Análise de equipamentos de uso coletivo na orla brasileira

Page 1

MARCOS ANTÔNIO DE SOUZA DENIS LIBERATO DELFINO JEAN GILBERTO RIBEIRO

Análise de equipamentos de uso coletivo na orla brasileira

1ª edição

Florianópolis – Santa Catarina Ledix 2018


Análise de equipamentos de uso coletivo na orla brasileira © Marcos

Antônio de Souza

Editor: Marcos Roberto Rosa marcosrrosa@gmail.com

S300c

SOUZA, Marcos Antônio de; DELFINO, Denis Liberato; RIBEIRO, Jean Gilberto Análise de equipamentos de uso coletivo na orla brasileira / Marcos Antônio de Souza, Denis Liberato Delfino, Jean Gilberto Ribeiro . Florianópolis: Ledix, 2018. 35 p.:il.

ISBN 978-85-86251-63-4

1. Orla brasileira. 2. Equipamentos. II. Título.

CDD: 641.5

Proibida a reprodução total ou parcial (exceto a última, com citação completa da fonte), sob qualquer forma ou meio, sem permissão expressa do Autor. (Lei nº 5.988, de 14/12/1973).

2


A IMPORTÂNCIA DE EQUIPAMENTOS DE USO COLETIVO NA ORLA

A importância da orla como espaço de lazer

De acordo com a OMT – Organização Mundial do Turismo, a atividade turística tem efeito multiplicador, uma vez que pelo menos cinqüenta e dois setores da economia são impactados no seu desenvolvimento. Dentre os diversos benefícios provenientes do turismo, podemos destacar: Redução do desemprego; Distribuição efetiva da renda; Geração de divisas; Aumento na arrecadação de impostos; Atração de investimento externo; Melhoria da infra-estrutura de apoio ao turismo, beneficiando também os residentes; Preservação dos patrimônios naturais e culturais; Melhoria na qualidade de vida da população local. As orlas são espaços de significativa importância quando se trata de lazer nas cidades litorâneas, sendo muitas vezes o principal espaço de lazer público de uma cidade, pois mesmo fora do período de verão as orlas são utilizadas para muitas atividades de lazer. Dessa forma é importante o cuidado urbanístico para que se possa tornar o espaço ainda mais atrativo para o uso dos moradores da cidade e para o turismo. A atividade turística vem superando setores como o da indústria e o da agricultura. Esse fato se deve, principalmente, pelo efeito multiplicador do turismo, além de possuir entre suas características, fundamentais, a necessidade de agregar diversas áreas para o seu desenvolvimento. Assim, o turismo depende e compõem-se de vários elementos como equipamentos, serviços, infraestrutura, atrativos ao qual se relaciona. Portanto, diversas áreas estão intrinsecamente associadas ao turismo, como é o caso da rede hoteleira, do setor de alimentação como bares, 3


restaurantes e similares, lojas e comércio em geral, agências de viagens e transportes, entretenimento e atrativos dos mais variados, entre outros. (OLIVEIRA, 2007). Assim, é de grande importância que, além de oferecer infraestrutura e segurança, também sejam implantados equipamentos turísticos de uso coletivo para que as atividades de lazer não sejam limitadas apenas às características naturais das orlas, tornando esses locais mais atrativos e permitindo desta forma aumentar a capacidade de receber visitantes.

Características dos equipamentos turísticos de uso coletivo

Em um primeiro momento destacam-se equipamentos de uso coletivo público, como calçadões, ciclovias, mirantes, equipamentos de ginástica, parques infantis, quadras de esportes. Estes equipamentos formam a base para trazer uma dinâmica urbana para as orlas, revitalizam espaços que estavam em decadência de uso, tornando-os pontos de atração na cidade. Conseguem também otimizar espaços já apreciados por suas características naturais em verdadeiros pontos turísticos bem estruturados. A geração de renda e emprego pelo turismo é o ponto chave (termômetro) da capacidade produtiva do setor e de sua importância para a economia de uma localidade e isto se reafirma pelo o que nos apresentam Fernandes & Coelho (2002, p. 32): ¨De acordo com a Organização Mundial de Turismo, a atividade turística gera 1 em cada 11 empregos no mundo, com perspectivas para atingir, brevemente, a marca de 1 em cada 9.¨ Para que isto ocorra, se faz necessária a presença de equipamentos urbanos que permitem melhorar a experiência de lazer, tais como: instalações de banheiros públicos, chuveiros públicos, bancos, pontos de ônibus, lixeiras, acesso para portadores de necessidades especiais, que 4


somados com segurança e infraestrutura permitem a plena utilização do espaço. Esses equipamentos, embora possam parecer apenas um apoio às atividades principais oferecidas na orla, são indispensáveis para que moradores e visitantes possam desfrutar completamente do espaço, conseguindo assim não só oferecer novas possibilidades de lazer, mas garantir que as já existentes possam ser apreciadas por mais visitantes e com mais conforto. Outro ponto de destaque são os equipamentos coletivos de caráter privado, que abrem novas atividades de lazer e contribuem para melhorar a qualidade das orlas. Equipamentos como quiosques e restaurantes à beira mar, locais para alugar cadeiras, barracas e guarda-sóis, abrem a possibilidade para que muitos usuários possam usufruir do espaço sem ter a preocupação de se preparar para passar um período mais longo na praia. Estes equipamentos contribuem para que muitas famílias possam sair de cidades vizinhas para as cidades litorâneas, ou até mesmo de locais mais afastados das próprias cidades litorâneas para passarem um dia na praia. Lickorish (2000, p. 132), contribui com essa linha de pensamento. Para o autor, “quando um destino é bem sucedido o gasto dos turistas é amplamente difundido gerando um efeito multiplicador econômico”. O reflexo disso é que mais trabalhadores buscarão esse local, precisarão de mais casas para morar, lojas, transportes, serviços, etc. provocando a instalação de postos de gasolina, táxis, ampliação do comércio, dos serviços que atendem a população residente e os turistas. Nesse cenário, haverá todo um incremento da economia e das condições de vida neste local, portanto, aumentando também as atrações neste destino. Outra questão são os equipamentos de caráter privado que possibilitam utilizar os elementos naturais já existentes para criar novas formas de lazer, são lojas e escolas destinadas a esportes marítimos, restaurantes à beira mar, locais para festas de praias e luaus. Estes equipamentos acabam por vezes se tornando uma característica marcante do local, como praias que ficam conhecidas por seus restaurantes de comidas típicas, ou praias que permitem a pratica de surf, onde se encontram várias lojas ou escolas especializadas neste esporte. Tudo isto 5


