20150805 of74 issuu

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nÂş74 _ ano XI

w w w. o n f i r e s u r f m ag . c o m

bimestral _ pvp cont 3â‚Ź [iva 6% inc]

abr|Mai15



*A vida é melhor de calções de banho.



Proged SA: infoproged@proged.com

*Anos luz à frente. **Tecnologia exclusiva. Neoprene technobutter. O mais leve neoprene de sempre, retém menos de 30% de água, seca super rápido para várias sessões, protecção ultravioleta 50+. Surfa mais leve, surfa mais tempo. Tecnologia Technobutter está disponível no Hyperfreak, Pshyhofreal, Psycho 3 e Psycho 1.


Contacto: geral@nautisurf.com


Rhythm junta um grupo único de indivíduos com o mesmo sonho de viver a fazer o que amam. Desenhando com influencias da arte, música e surf, passado, presente e futuro. Rhythm fala de criar expressões próprias que procuram noas fronteiras além do conhecido caminho. Isto é Rhythm. “O som da mudança”



*O mais rĂĄpido fato do mundo a secar. Agora sem fecho. Surf ĂŠ tudo!


Tomás Fernandes foi, muito provavelmente, o surfista júnior que mais explodiu no panorama nacionalnos últimos dois anos. Oriundo das perfeitas ondas da Ericeira, o seu surf de linha combina cada vez melhor o power com a performance. Hoje, e se calhar mais cedo do que ele ou o mundo imaginavam, juntou-se à elite de portugueses que combatem no árduo WQS e tudo indica que nada o irá impedir de chegar aos objectivos com que sempre sonhou.

Mais uma refinada e gigante selecção do melhor produto nacional que invadiu os 10 discos de 2TB cada, que constituem arquivo da ONFIRE, nos últimos tempos! photos by carlospintophoto.com

_10 The Freakin’ Director Nuno Bandeira | The Psycho Editor António Nielsen | Editores de Fotografia António Nielsen + Carlos Pinto + Nuno Bandeira | Arte & Design Marc Vaz [ brivaglobal.com ] | Fotógrafo Residente Carlos Pinto [ carlospintophoto.com ] | Photo maniacs Bruno Smith . Diogo Soutelo . João Pedro Rocha . Jorge Matreno . Pedro Ferreira . Sérgio Villalba . Tó Mané | Escribas colaboradores Miguel Pedreira . Mikael Kew . Ricardo Vieira | Contabilidade Remédios Santos | Departamento Comercial António Nielsen | Proprietário Magic Milk Shake Produção Audiovisual, Lda | NIPC 506355099 | Impressor Lisgráfica | Distribuição Vasp | Tiragem MÉDIA 10.000 exemplares | Revista bimestral #74 | Registo no ERC nº 124147 | Depósito legal nº 190067/03 | Sede da Redacção|Sede do Proprietário Rua Infante Santo nº39, 1º Esqº, 2780-079 Oeiras | Mail staff@onfiresurfmag.com | Interdita a reprodução de textos e imagens. C R É D I T O S O N F I R E S U R F 7 4

# c o v e r s t o r y # s p o t l i g h t # s u r f t r i p

Juntar três dos melhores e mais atirados surfistas nacionais, nada mais nada menos do que Tiago Pires, Frederico Morais e Nicolau Von Rupp, numa dos mais pesados slabs do Atlântico, só poderia produzir um artigo de luxo... É esta a Surftrip desta edição 74 da ONFIRE...

#welovephotos

Sempre defendemos o produto nacional, tanto no que diz respeito a surfista como a ondas. E foram já várias as vezes que publicámos surftrips que provam que o nosso país tem ondas que se equiparam às melhores, mais pesadas e mais perigosas do mundo. É verdade que muitas permanecem (ainda) escondidas – e ainda bem – mas algumas missões secretas são regularmente organizadas a essas pérolas... A mais recente juntou Frederico Morais, Tiago Pires e Nicolau Von Rupp, e foi uma missão de apenas 48 horas algures pelo Atlântico... Esta é a segunda surftrip que publicamos a este destino e, tal como na primeira, o potencial deste slab para a direita e esquerda deixou-nos de boca aberta quando recebemos o material fotográfico. Mas nenhuma foto nos deixou mais boquiabertos que a imagem de Frederico Morais e é por isso que é essa que figura na capa desta edição, foto essa que aconteceu na sessão em que Morais teve provavelmente um dos seus maiores sustos dentro de água até hoje... Pormenores desta história? Salta já para a Surftip (página 32).



