Primus inter pares. Oscar de Niemeyer Soares: gênio, educação e ofício |1930 - 1945

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PRIMUS INTER PARES OSCAR DE NIEMEYER SOARES FILHO: GÊNIO, EDUCAÇÃO E OFÍCIO | 1930 – 1945

PROPOSTA DE TESE DE DOUTORADO, APRESENTADA PARA O EXAME DE QUALIFICAÇÃO Autor: Me. Arq. Marcos Leite Almeida Orientador: Dr. Arq. Carlos Eduardo Dias Comas


Porto Alegre, janeiro de 2021


Referência: ALMEIDA, Marcos Leite. PRIMUS INTER PARES. OSCAR DE NIEMEYER SOARES FILHO: GÊNIO, EDUCAÇÃO E OFÍCIO | 1930 – 1945. Proposta de tese de doutorado apresentada para o exame de qualificação. Orientador: Dr. Carlos Eduardo Dias Comas. Programa de Pós-graduação em Arquitetura - PROPAR, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2021. Imagem da capa: Oscar Niemeyer, foto de Kurt Klagsbrunn (circa 1945)


per scientiam ad lucem Inscrição em latim, na bandeira e símbolos do Liceu Francês, do Rio de Janeiro: “pela ciência à luz


Doucement. — Ce n'est que dans les romans qu'on voit des éclosions spontanées de génies qui devinent tout sans avoir rien appris, et dépassent, par simple intuition, tous les efforts et tous les résultats de l'expérience. La réalité est plus austère. Les grands artistes, les hommes de génie en tête, ont toujours été les hommes des longues et profondes études, formés par une discipline rigoureuse de l'intelligence, s'identifiant patiemment les ' éléments, les moyens, le patrimoine acquis de leur art, s'élevant de la faculté de comparer au droit de choisir, parvenant enfin à l'originalité puissante, cette gloire de l'artiste, par la supériorité du savoir, la rigueur de la méthode, la trempe de l'esprit, la progression dans l'amour de leur art, à mesure qu'ils en pénétraient de plus en plus, et chaque jour davantage, les plus intimes beautés. Trecho do Capítulo 1, Tomo 1 de Eléments et theorie de l'architecture, de Julien Guadet

Delicadamente. — É só nos romances que vemos surtos espontâneos de gênios que adivinham tudo sem ter aprendido nada, e excedem, por simples intuição, todos os esforços e todos os resultados do experimento. A realidade é mais austera. Os grandes artistas, os homens de gênio em mente, sempre foram os homens de estudos longos e profundos, formados por uma disciplina rigorosa de inteligência, identificando pacientemente os elementos, os meios, a herança adquirida de sua arte, saindo da capacidade de comparar com o direito de escolha, finalmente alcançando a poderosa originalidade, essa glória do artista, pela superioridade do conhecimento , o rigor do método, o temperamento da mente, a progressão no amor de sua arte, à medida que penetravam cada vez mais, e a cada dia cada vez mais, as belezas mais íntimas. Traduzido com recurso do Microsoft Word


1. DA PESQUISA E DA PROPOSTA DE TESE Esta proposta de tese é enviada para qualificação transcorridos dois anos, metade do prazo, de duração do Curso. Nela relataremos o estágio e o volume da pesquisa realizada, sendo o objetivo principal, neste momento, apresentar as hipóteses e a estrutura de organização da tese. Partindo da revisão do projeto de tese de 20191, da coleta de dados via pesquisa e do material levantado, já há contribuições a fazer. É possível também confirmar algumas das hipóteses lá aventadas, descartar outras e formular novas. A pesquisa pretende então contribuir detalhando e registrando a trajetória pessoal, acadêmica e profissional de Oscar Niemeyer até 1945. Pretendemos também produzir uma revisão crítica a respeito dos conceitos e definições correntes sobre o Arquiteto e sua formação, atuação e produção; revelar fatos, mostrar documentos e agrupar dados dispersos afim de obter a demonstração de que: - A educação continuada formal e informal, recebida até 1936, conferiu a Oscar Niemeyer os fundamentos teóricos e operativos para a plena compreensão e exercício da nova arquitetura, de modo original. São fundamentos teóricos os conhecimentos como a Teoria da Arquitetura, a História da Arquitetura e a Tecnologia aplicada, passiveis de transmissão. São fundamentos operativos as habilidades passíveis de desenvolvimento pela prática como o desenho, a representação técnica, a inteligência espacial, a elaboração de modelos, etc.2 - O volume, a diversidade e a qualidade da produção juntamente com a variada atuação profissional (a partir de 1937) conferem a Oscar Niemeyer imediata influência e importância no plano nacional, para num segundo momento (a partir de 1943) torná-lo conhecido e relevante no plano internacional. A produção e a atuação profissional entre 1937 e 1945 se dá sob a parceria, colaboração e tutoria com diferentes profissionais3 e sob o controle, a contratação e a concorrência de entes públicos e privados. A temática da tese tem paralelo em obras sobre Le Corbusier (TURNER, 1977), Le Corbusier Before Le Corbusier (MOOS, 2002) e (BIRKKSTED, 2009) em que as suas origens e formação são o foco, de maneira biográfica e documental. Nessa linha também podemos citar a biografia crítica de Mies van der Rohe (SCHULZE, 1985) e obra de referência “Vida dos Artistas” (VASARI 1550). A tese pretende abordar temas ainda não apresentados e estudados sobre a trajetória de Oscar Niemeyer organizada em três conjuntos. O primeiro - GÊNIO - visa conceituar e explicar termos ao Arquiteto relacionados ou por ele expressados como: invenção, originalidade, liberdade plástica, espetáculo arquitetural, beleza, etc. com a Teoria Acadêmica, com a Doutrina da nova Arquitetura, com a Filosofia e com a Teoria do Conhecimento. Este segmento será dividido, aparecendo na abertura e no fechamento da tese. O segundo - EDUCAÇÃO - tem viés biográfico quando abrange o período anterior à entrada na Escola Nacional de Belas Artes (ENBA) sendo Primus inter pares: Oscar de Niemeyer Soares Filho. Da formação à consagração (1907-1947). Disponível em: https://issuu.com/marcosalmeida72/docs/primus_inter_pares 1

A noção destes dois fundamentos se embasa nos textos de Alfonso Corona Martinez, Carlos Eduardo Dias Comas, Edson Mahfuz, Elvan Silva e Rogério de Castro Oliveira publicados em COMAS, Carlos Eduardo. Projeto arquitetônico: disciplina em crise, disciplina em renovação. São Paulo: Projeto, 1986 2

3 Arquitetos

Lucio Costa, Carlos Leão, Jorge Moreira, Ernani Vasconcellos, Affonso Eduardo Reidy, Le Corbusier, Alcides da Rocha Miranda, Aldary Toledo; Engenheiros Emílio Baumgart, Abel Ribeiro Filho, Joaquim Cardozo, entre outros


descritivo e analítico até o período de sua conclusão. A descrição e análise do curso de aperfeiçoamento em Architectura da extinta Universidade do Districto Federal (UDF) completa este conjunto. O terceiro - OFÍCIO – será dedicado ao exercício profissional entre 1935 e 1945 - desde a fase inicial de sua carreira até a sua afirmação plena como Arquiteto. Em cada um deles a intenção é apresentar fatos e referências documentadas que sirvam para lançar novas luzes sobre o arquiteto. Os projetos serão o fio condutor, não sendo o objetivo principal analisá-los ou descrevê-los, quando abordados por outros autores, mas sim, contextualizá-los na produção do Arquiteto. Aqueles pouco estudados ou até mesmo inéditos serão as exceções que confirmam a regra. Os projetos que porventura forem novamente analisados, o serão, para demonstrar processos e métodos de projeto aplicados por Oscar Niemeyer; à luz dos fundamentos teóricos e operativos, de suas influências pessoais (especialmente Lucio Costa e Le Corbusier) de e suas referências teóricas e repertório. Ao final será possível compreender como Oscar Niemeyer passa de desenhista a Arquiteto com reconhecimento e prestígio internacionais, e como à sua figura se associa “gênio” e “talento”, de forma tão célere. CRONOGRAMAS DA PESQUISA

2. DO PROBLEMA E DA LACUNA O interesse pela Arquitetura Moderna Brasileira e em especial por Oscar Niemeyer, gera uma série de publicações editadas tanto no Brasil quanto no exterior que, juntamente com os periódicos nacionais, formam o registro mais consistente do século XX a respeito da vasta produção do arquiteto até os anos 50. A primeira é Brazil Builds: architecture old and new: 1652-


