Larisa Hemkemeier Webber de Mello (organizadora)
Tendências do Design de Interiores 1ª edição
LEDIX (Livraria Editora Xavier) Florianópolis – Santa Catarina 2016
Larisa Hemkemeier Webber de Mello (organizadora)
Tendências do Design de Interiores
© Larisa Hemkemeier Webber de Mello Editoração gráfica e arte final: Marcos Roberto Rosa (marcosrrosa@gmail.com) Capa: Gabriella Kurtz Oliveira (gabriella.oliveira@unigranrio.edu.br) Supervisão: Nora Alejandra Patricia Rebollar (nora.rebollar@unigranrio.edu.br) Organizadora: Larisa Hemkemeier Webber de Mello (larisa.mello@unigranrio.com.br)
MELLO, Larisa Hemkemeier Webber de et al (Org.). Tendências do Design de Interiores. Florianópolis: Ledix, 2016. Supervisão de: Nora Alejandra Patricia Rebollar. 1. Design, 2. Interiores, 3. Artigos. I. Título
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Proibida a reprodução total ou parcial (exceto a última, com citação expressa da fonte), sob qualquer forma, meio eletrônico, mecânico ou processo xerográfico, fotocópia e gravação, sem permissão do Editor (Leis nº 5.988/1973, 9.610/1998 e 12.853/2013.). Reservados os direitos de propriedade desta edição pela Livraria Editora Xavier (LEDIX), Av. Atlântica, 409 – Fone (48) 3240-1642 – Florianópolis, SC – 88095-700 (editoraledix@gmail.com)
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SUMÁRIO Prefácio .............................................................................................6 Apresentação ...................................................................................8 O MOMENTO DE QUESTIONAR O QUE OS OLHOS ESTÃO VENDO - Gabriella Kurtz Oliveira ............................ 10 BRASIL E O DESIGN DE INTERIORES DE LUXO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX - Laura Zimmermann Flores............................................................................................... 18 ARTE E DESIGN: ENTRELAÇAMENTOS - Marisete Machado Colbeich ........................................................................ 45 A POLÊMICA NO DESIGN DE INTERIORES: Ditar tendências ou organizar tendências - Arq. Nora Alejandra Pós Dra ........................................................................................... 55
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Dedicamos este livro a nós; que com muito prazer e dedicação temos a missão como docentes de preparar jovens para a vida lá fora.
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Prefácio Este livro é resultado de um esforço realizado por docentes da Faculdade de Tecnologia Nova Palhoça (Fatenp) em propor uma leitura diferenciada do Design de Interiores tendo como fio condutor os 30 anos da Mostra Casa Cor, iniciativa pioneira que se consolidou como uma das mais importantes do país no segmento. O processo de organização desta publicação me deu muita alegria e orgulho. Alegria por poder participar ativamente de um livro que inaugura uma nova fase dentro da nossa instituição de ensino: esse é, com certeza, o primeiro de muitos que serão produzidos por nossos docentes a partir de agora. O orgulho tem diferentes causas: a primeira é a qualidade da produção acadêmica que apresentamos aqui, resultado das metodologias ativas de ensino que utilizamos na Fatenp. Para iniciar o projeto, os docentes fizeram visitas técnicas com os alunos do curso à Mostra Casa Cor deste ano, numa estratégia de inserir cada vez mais o aluno na realidade de mercado que o espera. A seguir, o conteúdo visto na Mostra foi analisado por meio da teoria, aprofundando conceitos, e também entrelaçado com tendências de mercado. Tudo isso, com certeza, garante maior aporte de conhecimento para a instituição de ensino e, consequentemente, para nossos alunos. E é justamente neste ponto que se expressa outra causa do meu orgulho: constatar o avanço que estamos conquistando em um posicionamento que temos como meta: amplificar a trabalhabilidade de nossos alunos. Pois, ao adotar as metodologias ativas – processo no qual o estudante é o protagonista do processo de aprendizagem e 6
está cada vez mais inserido na realidade que o cerca – estamos ajudando a desenvolver competências e habilidades diferenciadas que terão profundo impacto no sucesso profissional. E o livro que você tem em mãos é justamente um dos resultados da estratégia de dotar o aluno da teoria necessária e posicioná-lo no mundo real, para que ele desenvolva senso crítico e ético de atuação e alcance as metas definidas por ele.
Larisa Hemkemeier Webber de Mello Diretora executiva da Fatenp Organizadora
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Apresentação O designer de Interiores é um profissional que desenvolve projetos visando qualidade de vida. Há, entretanto controvérsias quanto a atuação do profissional no que tange a desenvolver um design próprio ou repetir o que é tendência ou moda. Sendo assim deve-se analisar o lugar da arte no Design de Interiores. Entende-se que os conceitos de Arte e Design são amplos para caber em simples definições, no entanto não se deve deixar de lado a importância básica de se tornar um profissional alfabetizado visualmente. Desta forma deve-se ater ao uso de referências artistas pelo Designer de Interiores e a importância dessas referências para o processo criativo. Desta forma buscando novas ideias o mercado lança a exatos trinta anos a Mostra Casa Cor com a intenção de reunir em um só local de exposição, trabalhos de diversos profissionais da área da construção no que tange interiores e paisagismo a fim de ditar tendências e ideias para ambientes com diferentes usos. Este conjunto de artigos abordam separadamente as problemáticas acima citadas de forma bem aprofundada e com várias exemplificações para contextualizar os temas abordados, todos relacionados a uma visita técnica realizada pelos autores para a Mostra Casa Cor São Paulo 2016. 8
O primeiro artigo fala da problemática nos eventos onde designers, arquitetos e decoradores deveriam ditar tendências e não é o que vem acontecendo. São poucas hoje as mostras que os profissionais apresentam projetos diferenciados e não são escravos da indústria. O segundo artigo aborda a questão da arte aplicada aos projetos de design de interiores e como a mesma pode influenciar no processo criativo. Hoje os projetos que se destacam como referência maior são os que levam em consideração a arte. O terceiro artigo apresenta uma análise crítica envolvendo a responsabilidade do profissional quanto ditador de tendências ou expositor de ideias nas mostras de decorações que acontecem, não só em São Paulo, mas em várias cidades do país em diferentes épocas do ano, e o público para qual o evento se apresenta, neste caso o público alvo e a importância deste em julgar aquilo que de fato está sendo observado nos ambientes. O quarto artigo apresenta o propósito de compreender os espaços da atualidade, faz-se uma breve leitura estética dos espaços presentes na Mostra Casa Cor São Paulo 2016, que apresentam uma mistura paradoxal de elementos e conceitos em composições bastante diferenciadas e ecléticas. Nora Alejandra Patricia Rebollar Setembro de 2016 9
O MOMENTO DE QUESTIONAR O QUE OS OLHOS ESTÃO VENDO Gabriella Kurtz Oliveira1
RESUMO: Os profissionais atuantes em projetos de interiores (arquitetos, designers e decoradores) no momento da sua formação e durante suas experiências profissionais recebem inúmeras heranças do passado, que se somam à uma avalanche de ideias novas. Há exatos trinta anos foi criada a Mostra Casa Cor com a intenção de reunir em um só local de exposição, trabalhos de diversos profissionais da área da construção no que tange interiores e paisagismo a fim de ditar tendências e ideias para ambientes com diferentes usos. Instigado, a partir da visita realizada na Casa Cor SP 2016, o objetivo principal deste artigo é uma análise crítica envolvendo algumas ideias apresentadas na Mostra, showrooms e catálogos de lojistas. Esta análise é desenvolvida questionando as diferentes maneiras de olhar do público que frequenta o evento e que utiliza os materiais gráficos citados como fonte de inspiração para ambientes reais. Para isso, neste artigo, o público foi organizado em dois grupos: os profissionais e os visitantes leigos (consumidor final). Ao fim, é possível concluir a responsabilidade dos dois grupos. Do profissional, quanto criador de ideias e tendências, visto que cabe a este balancear as propostas apresentadas à influência no 1
Gabriella Kurtz Oliveira, arquiteta e urbanista, mestre em conforto ambiental. Professora do Curso de Tecnologia em Design de Interiores, FATENP/ Unigranrio – Palhoça/SC. E-mail: gabriella.oliveira@unigranrio.edu.br
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desejo “de ter” do consumidor final. E do público leigo como observador passivo, em que pesa a necessidade de desenvolver um julgamento do quão prático e aplicável é a ideia para o seu dia a dia como usuário do espaço. De uma forma geral, todas as ideias criadas são possíveis de serem executadas, desde que observadas algumas ressalvas variáveis da situação em que serão inseridas.
Palavras-chave: Casa aplicabilidade de ideias.
Cor
2016,
profissional,
visitante,
1. INTRODUÇÃO
A temporalidade de ser pertencente ao século XXI e de ao mesmo tempo ter como legado a escola Bauhaus, que se tornou conhecida mundialmente pelo seu ensinamento base de que “a forma segue a função”, permite hoje analisar se este ainda permeia na essência dos profissionais, principalmente, da arquitetura e design de interiores. Segundo Leslie (2001), uma coisa é certa: existe uma crise e uma angústia que estão levando as pessoas ao irracionalismo e à mal falada pós-modernidade. Ainda segundo a autora, é na pós-modernidade que se desenvolveu o conceito de provisório e de instalação temporária. E é esta pós-modernidade que é base influenciadora do período contemporâneo que vivemos hoje. Possuímos uma herança de muita liberdade e de que tudo pode, apenas lapidada pela necessidade atual de preservação ambiental. A arquitetura e o design de interiores estão amplamente vinculados à pluralidade e a um grande leque de 11
possibilidade estéticas e tecnológicas que permitem criar formas cada vez mais instigantes e espaços inusitados. Este artigo tem como objetivo analisar questões ligadas ao olhar profissional, observador (visitante) e a praticabilidade das ideias, tendo como objetos de reflexão ambientes criados na Mostra Casa Cor 2016 realizada em São Paulo, capital, e situações do dia a dia como showroom de lojas de móveis e catálogos, justificado pela necessidade de compreensão do modo de ver dos envolvidos. Considerado o maior evento de decoração da América Latina, a Mostra Casa Cor é pertencente ao grupo Abril e “reconhecida como maior e melhor mostra de arquitetura, decoração e paisagismo das Américas”, segundo o site do evento. Tem como característica principal reunir profissionais da Arquitetura e do Design de Interiores, em que cada um se responsabiliza pela criação de um ambiente dentro de uma edificação e temática pré-determinada. Este ano a edificação escolhida para sediar o evento foi o antigo ambulatório do Jockey Club de São Paulo, com tema voltado à sustentabilidade.
