Editorial O que nós da UCMComics estamos tentando fazer com a Mausoleum é justamente torná-la uma daquelas célebres revistas de terror dos bons anos 80, o chamado anos dourados do quadrinho nacional. Nesta época, além de termos a incomparável Kripta (O quê? Você ainda não baixou a Revista Kripta da UCMComics?), tínhamos uma leva de editoras nacionais que apostavam unicamente no quadrinho brasileiro. Sem falarmos de Rodolfo Zalla e sua formidável D-Arte, dando espaço a todos os bons artistas que hoje fazem história. O que falar de revistas como Spektro, Sobrenatural, Histórias do Além, e das outras editoras independentes que também apostavam neste filão? Muitos bons artistas surgiram nesta época, como o próprio Zalla, Colonnese, Seabra, Colin, Shima, Rodval Matia e... Mozart Couto. Couto é o nosso convidado nesta edição de Mausoleum e é com muita honra que publicamos uma de suas arrepiantes histórias, que você lerá a partir de agora. Bons sonhos... hehehehehe! O Editor.
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Christabel — Uma linda princesa encontra no campo uma outra linda mulher chamada Geraldine. Desta união poderá nascer uma bela amizade ou o começo de uma maldição. Um conto de terror adaptado da tétrica poesia de Lorde Byron. Infanto Mortem — Aquelas crianças eram especiais, pois elas tinham a difícil missão de levar as almas infantis para o além. Mas algo estava errado, essas almas estavam desaparecendo e parecia que nada poderia ser feito. A Besta — Havia uma maldição no povoado Ohagas, uns não acreditavam, outros defendiam sua fé piamente. O grande herói Magan decidiu descobrir toda a verdade. Será uma empreitada difícil, pois o povo precisa acreditar que ele vencerá.
Argumento e desenhos: M. Oliveira
O povo conta a história da pequena princesa amaldiçoada. Uns a culpam, por ter ela se entregado às correntes do mal. Outros sentem pena do destino cruel de...
CHRISTABEL
Baseado no poema “Christabel” de Lorde Byron.
Christabel tinha olhos inteligentes...
minha virgem querida! estou aqui novamente!
mas a ingenuidade de uma virgem!
meu noivo partirá mais uma vez para a guerra!
e claro, mais uma vez para pedir-lhe!
mas desta vez, minha virgem, há um aperto diferente em meu coração! eu sempre estive certa de sua proteção... como se eu o perdesse a cada minuto de sua viagem à frança!
“Por isso, eu lhe peço proteção, minha Virgem Imaculada!”
eu tentei persuadí-lo a não ir...
ela ouvirá!
mas sua valentia e coragem imperam, falam mais alto!
ouça minhas preces, virgem!
quem? 05
olá, geraldine, sou...
eu
eu sei quem és, princesa christabel!
também sei que estava pedindo proteção para seu noivo!
assustei-a? perdoe-me!
quem é você?
meu deus, você estava me seguindo, me vigiando? longe de mim, princesa! apenas gosto de obter todas as informações sobre nosso relacionamento!
sou geraldine!
“nosso relacionamento”? eu nem conheço você!
e eu sei que você já gosta de mim!
eu?
06
sim, já nos conhecemos! eu me apresentei! agora fazemos parte da vida uma da outra! que bom ouvir isso! agora vamos para minha casa!
oh, me perdoe! pensei que já havia conquistado sua amizade!
espere... geraldine... sim, somos amigas... mas...
sua... casa?
não, não e não! jamais permitirei que tão nobre pessoa acabe encharcada! vamos para minha casa sim!
mas eu não posso me demorar, preciso voltar ao castelo...
prometo devolvê-la ao rei ainda hoje... e seca!
vamos entrar, princesa christabel, a chuva está aumentando!
eis o meu refúgio!
sim, amiga geraldine, não quero resfriar-me!
bonita moradia!
também gosto! bucólica e sensual, como o afago de uma ave silvestre!
seja breve, por favor, não sintome a vontade estando nua!
entre, nobre amiga, a casa é sua!
que delícia, sinto um suave cheiro de hortelã!
o aroma de hortelã afasta as formas vilãs! dispa-se, eu deixarei suas roupas secarem no fogão!
eu entendo!
07
que corpo lindo tu tens princesa, e tu bem mereces ele!
que objeto bizarro mantem em sua coleção, amiga geraldine! deveras assustador!
por favor, geraldine, estais me enrubescendo!