1942 (1943) editada pelo MoMa de Nova Iorque. Nela Oscar Niemeyer é o mais destacado dentre os 24 colegas, comparecendo com 10 projetos. O texto de Philip Goodwin é ricamente ilustrado mostrando um panorama desde a época colonial até 1942, separado em duas partes: edifícios antigos organizados por estados e edifícios modernos agrupados tipologicamente. A segunda obra de referência, Modern Architecture in Brazil (1956), escrita por Henrique Mindlin, teve traduções para o Inglês, Francês e Alemão tratando-se do principal registro de nossa arquitetura moderna entre 1937 e 1955; quem assina o prefácio é Siegfried Giedon. Sua organização temática mostra 19 projetos de Oscar Niemeyer. Dentre os principais periódicos internacionais, dois dedicam números à Arquitetura Brasileira: Report on Brazil em Architectural Review 116 (1954) e os especiais Brèsil de L'architecture d'aujourd’hui, 13-14 (1947) e 42-43 (1952) onde mais uma vez ele é o destaque. As monografias dedicadas à obra de Oscar Niemeyer começam com o Álbum da Pampulha de 1944, editado pela Imprensa Nacional (órgão do Governo Federal então sob o Estado Novo de Getúlio Vargas) com prefácio de Philip Goodwin4. Posteriormente, Stamo Papadaki publica três títulos: The work of Oscar Niemeyer (1950)5 é um registro cronológico, desde 1937 com a Obra do Berço até a fábrica de biscoitos Duchen; Works in progress (1956) apresenta 30 obras em três partes: na escala de um subcontinente, forma-estrutura-forma e encargos; Masters of world architecture (1960) é a última obra, fascículo de uma coleção onde Oscar Niemeyer figura ao lado de Eric Mendelsohn, Richard Neutra, Walter Gropius, Louis Sullivan, Alvar Aalto, Le Corbusier, Antonio Gaudí, Pier Luigi Nervi, Ludwig Mies van der Rohe e Frank Lloyd Wright, que abre a série. David Underwood com Oscar Niemeyer and Brazilian Free-form Modernism (1994) lançado em português em 2002 e Josep Botey com Oscar Niemeyer (1996) apresentam trabalhos panorâmicos sobre a obra do arquiteto. O primeiro tem uma abordagem crítica enquanto o outro é uma compilação em formato “de bolso” que vem até os anos 90, dividindo a obra tipológica e cronologicamente; que integra a coleção obras y proyectos da Editora Gustavo Gili. Jean Petit apresenta em Niemeyer Poeta da Arquitetura (1995) um farto material com característica iconográfica e biográfica, reúne alguns dos escritos de Oscar Niemeyer; o tom é de revisão e registro, sem maiores aprofundamentos: um livro de mesa. Recentemente Alan Hess publica dois títulos: Oscar Niemeyer Houses (2006) e Oscar Niemeyer Buildings, são obras abrangentes e bem documentadas. A publicação mais extensa e densa sobre Oscar Niemeyer é de Styliane Philippou. Oscar Niemeyer: Curves of Irreverence (2008) em grande formato com cerca de 400 páginas, apresenta a trajetória e obra do Arquiteto analisada crítica e historicamente, nos contextos nacional e internacional.

O prefácio, juntamente com o texto escrito por Oscar Niemeyer, está nos anexos desta proposta. A edição é um álbum promocional em formato de foto livro comemorativo à inauguração de 3 edifícios do conjunto da Pampulha, quais sejam o Cassino, o Iate e o Baile a introdução é escrita por Juscelino Kubitschek de Oliveira e o prefácio por Philip Goodwin, as fotografias são de Marcel Gautherot; editado pela Imprensa Nacional órgão do Governo Vargas. Versão digitalizada de exemplar do acervo de Rodrigo Melo Franco de Andrade contém dedicatória de Oscar Niemeyer "Para o Rodrigo e Graciema // com um abraço afetuoso do // Oscar" está disponível em: http://rubi.casaruibarbosa.gov.br/handle/20.500.11997/6380. Na Fondation Le Corbusier localizamos um exemplar pertencente à biblioteca do Arquiteto, com dedicatória de Oscar Niemeyer “para Le Corbusier com a afetuosa admiração do Oscar” datada de 1945. Niemeyer enviou também um outro livro “Mon expérience a Brasilia” com a seguinte dedicatória: “Para Le Corbusier – nosso mestre – com um abraço afetuoso. Oscar Niemeyer 1963” 4

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Le Corbusier também possuiu um exemplar em sua biblioteca, ofertado pelo autor.


Nas publicações citadas, a necessária descrição e análise do período entre o início de seus estudos na ENBA (1930) e o ingresso na equipe do Ministério da Educação e Saúde (1936) não tem o devido espaço e rigor. A visão corrente é simplificada e superficial, com muitas lacunas e algumas imprecisões; os dados e as informações existem, mas estão dispersos e ainda por revelar. A descrição, a interpretação e a análise do encontro entre Oscar Niemeyer e Le Corbusier é outro ponto a ampliar. Reconhecer as razões, fatos e circunstâncias que permitiram e tornaram Oscar Niemeyer o mais destacado arquiteto brasileiro, são tão relevantes quanto o reconhecimento e o estudo de sua obra em específico. Há uma história a narrar e a recuperar até o final de 1930, há uma história a reconstituir entre 1930 e 1934, há um processo de evolução a explicar desde 1935 e, finalmente, há uma revelação a explicar a partir de 1936. O senso comum, expresso por boa parte da crítica e historiografia, tende a mitificar, a fantasiar e a simplificar a figura de Oscar Niemeyer e seu processo de projeto. De certa forma, ele mesmo tratou o tema assim6. Outra vertente resume Niemeyer a uma mera criatura de Le Corbusier. Bruand e Comas são as exceções que confirmam a regra. Seja por reconhecerem o impacto do convívio direto com Le Corbusier, seja por apontar a relevância da figura de Lucio Costa apontando os vínculos com a Teoria Acadêmica e com as Doutrinas e obras Le Corbusier. Cabe à essa pesquisa preencher lacunas, reconstituir com detalhes esse período e demonstrar como o preparo, o conhecimento, a erudição e o repertório obtidos por Oscar Niemeyer são os fatores que o levaram a destacar-se.

3. DO MÉTODO E DAS FONTES O período é definido entre os anos de 1930 e 1945. Por certo há a necessidade de se remeter a outros períodos quando o assunto não é relacionado ao personagem principal da tese, ou quando os fatos se dão antes de seu ingresso na ENBA, mas, independentemente disto, a organização - mesmo que seja separada em conjuntos temáticos (Gênio, Educação e Ofício) será cronológica. Quanto ao método a preferência, é dada ao uso de fontes primárias, em uma abordagem filológica, na sua seleção e uso. Conforme Wölfflin, ela “consiste na verificação de documentos em suas origens, posterior decomposição em minúcia dos detalhes, seleção e agrupamento de elementos, pesquisas de autenticidade etc.”7 Interessa aqui o que aconteceu e foi realizado. As fontes primárias, consultadas e por consultar (*), encontram-se nas seguintes instituições e/ou locais: - Arquivo Central do IPHAN - Centro de Documentação do Patrimônio (IPHAN); - Arquivo Gustavo Capanema - Fundação Getúlio Vargas (GC) - Arquivo Histórico e Reserva Técnica do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) * - Arquivo Nacional (AN) * - Arquivo Público do Rio de Janeiro (APR) * - Biblioteca da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA-OR) 6Uma boa interpretação sobre como o próprio Oscar Niemeyer atuou nesse sentido está em:

DURAND, J.; SALVATORI, E. A gestão da carreira dominante de Oscar Niemeyer. Tempo Social, v. 25, n. 2, p. 157-180, 1 nov. 2013. 7

WÖLFFLIN, Heinrich. Renascença e barroco. São Paulo: Perspectiva, 2000. p.12.


- Biblioteca da Faculdade de Arquitetura Universidade Federal do Rio de Janeiro (BFAU) - Biblioteca do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (BCT-OR) - Biblioteca do Museu Nacional de Belas Artes - Biblioteca Nacional (BN) * - Bibliotecas do IPHAN - Casa de Lucio Costa (CLC) - Centro de Memória do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro – (CEM) - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) - Fondation Le Corbusier (FLC) - Fundação Oscar Niemeyer (FON) * - Museu D. João VI da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do RJ (MDJ) - Núcleo de Pesquisa e Documentação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do RJ (NPD) * - Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade da UFRJ (PRO) Além disso, consideramos as obras, os escritos e as entrevistas e a correspondência dos personagens tratados na tese como fontes preferenciais de natureza similar às primárias, aplicando o princípio de seleção de literatura de Kruft (2016), escreveremos sobre “a literatura original”. 8 Para tanto, as fontes primárias disponíveis em acervos e arquivos, assim como os periódicos da época, são os elementos predominantes na elaboração da tese, sem detrimento de revisão bibliográfica e de fundamentação amparada em outros autores, interpretações e publicações. A isso não se aplica o recorte temporal anteriormente citado, pois a gama de assuntos correlatos títulos e de autores é bastante ampla. Das minhas experiências como professor nasceu a ideia do presente livro. A ideia inicial de recorrer amplamente, em cada um dos capítulos, à literatura secundária disponível mostrou-se enganosa, já que em muitos casos ela, surpreendentemente, não existia. O aprofundamento na literatura existente remeteu-me cada vez mais às fontes textuais primárias, e estudá-las despertou em mim desconfiança e descrédito em relação à literatura secundária disponível. Tornou-se cada vez mais claro para mi que uma visão geral responsável só poderia ser obtida a partir da leitura direta dos textos originais sobre a teoria da arquitetura. Desse ponto em diante, meu objetivo foi o de tentar não escrever sobre nada a respeito do que não me tenha informado no original.

A título de exemplo: a literatura disponível até 1935, no contexto do Rio de Janeiro e nos acervos das Bibliotecas das antigas Escola Nacional de Belas Artes e Escola Polytechnica9 será lida, citada e interpretada diretamente. Foram catalogados e estão nos anexos dessa pesquisa, planilhas contendo o acervo das Biblioteca da Escola de Belas Artes (EBA-OR), da Biblioteca da Faculdade de Arquitetura (BFAU) e da Biblioteca do Centro de Tecnologia (BCT-OR) e são cerca de 900 exemplares. A verificação de eventuais títulos que não componham o acervo EBA-OR ora

KRUFT, Hanno-Walter. História da teoria da arquitetura. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2016. p. 10 8

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acervo da biblioteca da então Escola Nacional de Belas Artes, foi desmembrado e depositado nas bibliotecas do Museu Nacional de Belas artes, da Faculdade de Arquitetura da UFRJ e na Escola de Belas Artes. Os acervos podem ser pesquisados através dos sites http://mnba.phlnet.net e https://minerva.ufrj.br/ .Nesse campo é de interesse também o acervo da antiga Escola Politécnica, que se encontra no Centro de Tecnologia da Faculdade de Engenharia da UFRJ, também acessível na base Minerva.


