Marcos L. Rosa & Kristine Stiphany Estudio tático Manual para táticas urbanas
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São Paulo (Brasil)
Berlin (Alemanha) Junhio 2010
Rua Frei Caneca x Rua Penafortes Mendes
E-mail interview / entrevista
Jorge Miñano Ramírez: Neste projeto você tinha como objetivo redesenhar e reconfigurar pequenos espaços e infraestruturas já existentes na rua Frei Caneca. A proposta tem uma repercução local – para a vizinhança – mas também para aqueles que transitam e visitam a rua. Quando você fala de microescala, além de fazer referência ao tamanho dos campos e às ações, quer dizer também que essas construções se aproximam do local, a escala 1:1? Marcos L. Rosa: Sim. O que definimos como ‘microplanejamento’ é a identificação de novos campos com abertura e capacidade para receber novos objetos que estimulem relações. Através de uma metodologia de pesquisa ligada ao microplanejamento indicamos um ‘menu’ de campos em potencial para abrigar espaços para a coletividade e um outro ‘menu’ de ferramentas aplicadas a ele. Esses dois menus apontam a necessidade de entender e propor mecanismos de ação e negociação na escala 1:1, ligada à experiência do dia-a-dia e à escala local, humana. Trata-se de intervenções táticas na cidade existente, da reorganização de referências presentes e re-codificação dos espaços encontrados. Kristine Stiphany: I think it is useful to think of the micro scale as a counterpoint to that of the macro – together they then offer space to a mid-scale, which is where urban design occurs. São Paulo was built with “big hands” – the Minhocão and Ce-
bolão are examples, as is present day Mario Covas ring road. The everyday bits that transpire on the street- call it informality, call it “urban practice” or just plain urban living, has filled in that span. However the fruits of this process, the “knowledges” persay, have yet to make their way into the resource stream of designers who still seem to approach the city with out of scaled hands. The 1:1 scale is in between the macro and the micro, tangible and proximate to both sides. J. M .R : Sua estratégia trata de questionar de forma pragmática o aproveitamento de espaços na rua que poderiam abrigar coletividade a partir de simples manobras. Os espaços públicos também são lugares de controle; que repercuções positivas poderiam trazer, fomentar e acrecentar esses espaços de coletividade, transformando-os realmente em espaços públicos? M. L. R: Quando questionamos (propositivamente) os espaços existentes, no limite da rua com os lotes, estamos agindo em uma borda definida pelo tradicional entendimento do que é público em oposição ao privado. A proposta questiona a borda e tira proveito dessa relação apoiando-se no valor do coletivo, do espaço de encontro, de trocas e negociação. Distanciamo-nos da necessidade de defini-lo como público, já que estamos criando espaços para a coletividade, para o ‘viver junto’ em estruturas já existentes e prédefinidas. Não acho que, neces-
sariamente, se transformem em espaços públicos, mas em espaços de encontro resultantes da negociação (do que tradicionalmente definimos como público, ou privado), de partes. De qualquer forma, acredito que o questionamento e escolha da ‘borda’ como mote para ação e para o que definimos como ‘transbordamento’ serve como uma reflexão prática sobre esses ‘isolamentos’. J. M. R: Parece-me que o projeto Frei Caneca é dirigido para os novos habitantes da rua, a clase criativa que esta regenerando a zona, como falaria Richard Florida, quando voce apresentou esta proposta, como considerou os processos de gentrificação que vem aconteçendo na área? De que forma seu projeto tolera e conserva as especificiades da rua e respeita sua história? M. L. R: Nunca fizemos um projeto. Definimos uma estratégia de ação que só se transforma em projeto quando acontece a participação. Trata-se de uma espécie de jogo. Definimos um ‘tabuleiro’ que traduz o que lêmos na rua. Marcamos campos para ação ao longo desta borda – espaços existentes construídos (playrgrounds, jardins, praças) – que podem ser usados coletivamente, de forma diferente de como vêm sendo usados atualmente. As escolhas dos campos e novas ferramentas para rearticulálos vêm dos moradores, daqueles que passam e que utilizam o espaço, temporariamente, de formas diversas. Trata-se de uma estratégia que pretende reunir o coletivo (como define Bruno Latour enquanto necessidade política), e ativar espaços subutilizados. Não se trata de um ‘masterplan’