2. O olhar do observador profissional e do visitante
A arquitetura contemporânea, por toda a liberdade concedida aos profissionais, permitiu o surgimento e o enriquecimento conceitual que tem provocado inúmeros pensamentos e ideias inovadoras, instigando pesquisas e busca por soluções de variadas ordens na indústria da construção civil para suprir as propostas criadas. Se tratando deste ramo profissional, é evidente a relação com a maneira de morar das pessoas usuárias dos espaços. 12
Leslie (2001) considera que existem dois tipos de comportamento em relação ao habitar. Um que considera apenas as funções primárias da casa. O lugar para dormir, comer, ver tevê..., enfim uma máquina de morar. Outro que vê a casa como depósito para guardar coisas. É o lar-loja, onde tapetes persas e toda sorte de objetos se amontoam sem função e fazem a festa da poeira e dos ácaros. O segundo grupo, ao consumir sem critérios na esperança de alcançar o status da novela das oito, perde seu tempo e seu único espaço onde pode desfrutar de uma certa liberdade: dentro de casa. Ambos, independentemente do modo com que traduzem o seu morar, possuem olhares individuais em relação ao todo que compõe seu espaço e os espaços presentes no seu dia a dia, seja ele residencial, institucional, comercial, ou público. Esse ato de olhar e ver permite uma interpretação pessoal daquilo que se enxerga, e essa particularidade é inspirada de forma muito intensa pela sua cultura e experiências vividas pelo usuário. De maneira geral, a Casa Cor SP reúne visitantes de diferentes localidades, com diferentes modos de ver a moradia, com diferentes profissões e experiências de vida, e principalmente com diferentes objetivos de visitação. Seja por simples atualização das novidades do mercado, seja em busca de ideias para aplicar nos seus espaços ou espaços de clientes. É neste ponto que se torna possível questionar: todas as ideias lançadas na Casa Cor SP 2016 são viáveis de serem executadas, ou seja, são funcionais? Para alguns teóricos da comunicação, chegou a época da alfabetização visual. Em um mundo invadido pelas imagens: fotografia, cinema, televisão, computadores e ícones de todas as espécies, é necessário que se aprenda a lê-las. Elas, embora pareçam diretas e óbvias, escondem atrás dessa transparência mil outros 13
significados. É nesse sentido que as imagens e os objetos falam, é daí que vêm sua magia e perigo. E é assim que é possível responder a tal análise. De acordo com Leslie (2011) “[...] somos todos analfabetos visuais e a solução para essa limitação é olhar atentamente tudo o que compõe uma imagem: forma, cor, tons, contrastes, composição e contexto. Depois de observar é hora de comparar e extrair diferenças.” Em alguns momentos durante a visita realizada na mostra este questionamento esteve presente, e a simples resposta é que sim, todas são viáveis, porém com algumas ressalvas. Uma delas é vinculada ao questionamento de qual é o público observador, se profissional ou leigo. O primeiro, ao longo de sua formação e experiência adquiriu uma alfabetização visual que o torna apto a traduzir o que o olhar está captando do ambiente às condições da região que atua e ao cliente para o qual irá trabalhar. Porém o segundo requer uma atenção especial visto que há a possibilidade de uma interpretação equivocada da aplicabilidade de determinada ideia, decorrente do que podemos considerar tal visitante um analfabeto visual. Na prática, como observa-se nos ambientes da Casa Cor, para interpretação destes sinais visuais citados julga-se necessária a mínima compreensão quanto à durabilidade da ideia, manutenção e principalmente custo-benefício, como é o caso quando olhamos ideias ou propostas de areia fazendo parte do piso no living da residência, tijolos pré-fabricados sem tratamento de textura, paredes que utilizam cordas como revestimento (Figura 1), ou mesmo um papel de parede de veludo envelopando todo o espaço. Todos representando de maneira clara a herança pós-moderna do provisório ou temporário.
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Figura 1. Ambientes Casa Cor SP 2016. (A) Tijolo pré-fabricados sem tratamento (B) Areia no piso (C) Cordas como revestimento.
Fonte: EDITORA ABRIL (2016)
Para o caso de showrooms e catálogos de ambientes planejados é comum encontrar situações em que “tudo pode”, como cozinha sem geladeira (Figura 2), forno elétrico ou fogão do tipo cooktop ao lado de geladeira, beliches em ambiente com pé direito baixo, bancadas de estudo em parede oposta à iluminação natural, entre outras. Até em casos extremos como estes, julgar certo ou errado tende ao modo de olhar e do observador. No decorrer dos projetos de interiores, o usuário final expõe o desejo de ter um ambiente como o visto da imagem, já o profissional, com um olhar mais crítico e treinado, identifica as falhas que no dia a dia seriam inadequadas. Então, as situações são certas ou erradas? Ao olhar da fábrica e do profissional, é clara a intenção de aproveitar ao máximo o espaço físico ou gráfico para divulgação do móvel, deixando de 15
lado questões técnicas como eletrodomésticos ou pé direitos, portanto, é certo. Entretanto, levando em conta que nestas situações o observador é o público final, é possível considerar que estes ambientes são inapropriados aos fins a que se destinam.
Figura 2. Ambiente de catálogo exemplificando uma cozinha sem geladeira.
Fonte: google.com
3. CONCLUSÃO
Destes exemplos citados, ao criador dos espaços e materiais gráficos mostra-se a importância de refletir como somos afetados e impactados, às vezes até induzidos por aquilo que vemos, principalmente se tratando de situações ligadas ao interior dos ambientes, seja na concepção arquitetônica e estética, seja por produto ou elementos de decoração expostos nestes. Ao observador analfabeto visual mostra-se a necessidade de desenvolver a percepção em vez de aceitar, passivamente, a invasão e a saturação de suas retinas. 16
Segundo Leslie (2001) ter consciência de que nenhuma imagem é inocente e natural é a primeira etapa para manter o olho vivo e lidar com as implicações e limitações de ordem cultural, política e social que se escondem em qualquer estética visual. Portanto, de situações encontradas em Mostras de decoração, showrooms e catálogos, além do despertar da vontade de ter elementos apresentados nos ambientes, é importante aplicar a análise crítica no olhar através dos itens já citados, como durabilidade, técnica e manutenção, evitando problemas futuros tanto ao morador quanto ao profissional.
REFERÊNCIAS EDITORA ABRIL. Casa cor São Paulo 2016. Disponível em: < http://casa.abril.com.br/casa-cor/mostras/sao-paulo >. Acesso em: 09 de julho de 2016. LESLIE, Vera Fraga. Lugar comum: auto-ajuda de decoração e estilo. 2. ed. São Paulo, SP: SENAC, 2001.
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BRASIL E O DESIGN DE INTERIORES DE LUXO NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX FLORES, Laura Zimmermann.2 RESUMO: Este artigo apresenta, em primeiro plano um resgate da história especificamente do Design de Interiores no Brasil na primeira metade do século XX, com o propósito de compreender quem foram os grandes nomes e influências da construção da estética impressa nos projetos de Design de Interiores no Brasil. Em um segundo plano, com o propósito de compreender os espaços da atualidade, faz-se uma breve leitura estética dos espaços presentes na Mostra Casa Cor São Paulo 2016, que apresentam uma mistura paradoxal de elementos e conceitos em composições bastante diferenciadas e ecléticas.
1 INTRODUÇÃO
Pouco se fala sobre a evolução do Design de Interiores no Brasil, e como culmina hoje nas representações estéticas visualizadas, por exemplo, nas mostras de decoração pelo Brasil 2
Professora no CST em Design de Interiores FATENP - Faculdade de Tecnologia da Nova Palhoça. Esp. em Arquitetura e Design para o Mercado de Luxo - UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí. Designer de Interiores formada pela UNIVALI - Universidade do Vale do Itajaí. Designer de Produto formada pelo IFSC - Instituto Federal de Santa Catarina
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afora. No entanto, muito se discute sobre a real diferença entre as muitas mostras de decoração nas diferentes regiões do Brasil, seriam tendências diferentes? Ou representações de um regionalismo expressos por meio de mobiliário, materiais e composições arquitetônicas? É possível analisar o século XX como o principal construtor de tal mistura de estilos, retratada hoje nos ambientes contemporâneos quase como um novo “ecletismo”. No século 19 as referências estéticas mais conhecidas eram estrangeiras. Imigrantes e colonizadores traziam mobiliário, tendências, modismos e acabavam por influenciar, principalmente, a residência das classes mais ricas. Por outro lado, os mobiliários aqui desenvolvidos carregavam em suas linhas um pouco de cada referência, de cada lugar, e por meio das técnicas construtivas aqui aplicadas, acabavam por possuir traços hoje reconhecidos como de mobiliário nacional. É o caso da Cadeira Eclética:
IMAGEM 1: Cadeira Eclética, séc XIX Fonte: Fotografia tirada no Museu da Casa Brasileira em Maio/2016
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Percebe-se nela um exemplo da mistura de referências estéticas aplicadas ao desenho de mobiliário brasileiro durante o século XIX. Era nas casas que a decoração era impressa, e servia como cartão de visita para quem as habitava.
“Durante todo o final do século XIX, a beleza foi o principal meio pelo qual o lar deveria cumprir seu objetivo como lugar de santidade, Entre as suas características, a beleza incluía o conforto e a satisfação dos sentidos estéticos, mas sobretudo, significava a representação das virtudes morais da verdade e da honestidade. ( FORTY, 2007, p.156)
Porém muita coisa aconteceu durante o século 20, e que vale a pena ser resgatada, tais como o nome de uma profissão que até então existia sem contornos bem definidos, sem regras e sem padrão. Outro fator relevante é a forma de morar, em um país tão diverso e que mudou os padrões familiares durante 100 anos, não poderia ser diferente com as casas.
“A casa do século XX seguiu a do século anterior em certos aspectos, tais como a separação física e emocional do local de trabalho, mas as diferenças de aparência e organização revelam algumas mudanças relevantes nos valores subjacentes. A relativa importância atribuída às diversas dependências não era a mesma - por exemplo, a cozinha passou a receber mais atenção do que até então, e a sala de visitas menos. Essas mudanças eram sintomas de novas realidades sociais, como crescimento da classe média sem criados, mas eram também uma indicação das novas ideias sobre o que constituía um lar.( FORTY, 2007, p.156)
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2 A EVOLUÇÃO DO DESIGN DE INTERIORES ATÉ O FINAL DOS ANOS 40
Segundo Dantas e Negrete (2015) “na passagem do século 19 para o 20, paulatinamente, uma revolução se deu nos interiores das moradias: a chegada da luz elétrica, que logo dotaria os tetos de mais e melhores lustres do que os usados com o fornecimento de gás, e a água encanada, reconfigurando cozinhas e, especialmente banheiros. “ Ainda nesse contexto, a mesma autora diz que “a virada do século introduziria no Brasil uma ideia mais concreta do que viria a ser a decoração”. Já no início do século 20, com traços fortes do Art Nouveau são idealizadas e concluídas grandes e marcantes construções nesse estilo, como a Confeitaria Colombo, o Teatro Municipal do RJ, a Biblioteca Nacional, o Palácio da Guanabara.