preservados, será feita utilizando o Catálogo da Biblioteca - com indicação das obras raras ou valiosas (1945) e o Catálogo da Biblioteca - com indicação das obras raras ou valiosas (1957). A visão de outros autores não tem valor na medida que não esteve em pauta o tema aqui tratado. Guadet, Durand, Le Corbusier, L’Architecture Vivante ou L'architecture d'aujourd’hui tem interesses relacionados ao contexto do ensino na ENBA considerando os possíveis reflexos sobre Oscar Niemeyer, sejam diretos ou indiretos. Sobre a circulação e disponibilidade de literatura relativa à nova arquitetura, destacamos o texto de Marcelo Roberto10 que contém a amostragem dos autores e títulos ao alcance dos arquitetos cariocas, que vai muito além de Le Corbusier. Ao lidar com fontes primárias e com literatura original, à abordagem filológica é agregada uma outra de natureza historiográfica com as especificidades da historiografia da arte e da arquitetura apontadas por Weisman: A distinção fundamental entre o objeto de estudo da historiografia geral e o das historiografias da arte e da arquitetura refere-se ao seu tipo de temporalidade: pois se em todos os casos o objeto possui tanto uma determinação espacial como temporal, para a historiografia geral o objeto deixou de existir no tempo, e o primeiro trabalho do historiador é fazê-lo reviver, por assim dizer, trazê-lo para o presente mediante sua descrição ou narração. Já o objeto das historiografias da arte e da arquitetura existe no presente por si mesmo, e o trabalho do historiador tem que partir dessa realidade presente. No primeiro caso, o protagonista é um acontecimento, um personagem ou uma cultura que teve lugar no tempo e desapareceu, deixando apenas certos testemunhos que permitirão seu conhecimento. No segundo, o protagonista - a obra de arte ou de arquitetura -, embora pertença a outro tempo e lugar, é, em si mesma, o testemunho histórico principal e imprescindível, o que reúne vos para seu conhecimento. Na historiografia geral, portanto, o historiador maneja fatos carentes de matéria física. Todas as suas referências sobre tais fatos são exteriores ao evento em si - crônicas escritas, plano de campanhas militares, decretos oficiais, cartas etc. Desse modo ficará em torno de seu problema até compreendêlo e reconstrui-lo em sua própria mente. O conjunto de seus juízos começa a operar no próprio ato da reconstrução do objeto histórico, culminando no significado que aquele fato teve em seu próprio momento histórico, e, provavelmente em épocas sucessivas, chegando até o presente, em algumas ocasiões. Diferentemente dessa situação, o historiador da arte ou da arquitetura encontra-se na presença do fato a ser examinado, que possui extensão física e permanência no tempo, desde o momento de sua criação até o momento em que se apresenta aos sentidos do historiador. Portanto, não lhe compete a tarefa de reconstruir mentalmente seu objeto de estudo, cuja presença é a condição mesma de sua tarefa. Em todas essas considerações, por razões metodológicas, parti da suposição de que o objeto de estudo do historiador da arte ou da arquitetura é simplesmente a obra em si. Certamente, o objeto de estudo pode variar enormemente- e o elenco de problemas estudados neste trabalho assim o prova. Em todos os casos, porém, em última instância, existe um suporte físico sobre o qual seus estudos estarão baseados, um suporte que está presente diante do historiador, seja obra de arte, edifício, área urbana, desenho, croquis, projeto, todos esses objetos que não requerem reconstrução por parte do historiador.11

ROBERTO, Marcelo. Está acabando a incompreensão. Arquitetura e Urbanismo, Ano 2, n 6 (Nov.-Dec. 1937), 323324. 10

WAISMAN, Marina. O interior da história: historiografia arquitetônica para uso de latino-americanos. São Paulo: Perspectiva, 2013. p.13 11


A participação de Oscar Niemeyer no concurso - e na equipe - que trabalha no projeto do Ministério da Educação e Saúde (1936-1945) e na Comissão que estuda os planos para a Universidade do Brasil (1936), bem como a possibilidade de conviver direta e diariamente com Le Corbusier são o impulso decisivo para a sua carreira. A reconstituição, análise e demonstração do processo de trabalho do Arquiteto nesses projetos, pode servir como exemplo didático a ser aplicado no ensino de projeto de arquitetura. Esse resultado pretende ser obtido através da análise crítica de três projetos: o Instituto Nacional de Puericultura, a “Variante 37” do Ministério e o Cassino da Pampulha. Neles se pretende buscar o entendimento a respeito do processo de projeto do Arquiteto em suas etapas iniciais de obtenção da solução do partido geral. Nos interessa mais o processo do que o produto final. Qual foi a contribuição do sistema Beaux-Arts? Qual o repertório aplicado? Quais as referências diretas? Qual a contribuição dos conhecimentos teóricos e operativos adquiridos durante o processo de educação, formação e informação pode ser descrita? Como ocorreram os diferentes processos até a solução? É possível reconstituir, de modo fundamentado, os passos e decisões tomadas?


4. ESTRUTURA DA TESE 1. INTRODUÇÃO Tema, contextualização, definições, objetivos e hipóteses; 2. GÊNIO - Caracterização, definições, originalidade e influência e teoria; 3. EDUCAÇÃO 3.1. Iniciação | 1907 a 1929 A família, origens, ascendência, genealogia; O estudo no Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria e no Lycée Français 3.2. Formação | 1930 a 1934 - A Escola Nacional de Belas Artes; breve histórico, contextualização; o currículo cursado, o histórico escolar, as disciplinas, os Professores e os contemporâneos de escola; - O acervo bibliográfico da escola, as publicações disponíveis e acessíveis; - A reforma de Lucio Costa e o novo currículo, sobreposições 3.3. Aperfeiçoamento | 1933 a 1936 - O aprendizado pela práxis, o estágio no escritório de Lucio Costa e Carlos Leão; - A doutrina de Le Corbusier, escritos e obras até 1936; - O Curso de aperfeiçoamento em Architectura da Universidade do Districto Federal; - A doutrina de Lucio Costa, Razões da nova Architectura (1934); - Ante-projecto de Residência (1935) e o Concurso para a Sede da Associação Brasileira de Imprensa (1936); - A segunda vinda ao Brasil de Le Corbusier, detalhamento; as 6 conferências de 1936; o convívio com Le Corbusier (1936), colaborando nos projetos do Ministério da Educação e da Cidade Universitária do Brasil; 4. OFÍCIO 4.1. Revelação| 1936 e 1937 - A Cidade Universitária do Brasil pela Equipe de Lucio Costa, o Club dos estudantes, “as coisas lindas” da “estrela do grupo”; a Residência na Urca, 2 Ministérios, a Obra do Berço e o Instituto Nacional de Puericultura; 4.2. Afirmação | 1938 a 1942 - A serviço da autoridade, o Arquiteto do Ministro e do Ministério; -O pavilhão brasileiro na Feira de Nova Iorque, o Hotel de Ouro Preto e o Estádio Nacional; 4.3. Consolidação| 1943 a 1945 - Brazil Builds - O Conjunto da Pampulha, conclusão e inauguração do Ministério da Saúde 5. GÊNIO - Originalidade, conhecimento, talento e influência; linguagem, conclusões 6. BIBLIOGRAFIA 7. ANEXOS


5. APONTAMENTOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA TESE Segue um resumo daquilo que já foi pesquisado, estudado e encontra-se em processo inicial de redação. Vale ressaltar que em algumas partes a redação ainda não foi iniciada e mesmo naquilo aqui apresentado ainda há alguma pesquisa a fazer devido ao fechamento do atendimento presencial em 2020 ou por falta de resposta dos acervos e locais de consulta. EDUCAÇÃO - INICIAÇÃO | 1907 A 1929 O sobrenome Niemeyer tem origem em Delmenhorst (Alemanha). A origem familiar de Oscar Niemeyer remonta a antepassados que migraram para Portugal e de lá para o Brasil, no séc XIX. Por certo, a família e as relações pessoais têm seu papel no desenvolvimento profissional, afinal seus familiares exerceram postos importantes no Exército, no Judiciário, no Supremo Tribunal Federal e no Clube de Engenharia da então capital Rio de Janeiro. A trajetória familiar aparece nas diversas memórias e publicações sobre o arquiteto, um tanto dispersa e com diversas versões, algumas vezes imprecisas e contraditórias12. Os dados precisam de revisão, organização e comparação com fontes primárias. É de especial interesse a história de seus diversos antepassados, que foram engenheiros e militares.13 Falemos agora dos Niemeyer, que prestaram altos serviços ao país que os acolheu. O primeiro, Heinrich von Niemeyer, entrou para o serviço de Portugal em 15 de Maio de 1778. Nascera em 1756, falava francês e inglês, tinha alta cultura matemática, era arquitecto, artilheiro, geómetra, etc. Capitão em 1782, foi para o Algarve levantar plantas e depois colaborou com Luís C. Pinheiro Furtado no levantamento do Mapa Topográfico do país. Por não se saber o destino que tiveram as duas plantas do forte de Lippe — uma feita e assinada pelo conde de Lippe e outra desenhada por Valleré, com aditamentos, para acréscimo do poder do forte e para tirar todo o partido do local — foi Niemeyer encarregado de fazer outra planta. São deste engenheiro: «Planta do Rio Lena e suas margens no sítio do Pôrto Moniz, e onde na direcção da nova estrada Real se deve construir a ponte do Lena, com o projecto da nova direcção do alveo e leito do rio. Feita pelo sargento-mor Henrique de Niemeyer, em Março de 1794»; e «Memória sôbre a regulação do calibre das peças de artilharia pelo coronel de engenheiros Henrique de Niemeyer», 1805. O segundo Niemeyer foi o coronel de engenheiros Konrad Heinrich von Niemeyer, que veio para Portugal com o conde de Lippe. Prestou grandes serviços, entre êles a melhoria da navegação no Douro. Também trabalhou com o Dr. Ciera na triangulação 3e Portugal. Nasceu em Hannover, era filho do general Jakob Konrad von Niemeyer, e faleceu em Lisboa, sendo sepultado na igreja de S. Domingos. Seu filho primogênito, Konrad Jakob von Niemeyer, nasceu na capital portuguesa em 1788 e morreu no Brasil em 1862, como coronel de engenheiros. Sentou praça, como cadete, no Regimento de Artilharia da Costa, entrando, em seguida para o Colégio Militar, onde foi o primeiro aluno do seu curso. Saiu em 1808, mas nessa altura Portugal estava sujeito ao domínio francês. Como não quis servir os invasores, fugiu para o Brasil, com mais dois cadetes e nove soldados, conseguindo alcançar a esquadra inglesa que bloqueava o pôrto de Lisboa. No Rio de Janeiro, seguiu o curso de engenharia, e em 1815 era promovido a primeiro tenente. Fêz parte das forças que, em 1817, sufocaram a revolução republicana de Pernambuco. Começou depois a sua brilhante carreira. Levantou as plantas do Recife e de Olinda, organizou o plano de defesa dessas duas cidades e de tôda a costa pernambucana, construiu pontes, estradas e canalizações de água, etc. Em 1836, depois de várias atribulações políticas, foi nomeado Director cias Obras Públicas do Rio de Janeiro. Em 1846, apresentou ao Instituto Histórico a sua excelente Carta Geográfica do Império do Brasil, que lhe grangeou justa e larga reputação. Entre muitos outros trabalhos seus, ainda existem: «Planta do reconhecimento feito nas capitanias de Pernambuco x Alagoas, para servir no projecto do 12a

data de ingresso na ENBA é um exemplo de dado incorreto, conforme o livro de matrículas o ingresso ocorre em 1930 e não em 1929. Outro é a cidade de origem da família na Alemanha, segundo a bibliografia seria Hannover, a pesquisa preliminar indica outra cidade Delmenhorst. 13

