Nós Vozes Anônimas

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NÓS VOZES ANÔNIMAS



ENSINO MÉDIO 2º ANO – EDEM

NÓS VOZES ANÔNIMAS Isabel Fernandes Isabela Manasfi Letícia Schimmelpfeng Maria Clara Engel Marcela Serpa Maria Eduarda Karini Mariana Costa Lima Sofia Jordão Stephanie Szpilman Victoria Almeida

Rio de Janeiro • 2016


© Copyright EDEM, 2016 © Copyright / textos e ilustração, alunos do 2º ano do Ensio Médio participantes da oficina de produção editorial, 2016 Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 9.610, de 19.02.1998. É proibida a reprodução total ou parcial sem a expressa anuência da editora e dos autores. Produção editorial e gráfica Daniella Riet

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

Nós – Vozes Anônimas / contos e poemas em tempos de intolerância Leonardo Boff. - 1. ed. - Rio de Janeiro : Mar de Ideias, 2016. 72 p. : il. ; 21 cm. ISBN 9788560458523 1. Contos brasileiros. 2. Crônicas brasileiras. 3. Feminismo. 4. Mulher. 5. Sociedade. I. Título. CDD: B869.3 B869.7

Todos os direitos reservados, no Brasil, por: Mar de Ideias navegação cultural Ltda. tel.: (21) 3681-6550 contato@mardeideias.com.br www.mardeideias.com.br


Projeto Oficina de Produção Editorial Estamos vivendo em tempos de crise e intolerância. Questões que envolvem a política, meio-ambiente e direitos humanos estão sendo colocas à prova de decisões éticas. Como em todos os anos, a EDEM escolheu um tema para nortear suas atividades pedagógicas de todos os segmentos. E acompanhando este processo, a turma de Oficina de Produção Editorial 2016 escolheu trabalhar na temática política o empoderamento das mulheres, meninas e crianças, questionando a intolerância, o estereótipo, o machismos e os limites da liberdade de ir e vir. Aqui está um trabalho de profunda delicadeza, sensibilidade e criatividade, mas acima de tudo, uma expressão crítica e madura, de pessoas que aprenderam a questionar.


Sumário ÚTERO VIVO – 8 Sofia Jordão, Isabel Fernandes e Isabela Manasfi Liberdade – 11 Corpo de mulher – 12 Mãe Solteira – 14 Só Mais Uma Maria – 17 Uma e Outra – 19 NOCIVO – 22 Victoria Almeida e Mariana Costa Lima MULHER DESIGUAL – 30 Maria Clara Engel, Marcela Serpa e Duda Karini Quem sou eu – 32 Voa – 34 Males – 35 Rotina– 36 A Flora – 37


INFÂNCIA PERDIDA – 38 Stephanie Szpilman Ausência materna – 40 Em busca dos sonhos – 41 Coração asperger – 42 A boneca e a bipolaridade paterna – 44 A bruxa má de Joana – 48 A garota dos ovos de ouro – 50 Xodozinho do papai – 52 O mais novo nas correntes – 54 INTOLERÂNCIA – 56 Letícia Schimmelpfeng COMPLICAÇÕES – 66 Duda Karini Vênus – 68 Àquela altura – 70 A fadinha – 71 Maria – 72 Elemento fogo – 73


ÚTERO VIVO Isabela Manasfi texto Sofia Jordão texto Isabel Fernandes ilustrações



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Liberdade Um dia disseram pra mim Que o feminismo impõe pra que todas as mulheres sejam do mesmo jeito: Não pode se depilar. Muito menos se maquiar. Gostar de “macho”, nem pensar. O Cabelo tem que raspar. Sutiã? Não pode usar. E com o tempo percebi que o feminismo nunca vai me obrigar a nada. Porque eu posso ser como eu quiser. O que obriga mesmo é o machismo, A ser bela, recatada e do lar… Liberdade de escolha, isso sim, é o feminismo.