mostra que os equipamentos oferecidos se tornam parte das atrações turísticas e demonstram a força que podem exercer nas orlas. É necessário saber conciliar os equipamentos de caráter privado e público, para que se possa tornar o ambiente da orla o mais atrativo, pois ambos são complementos às características naturais que elevam o potencial das atividades de lazer já existentes. Numa praia em que faltam equipamentos é necessário levar uma grande quantidade de objetos e alimentos, a fim de ter um mínimo de conforto, para nela passar um dia. Enquanto a que oferece locais de alimentação, banheiros de fácil acesso, uma ducha para tirar a areia e o sal no fim do dia, permite poder desfrutar do local com muito mais conforto. No entanto, é necessário conhecer e debater quais os melhores locais para a instalação de cada tipo de equipamento, objetivando garantir a sua melhor utilização. Sendo assim, princípios básicos devem ser levantados. Equipamentos de lazer público que completam espaços de praça como aparelhos de ginástica, parques infantis e quadras esportivas, devem preferencialmente estar próximas a áreas centrais, como ruas comerciais, pontos de acesso à praia, e necessitam ter em suas proximidades equipamentos urbanos como banheiros e chuveiros públicos. Equipamentos de lazer do setor privado, que oferecem serviços contínuos como alimentação ou alugueis de equipamentos de praia, devem estar distribuídos ao longo da orla, contemplando dessa forma mais usuários.

O Exemplo de Copacabana

Copacabana é um exemplo de praia que recebe um elevado volume de turistas e que utiliza equipamentos públicos e privados de uso coletivo, gerando conforto aos seus frequentadores. 6


A prefeitura do município do Rio de Janeiro implantou 64 quiosques no calçadão ao longo de 6 km de orla. Isto faz com que a cada 100 metros o visitante tenha o equipamento para sua utilização. Dentre os equipamentos destaca-se a existência de postos Bancários e outros pontos de serviços de natureza pública. Cada quiosque utiliza parte do espaço público para a colocação de mesas e cadeiras. Próximo aos quiosques mais modernos, há sanitários e vestuários subterrâneos que podem ser acessados por escadas e ou elevadores no caso de portadores de necessidades especiais. (fotos 01 e 02)

Foto 01

A orla também conta com passeio público, ainda chamado pela população de calçadão e paralelo a este, a ciclovia. Isto cria um ambiente de intenso fluxo de pedestres e ciclistas. Na faixa de areia encontram-se equipamentos para esportes, dentre os quais, quadras de futebol de areia e vôlei de praia. Estes equipamentos contribuíram para tornar Copacabana e outras praias cariocas locais de lazer utilizados não só por visitantes, mas por moradores de todas as classes sociais que residem na cidade e na grande Rio.

7


Estes fatores permitem ao local ter movimento durante todo o ano, diferente do que ocorre em muitas praias no restante do país, que se tornam espaços quase sem uso fora da estação de verão.

Foto 02

Pontos de Praia / Jurerê Internacional

Dentro dos equipamentos coletivos de propriedade privada na praia de Jurerê internacional, podemos destacar os pontos de praia como equipamentos fundamentais para o atendimento aos frequentadores. Como espaço de uso coletivo, são construções que estão na orla, possuindo estruturas como decks de madeira, cadeiras, mesas, venda de alimentos e bebidas, toaletes e chuveiros, estruturas inerentes a um estabelecimento de praia. Desta forma, estes espaços são importantes opções de lazer para visitantes locais e turistas, principalmente em locais onde há falta de equipamentos coletivos que permitam usufruir do espaço de forma mais cômoda.

8


No caso específico dos bares de praia de Jurerê Internacional, o que os tornam equipamentos diferenciados, é a forma e a qualidade dos serviços oferecidos. Esta categorização de serviços faz com que estes bares de praia, sejam chamados de “Beach Club” ou clube de praia. Esta denominação, apesar de ser nova para a cidade de Florianópolis, já é comum em balneários em todos os continentes. O conceito de Beach Club vai muito além de bares à beira mar, como é comum em países europeus e também latino americanos, o conjunto destes equipamentos formam um verdadeiro cluster¹, também chamado de polo que impulsionam a atividade turística e gera maior conforto a todos os frequentadores. Este formato de equipamento tem uma grande importância nos balneários onde já estão instalados, sendo nesses locais uma das principais formas de lazer procurada por turistas e moradores, atraindo visitantes para as praias onde são instalados. Um conceito equivocado devido à falta de conhecimento e ou por intenções obscuras, afirmam que somente pessoas de classe econômica mais elevada utilizam as praias onde esses estabelecimentos são implementados. Esta falsa afirmação é facilmente derrubada, analisando não só a frequência de Jurerê Internacional, como a frequência de demais balneários onde os mesmos se encontram. Citamos o Balneário de Punta del Este no Uruguai, muito famoso por seus Beach Clubs, e que tem a maior parte de seus visitantes composta por famílias de classe média.

9


Foto 03

Analisando este modelo de equipamento, principalmente como já é concebido em diversos países, o Beach Club atua como atrativo turístico e equipamento para a comunidade local. Também atua como um elemento que pode otimizar a dinâmica ocupacional da orla, visto que ajudam a organizar e manter os espaços, trazendo benefício e atraindo movimento não só ao local no qual o estabelecimento está instalado, mas também em outras áreas. Assim os Beach Clubes acabam por beneficiar outros estabelecimentos e trazem público para utilizar outros equipamentos da região. O turismo consolida-se como atividade geradora de emprego, renda e desenvolvimento econômico, principalmente, em países que apostaram nesse ramo de atividade e realizaram investimentos de todas as ordens – capacitações profissionais, revitalizações tanto de áreas públicas quanto privadas, além da oferta de novos serviços e produtos turísticos direcionados a todas as faixas etárias e para todos os gostos da população. Inegável é a geração de emprego e renda a partir do atendimento das necessidades dos turistas e usuários em geral, tornando o equipamento como elemento fundamental da cadeia de agregação de valor do produto turístico.

