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+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ INFAMES! INFAMES! ESCONJUROU A RAINHA D. AMÉLIA DE ORLEÃES AO ASSISTIR AO BRUTAL ASSASSÍNIO A TIRO DE SEU MARIDO, REI D. CARLOS, E DE SEU FILHO MAIS VELHO, LUÍS FILIPE, NO DIA 1 DE FEVEREIRO DE 1908. O TERREIRO DO PAÇO, QUE RECEBEU RECENTEMENTE OBRAS PARA ACOLHER O PAPA BENTO XVI, FOI ENTÃO PALCO DE UM DOS MOMENTOS MAIS TRÁGICOS DA HISTÓRIA DE PORTUGAL. OS REGICIDAS MANUEL BUIÇA E ALFREDO COSTA, BEM COMO ALGUNS CIVIS, ACABARAM TAMBÉM POR PERECER NO TIROTEIO. ESTE FATÍDICO ACONTECIMENTO FOI O PRINCÍPIO DO FIM DA MONARQUIA CONSTITUCIONAL, ABRINDO CAMINHO A UM REGIME REPUBLICANO IMPLEMENTADO POSTERIORMENTE, A 5 DE OUTUBRO DE 1910. CEM ANOS APÓS O OCASO DA MONARQUIA PARLAMENTARISTA, A EFEMÉRIDE DEDICA ESTA EDIÇÃO AO IMPACTO QUE AS MUDANÇAS E CONFRONTOS DE REGIMES TIVERAM NA CULTURA PORTUGUESA, NOMEADAMENTE NA JOALHARIA, NO DESIGN E NAS ARTES PLÁSTICAS. +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ JOSÉ BÁRTOLO DESTACA A PRIMEIRA GERAÇÃO DE DESIGNERS PORTUGUESES, NA QUAL SE INCLUEM NOMES COMO OS DE RAFAEL BORDALO PINHEIRO, LEAL DA CÂMARA OU JORGE BARRADAS, QUE FORAM, NA SUA MAIORIA, “ANTES DA IMPLEMENTAÇÃO DA REPÚBLICA CRÍTICOS DA MONARQUIA E DEPOIS DA INSTAURAÇÃO DO REGIME REPUBLICANO CRÍTICOS DA REPÚBLICA”. NA JOALHARIA, EXISTE UMA CISÃO BRUTAL ENTRE OS DOIS REGIMES, SEGUNDO NOS EXPLICA GONÇALO DE VASCONCELOS E SOUSA, COM O FIM DAS JÓIAS DA COROA E O APARECIMENTO DAS INSÍGNIAS DAS DIVERSAS ORDENS HONORÍFICAS. JÁ A ARTISTA JOANA VASCONCELOS, CUJA OBRA SURGE MUITAS VEZES LIGADA À “CAUSA PÚBLICA”, APONTA PARA O FUTURO, EMPENHADA EM “CRIAR UMA NOVA DINÂMICA NO NOSSO PAÍS”. +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ O PROFESSOR AMADEU CARVALHO HOMEM FALA-NOS DO PATRIMÓNIO CENTENÁRIO QUE COMEMORAMOS ESTE ANO, APELANDO A UM BOM SERVIÇO DA RES PUBLICA. DIOGO GASPAR, DIRECTOR DO MUSEU QUE POR EXCELÊNCIA CONSERVA O PATRIMÓNIO REPUBLICANO – O MUSEU DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA – ESCLARECE-NOS DE QUE FORMA ESTE CONTRIBUI PARA MINIMIZAR A DISTÂNCIA ENTRE A POPULAÇÃO, SOBRETUDO A CAMADA MAIS JOVEM, E A POLÍTICA. +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++ NESTA EDIÇÃO PROPOMOS, POIS, UMA ELIPSE TEMPORAL DE UM SÉCULO, REAVIVANDO UM PERÍODO DE IMPORTÂNCIA INEQUÍVOCA NA HISTÓRIA DE PORTUGAL, NA EXPECTATIVA DE QUE ESTA “EFEMÉRIDE” ESTEJA PRESENTE NA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA DE TODOS NÓS. +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
EFEMÉRIDE BOLETIM CULTURAL
n.º 4 – JUNHO-AGOSTO 2010 – DISTRIBUIÇÃO TRIMESTRAL GRATUITA +++
PROJECTO TRAVESSA DA ERMIDA
À CONVERSA COM…
AMADEU CARVALHO HOMEM É um apaixonado pela República Portuguesa, tendo publicado diversas obras e inúmeros artigos sobre o tema. Enquanto Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, encoraja os seus alunos a reflectir sobre a “causa pública”. O seu trabalho mereceu a distinção do antigo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique. Nesta conversa, deixa-nos uma mensagem de civismo, liberdade responsável e justiça social enquanto património da república. CATARINA DA PONTE +++
Em termos ideológicos, o que significou a passagem da monarquia constitucional para a República? Primeiro, significou uma mudança de regime, porque não é a mesma coisa ter um presidente da República na suprema posição do Estado ou ter um monarca. O rei é vitalício e hereditário, ao passo que um presidente da República é temporário e amovível. A República trouxe consigo todo um conjunto de valores e toda uma outra forma de ver a vida pública que se materializa em aspectos como uma maior ampliação do sufrágio, o civilismo, um desejo muito grande de generalizar a educação a toda a população e um aspecto