ana Maria Lombardi nha tese de doutorado”, Daiben: Pedagoga, douto- explica. “-Então eu perra em educação gunto: se tomarmos essa definição como válida, Para a pedagoga como podemos dizer que Ana Maria Daiben, a fase este modelo que “treina” em que o jovem está no para o vestibular seja eduensino médio é um mo- cação?”, pergunta. “-Se a mento muito importan- educação é um processo te para sua vida. Por isso de reflexão e libertação, é mesmo, ela diz que é ex- também contrária a qualtremamente preocupante quer condicionamento, é que esse espaço tão rico o terreno fértil de alguém do ensino médio seja usa- que não se quer condiciodo para “treinamento” de nado”, define Ana Maria. vestibulandos. “-O modo Daiben salienta como muitas escolas estão que o vestibular é imtratando o ensino médio, portante por ser o cerne condicionando o aluno do modelo de sociedade para que ele passe em um (tratando-se de educação teste, pode ser qualquer e de carreiras) que vivecoisa, menos educação”, mos. “-Porém, o fato de lamenta Daiben. vivermos sob este modelo Daiben define sua não significa que é o meconcepção de educação: lhor modelo”, explica ela. “-Educação é um pro- “-Os pedagogos e especesso de reflexão crítica cialistas em educação têm e libertação. Essa é uma que começar, a partir de definição que está em mi- agora, a pensar um novo

é a conclusão do ensino, o término da educação formal - e focam as questões na memorização. Mas dentro das próprias universidades, a postura é outra”, garante. “-Já no vestibular da Unicamp, a prova privilegia o aprendizado e o que foi ensinado durante a formação do aluno”. Ensino apostilado

Para o diretor do Pueri Domus, a questão do uso de apostilas depende de como é pensada a construção do material. “-Existem casos de apostilas muito bem construídas, que privilegiam a visão interdisciplinar das diversas áreas”, garante. “-A adoção de livros é mais completa, mas também existem livros projeto que possa ser aplicado”, diz Daiben. “Não condeno as escolas” Ana Maria conta que também direcionou seus filhos para o vestibular, pois tanto ela quanto eles já estavam vivendo a realidade atual. “-Porém, eu nunca os enganei, nunca disse a eles que aquilo era educação”, explica. “-Fiz o que pude para que eles tivessem o melhor ensino fundamental, pois sabia que o ensino médio já estava comprometido pela “febre” do vestibular”, completa. “-Mesmo assim, eu não condeno totalmente as escolas por adotarem essa prática de condicionamento. Afinal, trata-se de uma questão de sobrevivência. Por isso mesmo eu louvo muito aquelas instituições que

Portanto, o mais importante é analisar bem qual é o projeto político pedagógico que foi adotado (tanto para livros quanto para apostilas) e não descartar a qualidade da informação”, salienta José Carlos. É preciso haver sinceridade “-É preciso haver sinceridade por parte das escolas”, declara Martins. “-Algumas escolas fazem discursos vazios sobre o conteúdo e dizem que o aluno vai aprender, independentemente do vestibular, mas não cumprem esse discurso. “-Outras jogam limpo e dizem que o estudante vai acompanhar uma apostila que vai colocá-lo na universidade pública

podem optar sem ter surpresas depois”, pondera José Carlos. “-O Bandeirantes, que é um colégio tradicional de São Paulo, é um desses casos”, explica Martins. “-O discurso do Bandeirantes é: se você colocar seu filho aqui, ele vai passar em uma universidade pública. E passa mesmo, só que na base da “bitola” do aluno”, explica. Já o Waldorf tem um discurso completamente oposto e investe na formação, mas não aprova nos vestibulares”, diz José Carlos. “-A minha opinião é que as melhores escolas são as que adotam um meio termo entre essas duas visões”, complementa.

Os vestibulares das universidades públicas determinam o modelo do segundo grau no Brasil? Em termos. Isso é especialmente verdade em relação às escolas privadas, mais voltadas para o vestibular. De qualquer forma, o Vestibular Nacional da Unicamp busca justamente valorizar a leitura e a articulação de idéias, evitando uma concepção estritamente “conteudista” do conhecimento. Estamos praticando este outro modelo nos últimos 20 anos. Profº Leandro R. Tessler: Coordenador Executivo da Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares), órgão responsável pelos vestibulares da Unicamp:

conseguem conciliar a educação e a preocupação com o vestibular”, diz Ana Maria. Por outro lado, acha que já está havendo algum progresso. “-O fato

de os vestibulares darem peso maior para a redação e introduzirem atualidades e filosofia (em alguns casos) já significa uma abertura para a reflexão”, lembra a pedagoga.


8  folha do estudante

2008

ESPECIAL - MEDICINA

Médicos e robôs: o futuro das cirurgias Integração entre homem e robô abre nova área de atuação na medicina Luís Paulo Domingues

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em 2001 e 2002, o doutor Miguel Srougi trouxe o primeiro robô para ser usado em medicina no Brasil. Ele era titular da Escola Paulista de Medicina - hoje é titular da

USP) -, e, através de doações, comprou o equipamento para a instituição. Era apenas um braço mecânico que segurava uma câmera, onde o médico podia olhar enquan-

área”, frisa Carlo. Passerotti destaca que sua especialidade é a mais desenvolvida em termos de robótica, o que explica sua paixão pelo assunto. “-A alta ocorrên-

om 33 anos de idade, o doutor Carlo Passerotti conseguiu seu pósdoutorado em robótica pela histórica Universidade de Harvard, em Boston, nos Estados Unidos. Antes disso, cursou a graduação, especializandose em cirurgia geral e em urologia, e ainda fez mestrado e doutorado pela Escola Paulista de Medicina “-Cheguei à robótica através de uma técnica chamada laparosco- A Tecnologia avançada é a grande ferramenta da medicina moderna pia, que são as operações minimamente disciplina de urologia do to operava, mas já foi o cia de câncer de próstata invasivas”, conta Passe- Hospital das Clínicas (Fa- bastante para que eu me gerou a necessidade de rotti. “-Naquela época, culdade de Medicina da interessasse muito pela cirurgias minimamente invasivas, que trazem meEscola Pública lhores resultados. No ano passado, nos EUA, 62% O Doutor Carlo Passerotti é de Bauru, interior de São Paulo, e estudou das prostatectomias (cirurgias de próstata) foram durante a infância e parte da adolescência em escola pública. Ele diz que a opção feitas com robôs. Esperapelo ensino público foi de seus pais, por causa de um professor muito bom e de se que neste ano essa poruma diretora que trabalhavam no Colégio Mercedes Paz Bueno, perto de sua casa. Passerotti afirma que era uma boa escola e que ela lhe garantiu a base necessária para o segundo grau, cursado em uma escola particular.