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Corpo de Mulher Em uma pequena cabine de um banheiro do shopping, Rosa amamentava seu filho, que tinha apenas quatro meses. Era terça e ela precisava sair, mas não tinha com quem deixar o bebê. Então, lá se foi ela, empurrando o filho no carrinho, na luta para conciliar ambas as tarefas: cuidar do bebê e encontrar o que precisava. Eram quase quatro horas quando ele começou a chorar… Era fome. Claro! Ele sempre mamava a essa hora. E foi aí que a verdadeira batalha começou. Ela sentou-se num banco e pôs o filho ao seu colo da maneira mais discreta que podia. Não passou nem um minuto quando um segurança se aproximou e disse: “Senhora, faça um favor e cubra-se, os clientes estão reclamando.” E assim ela o fez, não queria discutir com o guarda, e muito menos ser expulsa do local. Rosa tentava ignorar os olhares das pessoas, cheios de julgamento, como se ela estivesse fazendo algo indecente. Já haviam lhe dito para usar a mamadeira, mas ela não queria, tinha medo que o filho se acostumasse com aquilo e não lhe parecia natural... Era algo tão horrível assim alimentar seu próprio filho? O paninho incomodava a criança, que ameaçava chorar de novo, então se descobriu. Um homem que passava falou: “Nossa, que nojento, vá fazer isso em outro lugar, tem crianças aqui, não podem ficar vendo seus seios! A senhora não tem vergonha?” Ela quis ficar, quis mesmo, mas a vergonha foi maior, então, dirigiuse até um banheiro, com os olhos cheios d’água e o filho no colo aos prantos. E em uma pequena cabine de um banheiro do shopping, Rosa amamentava seu filho, que tinha apenas quatro meses. Só quando o filho já havia dormido, e ela se atreveu a sair do banheiro, passou de novo em frente ao banco onde que havia sentado, e viu que atrás dele havia uma banca de jornal, com dezenas de mulheres seminuas nas capas das revistas das quais ninguém falava… Porque afinal, quando se trata do corpo de uma mulher, ou a sociedade a julga ou objetifica. 12


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Mãe Solteira Ela engravidou. Não era comprometida, pelo contrário, sempre prezou por sua liberdade. Não sabia quem era o pai, nem fazia questão de saber. O filho seria dela. E ninguém precisava se meter. Era jovem, mas era corajosa. A família achava estranho, como poderia ela criar uma criança sem pai? Ela daria um jeito, afinal, podia fazer isso sozinha. Era melhor do que ter um filho com um pai que não fosse presente. Não pensou em abortar? Não, ela realmente queria ser mãe. Ela poderia arranjar um namorado? Para quê, se ela definitivamente não precisava de um homem? Os colegas do escritório achavam estranho, como poderia ela trabalhar e ser mãe ao mesmo tempo? Ela ficaria em casa perto do bebê nos primeiros meses, depois, deixaria a criança na creche durante as horas de trabalho. Mas não vai atrapalhar na sua carreira? Claro que não! Ela ia trabalhar tanto quanto qualquer um naquele lugar, e quem sabe até mais... As amigas achavam estranho, como poderia ela ter vida pessoal e ser mãe? Ah, ela daria um jeitinho, sairia menos, mas ela não ia parar de viver, afinal, sua vida seria seu filho também, ele não simbolizava um castigo para ela.

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Mas não seria duro perder as noites de sono, as festas, ter que cuidar da casa? Claro que seria duro! A maternidade é dura, independente da estruturação da família em que ela se passa. Mas ela não se sentiria em uma família incompleta? Óbvio que não, aquela era a sua família, ela e o filho já estava perfeito. Mas ela não ouviria coisas ruins por ser mãe solteira?! Sim, muitas, ouviria que “foi fácil fazer, agora tinha que sofrer as consequências”, ouviria que estava “acabada, e assim nunca encontraria um homem”, seria chamada de “puta”, “mulher da vida”, “safada” e “descuidada”... O tempo passou. O bebê nasceu. E superando todos os rótulos que lhe foram dados, a “mãe solteira” foi tão mãe quanto todas as outras.

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Só Mais Uma Maria Maria foi estuprada. E quando se viu jogada numa vala Suja, sangrando e marcada Teve que suportar homens engravatados Lhe perguntando se ela tinha culpa do acontecido. Se o fato de estar bêbada ou o tamanho de suas roupas Era uma maneira de ela ter concedido. Meus caros senhores, não me levem a mal Mas quem lhes deu o direito De intrometer-se no assunto procurando outro culpado Se não o homem que aquilo havia feito? Maria foi estuprada. Não pelas roupas ou pela bebida Mas por um homem, desgraçado Que saía impune enquanto ela Pagara com sua dignidade, seu corpo, e quase com a própria vida.

