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O DIA EM QUE LULA GANHOU DE BOLSONARO (2022) - Lígia Lucchesi
Estávamos na reunião de cinema, on-line, tentando ficar calmos: quatro mulheres e um homem, todos torcendo por Lula. Eu queria mesmo era focar no filme que íamos discutir: “Farrapo Humano” de Billy Wilder (1945, ganhou quatro Oscars). Mas ninguém queria falar do filme- todos grudados nas notícias! O nosso “professor de cinema”, chamado assim pois é o que mais estuda, começou a chorar e a ficar pálido. Eu estava vendo a hora em que teria que chamar uma ambulância para a casa dele...
De repente, começou a gritaria na minha rua- foi a hora em que a contagem de votos começou a virar para Lula... A torcida na rua se inflamou cada vez mais, o professor se animou e gritava e as mulheres tinham cada vez mais chiliques…
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Na hora em que foi conclamada a vitória, ficamos tão cansados que não aguentamos mais discussão nenhuma- só quisemos apreciar a gritaria na rua… Vai ficar sempre essa alegria com a gente.
E por coincidência, estávamos na véspera do “Dia das Bruxas”.
O Encontro
DE MARIA LUIZA E JORGE AMADO - episódio na ladeira do Pelourinho - Lígia Lucchesi
Um dia a Maria Luiza, respeitável senhora de Guaxupé, Minas Gerais, estava flanando na Ladeira do Pelourinho, em Salvador. Tinha um sorriso no rosto, pois se lembrava divertida, da incrível cena de “dona Flor e seus dois maridos” em que esta passeia com os dois. Um sério, composto, muito elegante em seu terno bem passado, de braço dado com a gentil senhora e o outro, nu, com um sorriso maroto e passando a mão em sua bunda.
Foi quando Maria Luiza se encontrou com Jorge Amado, todo sorridente que também passeava por lá. Vencendo sua timidez, ao ser apresentada a ele por um amigo comum, disse que gostava muito de suas histórias. Mas tinha vergonha de confessar isto aos outros, pois uma senhora deveria apreciar histórias mais respeitáveis e carolas e pedia perdão a ele por isto…
Jorge Amado não teve dúvidas: “pode dizer que sou um desavergonhado, sem moral, etc, contanto que continue a se divertir com o que escrevo”.
E assim ficam combinados- uma amizade secreta e por toda a vida…
O ENGANO - Laerte Temple
A digital influencer Letti publicava no Insta quando o interfone tocou. - Dona. Letti, é o Josimar, da portaria. O motoboy trouxe uma encomenda. Ele estava com pressa e eu mesmo assinei o recibo.
-Tudo bem, Josimar. Obrigado. Logo mais eu pego. -O dr. Leonardo, seu vizinho, se ofereceu para levar. Ao citar o nome Leonardo, o ginecologista gatíssimo, ela arrepiou dentro da calcinha. Léo é seu namorado há mais de um ano, só que ele ainda não sabe. Letti ajeitou o cabelo, soltou 1 botão do robe, ficou atenta ao corredor e abriu a porta quando o vizinho colocava a encomenda junto à soleira. Ele se ergueu lentamente e conferiu o corpo que bem conhecia, pois toda semana ela inventava um problema e pedia um exame ginecológico minucioso.
- Oi Léo. Bom dia! Desculpe o incômodo. – disse fingindo-se encabulada. -Bom dia Letti. Incômodo algum – respondeu com sorriso maroto seguido de uma piscadela. Tchau!
Letti pegou o pacote da Shopee, suspirando por Léo e tentando se lembrar da compra. Abriu, estranhou o conteúdo e deixou no sofá para pesquisar o cartão de crédito. Os Pets, curiosos, se aproximaram. Dongo, o rato, cheirou e voltou para a toca. Astor, o cão SRD, cheirou, lambeu, fez careta e se afastou. Penélope, a gata angorá, continuou o banho de sol junto à janela. Do poleiro, Ariel, papagaie Queer, balançava a cabeça negativamente.
A blogueira localizou a compra e conferiu a embalagem. Não era da Shopee, mas de uma Sexy Shop e era tamanho “P”. Por isso o sorriso maroto do Léo. O que será que ele pensou de mim? Que mancada! Assim que saiu da sala, ouviu-se:
-Alexa, bom dia!
-Bom dia Letti. Bela manhã de sol.
-Não é a Letti. É Ariel. Miga, sua lôca, eu encomendei um vibrador à pilha chinês tamanho “P”, de pássaro e você me mandou um para humanos!
-Desculpe, Letti, Ariel ou quem quer que seja. Não reconheço a expressão “tamanho P de pássaro”.
CRÔNICA EM GRUPO COM
PERSONAGENS CRIADOS EM SALA - Laerte Temple, Leonardo Levi, Márcia Moretti, Paulo Roberto
Alceu Dispor foi ao cemitério depositar flores no jazigo da esposa. Com hiperplasia prostática, passou no WC para aumentar a autonomia fisiológica. Deixou as flores na pia e abriu a braguilha para liberar o fluxo:
-Que nojo. Vira isso para lá.