Futuro promissor Segundo o doutor Passerotti, o futuro da robótica já está garantido dentro das práticas e do cotidiano da medicina. “-A laparoscopia ainda é uma realidade mais presente, mas o uso de robôs vai se difundir cada vez mais e se espalhar pelas diversas áreas da medicina”, garante. Ainda segundo Passerotti, como todas as inovações tecnológicas, as pessoas mais abastadas têm acesso maior à cirurgia robótica. “-Porém, a tendência é que os pacientes do SUS também sejam privilegiados. O Doutor Miguel Srougi, por exemplo, através de doações, deve trazer robôs para o SUS, no Hospital das Clínicas, já no próximo ano”, comenta. “-O natural é que venham mais doações,

centagem suba para 80%. Além disso, eu sempre gostei de tecnologia, então, para mim, era uma parceria perfeita”, conta. O doutor Carlo Passerotti se aplicou tanto nos estudos, que foi o primeiro aluno da Escola Paulista de Medicina a ser autorizado a fazer o mestrado durante a graduação. Ele explica que elaborou um novo método de diagnóstico de câncer na bexiga, o que lhe garantiu essa regalia. “-Então, depois do doutorado, eu ganhei uma bolsa da CAPES para fazer o pós-doutorado em Harvard, entre julho de 2005 e setembro de 2007”, explica. “-Minha tese foi em cirurgia robótica, e durante o curso fui contratado para trabalhar lá”, explica Passerotti. A partir dessa época, o médico começou a publicar seus trabalhos próprios, 27 dos quais editados nas revistas especializadas norte-americanas em um período de três anos.

Voluntariado O doutor Carlo Passerotti trabalha hoje em sua clínica, em São Paulo, e na equipe do Doutor Miguel Srougi. Além disso, atende meio período como professor assistente voluntário no Hospital das Clínicas e no Hospital Brigadeiro, também na capital do Estado de São Paulo. Para conferir imagens em vídeos de procedimentos cirúrgicos com robôs, acesse o site www.pedsrobots.com

Dr Miguel Srougi, Dr Hiep Nguyen e Dr. Passerotti

que a cirurgia robótica seja implantada em outras cidades e chegue a mais pessoas através do Estado. Mesmo assim, trata-se de uma cirurgia cara; só de material, uma operação urológica que usa robôs custa mais de 4 mil dólares”, salienta.

E a figura tradicional do médico?

O médico que pretende se especializar em cirurgia robótica deve estar ciente de que estudará programação e tecnolo-

gia. “-É preciso fazer cursos para entender e operar o equipamento. Em uma cirurgia urológica com robôs, eu opero um joystick, como os de vídeogame”, conta Carlo. “-Hoje o médico ainda tem contato físico com o paciente, mas no futuro os robôs terão até sensação tátil, o que vai afastar ainda mais o médico e colocar a máquina no cerne da questão”, explica. “-Porém, o papel e a importância do médico sempre estarão garantidos, pois existe o diagnóstico, que é fun-

damental, e não pode ser feito por um robô”, explica Carlo. Sobre a questão do status conferido tradicionalmente ao médico, Passerotti diz que ele diminuiu nos últimos tempos, desde a popularização dos planos de saúde, e também com o surgimento de novas profissões. Porém, segundo Passerotti, ainda é uma opção que compensa. “-Um médico não corre o risco de ficar desempregado. Sempre haverá emprego”, conclui.


2008  FOLHA DO ESTUDANTE  9

TEATRO | MÚSICA | CINEMA | LITERATURA

Erik Satie: o músico do surreal

O inventor da música de fundo fez de sua própria vida uma peça instigante Luís Paulo Domingues

diploma com a avaliação ambiente ( hoje chamada “três bien” (muito bom). de moozak, ou música de rik Satie nasceu em elevador). Segundo ele, 17 de Maio de 1866, Personalidade ir- era uma música que fazia na região da Normandia, reverente parte dos ruídos naturais França. Sua mãe morreu e os levava em conta, sem quando ele tinha 7 anos. Era um sujeito excêntri- se impor, que tomava Seu pai, Jules Alfred Sa- co e irreverente. Além de conta dos estranhos silêntie, francês, foi morar em compor, Satie também cios que ocasionalmente Paris e Erik foi criado por gostava de escrever e fazer caíam sobre os convidaseu tio boêmio, Adrien caricaturas, inclusive dele dos, e que neutralizava Satie. mesmo. Seus escritos au- os ruídos da rua. Mas as Aprendeu piano tobiográficos, Mémoires pessoas insistiam em ficar na cidade de Honfleur e d’um Amnésique, fizeram quietas prestando atenmudou-se para a capital sucesso. Escreveu tam- ção à sua performance. francesa em 1878. Com bém escritos em outros Daí ele e Duchamp, em 14 anos, ingressou no formatos e um livro com uma exposição, gritaram Conservatório de Paris, poemas, canções e relatos nervoso: “Falem alguma onde foi depreciado pelos que revelam seu estilo irô- coisa! Mexam-se! Não professores, sendo consi- nico. fiquem aí parados só esderado medíocre, pregui- Media 1,67 m. Era cutando!”. Na época, sua çoso, imprestável e sem o famoso por possuir 12 idéia pareceu uma piada. menor senso de ridículo. idênticos ternos cinza de Foi também um Foi morar em um veludo e fazia coleção de dos precursores do mipequeno quarto de hotel. guarda-chuvas e cache- nimalismo, abolindo as Tornou-se pianista na casa cóis. Detestava sol. Tinha estruturas complexas e Chat Noir (onde se apre- mania de comida branca: sofisticadas, com absolusentou ao gerente como arroz, ovo, coco, peixe, to despojamento e simsendo “gymnopedista”) e nabo, queijo, entre ou- plicidade da forma. Seu Auberge du Clou, onde tras. primeiro exemplo foi a conheceu Debussy, que Seu único amor peça Vexations, uma obra viria a ser um grande mú- foi a vizinha pintora e formada por 32 compassico. modelo de Renoir e De- sos que se repetem 840 Em 1891, influen- gas, Suzanne Valadon. O vezes. ciado pelo amigo Joseph- romance, que durou só 6 Foi mentor do gruAimé Paladan, ingressou meses, começou em 14 de po chamado “Les Six”, na ordem Rosacruz, uma Janeiro de 1893 e Satie a uma banda de vanguarda instituição voltada para o esoterismo, e também escreveu algumas músicas para as cerimônias rosacrucianas. Mais tarde, fundou sua própria igreja, “L’Eglise Métropolitaine d’Art de Jésus Conducteur”, da qual era o único membro, e excomungava todos que discordassem dele. Em 1898 deixou seu quarto de hotel e mudouPobreza e solidão: Satie teve o mesmo fim de muitos gênios da arte se para um lugar mais miserável ainda, no pediu em casamento logo que reagiu contra a insubúrbio industrial de no primeiro dia, mas ela fluência do romantismo Paris, onde morou até sua acabou casando-se com e do impressionismo na morte. Caminhava nove outro. música. Esse grupo tinha quilômetros todos os dias a supervisão de Jean Cocpara ir tocar em Mont- Vanguarda e mú- teau. martre. sica de elevador Ele e Picasso foram Com quase 40 grandes amigos. Picasso anos, surpreendeu a to- Foi o inventor, jun- disse inclusive que Satie dos quando resolveu vol- to com Marcel Duchamp, foi uma das influências tar a estudar. Em 1905, da música ambiente, que mais importantes em sua ingressou na Paris Schola ele chamava de musique vida. Em 1917, os dois Cantorum e estudou con- d’ameublement. A músi- trabalharam juntos para traponto e orquestração. ca sendo usada como uma um famoso ballet russo. Após 3 anos, recebeu o mobília, para preencher o Satie compôs a música,