“Quais seriam as características formais do Art Nouveau? Geralmente, o estilo está associado na imaginação popular com a sinuosidade das formas botânicas estilizadas, com uma profusão de motivos florais e femininos em curvas assimétricas e cores vivas, com exuberância vegetal de formas que brotam de uma base tênue, se impulsionam verticalmente, entrelaçam e irrompem em uma plenitude redonda e orgânica: culminando, tipocamente em flores douradas, asas de libélulas ou penas de pavão.“ (CARDOSO, 2008, p. 97)
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IMAGEM 2: Palácio da Guanabara, após restaurações em 2011, que mantiveram o estilo Art Nouveau original. Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO,2011.
IMAGEM 3: Confeitaria Colombo em 1919 e no dias de hoje, vistos sob a mesma perspectiva. Fonte: Confeitaria Colombo, 2016
Tais projetos tinham em sua idealização profissionais nacionais e internacionais de renome, que traziam influências da 22
Europa e dos movimentos de estilo que lá ocorriam. Os responsáveis por ambientar os espaços internos ainda eram profissionais das mais diversas áreas, mas em especial, nessa época, as marcenarias. Segundo Dantas e Negrete (2015) “as próprias marcenarias se ocupavam de ambientar as residências, ao menos as que não tinham todos os detalhes especificados por um arquiteto que desenhasse as molduras de gesso, as escadarias, frisos, portas e lareiras. Na década de 1910 a decoração ganha outra opção: surgem grandes lojas que se encarregam de oferecer artigos variados para a casa, inovando em produtos e serviços e definindo pouco a pouco os locais onde, futuramente, seriam os grandes centros da decoração. Desde o início do Século 20 os locais de evolução primeira nesse mercado eram Rio de Janeiro e São Paulo. Dantas e Negrete (2015) ainda, a respeito da Mappin Stores (uma das maiores da época): “Distribuíam-se pelos seus generosos espaços, móveis, luminárias, tapetes, porcelanas, cristais e prataria. As atrações não paravam por aí: o seu famoso salão de chá reunia a elite paulista todas as tardes, devidamente paramentada para a ocasião, chapéu, luvas e incluídos.” É percebido aqui que, como de costume, o público precursor na utilização das inovações, nesse caso da decoração é a elite. Lojas para um público de alto poder aquisitivo, experiências que apenas uma parcela da população poderia usufruir, como afirma também Zabalbeascoa (2011) “não é, evidentemente, uma particularidade brasileira o fato de as inovações nas moradias serem introduzidas através dos estratos sociais mais altos em uma sociedade”. Durante todo o século 20 o Brasil contou com grandes mudanças e nomes brasileiros e estrangeiros que influenciaram a decoração de interiores, estes serão citados no capítulo seguinte com detalhes sobre os estilos relacionados a cada um. Porém é impossível 23
não citar um ícone que transformou tanto a arquitetura no país quanto os espaços interiores: a primeira casa modernista, de Warchavchik. Essa havia sido pensada como uma obra de arte única, na qual todas as partes estariam integradas por intermédio de linguagens harmônicas, revelando uma concepção de design incomum na capital paulista de então. A fachada, a estrutura da casa, a decoração interna – inclusive o mobiliário, as cortinas, os tapetes, as portas, as luminárias – e até mesmo sua parte externa, comportando o jardim, foram planejados em diálogo com os partidos estéticos modernistas, mormente de tipo funcionalista. Isso demandou uma atuação polivalente da parte do arquiteto, que, além de desenhar e acompanhar a construção da casa, planejou e produziu toda a decoração interior, como os móveis, as peças de iluminação, as portas e janelas. Seguindo uma divisão do trabalho comum aos circuitos modernistas, o jardim ficou a cargo de sua esposa, Minna Klabin Warchavchik. (SIMONI, 2012, p. 48)
IMAGEM 4: Casa Modernista FONTE: Revista Acrópole, 1940 disponível em Dantas, 2015
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Inicia-se uma nova era estética para o design de interiores onde as formas simplificam-se e os conceitos que envolvem o desenho do mobiliário tornam-se mais funcionais, voltando a estética principalmente para a produção dos mesmos. É o que afirma Wolfe (1981) apud Dantas e Negrete (2015) : “E daí se a pessoa vivia num edifício que parecia uma fábrica e tinha o aconchego de uma fábrica, e pagava uma nota preta por ele? Todo edifício moderno de qualidade parecia uma fábrica. Essa era a moda atual.” Santos (2010) descreve os interiores da sala da casa modernista da seguinte maneira: “Warchavchik utilizou linhas verticais e horizontais e valorizou os ângulos retos, planos e volumes, Reduziu os elementos decorativos certificando-se que eles tivessem função no ambiente. No entanto não deixou de acrescentar pinturas e esculturas de artistas modernistas, para que elas ajudassem na criação da nova identidade (...) Os móveis eram de madeira prateada a duco (resina vegetal) e os estofados de veludo violeta; as paredes da sala eram na cor verde clara e o forro branco marfim”.
A casa modernista era praticamente uma exposição e outros exemplos da arquitetura modernista ainda eram pontuais. A estética dos espaços interiores e as influências estéticas predominantes no Brasil ainda tinham principal referência no Art Nouveau, onde as curvas e os ornamentos tomavam conta do desenho de mobiliário e artigos de decoração em geral. A partir da casa modernista muitas outras surgiram, projetadas principalmente por arquitetos que já respiravam as influências modernistas e que começaram a ganhar cada vez mais espaço.
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Ao longo da década de 1920 travou-se uma real batalha entre os designers de interiores, na época denominados artistasdecoradores, sobre os usos e significados dos materiais utilizados pela moderna arquitetura. Nas páginas da revista francesa Art et Décoration, um dos mais importantes periódicos dedicados às artes decorativas desse momento, é possível acompanhar tal celeuma. O campo das artes decorativas vivenciava uma grande proliferação de estilos, tendências, debates e disputas acirradas entre grupos. Na ocasião da afamada Exposition des Arts Decoratifs de 1925, a partir da qual se disseminou a expressão “art déco”. (SIMONI, 2012, p. 51)
IMAGEM 5: Ambiente por John Graz FONTE: Revista Acrópole, setembro de 1944 disponível em Dantas, 2015
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Nessa época surge, pelas mãos de John Graz, artista plástico que atuava como decorador, a iluminação indireta, complemento de decoração muito relevante para os espaços interiores que até hoje valoriza espaços e proporciona sensações únicas, transformando por completo os ambientes. Segunto Santos (2010)
“É importante mencionar a importância que a iluminação indireta passa a ter nas decorações de interiores, tanto para ambientes residenciais quanto para comerceiais. Segundo consta em artigos da Revista Acrópole de finais da década de 1930, os arquitetos brasileiros utilizavam-se com frequência as iluminações indiretas provenientes de um sistema de tubos fluorescentes, uma novidade para a época e conquista da modernização tecnológica, que propiciava uma luz apropriada para cada ambiente (...) John Graz utilizou-se muito deste recurso tecnológico em seus projetos residenciais com a intenção de oferecer conforto e criar um cenário “futurista”onde a luz pudesse adquirir uma importância particular no projeto”.
Ainda Santos (2010) explica que a “iluminação como elemento decorativo foi muito explorada pelos designers do art déco, que com a iluminação indireta feérica criavam uma atmosfera cenográfica e glamourosa que lembrava as ambientações de Hollywood.”