Ver no Colégio Brasileiro de Genealogia http://www.cbg.org.br/niemeyer-na-engenharia/


estabelecimento da Estrada Militar, Defeza da Costa e Correspondência Telegráfica entre a Villa de Santo Antonio do Recife e a cidade de S. Salvador na Capitania da Bahia, que por ordem do Ex.mo Snr. Luiz do Rego Barreto, Governador de Pernambuco, levantou o capitão do Real Corpo de Engenheiros Conrad Jacob Niemeyer, 1819», e «Planta Hydrografica do rio Beberibe, e terrenos adjacentes, para servir aos projectos de encanamtº [sic] e navegação do dito rio, com aproveitamento dos terrenos actualmente alagados, segundo as diversas observações e exames feitos entre os anos ate 1818 a 1855 pelo coronel engh. Conrado Jacob Niemeyer».14 Oscar Niemeyer, futuro comunista, foi criado num ninho de severas tradições conservadoras. Seu avô materno, Antônio Augusto Ribeiro de Almeida — que virou nome de logradouro público em Maricá., no norte Fluminense, e depois na própria rua das Laranjeiras onde tinha casa — era ministro do Supremo Tribunal Federal, numa carreira em que transitou de conselheiro do Império a procurador da República. O presidente Epitácio Pessoa aparecia eventualmente no sobrado. O prefeito Pereira Passos, um aristocrata com raízes no Segundo Reinado, filho do Barão de Mangaratiba, era seu parente.15

É através de indicação pessoal de alto funcionário do Banco Boa Vista, fundado em 1924 (por Alberto Teixeira Boavista, Guilherme Guinle e pelo Barão de Saavedra16), que ele passa a trabalhar no escritório de Lucio Costa, por exemplo. A maioria passou a trabalhar em firmas construtoras, onde tomava contato com os problemas técnicos, recebendo salário correspondente. Apesar de enfrentar momentos econômicos difíceis, por intermédio de Ulisses Carneiro da Rocha, fui trabalhar gratuitamente no escritório de Lúcio Costa e Carlos Leão, onde sabia encontrar resposta para minhas dúvidas de estudante.17 Me disseram que ele era o arquiteto mais importante, mais familiarizado com a arquitetura, então eu falei com um amigo meu que era do Banco Boavista, que se entendeu com ele, e ele me atendeu. Eu fui lá, e comecei a ajudar... Não sabia, estava começando... Não sabia nem fazer desenho técnico. Eu fiquei ali, com ele e com o Carlos Leão, que também foi muito importante para mim. Eles eram inteligentes, informados, sabiam das coisas. Eram corretos, sabiam qual era o caminho bom da profissão, de modo que o contato com eles, para mim, foi fundamental.18

A investigação sobre a educação recebida por Oscar Niemeyer no Colégio Santo Antônio Maria Zaccaria da ordem religiosa dos Padres Barnabitas (do qual foi)19 e no Liceu Francês20, se dará diretamente nos Arquivos das instituições, que ainda existem, aos quais não tivemos acesso devido à pandemia.21 Pesquisa bibliográfica e na rede mundial de computadores não apontou dados relevantes sobre o Colégio dos Padres. Já quanto ao Liceu, na eventualidade da inexistência ou falta de fontes primárias, teremos que recorrer a fontes secundárias bibliográficas como os trabalhos de Ana Balassiano. Sobre o Liceu no contexto na sociedade do Rio, o ensino da língua Francesa e sobre questões curriculares a autora afirma: A localização do Liceu, tanto aquela primeira da Rua do Catete, quanto a outra indicada adiante, à da Rua das Laranjeiras, muito próximo da primeira, significou um lugar de memória também de uma 14

STRASEN, E. A.; GÂNDARA, Alfredo. Oito Séculos de história luso-alemã. Berlin: Inst. Ibero-americano 1944. p. 306

15

CORRÊA, M. Oscar Niemeyer Ribeiro de Almeida Soares. Rio de Janeiro: Relume Dumará: Rio Arte, 1996. p. 55.

16

Thomaz Oscar Pinto da Cunha Saavedra (3º Barão de Saavedra. Lisboa, 1890 - Rio de Janeiro, 1956)

17

NIEMEYER, Oscar. Meu sósia e eu. Rio de Janeiro: Revan, 1992. p. 61

Oscar Niemeyer in: O risco: Lúcio Costa e a utopia moderna: depoimentos do filme de Geraldo Motta Filho. Rio de Janeiro: Bang Bang Filme. 2003. p.111. 18

19

CORRÊA, M. op.cit., p. 72.

20 A

instituição, conforme BALASSIANO (2012), teve diferentes nomes: Lycée Français (1915-1926); Liceu Franco-Brasileiro (1926-1943); e Colégio Franco-Brasileiro (a partir de 1943). Estavam agendadas para março de 2020 visitas aos acervos do Colégio e do Liceu, ao Arquivo Histórico e à Reserva Técnica do Museu Nacional de Belas Artes ao NPD da UFRJ e ao Arquivo Nacional; todos no Rio de Janeiro. 21


época onde a diplomacia, a intelectualidade, professores e alunos conviviam com a praça, a Igreja da Glória, numa região próxima ao centro e à zona sul. Desse modo, foi esse conjunto de bairros que se interligam, apontado por estudos da história da cidade do Rio de Janeiro como o lugar de moradia de famílias mais abastadas, em mansões herança das chácaras de épocas mais remotas, relacionadas ainda ao período do Império e em seguida como o lugar de comerciantes em face da urbanização que a região conheceu, nas primeiras décadas do século XX. A região se caracterizava também como um lugar de muitos estrangeiros, não só pelas embaixadas que se situavam nas imediações, mas como também pelos indícios deixados pelo Hotel dos Estrangeiros, indicando a entrada de estrangeiros de passagem ou em vias de se estabelecerem no Rio de Janeiro e ponto de encontro da intelectualidade carioca. Era o lugar de moradia de parte da elite carioca, mas também de uma classe média que ia se constituindo com o comércio que crescia na região.22 Diferentemente das razões da política francesa que acontecia em outros continentes, na América Latina a importância da difusão da língua francesa estava relacionada, além dos aspectos da política cultural, aos aspectos da política comercial, entendida como um significativo mercado consumidor dos artigos franceses. Todo cliente da língua francesa é um cliente natural dos produtos franceses era o lema que orientava suas ações. Nesse sentido pode ser explicado o lugar de destaque das livrarias francesas estabelecidas no Rio de Janeiro, sem falar daquele da literatura científica francesa, que atravessou o século XX, até pelo menos os anos 1940-1950. Portanto, o conhecimento da língua se mostrava como fundamental para se ter acesso à cultura. Vale ressaltar que, à época, o francês era a língua das elites, do mundo da diplomacia, representante das artes, entre outros campos. A língua francesa e o modo francês representavam o acesso ao mundo civilizado, de acordo com os modelos e usos daquela época, e de prestígio para quem detinha tal conhecimento. 23 A criação dos Liceus trouxe de volta as humanidades e o latim, que tinham sido substituídos pelas escolas centrais na perspectiva de um ensino enciclopedista com interesse mais nas ciências, no desenho e nas matérias modernas em geral. 24 A consulta ao prospecto do Liceu deixou pistas para o modo como foi se constituindo o sistema de ensino, que se organizava desde o jardim da infância e ia até o ensino secundário-segundo ciclo. O curso primário tinha as seguintes disciplinas: linguagem oral e escrita, desenho, português, francês, inglês, aritmética, geografia e corografia do Brasil e, história do Brasil, elementos de Ciências físiconaturais, música e educação física. Na última série do Curso Primário o Programa para o exame de Admissão, ainda incluindo o ensino de línguas estrangeiras, no caso o francês. O curso secundário ginasial mantinha classes suplementares de redação, conversação e composição francesa, estudos de literatura francesa e curso facultativo de religião. O curso secundário, segundo ciclo, funcionava com os cursos: Clássico e Científico. Nessas consultas algumas chaves chamaram a atenção e apontaram para os deslocamentos e rupturas do período estudado: o ensino do francês, a laicidade e o ensino nacionalista. O que sinalizou o posicionamento da França na sua relação em especial com o Brasil e a América Latina, em geral. No sentido micro implicou a compreensão, também, das chaves relacionadas às práticas culturais relacionadas ao espaço da escola e as transformações da sociedade brasileira e, em particular as regulamentações da educação brasileira em relação às escolas estrangeiras. O destaque dado ao ensino de francês em atividades também suplementares, indicando que a estrutura central sugeriu um tempo mais amplo para a cultura francesa e em particular do modelo de ensino francês. Um indício foi dado pelo número de professores de francês, em relação ao de outras disciplinas como, por exemplo, inglês, indicando, que o francês era compreendido de modo diferenciado. 25

BALASSIANO, Ana Luiza Grillo. Liceu Francês do Rio de Janeiro (1915-1965): instituições escolares e difusão da cultura francesa no exterior. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, 2012, p.72 22