Uma das minhas primeiras verdadeiras surftrips foi às Canárias, mais propriamente a Furteventura, o local mais inóspito desse grupo de ilhas. O nosso grupo era de apenas três pessoas, uma quantidade que quanto mais tempo passa mais concordo que é o número perfeito para uma viagem. Apesar de estarmos em grande sintonia, cada um de nós tinha objectivos diferentes para essa viagem. Enquanto estávamos lá ia acontecer uma etapa do circuito europeu de surf e os meus companheiros iam competir, um deles estava lá para vencer e outro para ganhar experiência, mas o resultado foi bastante semelhante. Eu aproveitei para conhecer ondas novas e as memórias dessas surfadas estão guardadas até hoje. Lembro-me de estarem a treinar, juntamente com mais uns 30 surfistas no mesmo pico onde ia ser o campeonato, enquanto que eu surfava, quase sempre sozinho, numa longa e divertida esquerda que quebrava poucas centenas de metros mais para sul. Também me lembro de quando o nosso trio se transformou num quarteto, graças a um fotografo profissional da época que se juntou a nós, e a dinâmica mudou bastante. Talvez por não o conhecer bem ou por ser o que eventualmente ele me iria acusar de ser, “isolei-me” nas longas viagens para o pico com o meu walkman e headphones com o álbum “The Will to Live” do Ben Harper a “bombar” tão alto que provavelmente explica o facto de hoje em dia ser meio “mouco”. “Epá ó Svensen (nome que se lembrou de me chamar na viagem, felizmente não pegou)”, disse o “quarto elemento” num momento em que me apanhou a trocar a cassete de lado, “és muita anti-social!” Lembrei-me daquele momento recentemente, já passados 17 anos daquele dia, enquanto falava com um dos surfistas da nova geração. Acredito que provavelmente estava tão farto de me ouvir como eu tinha estado naquela surftrip pois actualizava o seu instagram em plena conversa. Entre tags e posts bilingues perdeu o raciocínio e perguntou sobre o quê que estávamos a falar. Será que poderia tê-lo chamado de anti-social enquanto ele actualizava as suas redes sociais? #ahistoriarepete-se... _António Nielsen Uma surftrip, três amigos, um anti-social!


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Quando começámos a ONFIRE, o nosso maior terror era publicar uma foto que já tivesse saído noutra publicação de surf (leia-se nacional ou, na altura, na Surf Europe – esta revista, apesar de centrada em França, colocava várias fotos de portugueses). Nesses anos, o facto de não termos fotógrafo residente complicava um pouco as coisas mas olhando para trás, todos os fotógrafos com que trabalhámos (muitos ainda hoje trabalhamos) sempre tiveram o cuidado de ou repartir o material fotográfico ou, como sempre fizemos também questão de relembrar, nos avisassem caso alguma foto que estive duplicada nas redações fosse sair noutra publicação que não a nossa. Os tempos começaram a passar calmos neste campo e apesar de um alerta ou outro de última hora, esse terror inicial praticamente desapareceu. O facto de entretanto termos contractado o fotógrafo Carlos Pinto como residente (e mais tarde e durante alguns anos um segundo residente, Mauro Motty), ajudou a peneirar bastante a possibilidade de haver duplicação de fotos. A regra era (e é) simples e provavelmente aplicava-se a todas as revistas que existem no mundo: “Desde que saia primeiro na nossa (ONFIRE), é tranquilo!”. Apesar de tudo, e como disse, os tempos foram passando sem nunca nestas páginas ter sido publicada uma foto que já tivesse sido antes vista noutra revista. Explodiram as redes sociais, e as coisas tremeram um pouco. Mas foi com a explosão da principal rede social de fotografia no meio do surf – o Instagram – que as coisas se tornaram realmente complicadas. O nosso terror de há 12 anos atrás reemergiu e depois de novas conversações com os fotógrafos freelancers e da casa (actualmente Carlos Pinto e Jorge Matreno), marcas e surfistas sobre esta questão, a verdade é que tivemos edições seguidas a olhar para as redes sociais dos surfistas que iam ter fotos publicadas nesse número da OF antes de o colocarmos na gráfica... Infelizmente, e temos de assumir, aconteceu. E, infelizmente, não foi uma vez apenas, foram duas, três no máximo se não estou em erro... Se três fotos em 74 edições (que se fizermos as contas podemos facilmente chegar a uma média de 10.000 fotos já publicadas) são para muitos uma gota no oceano, para nós, editores, são um vacilo tremendo pois, posicionando-nos como leitores, não gostaríamos de abrir uma revista e ver uma foto que já tínhamos visto. Sentir-nos-íamos enganados, e com razão! Mais, imaginem o que (nos) dói olhar para uma foto no Instagram e ver que era uma potencial capa ou página dupla... 300 likes ou uma capa? Uma escolha difícil para alguém? Creio que não!... É, obviamente, impossível não garantir que tal não voltará a acontecer, afinal ninguém consegue controlar tudo, mas, tal como há 12 anos, estamos novamente em “missão”, agora para garantir que a RIGOROSA regra de que nenhuma foto publicada numa rede social irá (voltar a) figurar nas páginas da OF pois, no fim do dia, o nosso compromisso final é com o leitor, e esse, além do surfista comum, é também o surfista profissional e o dono das empresas que gerem o surf nacional e internacional. _Nuno Bandeira

Esta foto de Nicolau Von Rupp é uma foto que nunca viste nas redes sociais, uma realidade que sempre procurámos evitar mas que por vezes não é, estranhamente, fácil de controlar...


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Sabemos que não é fácil para ninguém manter-se a par da moda do momento. Atenção que não falamos de moda de “vestimenta”, falamos sim de modas que acentam em pequenos pormenores que nos fazem interagir da forma correcta num determinado meio, detalhes esses que passam pela forma como se aperta a mão (apesar de muitos destes “apertos” já não serem sequer apertos) a expressões... O problema destas modas é que mudam à velocidade da luz... E se há um ano a palavra da moda para descrever este aéreo de Pedro Coelho era “Animal”, há meio ano já era “Irado” e hoje é “Bruto!”. Por isso, aqui fica a legenda de meados de 2015 eternizada para sempre no papel... que aéreo BRUTO!!!