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IMAGEM 6: Ambiente por John Graz FONTE: Revista Acrópole, Maio de 1938 disponível em Dantas, 2015
É necessário, ainda, contextualizar a inserção de produtos que modificaram a configuração interna dos espaços interiores, como por exemplo o rádio e a televisão. Brito (2001) apud Puttini e Ribeiro (2008) explica que “[...] nos anos 1930, o rádio se tornaria fundamental elemento de socialização, promovendo a reunião familiar e a divulgação de novos valores de comportamento social, a exemplo do que aconteceria alguns anos mais tarde com a televisão”. Ainda, nas palavras do mesmo autor, “Os aparelhos de rádio do tipo capelinha eram colocados em cima dos armários e guarda-comidas e a escuta era preferencialmente coletiva. Os familiares reuniam-se em volta da mesa para acompanhar as peças teatrais irradiadas e as novelas, durante as refeições”. Ainda nessa época e com relação às residências, “nas salas de visitas, a função da mobília passou a ser 28
antes a de definir o status da família do que o uso cotidiano, propriamente” (BRITO, 2003, apud Puttini e Ribeiro 2008). Retomando a época, outra grande influência da decoração nas décadas de 1920 e 1930, de design predominantemente art déco, começa a ganhar o mundo: os Paquebots, ou transatlânticos que, de origem Européia atravessavam o oceano atlântico e, onde paravam, eram admirados por simpatizantes da decoração o que, consequentemente, divulgava para os países mais distantes uma amostra do que estava em voga do outro lado do mundo, influenciando artistas, decoradores, arquitetos, marcenarias etc. “A única diferença entre os melhores hotéis e os transatlânticos que navegavam entre as décadas de 1920 e 1930 é que os hotéis não cruzavam oceanos. Por isso não há nada de espantoso no fato de que os navios tenham exercido um papel fundamental na formação do gosto, na troca de informação entre os passageiros, na sua tomada de consciência quanto ao mobiliário, à ambientação de qualidade e ao valor de uma boa assinatura” (DANTAS e NEGRETE, 2015, p. 36)
Possuíam ambientes equivalentes à uma casa inteira entre outros espaços cobertos de glamour. Tinha como idealizadores de seu design interno profissionais diversos, onde escritórios e empresas se dividiam para realizar a ambientação dos espaços, fosse por meio de concursos entre decoradores e escritórios ou simples eleição de quem seria responsável por qual área do navio. Dantas e Negrete (2015) diz que “no conjunto, o melhor do design estava ali representado, tornando esses transatlânticos, ou paquebots, mais assemelhados a mansões do que a um meio de transporte.” 29
Entre 1920 e 1930 o interior das embarcações que chegavam ao Brasil, como já descrito, vinham com uma leitura estética diferenciada daquela vista comumente no Brasil até então. Era uma nova beleza, advinda dos movimentos que ocorriam na Europa. “Grandes transatlânticos construídos na década de 1930 tiveram a decoração de seus interiores amplamente solidária à estética déco, nessa década, mobiliários vinculados à tendência foram, inclusive, referidos pelo arquiteto Albert Speer como seguindo o “estilo transatlântico” diz Correia (2008) em seu artigo “Art déco e indústria: Brasil, décadas de 1930 e 1940.” Ainda, segundo Conde e Almada (2000) apud Monteiro e Rocha (2012) O Art Déco foi um conjunto de manifestações artísticas, estilisticamente coeso, originado na Europa e que se expande para as Américas do Norte e do Sul inclusive Brasil, a partir dos anos 20. Monteiro e Rocha (2012) ainda explicam que “O Art Déco reflete um tempo diferenciado da decoração anterior historicista, Art Nouveau. Traz os ares da modernidade, da cidade moderna com inúmeros novos programas, configurava-se contextualmente na era da máquina.” Um dos transatlânticos que roubou a cena na década de 1930 e serviu como vitrine de decoração tanto para passageiros, quanto para curiosos, que chegavam a comprar ingresso para visitar os interiores ou ainda compravam passagens para pequenos trechos da viagem, somente para que pudessem desfrutar do que Dantas e Negrete (2015) chama de “uma imersão, não apenas no universo do luxo mas no de decoração”. Esse paquebot foi o L‘Atlantique. “O Latlantique era como um expressivo cartão de visitas que chegava a vários cantos do mundo exibindo as habilidades e o bom gosto das empresas de decoração”
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Seria difícil a passageiros e visitantes não se deterem nas linhas do mobiliário que nos lançaram ao universo moderno esse que costumamos rotular, a partir dos anos 60, como Art Déco. A falta de floreios não tornou o mundo mais simples. Novos materiais, madeiras nobres, traços ousadamente retos ofereciam desafios para a indústria e nos jogavam nos braços das vanguardas internacionais. (DANTAS e NEGRETE, 2015, p. 39)
IMAGEM 7: L’Atlantique - Salão Principal Fonte: Brasil Porta a Dentro, 2015
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IMAGEM 8 : L’Atlantique - Salão Principal Fonte: Brasil Porta a Dentro, 2015 Após o sucesso do L’atlantique surgiu outro navio, que fazia a rota do Atlântico-Norte, o Normandie, que tanto quanto o anterior, causou estardalhaços no mundo da decoração, influenciando a evolução do design de interiores no Brasil. Para Dantas e Negrete (2015) “O Normandie (transatlântico do atlântico norte) reunia o que havia de melhor do design francês da década de 1930. Aos seus serviços esteve uma constelação dos melhores decoradores e escritórios da época (...) o que encantava mesmo os experts ou os leigos na arte da navegação era mesmo o decor - o ápice do bom gosto. “
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IMAGEM 9: Normandie, Salão principal da Primeira Classe Fonte: Dantas, 2015
Apesar de ter seu auge na Europa na década de 1920, e ter surgido no Brasil já nessa época, o Art Deco tem seu êxtase no país nas décadas de 1930 e 1940. Segundo Correia (2008) “após a fase do exagero segue-se o justo equilíbrio. Os atuais interiores, executados com simplicidade e perfeita harmonia com as linhas externas, revelam que já se vai chegando ao desejado ajustamento da ornamentação com o edifício.” O desenho do mobiliário e da ornamentação dos espaços interiores começa então a mudar, as curvas e o excesso de detalhes característico do Art Nouveau e dos movimentos clássicos, que já haviam diminuído na Europa, começam a perder força também no Brasil, dando espaço para 33
decorações mais geométricas e formatos mais funcionais - embora a primeira reforma do Copacabana Palace, datada de 1930 e idealizada por Henrique Liberal ainda leve materiais e ornamentos de influência do Art Nouveau. Os móveis passam a refletir o que na arquitetura era chamado de “arquitetura racionalista”, pelos já em voga, arquitetos modernistas. Em termos formais o art deco pode ser definido da seguinte maneira:
Um amplo conjunto de temas compõe o repertório decorativo art déco, incluindo motivos figurativos estilizados, elementos geométricos abstratos ou formas curvas aerodinâmicas. Tais motivos são inspirados em máquinas, na fauna, na flora, em temas associados a culturas antigas, e na linguagem clássica. (...) As máquinas, especialmente os grandes navios, foram uma fonte importante de inspiração desta arquitetura: nela os vão circulares – muitas vezes dispostos enfileirados – distanciam-se dos óculos e remetem às escotilhas de navios (ou a janelas de aviões); os gradis de ferro adotam, com freqüência, formas despojadas, inspiradas em guardacorpos de passadiços; enquanto os volumes arredondados sugerem torres de comando ou convés de popa. (CORREIA, 2008, p. 51)
Essa influência estilística toma conta, não só do design de mobiliário, papéis de parede e interiores em geral, mas também da arquitetura, das artes gráficas e plásticas, e estaria viva até o final da década seguinte. Para alguns autores, como Cristina Dantas e Roberto Negrete, o final dos anos 1930 é o marco do início da profissão “designer” pelas mãos de um nome específico, Henrique Liberal (citado acima): “O Brasil só teria seu primeiro decorador, cingido por uma clientela elegante e abastada, quando Henrique Liberal volta de sua temporada parisiense (...).As gerações seguintes, por puro desconhecimento, não anotaram devidamente o nome de quem abriu as portas, no Brasil, para o florescimento definitivo de uma nova profissão.” 34
Na década de 1940 alguns acontecimentos históricos no Brasil influenciam diretamente o mundo da decoração. Um deles é a vinda de muitos imigrantes que fugiam da segunda-guerra mundial. Segundo Dantas e Negrete (2015) “com o advento da segunda guerra mundial, a partir de 1939 “milhares de europeus embarcaram rumo às Américas - e o destino de muitos deles foi o Brasil. O conhecimento trazido por esses novos imigrantes daria um impulso considerável às ciências, à tecnologia, à filosofia e à arquitetura. Para o design de interiores, o bem seria incalculável.” Esse momento histórico da chegada de influências europeias para o design do país coincide com outro fator de fundamental relevância, principalmente para a história das cidades brasileiras: o início da verticalização das cidades, que mudam o estilo de morar da população adaptam as mobílias aos novos espaços do momento: os apartamentos. Embora aparentemente o termo “apartamento” possa fazer alusão aos modelos de hoje em dia, pequenos e limitados, na década de 40 os edifícios não tinham a configuração espacial reduzida, significando portanto, num rompimento mais lento com o costume das elites com as casas de grandes dimensões.
“Esses edifícios, internamente, precisavam reproduzir os programas arquiteturais das edificações não verticalizadas para uma melhor aceitação. Era preciso que fosse oferecido à classe média um apartamento apto, em tudo, a substituir a casa isolada, não a casa modesta de gente pobre, mas o palacete da classe abastada. Os edifícios tinham como a ideia principal empilhar várias casas iguais num mesmo terreno, confortáveis com cômodos amplos, como se fossem a solução ideal para a casa nobre no coração da cidade. Esses apartamentos tinham circulações definidas, a social e a de serviços. “ (OKANO, 2007, p. 23)
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Uma característica comum nos apartamentos mais atuais são as varandas ou sacadas, porém estas ainda não existiam na década de 1940 nos apartamentos, podendo ser um fator diferenciador das casas mais abastadas e dos novos apartamentos dessa época, já que as casas tinham integração constante com a área externa. “Muitas casas desse período passaram a apresentar varandas e jardins, o que representou a intenção de estabelecimento de uma fronteira entre o público (a rua) e o privado (o lar), inexistentes nos padrões antigos de alinhamento das cidades brasileiras.” (Brito, 2003 apud Puttini e Ribeiro, 2008). Como já citado, os apartamentos de elite tinham como característica tentar preservar os confortos proporcionados por uma casa de padrões de classe alta porém, Veríssimo e Bittar (2006) explicam que “Os prédios de apartamentos utilizavam uma distribuição similar a das casas térreas, mas com a substituição dos pátios e áreas por poços de luz, diminuindo as possibilidade de arejamento e de isolamento.” Tal característica se dá pela grande influência da “arquitetura racionalista”, que previa sempre “a maior produtividade possível” , ou nesse caso, o melhor aproveitamento dos espaços, conforme afirma Puttini e Ribeiro (2008), quando diz que “com as residências houve a preocupação com a racionalização dos espaços”. Paralelo aos grandes apartamentos e à realidade de vida da elite brasileira, a modificação do estilo de vida devido à alteração nas construções também atingiu o público popular pois, segunto Puttini e Ribeiro (2008) “é nesta década que surgirá o apartamento com dimensões mínimas,composto por sala, quarto, banheiro e quitinete”. A evolução do rádio também fez parte dos interiores da década de 40, o que pode ser percebido quando Puttini e Ribeiro (2008) dizem que “Os rádios, acoplados às vitrolas, passaram a fazer parte de ambientes como a sala de estar. Ali ficavam as 36
radiovitrolas – ou rádios combinados a vitrolas, com agulhas de aço cambiáveis – para ouvir os discos de música brasileira". Pode-se dizer que a funcionalidade dos objetos passa a ter papel fundamental na decoração de interiores, não abrindo mão da estética, mas sim uma nova estética, que tem sua forma associada não mais apenas ao “decorar”. A partir desse momento tudo evolui para facilitar a vida das pessoas, para o conforto e para o uso, e não apenas para a posição de status, como se limitavam há poucos anos o desenvolvimento dos interiores e dos mobiliários.
O termo “decorar” já da um passo em direção ao seu real significado: adequar os móveis de maneira proporcional e racional, pensar em tapetes e cortinas como complementos indispensáveis, criar uma iluminação capaz de fazer de uma casa (ou apartamento) um espaço agradável. No francês, o adjetivo ensemblier, com a raiz que denomina “unidade”, traduz melhor o caráter desse trabalho. (DANTAS e NEGRETE, 2015)
O final da década de 40 é marcado pelo início de uma identidade do design dos interiores brasileiro, que surge com influências múltiplas (e não apenas europeias) do estilo de viver, conforme afirma Puttini e Ribeiro (2008) “A década de 40 encontrou a sociedade brasileira fascinada pelo american-way-of-life, abandonando, em grande parte, seus hábitos franceses, já quase tradicionais. Surgem nomes influenciados pelo design americano, como por exemplo Júlio Senna que viveu nos Estados unidos por 3 anos e trouxe uma visão diferente do estilo de morar. Senna deu início a uma era de profusão de cores no design nacional onde o verde, o amarelo, o azul e o branco eram utilizados em abundância, assim como , a madeira, os ladrilhos hidráulicos,as peças de cerâmica, uso de treliças no mobiliário, muxarabis, lona, algodão e 37
chintz, características marcantes do design brasileiro. Dantas e Negrete (2015) afirma ainda que “os abacaxis, muitas vezes dourados, reproduzidos de norte a sul sem que se saiba quem é o criador por trás da criatura, peça um tanto kitsch e tão escancaradamente brasileira”.
