Meliponicultura en Brasil

Page 1

Meliponicultura no Brasil Kalhil Pereira Joaquim Pífano

Voltei a visitar o Blogue http://www.meliponariodosertao.blogspot.com, aliás, já o visito com um vício e interesse crescentes. De forma que as visitas me suscitaram uma curiosidade tal, a ponto de pedir ao amigo Kalhil França que me respondesse a uma série de questões que de alguma forma nos elucidassem acerca do “mundo das Abelhas Sem Ferrão” ou (ASF). Quais as espécies de ASF que se podem criar num meliponario? As diferenças / vantagens / desvantagens de cada espécie. Os meliponídeos são diferentes da Apis, cada espécie adapta-se melhor em certa região, como o Brasil possui dimensões continentais, nós temos muitas espécies de ASF, mas cada uma é específica de certo lugar, isto é, até um problema pois muitas florestas estão a ser destruídas sem nenhum controlo, existe uma abelha chamada Uruçu, uma das melhores ASF em termos comerciais, melhor até que as minhas Jandaíras pois produzem cerca de 8 a 12 litros de mel ano. Contudo, são típicas de floresta atlântica, são excelente polinizadoras e esta mesma floresta atlântica já vem há séculos a ser dizimada, restando poucos resquícios dessas florestas, assim as abelhas ficam restritas a esses restantes lugares, alguns exemplares foram introduzidos no Sertão, mas elas não se dão bem por aqui, pois precisam de floresta húmida para uma melhor sobrevivência, e aqui no sertão não é assim.

(ninhos de Uruçu, grande produtora de pólen e mel)


A Uruçu (melipona scutellaris) possui muitas subespécies em muitos lugares do Brasil, mas a mais famosa e manejada em todo o país é a scutellaris, popularmente conhecida com Uruçu verdadeira. São bastante populares, chegam a ter colónias fortes com cerca de 3.000 abelhas, em termos proporcionais produzem mais que a Apis. Não são agressivas, mas devido ao tamanho (tem o mesmo tamanho que a Apis) possuem quelíceras fortes e as picadas doem, em colónias fortes eu uso um capuz de apicultura.

(Rainha fisiogástrica de Jandaíra sobre os discos, ritual de postura)

(Caixa Modelo Nordestina, com colónia de Jandaíra)

A Jandaíra (melipona subnitida) é uma das espécies mais criadas no Nordeste brasileiro, juntamente com a Uruçu (melipona scutellaris), eu tenho cerca de 300 caixas só de Jandaíra, estão espalhadas em 4 regiões distintas no município de Tabuleiro Grande - RN. Se pensa que tenho muita caixa, fique sabendo que existe um criador que é meu amigo, o Ezequiel, tem só de Jandaíra cerca de 2000 colónias, é isso mesmo, duas


mil!!! Chega a produzir em épocas de boa safra uma tonelada e meia de mel de Jandaíra, agora multiplique isso por R$ 60,00 por cada kg. Para ter uma ideia da importância que esta abelha proporciona, a chave que abre o meliponário dele é feita de ouro, tudo lá é de ouro, até a peneira que ele colhe o mel, também é de ouro 18. Um dia eu também chego lá.

(Abelha Jandaíra, entrada na natureza, a sentinela sempre a postos para vigiar)

São típicas da minha região e são as melhores nos maneios, principalmente por serem rústicas demais, não precisam de muitos cuidados e são extremamente resistentes a regiões desfavoráveis como a minha, contudo, não se dão bem em regiões de clima frio. Como tinha dito acima, cada abelha responde melhor ao seu habitat natural. São abelhas que possuem uma população que varia entre 700 a 1000 abelhas, são agressivas, em colónias fortes defendem com vigor a colónia quando manuseada, atacam picando o intruso.

(Discos de cria de mandaçaia, preparação para desbobramento)


Outra abelha muito criada nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, são as Mandaçaias (melipona quadrifaciata, esta é abelha é muito interessante pois ela possui quatro subespécies: a melipona quadrifaciata quadriafaciata (mandaçaia verdadeira), a Melipona quadrifaciata anthidioides, a Melipona mandaçaia (esta é menor e típica da caatinga do Estado da Bahia), a quarta é um cruzamento entre as duas primeiras.