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Uma e Outra Uma se chamava Luisa. Era uma “boa menina” de classe média, tinha casa, comida, amor… Criada na Zona Sul com escola particular, aulas de balé, inglês e tudo o que tinha direito, a vida planejada desde que nascera: ia estudar, se formar numa boa faculdade de Arquitetura ou Medicina, casar com um “bom sujeito”, ter uma carreira promissora. “Uma vida descente” como seu pai costumava dizer. Karina, a outra, era a filha da empregada. Como já se imagina, não havia nascido num lugar tão privilegiado assim. Cresceu em meio a tiros, brincava na rua, cuidava dos irmãos mais novos, lavava, passava, cozinhava, limpava… Aos olhos da sociedade era, e sempre seria, só mais uma “outra”. Planos? Ela tinha muitos, mas o que lhe faltavam eram as oportunidades de realizá-los, para que deixassem de ser apenas sonhos. Ambas foram crescendo, cada qual em seu lugar. Porém, nem bem haviam chegado aos dezesseis quando tiveram seus planos interrompidos pela gravidez. E com a gravidez vieram os julgamentos, e com os julgamentos, o desespero. “Não conta pra ninguém...” “Grávida?! Metida com rapazes ainda tão jovem!” “Mas e a sua carreira, Lu? Não pode parar de estudar, minha filha.” “O pai sumiu, não quer saber do tal bebê… E ela já tem 3 irmãos pra cuidar em casa.” “Não deixa eles saberem na escola!” “NÃO conta pra NINGUÉM!” “Fazer foi fácil, agora aguenta!” “Tão cedo e já teve a vida estragada, coitada...” “Filha, não temos dinheiro pra mais uma criança na casa...” “NÃO CONTA pra NINGUÉM!” “Tava no baile funk, deu no que deu...” “Ela tá grávida? Quem é o pai? Como não sabe? Isso é coisa de vagabunda!!” “NÃO CONTA PRA NINGUÉM!” Mas como não contar se todo mundo já sabia? Luisa não estava preparada para ser mãe. E como poderia? Não poderia mais estudar. Nem saberia cuidar de uma pessoa, ela era tão jovem pra ser mãe…

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Karina também era fruto de uma gravidez acidental. Karina não tinha pai… Ela era negra, pobre, não ia mais pra escola. Podia achar um emprego de doméstica, ou talvez até como caixa de supermercado. “Mas quem vai ficar com os meninos? Quem vai cuidar da casa?” Ela era tão jovem pra ser mãe… Que saída elas teriam se não interromper? “E se eu NÃO QUISER ter?” “E se eu NÃO PUDER ter?!” “Mas NÃO PODE abortar, você é louca?” “Deus não quer isso, vai acabar com uma vida!” “Isso é pecado, menina...” “ Mas é ilegal!” “É muito caro...” “Não é seguro!” Não, não era seguro. Apesar de viverem em realidades completamente diferentes, as duas tomaram a decisão mais dura e responsável de suas vidas. Luisa foi para uma clínica cara no Centro da cidade, sentiu dor, sentiu medo, sentiu de tudo... e no fim do dia, voltou para casa e chorou, embora consciente de que havia tomado a decisão correta para ambos… Karina foi levada a um “açougueiro” do morro, e numa sala fria e suja sentiu dor, sentiu medo, sentiu de tudo… e numa poça de sangue morreu às custas da sua pobreza, sua cor... morreu por ser mulher, deixando um mundo onde umas abortam e as outras morrem.

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NOCIVO Victoria Almeida texto Mariana Cherulli ilustrações



Gritar palavras de ódio à única alma, Único corpo, Único ser Que você é. Quebrar espelhos na tentativa de destruir a si mesmo E se encontrar cheio de corte, mas sem resolução.

Você, Milagre imperfeito, Criança livre, Estranha criatura, Veja através de olhos emprestados Sua absoluta beleza.

Compreenda que seu sonho de infância ainda é válido. Que o passado pode voltar a bater em sua porta Como tantas vezes faz. Mas você Criou raízes profundas na terra mais fértil, E nem a chuva mais torrencial Há de te mover.

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Belas Borboletas

Beijando Besouros

Buscando BenevolĂŞncia

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Queria ser pirata Mas devia ser princesa

Queria jogar futebol Mas devia brincar de bonecas

Queria mais um pedaço de pizza Mas jå havia comido dois

Queria usar regata Mas nĂŁo havia se depilado

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Queria sair de vestido Mas ia voltar tarde

Queria ir na festa Mas nĂŁo tinha acompanhante

Queria nĂŁo usar sutiĂŁ Mas a blusa era muito transparente Queria ser livre Mas era mulher