-Quem falou? – perguntou girando o corpo em direção à fonte sonora, esquecendo que o jato a atingira a potência máxima. -Vira isso prá lá, cara. Tá me molhando todo – disse um minúsculo guri. Alceu finalizou com a tradicional sacudidela e perguntou quem era o nanico. A resposta foi fluente e segura: o nome é Minhoca Voadora, vive no futuro e viaja pelo tempo procurando descobrir quando a terra tornou-se inóspita. Alceu convidou o menino para tomar suco e falar sobre suas vidas. Na falta de composto alimentar líquido de folhagem, o guri aceitou Coca-Cola e Alceu pediu um expresso. Minhoca disse que vive no futuro. O planeta tornou-se inóspito, quente e as pessoas muito pequenas. Algo aconteceu no passado e transformou o ecossistema. Estudos mostram que durante milênios a terra foi aprazível. Alceu, pasmo, pensou que alguém drogou sua gemada matinal de Caracu com ovo, e relatou ao coisas como mudança climática, nova ordem mundial, teoria da conspiração etc. Nisso, a esotérica Ruanda Além entrou na cafeteria, recém chegada da Convenção das Bruxas de Salem. Ela é candidata ao Parlamento pelo CUB – Central Única dos Bruxos, partido que defende que só a bruxaria pode exorcizar o mal feito ao planeta. Esbarrou em Eva Dias, blogueire alienade e digital influencer, também candidate, mas pelo PDT – Partido Digitalização Total, que defende a robotização do governo para eliminar a corrupção.
Seguiu-se um ríspido bate-boca, choque de ideias ou ausência delas. Alceu Dispor e Minhoca observaram a troca de farpas, uma defendendo o sobrenatural nos destinos da nação e a outre adepte da anarquia digital para a libertação do povo. Por pouco o colóquio flácido não descambou para as vias de fato.
Alceu Dispor pagou a conta, pegou as flores e saiu com o mini guri.
-Não entendi aquela discussão, senhor Alceu – disse Minhoca Voadora.
-Faltam poucos dias para a eleição, nada está definido e a disputa é dura.
-Como são os outros candidatos?
-Igualmente malucos. Nenhuma proposta sensata. Só maluquice.
-Não é à toa que a qualidade de vida na terra degradou.
-Você não viu nada. É só guerras, combustível fóssil, aquecimento global, desmatamento, pandemias, fome, desemprego, enchentes e por aí vai.
-Você parece ser um cara honesto e sensato. Por que não se candidata?
-Tentei, quando era jovem. Pensava que apenas as pessoas de bem e preocupadas com o país deveriam concorrer ao Parlamento.
-Não conseguiu votos suficientes?
-Nem consegui me candidatar. É jogo de cartas marcadas, só para quem é do esquema. De 2 em 2 anos os contribuintes votam para eleger os privilegiados que ganharão muita grana para explora-los.
-Viajei por diversas épocas e garanto que não encontrei nada igual a este século. Não sei dizer se vocês são avançados ou completamente imbecis. Confesso que estou pirando. O que você fará?
-Votar nos menos ruins e depois seguir a vidinha: ver reprises de novelas e programas de culinária na TV, cuidar do jardim e tentar viver do INSS até encerrar a temporada terrena e vir fazer companhia à Judite. E você?
-Vou retornar ao tempo futuro e apresentar o relatório ao líder.
-E o que dirá sobre o que viu no século XXI?
-Direi para não voltar no tempo, tentar corrigir as coisas erradas e salvar a humanidade. Melhor deixar que se explodam e reinicializar o planeta.
-Falou!
LOURDINHA PÉ-DE -CANA - Maria de Lourdes e Lígia Lucchesi Inspirado propaganda poltica da Lourdinha Pé-de-cana
A filha, super preocupada com a mãe, encontra na fila do banheiro do cinema a Lourdinha Pé-de-Cana. Ela explica que é candidata a deputada federal pelo PDP (Partido Dos Pinguços). Vai lutar para que no falte cachaça e cerveja neste país.
A filha fica mais preocupada ainda quando encontra essa figura, a Lourdinha. Sua mãe está demorando muito no banheiro e essa candidata só vai atrapalhar com sua esdruxula propaganda política. Diz que seu importante programa de governo promete preço menor da cerveja e da pinga e folga no trabalho todas as segundas feiras para todos poderem apreciar a ressaca com calma De repente, tudo se encaixa e a mãe sai do banheiro dançando carnaval com a Lurdinha, em um frevo sem fim.
SEM ESCOLHAS - ReginaMariass
A Marcia Moretti ficou se perguntando se ao invés do número um , ela escolhesse o número 2, ela não estaria no número 3, escolhido pela Regina, que não teve escolha e acabou optando pelo número 1, não escolhido pelo Eduardo. Na dúvida, escolhemos criar o grupo de número 4 e fomos o único grupo que estavam em três.
A categorização determinada pela Fabiana nos deixou sem escolhas, pois se contrário fosse, escolheríamos o número 6, que poderia ser uma outra escolha. (texto criado pelo grupo que pode escolher ninguém).
hInspiração
Leitura da “Ode à Cebola”, de Pablo Neruda
Criação de Odes