IMAGEM 10: Ambiente por Julio Senna FONTE:Tomás Senna disponível em Dantas, 2015
O resgate histórico e estético do Design de Interiores no Brasil, realizado acima, se vê necessário, uma vez que os grandes 38
nomes da origem do Design de Interiores do Brasil ainda permanecem escondidos. Vale ressaltar que um importante referencial bibliográfico que faz esse levantamento de maneira admirável é o livro de Cristina Dantas e Roberto Negrete, lançado em 2015 e intitulado “ Brasil Porta Adentro: Uma visão histórica do Design de Interiores no Brasil”, citado neste artigo diversas vezes. Tal livro serviu como “norte” para essa pesquisa, que retratou de maneira breve como se construiu uma estética moderna nos espaços interiores das casas brasileiras e que hoje é uma “miscelânea” de estilos.
4 OS ESPAÇOS ATUAIS E AS MOSTRAS Em visita à Mostra Casa Cor São Paulo 2016 foi possível perceber a grande mistura de estilos nos ambientes apresentados. Tal mistura já vem sendo percebida há alguns anos, e muito se pergunta “ qual é o estilo do design atualmente?” , seria possível conceituá-lo? A leitura estilística feita no tópico anterior aborda de forma pontual a evolução do design e das composições das residências brasileiras de luxo até o final dos anos 40. Infelizmente ainda não é possível fazer um comparativo com os espaços apresentados nas mostras, mas é possível analisar sua estética pontualmente.
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IMAGEM 11: Ambiente Casa Cor São Paulo 2016 : Suite do Casal, por Catarina e Renata Hermanny Fonte: Site Casa Cor
O ambiente abaixo apresente claramente uma mistura de estilos, que de forma harmônica representa um pouco do que são os espaços da atualidade. Com peça da década de 70, a Poltrona Alta, de autoria de Oscar Niemeyer, faz composição com uma parede toda em pedra, juntamente com uma cama de design bastante especial. Com efeito flutuante, a cama de desenho das arquitetas é revestida em couro, e harmoniza bem com os demais elementos, que possuem em sua totalidade referências modernas, mas com revestimentos e elementos (como o quadro clássico apoiado no chão) bastante informais e inacabados, característicos dos ambientes dessa mostra.
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IMAGEM 12: Ambiente Casa Cor São Paulo 2016 - Galeria do Colecionador de Maicon Antoniolli Fonte: Site Casa Cor
Esse ambiente se propõe a expor alguns mobiliários da década de 40 e 70, em um mesmo espaço. Ao invés de trazer características de tais épocas para o espaço, Maicon Antoniolli optou por uma composição bastante eclética e de características muito contemporâneas, como novamente um quadro apoiado ao chão e sem obra em sua tela, apenas como uma lousa. Utilizou uma escultura de polxo, bastante fluida e um biombo sem função prática, como plano de fundo para a escrivanhinha. O topo das paredes também aparece inacabado, como uma obra interminada com vigas aparentes. Ao invés de um reboco com revestimentos padrão, o arquiteto utilizou como plano de fundo um painel ripado extremamente detalhado de compensado com iluminação por trás, o que contrasta com o conceito do topo da parede. 41
Em outros ambientes dessa Casa Cor, como o Banheiro Unissex 2 (Imagem abaixo) tal aparência de “obra inacabada” em composição com materiais extremamente bem acabados e refinados apresentam um resumo do que são os ambientes da atualidade, uma mistura ousada de conceitos, um paradoxo do design. Haverá um nome, futuramente para definir tal estilo?
IMAGEM 13: Ambiente Casa Cor São Paulo 2016 - Banheiro Unissex 2 - por Gustavo Neves Fonte: Site Casa Cor São Paulo
5 CONSIDERAÇÕES
Este artigo reflete, primeiramente, alguns nomes e registros acerca da história do Design de Interiores no Brasil até a metade do século XX, descrevendo como se deu a construção de uma estética moderna, tanto de mobiliário quanto de composição espacial de 42
ambientes por completo. Muitos dos desenhos interiores do começo do século foram desenvolvidos principalmente pelas grandes marcenarias, não possuindo um profissional específico para realizar a concepção dos projetos. Foi possível identificar também que, posteriormente certos nomes do Design nacional tinham estilos característicos em seus projetos, não deixando-se levar pela evolução e inserção das correntes modernistas do Design, permanecendo com seus traços clássicos e carregados. Durante a pesquisa bilbiográfica realizada percebeu-se uma escassez de referências acerca dessa evolução histórica, sendo que as existentes citam, quase que em sua totalidade registros de um público de elite. Esse público, por sua vez, aparece presente durante toda a história como preconizador de tendências, que aos poucos espalhavam-se para um público mais popular. Em segundo plano, foi realizada uma análise dos espaços interiores da Casa Cor 2016, com o intuito de tentar dar nome aos estilos apresentados em alguns ambientes, como fazia-se facilmente na primeira metade do século 20. Como foi possível perceber, estamos em fase de transição, onde os estilos se misturam e os conceitos geralmente opostos, se complementam em composições harmônicas e diferentes. Fica a dúvida se tal estilo possuirá um nome (como por exemplo hoje denominamos o Art Déco, da década de 20)? Pretende-se, em um futuro próximo, intensificar a pesquisa com foco na segunda metade do século XX, o que auxiliará a compreensão da estética presente nos ambientes da atualidade.
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REFERÊNCIAS CORREIA, Telma de Barros. Art déco e indústria: Brasil, décadas de 1930 e 1940. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, v. 16, n. 2, p. 47-104, 2008. DANTAS,Cristina; NEGRETE, Roberto. Brasil Porta Adentro: uma visão histórica do Design de Interiores. São Paulo: 2015. Ed. C4 FORTY, Adrian; SOARES, Pedro Maia. Objetos de desejo. Editora Cosac Naify, 2007. MONTEIRO, R. H. e Rocha, C. ( Orgs.). Anais do V Seminário Nacional de Pesquisa em Arte e Cultura Visual Goiânia-GO: UFG, FAV, 2012. OKANO, Taís Lie. "Verticalização e modernidade: São Paulo 19401957." (2007). PUTTINI, Ustane Moreira¹; RIBEIRO, Sônia Marques Antunes. Os ambientes quarto e sala na moradia brasileira: uma trajetória do século XVI ao XXI. SANTOS, Anna Maria Affonso dos. John Graz: o arquiteto de interiores. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo. (2010) SIMIONI, Ana Paula Cavalcanti. Anatomia de um Móvel Moderno: algumas questões em torno do Mobiliário da Casa Modernista, de Gregori Warchavchik. ARS (São Paulo), v. 10, n. 20, p. 42-55, 2012. ZABALBEASCOA, Anatxu. Tudo sobre a casa, São Paulo: Gustavo Gili, 2013. 44
Arte e design: entrelaçamentos Marisete Machado Colbeich3
Resumo: Este artigo analisa o lugar da arte no Design de Interiores. As observações são feitas a partir das ultimas mostras “Casa Cor São Paulo” e da prática e experiência de ensino em Design de Interiores. Entendemos que os conceitos de Arte e Design são amplos para caber em simples definições . Desta forma abordamos, mesmo que de forma breve, o uso de referências artistas pelo Design de Interiores e a importância dessas referencias para o processo criativo. Falamos ainda das tendências para o design de Interiores nas quais as questões ambientais estão em alta.
Palavra Chave: arte, design, entrelaçamentos, ecodesign.
"Sê plural como o universo!". Fernando Pessoa
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Professora do curso de Design de Interiores Fatenp/Unigranrio. Assessora de Direção - Estado de Santa Catarina - E.E.B Senador Renato Ramos da Silva. Especialista em Mídias na Educação pela FURG/RS (2012), Especialista em Gestão Educacional pela UFSM/RS (2005). Bacharel e Licenciada em Desenho e Plástica (Artes Visuais) pela UFSM/RS (2003). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Arte, educação e Cultura (UFSM), Diretório CNPq. Membro do grupo de Pintura Apotheke (UDESC) CNPq.
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“Todo limite é ilusório, e toda determinação é negação, se a determinação não está numa relação imediata com o indeterminado” Deleuze Introdução Entre as muitas características do Pós-modernismo destacamos os esforços para a derrubada das fronteiras entre arte e vida. Arte de maneira ampla pode ser entendida como uma manifestação humana ligada ao estético. Ela envolve um fazer, um pensar, um ler e um interpretar. A arte difere conforme o contexto social e histórico em que está inserida. É uma atividade feita por artistas a partir de emoções, percepções, experiências e influências e ideias. Para BARBOSA, 2003, p.18 Por meio da Arte é possível desenvolver a percepção e a imaginação, apreender a realidade do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo ao indivíduo analisar a realidade percebida e desenvolver a criatividade de maneira a mudar a realidade que foi analisada.
Design é uma atividade que também envolve esses aspectos porém, é algo movido ou que move a dinâmica do mercado. Designer é o profissional que trabalha com design. Enquanto o artista pergunta através do objeto artístico o designer busca soluções para facilitar a vida das pessoas. Segundo “O Lugar do Design”, folheto / manifesto da APD em 1976: Numa Sociedade Utópica, em que todos os problemas estivessem resolvidos, em que não se observassem quaisquer situações de carência ou de insatisfação… o Design e os Designers não teriam razão de existir!
Desta forma, podemos pensar a arte e o design como áreas de conhecimento estritamente relacionadas. Mesmo ainda havendo 46
inúmeras interseções e diferenciações. A começar pelas finalidades e funções, que por vezes se aproximam, assemelham, entrecruzam e se fundem e por outras distanciam, separam, divergem. Nas diversas mostras de Design verificamos essa relação estreita, às vezes exposta de forma consciente, como é o caso da “Casa Cor São Paulo” e “Mostra Black” e em outros momentos de forma meramente decorativa ou pouco amadurecida. No entanto, no geral, parece haver ainda pouca compreensão da arte enquanto parte do processo criativo do designer, uma base sólida em diversos sentidos. Essa parece ser vista apenas na sua esfera expressiva, como material que agrega valor estético ou econômico ao ambiente. Porém, se arte é expressão, ela também é construção de conhecimento. Desde a antiguidade o saber está ligado a formas de representação ou mesmo representação do cotidiano e gestos humanos. Desta forma, fica claro que o ver do artista está interligado pelo pensar. Com a maneira como analisa as coisas, as formas e cores da natureza e as recompõe com uma nova inteligência do real. Tanto o artista quanto o designer são propensos a um ver e pensar que os faz combinar e recombinar a fim de transformar a experiência sensível. No Design de Interiores além de mobiliário, revestimento, piso e objetos de design, outros itens compõem a decoração de um espaço. O clima de um ambiente também pode ser acentuado ou formado por objetos de arte. Esses mexem com os sentidos, aguçam curiosidades e compõem ambientes com um algo a mais. Os objetos de desejo intencionalmente colocados nos espaços de interiores, conforme Zevi (1978), nos fazem pensar no uso de diversos tipos de 47
formas e propostas, dentre eles os objetos de design e obras de arte, como relevantes no processo perceptivo e representativos de nossa cultura, e de signos de consumo.