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Os efeitos colaterais da adoração Por que você sempre faz descaso do amor? É um método de proteção para quando eles não te amarem de volta você poder fingir que não dói? Frágil garota, você já é amada por tantos, tantos estes que não entendem porque tanto ódio próprio. A lenda diz que quando você abandonou sua amante, você foi a única que se quebrou. Isso me faz lembrar como tribos indígenas usavam as peles daqueles que matavam. Faz sentido ela usar suas roupas. Quando tudo se quebrou ao seu redor, você se perguntou se você foi o martelo ou a mão que o segurou? Eu quero saber de tudo, me conte o que você diz a si mesma quando a insônia chega sem aviso prévio e você não consegue parar de pensar sobre todas as coisas que você viu acontecer e que podia ter evitado. Você diz que superou, que são águas passadas, mas você conseguiria dizer isso sem chorar se você entrasse em uma sala na qual ela está beijando outro alguém? Que abismo deve ser saber que você tem mais medo da felicidade do que de morrer. Você está marcando os pontos de um jogo que já acabou. Você não sabe que no retrovisor, as pessoas parecem mais próximas do que realmente estão?

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MULHER DESIGUAL Maria Clara Engel texto Marcela Serpa ilustrações Duda Karini ilustrações



quem sou eu mãe, o que essa mulher não passou? cuidou de mim, me criou sofreu, mas lutou eu, não fui a melhor filha fazia manha, desobedecia mas cresci e tudo mudou quando era criança tinha vários amigos brincava bastante de boneca e de carrinho mas então eu cresci e descobri que tinha que mudar os meninos se afastaram de mim e as meninas só sabiam me esnobar não entendia porque me tratavam assim até alguém me dizer "você tem que ser mais feminina ou nunca vão gostar de você"

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raspa essa perna compra um vestido passa maquiagem que serei seu amigo mas não fala alto sua opinião não conta e se mexerem contigo a culpa é da sua roupa vai pra cozinha pare de chorar o mundo é assim mesmo e não deve reclamar que mundo é esse onde não tenho voz? vou falar bem alto sou valente, feroz não vou me calar não vou me esconder lutarei por meus direitos lutarei para vencer

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voa mas voa pra bem longe foge desse mundo voa pro horizonte segue o sol até o infinito não pára de voar até o mundo voltar a ser bonito abra suas asas espalhe sua cor e devolva para o mundo seu querido amor . ° • . • ° . °

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males o escuro esconde a alma corrompida a perna que foi aberta a dor que foi sentida o vento assobia a abafa o som do desespero a luta de punhos e dedos a fúria e o medo a noite grita e fingem não ouvir a ajuda não está por vir e me deixam aqui sem vida as paredes testemunham meu olhar um borrão minha voz silenciada e o vermelho no chão e virei notícia mais um problema pra polícia indefesa e usada assim e agora, quem vai lutar por mim?

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rotina "Pegou a bicicleta e foi jogar bola Cumprimentou os outros, chegou bem na hora Domingo de sol, pelo campo corria E em seu corpo o suor escorria Depois do jogo um mergulho no mar Tirou a camisa pra se refrescar Chegou em casa, tomou banho e se deitou E no dia seguinte bem cedo levantou Com seu carro bem grande foi para o escritório Pegou seu café e ajeitou o suspensório Em sua mesa trabalhou o dia inteiro Bianca, a querida chefe de bombeiros"

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A Flora A Flora muda eu era mudei na primavera cresci me abri me viram e senti com o vento voei tĂŁo longe me encontrei meu corpo vandalizaram meus espinhos arrancaram minhas pĂŠtalas murcharam e no lixo me jogaram e assim minha vida minha luta meu fim

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INFÂNCIA PERDIDA Stephanie Szpilmann


“Vinde a mim, minhas criancinhas. O paraíso está aberto a todas elas” – dizia Cristo. Essa frase tem mais de dois mil anos. Até o século 19, havia o forte hábito de ser cristão. Porém, por que os direitos infantis só surgiram nos anos 1990? Por que ainda muita gente se acha na razão de maltratar uma criança? Stephanie Szpilmann


Ausência Materna Rafael tinha tudo: comida, roupas, brinquedos, escola e solidão. Desde que nasceu, escutava gritos de sua mãe que não queria jamais uma criança, ele nunca conheceu seu pai. Então, desde bebê, havia de ir à escola, via a mãe somente na hora de dormir e fim de semana ela passava dormindo. Rafael queria a sua atenção, tentava chamar sua mãe para brincar, ver desenho, fazer cookies, mas a mesma só trabalhava e dormia na vida. Rafael tinha avó, mas não a conhecia, vivia no asilo e sua mãe se recusava a apresentá-la a ele. Um dia, Rafael começou a fazer o mal: arranjava briga na escola, tirava nota baixa, não tinha amigos, aprendeu a usar uma arma. Mesmo assim, sua mãe nem uma palavra dava ou um olhar, mas dava a ele brinquedos para que parasse de “fazer coisas erradas”, quando na verdade era de encher o saco. De repente, sua mãe morreu em um acidente e sua avó não tinha como cuidar dele. Ele foi para as ruas despreparado. Mimado e aos vinte anos de idade, ele não era mais uma criança adorável, mas sim, um monstro fruto da criação de sua mãe.