(Quadrifaciata anthidioides (listras intermitentes), quadrifaciata quadrifaciata (contínuas))

A mandaçaia possui uma população que varia de 400 a 600 abelhas, produzem cerca de 600 ml a 700 ml de mel ano, são as mais dóceis, são patetas, quando abrimos a caixa, às vezes, elas ficam rondando-nos, mas na maioria das vezes procuram esconder-se entre os discos de cria, dá até pena da forma como elas se defendem. Uma característica marcante desta abelha é a formação de lamelas para encobrir os discos de cria, veja que não vê os discos de cria que foram cobertos por completo dois dias depois.

(colónia recentemente criada de mandaçaia, discos cobertos)


Existem muitas outras meliponas, mas não posso falar de todas pois escreveria um livro, mas apenas para ilustrar temos a Guaraipo, típica do sul, temos a Rajada (melipona asivale) é a menor das meliponas, temos muitas outras... Falei apenas das mais famosas e mais criadas. Na Tribo dos meliponídeos, temos ainda as Trigonas, são abelhas menores, pequenas, algumas são tão pequenas que o seu ninho tem as dimensões de uma caixa de fósforo, as Ttrigonas mais famosas são Iraís (esta faz um canudo grande na entrada), Jataís (a mais famosa), moça branca (tem esse nome por que a ponta das asas são brancas), Irapúa (esta produz um mel horrível, não pode ser criada racionalmente e é destruidora, ela destrói as flores pois não colhe o néctar por cima, ela tora a base da flor e suga, ela é esperta, mas esse comportamento acaba por ser prejudicial para as plantas pois inviabiliza os frutos), Cupira (esta habita num ninho de cupim abandonado, por isso o seu nome, o mel também não é bom) Marmelada (esta é criada com facilidade, o mel pode ser consumido, o mel é concentrado), Iratim (abelha Limão) esta última merece um tópico à parte, existem muitas outras, outra interessante é Caga-fogo, esta quando manuseada na natureza defende-se expelindo no intruso uma secreção ácida que queima a pele, provoca um ardor horrível, temos ainda a abelha Cachorro (também conhecida com boca de sapo) é aquela que você chamou de Jandaíra e eu fiz a correcção, tem um comportamento interessante, ela quando manuseada defende-se muito, saem quase todas da caixa ao mesmo tempo, procuram enlouquecer o invasor com muitas picadas ao mesmo tempo.

(A cima, do lado esquerdo a entrada das Tubibas, do lado direito, canudo de entrada das Iraís, em baixo entrada das Jataís, nas trigonas há muitas abelhas na entrada do ninho)


A Tubiba é uma abelha excelente, quase não produz mel, no máximo 200ml/ano, em compensação produz muito pólen, chega a produzir cerca de 8 quilos só de pólen, lembre-se que estamos a falar de uma abelha pequena, com cerca de 4 milímetros, com uma população de cerca de 5 mil indivíduos, são extremamente defensivas, esta abelha é pequena, mas não há como trabalhar com elas sem a roupa de protecção completa, não imagina o quanto ela é defensiva, são pretinhas e possuem uma boca muito forte, as picadas não chegam a doer mais devido à quantidade de abelhas em cima de nós, é preciso protecção, é mais criada no Maranhão e no Estado do Piauí. Dentro destas menores a mais famosa, e que há em todo o Brasil é a Jataí, a Jataí é bem pequena, mede aproximadamente 3 milímetros, o seu ninho tem aproximadamente entre 2.000 a 3.000 indivíduos, o seu mel é muito consumido no Sul do país, tem um sabor muito peculiar, meio azedo, é um pouco ácido, é um dos méis de ASF mais potentes, possui um teor bactericida cerca de 15 vezes mais forte que o mel comum da apis. Esta abelha produz o melhor geoprópolis, pois 90% é puramente resina natural, comparando com as meliponas em geral esse nível é cerca de 30%. É tida como a abelha de comportamento mais higiénico. Muito comum no sul do país, adapta-se a quase todo o tipo de clima. Com certeza ela dar-se-ia muito bem aí em Portugal.

(Ninho de Jataís, lamelas cobrem os discos de cria, muitos potes de pólen e néctar)

Agora deixe-me falar-lhe de uma abelha especial, esta é considerada pela maioria dos meliponicultores como nossa inimiga, é a abelha Iratim, também conhecida como abelha limão, esta abelha não colhe nada da natureza, ela é uma abelha agressiva, ataca as outras abelhas para saquear o mel, resinas e pólen, o seu mel é horrível, não pode ser consumido por nós, é muito populosa, chega a ter entre 3 a 4 mil indivíduos, precisam de ser assim pois como vivem de assaltos, em cada ataque que fazem muitas morrem durante as batalhas para roubar.