E

A personalidade encarada como um elemento artístico

inovadora e original, na qual incorporou sons de máquina de escrever, sirene e tiro de pistola, e que foi objeto de escândalo. Picasso cuidou do cenário e do vestuário. E Jean Cocteau escreveu o argumento. Foi quando apareceu pela primeira vez o termo surrealismo, usado por Appolinaire sobre a peça, para descrever uma criação artística que explora o mundo dos sonhos e do subconsciente. A palavra “surrealismo” descreveu mais tarde todo um movimento artístico e literário que viria a surgir. Em 1918 escreveu Socrate, drama sinfônico, para quatro sopranos e pequena orquestra, com textos de Platão traduzidos por Victor Cousin, de uma austeridade extrema. Foi sua obra prima, que marcou sua mudança de estilo e gênero. Satie era desprezado pela maioria dos críticos e compositores de sua

época, que consideravam estranhas suas harmonias e melodias. De fato, não era um grande compositor e possuía poucos recursos técnicos, mas seu estilo musical, sua simplicidade e suas harmonias inovadoras romperam com o romantismo da época. “Música sem chucrute!”, dizia ele. Tornou-se “cult” entre os jovens compositores, que eram atraídos pelos títulos bem-humorados de suas peças, e exerceu grande influência em seus amigos, os notáveis contemporâneos Debussy e Ravel, mudando assim o curso da história da música. Após anos de bebedeira, morreu de cirrose em 1º de Julho de 1925. Em seu quarto acharam, atrás de seu velho piano, uma música que acreditavam perdida, que ele tinha escrito uns 26 anos antes, chamada Jack-inthe-box.


10  folha do estudante

2008

ESPECIAL - MEIO AMBIENTE

Bambu: a madeira do novo milênio

Praticamente tudo o que o homem utiliza pode ser feito de bambu, um material completamente ecológico Luís Paulo Domingues

A

estudo e utilização dessa madeira no Brasil. “-O problema é que o emprego do bambu em nosso pais está muito aquém da capacidade. A China é o maior produtor do mundo, pois lá há uma cultura de mais de 3 mil anos de convivência com o material. Aqui na América Latina, o Equador e a Colômbia têm um histórico de investimento e exploração do bambu muito maior que o nosso, em virtude de programas de habitação pública, apesar de o Brasil ter muito mais presença desse vegetal”, explica Saloni.

alto padrão. Há inúmeros modos de se trabalhar o bambu e algumas empresas que lidam com o público de alto poder aquisitivo, mesmo aqui no Brasil, já estão comprando e incentivando a produção de materiais finos feitos de bambu”, explica. “-Além disso, pensa-se que o bambu é um material fraco, mas no Japão ele já é usado como viga de concreto para prédios de até 4 andares.” Saloni mostrou um CD com imagens de centenas de situações em que a gramínea é usada. A Tock Stock, por exemplo, referência em móveis e decoração de alto padrão, comercializa luminárias e móveis projetados e produzidos inteira ou parcialmente de bambu. Pranchas de surf, bicicletas, pisos para casas e até uma residência imensa em um condomínio fechado no Equador foram outras aplicações interessantes retratadas nas imagens do CD de Saloni.

China fatura 3 bilhões e meio de dólares por ano com as atividades referentes ao bambu. 5 milhões de famílias daquele país vivem das mais de 3.500 aplicações conhecidas até hoje para essa madeira completamente ecológica. Além disso, mais de 1 bilhão de pessoas moram em casas de bambu em todo o mundo. O Bambu é ecológico porque não polui o meio ambiente, e sua extração não representa a destruição das matas, pois trata-se de uma madeira que se renova em pouco Bambu sofisticatempo. do “-Na verdade, o O artista plástico integra a ONG EbioOutras aplicações bambu, que trabalha para -pontes (inclusive para passagem de a disseminacarros), ção do uso e -telhas, da exploração -bebidas, -alimentos, do bambu -remédios, no Brasil. Sa-contenção de encostas de rios, loni salienta -mobiliários, que é preciso -sustentação para lajes, desmitificar -barracas, as pessoas -stands comerciais, sobre certos -utensílios domésticos, preconceitos -acessórios para roupas, quanto essa -álcool, madeira: -óleo, “-As pessoas -mata ciliar. têm uma ten-divisórias de casas ou escritórios. dência a associar o bambu Correndo conbambu, por ser uma gra- com coisas rústicas, mas tra o tempo mínea, precisa de corte ele se presta a qualquer para se renovar”, diz o aplicação, desde constru- “-Dois motiartista plástico Paulo Sa- ção, decoração, produção vos pelos quais nós loni, um dos pioneiros no de materiais, até design de não podemos demorar para desenvolver uma cultura do Alguns exemplos das inúmeras aplicações que o bambu proporciona Nossa opinião bambu no Brasil são Saloni ministra pa- logicamente correto poro esgotamento do mate- lestras sobre a importância que tem dez vezes mais Nesta época em que o mundo procura rial na China e o fato de da utilização do bambu biomassa que as outras alternativas ecológicas para a questão do meioa América do Sul possuir para o meio ambiente e madeiras, polui muito ambiente, é importante observar o quanto essa um terço do bambu de para a sociedade (leia-se menos ( produz 25% a questão é enviesada por governos (inclusive o todo o mundo”, enfatiza principalmente “empre- mais de calor) se usado nosso) que querem impor uma dicotomia entre a o artista. gos”), além de desenvol- como carvão, pode ser uti Ainda segundo questão do petróleo e do biodiesel como únicas ver um projeto piloto lizado para limpar a água Saloni, o bambu já sofre no distrito de São Fran- e as encostas dos rios, é alternativas ambientais. uma industrialização pe- cisco Xavier, pertencente um anti-bactericida natu A aparente vantagem do bio-combustível, sada em todo o planeta. a São José dos Campos, ral e faz mais fotossíntese, tanto alardeada pela grande imprensa e pelo Trinta por cento do papel para a difusão da cultura gerando 20% a mais de governo, ignora o problema do latifúndio, do planeta já é feito de do bambu na mentali- oxigénio. os impactos ambientais e os arcaicos grupos bambu. Basta, agora, di- dade da população local econômicos que estão por trás dessa produção. recionar a produção para e para formação de coo- Bambus All, arte em bambu: Soluções como o bambu não podem ser todas as outras áreas em perativas que trabalhem http://www.ebiobambu.com.br que essa madeira se encai- essa madeira. ignoradas. xa. O bambu também é eco-