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Em busca dos sonhos Mais uma vez, na única televisão do orfanato ia começar aquele conto de fadas – “Rapunzel”. Janaina assistia com tamanha curiosidade ao filme. A heroína da história tinha um cabelo de vinte metros de comprimento. Escalava nele, escovava, se divertia com ele e Janaina achava curioso uma mulher com tamanha cabeleira. Colocou a mão no pescoço, bem na nuca, não sentia seu cabelo e, sim, fiapos de dez centímetros. – Só mesmo conto de fadas para ter algo mágico como cabelo comprido... – Essa era a frase da órfã brasileira.

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Coração asperger Angélica era aspie – sua mente raciocinava diferente, era uma mente diferente. Na escola, era uma menina sozinha, não tinha facilidade em se sociabilizar como as outras crianças, preferindo os adultos que puxavam conversa. As crianças faziam bullying com ela por agir diferente, por exemplo, gostava de girar, pular, rolar e amava tudo que era redondo. Um dia, a menina bateu no colega por ele chamá-la de algo que não gostava. A professora brigou com ela e mandou que pedisse desculpas ao menino. O menino? Safou-se. Mas que culpa tinha Angélica se ela não consegue se sociabilizar, muito menos argumentar contra. Sem saber se defender com palavras, usou a força. A culpa era do menino também, que começou a provocá-la sabendo que ela não sabia se defender. Ele começou. Devemos ensinar os aspies a não agredir e tentar argumentar, mas que se façam as outras crianças entender isso e não começar briga, pois não é certo com ninguém.

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Mas a professora não sabia o que era a Síndromo de Asperger e culpava Angélica pela agressão ainda mais com a desculpa: “Você quando bate, perde a razão.” Mas, de quem começa a provocar uma pessoa que não sabe se socializar e nem argumentar... isso não seria uma covardia? Hein? Certo dia, Angélica foi pra faculdade e logo chegou um rapaz que se apaixonou por seu jeito meigo e inocente, e então ficaram juntos. E o provocador do bullying? Por sempre se safar das encrenca que se metia e sem receber limites dos pais, virou bandido.

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A boneca e a bipolaridade paterna Leo era um menino diferente dos outros. Tímido, frágil, sensível e amável, diferente dos outros meninos de sua idade que eram brutos, bocas-sujas, fortes e agressivos. Infelizmente, hoje em dia, muitas crianças falam palavrão e assistem pornôs com permissão dos pais. Leo tinha uma amiga de situação financeira melhor, mas não sabia disso, a menina escondia para poder fazer amigos. Ela havia viajado com os pais pra a Europa e quando voltou trouxe um presente ao amigo: uma boneca. Era uma boneca de pano super bem feita: usava um vestido caprichado e até touca tinha. Ele ficou muito feliz, afinal, ele sempre quis uma boneca. Agradeceu à amiga com “muitos obrigados” e a colocou na mochila, pois não era sexta-feira, o dia de trazer novidade à escola e a professora mandou guardar. Leo só tinha pai, pois a mãe morreu no parto. Só que esse pai era todo bruto, agressivo, forte e boca-suja. Tentava ensinar o filho a ser assim, como a maioria dos meninos modernos, mas Leo recusava-se e sempre tentava fugir quando o pai ia lhe bater ou mostrar um pornô.

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O pai sempre o buscava na escola, e depois o deixava em casa com macarrão instantâneo já pronto. Depois do trabalhar, ia beber e voltava pra casa meio grogue. Era um apartamento simples, um mero kitnet onde só havia um quarto, banheiro e cozinha no mesmo cômodo. O menino sentava no chão pra estudar. Chegou em casa e logo foi deixado sozinho. Tirou a boneca da mochila e finalmente pôde dá-la aquele abraço gostoso e começar a “cuidar” dela como sua filhinha. Bateu nove horas e o pai chegou em casa sem passar no bar, pois recebeu reclamações por deixar o filho sem comida e trouxe uma quentinha do restaurante a kilo. Ao ver o filho abraçado à boneca, seus olhos ferveram de raiva e gritou: – O que você está fazendo com essa boneca, viado! O menino assustou-se e abraçou mais ainda a boneca. – Minha amiga me deu de presente, papai. – Ah! Ela deve ter te dado, sabe por quê? Você é tão frutinha e fraco que todos te confundem com uma menina. – Mas papai, eu sou um menino. – Meninos não brincam de boneca! – pegou o chinelo e agarrou o menino, fazendo-o soltar o brinquedo. – Sempre soube que era um viado! Nunca se interessou pelos pornôs que te mostrava. – Mas papai, sou criança ainda pra ver isso. – Cala a boca! É desde cedo que se aprende! E assim ele tirou a camisa de manga comprida da criança, naquele dia de inverno e começou a bater com o chinelo nele. Já que não achou o suficiente, pegou um cinto com fivela e bateu nele.