(Abelhas Iratins (abelha limão) atacando colónia de mandaçaia)

Elas atacam qualquer ASF, são pequenas, medem mais ou menos cerca de 5 milímetros, esta abelha perdeu as corbíbulas no decorrer da sua evolução, pois deixaram de usar para passarem a roubar. São chamadas de abelha limão porque quando atacam elas emanam um cheiro cítrico de limão para bloquear os ferômonios de defesa das suas vítimas. Possui um sistema articuloso de ataque. A entrada da sua colónia parece um obra de arte, possui diversos túneis falsos para enganar os intrusos. Bem estas são as mais famosas, mas temos muitas outras... O mesmo criador tem mais que uma espécie? Pode, como falei eu mesmo tenho 9 espécies, mas tenho afectação pela Jandaíra por ser da minha região, mas tenho Mandaçaias (todas as subespécies), tenho Rajadas, Uruçus, Iraís, Tubibas, tenho Jataís, tenho Moça Branca, etc.

(meliponários em vários lugares do Brasil)


O Ezequiel, meu amigo lá do Jardim Serído-RN, possui 16 espécies, ele é um dos maiores criadores do Brasil, e também um grande conhecedor da ASF. Qual a estrutura social das ASF? Rainha, obreiras, machos, etc... A estrutura social é parecida com a APIS, todas as colónias tem uma rainha Fisiogástrica (A Guaraipo é uma excepção, essa pode ter até 4 rainha activas, que trabalham em conjunto, normalmente), algumas centenas de obreiras, algumas dezenas de machos, contudo, como tudo nas ASF são especiais, nós temos espécies intermediárias, nós chamamo-las de obreiras rainhas ou rainhas obreiras, são abelhas que fazem a escolta da rainha e podem realizar diversas tarefas da rainha sob as suas ordens, podem até participar do ritual de postura colocando ovos férteis, que vão gerar crias obreiras, esta espécie é muito peculiar, pela aparência são muito parecidas com as obreiras comuns, só alguns detalhes fazem a diferença, elas possuem o dorso coberto por escamas de cera (o Cappas as chama de abelhas pangolins) o Pangolim é um réptil africano escamado, por isso a comparação. Tem um comportamento de posse sobre os discos de cria, algumas são inimigas da rainha, outras são amigas, muitas vezes podem até destronar a rainha, podem assumir a liderança da colónia e bloquear a rainha, impedindo a postura real, muitas vezes o meliponicultor tem que intervir. Como se reproduzem as colónias de Abelhas Sem Ferrão (ASF)? Isso depende se é Trigona ou se é Melipona, nas Trigonas o sistema é parecido com a da Apis, a formação da rainha é alimentar, quando a colónia está grande e precisa de enxamear as obreiras rainhas fazem umas realeiras, igual à da Apis, dessa realeiras nascerá uma princesa que deverá ser fecundada por um macho.

Se for Melipona, a coisa é diferente, não há realeiras, a rainha é criada via genética, a rainha põem ovos reais, o mais interessante que nós não sabemos qual dos ovos é um real ou não, pois todos tem o mesmo tamanho, mais isso não é problemas pois 15% dos ovos postos são ovos reais, ela faz isso instintivamente, como a formação não é alimentar é preciso que estejam sempre a nascer princesas caso a rainha venha a morrer.


(retiramos os discos de cria mais claros para realizar uma divisão, são os mais velhos, com abelhas prestes a nascer, aproximadamente 10% são princesas)

Nas caixas racionais podemos dividir os enxames até 4 vezes por ano. A divisão é simples, existe um tópico no meu blog de como fazer isso. Quais os principais cuidados para criar ASF? Cuidados ao instalar um meliponário... No geral os cuidados são poucos, no maneio é preciso ter cuidado com a manipulação dos discos de cria, são muito sensíveis, esmagam-se com facilidade, uma caixa mal fechada pode proporcionar a entrada de formigas, sarasas, forídeos (esse merece um tópico a parte). Devemos ficar atentos à quantidade alimento nas caixas, nunca deixando faltar alimento, sempre que necessário fornecer alimento artificial.