extremamente importante que é o laicismo, ou seja, um Estado neutro em matéria de religião. Com um distanciamento temporal de cem anos, poderia haver uma outra alternativa ao antigo regime que não a República? Dificilmente, porque nós experimentámos ao longo do tempo duas fórmulas de monarquia: a “tradicional” - uma monarquia centralizada - e uma outra monarquia que se deixava pautar por critérios já mais representativos devido à existência da Carta Constitucional de 1826. De modo que a monarquia constitucional provou aquilo que valia. E, efectivamente, do meu ponto de vista de republicano, deixou o povo português desfasado de um conjunto de metas de desenvolvimento. Basta dizer que a 5 de Outubro de 1910 havia setenta e cinco por cento de portugueses que não sabia nem ler, nem escrever, nem contar. Quem matou a monarquia constitucional? A monarquia constitucional foi morta por dois acontecimentos complementares: o primeiro foi o Ultimato Inglês e a forma desastrosa como as instituições lhe responderam; e o segundo deve-se ao autor moral desta queda - João Franco - associado naturalmente ao monarca de então que não se soube manter dentro dos limites da constitucionalidade, D. Carlos, que, de resto, era um homem com características muito interessantes: era um intelectual, pintor, fazia investigação oceanográfica. Enfim, era um homem com diversas virtudes, mas do ponto de vista político foi um monarca verdadeiramente desastroso, ao contrário de seu pai, D. Luís, que era um rei equilibrado e respeitador da constitucionalidade.
Há quem faça divisões cronológicas dentro do período da República portuguesa. Poderia clarificarnos estas delimitações e classificações históricas? Isso é uma velha questão. Eu penso que houve uma primeira República, que funcionou entre 5 de Outubro de 1910 e 18 de Maio de 1926, seguida de uma pseudo-República que talvez não mereça este nome, porque os valores fundamentais do republicanismo foram aí completamente desprezados, correspondente ao tempo em que funcionou primeiro a ditadura militar e depois o Estado Novo, o Estado salazarista e o Estado do professor Marcelo Caetano. Esse período só com muito boa vontade da parte dos republicanos se pode considerar “republicano”. Passámos, depois, a viver sob uma segunda República a partir de 25 de Abril de 1974. Mas admito que existam pessoas que tenham convicções diferentes da minha. Aquando do convite para realizar a presente entrevista o professor afirmou: “Estou sempre disponível para falar sobre a República. Não por mim, mas sobretudo por ela, essa República que tão mal servida está a ser... por alguns”. Como podemos defender a nossa bandeira portuguesa e servir melhor a República? Temos de encorajar muito a sociedade civil, ou seja, não devemos fazer uma espécie de guerra santa contra os políticos, mas antes encorajar os bons cidadãos a manifestarem-se. O que importa é que tenhamos a certeza de que estamos a ser bem administrados, que temos gente muito honesta nos diversos escalões da administração e da governação pública, que não há “golpes do baú”, que as pessoas gerem de forma muito eficaz e transparente os meios que têm à sua disposição. Portanto, há um conjunto de exigências e de garantias que o povo português tem de reivindicar da parte dos políti- cos… Estou convencido de que continua a haver gente escrupulosa em muitas autarquias, juntas de freguesia, em alguns ministérios, e que existem verdadeiros servidores da causa pública. Por outro lado, estou também convicto de que em muitos outros aspectos esta República está doente e, por isso, precisamos de administrar medicamentos para que ela se possa reafirmar e refundar. Esta refundação tem que ser feita com base na ética, nos princípios, nos valores e, sobretudo, com base em gente que tenha as mãos limpas.