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– Ai!!! – Filho meu não é viado! Filho meu vai ser homem de verdade. E assim deu vários chutes no menino em posição fetal, socou seu rosto, arrancando sangue de seu nariz e um dente. Com raiva, o pai saiu do apartamento e trancou a porta. *** Mais tarde, meia-noite, o menino já havia se lavado e cuidado de seus machucados sozinho, como sempre fizera por não ter mãe. Como era um kitnet, só havia uma cama de casal. Pai e filho a dividiam. O pequeno teve tanto medo de deitar nela e o pai bater nele de novo, que decidiu deitar no chão, abraçado à boneca. Pensava “Eu sou uma vergonha pro meu pai, nem cama mereço, não mereço nada, muito menos amor. Vou embora assim que puder, para meu papai poder ter um filho melhor e ser feliz. Eu amo ele e não posso ser egoísta e não pensar que há um erro na vida dele que não o deixa ser feliz: Eu”. Eram duas da manhã, Leo já havia dormido e seu pai voltou da rua. Por sorte não estava bêbado, mas fumou um pouco. Estava mais calmo agora. Vendo o filho dormindo no chão abraçado à boneca. Suspirou e o pegou no colo, colocando-o na cama e cobrindo-o confortavelmente. O menino abriu os olhos por um instante, tempo suficiente para o pai perguntar: – Por que foi dormir no chão, filho? É frio, duro e você ia ficar muito dolorido pra ir à escola de dia. O menino apenas respondeu:

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– Pelo seu bem, papai – e adormeceu. O pai, com um olhar arrependido, deu-lhe um beijo no nariz e, olhando para o porta-retrato na mesinha ao lado da cama, falou carinhosamente: – Me perdoe, Mariana. Eu a perdi e perdi nosso filho. Deitou-se na cama abraçando seu pequeno, chorando arrependido.

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A bruxa má de Joana Joana amava seus pais, ambos trabalhavam de segunda à sexta de manhã cedo e chegavam em casa às 10h. Joana ficava em casa com a avó, que deveria cuidar dela, mas fazia exatamente o oposto. O que Joana fazia era chamado de intolerável ou insuficiente. Brincava com suas bonecas. Quando gritava de alegria ou tristeza por se machucar, lá vinham as chineladas. Sem querer, quebrou o copo de gelatina e lá veio o chinelo. Errou uma questão no dever de casa, lá veio chinelo. Não comeu os vegetais, e lá veio chinelo. Era tanta chinelada que a pele alva de Joana era vermelha de tanto apanhar. Contava para os pais, mas diziam: – Entenda sua avó, querida, ela já está velha, cansada, logo vai morrer, entenda ela filhinha.

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– Mas, ela me bate e se ela está cansada, por que não chamam uma babá? – Você não sabe filha, existem várias babás que maltratam crianças, sufocam, agridem. – Mas a vovó faz isso. – Pelo menos ela é sua avó e não uma estranha. – disse o pai – Entenda que ela já está velhinha, filha, logo ela vai pro céu. Joana dormindo naquela noite rezou: – Querido, Papai do Céu! O Senhor pode levar logo a alma de minha avó? Não sei se ela merece o céu mesmo, aí não é lugar de pessoas más, não é mesmo?