(Abelhas no alimentador, é um prato de mesa com xarope a base de açúcar e vitaminas e alguns palitos de madeiras para elas não se afogarem)


Durante a instalação, observamos o espaço entre as caixas, isso depende muito de cada espécie, por exemplo, há espécies que podem ser criadas próximas umas das outras, exemplo, Jandaíras, Mandaçaias. Outras precisam de mais distância: Uruçu, Jataí... O meliponario deve obrigatoriamente ter sombra, sempre, pois elas são muito sensíveis ao sol, mesmo a Jandaíras que é típica de clima quente tem problemas se ficar exposta ao sol directo. Como são os diferentes tipos de colmeia? Compram-se? Constroem-se? As colmeias tem diferentes tipos, vários modelos, mas existe já um padrão (modelo INPA e o modelo Nordestino), que muda só as medidas, menor ou maior a depender do tamanho da abelha, até porque a estrutura dos ninhos é o mesmo, discos de cria separados, numa região e os potes de alimento em noutro lugar, todas as ASF fazem isso.

(Caixa Modelo INPA pronta para ser habitada por Melipona, 4 compartimentos, este aí sou eu!!!)

(Caixa modelo INPA desmontada)


Existem modelos mais avançados, são caixas que usam resistências eléctricas para possibilitar um melhor conforto térmico para abelhas de clima quente em regiões frias, tem sido revolucionário, pois há pessoas qie criam Jandaíras e Uruçu em regiões com -4ºC. (Sul do País)

(Caixa com sistema de aquecimento, modelo INPA, usada no Sul do Brasil)

Geralmente eu mando um marceneiro da minha confiança fazer, mas eu já fiz algumas no passado. Uma grande diferença das ASF da Apis e a entrada da colónia, nas ASF, existe um túnel de acesso ao interior do ninho que só passa uma abelha de cada vez, na entrada da caixa fica uma abelha parada (vigia), controla quem entra e quem sai, é muito engraçado, ela impede que as abelhas mais novas (que não sabem voar) saiam. Que flores utilizam para produzir mel? Que outros produtos se podem extrair alem do mel? Devido à diversidade de abelhas, que utilizam muitas flores, mas não procuram as plantas exóticas, a Jandaíra por exemplo é altamente selectiva, mesmo na sua região não colhe em todas as plantas, só para ter uma noção, aqui existe um arbusto espinhento que chamamos de Jurema, temos a Jurema branca e a Jurema preta, mas as Jandaíras só colhem na branca (elas são racistas, rsrs), é muito interessante por que as duas são parecidas, já cheguei a ver um facto interessante, no sítio há dois pés de Jurema um ao lado do outro, um branco e o outro preto, no Inverno todas florescem com muito vigor, mas elas só vão à branca.


(Época de chuvas e florada)

(A mesma foto de cima, época de seca, no sertão do RN, quando é tempo de seca é seca mesmo, observe que o lago acima secou na foto abaixo!)


(Vegetação arbustiva e espinhosa, quando chega o Inverno esse mesmo deserto se transforma em uma explosão de vida, tudo floresce, época de fartura!!!)

(Sertão na SECA, visão da casa dos meus avós)


(O mesmo lugar no período chuvoso, no Sertão quando chove tudo floresce e renasce)

(Chuvas no Sertão)

O mel de Jandaíra é o mais comercial, mais até que o da Uruçu, é delicioso, nem se compara com o mel da Apis, tem um sabor peculiar, na minha região tem sabor de amêndoas, tem um teor bactericida muito elevado, chega a ser 10 vezes mais forte que o da Apis, é medicinal e é usado muitas vezes puro sobre feridas e queimaduras.


(Olhe a beleza da cor do mel, ĂŠ um dourado intenso, vivido, de sabor encantador)

(Mel de JandaĂ­ra jĂĄ engarrafado e rotulado, pronto para venda) (esta garrafinha custa R$ 20,00, mais ou menos uns 7 euros)


Como se faz a extracção do mel? Como ele é armazenado em potes, usamos um sugador odontológico se for de grande quantidade, ou mesmo uma seringa descartável quando é nos méis das Trigonas, não se usa o sugador nas Trigonas por que o mesmo produz muitas bolhas neste mel.

(Alguns amigos a colher mel de Uruçu amarela (mandory) com seringa)