Cremos que João Kopke tem na ponta dos seus dedos uma sensibilidade muito superior à da maioria dos humanos. Isto porque ele usa essas zonas para criar várias formas de arte: música (Kopke é um excelente músico de contra-baixo), desenho (a facilidade com que desenha é quase irritante) e, segundo alguns membros do sexo feminino que pediram para manter o anonimato, “massagens mágicas”. Um membro do staff da OF, que também pediu o anonimato, teve de comprovar esta última arte de Kopke... E concluiu que apesar de ser verdade, nenhuma arte que vem da ponta dos seus dedos se compara à que estes produzem quando o surfista de Carcavelos usa essas extremidade para navegar nos mais pesados e complicados canudos líquidos, e garantir que sai deles com sucesso!

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“Sharing is caring” dizem os entendidos em surf. Foi por isso que João Guedes fez questão de partilhar esta onda com Alex Botelho. Como são grandes amigos, Alex nem se preocupou com o dropino e fez questão de aproveitar a secção que Guedes deixou para voar pelos céus tropicais da República Dominicana. Nessa noite, quando chegou o jantar de Guedes – um delicioso peixe – Botelho fez questão de “desviar” o peixe para o seu lugar, afinal, além de amar peixe (reparem bem na parte de baixo da sua prancha), “sharing is caring”!




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a b r i l a b r i l 01 maio 02 maio 03 maio 0 4 m a i o 0 5 m a i o 06 maio 07 maio 0 8 m a i o 09 maio 10 maio 1 1 m a i o 1 2 m a i o 13 maio 14 maio 1 5 m a i o 16 maio 1 7 m a i o 1 8 m a i o 19 maio 2 0 m a i o 21 maio 22 maio 23 maio 2 4 m a i o 25 maio 2 6 m a i o 2 7 m a i o 2 8 m a i o 2 9 m a i o 3 0 m a i o 31 maio 01 junho 0 2 j u n h o 0 3 j u n h o 04 junho 05 junho 06 junho 07 junho 0 8 j u n h o 09 junho 10 junho 11 junho 12 j u n h o 1 3 j u n h o 14 junho 15 junho 16 junho 1 7 j u n h o 18 junho 19 junho 2 0 j u n h o 21 junho 2 2 j u n h o 23 junho 24 junho 25 junho 26 junho 2 7 j u n h o 2 8 j u n h o 29 junho 30 junho 01 julho 0 2 j u l h o 0 3 j u l h o 0 4 j u l h o 0 5 j u l h o 06 julho 07 julho 08 julho 09 julho 10 julho 1 1 j u l h o 1 2 j u l h o 13 julho 1 4 j u l h o 15 julho 16 julho 17 julho 1 8 j u l h o 19 julho 20 julho 21 julho 22 julho 2 3 j u l h o 2 4 j u l h o 25 julho 26 julho 2 7 j u l h o 28 julho 2 9 j u l h o 30 julho

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No dia 7 de Junho terminou o ISA World Surfing Games na Nicarágua. A selecção nacional tirou um resultado histórico, terminando em 2º lugar por equipas, atrás apenas da Costa Rica e à frente de equipas como os EUA. Nicolau Von Rupp foi o maior destaque da equipa, terminando a prova como vice-campeão mundial individual, mas todos os surfistas portugueses contribuíram bem para a pontuação final. Miguel Blanco e Vasco Ribeiro terminaram em 13º lugar, Zé Ferreira em 25º, Teresa Bonvalot em 9º e Camilla Kemp em 25º. photo by Nelly/ISA A 23 de Junho realizou a finalíssima do Volcom Totally Crustaceous Tour, realizado em Trestles, EUA. Pela primeira vez na história deste evento houve dois portugueses na final. Ambos, Camilla Kemp e Afonso Antunes, podiam ter terminado mais alto caso tivessem apanhado ondas melhores mas terminaram em 4º lugar nas categorias GirlFish (feminino sub18) e SquidFish (masculino sub12). A 28 de Junho terminou a segunda etapa do circuito Pro Junior Europeu, o Prozis Surf Pro Espinho. Miguel Blanco foi o grande destaque do primeiro dia de prova mas acabou por perder prematuramente no segundo, o que lhe custou a liderança do circuito. Os melhores surfistas portugueses em prova foram Guilherme Fonseca (3º), João Kopke (9º) e Jácome Correia (13º). O grande vencedor foi o basco Natxo Gonzalez, que assim ficou com uma liderança bastante folgada do circuito. Na categoria feminina o grande destaque foi Carol Henrique, que chegou à final e terminou em segundo lugar, atrás de Ariane Ochoa. Teresa Bonvalot ficou em 5º lugar e manteve a liderança do ranking feminino. photo by Poullenot/WSL O Allianz Sintra Pro, quarta etapa da Liga MOCHE, terminou no dia 12 de Julho na Praia Grande. Frederico Morais tinha boas hipóteses de vencer o circuito antecipadamente mas foi eliminado nos quartos de final por João Guedes. A final foi vencida por Eduardo Fernandes que, ao bater o local Nicolau Von Rupp, quebrou um jejum de vitórias de quatro anos! A categoria feminina foi vencido por Teresa Bonvalot, seguida de Carina Duarte (2º), Camilla Kemp (3º) e Leonor Fragoso (4º). photo by Pedro Lopes/MOCHE 24_