2008  FOLHA DO ESTUDANTE  11

ESPECIAL - MEIO AMBIENTE

Chernobyl: 22 anos depois, uma reflexão

Maior acidente nuclear da história, Chernobyl proprõe debate perpétuo sobre energia nuclear nidade internacional e da Secretário Geral do Parprópria população por tido Comunista e Presi dias. Não se pode, ain- dente da União Soviétienergia nuclear, ao da hoje, calcular quantas ca, Mikhail Gorbachev, contrário do que pessoas morrerão de cân- apareceu na TV e leu a avalia o senso comum, é cer por terem ficado ex- notícia estarrecedora. A considerada uma energia postas. O Kremlin só di- demora do Kremlin para limpa. Outras forvulgou a tra- anunciar o desastre e tomas de produção gédia depois mar atitudes de salvamenenergética, como que países da to foi determinante para o petróleo, as usiEscandiná- o aumento do número de nas hidrelétricas e via entraram incidência de mortes nos térmicas poluem em alerta por dias que se seguiram à camuito mais o meio causa dos ní- tástrofe e, por câncer, nos ambiente no dia-aveis de radia- anos seguintes. dia e em condições ção muito As áreas rurais e normais. O probles u p e r i o r e s urbanas próximas a Cherma é que um acidente nuclear causa Chernobyl é uma cidade fantasma há mais de 22 anos aos normais nobyl se tornaram locali- Dinamar- dades fantasmas. Vídeos uma destruição avassaladora para a natureza e delas foi tarde demais. A ca e Suécia eliminaram a feitos anos depois do aciincidência de câncer na possibilidade de um aci- dente mostram que a popara o homem. Foi assim há vinte região é uma das maiores dente interno e, pela di- pulação não levou absoe dois anos, na madruga- do mundo, desde o aci- reção dos ventos, deram lutamente nada consigo, o alarme para o mundo. pois roupas, brinquedos, da do dia 26 de Abril de dente. objetos e 1986. Um dos reatores da A exploutensílios usina de Chernobyl, na são liberou a maior parte da domésticos Ucrânia - então república nos também essoviética - explodiu depois radiação tavam conde um teste de segurança primeiros dias taminados. mal sucedido, matando depois da explosão, mas os Ucrânia, dezenas de funcionários Bielorrúse liberando toneladas de escombros do sia e Rússia material radioativo na reator continuagastam, até atmosfera. A radioativi- ram a emanar a fumaça tóxica, hoje, pesadade provocou terríveis das somas consequências, chegando até que as equi- Atmosfera lúgubre: a placa indica a causa das mortes com a desa atingir até países euro- pes do governo peus longínquos, como construíram um “sarcó- No mesmo momento, contaminação das áreas fago” que selou o restante um satélite que passava atingidas. Noruega e Inglaterra. Os países mais do material sob toneladas sobre a Ucránia fotogra- As equipes soviéfou a usina de Chernobyl ticas de resgate e as que afetados, no entanto, fo- de cimento. ram Ucrânia, Bielorrús- As estatísticas de com um de seus reatores foram designadas para sia (hoje Belarus) e Rús- Chernobyl não são e nun- destruído, sem a cúpula limpar o lixo tóxico e sia. Grandes áreas dessas ca serão precisas, pois o superior, lançando fuma- construir o “sarcófago” em torno do reator foram nações sofreram muitos governo soviético escon- ça na atmosfera. danos por causa da ra- deu o acidente da comu- Só então é que o praticamente dizimadas Luís Paulo Domingues

A

diação, o que provocou a evacuação de mais de 200 mil pessoas, que tiveram que deixar suas casas e empregos para morar em regiões distantes da contaminação. Para muitas

Questão de Biologia: Clonagem Em 1972, pesquisadores norte-americanos trabalharam com plasmídeos bacterianos, tentando isolar genes manipulando enzimas de restrição. Em 1977 obteve-se pela primeira vez a síntese de uma proteína humana por uma bactéria transformada. A insulina foi a primeira proteína humana produzida por engenharia genética em células de bactéria e aprovada para o uso em humanos. Antes dessa experiência, a fonte desses hormônios para tratamento do diabetes eram os pâncreas extraídos de bovinos e suínos.

Porém, a insulina extraída desses animais causava problemas alérgicos no paciente. Já a insulina produzida por bactérias transformadas é idêntica à do pâncreas humano e não causa efeitos colaterais alérgicos, devendo substituir em definitivo a insulina animal. Uma forma de clonar um segmento de DNA é introduzi-lo no cromossomo de uma bactéria. As bactérias possuem um DNA principal e um pequeno DNA circular, o plasmídeo, que pode duplicar-se independentemente do DNA principal. Com o

auxílio de uma enzima de restrição, é possível abrir o plasmídeo e introduzir nele um fragmento de DNA de uma célula humana responsável pela produção de insulina. Depois que recebe o novo fragmento de DNA extraído de uma molécula de insulina, o plasmídeo torna-se um DNA recombinante. Ou seja, uma molécula formada pela associação de duas ou mais moléculas de DNA são encontradas na natureza e são introduzidas na bactéria que passa a produzir a insulina humana, que são hormônios secretados por

pelas doenças decorrentes da exposição. A flora e a fauna também sofrem com a radiação. Os animais da região nascem frequentemente deformados e as árvores apresentam anomalias. Mesmo com a construção da imensa redoma de concreto em volta do reator, a possibilidade de vazamento não está descartada. Os especialistas designados para monitorar os restos do reator já percebem que a velocidade de corrosão do concreto em Chernobyl é muito grande e que pequenas rachaduras já começam a aparecer e podem, no futuro, liberar o lixo radioativo que está lá dentro. Vinte e dois anos após o maior acidente da história, a comunidade internacional e todos os órgão competentes para discutir o assunto ainda têm muitas dúvidas e receios sobre a energia nuclear. A truculência das nações mais poderosas impede que tenhamos uma visão isenta e segura do que representa a produção de energia nuclear no planeta, bem como de seus reais benefícios e perigos. De concreto, temos apenas o legado de Chernobyl.

Luis Carlos Bernardes

células pancreáticas que controlam a utilização da glicose pelas células. Quando a bactéria se reproduz, o DNA recombinante também se duplica, passando cópias de DNA para as “bactérias-filhas”. O conjunto de moléculas de DNAs idênticos, obtido através da replicação da célula bacteriana transformada, constituiu um caso de clonagem molecular. -Questão: Sabemos que as pessoas hemofílicas são desprovidas do fator VIII, ligado ao cromossomo X, que desencadeia os fatores de coagulação presentes no plasma sanguíneo.