“este é um rabno, deliciosa Christabel, o guardião do sangue eterno. se o sangue nos dá vida, os rabnos o guardam para que dele nos alimentemos.”
oh! não creio que não estejas a vontade diante de meu corpo nu! minhas roupas também estão sobre o fogão a lenha para secar!
não... me desculpe, é que jamais estive nua diante de outro corpo nu... e seu corpo é branco e alvo como um floco de neve.
08
seus seios... estão nus?
“sim, eu sei... é que seu corpo é tão... belo e perfumado...”
“somos irmãs agora, não se intimides!”
e é seu, jovem princesa, assim como o seu corpo é meu!
Todos sabiam que havia algo de ruim no ar. Pois Christabel não tinha voltado ao reino e muitos estavam atrás dela. Além do mais, os lobos uivaram aquela noite como jamais haviam feito.
E um estranho presságio de morte ecoou pela noite preenchendo todo o condado.
Pois a morte é sorrateira. Tem corpo de mulher e hábitos de morcego.
eu vejo... a lua!
09
a lua!
O rei e a rainha não puderam acreditar na maldição que decaiu sobre a meiga princesa Christabel. O povo já comentava sobre a pequena e bela princesa que um dia esteve sob as garras da estranha Lilith que morava ao sopé da montanha, numa casa que de fato jamais existira, senão na imaginação farta do povo do lugarejo. Mas, então, o que havia em Christabel que a fazia delirar?
Então, o que eram na realidade aqueles orifícios infeccionados que alastravam dois horríveis furúnculos em seu pescoço? Por que seus olhos se tornaram duas órbitas vazias e baças. Que por Deus alguém respondesse, o que eram aqueles cânticos que Christabel sussurrava enquanto olhava a Lua de sua janela e por que, por Deus, por que ela havia de chamar por toda a noite e por toda a sua vida o nome amaldiçoado de Geraldine...
FIM 10
Christy?
Christy?
Christy, responda a mamãe!
Chris?
Christy, está tudo bem?
® 2008 - UCMComics todos os direitos reservados.
ele morreu... morreu sim...
Argumento e desenhos: Marcelo de Oliveira.
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mamãe?... eu estou aqui!
oh, meu senhor! chris... meu filho...
Eu estou escutando você, mamãe!
fale baixo, seu garoto imbecil!
antes que eu acerte sua boca maldita! não queremos acordar os goblins!
eu quero mamãe...
acordar goblins...
goblins acordados! he, he, he!
não, seu desgraçado, este espírito é minha jurisdição!
juri... o quê? você fala muito difícil, menina!
loucura! uma puta loucura! levaram meus espíritos caninos!
não foi legal de ver!
me
fuderam bunito!
caramba! eles estão muito fortes. chegaram e levaram o menino... assim, muito fácil!
eles querem as crianças e os animais e estão bem mais fortes!
eu levava um bebê que se afogara com um brinquedo e de repente já o havia perdido para um goblin maldito!
grrrr... grrr!!!!
vou esmurrálos até a morte!
então porque não os esmurrou na hora?
vá a merda você!
precisamos fazer alguma coisa, senhorita sartana! eles... eles conquistarão tudo!
calem a boca!
nós desceremos à mansão dos goblins e veremos o que está acontecendo!
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“madame sartana disse que descer à mansão dos goblins não é descer ao inferno. O inferno é outra realidade. talvez pior, pois demônios são bichos cascudos e nojentos. Goblins são estúpidas esferas borbulhantes tentando por milênios tornar-se uma forma decente e o melhor que conseguiram foi uma gosma com boca e olhos.”
“irmão serafim reflete sobre os perigos iminentes e apesar de seus olhos grandes estarem úmidos e sua pele de ébano estar rubra de medo, ele calcula cada centímetro do ambiente pegajoso e febril. Se dependermos dele, não cairemos jamais em armadilhas. serafim é o buscador dos afros.”
“irmão domenic narizde-cabeça tem esse jeito esbaforido, mas no fundo tem um bom coração. era um demônio de um círculo muito inferior. Redimiuse tornando-se um exemplo. Domenic é o buscador dos espíritos selvagens.”
“eu estou muito assustada. nunca desci tão longe assim nas realidades. sou uma buscadora que acredita na esperança, por isso, busco espíritos de crianças femininas em corpos masculinos.”