g e r a l @ n a u t i s u r f. c o m


photo by c a r l o s p i ntop h oto.c om [ 26 ] texto by Ricardo Vieira [ricardovieira30@gmail.com]

minha primeira vez A

Os quinze anos já circulavam intravenosamente e a toda a força no corpo da Joana, mas ainda pouca coisa fazia sentido, faltava aquela parte importante na vida de quem começava a entrar na puberdade. O namoro com o Pedro estava firme, ia com quase dois anos e desde o início que ele a pressionava, andava ali à volta a desafiá-la, cobra a enrolar-se na árvore, a tentar tirar-lhe o medo e a oferecer-lhe a segurança disponível de quem tem dezasseis anos e muita lata, ainda que com corpo de dezoito.

- Vá lá, Joaninha, amo-te e vou estar ao teu lado aconteça o que acontecer. Queres uma prova? Arregaça a manga e mostralhe o nome dela tatuado no antebraço. - Cor esquisita… diz ela. - Pois…é…é…daquelas que duram seis meses, amorzinho…é que…nunca se sabe, não é? Joana, quero-te muito, gostava que a primeira vez que o fizesses fosse comigo! Ela, nervosa, - Ainda não! E se a minha mãe descobre?! - Aí já não há nada a fazer, senão aceitar! - És louco. Deixa-me pensar, dá-me mais uns dias… A mãe cumpria o tempo pendurada na suspeita de que aquele dia não tardava. O corpo da Jú já se desenvolvera o suficiente para se aventurar no mundo dos sentidos. Já tinha força que bastasse para entrar no mar da vida e traçar rota em direcção aos primeiros naufrágios, obrigatórios antes de terra firme. Os posters na parede do quarto denunciavam a proximidade do corte das amarras. O dia nasce, a mãe pressente que aquela é a manhã escolhida. Não se engana. A Joana levanta-se da mesa do computador

depois de consultar sites da especialidade, à procura de certezas e de ajuda que as tatuagens temporárias não emprestam. - Mãe, preciso de falar contigo… A progenitora atravessa a fronteira da cozinha a amarfanhar o pano da loiça contra o peito. Filha..! (o amachuco do pano quase a chegar aos pulmões) - Está decidido, mãe… (o pano agora a chorar, mais de sufoco do que de comoção), não te preocupes, mãe. O Pedro…ele…nada muito bem! E já faz surf há cinco anos. Está decidido, hoje vou com ele comprar a minha primeira prancha e vou começar a ter aulas. Sabes que sou apaixonada por surf, basta veres as paredes do meu quarto. A Internet diz que as ondas estão baixinhas, boas para iniciar. Hoje vou ser surfista. Para sempre. _RV





Alerta

V e r m e l h o

algures no

Atlântico

O que se pode esperar de uma surftrip em que os intervenientes passaram apenas 48 horas no local? E para complicar ainda mais a “missão”, as marés no pico escolhido eram limitantes, reduzindo o tempo útil de surf a poucas horas por dia. Mas a ondulação era perfeita e três dos melhores surfistas portugueses de todos os tempos, Tiago Pires, Nicolau Von Rupp e Frederico Morais decidiram arriscar e rumaram na direcção uma ilha perdida no Atlântico à procura de um slab pesado. C o n t a d o

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Nicolau Von Rupp é um surfista que está habituado a pesados slabs e aqui encontrou mais uma onda à sua medida!

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Tudo começou num dia em que estava em casa já em preparações para a viagem para a Austrália que tínhamos marcado para alguns dias depois. quando o Kikas (Frederico Morais) me ligou. “Então e se amanhã arrancássemos numa viagem?” Era um destino em que já tínhamos falado várias vezes, uma Ilha algures no Atlântico com um pico perfeito de esquerda e direita mas com a viagem à Austrália a aproximarse nunca pensei que ainda desse tempo. O swell vinha a caminho por isso no dia seguinte de manhã estávamos todos no aeroporto prontos para esta “missão”. Os surfistas eram, além do Kikas, nada mais nada menos que o Tiago Pires e o Nicolau Von Rupp, dois “senhores” que estão sempre prontos para enfrentar este tipo de ondas. Embarcamos e a meio da tarde já estávamos lá mas o surf estava fora de questão já que se sentia bem um fortíssimo vento on-shore! Ainda deu para dar uma volta à ilha, guiados pelos locais que foram impecáveis connosco a todos os momentos. E, claro, fomos ver a onda. Quando chegámos a minha primeira reacção foi que a onda era realmente muito pesada. Além do arranque ser numa parte da bancada bastante “seca” a onda quebrava a metros das rochas no inside criando um grau de dificuldade altissímo. Ainda nos mostraram outras ondas que quebravam por perto mas o mar estava a crescer e o vento muito forte, por isso não valia a pena entrar e todos optaram por ficar em terra e preparar o dia seguinte.