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A garota dos ovos de ouro Ster era uma bela criança, dotada de inteligência, solidária, dadivosa e bondosa. Porém, a vida foi cruel para esse ser tão puro. Sua mãe engravidou dela a fim de obter marido rico, seu pai, um senhor de 65 anos. Mesmo grávida de filha legítima, sua mãe não obteve o que queria, mas um prêmio de consolo: a pensão. Todo mês, a mãe de Ster ganhava uma pensão, que era para a menina e gastava em seu próprio benefício. Salão, jóias, roupas de marca, vaidades. Sua menina, como todas as garotas, tinha o ímpeto de ser “bonita” como a mãe, porém, suas roupas eram de camelô, seus calçados apenas chinelos, seu penteado apenas um rabo de cavalo baixo e suas bonecas dadas por parentes. Ela – naquele bairro de classe média – era a menina mulamba de mãe fina. Eram como a chamavam. Imaginavam: “Como uma mulher tão bem arrumada não arruma sua menina?” As feministas diziam que ela estava sendo ela mesma, porém não. Sua mãe era morena, de olhos castanhos pequenos e cabelos negros, que pintava de loiro, muita maquiagem e academia. Beleza artificial.

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No entanto, Ster era linda de verdade: olhos enormes e verdes, cílios largos, lábios carnudos, cabelos loiros escuros, um rosto simétrico que lembrava uma boneca de porcelana. Na pré-adolescência, não se achava assim. Era mal tratada, pois sua mãe não lhe ensinava os cuidados femininos. Vivia pedindo para ir ao salão, sua mãe prometia, mas não cumpria. Em sua mocitude, sua empregada a ensinou os cuidados que deveria ter uma vez por mês: naqueles dias. Foi sua tia que ensinou a tomar banho sozinha. Sua melhor amiga que lhe ensinou a depilar-se, passar maquiagem e que a levava ao salão. Com o apoio de amigas, sentia-se bem. Em casa, mal, pois sua mãe a repudiava. Seu pai estava doente e morrendo. O velho, toda vez que via a filha, era a criança mais bela e feliz. Porém, era farsa da mãe que a enfeitava e obrigava a mentir. Mas dessa vez, no hospital, Ster deu o último adeus a seu pai, toda enfeitada e bela, pelas amigas e não por sua progrenitora. O velho deu o último suspiro, Ster deixou seus parentes cuidarem de tudo. Estes parentes sabiam o que sua mãe fazia, porém nunca a impediram. Não a consideravam da família porque era “filha fora do casamento” e, apesar de aparentar europeia, era filha de uma morena, de uma mulher de classe pobre, sem cultura e que dançava funk. Porém, Ster era culta, conhecia história, biologia, música, cinema e tecnologia. Conhecia questões atuais e éticas, principalmente filosofia. Ster não era como a mãe. Isso a família não considerava, sua mãe era estranha, ela não deveria ser uma. Ao chegar em casa, malas na porta estavam a sua espera, e sua mãe gritou: – Não ganharei nada com você aqui. Agora que seu pai morreu, não existe mais pensão. Suma! A porta foi trancada e Ster, de quinze anos, foi deixada abandonada na rua, no frio.

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Xodozinho do papai Daniel sempre fora um menino bonito desde o primeiro aninho de idade. Encantava a todos com sua delicadeza e bondade. Era órfão: todos no orfanato o chamavam de “viado” por ele ser mais delicado e possuir longos cabelos loiros cacheados. Isso chamou atenção de um senhor de negócios, rico e poderoso. Simplesmente do nada, ele adotou o menino. Quando levou o menino para sua casa, lhe deu o que nunca teve: brinquedos, um quarto próprio, comida gostosa, escola, roupas da melhor qualidade. Viajou com ele para vários países, foram até para a Disney e fizeram compras. Deu tudo ao menino, até educação e limite. Deu tudo que poderia ser considerado o melhor pai do mundo, porém... Naquele momento, Daniel estava escondido debaixo de sua cama com medo de seu pai. Ele estava tendo outro acesso de loucura. Daniel estava com muito medo e agarrado a seu beanie boo pinguim nos braços, com certeza uma pelúcia bem cara. Tudo que ele tinha, amor e carinho era devido à um monstro. – Gatinho, fiu-fiu, vem cá gatinho! Papai tem uma surpresa para ti. Daniel foi para o canto do espaço, procurando não fazer barulho, porém não adiantava, seus dentes tremiam. 52