Tendências na Arte e no Design
Observando as novas coleções e ambientes, e mais precisamente os da “Mostra Casa Cor São Paulo” (edições 2015 e 2016) é possível afirmar que o Design, ou Arquitetura de Interiores atual, está fortemente marcada pela contemporaneidade, mas com um toque de leveza. Tal leveza é notada tanto nos objetos quanto nos materiais empregados e principalmente na forma de apelo emocional e de memória pessoal empregados. Experiências e vivências dos visitantes e potenciais usuários – consumidores são amplamente explorados. Memórias afetivas, objetos de infâncias com nova roupagem, porém ainda capazes de trazer lembranças. O tátil, o visual, o sensorial, o auditivo do expectador – usuários são chamados, despertados, estimulados. Os cheiros e afetos trazidos a tona pelas composições dos ambientes ou por elementos ímpares levam o expectador a querer interagir com o espaço da mesma forma que deseja muitas vezes interagir com a obra de arte. E a obra de arte também está lá e compõe o cenário.
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Imagem 1. Ambiente Casa Cor 2016 - Roberto Migotto, â&#x20AC;&#x201C; Arquivo da autora.
Imagem 2. Ambiente Casa Cor 2016 - Roberto Migotto. http://livinggazette.com/testewp/index.php/2016/05/29/casa-cor-sp-2016delicadeza-do-espaco-de-roberto-migotto/
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No espaço projetado por Roberto Migotto para “Casa Cor 2016”, encontramos duas telas tridimensionais de grande dimensão. No entanto, apesar do tamanho, não destoam do ambiente. De colorido sutil, as obras, de autoria do irmão de Roberto, o artista plástico contemporâneo João Migotto, combinam com a cartela de cores do espaço. Nudes, rosas e brancos agregados à madeiras claras, veludo de baixo brilho e mármores favorecem a leitura visual de um local discreto, sutil, chique e glamoroso. Se ele é possível de existir em nossas casas, daí a conversa já é outra. Mas a arte nos ambientes não está apenas colocada de forma explícita, compositiva. Ela é também referência ou se faz integrada na exploração dos materiais, nas formas de uso da cor, na composição dos elementos, através das pesquisas históricas e dos apelos sociais, ambientais e mesmo das ruas. Bürdek (2006, p. 11) acredita que o design está de certa forma fragmentado em todas as experiências humanas: Lazer, trabalho, ensino, educação, saúde, esporte, outros muitos. Nos ambientes públicos e privados, uma vez que tudo é fruto de configuração de forma consciente ou inconsciente. É certo que os produtos comunicam, assim como definem grupos sociais. Tais grupos também se influenciam e reconstroem através dos elementos visuais. O grafite, tendência urbana, tem ampliado seu espaço. Das ruas, praticamente marginalizado, para as galerias de arte, para as mídias, para mostras de design, fachadas de casas e prédios e para dentro das residências.
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Imagem 3. Vagão de trem transformado em residência -Casa Cor 2016, Grafite – Arquivo da autora.
Questão de sustentabilidade
Nessas duas últimas edições, especialmente, percebemos a busca ou o revisitar sem culpa de matérias primas nobres, como os veludos, camurças, couro natural e linhos, mármores, e diversas fibras naturais. Isso junto a um forte apelo socioambiental. A busca pela sustentabilidade se infiltra como tendência principalmente nos materiais empregados. No entanto, a preocupação ambiental expressa em produtos leves, menores, eficientes e mais econômicos, ainda está longe de ser suficiente para direcionar o sistema de produção e consumo à sustentabilidade. Concordamos com Manzini (2008, p. 45), onde afirma que a relativa desmaterialização dos produtos não trouxe consigo nenhuma redução no consumo geral. 51
Devemos salientar ainda que no design, palavras como sustentabilidade e impacto ambiental são discussões de mais de meio século. Abaixo, a imagem do ambiente “Casa Cor São Paulo 2016” – Casa sustentável montada na área externa do Jóquei Clube da cidade de São Paulo. Após a mostra a casa será colocada à venda. Feita em placas, é totalmente desmontável. O custo final, fora mobiliário e jardinagem, fica em torno de 350 mil reais para uma área de 50 m². Na fachada observamos os reservatórios para água. E no teto, as placas para captação de energia solar e ainda eólica. A casa é totalmente auto-suficiente no quesito energia. É valido lembrar que um projeto de construção sustentável não deve gerar poluição do ar e da água, desmatamento e contaminação do solo.
Imagem 1: Mostra Casa Cor São Paulo 2016 – arquivo da autora.
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Considerações Finais Vimos, mesmo que de forma breve, as várias aproximações e diferenciações entre arte e design. Entendemos que ambos vão beber na mesma fonte do cotidiano para alimentar suas criações. Concordamos que a arte, apesar de possuir um valor de mercado, não tem a mesma pretensão mercadológica do que o Design. Mas, principalmente, refletimos sobre a importância de se conhecer a história da arte, dos estilos e do mobiliário, objetos e decorações que fazem parte de cada estilo e época. E que esses são referenciais para novos projetos de interiores. Estudar, entender, conhecer arte, amplia o repertório do designer o que reflete no seu processo criativo. Concordamos que é muito mais difícil trabalhar de forma conceitual no desenvolvimento de um novo produto ou ambiente sem conhecer sobre arte. O processo criativo é inerente a ambos os campos. O design, como já foi dito, busca soluções para as novas necessidades do mundo. Enquanto a arte, de maneira geral, as questiona e ao mundo a sua volta. A arte é o que ajuda a entender a história da humanidade, seu processo evolutivo. E a traçar os caminhos para as tendências futuras.
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REFERENCIAS BARBOSA, A. M. (Org.) Inquietações e mudanças no Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2003. 184p. BOSI, A. Reflexões sobre a Arte. São Paulo: Ática, 2003. 80p. Em “O Lugar do Design”, folheto / manifesto da APD em 1976” Bürdek. Bernhard E. História, teoria e prática do design de produtos; tradução Freddy Van Camp. - São Paulo: Edgard Blücher. 2006. MANZINI, Ézio. Design para a inovação social e sustentabilidade: comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Trad. Carla Cipolla (coord.). Rio de Janeiro: E-papers, 2008. (Cadernos do Grupo de Altos Estudos; v.1). ZEVI, Bruno. Saber ver a arquitetura. São Paulo: Martins fontes, 1978.
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A POLÊMICA NO DESIGN DE INTERIORES Ditar tendências ou organizar tendências Arq. Nora Alejandra Pós Dra4 FatenpUnigranrio – Palhoça SC nora.rebollar@unigranrio.edu.br RESUMO: Este artigo procura avaliar a situação atual do relacionamento e posicionamento do design diante a problemática de ditar tendências ou ser muitas vezes pressionado a usar a tendência ditada pela indústria. A motivação desta pesquisa foi após visitas feitas com alunos em amostras de segmentos do design paralelamente neste ano de 2015 e 2016. Observando e comparando eventos percebeu-se que um segmento de evento mostra em sua série de espaços propostos, uma repetição intensa de produtos produzidos por marcas de indústrias renomadas. Já em outros segmentos de amostras também do design de interiores tudo era novo e criado por seus atores. Nada se parecia com nada. Tudo criado por designers que pretendem ditar tendências com o que eles projetaram e 4
Graduação em Arquitetura E Urbanismo, mestre em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina, doutora em Engenharia Civil pós doutora em Engenharia civil. Especialização em Auditoria e perícia ambiental. É integrante do grupo de pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC) no laboratório de Fotogrametria e geoprocessamento. Regressou em 2009 de Angola, África onde acompanhou o processo de implantação da Universidade de tecnologia e ciência UTEC e coordenou a implantação do curso de Engenharia civil. Docente e coordenadora do curso de design de interiores da faculdade de tecnologia nova palhoça FATENP/ UNIGRANRIO.
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desenvolveram. Surge ai a questão: Os docentes de escolas de design tem realmente feito seu papel de instigar os alunos em uma aprendizagem que os leva a ser profissionais criativos e inovadores, ou se aceita que o discente siga as tendências da indústria, pois é bom e o cliente gosta. Isto é “propor o que está na moda”. A visão da escola de design deve permear todo o contexto com uma análise crítica, para fundamentar o que deseja – preparar profissionais que ditam tendências ou que profissionais que serão levados ao uso da tendência já existente de uma indústria que impõem um mercado que se relaciona com a profissão design visando apenas seu lucro como perspectiva de futuro.
Palavras chaves: design, indústria, tendências, criação.