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“irmão tétis é o mais audaz, nosso líder quando madame sartana não pode nos acompanhar. ele foi um dos primeiros buscadores, sua busca incansável é por aquelas crianças que morrem por terríveis doenças.”
ok, criaturas desencarnadas, aqui estamos!
me caguei!
madame sartana e seus expurgos! o que quer no reino proibido dos goblins?
uma resposta, rainha-mãe, e depois iremos embora! pois faça a pergunta, assim faremos de conta que eu não sei o que irá perguntar!
por que seus filhos estão devorando as almas que precisam encarnar?
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“já irmão blaster é diferente. Ele também era um demônio, assim como nariz-de-cabeça. também se redimiu, mas nunca acreditei nisso, por isso, sempre estive de olho nele, e posso ser franca em dizer...”
“... nunca acreditei que suas almas buscadas acabassem realmente no paraíso!”
“ele sempre buscou as crianças que morrem amputadas, destroçadas em terríveis acidentes.”
“mas creio que nunca gostou deste cargo!”
por que está fugindo, blaster?
não sei, diga-me você!
por que eu estaria fugindo, irmã emma?
se eu disser que estou indo “soltar um barro”, você acreditaria?
o que a senhora está me dizendo?... isso mesmo, sartana, um dos seus andou devorando alguns dos meus!
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vão, e me tragam blaster!
eu preciso de você aqui, domenic! o negócio vai feder!
porra, e eu?
ora, ora, ora! se não é as duas placentas de madame sartana!
blaster, me devolve a cabeça de emma! agora!
por favor, meninos, não briguem, blaster deve ter uma boa razão para tudo isso!
diga, blaster, diga a eles o que você me falou... eles... cof...! cof!... hurrrarrar... irc... vão entender... raaaarrr! acho que eu não estou legal!
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entregue-me a cabeça de emma, seu desgraçado!
tétis, espere, você não compreende!
mais tarde! desculpe, blaster!
como ela está, sartana?
“meus irmãos deveriam ter escutado o que blaster queria ter falado! assim, poderiam compreender o que está acontecendo e o que realmente irá acontecer.”
consegui reestabelecer sua cabeça, mas não consegui fazêla voltar a falar! o importante é que ela existirá!
“o plano de madame sartana está começando! blaster já caiu, eu, apesar de saber de tudo, não posso falar!”
não, meus irmãos, deixe-me explicar! vocês não podem me deixar simplesmente ser devorado pelos goblins, sem uma explicação!!!
“mas um dia alguém irá descobrir! as almas voltarão a entrar no paraíso”!
“mesmo nós liderados por uma terrível goblin!”
FIM
... novamente a noite... manto negro de tormento para aquele povo. contam que o horror instalouse ali por maldição! outrora, aquele mesmo povo dominou toda a região; porém, abusando do poder que lhes fora concedido por norah, a divindade superior dos ohagas, caíram em desgraça.
os jovens, por outro lado, não acreditam em norah e sua maldição. preparamse, a cada dia, para acabar com o motivo do desespero daquela gente!
... procuram, em vão, a vitória sobre um inimigo que, a cada noite, parece tornar-se mais poderoso e sanguinário.
Argumento e desenhos: Mozart Couto. 19
2010 - UCMComics - todos os direitos reservados - 1984/2010 - Mozart Couto - publicação licenciada à UCMComics pelo artista.
de suas casas, as pessoas tentam visualizar, com clareza, as sombrias figuras que dançam na escuridão da noite. mas, como sempre acontece, só na manhã encontram a angustiante definição dos seu temores.
maldição ou não, algo tem que ser feito. embora saibam que a besta assassina está entre eles, nada podem fazer durante o dia. como servos obedientes, têm que esperar a noite e... a morte!
há os que se precipitam na noite...
... e tentam por um fim ao tormento...
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...
até hoje, ninguém conseguiu.
adentrar as noites geladas à procura do inimigo é uma atitude desesperada. os velhos rezam pelo triunfo dos que assim tentam salvar seu povo da voracidade da besta, mas suas preces são impotentes diante da força da fera ou... da maldição de norah! magan é um experiente guerreiro, porém sabe que nunca esteve tão próximo da morte como agora.
e,
pela primeira vez, sente medo!