Logo, a porta se abriu. Poderia esse ser um pai cauteloso como qualquer um que entra no quarto do filho à noite, mas não... – Filho, está muito frio, graças ao La Niña. Tudo está congelando e não estamos preparados para o inverno. Deixe teu pai vir te aquecer. Era verdade, estavam na época do La Niña, Santa Catarina estava mais fria que nunca. – Filho, cadê você? Eu sei que está com frio. Daniel tremia, estava gelado, nada aquecia. Não aguentando a solidão, se retirou debaixo da cama e se aproximou do pai: – Tô com frio, papai. – Oh, meu pequeno precioso! Ele o pegou no colo, acariciando-lhes os cabelos para relaxá-lo. Carregou-o até seu quarto, embalando-o como se fosse um bebê, depositou o pequeno na cama. Diretamente, tirou as roupas do menino, até as íntimas e, em seguida, o mais velho começou a tirar as suas. O menino se assustou: – Papai? Por favor, não! – Eu quero apenas esquentá-lo, tesouro. – Eu não quero! – Daniel gritou. O pai, que já havia tirado toda a roupa, principalmente as íntimas, lhe deu um bofete e jogou o pinguim longe. – Pare de agir como uma criança mimada! Eu lhe dou tudo, tudo! Você não me dá nada em troca! Deixe de ser ingrato e me agradeça logo! O menino sabia o que isso significava, deitou na cama de bruços. – Bom menino! Somos uma dupla feliz, não somos, meu pequeno príncipe? Naquela noite fria de inverno de La niña, Daniel – uma mera criança – foi tomada por um adulto muito maior, a fim de ambos se aquecerem.

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O mais novo nas correntes Leo era um simples menino, vivia no subúrbio, bairro de classe média. Com apenas seis anos, vivia indo pra escola sozinho. Num desses dias, o pior aconteceu. Um mafioso misterioso se aproximou e o levou a seu navio particular. Leo foi para outro país e seus pais sem saber de nada. *** – Rápido! Eu preciso do meu café da manhã! Já! – gritou seu mestre de 25 anos, dono de riqueza, e de um alto posto na máfia que vivia num casarão no norte dos EUA. – Já vai, mestre. – disse Leo não querendo sair da cozinha. Era outono, estava frio e o menino vestia apenas uma cueca de algodão. Só o calor do fogão o aquecia, ele dormia ali mesmo. – Pirralho! – gritou o mafioso. Leo montou a bandeja, foi até a sala de jantar e montou a mesa, algo pesado para sua altura e fragilidade. Era magro e miúdo. Já ia se retirar pra cozinha, quando:

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– Espera, pirralho! O menino olhou para o mestre e ficou quieto: – Eu vou comer essa comida, se não estiver boa, vai sofrer as consequências! O menino ficou lá, com medo de qualquer reação do mestre. Ao terminar, exclamou: – Olha, filho, a comida estava boa, mas há um detalhe... – Qual? – perguntou a criança. – Que bebida de merda é essa?! – gritou furioso. – É Toddynho. – respondeu tristonho. Só por causa disso, o menino levou uma surra. Seu mestre não gostava de tal bebida. À noite, o menino foi trancado no armazém como punição. Ele simplesmente olhou o calendário e viu que fazia sete anos. No seu aniversario só levou uma surra, longe da família, no frio, sujeito a morrer logo. – Triste aniversário para mim.

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INTOLERÂNCIA Letícia Shimmelpfeng



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COMPLICAÇÕES Duda Karini



Vênus Deitou-se no chão Deixou-se absorver Pra recuperar a força e a delicadeza Das quais precisava viver (sobre)

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Àquela altura Em sua dupla personalidade Terra e mar se encontravam Se completavam, brincavam A rigidez devia ser a fechadura A fluidez, a chave que as restavam À sereia e à mulher que machucavam

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A fadinha Havia conseguido para ir ao baile A tão esperada companhia dela Faltava-me apenas saber Como proteger uma fragilidade daquela

Que frágil que nada Calei-me depois da primeira dúvida que tirei com ela “Quem te leva, minha flor?” “Apenas o vento”, disse ela.

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Maria E agora, Maria? A festa havia começado A luz relampejado O povo chegado Na noite a lua brilhava E agora, Maria? Está com parceiro Fala bonito e certeiro O afeto é seu meio Agora pode beber Agora pode fumar Cuspir agora pode. A noite brilhou, O dia raiou, O bonde na hora certa chegou, O riso se espalhou, Em sua utopia se inspirou E tudo começou E tudo chegou E tudo se aflorou E agora, Maria?

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Elemento fogo Me diziam cabeรงa quente Mal sabiam eles Que na verdade era a minha alma Que brilhava intensamente.

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Participaram da Oficina de Produção Editorial os alunos: Beatriz Reis Isabel Fernandes Isabela Manasfi Letícia Schimmelpfeng Lis Ribeiro Maria Clara Engel Maria Luísa Cru Marcela Serpa Maria Eduarda Karini Mariana Costa Lima Sofia Jordão Stephanie Szpilman Victoria Almeida

Este livro foi composto pelos alunos do 2º ano EM da EDEM da Oficina de Produção Editorial da escola EDEM, na primavera de 2016 no Rio de Janeiro.


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