1. INTRODUÇÃO DESIGN – A beleza e os estilos ganham o centro das atenções no mundo de hoje e influenciam na economia, no comportamento e na cultura. (Capa da revista Veja – 2005)
Diversos segmentos do mercado brasileiro vêm se mostrando interessados no profissional do design; a busca pela "perfeição" formal, o belo e o “único” como componente vital da economia moderna. O valor de um espremedor de frutas de Starck desenhado em 1990, que hoje é uma referencia no meio do design em todo o mundo, a garrafa desenhada em 1915, um ícone do design mundial, 56
uma força de imagem que usa a estratégia da "parte como um todo" e mesmo sem as assinaturas seus anúncios são reconhecidos; a cor de sua identidade visual é referência no meio gráfico, isso é exemplo da força do design e de uma gestão bem estruturada e permanente. Quando o assunto é design, a Coca-Cola registra sua história. Em outro segmento a Benetton marcou presença usando o design com a força da imagem, campanhas intensas com placas de outdoor; tendo como tema: "As diferenças" _ preconceitos. Em muitos países esta campanha não foi tão favorável à marca devido ao pré-conceito. Imagens com negros abraçando brancos, conotações homossexuais, padres beijando freiras, no entanto, esta trajetória marcou a história da empresa, tornando-a reconhecida no mundo todo. Existem inúmeras possibilidades para estudos e casos consagrados com a aplicação da criação formal no design Não menos clássico que os exemplos já apresentados o nome de Steve Jobs se destaca no meio do design. Com a vida embasada na gestão do design, o idealizador da Apple desenvolveu a empresa e em 1985 acabou por ser expulso pelos sócios, devido a seu comportamento temperamental. Diante de uma crise na Apple em 1997, a empresa o chama de volta, Jobs retorna como consultor revolucionando a empresa que retoma seu crescimento, e lança uma inédita linha de computadores, com base na gestão do design elaborada por Jobs. A Apple lançou em 1998 o iMac, diferenciado no design, no posicionamento da marca e ditando novas regras dentro deste mercado, mais um marco no segmento. Em 2001, diante ao movimento da música digital e veiculação de arquivos por meio da internet, Jobs se mostra à frente de seu tempo mais uma vez e cria um aparelho compacto revolucionário, capaz de armazenar grande 57
quantidade de músicas: surge o iPod. No design de interiores brasileiro os irmãos Campana que representam tão bem nosso país desenvolvendo além de móveis com a cara do Brasil usam a reciclagem como lema em suas criações. Estes exemplos mostram o design utilizado como diferencial, gerando, como consequência, repercussão internacional e sucesso de modo geral para as empresas. No cenário nacional, o posicionamento dos profissionais que atuam com design demonstra que ainda há muito a amadurecer. Apesar das constatações apresentadas até aqui, observa-se que a profissão relacionada ao design já apresenta dificuldades na sua própria concepção: Design industrial, interiores, comunicação visual, programação visual, projeto gráfico, design gráfico entre outros. São tantos os designativos para a profissão que volta e meia surge novamente à questão de se encontrar um nome único capaz de sintetizar e traduzir como um todo todos estes segmentos. E isso não é nada fácil..."(Strunck – Viver de design). O trabalho do profissional de design inicia-se no momento de sua apresentação, onde é necessária uma ampla explanação sobre o que faz, para depois oferecer seus serviços, sendo que em muitos casos o "contratante" não compreende ainda a sua função; isso dificulta o início da relação e consequentemente o trabalho a ser realizado. Especificamente na profissão do design de interiores há uma confusão por parte de clientes se o profissional é um criador de móveis e objetos novos ou um mero organizador do espaço. Na realidade esta confusão não está presente somente no meio do consumidor mas surge também no meio acadêmico e no próprio meio profissional. 58
Neste artigo procura-se nortear a realidade da profissão do design de interiores não somente como organizador de espaços a mercê da indústria mas principalmente como criador, inovador que dita tendências para que a indústria fique atenta ao seu trabalho.
1.2. Objetivos
1.2.1. Objetivo geral
Definir a verdadeira função do profissional do design de interiores
1.2.2. Objetivos específicos
a. Definir qual a principal função do profissional design de interiores b. Analisar quais as funções secundárias do design de interiores c. Constatar se o profissional do design de interiores deve ditar tendências ou e submeter as tendências da indústria.
1.2.3. Metodologia
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A metodologia adotada será analise de bibliografias, periódicos e amostras de arquitetura e design.
2. Referências
Muitas são as bibliografias que trazem esta questão, mas todas na verdade pontam as dificuldades desta relação. "A importância do design para sua empresa" – elaborado pela CNI, COMPJ, SENAI/DR, RJ, "que tem como objetivo contribuir para que as empresas estejam mais informadas sobre os potenciais benefícios e aplicações do design e decidam pela maior utilização em suas atividades..." traz claramente a dificuldade dos empresários em compreender o "papel" do design, inclusive com uma linguagem didática e esclarecedora dirigida a qualquer público, mesmo os mais leigos no assunto design. São raras as marcenarias que possuem como funcionário efetivo um design de interiores isso porque não sabem a real capacitação do profissional e a lucratividade que elas poderão ter em curto prazo. Outro ponto muito importante, que identifica esta carência é citado por Strunck em seu livro "Viver de design", onde é apresentado "O caçador e o fazendeiro". Esta apresentação ilustra a necessidade do trabalho de um desenvolvedor (gestor) em design dentro de um escritório e de uma outra "figura", o comercial, que tem o foco na busca dos clientes, sendo este segundo uma peça estratégica para que o negócio "design" funcione. Dessa forma, a proposta desse estudo é formar uma imagem da real função dos profissionais do design de interiores diante consumidores, empresários e principalmente diante a comunidade acadêmica 60
definindo assim sua real função de criadores, inovadores e não meros organizadores. Assim será apresentado o posicionamento atual de alguns profissionais do design perante as empresas e consumidores, seja ele contratado ou prestador de serviços, e qual é a percepção que os empresários têm da categoria. Como as bibliografias não convergem apontando claramente a situação atual do mercado, e nas opiniões de diversos autores a relação/posicionamento do profissional do design é somente comentada, realizou-se uma pesquisa qualitativa para verificar na prática como é visto o design pelos profissionais da área e entre os discentes do curso de design de interiores para constatar qual a situação atual. Ana Luisa Escorel, designer com projeção internacional, forte atuação no meio acadêmico e com diversas matérias publicadas em diversos veículos, como Folha de São Paulo, autora do livro "Efeito Multiplicador do Design", apresenta sempre uma visão crítica sobre o design. Segundo ela, é comum que o campo do design seja invadido por outras áreas, como a arquitetura e o marketing, por exemplo. Isto ocorre porque um projeto de design nunca está em uma "linha reta que conduz o profissional do conceito à fabricação." O interesse financeiro, comprometido com as vendas, em muitos casos é a direção do projeto, deixando-se de atender as "necessidades específicas a serem abordadas por meio das metodologias de projeto, próprias do design". Existem duas hipóteses no desenvolvimento de um projeto: A primeira hipótese é a criação que atende ao gosto do cliente; dificilmente a decisão será definida pelo profissional e sim por quem vai consumi-la, ou com base na visão do consumidor, que é geralmente de onde nasceu o trabalho e de onde se busca os conceitos. A segunda é aquele 61
profissional que partindo de um conceito desenvolve de forma criativa um projeto ou protótipo o patenteia e o vende para a indústria repassar ao consumidor final. Isso não quer dizer de maneira nenhuma que a primeira hipótese o design não possa usar sua criatividade no projeto muito pelo contrário deve, só assim ele registra seu gênero e deixa registrada sua marca como profissional. Outra dificuldade é que as questões culturais no Brasil também regem o posicionamento do design onde a diversidade é tão grande e tão pouco usada, caindo sempre em projetos unificados pela mesma tendência nacional da indústria ou materiais e produtos importados. Esse aculturamento e uso pelo nacional favorecem a atuação do design no que diz respeito a sua marca e o desenvolvimento do projeto dentro destes parâmetros são tratados como cultural e toda a criação é definida com este conceito, sem a necessidade de fiscalizações, pois a cultura é respeitada. Como no Brasil não existe esta reserva, este mercado cultural é visto como oportunidade de projeto, sendo coordenado já com fins de divulgação e a criação direcionada de forma comercial. Em meio a este cenário de influências e influenciados, de domínio e dominados, o design fica perdido entre os conceitos, do seu ideal e o do capitalismo, como agravante para o fortalecimento da categoria. Afinal a que categoria pertencer. Se design não é ciência, não é arte não é arquitetura nem artesanato, não possui estrutura multidisciplinar nem pode se configurar como técnica de vendas, o que vem a ser design então? O design no Brasil ainda não tem tradição, sofre com pouco apoio do Estado, e as escolas de design não tem sido marcantes em seus ensinamentos e em sua postura como foi a Bauhaus, por 62
exemplo, tendo as consequências do mal posicionamento destas, mas ainda se fortalecendo como ferramenta de venda, poderia ser visto como força estratégica melhorando o bem estar social. A partir dessas considerações, a avaliação da missão das escolas de design em formar profissionais do design que tenham como lema a criatividade em seus projetos e com uma visão da tendência da gestão do design passa a ser uma obrigatoriedade com a categoria. As amostras de design e arquitetura existem para mostrar a criatividade de designers ou amostra servem para apresentar os grandes negócios que existem por trás do belo que presenciamos? Quantas peças únicas ou novidades presenciam-se nestas exposições? São estas exposições eventos de força da gestão do design ou força da indústria? Desde o projeto de um móvel a um projeto de um stand às estratégias de aproximação dos clientes com os produtos criados, deveria passar pelo profissional em questão marcando a imagem do mesmo e posicionando-o frente à concorrência. Porém não é bem isso que acontece.