Apostamos que adorarias estar dentro deste canudo, princiaplemente se os trĂŞs surfistas desta lendĂĄria surftrip estivesse no canal a vibrar contigo.

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] 36 [ Se Tiago Pires estivesse de fato de banho quase que poderĂ­amos dizer que esta sequĂŞncia seria algures pelas Mentawai!




] 39 [ Esta foi uma missão de 48 horas algures no Atlântico mas, apesar de curta, Frederico Morais encontrou o que procurava: tubos pesados para a direita! Mas não pensem que foi uma missão fácil pois houve mesmo um momento que Morais bateu na laje e por momentos se viu numa situação complicada…

Pelas 5 da manhã do dia seguinte já estávamos todos de pé com aquela pica de arrancar e ir para dentro de água. Mas quando chegámos à praia a nossa primeira visão não era o que esperávamos. Não sabíamos se era a direcção da ondulação ou da maré mas o que é certo é que não entrámos logo apesar de se saber que por causa da maré esta onda tinha um “time frame” reduzido já que só dá a duas horas da maré cheia e duas da maré vazia. Alguns bodyboarders que também tinham vindo na viagem foram os primeiros a entrar, mas mesmo eles não estavam a atinar com as condições apesar de serem alguns dos mais atirados do nosso país. Aos poucos as condições começaram a melhorar e deu para perceber que a esquerda era um pouco mais rasa e perigosa enquanto que a direita era mais previsível e perfeita. Seria na direita que eles acabariam por apostar mais, que nesta altura ainda estava com cerca de dois metrões, com alguns sets a fechar a baía. É provável que a onda aguente até aos dois metros e meio mas neste dia e nestas condições estava no limite e em 10 ondas talvez desse para sair de uma, mas mesmo essa exigia muita técnica. O Nicolau foi o primeiro a entrar e o primeiro a dar um tubo, que até foi para a esquerda, e depois um para a esquerda e o Saca e Kikas rapidamente também entraram e começaram a fazer ondas. Apesar das condições estarem difíceis todos fizeram ondas boas mas foi o Tiago quem tirou o tubo do dia, numa bomba. Com um posicionamento muito técnico essa onda foi sem dúvida o momento do dia.


Não há melhor que o ângulo de dentro de água para se perceber a potência, intensidade e tamanho de uma onda. E quando nessa metemos o melhor surfista português de sempre, Tiago Pires, então ainda com mais respeito ficamos pela onda em questão! ] 40 [




Neste tipo de ondas normalmente opto por fotografar na água mas estavam condições tão difíceis que para garantir a matéria escolhi a perspectiva de terra. À tarde ainda fomos ver as ondas de novo mas tínhamos poucas esperanças uma vez que a maré não devia “dar a volta” a tempo. E foi o que aconteceu, não surfamos de novo mas não nos preocupamos muito porque no dia seguinte ia estar mesmo de gala. O vento era mesmo o ideal para ficar off-shore e o mar caía, mas ficava mesmo o tamanho perfeito para aquele pico. A excitação era muita à chegada à praia na última manhã pois estava mesmo como se esperava. As ondas entravam com metro e meio/dois metros, perfeitos. A esquerda não estava a abrir tanto mas a direita estava perfeita mas vinham ondas incríveis. Claramente não era uma onda para qualquer surfista, tinha uma dificuldade elevada, típico de um slab mas para este gurpo era perfeito, eles entraram e eu fui para a água fotografar. O Nicolau era o único que já conhecia o pico de outras viagens e estava a dar grandes tubos com o seu incrível grab rail de backside. É uma onda com canal em que está uma pessoa a surfar e a outra a ver e sentiu-se uma certa camaradagem na água. A luz daquela onda é linda, mas só mais à tarde e nunca tivemos maré para entrar a esse hora. O sul nasce atrás da onda, por isso que só se vê as fotos da onda dentro de água meio em “backlit”, e tenho a certeza que se a maré tivesse batido com um final de tarde e estivesse sol as imagens ficariam épicas. Como só deu de manhã tive se sacrificar o melhor ângulo para não ficar tudo contra luz. Numa das “bombas” que o Nicolau apanhou não me pude posicionar de lado, não apanhando o ângulo de frente para a onda para salvaguardar a qualidade da imagem, tive de controlar um bocado o ângulo.

] 43 [ Como bom goofy, Nicolau Von Rupp não podia deixar de espreitar a esquerda que, apesar de ser um tubo mais curto, não deixa de ser menos intenso e talvez mais perigoso por terminar mesmo em cima de uma rasa bancada de rocha.