Um dos tipos mais graves é a hemofilia A. O alelo (gene) normal H produz o fator VIII funcional e atua como dominante condicionando o fenótipo não hemofílico; o alelo mutante h, recessivo, condiciona a ausência do fator VIII, causando a hemofilia. Usando-se a técnica utilizada na obtenção da insulina humana por meios de bactérias, quais os procedimentos a serem realizados em uma possível produção do fator VIII para terapia de pessoas hemofílicas? Luis Carlos Bernardes é professor de biologia


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2008

ESPECIAL

Síndrome de Outubro: míto ou verdade? Por que o desempenho de alunos e professores cai em Outubro? Luís Paulo Domingues

N

o universo educacional, é comum que os profissionais se deparem com a queda de rendimento dos alunos a partir do mês de Outubro. A Folha do Estudante procurou responder algumas dúvidas sobre esse possível fenômeno. Existe mesmo uma síndrome de Outubro? O que causaria a queda de produção dos alunos e dos professores nessa época do ano? A Doutora Marisa Meira é professora de psicologia da educação no departamento de psicologia da Unesp (Campus Bauru). Para ela, o nome “síndrome de Outubro” não é muito adequado para esse fenômeno hipotético. Hipotético porque, segundo a professora, não há nada que embase cientificamente a tal queda de produção nas escolas em Outubro. “-Acredito até que haja uma queda de rendimento em Outubro, mas isso não deve ser tratado como uma síndrome, pois esse nome acaba fazendo parte de uma grande tendência atual que as pessoas têm de “medicalizar” as ações humanas”, explica. “-Ou seja, se a pessoa está triste, é depressão; se o

de um apelido, devemos utilizá-lo com cuidado”, explica Marisa. A professora diz que hoje é comum a mídia “naturaliza” as ações humanas. “-Do ponto de vista científico-psicológico, nada no homem é natural. Tudo tem uma

das atividades escolares, o rendimento dos alunos é tão ou mais baixo que em Outubro. “-Mas aí, de acordo com a tendência de naturalizar a questão, todos dizem que se trata do período de adaptação. Ou seja, podemos analisar todos os meses do

fessores, notamos que o senso comum dizia que os alunos das quartas-séries eram muito bons e os da quinta-série, péssimos”, conta Marisa. “-Porém, o pesquisador não pode enxergar isso como algo natural, que “já se espera” de uma

os problemas, o fenômeno de Outubro, se existe, pode ser um problema isolado, determinado pelas relações de uma escola específica, ou um problema coletivo, inerente a todas as escolas. “-É interessante que as escolas, particular ou coletivamente, estudem um modo que proporcione o alto desempenho o ano todo e isso se consegue (ou parte disso) investigando as interações das práticas e relações da instituição”, define. “-Para isso, deve-se levar em conta todos os quesitos, humanos e materiais, que edificam tal instituição”, diz Marisa.

Baixo rendimento versus exigência na escola

O Grito: célebre obra de Edvard Munch traduz muito da ansiedade que atinge os estudantes

relação com o meio, com o social”, define Marisa. “-Portanto, o que devemos fazer para entender o fenômeno é perguntar o que produz essa queda de rendimento. E pelo me-

ano e perceber que há dificuldades em questão ao rendimento de alunos e professores”, garante ela. Marisa enfatiza a importância da contextualização na hora de se

ou outra série. A quintasérie é um momento de ruptura na vida daquela pessoa. Até Dezembro ela era tratada como uma criança, tinha apenas uma professora, que geralmente chamava de “tia”. Dois meses depois, sua rotina muda completamente, ela “A capacidade de um estudante só se desenvolve começa a ter que se orgacom estudo e concentração. E a escola tem que nizar entre vários profescobrar mesmo essa concentração. Pois é na sores, vários cadernos e escola que podemos produzir essa condição”, livros diferenciados, e até os pais passam a cobrar mais dela, pois ela agora aluno é bagunceiro, tem nos em princípio, cien- estudar um problema. “já é crescida””, teoriza hiperatividade (e dá-lhe tificamente, não há nada “-Todos os fenômenos são Marisa. ritalina - remédio receita- que explique, ou mesmo produzidos por práticas e do para a doença); se di- suporte essa tese”, define relações. Realizamos um Particular ou coestudo com as quartas-sé- letivo minui o rendimento em ela. Marisa argumen- ries e as quintas-séries de Outubro, está com sín- Segundo a doutora drome de Outubro. Por ta, dizendo que em Fe- colégios públicos. Através isso, mesmo que se trate vereiro, logo no início de depoimentos dos pro- Marisa, assim como todos

Marisa também lembrou que o baixo rendimento observado nas escolas de hoje é um reflexo do próprio estilo de vida dos alunos. “-Há uma desarticulação entre o ritmo de vida do jovem e o ritmo da escola. A escola exige concentração nos assuntos que são abordados, a vida dos jovens de hoje demanda exatamente o contrário: a desconcentração das atividades. Além da escola, há o judô, o balé, o inglês, o violão e uma gama imensa de atividades que não deixam muito espaço para o direcionamento de energia e de intelecto que a escola exige”, explica a professora. “-Porém, não vamos nos iludir. A capacidade de um estudante só se desenvolve com estudo e concentração. E a escola tem que cobrar mesmo essa c oncentração. Pois é na escola que podemos produzir essa condição”, conclui a professora.


2008  FOLHA DO ESTUDANTE  13

ESPECIAL

Xeque mate: um campeão no xadrez e na escola Aluno de escola pública é revelação no xadrez e nos estudos Luís Paulo Domingues