23

Ibid, p.82

24

Ibid, p. 18

25

Ibid, p.192


EDUCAÇÃO - FORMAÇÃO | 1930 A 1934 A incursão de Oscar Niemeyer na Arquitetura inicia em 1930, com seu ingresso na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro onde permanece até 1934, graduando-se como engenheiro architecto (grafia da época). Os registros e estudos publicados26 sobre a sua vida acadêmica são escassos: o ensino pouco estimulante e a busca por formação diferenciada fora do âmbito acadêmico aparecem com frequência em suas memórias. Quanto ao Curso, as informações publicadas são mínimas: estrutura curricular, programas e disciplinas estão nos arquivos da ENBA 27. Fundamental e certo é o papel que Lucio Costa desempenhou na sua formação. Deliberadamente Oscar Niemeyer pede para estagiar como desenhista no escritório de Lucio Costa, então sócio de Carlos Leão e Gregori Warchavchik. A passagem de Lucio Costa pela direção da ENBA 28, entre dezembro de 1930 e setembro de 1931, o Salão de 31 e a exposição da primeira “casa modernista" no Rio, também em 1931, e o Salão de Arquitetura Tropical de 1933, podem explicar o interesse e a aproximação de Oscar Niemeyer em relação a Lucio Costa. Em entrevista de dezembro de 1930, logo ao assumir a direção da ENBA29, Lucio Costa defende a transformação radical do ensino, a convergência entre arquitetura-estrutura-construção, o estudo da história com sentido crítico e o indispensável conhecimento por parte dos nossos arquitetos da Arquitetura Brasileira da época colonial. O currículo vem a ser modificado e atualizado nos moldes propostos por Lucio Costa, mas apesar de ter estado na Escola nesse período, a formação de Oscar Niemeyer está registrada em seu histórico escolar como sendo realizada no currículo anterior; de influência acadêmica. Como a ENBA, de raízes clássicas e acadêmicas, produziu uma geração tão qualificada de Arquitetos, que viriam a se notabilizar pela produção de Arquitetura Moderna, anteriormente à reforma curricular dos anos 30? Esse curso era ministrado de uma forma totalmente clássica. Era a velha teoria de que o aluno tem de aprender o que o mestre sabe ensinar, coisa que, por sua vez, o mestre aprendeu de seus mestres. Nada de inovações. Nada de novo poderia se esperar de professores, que pareciam emissários diretos da "École des Beaux-Arts” de Paris trazendo debaixo dos braços os "Cahiers d’Architecture” Também os alunos, na sua quase totalidade, por falta de maiores e melhores informações, e por total ignorância do que se fazia na Europa e nos Estados Unidos eram, por formação e de espirito, clássicos. [...] E pensar que com aquele ensino, com aqueles professores completamente desatualizados da realidade, completamente ignorantes do que já se fazia no resto do mundo, se formaram arquítetos, citando apenas alguns, como Lúcio Costa, Affonso Eduardo Reidy, Marcelo Roberto, Atilio Corrêa Lima, Paulo Antunes Ribeiro e Jayme da Silva Teles.30 O ensino na Escola Nacional de Belas-Artes era cheio de lacunas, a tal ponto que nós éramos obrigados a procurar nosso rumo de maneira autodidata, fora do âmbito escolar. Isto explica por que os meus contatos com Lucio Costa não foram fortuitos. Fui deliberadamente ao seu encontro, sabendo que ele 26Abordo

a formação de Niemeyer no artigo “Anos 30: três casas formadoras” publicado em CANEZ (2016), o artigo é derivado da dissertação de Mestrado de 2005. Roberto Segre e José Barki, em artigo de 2008, apresentam dados da passagem de Niemeyer pela Escola Nacional de Belas Artes. A presente pesquisa quer aprofundar o tema. Conforme o site do Museu D. João VI O Museu D. João VI da EBA / UFRJ, através do Projeto de Revitalização patrocinado pela PETROBRAS, digitalizou o Arquivo catalogado da antiga Academia Imperial, depois Escola Nacional de Belas Artes, que está sob sua guarda. 27

28

Lucio Costa é levado ao cargo por Rodrigo Melo Franco de Andrade, quando da revolução de 30.

Situação do ensino na Escola de Belas Artes. COSTA, Lúcio. Registro de uma vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995, p. 68. 29

SOUZA, Abelardo de. Arquitetura no Brasil: depoimentos. São Paulo: Livraria Diadorim Editora - Editora da Universidade de São Paulo, 1978. P. 20 e 24. 30


era um grande arquiteto e certo de que com ele eu poderia me familiarizar com os problemas da profissão. E lhe devo muito. Devo-lhe minha orientação arquitetural, minhas relações com a técnica e a tradição brasileiras e, sobretudo, o exemplo de correção e ideal que ele dá, ainda hoje, a todos os que dele se aproximam.31

O acervo da ENBA é a principal fonte primária para obtermos a resposta: trata-se do Arquivo catalogado da antiga Academia Imperial, depois Escola Nacional de Belas Artes, sob guarda do Museu Dom João VI, no Rio de Janeiro. Este Arquivo foi digitalizado e está disponibilizado integralmente na internet32. Nesta fonte primária estão os dados que permitem avançar sobre o funcionamento do curso, dados do corpo docente e discente e os diferentes currículos, praticados, no período em questão. Nos anexos deste projeto de pesquisa, são apresentados alguns documentos levantados. Ainda no contexto da ENBA, foi elaborado levantamento do acervo de obras raras e de obras editadas até 1935 e nele destacaremos os principais títulos de teoria acadêmica, história da arquitetura, bem como os títulos e publicações sobre a nova arquitetura que circulavam entre os estudantes e profissionais à época33. O registro de reminiscências traz à lembrança prioridades específicas: o primeiro rebelado modernista da Escola, já em 1919, na aula de pequenas composições de arquitetura, foi Atílio Masieri Alves, filho do erudito Constâncio Alves, ex-aluno da Politécnica, entusiasta da cenografia de Bakst e da mímica de Chaplin, – mentalidade privilegiada que a boemia perdeu; o primeiro a assinalar em aula o aparecimento da revista L’Esprit Nouveau, foi o então aluno Jaime da Silva Teles; o primeiro edifício construído sobre pilotis, onde moro desde 1940, data de 1933 ou 34, e foi projetado por Paulo Camargo; o primeiro quebra-sol foi obra de Alexandre Baldassini, no edifício de apartamentos de uma rua transversal do Flamengo, e era constituído de lâminas verticais basculantes e contraíveis, repetindo-se nas varandas de todos os andares. 34 Buddeus e Warchavchik fizeram na Escola verdadeira revolução. As fontes de inspiração dos alunos eram até então os Concours d'Ècole, os GrandPrix de Rome e os Concours Chénavard, da Escola de Belas-Artes de Paris. Buddeus introduziu as revistas Form e Modern Bauformen, com novo vocabulário plástico de sólidos geométricos elementares e nova técnica de apresentação: exata, pura, que começou a ser adotada dentro e fora da Escola e continua em uso até hoje. Ele era partidário da escola racionalista ou funcionalista. “A fachada", dizia, deve ser o reflexo da planta." Ernani Vasconcellos, que foi seu aluno, fala dele com entusiasmo. Warchavchik, como pioneiro do Movimento Moderno, trazia para o ensino o prestígio das casas "modernas", que desde 1927-1928 construíra em São Paulo, e o de ter sido escolhido por Le Corbusier representante dos CIAMS para toda a América do Sul. Os alunos deliram com as inovações. Entre eles estava lançada a revolução modernista.35

Publicações de e sobre ex-alunos e professores, servirão para traçar, via depoimentos, o contexto do ensino à época. Entrevistas foram descartadas: a realização de entrevistas é impossível, pela ausência dos personagens. Por outro lado, há muitas entrevistas dos principais personagens publicadas. Em especial interessa a íntegra das entrevistas realizadas entre 1980 e 1981 para Riscos Brasileiros (HARRIS, 1987), transcritas em parte ao longo do livro. Foi solicitada - mas ainda não nos foi remetida - uma cópia da Tese que originou o livro36, para a verificação 31

Oscar Niemeyer in: PETIT, Jean. Niemeyer Poeta da Arquitetura. Lugano: Fidia Edizioni d’Arte,1998. p.21.

32

Disponível em: http://docvirt.com/MuseuDJoaoVI/

33

Para tanto estão sendo usadas fontes bibliográficas, relatos pessoais e entrevistas publicadas.

COSTA, Lucio. Muita construção, alguma arquitetura e um milagre - 1951. In: Registro de uma vivência. 2.ed. São Paulo: Empresa das Artes, 1997.p.167. Grifo nosso 34

SANTOS, Paulo. A reforma da Escoa de Belas-Artes e do Salão. In: XAVIER, Alberto (Org.). Depoimento de uma geração – arquitetura moderna brasileira. São Paulo: Cosac & Naify, 2003, p.61. Grifo nosso. 35

A solicitação foi feita no sistema online https://www.proquest.com/; a tese de Harris intitulada “Corbusier and the Headquarters of the Brazilian Ministry of Education and Health, 1936-1945” foi defendida em 1984 em Chicago. 36


da existência da íntegra das entrevistas. As tentativas de contato com a autora - com o mesmo objetivo - não obtiveram retorno. EDUCAÇÃO - APERFEIÇOAMENTO | 1933 E 1936 Oscar Niemeyer recebeu uma formação dentro do sistema Beaux-Arts. O seu histórico escolar mostra que cursou as disciplinas do currículo anterior à reforma de 1931.37 Apresentamos mais documentos bem como o programa nos Anexos. O convívio e o trabalho como desenhista no escritório de Lucio, fazem com que Oscar Niemeyer participe, até 1934, de projetos como: as 3 Casas sem Dono, os Apartamentos Proletários da Gamboa, a Cidade Operária de Monlevade, a Chácara Coelho Duarte e as Casas Carmen Santos, Maria Dionésia e Álvaro Osório de Almeida. Este período corresponde exatamente ao final da sociedade de Lucio Costa com Warchavchik e à mudança de rumo adotada por Lucio através do estudo mais aprofundado das vanguardas europeias, principalmente da obra de Le Corbusier. Nesse conjunto de profissionais igualmente interessados na renovação da técnica e expressão arquitetônicas, constituiu-se porém, de 1932 a 35, pequeno reduto purista consagrado ao estudo apaixonado não somente das realizações de Gropius e de Mies van der Rohe, mas, principalmente, da doutrina e obra de Le Corbusier, encaradas, já então, não mais como um exemplo entre tantos outros, mas como o “Livro Sagrado” da arquitetura. Foi o conhecimento e a demorada e minuciosa análise dessa tese monumental nos seus três aspectos – o econômico-social, o técnico e o artístico –, foi o dogmatismo dessa disciplina teórica auto-imposta, e o intransigente apego, algo ascético, aos princípios de fundo moral que fundamentavam a doutrina – atitude que faz lembrar a dos positivistas –, foi esse estado e espírito predisposto à receptividade, que tornou possível resposta instantânea quando a oportunidade de por a teoria em prática se apresentou.38