10


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NADJBERG, Sheila; ILKEDA, Marcelo. Modelo de geração de emprego: metodologia e resultados. Rio de Janeiro, outubro, 1999. OLIVEIRA, Elton Silva. Impactos socioambientais e econômicos do turismo e as suas repercussões no desenvolvimento local: o caso do Município de Itacaré – Bahia. Revista Internacional de Desenvolvimento Loval. Vol. 8, N. 2, p. 193-202, Set. 2007. BIZ, Alexandre Augusto & DAll AGNOL, Rafael. Recursos orçamentários: um novo nicho de mercado para bacharéis em turismo. V Seminário de Pesquisa em Turismo do Mercosul: Inovações da pesquisa na América Latina. UCS. Caxias do Sul, 2008. Disponível em: . Acesso em: 10 nov. 2012. FERNANDES, Ivan Pereira & COELHO, Marcio Ferreira. Economia do Turismo: teoria e prática. Elsevier, Rio de Janeiro, 2002. Foto 01- Quiosque de Copacabana. Fonte: Revista Veja Foto 02- Banheiros/vestiários Públicos Copacabana. Fonte Revista Veja ¹ Cluster- Conjunto de equipamentos que trabalham juntos tentando formar um único e completo sistema. Foto 03 – Praia Bikini/ Punta del Este Uruguai

11


BARES DE PRAIA COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL PARA O ESTADO DE SANTA CATARINA

Estudo de caso: Jurerê Internacional INTRODUÇÃO

O Turismo não é apenas uma atividade econômica, engloba diversos aspectos e interações sociais. A própria OMT (Organização Mundial de Turismo) define o turismo como: Um fenômeno social, cultural e econômico que implica o deslocamento de pessoas para lugares fora do seu ambiente habitual.... De acordo com a OMT, dentre os diversos fatores que fizeram do turismo a atividade econômica mais importante do planeta, a partir a segunda década do século XXI e que emprega sete vezes mais que a indústria de automação e cinco vezes mais que a indústria quimica, estâo o desenvolvimento tecnológico, a liberdade individual, o crescimento educacional e o entendimento por parte dos governos que o turismo é fundamental para o crescimento econômico e distribuição de renda de seus Estados. Neste contexto, não basta apenas querer “trazer turistas” ao seu território, é necessário ter atrativos e condições em infraestrutura. Referente à infraestrutura, o setor privado é o responsável pelos equipamentos que permitem ao turista, usufruir o atrativo.

12


Citando dois clássicos exemplos do turismo mundial, podemos afirmar, que sem uma estação de esqui, não “haveria” a prática deste prazeroso esporte de regiões frias, bem como, sem bares ou restaurantes na orla, o uso da praia seria bem menor que o habitual e praticamente inconcebível para o aproveitamento do mais importante espaço turístico natural do planeta.

FUNDAMENTAÇÃO PARA O USO DE EQUIPAMENTOS NA ORLA O Brasil possui uma das melhores e mais preservacionista legislação ambiental dentre todos os países. A lei 6938 de 1981 que dispõe sobre a Politica Nacional do Meio Ambiente, o novo Código Florestal Brasileiro (lei 12.651 de 2012), além do SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação), leis estaduais e municipais, e toda a Política Nacional do Meio Ambiente, deveriam, em tese garantir um desenvolvimento sustentável ao país. Desenvolvimento Sustentável, justamente neste importante ponto é que tanto a legislação, a interpretação das leis e principalmente os agentes reguladores e fiscalizadores estão trabalhando de forma desconexa e não técnico-científica, ocasionando a contradição entre uma legislação restritiva e um dos países que mais danificam o meio ambiente em todo o planeta. O termo Desenvolvimento Sustentável tornou-se conhecido em 1987 quando a comissão das Nações Unidas para o meio ambiente liderada pela ex-primeira ministra da Noruega GroHarlemBrudland, desenvolveu a tese deste importante conceito: Usar os recursos naturais de forma a atender as demandas da presente geração, sem comprometer as reservas de recursos para as gerações futuras” O Nosso Futuro Comum, Relatório Brudland.

Três eixos norteiam e fundamentam os mecanismos para que o Desenvolvimento Sustentável possa ser atingido: Economicamente Viável, Socialmente Justo e Ambientalmente Correto. No Caso da orla de Jurerê Internacional, bem como nas demais orlas urbanizadas do país, o Desenvolvimento Sustentável tem encontrado em algumas instituições governamentais, principalmente no Ministério Público Federal, o não reconhecimento das comunidades locais serem beneficiadas economicamente neste importante espaço e por consequência terem suas demandas sociais atendidas. Neste sentido o Projeto Orla, criado pelo Ministério do Meio Ambiente que tem por objetivo a utilização sustentável da orla brasileira, tem apontado um caminho de

13


entendimento que irá dirimir os conflitos, resultando em melhor qualidade de vida para as populações atingidas: “O Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima – Projeto Orla, surge como uma ação inovadora no âmbito do Governo Federal, conduzida pelo Ministério do Meio Ambiente, por meio da Secretaria de Qualidade Ambiental nos Assentamentos Humanos, e pela Secretaria do Patrimônio da União do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, buscando implementar uma política nacional que harmonize e articule as práticas patrimoniais e ambientais, com o planejamento de uso e ocupação desse espaço que constitui a sustentação natural e econômica da Zona Costeira. Nessa concepção encontra-se o desafio em lidar com a diversidade de situações representadas pela extensão dessa faixa, que atinge 8.500km e aproximadamente 300 municípios litorâneos, que perfazem, segundo o último censo, população em torno de 32 milhões de habitantes. Subjacente aos aspectos de territorialidade, encontra-se a crescente geração de conflitos quanto à destinação de terrenos e demais bens de domínio da União, com reflexos nos espaços de convivência e lazer, especialmente as praias, bens de uso comum do povo..... Projeto Orla, Ministério do Meio Ambiente. Também de acordo com o Projeto Orla, no item Análise econômico ambiental no espaço da orla marítima (pg 87-101): ....Ao longo dos anos mais recentes, a gestão ambiental passa progressivamente a incorporar as variáveis econômicas e sociais como peças-chave na gestão. Do ponto de vista da economia, a utilização de instrumentos econômicos coloca na ordem do dia questões como a adoção de impostos de poluição, cobrança pelo uso da água, licenças de emissão de gases de efeito estufa etc; já do ponto de vista social, cada vez mais a gestão ambiental passa a ser descentralizada e realizada em parceria com os diferentes segmentos sociais.A compreensão da dimensão econômica e da dimensão social nas diferentes opções normativas torna-se, assim, imprescindível, ao passo que os diferentes agentes econômicos e sociais devem progressivamente assumir o papel ativo na gestão ambiental. A análise econômica e a ampla participação da sociedade mostram-se como elementos fundamentais para a gestão ambiental. A análise econômicoambiental, objeto deste trabalho, será utilizada como uma ferramenta para auxiliar o processo de tomada de decisão, especialmente nas situações mais conflitantes, onde a solução pode depender da definição de usos a serem estimulados e/ou desconstituídos (pg 87 –grifo nosso)