as técnicas mais avançadas e a estudar o xadrez com disciplina e dedicação. O enxadrista começou então a disputar campeonatos e a colecionar títulos importantes no panorama nacional do xadrez. “-Só neste ano eu já fui campeão da primeira etapa do Circuito Estadual, em BotucatuSP, fui vice-campeão do torneio do SESC, fiquei em terceiro por equipes nos Jogos Regionais da Juventude, também em terceiro na primeira divisão dos Jogos Regionais e em oitavo lugar no Campeonato Brasileiro, que foi disputado em Poços de Caldas - MG”, conta Allan e seu técnico, Paraíba, treinam antes de jogo no Panamericano. Allan. Além disso, Allan disputou o Campeonato sendo mais visto e tendo líderes do ranking costuNo ano passado, Panamericano de xadrez, uma certa popularidade”, mam ter atividades paraAllan também partino final de Setembro - conta. “-Mas é quase im- lelas”, complementa. possível viver Porém, Duarte já cipou de um desafio desse esporte. está atraindo a atenção difícil para qualquer Eu sei que vou dos patrocinadores. “-Até jogador. Disputou continuar a me agora eu precisava recorquinze partidas siaperfeiçoar e rer ao meu pai, à família não vou parar e amigos para ir a algum multâneas contra de jogar, mas torneio fora. Mas a proquinze adversários quero ter uma fessora Elcy Papassoni me diferentes ao mescarreira paralela levou à fábrica da Everest, mo tempo. Os jogo para me garan- aqui em Bauru, e eu conaconteceram durantir. Vou prestar segui o patrocínio do saAdministração bonete Nip’s”, conta ele. te a semana cultural e Sistemas de “-Agora eu já tenho as do colégio Ernesto Informação no despesas dos campeonatos Monte. O placar? final do ano”, pagas”, completa Allan. 15 X 0 para ele. explica. “-Alguns jo- Xadrez estimula esem uma revista eletrônica gadores do topo tudo do ranking bra- Especula-se muito da Romênia que o xadrez sileiro já conse- sobre a capacidade que costuma melhorar no míguem conquistar a prática do xadrez tem nimo 20% o desempenho uma certa respara estimular a concen- dos alunos em todas as posta financeira disciplinas”, conclui. com o xadrez. tração dos alunos e assim O difícil deve ser Tem um grupo elevar seu desempenho arranjar tempo para esde enxadristas na escola, principalmente tudar as disciplnas da esque está dispu- em matemática. Pelo me- cola, já que Allan garante O enxadrista bauruense já conquistou diversos títulos importantes. tando torneios nos com Allan parece que que estuda xadrez por 4 na Europa. Foram está funcionando. “-Nes- horas diárias regularmencidade e que também es- que este ano também foi timula a prática desse es- disputado em Minas Ge- em Agosto e ficarão até te ano, todas as notas no te e 6 horas em épocas de porte. Meu pai tinha ga- rais -, com a presença de Novembro”, conta Allan. meu boletim estão acima torneio. nhado de mim trinta vezes enxadristas de diversos “-A equipe de Jaú contra- de 8”, declara ele. “-Eu li fale com a redação seguidas usando a mesma países, e ficou com a dé- tou recentemente oito jofolhaestudante@gmail.com jogada: o xeque do pastor. cima primeira colocação. gadores de fora e paga Foi aí que eu resolvi que salários que não queria mais perder as Futuro no xadrez A Folha do Estudante perguntou a Allan se agora ele já partidas contra meu pai e Duarte, agora com são comconsegue resultados melhores contra o pai e o irmão: meu irmão”, comenta. 17 anos, não se ilude fa- plementa“-Não sei! Faz seis anos que eles não querem mais jo Duarte se inscre- cilmente com a perspecti- dos por patrocínios. veu na escolinha do BTC va de um futuro promisgar comigo.” (Bauru Tênis Clube), sor no xadrez. “-No Bra- Mas mesonde começou a aprender sil, só agora o xadrez está mo esses

D

e tanto perder para o pai e o irmão mais velho, o estudante Allan Maikel Pereira Duarte decidiu, ainda com 11 anos, que iria aprender realmente as técnicas do xadrez. Ele já sabia as regras rudimentares, desde que o jogo foi implantado na terceira série da escola pública Torquato Miotto, em Bauru-SP, onde estudava, como parte do programa da disciplna de matemática. “-Na época, os professores substituíram duas aulas de matemática por duas de xadrez, como forma de estimular a atenção e a concentração dos estudantes”, conta Allan. “-A partir da quinta série, eu comecei a estudar no Ernesto Monte, que é outra escola pública da minha


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ESPECIAL

Cuba: Invasão norte-americana

Estudo aprofundado percorre a história da ilha de Fidel em quatro partes Carlos D’Incao

Parte 2 s antigas relações de Cuba com as Treze Colônias e com os Estados Unidos, entretanto, haviam se convertido em uma dependência econômica crescente nas quatro décadas anteriores, e a intervenção militar havia propiciado e imposto uma completa subordinação neocolonial que deformou e limitou a república até 1959. A burguesia de Cuba se submeteu a essa dominação imperialista colaborando ativamente com a mesma, que confluía com seus próprios interesses. O imperialismo americano passou a exercer um domínio mais abrangente sobre o povo cubano. O avanço do capitalismo imperialista fechou o acesso à terra para a maioria dos trabalhadores e famílias rurais e manteve o trabalho submetido ao capital. O país passou a ser ocupado por tropas norte-americanas e se estabeleceu um governo provisório encabeçado pelo general John R. Brooke, que permaneceu no poder até 20 de maio de 1902, quando toma posse o primeiro presidente eleito do país, Thomas Estrada Palma, do Partido Revolucionário Cubano (PRC), fundado por José Martí em 1892. A Constituição de 1901 consagrou um sistema político representativo, mas não contemplou conquistas sociais. Além disso, os Estados Unidos impuseram a ela um apêndice, a Emenda Platt, que legalizava seu direito de intervir em Cuba se o considerassem necessário. As tropas norte-americanas abandonaram Cuba em 1903, um ano após

A

terem imposto a Emenda Platt, que estabeleceu bases permanentes para relações bilaterais: “Que o governo de Cuba permita que os Estados Unidos exerça o direito de intervir no sentido de preservar a independência cubana, manter a formação de um governo adequado para a proteção da vida, da propriedade, da liberdade individual. Que, a fim de auxiliar os Estados Unidos a sustentar a independência cubana, e para proteger a população dali, tão bem como para sua própria defesa, o governo de Cuba deverá vender ou alugar terras aos Estados Unidos, necessárias para a extração de carvão para linhas férreas ou bases navais em certos locais especificados de acordo com o presidente dos Estados Unidos.”

O culto à pátria e aos heróis nacionais é onipresente nas paisagens cubanas

e a qualidade de vida. A reversão para um governo autoritário, iniciado em 1925, degenerou, enfim, para uma ditadura mili-

lidade do Exército, combateu a contra-revolução e promulgou numerosas leis sociais avançadas. A rebelião popu-

A nova hegemonia teve que dar os lugares principais da política aos antigos insurretos e reconhecer o Imagem de um dos muitos protestos da população contra a interferência dos EUA lar só foi controlada por nacionalismo como ideo- tar. O país se levantou, meio do golpe de janeiro logia dominante, embora no fim predominassem os então, em uma nova revo- de 1934 e por dois anos sentimentos de frustração lução (1930-1935). Des- de repressão desencadeae de incapacidade para o sa vez, as principais ações da por uma coalizão reaforam de estudantes e tra- cionária, subordinada ao governo autônomo. Depois da recons- balhadores, e o antiimpe- imperialismo. Anos de trução do país deu-se rialismo, a justiça social, a ditadura e legalidade maum novo avanço na eco- democracia e o socialismo nipulada, entretanto, sernomia açucareira, com se colocaram no centro viram - segundo muitos um enorme investimento das motivações políticas e estudiosos - como uma etapa de transição. de capital estadunidense. sociais. Em 12 de agosto A Revolução de Mas o modelo de exportador de açúcar de 1933, a ditadura foi 1930 acabou com a velha não refinado se esgotou derrotada. A revolução ordem republicana, exigiu pouco antes da crise de rechaçou o intervencio- e obteve mudanças notá29, e a combinação des- nismo ianque e um gover- veis no sistema político, ses dois fatores derrubou no que durou quatro me- no papel do Estado, na os preços e o volume da ses enfrentou os Estados organização da sociedade, exportação, o emprego Unidos, destituiu a oficia- na confiança do governo

autônomo, nas idéias e nas relações com os Estados Unidos, o que nos permite afirmar que, dentro desse período, uma segunda república nasceu em Cuba.