O Nicolau era o mais competitivo dentro de água e deu mais duas tocas incríveis, novamente de backside com muita técnica. O Kikas atirou-se muito e deu uma queda grande, antes de apanhar duas lindas. Estava tudo a tentar apanhar as bombas e a meio da surfada o Saca também deu duas tocas mesmo boas. Ao fim de três ou quatro horas a maré começava a ficar mais seca e a onda menos surfável e como já tinha o cartão de memória cheio saí. Foi aí, já quando estava fora de água, que vi o Kikas fazer o momento mais dramático da viagem. Arrancou numa onda mesmo no limite e quando fez um bottom foi “comido” no pior sítio onde podia cair. Pouco depois veio acima e mesmo à distância via-se pela expressão corporal dele que não estava bem, tinha batido no fundo e estava a contorcer-se com dores! Ainda pensei em meter as barbatanas e tentar ir ajudar pois ainda estava de fato vestido mas o Nicolau foi logo lá, metendo-se inclusivamente numa zona pouco segura. O Saca ainda estava na água e também o ajudou a sair e por momentos parecia que tinha sido algo grave. Mesmo o Kikas chegou a achar que não ia conseguir viajar para a Austrália uns dias mais tarde mas foi melhorando, apesar de ter ficado todo negro nas costas. Foi assim que terminou de uma maneira algo forçada uma surfada que até já devia ter acabado, pois a maré não dava para mais. Poucas horas depois estávamos a fazer o check in para voltar para casa, depois de 48 horas, quase ao minuto na Ilha. Apesar de ter corrido bem e de termos tido boas condições e produzido bom material ficou a vontade de voltar e tentar apanhar o slab com condições ainda melhores. E só esperar pelo próximo alerta vermelho... CP_

] 44 [ Olhando para esta foto é fácil perceber porque este slab pode ser considerada como uma das mais pesadas e perigosas ondas da Europa. Claro que Tiago Pires faz a onda parecer um tubo fácil!






A curva de Tomás Fernandes O s ú lt i m o s d o i s a n o s f o r a m d e g r a n d e c r e s c i m e n to pa r a To m á s F e r n a n d e s, ta n to a n í v e l t é c n i c o d e s u r f c o m o e m r e s u lta d o s c o m p e t i t i vo s e e x p o s i ção. E s e d e n t r o d e ág ua a s s ua s c u r va s e s tão ca da v e z m a i s r a d i ca i s, f o r a d e ág ua s e o c r e s c i m e n to d o s e u p ot e n c i a l f o s s e medido por um g r á f i c o e s t e s e r i a i g ua l m e n t e r a d i ca l e a s c e n d e n t e . A sua graduação de júnior directamente para “QS Warrior” foi rápida m a s b e m s u s t e n ta da , o q u e o d e i x a n u m a e xc e l e n t e p o s i ção pa r a s e c o lo ca r e n t r e o s m e l h o r e s s u r f i s ta s d o m u n d o. A ON F IRE “ d i s s e c o u ” o s pa s s o s q u e o t r a n s f o r m a r a m n u m a da s m a i o r e s e s p e r a n ça s d o surf português da actualidade! t e x t o p h o t o s

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O N F I R E

c a r l o s p in t o p h o t o . c o m


Eram 11 horas da manhã num dia de Junho e Tomás Fernandes, Vasco Ribeiro e Nicolau Von Rupp preparavam-se para mais uma sessão de surf na Praia Grande. Seria também um dos últimos treinos antes de mais um campeonato importante, o Ballito Pro, prova de QS 10.000 realizada na África do Sul. Dias antes os três, e muitos outros dos melhores surfistas portugueses, tinham medido forças no mesmo local, onde disputaram pontos da quarta etapa da Liga MOCHE, o circuito nacional de surf. Tomás terminou em 5º lugar, sendo batido por muito pouco pelo eventual campeão da etapa, Eduardo Fernandes. Era um resultado que para muitos seria considerado excelente, mas o surfista da Ericeira tinha objectivos mais altos. Nos últimos anos a sua geração dominou o circuito e a disputa pelos lugares cimeiros restringiu-se apenas a eles e a, mais recentemente, Tiago Pires, o veterano do WCT. Foi em 2012 que teve o seu ponto de viragem, quando o potencial foi transformado em resultados e as dúvidas sobre o seu percurso desapareceram. Resultados abaixo dos 8 primeiros classificados na Liga são agora a excepção, posições que servem mais como lições para evoluir competitivamente do que indicadores do seu talento.

Surf progressivo nem sempre significa aéreos, como podemos ver neste radical reentry na Austrália. | 50 |

Já dentro de água, na Praia Grande, em picos de esquerda e direita bastante incertos com forte vento on-shore e muito “crowd”, Vasco seria o primeiro dos três a fazer ondas, soltando de imediato fortes rasgadas. Segue-se Nicolau, claramente o treinar o seu backside com fortes batidas e finalizações a soltar o tail. Até que finalmente chegou a vez de Tomás, o mais novo dos três que, com um approach mais “clínico”, acerta uma forte batida na zona mais crítica e termina com uma finalização explosiva. A surfada dura cerca de uma hora e meia, com condições a melhorar. O trio vai saindo de água temporariamente procurando indicações do treinador, que observava e captava tudo em vídeo. Para Fernandes a indicação era para sair da sua zona de conforto e manobrar com mais agressividade e progressão. Em conversa, horas depois, o surfista confirmava que esse é o seu maior desafio neste momento. “O meu surf é de rail, não é muito new school, mas essa é uma parte que tenho vindo a trabalhar, estou a tentar fazer um surf mais progressivo e também fechar mais os carves e virar o tail para a frente nas pauladas. Aéreos é uma coisa que eu adoraria fazer mas tenho que trabalhar muito nisso.” E trabalhar é o que mais tem feito, acompanhado pela APS, Tomás trabalha com o mais sólido grupo de treinadores da actualidade em Portugal e quando sai do país tem ao seu dispor o treinador da marca que o patrocina, Richard “Dog” Marsh, que acompanha o team Billabong. Dividindo a sessão da Praia Grande em três heats, Tomás estaria na disputa pela “vitória” contra os seus “adversários de treino” no terceiro (último terço da hora e meia que estiveram na água). Desde que entraram o céu nublado tinha passado a sol radiante, o que sempre garante o aumento da quantidade surfistas na água. Mesmo assim, com um número absurdo de pessoas no pico para um dia de semana, Fernandes conseguiu encontrar o seu lugar no line up e soltou o seu surf como não tinha conseguido até aí. Carves apertados a projectar muita água e manobras nas secções mais levantadas garantiram-lhe o seu espaço e terminou a surfada com uma excelente onda, mostrando potencial de virar qualquer heat a qualquer momento. Depois de uma sessão de visualização de ondas ainda no local os três surfistas ficaram livres de compromissos, mas o dia ainda teria muito para dar. Tiago Pires, Frederico Morais e outros dos seus companheiros de tour entretanto tinham chegado e estavam na água ou a caminho e muito rapidamente assistiu-se a mais um “super heat”.