No contexto da análise multicritério sobre o uso da orla, o projeto Orla, orienta: 2. Entendendo o método da análise econômico-ambiental: ..para isso, propõe-se a utilização de análise multicritério, que constitui ferramenta de apoio à tomada de decisão, que tem por objetivo combinar emprego de diferentes critérios e a consideração da visão de vários atores, procurando estabelecer termos gerais de comparação entre as diversas opções... (pg 89) grifo nosso 14


3. Aplicação do método análise de multicritério no espaço da orla marítima Estabelecidos os marcos metodológicos, o segundo passo do trabalho consiste, então, na aplicação da metodologia no âmbito do Projeto Orla, constituída dos seguintes passos: 1) Identificação das variáveis econômicas fundamentais no contexto da orla marítima; 2) Identificação das normas regulatórias técnicas e sociais a serem aplicadas, pré determinadas pelo Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro – GERCO e pelo conjunto do Projeto Orla; 3) Identificação dos impactos que cada alternativa de uso proposta para a orla (planos, projetos ou normas regulatórias em geral) pode gerar sobre as variáveis econômicas elencadas; 4) Como decorrência direta do anterior, realizar a análise econômica da viabilidade e atratividade, do ponto de vista público, dos diferentes projetos alternativos de uso da orla.(pg89 grifo nosso) Verifica-se em toda a documentação do projeto Orla a modernidade e o cuidado multicritério para o desenvolvimento sustentável da orla brasileira. Para não estendermos este parecer além do que se faz necessário no presente momento, o Projeto Orla segue em sua íntegra nos anexos e vem devidamente grifado objetivando os pontos específicos que estamos abordando. Também como fundamentação visando a necessidade social da permanência de equipamentos fundamentais para o uso antrópico da orla, citaremos a dissertação de mestrado de Marília Emília Martins da Silva, que foi submetida ao Programa de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, da Universidade Federal de Santa Catarina, e tem por título: “GESTÃO SUSTENTÁVEL DA ORLA MARÍTIMA EM DESTINOS TURÍSTICOS COSTEIROS: A PERCEPÇÃO DOS ATORES SOCIAIS” No Resumo desta importante dissertação, onde se encontra o resultado da pesquisa e dos estudos realizados na Orla do município de Itapema/SC, vemos que as intervenções antrópicas são necessárias nos locais urbanizados e que diferentemente do pensamento preservacionista dogmatizado (corrente ambientalista predominante do inicio do movimento ambiental nas décadas de 1960-1990, que defendem sem fundamentação científica a preservação total de áreas antropizadas) a intervenção

15


antrópica é fundamental para a preservação ambiental no ambiente urbano, a qual corretamente, devemos chamar de ação conservacionista. “RESUMO SILVA, Maria Emília Martins da.Gestão sustentável da orla marítima em destinos turísticos costeiros: a percepção dos atores sociais. 2013. 335 p. Dissertação (Mestrado em Engenharia e Gestão do Conhecimento) Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis – Brasil. A gestão da sustentabilidade tem sido o foco para decisões gerenciais em praticamente todas as organizações, na busca proeminente de controlar os inúmeros impactos gerados ao meio ambiente pelas atividades antrópicas. Esta preocupação torna-se ainda mais relevante para os espaços em que a atividade socioeconômica depende de um meio minimamente preservado e equilibrado. A necessidade em preservar a zona costeira brasileira constitui uma responsabilidade iminente sobre os recursos naturais deste espaço, incluindo a orla marítima, as praias e a vegetação de restinga. No estado de Santa Catarina, a orla exerce forte influência sobre os fluxos turísticos, favorecendo positivamente o segmento do turismo de sol e praia, com usufruto do mar, da contemplação da paisagem e outros recursos adjacentes. Neste contexto, o Ministério do Meio Ambiente e a Secretaria do Patrimônio da União criaram o Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima (Projeto Orla), constituindo um dos instrumentos do Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, com vistas a promover o ordenamento dos espaços litorâneos sob domínio da União e, implementar um gerenciamento sustentável na costa de forma descentralizada. Diante do exposto, esta Dissertação analisa a processo de implementação do Projeto Orla e implantação do Parque Linear Calçadão (PLC) no município de Itapema (litoral norte do Estado de Santa Catarina), sob a ótica dos atores sociais envolvidos no processo. O objetivo é analisar como a percepção ambiental e o conhecimento dos atores sociais pode influenciar a tomada de decisão gerencial, com vistas à gestão sustentável da orla, a partir da implementação do Projeto Orla num município costeiro. A metodologia adotada para a investigação está pautada no paradigma interpretativo. No tocante aos métodos, estabeleceu-se o estudo de caso para o município de Itapema/SC, com a aplicação de entrevistas semiestruturadas, a observação simples e a coleta de dados visuais do campo de estudo. A técnica da entrevista foi aplicada com 28 atores sociais, sendo 12 com os moradores do bairro Meia Praia, 9 com os visitantes, 4 com as instituições governamentais e 3 com as instituições não-governamentais. A análise e interpretação dos dados qualitativos foram baseadas no método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), que assegura a essência do pensamento e conhecimento cognitivo, por meio do discurso, mediados pela linguagem. Além desses, a revisão narrativa de literatura permeou todo o desenvolver do trabalho. Os resultados mostraram que a implantação do PLC contribuiu para a sustentabilidade da orla local, assim como gerou impactos positivos e negativos sob as dimensões sociocultural, espacial, estética, econômica e

16


ambiental, tanto para a orla como para o município. Além disso, percebeu-se a relevância do conhecimento de uma coletividade que vivencia as transformações advindas de uma intervenção no meio natural, culminando na geração de novos conhecimentos, por meio de propostas de ações e projetos para o local. Considera-se, por fim, que o Projeto Orla e o Parque Linear calçadão contribuíram para a gestão sustentável da orla marítima, favorecendo o conforto ambiental, a qualidade paisagística do espaço costeiro, a preservação do meio ambiente e o bem estar da população local e seus visitantes. Palavras-chave: Gestão do Conhecimento. Sustentabilidade. ZonaCosteira. Destino Turístico.“ Grifo nosso

Parque Linear do Calçadão/Itapema-SC

A utilização da referida dissertação acima mencionada deu-se também pelo falto do MPF ter sido contrário à implantação do projeto Orla e das adequações urbanas realizadas, principalmente pela criação do Parque Linear do Calçadão, mesmo este tendo amplo apoio da comunidade local. Nota-se que a bibliografia técnica e científica sobre o uso da orla aponta cada vez mais para a integração entre a conservação ambiental e a sua importância socioeconômica.