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os sábios dizem que a besta está entre os ohagas pois vence os guerreiros não só pela força, mas porque conhece-os e sabe quais são suas principais deficiências!
... alguém que se transforma para saciar sua sede ou cumprir a maldição. um anjo negro que traz nos olhos o reflexo do horror!
filha...
talvez exista alguém que tenha essa certeza, mas que, por alguma forte razão não revela a verdade sobre o mosntro.
algum dia, conhecerão a verdade...
... e poderá ser através de magan...
... pois, matando a fera, esta voltará a ter a forma humana, como dizem alguns.
22
enquanto caminha, magan pensa na mulher e na filha. o ódio domina seu coração. ele não aceita a impotência dos ohagas perante o inimigo.
...
magan será próximo!
o
ele é considerado por muitos um herói!
então você não acredita na força de magan?
quando amanhecer, encontraremos a cabeça na entrada da cidade...
“... e o herói terá o mesmo fim dos homens comuns.”
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meu filho, magan, acaba de encontrar nosso algoz...
“durma, mulher. só saberemos o que aconteceu amanhã, pela manhã.”
“assim, poderemos matá-la antes que se transforme, ou seja: na sua forma humana.”
“você acredita que acontecerá... aquilo?”
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só venceremos a besta, quando soubermos quem ela é.
ninguém dorme naquela noite...
todos esperam, com ansiedade, o amanhecer.
ainda
têm
esperanças...
... de que magan voltará vitorioso, trazendo a cabeça decepada do monstro nas mãos!
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Os anos 70 e 80 foram muito profícuos para o mercado brasileiro, isso todos que lêem quadrinhos já sabem. Também sabem que daquele nicho de artistas, muitos dos quais filhos da Grafipar, saíram grandes quadrinhistas, nossa geração de ouro. Desta geração maravilhosa, destacamos o mineiro de Juiz de Fora, Mozart Cunha do Couto. Artista que publicou nas melhores revistas do país e que teve o seu nome reconhecido, tanto aqui, como lá fora, isso já nos anos 80. Começou sua carreira em 1979, em Curitiba, na extinta Grafipar, na revista Neuros, para depois ganhar o Brasil tendo seus desenhos publicados em revistas que vendiam muito bem na época: Spektro, Pesadelo, Histórias do Faroeste, todas da Editora Vecchi. Em 1982, contratado pela D-Arte, de Rodolfo Zalla, mostrou a série Casa do Horror, onde seus desenhos tomaram o país e seu nome finalmente saiu do anonimato. Nesta época, Couto também desenhava muito para a Editora Maciota, que realizava publicações de terror e erotismo. Lá, publicou sua famosa série O Homeopata. Em 1984, Couto começou sua participação na revista Saque, criando pequena histórias coloridas, com jogadores da seleção brasileira de voley. A partir daí, seu trabalho ganhou uma repercussão comercial.
Foi a partir de 1988, que Mozart Couto criou uma parceria famosa com Julio Emilio Braz, desenhando o indiozinho Tamba Taja, publicado semanalmente na revista belga Top Magazine. Seus trabalhos, mostrados para o público europeu, fez seu nome aparecer no exterior. Em 1993, depois de muita bagagem artística, muitas histórias publicadas no Brasil e Europa, além de um troféu Angelo Agostine, Mozart Couto começa a desenhar para Marvel, para a DC Comics, assim como para a Dark Horse e Image, ou seja, abocanha de imediato os grandes personagens americanos. Hoje em dia, Mozart Couto se dedica mais a ilustração, assim como, ensinar a arte de desenhar através de suas inúmeras publicações. Ganhou o prêmio Jabuti em 1999 com o livro Nosso Folclore, na categoria melhor livro didático. Também ganhou o certificado de “altamente recomendável” da Fundação Nacional do Livro Infantil e Infanto-Juvenil pelas ilustrações feitas para o livro A Carta de Pero Vaz de Caminha, da Editora Moderna. Ainda hoje, Mozart Couto é um dos artistas mais cultuados da velha geração. Seus trabalhos representam o que de melhor foi feito para a HQ nacional nos últimos anos, em talento e versatilidade.
Você encontra mais de Mozart Couto nos endereços:
http://picasaweb.google.com/mozartcouto http://blogdodesenhador.blogspot.com/ http://www.impulsohq.com.br/2010/02/11/caminho-do-artistamozart-couto/