A Constituição de 40 e o continuísmo Essa república, contudo, com o desfecho de 1935, continuou sendo burguesa e neocolonial, pois não afetou nada que fosse essencial para o domínio capitalista. Apenas na Constituição de 1940 é que observaremos a consolidação das conquistas políticas e sociais da Revolução de 1930. Implantou-se nessa nova carta uma ordem jurídica mais desenvolvida, um Estado mediador entre as classe e interventor na economia, um sistema político de democracia representativa e partidos pluriclassistas de real alcance nacional, liberdade de expressão e associação, permitindo a proliferação de idéias socialistas e avançadas. Porém, mesmo dentro de uma conjuntura aparentemente mais democrática e popular, a


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ESPECIAL segunda república manteve a sujeição neocolonial ao imperialismo e nunca conseguiu realizar uma reforma agrária popular e nem lançar as bases para um projeto desenvolvimentista nacional. Nela se mantiveram níveis gigantescos e permanentes de desemprego, serviços sociais muito deficientes e de cobertura parcial e uma corrupção administrativa enorme. Com uma altíssima proporção de organização sindical urbana, no campo o trabalho era superexplorado e reinava a falta de serviços públicos da mesma forma como se abundava a miséria. Havana era “a Paris do Caribe”, mas com bairros marginalizados e milhares de analfabetos. Metade das crianças em idade escolar não ia à escola, e a gastroenterite e a tuberculose grassavam entre os pobres.

A Revolução. Os anos 50. Em março de 1952, um golpe militar rompeu a institucionalidade a oitenta dias das eleições presidenciais que projetavam a vitória do Partido Ortodoxo, em que o povo tinha depositado grandes esperanças de mudanças positivas. A quartelada colocou no poder Fulgêncio Batista que, entre 1934 e 1944, foi o chefe da contra-revolução, ditador e presidente. A classe dominante e os Estados Unidos aprovaram o governo de um grupo de aventureiros, confiantes de que reprimiriam o povo e fariam retroceder os ideais de mudança. O país repudiava a ditadura, mas não parecia ter saídas. Dessa conjuntura surge uma nova geração revolucionária que tentará repudiar pelas armas a ditadura nascente. Esses

revolucionários planeja- e resistência clandestinas toda a ordem de domiram o assalto ao Quartel em todo o país. nação interna e de sujeiMoncada, em Santiago de O assalto ao palá- ção neocolonial que havia Cuba, em 26 de julho de cio presidencial por um regido o país e afastaram 1953 e fracassaram mise- comando da organização a idéia de que aquela orravelmente: dezenas de do Diretório Revolucio- dem pudesse voltar. Em jovens foram assassinados nário, a insurreição dos três anos, mil leis transe seu líder, Fidel Castro, marinheiros e do povo formaram as instituições e junto com vinte sobrevi- em Cienfuegos e a greve as relações fundamentais, ventes, foram condenados geral em abril de 1958 fo- colocando-as a serviço à prisão. ram três episódios iniciais da população, entre elas Dois anos mais dessa luta. Nesse ínterim, a agrária, o sistema polítarde, aqueles mesmos jo- o Exército Rebelde conse- tico, o sistema repressivo, vens – anistiados depois guiu se consolidar, domi- a produção e as emprede uma forte campanha nar a montanha, vencer sas, a moradia, o sistema popular – e outros revo- combates, construir sua bancário, o comércio, a lucionários fundaram o base de população rural, educação, a saúde, a preMovimento 26 de Julho, formar colunas, invadir vidência social, os meios uma organização de luta outras zonas do leste, até de comunicação, os muarmada clandestina, com se transformar na espe- nicípios e muitas outras o objetivo de desenvolver rança do povo e dos luta- esferas. uma insurreição, juntar as massas e tomar o poder para realizar uma profunda revolução. Ao movimento estudantil somaram-se trabalhadores da cidade e do campo, além de desempregados. Juntos, desencadeArquitetura colonial conta a história da ilha e é grande atração turística aram o protesto popular e as lutas dores do país. Mas não eram as de massas entre 1955 e Fidel tornou-se o leis o essencial, e sim a 1956, que visavam des- líder da insurreição. Em atividade sintonizada de mascarar as jogadas polí- maio, a ditadura lançou um novo poder popular e ticas aparentemente legais sua maior ofensiva con- as mobilizações de massa de um governo ilegítimo tra a Sierra Maestra, mas praticamente permanene repressor. Criava-se um durante o verão de 1958, tes, cada vez maiores, que contexto potencial de re- os rebeldes derrotaram-na mudavam as relações e belião. em uma sucessão de gran- as instituições sociais ao des combates. Durante mesmo tempo em que se A vitória da Revo- uma intensa última fase transformavam. de quatro meses, os rebel- O imperialismo lução de Fidel des dominaram o campo não aceitou uma Cuba do leste da ilha e divulga- independente depois de O MR – 26 de ram com meios próprios um século e meio tenjulho, dirigido por Fidel os seus feitos armados e tando engolí-la e após Castro, organizou-se em as posições revolucioná- sessenta anos de dominatodo o país, enquanto no rias, invadiram o centro ção neocolonial. Seu apaMéxico preparou-se a exdo país, atraíram o apoio rato agressor se propôs a pedição do iate Granma, de enormes setores à in- estrangular a economia que chegou ao leste de surreição e lançaram uma cubana desde 1960. EnCuba em 2 de dezembro grande ofensiva final que quanto isso, organizou-se de 1956. Começou enderrubou a ditadura em 1 uma violência crescente, tão um enfrentamento de de janeiro de 1959. desde sabotagem e terguerrilhas em Sierra Ma Esse novo poder e rorismo até uma invasão estra e uma luta de ações o povo puseram abaixo pela praia de Girón (Baía

dos Porcos), em abril de 1961, que foi esmagada em três dias pelas Milícias e Forças Armadas Revolucionárias. Na véspera da invasão, Fidel declarou que Cuba era socialista. Os Estados Unidos, contrariando o direito internacional, determinaram um bloqueio econômico contra Cuba que dura até os dias atuais, apesar do repúdio mundial. A defesa da revolução se converteu em uma atividade vital, mas ao mesmo tempo também eram vitais as mudanças mais radicais na economia, redistribuição da riqueza nacional e uma revolução educacional. Cuba e União Soviética entabularam vínculos de defesa e de intercâmbios comerciais que resultaram em mantimentos básicos para o país. O caráter socialista de libertação nacional da Revolução Cubana aproximou os dois países, mas também introduziu Cuba no conflito geopolítico mundial da guerra fria. Os Estados Unidos avançaram para uma agressão direta e Cuba tensionou todas as suas forças, permitindo que a União Soviética instalasse mísseis nucleares na ilha. Em outubro de 1962, instalou-se uma crise que pôs o mundo à beira da guerra nuclear (A crise dos mísseis). A nação inteira enfrentou a ameaça estadunidense sem ceder um milímetro, mas a União Soviética e os Estados Unidos pactuaram às suas costas a retirada dos mísseis. A intransigência revolucionária, a unidade nacional, a fé na vitória e a confiança nas próprias forças foram lições das jornadas daqueles anos, aprendidas pelo povo e por seus dirigentes. Carlos D'Incao