Uma das características mais vincadas da sua atitude e personalidade, tanto dentro como fora de água, parece ser a falta de pressa, o que não impede que os seus objectivos não se realizem antes do seu tempo. Melhor exemplo não poderia haver que o seu primeiro ano no circuito Qualifying Series, algo que não estava nos seus planos antes do fim da sua carreira júnior. Para o imediato era no circuito Pro Junior Europeu que estava o seu foco e apesar de ter mostrado muito bom surf na Europa no passado 2014 tinha sido um ano fraco tendo terminado em 27º lugar graças a maus resultados nas etapas mais valiosas. Para os 4 primeiros classificados do ranking estavam garantidas vagas no World Junior Championships, a prova que decidia o título mundial de sub20 da WSL, e alguns “benefícios” adicionais para os mais bem classificados. Apenas Vasco Ribeiro, o campeão Europeu, conseguiu garantir a sua presença no evento via ranking mas o facto de se ter realizado em Portugal fez com que outras vagas foram “desbloqueadas”. Teresa Bonvalot e Carina Duarte na categoria feminina, Miguel Blanco, João Kopke e Tomás Fernandes, na masculina, teriam a oportunidade de representar o seu país frente aos melhores do mundo. A vaga de Tomás surgia, tal como a de Carina, por ser o surfista local de Ribeira D’Ilhas, palco da prova, com mais expressão desde Tiago Pires no final dos anos 90, um tipo de estatuto que raramente dá frutos mas que nesta ocasião jogou a seu favor. Foi no fim de Outubro que a prova se realizou, com algumas das melhores condições da história do evento, apesar de já ter passado por locais como a Austrália, Indonésia e Brasil. Nunca baixando do metro e meio e nunca ultrapassando os 2 metros, Ribeira proporcionou um espectáculo único durante vários dias, com o local sempre como figura de topo. Dos quatro surfistas nacionais da prova masculina Fernandes foi o primeiro a vencer uma bateria do round 1. “Estava a perder o meu primeiro heat mas virei nos últimos 5 minutos. Estava a maré toda cheia e era contra o japonês Hiroto Ohhara e o sul africano Matthew McGillivray, que deu um aéreo gigante na última onda e até achei que tinha virado o resultado, mas não foi o caso”. Chegados ao fim do round 3 os surfistas lusos estavam reduzidos a metade, sendo Tomás quem estava

| 53 | Uma manobra clássica de um surfista de linha.

a avançar com mais segurança. As longas direitas serviam de “canvas” para as suas fortes rasgadas e manobras no lip e o conhecimento do pico criava uma combinação “fatal” para os seus adversários. As boas performances continuaram e chegados às meias finais já só se falava português entre os competidores. Fernandes tinha eliminado, Hiroto Ohhara, um surfista que meses mais tarde venceria uma etapa QS 10.000, Miguel Tudela e Soli Bailey, encontrando um nome que já estava qualificado para o WCT de 2015 nas meias finais, Ítalo Ferreira, enquanto que Vasco Ribeiro tinha como adversário outro brasileiro, Deivid Silva. As ondas estavam novamente perfeitas e o primeiro confronto das meias finais, Fernandes VS Ferreira, foi uma das melhores baterias de toda a prova. O heat começou com duas ondas curtas, rasgada e floater contra batida e reentry, ambas em secções pesadas, o que deu a vantagem a Ítalo. Mas isso seria o início da melhor exibição de Tomás no evento e uma das melhores da sua vida. As suas rasgadas, que tinham sido bastante harmoniosas até aí, tornaram-se mais compactas e poderosas e as batidas passaram a ter como “upgrade” o tail solto e muita água projectada. Foi assim a sua segunda onda, que lhe deu a liderança da bateria, e rapidamente fez uma terceira onda, também com a sua nova fórmula, melhorando ainda mais a sua posição. Ferreira respondeu com uma onda surpreendente que lhe deu secções para fazer 10 manobras, variadas entre rasgadas, batidas, um “pop shuvit” e mais algumas manobras no inside para receber 8.83 e recuperar a liderança. Tomás ficou então a precisar de fazer a sua melhor onda da prova até aí para receber uma nota de 9.04 e foi o que fez. A oito minutos do fim entrou mais um set, e o português apanhou uma “bomba”, surfando-a na perfeição e recebendo 9.17, o que lhe deu novamente a liderança. Ítalo ficou a precisar de uma nota alta mas mostrou a sua competitividade e na última onda do heat passou para a frente, roubando parte da festa dos portugueses. Na final Vasco Ribeiro acabava por vingar a derrota do seu amigo e venceu o título mundial júnior.