BARES DE PRAIA EM JURERE INTERNACIONAL SUA FUNÇÃO SOCIOECONÔMICA O município de Florianópolis gradativamente vem dependendo menos economicamente da renda do funcionalismo público e ampliando a participação do setor de serviços, turismo e da indústria de alta tecnologia na formação de seu PIB (Produto Interno Bruto). 17


Este fato ocorre não somente em Florianópolis, mas em todas as capitais do Brasil e no mundo, cada vez mais, entende-se que não compete ao Estado ser a única fonte de renda de uma população. O Estado de Santa Catarina também tem vislumbrado o aumento contínuo da participação dos serviços e do turismo na formação de seu PIB De acordo com o Programa de Desenvolvimento Industrial Catarinense, PDIC 2022 formulado pela FIESC ( Federação das Industrias Catarinense) em 2016 os serviços apresentaram os seguintes números: Os serviços em Santa Catarina somavam 63% do PIB e 56% dos postos de serviços em 2013, e os índices anuais apontam o aumento gradativo, seguindo a lógica que já ocorre nos países desenvolvidos. Estes indicadores por si já demonstram a importância dos equipamentos turísticos que compõem a orla de Jurerê Internacional, categorizados como bares de praia. Não é necessário demorarmos na explicação que bares, restaurantes e demais equipamentos turísticos demandam grande número de trabalhadores, haja vista a peculiaridade operativa dos serviços. Porém, destacamos dois componentes que potencializam a importância na geração de emprego e renda proporcionado pelos 5 bares de praia que compõem a orla urbanizada mais preservada de Florianópolis: primeiro, estes indicadores são para o estado de Santa Catarina, portanto devido às características econômicas de Florianópolis, estes indicadores aumentam ainda mais a importância dos serviços na formação da renda e na empregabilidade. Segundo, os bares de praia de Jurerê Internacional estão localizados no norte da ilha, ou seja, onde o turismo é o maior responsável pela geração de empregos.

BARES DE PRAIA EM JURERE INTERNACIONAL FUNÇÃO SOCIOECONÔMICA EM NÚMEROS DIRETOS

Os cinco bares de praia de Jurerê internacional, formando um “semi cluster” no entretenimento para o norte da ilha cumprem funções muito além de atrativo turístico, eles são responsáveis pela geração de benefícios socioeconômicos demonstrados nas tabelas abaixo:

18


Geração Postos de Trabalho Diretos*

Geração de postos de trabalho/ baixa temporada Geração de postos de trabalho/temporada média Geração de empregos diretos na alta temporada Geração de empregos diretos finais de semana Geração de empregos diretos eventos e datas especiais Geração de empregos diretos réveillon e carnaval MÉDIA ANUAL DE GERAÇÃO DE EMPREGOS 65.300 /365

~ 90 ~ 145 ~ 300 ~ 100 ~200 ~ 900 ~ 179

Geração de renda direta aos trabalhadores *

Geração de renda direta / baixa temporada. 1.800/per capita Geração de renda direta / temporada média1.800/per capita Geração de renda direta / alta temporada1.800/per capita Geração de renda direta / finais de semana150,00/per capita Geração de renda direta / eventos e datas especiais200,00/per capita Geração de renda direta réveillon e carnaval250,00/per capita 13º/1/3 férias MÉDIA ANUAL GERAÇÃO DE RENDA DIRETA AO TRABALHADOR

~ R$810.000,00 ~ R$ 1.044.000,00 ~ R$ 1.620.000,00 ~ R$600.000,00 ~ R$240.00,00 ~ R$400.000,00 ~R$ 150.000,00 ~R$4.817.000,00

CAPTAÇÃO DIRETA DE TURISTAS

A realização de eventos como casamentos, festas de aniversário, réveillon e carnaval, são aspectos singulares no fluxo turístico, pois decidem o destino da viagem do turista. 19


Turistas que tem como motivo da viagem ~2750 evento nos bares de praia Renda média gerada para o Estado ~ R$ 3.300.000,00 2750 x 3 dias x R$ 400,00 ARRECADAÇÃO DIRETA AOS COFRES PÚBLICOS *

Arrecadação municipal Arrecadação estadual Arrecadação federal

~ R$ 550.000,00 ~R$1.000.000,00 ~ R$2.000,000,00

Investimento em Ações Socioambientais *

Participação não obrigatória em ações ~ R$ 50.000,00 socioambientais * Fontes primárias

BARES DE PRAIA EM JURERE INTERNACIONAL FUNÇÃO SOCIOECONÔMICA EM NÚMEROS INDIRETOS RISCOS SOCIOECONÔMICOS COM A RETIRADA DOS BARES DA ORLA DE JURERÊ INTERNCAIONAL:

È importante destacar que a perda econômica e social com a não operacionalização dos 5 bares de praia de Jurerê Internacional está além dos números apontados no capítulo anterior. Os efeitos indiretos proporcionados pelo encadeamento do setor turístico e particularmente o gastronômico e de infraestrutura em orla para o uso antrópico, ainda que de difícil mensuração e objetividade, serão tratados a seguir embasados em estudos e fundamentações teóricas. Por ser um tema de grande impacto para Florianópolis e também para todo o turismo de Santa Catarina, por ser uma situação de difícil ocorrência em sítios turísticos não só no Brasil, mas em todo o mundo, pois a lógica é a reversa ao que o Ministério Público 20


Federal solicita neste caso, os Estados em todo o mundo, lutam por equipamentos que agreguem valor à atividade turística. Devido a estes fatores, utilizaremos a linha de argumentação da análise de risco, ainda que esta se direcione para ocorrências com sinistros. O importante para este estudo é que a metodologia que investiga o fato a ocorrer (retirada dos bares da orla de Jurerê Internacional ) seguirá a mesma diretriz. De acordo com Jean Carlos Ribeiro, no livro da disciplina de Gestão de Segurança, Saúde e Meio Ambiente do curso superior em Gestão Ambiental da Faculdade Fael, pg.63 à 67: “4.3. Análise de Risco ...Segundo a NBR ISO 31000/2009 a análise de risco deve desenvolver a compreensão dos riscos, e: “Fornecer uma entrada para a avaliação de riscos e para as decisões sobre a necessidade dos riscos serem tratados, e sobre as estratégias e métodos mais adequados de tratamento de riscos. A análise de riscos também pode fornecer uma entrada para a tomada de decisões em que escolhas precisam ser feitas e as opções envolvem diferentes tipos de níveis de risco.