2.1. DESIGN: DA PRÁTICA À GESTÃO
Após a Revolução Industrial, com o movimento Arts&Crafts, William Morris (considerado por vários autores como um dos precursores do design) visualizou na época a necessidade da transformação de produtos até então artesanais em produtos manufaturados em série (industrializados). Partindo então desse 63
período até os dias contemporâneos, a definição do que é Design vem sendo apresentada com os mais diversos focos. Segundo André Villas-Boas, o Design está muito além do conceito forma/função. Deve ser definido pela ótica de quem o faz. Ainda pelas considerações de Villas-Boas o design não é somente uma situação de combinações, é necessária uma visão holística, além do entendimento processual para construí-lo. Frente a estas novas possibilidades da indústria produzir a ideia artesanal a atividade do design passa a atender não mais somente a criação de objetos, móveis e utilitários como também atuar na organização dos espaços interiores e começa a ter envolvimento maior com as áreas de saúde, sustentabilidade e bem estar. Segundo parecer de Alexandre Wollner, o design é uma profissão que deve apresentar equilíbrio entre a arte e a técnica, o suficiente para não se aproximar da arte propriamente dita e nem da engenharia. Ainda na visão de Wollner o design no Brasil não depende somente do profissional, mas principalmente de investimentos e de credibilidade: o empresário precisa apostar no nosso design. Pode-se acrescentar ao parecer de Wollner que as escolas de design também devem estar comprometidas com a evolução desse profissional criativo e inovador. Design é profissão interdisciplinar, que usa como base diversas áreas do conhecimento, entre elas: arquitetura, artes plásticas e comunicação social no desenvolvimento de um projeto, onde deve existir o envolvimento do profissional (designer) com o ciclo que envolve o "produto", conhecendo-se também a quem se destina qual o envolvimento para uso, a relação física e emotiva, o
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perfil do cliente e as etapas de produção. Em todos os âmbitos as expectativas devem ser atendidas e superadas. Confrontando-se essas definições, concluímos que, basicamente o Design constitui-se na aplicação de valores ao produto, conceituando, atendendo as necessidades de mercado, inovando e/ou apresentando tendências. De acordo com essa nova visão do design, fica clara a sua relação com a gestão empresarial. O design pode e deve ser visto como estratégico, sendo aplicado da cadeia de produção até o consumidor final, se fazendo presente nos estudos de processos produtivos, contribuindo com sua otimização. Por outro lado, qualquer profissional que trabalha com uma atividade relacionada a criação se intitula Designer. Essa situação cria uma confusão para o público leigo, dificultando a compreensão sobre o que é de fato o design. Há também um número crescente de profissionais das mais diversas áreas que se posicionam como designers, alguns sem qualificação, prejudicando a categoria como um todo. No mercado podem-se encontrar arquitetos designers, artistas plásticos designers, e ainda uma categoria chamada micreiro – aqueles que exercem a profissão sem diploma. O Designer como profissional deve atuar compondo e contribuindo com o desenvolvimento de produtos, de ambientes, de mensagens (logotipos, padrão de identidade, comunicação) e de empresas (posicionamento estratégico, apresentação consistente durante períodos de tempo, solidificação de marcas). O Designer reúne as informações, transforma-as em ideias e as materializa. 65
A situação fica mais grave porque a cada dia a atuação do designer (formado para tal) se amplia, confirmando o que alguns chamam de "boom" do design. Esta situação coloca o design na moda, fazendo com que vários queiram tirar proveito da visibilidade que a profissão começa a ter. Logo os profissionais formados para tal precisam se diferenciar com grande criatividade e inovações para se diferenciarem dos micreiros e demarcarem seu lugar ao sol. Entre a "problemática" e a "solução" existe uma distância: o Designer atua neste espaço. A questão é que este profissional tem seu potencial direcionado para a criatividade, com base nas informações que lhe são apresentadas e com as pesquisas realizadas no início do processo onde a academia está diretamente ligada à doutrina dessa criatividade. O trabalho do Designer na busca da "solução", na realidade, é parte de um processo, muito maior, e este processo deve ser trabalhado como um todo; inicia-se na "problemática", atinge o mercado, envolve uma produção, relaciona-se com custos, busca estratégias aliadas a Marketing. Novamente é encontrada na questão multidisciplinar. O gestor do design é a pessoa "chave" no processo, docentes das escolas são os chamados gestores do design responsável pela sua condução desde a concepção até o controle dos resultados pósimplantação de uma "solução". É de responsabilidade do professor o fluxo de informações, pesquisas, reuniões, viabilidade, execução, cronogramas, recursos e definições. Desta forma o gestor do design poderá lançar ao mercado profissionais capazes de atuar dentro de agências de propaganda, em instituições financeiras, no comércio, na indústria pois ele pode estar presente em todos os campos. 66
3. MARKETING E DESIGN
Uma área totalmente relacionada e pode-se dizer integrada ao design de interiores é a área de Marketing. A ligação emocional do consumidor com o produto influi na decisão de compra, o ser humano tem necessidade natural de conexão com o outro, acaba participando e sendo aceito por meio da aquisição de produtos de consumo do grupo. O valor percebido está em acordo com o status pretendido. O design se apresenta interagindo com as estratégias desse marketing. O designer pode ser tratado como o especificador e mediador do produto a ser consumido. Por isso a tão comentada reserva técnica. Existir ou não existir? Será a reserva técnica a garantia de um bom projeto? Será que a criação não poderá ficar abalada pela tal reserva técnica. Será que projetos inovadores não são prejudicados pela RT? Transferindo este conceito e adaptando para a área de design, o papel do gestor (professor) mais uma vez é fundamental na aplicação desta conduta no profissional do design. A comunicação, o planejamento, o pensamento estratégico são "obrigatórios" para um profissional de sucesso em design. Em Junho/2006, foram apresentados em um evento de nome "CAFÉ COM DESIGN" os resultados da pesquisa idealizada pela ADP e realizada pela FGV, junto ao setor de equipamentos médicoodonto-hospitalares. Com o foco em design de produtos - e mesmo o segmento sendo diferente do aqui pesquisado - os números desta pesquisam mostram um cenário interessante e complementar para este estudo. 67
- 146 Empresas contatadas, que representam 35% do setor; - Destes números 87% investem em design, e 13% não investem. - Das empresas que investem em design 95% declaram que a aplicação de design aumenta a competitividade; - Dentro deste índice de 95% foi apresentado que: 80% Aumentaram o faturamento;85% Consideram design como investimento e não como custo; 90% Reconhecem o design como sendo estratégico; 10% Dizem que é limitado. - Foi estabelecido um comparativo entre as empresas que reconhecem o design como sendo estratégico (90%) e as que dizem ser limitado (10%), abaixo este comparativo:
PESQUISADO O AUMENTO DA PARTICIPAÇÃO NO MERCADO Importância Limitada: 75% Importância Estratégica: 95,5% Conclusão: O design posiciona melhor.
PESQUISADO O AUMENTO DA MARGEM DE LUCRO Importância Limitada: 25% Importância Estratégica: 68% Conclusão: O design gera mais lucro.
PESQUISADO A MELHORA DA IMAGEM DA EMPRESA 68
Importância Limitada: 50% Importância Estratégica: 77% Conclusão: O design melhora a imagem da empresa.
DENTRO DO GRUPO QUE CONSIDERAM O DESIGN ESTRATÉGICO 79% Declaram melhoria na qualidade dos produtos; 66% Aumento da produtividade; 55% redução de custos. Conclusão: O design é mais do que aparência.
Conclusão da pesquisa com base nos números apresentados: Design e inovação são os novos diferenciais competitivos.
Os resultados da pesquisa apresentada reforçam que o reflexo do posicionamento da categoria permeia todos os segmentos e não somente o de produtos desenvolvidos por design de interiores, tratase de uma questão da categoria design, sendo esta a provedora de melhorias na imagem, na estratégia, no posicionamento das empresas e nos produtos sejam eles quais forem, desde que seja desenvolvido pelo profissional. O design deve ser uma célula viva e ativa dentro de uma empresa ou de sua própria empresa, para que os resultados sejam diferencialmente visíveis. 69
4. PERFIL DO PROFISSIONAL DO DESIGN
O "personagem" design de interiores tem seu papel que deve ser único definido como o ser altamente criativo e inovador levando em consideração a qualidade de vida, o meio ambiente e a sustentabilidade. Aquele que dita tendências e que coloca a indústria a produzir o que ele cria. O profissional design que copia tendências é um profissional que ainda não consegue aplicar bem a sua profissão. Profissão essa que deve ser ensinada nos cursos de graduação e nos cursos profissionalizantes. A comunidade acadêmica tem o dever de rever os seus cursos e inserir disciplinas que instiguem a criatividade para formar profissionais capazes de produzir projetos inovadores e não ficarem a mercê da indústria produtiva com suas RTs. A comunidade acadêmica deve levar em consideração a concentração na eficácia produtiva dos ensinamentos, que fica desvirtuada quando é qualificada como a única arma concorrencial capaz de esconder uma orientação exclusiva independente. A evolução do profissional do design de interiores tem sido uma constante nos últimos anos. Com este desenvolvimento dentro da globalização, da evolução da informática e da tecnologia, com o "modismo"..., começa a busca do trabalho além das pranchetas. A posição do gestor tornou-se a evolução natural deste profissional. Do outro lado, o mercado vem buscando o designer e aplicando o design com mais intensidade. Cabe aos docentes das 70
escolas de design alinhar este movimento dentro do segmento, buscando doutrinar seus discentes num posicionamento de gerência, de responsabilidade sobre o processo, deixando de ser um profissional executor passando a ser o elemento estratégico, seja na agência de propaganda, na indústria ou como autônomo. CASA COR ou CASA BLACK? Questiona-se a validade destes eventos para o design. Estes eventos possuem conotações muito diferenciadas. Quem já vivenciou a oportunidade de visitar os dois eventos simultaneamente consegue diferenciar plenamente o intuito de cada um. Em uma das amostras seus espaços decorados percebia-se uma repetição intensa de uma série de produtos produzidos por marcas de indústrias renomadas. Persianas, pisos, móveis, louça, metais entre outros Muitos profissionais pagam e gastam fortunas para estarem presentes nestes eventos submetendo-se a expor seus trabalhos com obrigatoriedades de usar este ou outro material e esquecendo que a criatividade e a inovação é o que realmente irá coloca-los em evidência. Já no outro evento era tudo novidade e diferenciado. Criatividade e inovações era o lema parecia. Nada se parecia com nada. Tudo criado por designers querendo ditar tendências do que eles projetam e desenvolvem. Exposição fantástica única e não comprometedora sem etiquetas de fabricantes e sem repetições. Já há eventos em que o profissional necessita pagar para mostrar seus projetos. Essa com certeza compromete o profissional com as parcerias que o evento possui com fornecedores. Afinal, o que queremos? 71
5. CONCLUSÕES
O gestor do design é o profissional capacitado a oferecer maior competitividade à empresa ou a sua própria empresa dentro do seu mercado de atuação. Com uma concorrência muito mais intensa, a abertura do mercado, a velocidade da informação entre outros pontos da situação atual do mercado entre outros, uma competição saudável precisa de estratégias diferenciadas. Novidades como estudos frequentes de embalagens, inovações, criatividade diferenciam um projeto da concorrência, valores agregados e uma imagem de qualidade no mercado passaram a ser uma exigência do consumidor. Ouvir e atender seu público são fator para que a empresa mantenha um posicionamento competitivo no mercado. A gestão do design acompanha este movimento, e ainda propõe melhoria nos processos produtivos, gerando lucratividade. Quanto ao objetivo de definir a verdadeira função do profissional do design de interiores, podemos concluir que o profissional tem a função e o compromisso de em seus projetos focar a qualidade de vida de forma inovadora e com muita criatividade. Desenvolver projetos de mobiliários, estampas de tecidos, e produtos que facilitem o dia a dia do usuário serão aqueles que com a inovação em seu projeto deverão ter uma projeção mais positiva do que aqueles que apenas desenvolvem seus projetos com tendências ditadas pela indústria. No enfoque da função secundária do design, podemos ver o trabalho de organizador, isto é organizar o espaço de forma que o 72
usuário usufrua do mesmo da melhor forma tirando dele todas as vantagens para alcançar a qualidade de vida. Finalmente podemos constatar que se o profissional do design de interiores que ditar tendências e usar sua criatividade inovadora em seus projetos com certeza será um profissional muito mais bem sucedido que aquele que se submete as tendências da indústria e apenas a organiza. Estes pontos entre os demais apresentados neste artigo apontam um mercado muito promissor, porém carente de inovações. A comunidade acadêmica deve se comprometer com o aprendizado do design, como função inovadora, assim ele começará a aparecer mesmo que ainda de forma tímida, sendo uma perspectiva de futuro muito promissor aos profissionais da área.
REFERENCIAS Confederação Nacional da Indústria. O Estágio Atual da Gestão do Design na Indústria Brasileira. Brasília: CNI, 1998. Makron Books, 2002.ESCOREL, Ana Luisa. O Efeito Multiplicador do design. São Paulo: Editora Senac, 2000. WOLLNER, Alexandre. Design Visual 50 anos. São Paulo: Cosac & Naify, 2003 VILLAS-BOAS, André. O que é [e o que nunca foi] Design Gráfico. Rio de Janeiro: 2AB, 2000.
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