Para os top4 deste campeonato ficou uma oportunidade única, seeding para competir nas mais importantes etapas do tour de qualificação. “Soube dos wildcard quando estava nos quartos de final e se passasse mais um heat estava garantido. Como passei consegui as vagas e não poderia ter ficado mais contente.” A oportunidade que criou antecipou os seus objectivos por pelo menos dois anos mas no passado Tomás já tinha dado provas de que poderia dar-se bem nesse circuito. No fim de 2013 tinha recebido um wildcard para competir numa das mais importantes provas de qualificação do ano, o Cascais Billabong Pro e no seu primeiro heat de sempre nesse circuito mostrou o seu valor. Em ondas pesadas, em Carcavelos com sets a rondar os 2 metros, só teve uma oportunidade de fazer uma nota boa e não a perdeu, fazendo um reentry numa secção “buracosa” e uma batida vertical para terminar, o que lhe deu o primeiro lugar, deixando atrás de si surfistas de renome, onde se incluía o ex-campeão do mundo CJ Hobgood. Apesar de ter mostrado surf do mais alto nível nesse heat não considerou esse um ponto de viragem na sua carreira mas sim uma prova em que competiu uns meses mais tarde, o WQS Surf Open Acapulco, uma prova onde chegou ao round 6. “Era o meu segundo QS de sempre e tinha 17 anos. Acho que avancei quatro heats que eram bastante difíceis, e foi aí que vi que era capaz, que tudo é possível, era mais uma questão de acreditar em mim e nas minhas escolhas e não pensar tanto nos adversários.” Apesar de tudo, e de já não ter praticamente nada para provar em Portugal, o seu primeiro ano no QS não foi fácil. Das 6 etapas em que competiu só conseguiu mostrar o seu melhor surf em duas, no Oakley Lowers Pro em Trestles, na Califórnia, e em Ballito. Na África do Sul fez inclusivamente uma onda excelente para avançar, batendo adversários com experiência como Granger Larsen e Jordy Smith e conseguindo largos elogios de quem acompanhou. Na transição do meio do ano ocupava a 95º posição, o que lhe poderá dar acesso a mais provas valiosas. Sobre a experiencia comentou que “estar os melhores 100 surfistas do mundo é óptimo. Acho que fiz bom surf nos primes todos, tirando o Brasil. Ballito foi um campeonato fantástico para mim, tinha um dos heats mais difíceis com nomes conhecidos e todos a fazer bom surf. Consegui fazer o meu surf e passar o heat. Sem dúvida que naquele nível temos que dar tudo em todos os heats.”

Quando se fala de objectivos Fernandes não se foca tanto como seria de esperar em resultados e rankings. “O meu sonho é entrar no WCT mas acima de tudo é crescer bastante como atleta e ser visto como um bom surfista internacionalmente. Em competição tudo pode acontecer em 20 minutos, toda a gente é capaz de ganhar a toda a gente, o resultado pode ser justo ou não. Mas mais importante é estar fazer free surf e gostar das ondas que faço, conseguir olhar para mim e para os outros, ver as diferenças e saver o que tenho tento melhorar.” E como tem sido até aqui, a sua progressão continua e tudo indica que os objectivos vão continuar a ser realizados sem pressa, a seu tempo, ou um pouco antes...

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LIFESTYLE IMAGE O carve é um dos seus pontos fortes, e está cada vez mais compacto. MAIN PIC Um bom Spotlight não pode passar sem um bom aéreo, surf new school na Austrália.



Frederico Morais in Time to Surf photo by carlospintophoto.com




Kanoa Igarashi in Love in Santa Cruz photo by carlospintophoto.com


Pedro Boonman in Close Call photo by carlospintophoto.com



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n c e Joackim Guichard in Power House

photos by carlospintophoto.com



s u r f JoĂŁo Moreira in Carca Flights photo by Francisco Santos

lifestyle photo by Filipe Jervis

Hanging...




l i f e s t y l e Unknown in Summer Session photo by carlospintophoto.com

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João Alexandre “Dapin” in Winter Session photo by Ricardo Casal


Von Rupp and Ribeiro in Staring to Perfection photo by carlospintophoto.com



Dane HALL in Slob photo by Tobias Ilsanker



s u r f Vasco Mónica in Laying Back photo by Jorge Matreno

l i f e s t y l e Luís Perloiro in Flat Days photo by carlospintophoto.com



Guilherme Fonseca in Speed photo by Tobias Ilsanker




Miguel Banco in Spining Mode photos by carlospintophoto.com


Vasco Ribeiro in Like Butter photo by carlospintophoto.com



JoĂŁo Guedes in Dominican Paradise photo by carlospintophoto.com



Filipe Jervis in Nature Sync photo by carlospintophoto.com



*Surf é tudo!


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