A análise de riscos envolve a apreciação das causas e as fontes de risco, suas consequências positivas e negativas, e a probabilidade de que essas consequências possam ocorrer. Convém que os fatores que afetam as consequências e a probabilidade sejam identificados. O risco é analisado determinando-se as consequências e sua probabilidade, e outros atributos do risco. Um evento pode ter várias consequências e pode afetar vários objetivos. Convém que os controles existentes e sua eficácia e eficiência também sejam levados em consideração. A confiança na determinação do nível de risco e sua sensibilidade a condições prévias e premissas devem ser consideradas na análise e comunicadas eficazmente para os tomadores de decisão e, quando apropriado, a outras partes interessadas. Convém estabelecer e ressaltar fatores como a divergência de opinião entre especialistas, a incerteza, a disponibilidade, a qualidade, a quantidade e a contínua pertinência das informações, ou as limitações sobre a modelagem. Dependendo das circunstâncias, a análise pode ser qualitativa, semi-quantitativa ou quantitativa, ou uma combinação destas.

21


As consequências e suas probabilidades podem ser determinadas por modelagem dos resultados de um evento ou conjunto de eventos, ou por extrapolação a partir de estudos experimentais ou a partir dos dados disponíveis. As consequências podem ser expressas em termos de impactos tangíveis e intangíveis. Em alguns casos, é necessário mais que um valor numérico ou descritor para especificar as consequências e suas probabilidades em diferentes períodos, locais, grupos ou situações. ....De forma geral, a Análise de Risco:  Não tem caráter determinístico;  Não estabelece uma resposta exata a uma pergunta;  Atua com incertezas metodológicas, além das subjetivas;

A elaboração de uma Análise de Riscos deve ser refletida em alguns itens, como:  O que pode ocorrer de errado?  Quais são as consequências?  Os riscos são toleráveis? (desejáveis)

4.3.2 Risco

Possibilidade de efeitos nocivos ou que algum evento prejudicial venha a acontecer. Pode ser entendido também como a medida da perda econômica e ou de danos à vida humana, resultante da combinação entre as frequências de ocorrência e a magnitude das perdas ou danos (consequências). “

Seguindo a compreensão da NBR ISO 31000/2009, entendemos que os riscos da saída destes importantes equipamentos turísticos, podem refletir de forma potencializada nas questões socioeconômicas do norte da Ilha, de todo o município de Florianópolis e para a imagem turística de Santa Catarina. Abaixo seguem as tabelas referentes aos efeitos indiretos que ocorrerão com a saída dos bares de praia, devido à imprecisão das mensurações e ao ineditismo desta ocorrência, os números serão minorados, ainda que a causa final seja desconhecida e que certamente potencializará danos socioeconômicos.

22


GERAÇÃO DE EMPREGOS INDIRETOS*

MÉDIA ANUAL DE EMPREGOS INDIRETOS

GERAÇÃO

DE ~ 150

GERAÇÃO DE RENDA INDIRETA AOS TRABALHADORES *

MÉDIA ANUALGERAÇÃO DE INDIRETA AO TRABALHADOR

RENDA ~ R$3.000.000,00

ARRECADAÇÃO INDIRETA AOS COFRES PÚBLICOS *

Arrecadação estadual Arrecadação federal * Fontes primárias projetadas.

~ R$1.000.000,00 ~ R$2.000,000,00

BARES DE PRAIA EM JURERE INTERNACIONAL EQUIPAMENTOS REFERÊNCIAS PARA O TURISMO BRASILEIRO A praia de Jurerê Internacional é conhecida no mundo como a “Ibiza brasileira”. O comparativo com a ilha espanhola de Ibiza não está em somente sobre as questões referente a “festa”, ao contrário, está pelo viés de organização, diferenciação de serviços e produtos turísticos, sustentabilidade econômica, social e ambiental ocasionados por uma estratégia de reposicionamento – foco não está em turismo de MASSA. A pesquisadora antropóloga Pegi Vail do Centro de Mídia, Cultura e Histórica da Universidade de Nova York, passou 14 anos gravando documentário sobre turismo de massa e seus impactos na localidade. Cita que primeiramente o lugar é “descoberto” por algum aventureiro, que comenta compartilha suas experiências, e atualmente fortalecida pelas redes sociais, gerando uma nova onda de visitantes e, consecutivamente, surgem empresas para explorar momentaneamente o local. Citando como exemplos: Tailândia, Butão, Bolívia, Mali e México.

23


Este modelo é mais evidenciado em lugares onde não se prospera o planejamento estruturado em ambiental, cultural, social e econômico, portanto, mais factível em países em desenvolvimento. Ibiza também sofreu com o processo de massificação que prosperou até uma redefinição de mercado, discutido entre comunidade e setores privados/públicos, ocorrido no início dos anos 2000 que identificou os impactos futuros que este modelo de negócio traria para a região e as dificuldades para se reposicionar frente aos concorrentes diretos e indiretos. Ibiza vem mantendo, com oscilações para mais como para menos, o número de visitantes anuais, entretanto, em relação ao retorno financeiro vem em crescimento contínuo em toda cadeia de valor no turismo. Outro fator a se destacar está no valor intangível de imagem relacionada às publicações não pagas, ou seja, espontâneas em revistas e jornais nacionais ressaltando os diferenciais de Jurerê Internacional com os seus beach clubs não encontrados em nenhum outro lugar do país, e em alguns casos, quando analisado o conjunto do mobiliário urbano, como um lugar com poucos modelos comparativos no mundo. Fato este que a cada ano traz consigo uma leva de atores, cantores e personalidades nacionais e internacionais para Jurerê Internacional. Redes sociais de compartilhamento de experiências de viagens entre consumidores como TripAdvisor – mundialmente usado, e Minube – expressivo na Espanha e na América Latina, além de jornais como El Pais (Espanha) e The Guardian (Inglaterra) ressaltando Jurere Internacional e seus bech clubs. Importante ressaltar que o planejamento urbano de Jurerê Internacional foi idealizado para garantir a INCLUSÃO das pessoas, independentemente, se usarem ou não os beach clubs, observando a legislação brasileira – as praias são bens públicos. Planejamento este que permite a perfeita balneabilidade da sua praia, a limpeza das suas areias e segurança para os seus usuários. Este modelo não é encontrado na grande maioria das praias do estado de Santa Catarina, que a cada ano, sofrem com pioras em sua balneabilidade, com a limpeza, falta de água e segurança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os diversos fatores que corroboram para a manutenção dos bares de praia na Orla de Jurerê Internacional, estão fundamentados nos três eixos do desenvolvimento sustentável:

24


1- Economicamente viável:A geração de aproximadamente 330 empregos diretos e indiretos, distribuindo cerca de 8 (oito) milhões de reais anualmente em salários, comprovam a viabilidade econômica destes equipamentos, bem como a sua importância no contexto de geração de renda para o estado de Santa Catarina e para o município de Florianópolis. Na lógica em que cada trabalhador está inserido em uma família, teríamos pelo menos 1.000 (um mil) pessoas atingidas financeiramente pela não operacionalização dos 5 bares de praia, atrelado a isto, uma das maiores crises financeiras pela qual o país vem passando desde o final de 2015. 1.1- Mídia espontânea: Florianópolis e o estado de Santa Catarina usufruem das reportagens positivas feitas em revistas, jornais e redes sociais feitas a partir dos beach clubs para agregar outros produtos turísticos complementares, pois os visitantes usuários dos beach clubs não consomem apenas Jurerê Internacional, buscam também por outros atrativos. 2- Socialmente Justo: A geração de empregos no setor turístico em um município onde os serviços perfazem mais de 60% do PIB é de fundamental importância para o equilíbrio social. A arrecadação de impostos, tributos, taxas e demais contribuições ao Estado, permitem contemplar com os serviços essenciais públicos, as camadas sociais que deles necessitam. Neste contexto, a perda de mais de R$ 5.550.000,00 (cinco milhões e quinhentos e cinquenta mil reais) arrecadados anualmente aos cofres públicos com a saída dos bares da orla de Jurerê Internacional refletirá diretamente na capacidade do Estado em atender suas demandas sociais. A entrada de divisas para o Estado de Santa Catarina através dos bares de praia de Jurerê Internacional é tema de pesquisa pelos autores deste trabalho, que será apresentada quando da finalização das pesquisas turísticas. Estudos preliminares apontam uma dimensão muito superior aos números diretos aqui mensurados. 2.1. Inclusão social: as construções dos beach clubs não prejudicam o acesso às praias, ao contrário, oferecem apoio de infraestrutura para os banhistas, sejam estes usuários ou não dos mesmos.

3- Ambientalmente correto: A orla de Jurerê Internacional que tanto tem sido combatida pelo Ministério Público Federal é dentre todas as praias urbanizadas de Florianópolis, justamente a que possui o maior índice de vegetação nativa, sendo assim a orla mais preservada. Em um comparativo realizado no 25


Diagnóstico Socioambiental da Orla de Jurerê Internacional em 2014, enquanto nos 2 km de extensão da orla de Jurerê Internacional estão preservados 71.000 m² de vegetação , no trecho de 1,7 km na praia dos Ingleses entre a Servidão Benício de Freitas e a rua Vereador Osnildo Lemos apenas 5.460 m² possuem a vegetação preservada.

Jurerê Internacional: A orla urbanizada melhor preservada de Florianópolis

ANEXOS

26


Jornal Diรกrio Catarinense/Coluna Cacau Menezes/Set. 2016

Jornal Diรกrio Catarinense/Set. 2016

27


Jornal Diário Catarinense/Set. 2016 Adriano da Silva Mattos Esp. Gestão de Pequenas Empresas/Unisul Graduado em Ciências Contábeis/Unisul CRC/SC 024043 Alexandre Augusto Biz Pós Doc. Gestão Empresarial/Instituto Stela Dr. Engenharia e Gestão do Conhecimento/UFSC Msc. Turismo e Hotelaria/Univali Graduado em Turismo e Hotelaria/Univali

28


ASCENSÃO E DECADÊNCIA SOCIOECONÔMICA DA PRAIA BRAVA

“O exemplo de interferência negativa do poder público no desenvolvimento social territorial.”

Este artigo tem por objetivo mostrar os danos sociais, ambientais e econômicos que o fechamento dos bares de praia ocasionaram à Praia Brava, ao município de Florianópolis, bem como à imagem turística do estado de Santa Catarina.

HISTÓRICO SOCIECONÔMICO DA PRAIA BRAVA Ao longo dos anos, a ilha de Santa Catarina foi se configurando como destino turístico, resultado das políticas federais de incentivo e das decisões políticas dos governos estaduais e municipais, desde o final da década de 1960 até o seu desenvolvimento em 1970. Desde então, muitas modificações ocorreram no espaço turístico de Florianópolis e, a partir de 1980, buscou-se pensar o ordenamento espacial da Ilha por meio do setor turístico. Florianópolis destaca-se pelo crescimento populacional que nos últimos anos encontra-se acima da média do Estado de Santa Catarina. A praia Brava localiza-se no extremo nordeste da Ilha de Santa Catarina, com pouco mais de 1 km de extensão, possui as águas com as melhores temperaturas dentre todas as praias de mar aberto do município.

29


Por isto e pela sua imensa beleza natural, desde a abertura de seu acesso para veículos a partir da década de 80, iniciou-se um processo de rápida urbanização e aumento constante de frequentadores. Para Meirelles (2008), o termo urbano se refere ao “conjunto de medidas destinadas a organizar os espaços habitáveis, de modo a proporcionar melhores condições de vida ao homem na comunidade”. Estes espaços habitáveis advêm do próprio sentido etimológico do termo Urbanismo – do latim “Urb” que significa viver em comunidade e “ismo”, técnica, estudo.

Foto 01. Praia Brava.

A praia Brava chegou a ser umas das praias mais frequentadas por moradores e visitantes a partir de meados da década de 1990 até a demolição dos bares de praia em 2012. Com a diminuição constante da atividade rural, principalmente a cultura de subsistência, a criação de gado em pequena escala e a pesca artesanal no norte da ilha a partir da década de 1970, o turismo iniciou um 30


processo de rápida substituição econômica destas atividades, trazendo não só a estabilidade financeira, bem como uma garantia da continuidade dos moradores autóctones permanecerem nesta microrregião, que inclui as seguintes praias: Brava, Lagoinha, Ponta das Canas e Cachoeira do Bom Jesus. Os moradores destas praias, a partir do ano de 1990, obtiveram com o crescimento turístico na praia Brava mais um fator de garantia de empregos, mesmo sendo em sua maioria temporários, garantiam a renda anual da família.

Foto 02. Ponta Norte de Florianópolis.