é Professor de História


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2008

OPINIÃO - ARTIGOS

Manipulação Matemática - Mentiras e Estatísticas Pedro D’Incao

M

ais do que nunca, há em nossa sociedade uma estranha crença de que saber matemática e ciência é tarefa apenas daqueles profissionais de áreas correlatas. E insistimos nessa idéia mesmo sendo diariamente bombardeados com dados numéricos sobre aquecimento global, índices de desemprego, de inflação, de doenças, estatísticas sobre preferências dos consumidores, dos telespectadores, sobre candidatos a cargos públicos, e tantas outras controvérsias. Devemos tomar muito cuidado, pois os números não nos mostram apenas quantidades; eles associam e agregam idéias, valores e podem facilmente induzir a uma linha de raciocínio equivocada. A exatidão e precisão da linguagem matemática relaciona facilmente duas palavras: dados e fatos. E como disse o economista britânico Leonard Henry Courtney: “After all, facts are facts” (Afinal, fatos são fatos). Numa sociedade onde a ciência e a tecnologia norteiam grande parte da economia global e estão infiltradas em inúmeros aspectos de nossa vida diária, mais do que nunca o analfabetismo científico e matemático pode nos deixar vulneráveis e facilmente manipuláveis. A visão de que matemática e física são inúteis amontoados de fórmulas e procedimentos numéricos deriva de uma educação massificada, oriunda em grande parte de sistemas apostilados de ensino, onde a ciência “serve” apenas para o vestibular. Devemos lembrar que a ciência é onipresente e estamos cercados por decisões diárias que se relacionam com dados científicos e matemáticos.

Induzindo falsa idéia

uma

Em julho deste ano, a emissora de televisão Record nos forneceu um clássico e grosseiro exemplo de

manipulação de dados. Em sua briga particular pela audiência com a Rede Globo, ela anunciou em seu Jornal que a diferença entre o Jornal da Record e o telejornal da concorrente era de quase 13 pontos (a favor da Globo) e que o Câmera Record está a apenas 0,8 pontos a frente da concorrente. Até aqui sem problemas. A questão é a maneira como foram apresentados, visualmente (infográficos), os dados: É clara a manipulação da proporção. Utilizando diferentes escalas, ela acaba induzindo o telespectador a acreditar que o Jornal da Record está “encostando” no Jornal Nacional da Rede Globo e que o Câmera Record está bem acima do concorrente. A acusação que freqüentemente se faz à Estatística é a de induzir ao erro, não só porque apresenta dados obtidos por procedimentos que podem ser

eleição direta para presiden- do Collor, colocando em xe- Porém a correlação te depois do golpe militar que o rigor e a seriedade da não permite que tiremos qualquer conclusão quanto à causa. A causa não pode ser inferida só porque existe uma correlação. Nas inúmeras correlações que existem no nosso mundo, a maioria não é de natureza causal. O grande Biólogo Stephen Jay Gould, em seu livro A Falsa Medida do Homem, nos alerta: “A idéia injustificada de que a correlação remete a uma causa é, provavelmente, um dos dois ou três erros mais graves e mais freqüenCena do debate entre Lula e Collor na eleição de 1989 tes do raciocínio humano”. de 1964. Após o primeiro pesquisa. E é justamente por debate, as pesquisas aponessa razão que devemos tavam Lula subindo nas in- Correlação e cau- olhar com maior cautela os tenção de voto. Porém, após dados sobre, por exemplo, o sa o segundo debate, a pesquiaquecimento global. O pro Existe uma enorme sa divulgada pela TV Globo blema não está nos dados ou tradição do pensamento durante o Jornal Nacional na correlação existente entre filosófico, segundo a qual apontava o seguinte resulemissão de CO2 e aumentudo o que medimos não tado: Melhor desempenho: to da temperatura da Terra, passa de uma representação Collor: 44,5%,Lula: 32% mas sim na perigosa relação superficial e imprecisa de Idéias mais claras: Collor: causal. 45%, Lula: 34,1% O mais uma realidade subjacente. Ou seja a emissão de Acreditamos que medidas preparado para governar: CO2 parece ser o responsáabstratas vel pelo aquecimento global. podem re- Porém, outros dados correpresentar lacionam a temperatura gloalgo mais bal com o ciclo de atividade real e fun- solar: damental Qual será a verdadeira cauque os sa do aquecimento global? próprios Vale lembrar que a política dados. questionados no seu rigor, Collor: 48%, Lula: 30% industrial de diversos paí A ferramenta estamas também porque, apesar Melhores planos de governo: ses, principalmente os em tística da correlação é usade serem corretos e obtidos Collor: 45,9%, Lula: 33%. desenvolvimento, está na da freqüentemente para por métodos válidos, esses Aqui o problema mira dos que relacionam o inferências sobre aquecimento global com a causalidade. Uma emissão de CO2. correlação avalia A análise torna-se a tendência de ainda mais complexa quanvariação de uma do partimos para buscas de medida em con- correlações entre mais de junto com outra. duas grandezas. E nesse caso Se uma grandeza a tentação da reificação nas cresce na mesma ciências, ou seja, de atribuir proporção que significados físicos ou cienuma outra, dize- tíficos a dados com grande mos que elas pos- correlação, é ainda maior. suem uma corre- O que não falta nesse Os gráficos são instrumentos que podem ser usados para induzir erros lação positiva, é o nosso mundo são dados, vascaso do crescimen- tos aglomerados de números dados podem ser apresen- não estava nos dados, mas tados de maneira a induzir sim no espaço amostral, ou to de nossas pernas e bra- que, se forem cuidadosaconfusão a quem não está seja, no número de pessoas ços. mente trabalhados, podem A correlação existenespecialmente familiarizado entrevistadas. O Instituto adquirir poder de manipute entre dois conjuntos nem com essa linguagem. Dessa Vox Populi fez essa pesquilação para as mais variadas sempre carrega consigo cauforma, é extremamente im- sa por telefone com apefinalidades. Sejam quais salidade. Vejamos o seguinte portante que sejamos capa- nas 490 telespectadores. forem esses propósitos,com exemplo: a correlação entre zes de detectar esse tipo de Outro fato importante socerteza terão capacidade de o aumento anual da distânprocedimento. bre a pesquisa divulgada no interferência direta em noscia Terra-Lua e o aumento Outro exemplo de Jornal Nacional é o de que o sas vidas. anual médio do nível dos Pedro D’Incao é Físico e manipulação, agora relacio- Instituto Vox Populi era resnada à política, ocorreu em ponsável pela construção da oceanos. A correlação é qua- Diretor do D''Incao Instituto de Ensino 1989 durante a primeira imagem eleitoral de Fernan- se perfeita:


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