Produzem todo o ano ou só em determinados meses? Depende da espécie, mas a grande maioria produz em épocas específicas, as Jandaíras estão a produzir agora, vai de Abril a Julho. Por aqui é época de florada intensa, depois deste período, só no ano que vem, depois que passa Agosto eu tenho que alimentar nas caixas que extrai o mel. Que doenças afectam as ASF? Como combatem essas doenças? Não existem doenças catalogadas cientificamente, o mais próximo que posso comparar é somente os forídeos, que são mosquinhas que entram nas colónias mais fracas (sem guardas) ou nas colónias que foram manuseadas de maneira errada (retirada de mel de maneira errada, rompimento excessivo de potes de pólen, fecho mal feito da caixa, etc. O combate a esta mosca quando ela consegue entrar é fácil, é a base de vinagre de maçã, fazemos umas iscas para capturá-los, a isca é simples, é um copo fechado com um ou dois furos, em que só passam os forídeos, colocamos dentro da caixa, ele entra atraído pelo cheiro e não consegue sair mais, acaba morrendo afogado, quando a infestação é grande, trocamos a caixa das abelhas para nos livrar dos ovos postos nos potes de pólen e mel. Que predadores afectam as ASF? Como os afugentam? Os predadores são lagartixas, sapos, formigas doceiras (que querem roubar o mel), alguns pássaros, para afugentar usamos um óleo queimado na base de sustentação das caixas, para evitar a subida desses predadores, já contra os pássaros não há o que se fazer, mas eles comem somente algumas abelhas, não chegam a incomodar.


Como é o comercio do mel e outros produtos das ASF? Preços, embalagens, mercados... O comércio ainda tem muito que melhorar, a produção ainda é muito baixa, principalmente com o potencial que o País tem, mas para quem produz isso é uma vantagem pois a procura é muito grande, para ter uma ideia do que eu estou a falar, a minha produção deste ano já foi toda vendida no ano passado, tenho clientes a aguardar mel já para o próximo ano. Os preços variam de acordo com a região, no sul e sudeste o quilo pode chegar a R$ 100, R$ 120,00, por aqui, chega a R$ 50,00, R$ 60,00. (1 euro vale 3 reais, faça a conversão). Como é a convivência entre apicultores/meliponicultores Apis mellifera/ ASF's? É boa, geralmente é assim, o marido é apicultor e a mulher é meliponicultora, actualmente eu estou a assessorar uma ONG no Estado do Ceará, estamos a trabalhar num projecto de reintrodução da criação da Jandaíra em quatro comunidades, cada comunidade recebeu do meu meliponário 20 colónias e um curso básico de meliponicultor, o mais interessante é que 80% dos alunos são mulheres. Existem alguns entraves, muito se reclama, principalmente os ambientalistas que Apis mellifera estaria a matar muitos enxames de ASF (em épocas de escassez de alimento, a Apis invade colónias de ASF em busca de mel, é raro mas acontece, eu já perdi algumas colónias por isso, mas confesso que devido a erros meus, aberturas de caixa com derramamento de muito mel, o que atraí o comportamento de roubar da Apis. Na verdade meu amigo, o grande inimigo é o próprio homem que destrói a floresta nativa sem pena, veja a nossa Amazónia, que tem sido destruída há largos anos e ninguém por aqui faz nada. Existe algum tipo de apoio governamental ao sector da meliponicultura? Qual? E como? Não, não existe, raramente vemos alguma coisa a respeito, a meliponicultura ainda engatinha por aqui, até porque o que dá dinheiro para exportação e é muito mais comercial é o mel da Apis, recentemente, há poucos meses atrás, o governo federal criou uma lei que regulamenta a profissão de apicultor, esqueceram-se dos meliponicultores, e é por que as ASF são nativas...!!! Preferem cuidar das exóticas a cuidarem das suas próprias riquezas, coisas do Brasil. Talvez tenha esquecido algum aspecto importante... Sabia que as ASF do Brasil não fazem geleia real, é isso mesmo, não existe geleia real, o mel das ASF é tão poderoso que a rainha não precisa de um alimento especial, ela alimenta-se do mesmo mel que as obreiras comuns, a única diferença é que a rainha alimenta-se, também, de ovos alimentares de obreiras rainhas, são ovos inférteis postos única e exclusivamente para alimentação da rainha, esse ovos são compostos ricos em proteínas. Uma abelha demora em média 44 dias para nascer, o dobro da Apis, o macho demora 42, a princesa demora 40 dias. As células de cria são operculadas assim que a rainha põem o ovo, todo o alimento para o desenvolvimento da larva é posto momentos antes da rainha realizar a postura, só sendo aberto pelas obreiras para o nascimento das abelhas novas. O tempo de vida de uma obreira melipona pode chegar até aos 100 dias, os machos vivem um pouco mais 120, já a rainha pode viver até 5 anos. O mel da ASF, devido à maior concentração de água, fermenta com facilidade, assim que é colhido deve ser posto no frigorífico, este é um dos grandes impasses para exportação, o Jandaíra aguenta ficar fora do frigorífico, mas precisa de passar pelo processo de maturação ou congelamento para conseguir mais tempo.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.