Lucio Costa tentou implementar reformas no ensino, mas o reflexo dessa experiência se dará com Oscar Niemeyer, de modo informal, dentro do escritório: uma formação paralela até 1934. Mas ao afirmar que “constituiu-se porém, de 1932 a 35, pequeno reduto purista”, Lucio quer incluir o Curso de Aperfeiçoamento em Architectura promovido pelo Instituto de Artes da extinta Universidade do Disctricto Federal, onde Lucio Costa e Carlos Leão lecionaram e Niemeyer foi um dos alunos. O Tema central do Curso era a doutrina e obra de Le Corbusier e seu texto referência: Razões da nova Arquitetura. Mais documentos, bem como o programa do curso, são apresentados nos Anexos.

37

Para uma visão detalhada do Ensino na ENBA ver o Uzeda(2000), Gonçalves (2006) e Vasconcellos (1994)

COSTA, Lucio. Muita construção, alguma arquitetura e um milagre - 1951. In: Registro de uma vivência. 2.ed.São Paulo: Empresa das Artes, 1997. p.167 38


OFÍCIO - REVELAÇÃO| 1936 E 1937 PS. O que é feito daquele valoroso Oscar e suas belas perspectivas?39 Seu P.S. deixou Oscar "emocionado" — ele está fazendo coisas lindas no momento — sua visita abriu novos horizontes para ele. 40

Entre julho e agosto de 1936 Le Corbusier e Oscar Niemeyer trabalharam no Plano da Universidade do Brasil (CUB) e no projeto para o Palácio do Ministério da Educação Nacional e Saúde Pública (PM). As atribuições de cada um dos Arquitetos eram proporcionais às suas carreiras e biografias. Le Corbusier vem ao Brasil na qualidade de consultor, enquanto Oscar é destacado para acompanhá-lo e auxiliá-lo como “desenhista”41. É durante esse convívio que se revela o “excepcional talento”42 de Oscar. O que foi produzido durante o período? Quais os documentos e desenhos foram preservados? A pesquisa nos acervos e arquivos da Fondation Le Corbusier (FLC), de Gustavo Capanema, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) e da Casa de Lucio Costa (CLC) levantou mais de 800 documentos (cartas, relatórios, pareceres, projetos, fotografias, croquis, matérias de jornal, etc.) relativos à passagem de Le Corbusier pelo Rio de Janeiro, entre eles os relativos aos projetos da CUB e do PM. Alguns deles foram publicados pelos próprios Arquitetos e em livros, enquanto muitos outros são ainda inéditos. Nas diferentes publicações nenhum dos projetos é apresentado de forma integral com os elementos suficientes que possibilitem a sua apreciação integral.43 Essa lacuna é aqui preenchida. A compilação dos documentos possibilitou reunir novamente o “jogo completo” com os desenhos e memórias da CUB e do PM (esse contempla duas versões, uma para o terreno da Beira-mar e outra para o terreno do Castelo). Além do entregue pelo consultor ao Ministro Capanema, de forma complementar, registramos e apresentamos também a documentação do estudo44 que orientou a solução definitiva para a futura Sede do Ministério da Educação e Saúde (MESP) elaborado por Oscar45 após o retorno de Le Corbusier e entregue, em 05/01/37, ao Ministro Capanema. Além da reunião e análise do material relativo à apresentação e/ou entrega dos projetos interessa observar e analisar os desenhos quanto a sua elaboração e desenvolvimento. Graças à qualidade das digitalizações dos originais é possível agora ter nova leitura do material, seja por observa-lo em cores, seja por permitir ver detalhes e informações não percebidas anteriormente, ou até pela ilegibilidade das reproduções já veiculadas. O processo de projeto se revela, 39

Le Corbusier para Lucio Costa, carta de 21/11/1936, FLC I3.3.35, ver SANTOS, 1987. p. 177-178.

40 Lucio

Costa para Le Corbusier, carte de 31/12/1936, FLC I3.3.38, ver SANTOS, 1987. p. 178-179.

41Entrevista de Gustavo Capanema para os Professores Alberto Xavier, José Carlos C. Coutinho e Luiz Fisberg. Arquivo:

Gustavo Capanema. GC pi Capanema, G. 1968.12.12 42 Lucio

Costa para Gustavo Capanema, carta de 03/10/1945. CPDOC FGV. Arquivo: Gustavo Capanema.

43 Corbusier

publicou apenas as perspectivas da versão Beira-mar. A não publicação de elementos mínimos deve-se em parte ao grau de desenvolvimento atingido e a não realização do livro sobre as Conferências de 1936. Chamaremos, nesta pesquisa, esta versão preliminar do projeto de VARIANTE 37. Trata-se de um conjunto de 8 pranchas contendo desenhos plantas baixas na escala 1/200, um perfil com estudo de gabaritos e 3 perspectivas; os originais em papel vegetal pertencem ao acervo do IPHAN. 44

45 Diversas

fontes e documentos atestam a afirmação.


por minúsculos croquis, anotações de borda de prancha, traçados geométricos, testes e alternativas esboçados, etc. Para Macedo (2020), Os desenhos dos arquitetos modernos são a conexão do autor com a obra construída e por isso um instrumento dialético em que se situa, por assim dizer, a alma de seu labor."46

Especificamente sobre o PM dos 21 originais obtidos na FLC apenas 6 foram apresentados ao Ministro. Os demais são desenhos incompletos, que apresentam maior grau de precisão na sua construção. É possível que seus executores tenham sido diferentes: o detalhe na observação das técnicas, do traço e da caligrafia nos dão respostas preliminares. Com elas é possível avaliar a participação de Oscar no processo, em termos de qual foi o limiar entre as figuras de “desenhista” e de arquiteto, mesmo que subordinado ao mestre no atelier. Quais desenhos de apresentação e entrega foram realizados a partir de orientação direta de Le Corbusier? Quais podem ter sido elaborados e realizados pelo próprio Oscar? Para tanto foi feita a verificação nos croquis e esboços remanescentes nos carnets e cahiers de dessin remanescentes na FLC e nos originais pertencentes ao acervo do MNBA. Sua curta estada no Rio constituiu-se num intenso período de trabalho, tanto para ele quanto para seus colaboradores. A energia inexaurível do mestre não raro esgotava os jovens arquitetos aí pelo final do dia. Instalara-se no Hotel Glória, perto da praia, e começava o dia com um bom mergulho. Logo que chegava ao escritório de Lúcio Costa punha mãos à obra e trabalhava o dia inteiro. Era o primeiro a chegar de manhã, esperava com impaciência os demais e os repreendia pelo atraso. A jornada se dividia entre o projeto do Ministério e o do campus. À noite, os arquitetos costumavam acompanhar L Le Corbusier no jantar; mas, mal o mestre se sentava, o assunto arquitetura ficava irremediavelmente proibido. É que, em seu universo, havia um tempo para o trabalho e um tempo para o lazer, uma coisa jamais interferindo com a outra. Essas noites em geral começavam num restaurante à beira da praia e acabavam num botequim qualquer, onde todos cantavam e dançavam ao ritmo quente dos trópicos. 47

A sucessão dos fatos, conferências, cartas, reuniões, entregas preliminares e entregas finais que ocorreram durante a estadia de Le Corbusier no Brasil, entre 12/07/3648 e 15/08/36, juntamente com a datação de alguns dos desenhos foram colocadas em uma linha de tempo. Isto foi elemento fundamental na determinação de tempo e prazos dedicados a cada projeto. A análise deste cronograma começa a juntar e montar as peças de um verdadeiro quebra-cabeças (que estavam dispersas, perdidas ou guardas em caixas diferentes). Resta ainda encontrar todas as peças, até o final da pesquisa, nas fontes por consultar. Mesmo assim, o quadro apresentado já é revelador e permite tirar as primeiras conclusões. Dentre essas peças, a literatura forneceu algumas: Le Corbusier registrou em fotos e filmagens a viagem, com as limitações da época - em termos de quantidade de poses e tempo. Este material, pertencente à FLC, foi publicado por Benton (2013), no capítulo “A month in Brazil”. Os livros de Tsiomis (1999 e 2006) que tratam da estadia aqui em 1936 e das 6 Conferências. Além deles Harris (1987) é importante pois tem os depoimentos das testemunhas dos eventos.

Paulo Mendes da Rocha: exílio de um acervo, disponível em https://opartisano.org/contracultura/paulo-mendesda-rocha-exilio-de-um-acervo/ Artigo de Danilo Matoso sobre a transferência do acervo de 8.800 desenhos e croquis para o Centro de documentação Casa da Arquitectura - Matosinhos, Portugal. 46

47

HARRIS, Elizabeth Davis. Le Corbusier: riscos brasileiros. São Paulo: Nobel, 1987. p. 80

A viagem iniciou em 08 de Julho, com a partida de trem para Frankfurt de onde partiu o dirigível LZ 127 -Graff Zeppelin, que fez teve uma escala em Recife, Pernambuco antes da chegada ao Rio de Janeiro. 48


CRONOGRAMA DA ESTADIA DE LE CORBUSIER NO RIO DE JANEIRO – versão preliminar

Ao final de dezembro de 1936, em resposta à carta de Le Corbusier que perguntara "O que é feito daquele valoroso Oscar e suas belas perspectivas?" Lucio escreve: "Oscar está fazendo coisas lindas". Em 05 de janeiro de 1937, com o projeto do Ministério da Educação em fase de preparação para execução, a VARIANTE 37 seria apresentada ao Ministro Gustavo Capanema e cujo parecer favorável de Souza Aguiar caracteriza como: Os desenhos apresentados pelos arquitetos Lucio Costa e outros não definem um projeto, nem mesmo um ante projeto. São um croquis incompleto que apresenta apenas o partido a adotar e a norma geral de composição"49.