Após a urbanização da praia Brava, a construção dos 5 bares de praia atendia de forma satisfatória as necessidades dos visitantes. A melhor estrutura oferecida por estes bares fez com que a frequência fosse mais permanente e prolongada durante a temporada e nos meses de dezembro, março e abril, embora em menor quantidade, mas principalmente nos finais de semana, moradores de Florianópolis e visitantes pudessem desfrutar das águas quentes e transparentes desta paradisíaca praia.

31


Entende-se, por serviços e equipamentos turísticos, o conjunto de itens referentes à oferta de meios de hospedagem, restaurantes e de empresas ou profissionais de receptivo e apoio ao turista, bem como à estrutura de sinalização turística e oferta de centros de atendimento ao turista (TURISMO – BRASIL, 2011). Estes equipamentos e serviços dinamizam o setor turístico da região por meio das opções de emprego e renda. Por mais de uma década, os equipamentos turísticos da praia Brava (hotel, apart-hotel, supermercado, lojas de conveniências, imobiliárias, apartamentos de aluguéis, escolas de surf, restaurantes, condomínios, residências, escola de voo livre e principalmente os bares de praia), geravam cerca de 500* empregos diretos

durante a temporada de verão. Durante a baixa temporada cerca de 100* pessoas mantinham-se empregadas, apesar do movimento ser bastante reduzido. Com isso, a geração de emprego em uma região a 35 quilômetros do centro de Florianópolis é de fundamental importância para uma melhor qualidade de vida e garantia de dignidade para os trabalhadores da iniciativa privada em uma cidade que praticamente “dependia” do emprego público.

O Processo de Decadência Socioeconomica

Neste breve artigo, não abordaremos as questões jurídicas que levaram à demolição dos bares de praia, bem como a interrupção das atividades dos 5 locais destinados a funcionar equipamentos que prestavam serviços de alimentos e bebidas na Orla. Abordaremos, ainda que rapidamente, os impactos socioeconômicos negativos para a praia Brava bem como para todo o norte da Ilha.

32


“Kioske

do Pirata é demolido na Praia Brava, em Florianópolis Por JÚLIA ANTUNES

Foto 03: As derrubadas foram ordenadas pela prefeitura. Os cinco terminais, que abrigavam bares na orla da praia, pertencem ao município. Foto: Guto Kuerten / Agencia RBS.

Para a próxima temporada de verão, a Praia Brava, em Florianópolis, terá apenas tendas de serviço que serão licitados e o uso será de um ano. Os bares que existiam ali, como o tradicional Kioske do Pirata, começaram a ser demolidos, nesta semana. Uma outra demolição está prevista para segunda-feira na Praia Brava..... Após a demolição dos bares de praia e, em especial, do Kioske do Pirata que possuía o maior movimento, a frequência em toda a praia iniciou uma retração contínua. Este fato potencializou fatores externos como o valor elevado do real e outros que não mencionaremos por razões de objetividade deste artigo. Como abordado anteriormente neste trabalho, a estrutura para o uso antrópico na orla é fator fundamental para um turismo de consistência qualitativa e quantitativa, pois obviamente o local mais importante em uma praia é a faixa de areia.

33


Com a retirada dos bares de praia, um elevado percentual de pessoas passou a frequentar outras praias com melhores estruturas. Esta diminuição foi tão significativa, que em apenas duas temporadas o valor dos alugueis de imóveis diminuíram em mais de 20%, bem como a procura pelos mesmos caiu vertiginosamente. Isto acarretou também a queda do valor dos imóveis, atingindo assim, o mercado imobiliário local, bem como a perda de mais de 200 postos de trabalho. Conforme entrevista realizada em 02 de agosto de 2016, com Aline Centeno, corretora de imóveis que trabalhava em uma imobiliária na praia Brava, a queda no setor imobiliário foi um fato por ela vivenciado: “Iniciei minhas atividades como corretora na praia Brava por ser uma das melhores localidades para venda e locação de imóveis de Florianópolis. Era um mercado dinâmico, tanto para venda como para locação em temporada. Infelizmente após a demolição dos bares de praia, iniciou um processo de declínio, primeiro a frequência habitual diminuiu, posteriormente os aluguéis de temporada e, por último, as vendas também diminuíram muito, fazendo o preço cair em mais de 20 %, foi uma lástima... fui obrigada a sair da imobiliária em que trabalhava, indo trabalhar na praia de Jurerê”.1

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base no que foi exposto acima, observou-se que desde a demolição dos bares de praia, os espaços continuam desocupados e sem qualquer revitalização dos mesmos, deixando de gerar alternativas de lazer e entretenimento. A evolução espacial que se destaca pelas relações sociais deve se reproduzir constantemente. O processo de revitalização deve ser usado com o objetivo de reabilitar os núcleos urbanos, dando um novo suporte econômico e social. O turismo é visto como uma opção de emprego, por outro lado, o poder público pouco investe na infraestrutura para receber bem os 1

CENTENO IMÓVEIS – CRECI 3940J

34


visitantes e incentivar a abertura de empreendimentos turísticos de qualidade na cidade. O crescimento turístico da ilha foi direcionado à região norte por interesses políticos que colaboraram com interesses de empresários em desenvolver esta área. Um dos fatores que tem contribuído para este crescimento acima da média é a oportunidade de emprego na atividade turística. A revitalização visa à integração dos espaços às necessidades da comunidade e envolve duas esferas: o poder público e privado. A união entre o poder público e a iniciativa privada poderá resultar em recursos para obras de melhoria da infraestrutura urbana e a restauração das áreas que servirão de opção de renda e lazer. Do mesmo modo, surgem espaços mais dinâmicos e de interesse turístico compondo parte da paisagem que, se bem planejada torna-se atrativa no ponto de vista dos visitantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

MEIRELLES, H. L. Direito Municipal Brasileiro. 16. ed. São Paulo: Malheiros, 2008. Turismo – Brasil. 2. Marketing de destinos – Brasil. 3. Turismo e Estado – Brasil. 4. Concorrência. I. Barbosa, Luiz Gustavo Medeiros. II. SEBRAE. III. Fundação Getulio Vargas. IV. Brasil. Ministério do Turismo. PRAIA BRAVA/FLORIANÓPOLIS. Disponível em: <http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2012/07/depois-de-demolido-na-praiabrava-em-florianopolis-kioske-do-pirata-pode-ir-para-outro-lugar-3807688.html>. Acesso em 14 de agosto de 2016. Fotografia 01- Marlon Gaspar Fotografia 02 – Google Earth-adaptação própria.

* Fontes Próprias

35


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.