Processo administrativo 6870/35 relativo à construção do edifício-sede do Ministério da Educação e Saúde. Vol. VI. p.375. Os desenhos mencionados no parecer foram apresentados em 05/01/1937 e estão anexados ao processo e catalogados como ANS ANS02737, ANS02738, ANS02739, ANS 02740, ANS 02741, ANS 02742 e ANS 02743. O processo contém os documentos relativo à construção do edifício, desde o concurso aberto em 1935, até 1942. A partir daí a documentação passou a pertencer ao Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) hoje extinto e cujo acervo está no Arquivo Nacional. Em sua Dissertação Martinelli (2017) apresenta mais detalhes, sobre a documentação e preservação do Edifício. Este material faz parte dos anexos. 49


A autoria do risco50 é de Oscar Niemeyer, o novo partido é aceito, os rumos do projeto e da Arquitetura que viria a ser produzida, no Brasil, são modificados. Entre as “coisas lindas” estão: o projeto de uma residência a ser construída na Urca (posteriormente identificada como Casa Henrique Xavier) e o Club de Estudantes;51 em equipe Oscar Niemeyer participa de dois concursos; para o Anteprojeto do Edifício do Ministério da Fazenda (com José de Souza Reis e Jorge M. Moreira) e para o Anteprojeto da Associação Brasileira de Imprensa - ABI (com Fernando Saturnino de Britto e Casio Veiga de Sá). A partir de 1937 projeta e executa a Obra do Berço. O convívio com Le Corbusier permitiu a Oscar Niemeyer entender e assimilar por completo o método de trabalho do Mestre; acompanhar o desenvolvimento dos projetos com Le Corbusier e assistir às 6 conferências proferidas foram as oportunidades de vincular a Teoria Acadêmica aprendida na ENBA com os estudos realizados sobre a obra e a Doutrina de Le Corbusier. 52 A partir daí Oscar Niemeyer conseguiu estabelecer vínculo intelectual e de método perante o problema de projeto. Le Corbusier reformou inteiramente a abordagem do desenho arquitetônico no Brasil graças à sua maneira informal de ensinar em grupo. Os brasileiros esperavam que o visitante apenas proferisse palestras, deixando claros os papéis dos estudantes e do mestre, mas Le Corbusier rejeitou o papel de docente e trabalhou como um simples membro do grupo. Cada arquiteto recebia uma função e todos trabalhavam juntos. Le Corbusier só tecia críticas construtivas sobre os resultados obtidos por cada membro e encorajava discussões para que nenhum deixasse de acompanhar seu raciocínio. Todo desenho era posteriormente revisado para que nada ficasse incompleto. Le Corbusier se valia da técnica do trabalho em grupo por considerar que "nas escolas se aprende a contar e a escrever, mas só se inventa alguma coisa em trabalho de grupo. A porta do trabalho em equipe se abre para a vida".53 Entrevista com André Wogensky, Paris 4 de março de 1981. Wogensky mencionou isso e posteriormente todos os arquitetos brasileiros confirmaram: Le Corbusier ensinava informalmente no estúdio. 54

Em 1936 as conferências de Le Corbusier tinham adquirido um" caráter específico, que se manifestava em todos os lugares onde ele as pronunciava. Não abria mão de sua resolução de improvisar, porém escrevia duas páginas de notas a fim de liberar "para a imprensa, antecipadamente, o título das conferências. no intuito de atrair o maior número possível de interessados. A parte teórica de cada palestra tinha a duração de uma hora a uma hora e meia, com apresentação de slides, que ilustravam os projetos correntes em construção ou modelos do estúdio de Le Corbusier, após cada uma das primeiras cinco conferências. Este animava a parte textual de cada palestra com esboços desenhados com giz colorido em grandes folhas de papel de embrulho. Le Corbusier fechava a mão esquerda, colocava um pedaço de giz colorido entre os nós dos dedos e, tirando um de cada vez, conseguia desenhar tão rapidamente com quatro cores quanto com uma. A cor era usada por Le Corbusier para classificar as partes, a fim de acentuar diferentes pontos técnicos de uma estrutura ou de um plano urbano. Corbusier expunha as suas teorias e quase que simultâneas elas.se tornavam uma realidade visual que maravilhava os seus ouvintes. As palestras de Le Corbusier eram um instrumento não só para os seus ouvintes como para o próprio Arquiteto55

O mesmo que CROQUI, antigamente, no entanto, o têrmo era usado como sinônimo de PROJETO, isto é, designava o desenho original concebido pelo arquiteto ou mestre de obras. CORONA, Eduardo; LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. Dicionário da arquitetura brasileira. Romano Guerra Editora, São Paulo; 2ª edição, 2017. Coleção RG facsímile. p. 414. 50

51 Casa

de Lucio Costa, documento V.D.02-03254

Ver texto “Le Corbusier. Par Oscar Niemeyer”, volume 7 da Œuvre complète 53 HARRIS, Elizabeth Davis. Le Corbusier: riscos brasileiros. São Paulo: Nobel, 1987. p.81 52

54

Ibid. p. 81

55

Ibid. p. 106


A partir do convívio com Le Corbusier, Oscar Niemeyer conseguiu aplicar em seus primeiros projetos, a fusão entre a Teoria Acadêmica e a Doutrina e obra de Le Corbusier - defendida por Lucio Costa em “Razões da nova arquitetura” - obtendo resultados inovadores: certa é a influência direta de Le Corbusier na forma como Oscar passa a representar seus projetos, a partir de agosto de 1936. Basta mera comparação entre os desenhos anteriores e posteriores ao contato para perceber as “coisas lindas” referidas por Lucio Costa.

OFÍCIO - AFIRMAÇÃO | 1938 A 1942 “foi graças a esse convívio de apenas três meses [semanas] que o excepcional talento do arquiteto Oscar Niemeyer - Oscar de Almeida Soares, conforme, no seu apego à tradição lusitana, preferia vê-lo chamar, que este é o seu legítimo nome -, até então inexplicavelmente incubado, revelou-se em toda a sua plenitude". 56

A “revelação do gênio incubado” ocorreu. Ao publicar suas memórias no livro Registro de uma vivência, 60 anos depois dos fatos, Lucio Costa legenda uma das ilustrações da memória da Cidade Universitária da seguinte maneira: "Projeto elaborado pessoalmente por Oscar Niemeyer e marco inicial de sua carreira". Entre o pequeno Club da Cidade Universitária e a nova variante 37 do Ministério, realizados após Le Corbusier deixar o Brasil, se passa pouco mais de 4 meses. Por ocasião do Concurso para o Pavilhão Brasileiro na Feira Mundial de Nova Iorque (1938) o reconhecimento se amplifica; vitorioso Lucio Costa (aproveitando um item do Edital) convida Oscar Niemeyer, que se classificara em segundo lugar, para desenvolver com ele o projeto definitivo e acompanhar a execução da obra. Ambos viajam para Nova Iorque, retornando ao final do ano. A repercussão positiva do Pavilhão é internacional. A serviço de Gustavo Capanema, no Ministério da Educação, Niemeyer projeta uma Maternidade, o Instituto Nacional de Puericultura (com Olavo Redig de Campos e José de Souza Reis), o stand do Ministério da Educação na grande “Exposição Nacional do Estado Novo” que expressou a síntese da vida Brasileira nos oito anos do Governo Vargas. A respeito desta colaboração com um regime ditatorial, cabe observar o que diz Fausto (2006) sobre a natureza do regime: Na caracterização do regime político do Estado Novo, nota-se de saída sua intenção <de inaugurar novos tempos, uma característica, aliás, da nomenclatura política brasileira: República Nova (pósanos 30), Nova República (nos anos 8o) e por aí afora. De fato, assumindo sem muitos disfarces os supostos méritos de uma ditadura, o discurso getulista tratou de apresentar o Estado Novo como a fórmula que permitiria, finalmente, realizar as tarefas de unificar o país, promover o desenvolvimento económico, criar uma nova representação das ciasses produtoras e dos trabalhadores, introduzir enfim o governo técnico, acima da politicalha dos partidos. Tudo isso pressupunha atos simbólicos e realizações materiais. Um exemplo expressivo dos primeiros foi a solenidade de queima das bandeiras estaduais, promovida em dezembro de 1937 no Rio de Janeiro, em cerimónia ao ar livre. Assim se borrava o NEGO da bandeira paraibana (referência à negativa de João Pessoa a apoiar a candidatura Júlio Prestes em 1950), ou o arrogante NON DUCOR DUCO da bandeira paulista. O Brasil brasileiro seria ver de e amarelo, e seu dístico, "ordem e progresso", de inspiracão positivista.

Carta de Lucio Costa para Gustavo Capanema 03/10/1945. CPDOC FGV. Arquivo: Gustavo Capanema. Classificação: GC b Costa, L. Data: 03/10/1945 a 27/02/1978 56


Como se situa o Estado Novo quando se pensa sua definição a partir dos conceitos distintos de totalitarismo e autoritarismo, como formas não democráticas de governo? Certamente com marcas próprias, o Estado Novo pode ser definido como um regime autoritário, semelhante a alguns vigentes na época no Leste Europeu e menos ao Portugal de Salazar. O Estado Novo não era fascista, ainda que na época esse termo fosse, compreensivelmente, utilizado pela oposição para defini-lo. Também não se identificava com o paralisante conservadorismo salazarista nem com o regime de Franco, nascido dos escombros da guerra civil. Embora Getúlio aludisse à necessidade de dissolver todos os partidos para a constituicão de um partido único logo após a implantação da ditadura, nunca levou a ideia a sério, e ela serviu como uma cortina de fumaça para despistar os integralistas. Quanto às mobilizações de massa, elas só surgiram nos últimos anos do regime, quando se tornaram um recurso de sua sustentação. Se se quiser definir o Estado Novo numa fórmula sintética, pode-se dizer que ele foi, a um tempo, autoritário e modernizador.

Com essas observações deixamos claro que não se justificaria (nem o estamos fazendo) qualquer tipo de recriminação ao trabalho de Oscar Niemeyer no Governo Vargas. Recentemente Le Corbusier e Philip Johnson foram relacionados a regimes totalitários; nos livros de Xavier de Jarcy “Le Corbusier, un fascisme français” e pela publicação de arquivos do FBI sobre o Arquiteto Americano. Oscar Niemeyer começa atender diretamente ao Ministério e ao Ministro propriamente dito através da organização de mostras de livros, escolas profissionais, equipamentos urbanos, complexos esportivos, mobiliário, um “palanque” de onde o Maestro Villa Lobos comandava as manifestações de Canto orfeônico realizadas no Estádio de São Januário. Oscar Niemeyer entendeu o conceito de autorité, sendo até mais objetivo que Le Corbusier. A autoridade foi um dos temas chave da 6º conferência de 1936, mas isso não é nada novo se pensarmos, por exemplo, na relação entre o Papado e os Arquitetos durante o Renascimento. A proximidade de Oscar Niemeyer com Gustavo Capanema, Rodrigo Melo Franco de Andrade e Carlos Drummond, todos mineiros, o leva por méritos e por proximidade ao poder. A proximidade era tanta que Capanema delega a Oscar Niemeyer o projeto do Centro Atlético Nacional, cujo Concurso foi aberto após protestos de outros profissionais. 57. Nesse mesmo contexto, começa a projetar em Minas Gerais: primeiro o Hotel de Ouro Preto (1938) e, posteriormente, o Conjunto da Pampulha (1940-1943) para Juscelino Kubitschek. O prestígio e o destaque aumentam. Oscar de Niemeyer Soares Filho, passa a ser o mais importante arquiteto brasileiro. Em meados de 1942, Goodwin vem ao país58 e Oscar Niemeyer o encontra. Brazil Builds está em elaboração. Desta vez suas obras serão expostas em Nova Iorque e daí para o mundo. OFÍCIO - CONSOLIDAÇÃO| 1943 A 1945 A leitura atenta do que Lucio Costa escreveu, em correspondências artigos e prefácios, aliada às “transcrições necessárias” (apresentadas no projeto de tese de 2019), mostra clara-

57

Ver Acervo Capanema. https://www.docvirt.com/docreader.net/arq_gc_g/39070

DECKKER, Zilah Quezado. Brazil Built: the Architecture of the Modern Movement in Brazil. Londres: Spon Press, 2001. P. 106 58


mente que o entendimento sobre a relevância e importância de Oscar Niemeyer remonta à passagem do ano de 1936 para o ano de 1937. Com o afastamento de Reidy, Moreira e de Lucio Costa, Niemeyer assumirá o comando da execução e finalização da obra: “passou [1939] Oscar, pelo consenso de seus colegas, a orientar as atividades gerais."59. A exposição já citada do MoMA e a publicação do projeto do Ministério e da Pampulha em revistas internacionais amplia a visibilidade e lança fama sobre o jovem arquiteto Brasileiro. Primus inter pares: a expressão latina foi utilizada e assim explicada, por Comas: “Anos depois, em Muita construção, alguma arquitetura e um milagre, Lucio retrata Niemeyer como primus inter pares e exalta a sua obra como marca de um rumo novo. Significativamente, porém, na publicação desse depoimento de um arquiteto carioca como Arquitetura Brasileira, as fotos do MESP são precedidas por desenho do plano para o Rio feito por Le Corbusier em 1929 e pela imagem do pórtico da velha Academia Imperial de Belas Artes, de Grandjean de Montigny. “60.

O reconhecimento é tanto que, em 1945, consultado por Gustavo Capanema sobre os créditos relativos ao projeto - a serem colocados na inscrição lapidar comemorativa à inauguração do Ministério da Educação e Saúde - Lucio Costa coloca o nome de Oscar Niemeyer em primeiro dentre os integrantes da equipe. É fato simbólico e revelador, afinal ele fora o último a ingressar na equipe em 1936. Outro fato simbólico ocorre na cerimônia de inauguração do Ministério da Educação e Saúde: ele é o único integrante da equipe que acompanhou a comitiva do Presidente Getúlio Vargas, aparecendo nas fotografias que mostram a comitiva do Presidente cruzando a Esplanada em direção aos Pilotis.

59

Acervo Capanema GC f 1934.10.19. Série: f - Ministério da Educação e Saúde - Assuntos administrativos

https://www.docvirt.com/docreader.net/ARQ_GC_PI/133 COMAS, Carlos Eduardo Dias. Precisões Brasileiras Sobre um Passado da Arquitetura e Urbanismo Modernos a partir dos projetos e obras de Lucio Costa, Oscar Niemeyer, MMM Roberto, Affonso Reidy, Jorge Moreira & cia., 193645. Tese de doutorado. Paris: Université de Paris VIII, 2002. p.15. 60


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VASARI, Giorgio; BETTARINI, Rosanna; BAROCCHI, Paola. Le vite de’ più eccellenti pittori scultori e architettori: nelle redazioni del 1550 e 1568. Firenze: Sansoni, 1966.

VASCONCELLOS, Virgínia Nogueira. A Escola Nacional de Belas Artes: 1930-1945. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1994.


VASCONCELLOS, Virgínia Nogueira. A Escola Nacional de Belas Artes: origens e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1996.

VIEIRA, Lucia Gouvêa. Salão de 1931; marco da revelação da arte moderna em nível nacional. Rio de Janeiro: Funarte, 1984.

WISNIK, Guilherme [org.]. O risco: Lucio Costa e a utopia moderna: depoimentos do filme de Geraldo Motta Filho. Rio de Janeiro: Bang Bang Filmes, 2003.

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XAVIER, Alberto (Org.). Lucio Costa: sobre Arquitetura. Porto Alegre: Centro dos Estudantes Universitários de Arquitetura, 1962.


7. ARQUIVOS E FONTES PRIMÁRIAS Arquivo Central do IPHAN - Centro de Documentação do Patrimônio (IPHAN); Arquivo Gustavo Capanema - Fundação Getúlio Vargas (CPDOC) Arquivo Histórico e Reserva Técnica do Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) Arquivo Nacional (AN) Arquivo Público do Rio de Janeiro (APR) Biblioteca da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro - acervo de obras raras (EBA-OR) Biblioteca da Faculdade de Arquitetura Universidade Federal do Rio de Janeiro (BFAU) Biblioteca do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - acervo de obras raras (BCT-OR) Biblioteca do Museu Nacional de Belas Artes Bibliotecas do IPHAN Biblioteca Nacional (BN) Casa de Lucio Costa (CLC) Fondation Le Corbusier (FLC) Fundação Oscar Niemeyer (FON) Museu D. João VI da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MDJ) Núcleo de Pesquisa e Documentação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NPD) - acervos de arquitetos e alunos da EBA


8. ANEXOS LISTA DOS ASSUNTOS E ANEXOS Correspondência Correspondências |Capanema, Costa, Leão, Le Corbusier, Niemeyer, entre outros Curso de Aperfeiçoamento em Architectura CEMI | Centro de Memória do Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro Curso de Aperfeiçoamento em Architectura PROEDES |Programa de Estudos e Documentação Educação e Sociedade da UFRJ Curso de Aperfeiçoamento em Architectura CPDOC |Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil Diversos Documentos do arquivo Capanema | Assuntos diversos Escola Nacional de Belas Artes Curriculos praticados na ENBA entre 1930 e 1945 Histórico Escolar de Niemeyer, Reidy, Moreira, Leão, Costa e Vasconcelos Le Corbusier Conferências 1936 |Transcrições (portugês e francês) Conferências 1936 |Desenhos Livros publicados – Resumos, obtidos na Fondation Le Corbusier (em organização) Livros do Acervo da ENBA |citados por Niemeyer e pertencentes à Niemeyer Documentos da Fondation Le Corbusier | Agenda (viagem 1936) Documentos da Fondation Le Corbusier | Carnets (sketchbooks) Documentos da Fondation Le Corbusier | Desenhos da viagem de 1929 Documentos da Fondation Le Corbusier | Diversos (em classificação) Titulos da Biblioteca pessoal Cronologia 1907-1945 Textos e projetos publicados |1935-1945 Títulos da bilioteca pessoal Planilha de obras raras das bibliotecas da UFRJ Projeto da Cidade Universitária do Brasil Versão Le Corbusier Versão Lucio Costa & Equipe Processo 6870/35, "organização do projeto para o edifício do Ministério da Educação" Projeto do Ministério da Educação e Saúde Versão 01 | 1936_05_Lucio Costa & Equipe Versão 02 | 1936_08_Corbusier Santa Luzia Versão 03 | 1936_08_Corbusier Castelo Versão 04 | 1937_01_Niemeyer_VARIANTE 37 Autoria VARIANTE 37 - documentos Versão 05 | 1937_02_Oscar Niemeyer & Equipe_Aprovado por Capanema Versão 06 | 1937_05_ Oscar Niemeyer & Equipe_Prefeitura Versão 07 | 1937_07_ Oscar Niemeyer & Equipe_Enviado para Le Corbusier Autoria VARIANTE 37 - documentos Projeto do Pavilhão do Brasil Versão 01b | 1938_03 Concurso Oscar (incompleto) Versão 02 | 1938_06 Anteprojeto Lc On Versão 03 | 1938_08 Executivo (incompleto) Correspondências Documentos da Casa de Lucio Costa


PLANILHA POR ASSUNTO E DE IDENTIFICAÇÃO DA NUERAÇÃO DAS PASTAS COMPARTILHADAS


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