AMADEU CARVALHO HOMEM +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
É um apaixonado pela República Portuguesa, tendo publicado diversas obras e inúmeros artigos sobre o tema. Enquanto Professor Catedrático da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, encoraja os seus alunos a reflectir sobre a “causa pública”. O seu trabalho mereceu a distinção do antigo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, com a comenda da Ordem do Infante D. Henrique. Nesta conversa, deixa-nos uma mensagem de civismo, liberdade responsável e justiça social enquanto património da república. CATARINA DA PONTE +++
CONSTITUIÇÃO POLÍTICA DA REPÚBLICA PORTUGUESA de 21 de Agosto de 1911 Livraria Editora F. França Amado 20 páginas 19 cm +++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
Há muita gente dessa no Portugal de agora, temos de lhes dar voz e ir avançar naturalmente com toda a energia, para que se possa construir um Portugal cada vez melhor. Poderia elucidar-nos sobre o significado das palavras “república” e “democracia”? A “República” é o serviço da causa pública, Res Publica, servindo a casa comum dos portugueses da melhor maneira possível. Servindo-a com base em valores verdadeiramente republicanos: o desejo de se cumprir um sufrágio universal o mais escrupulosamente possível, o desejo de ver o país bem gerido e bem admi- nistrado, o desejo de uma transparência muito grande em todos os cargos administrativos, o desejo de ver o país funcionar mais como vivência de formação cívica e como escola de civismo. A Republica é pôr ao serviço da casa comum dos portugueses o talento, a criatividade e a boa intenção dos portugueses. Isto para mim é a República! A “democracia” é um aprofundamento da ideia de República. Nós hoje temos uma república democrática apenas no plano político, ou seja, temos uma democracia que funciona com base no sufrágio universal. Mas isso não esgota a ideia de democracia, porque esta comporta simultaneamente aspectos de política, economia, sociedade e cultura. Repare que em grande medida a democracia económica e a democracia cultural estão por fazer. Como tal, nós só teremos uma democracia bem desenvolvida e estruturada quando estas diversas vertentes estiverem bem implantadas. Em poucas palavras, por que é que o Professor Amadeu Carvalho Homem é republicano? Eu quero ser um bom republicano porque quero ser um bom cidadão! Em poucas palavras, a República para mim é a cidadania bem desenvolvida e, portanto, estou convencido de que o meu projecto de republicanismo passa por, na minha posição de professor, tentar formar bons cidadãos. Ou seja, levar o conjunto dos jovens a reflectir sobre os grandes interesses da colectividade, da comunidade, sobre aquilo que mais importa às gerações futuras, sobre a necessidade que temos de tratar bem o meio ambiente, de fazer uma gestão equilibrada de recursos, de pôr este país a funcionar. Tudo isto é muito importante. Enfim, toda esta reflexão é, efectivamente, a reflexão de uma cidadania que deve ser bem evoluída, dando inclusivamente uma especial atenção aos problemas educativos que tão mal têm sido tratados. O que significou para si receber das mãos do antigo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, a comenda da Ordem do Infante D. Henrique? Foi um momento altíssimo da minha vida. Teve uma extraordinária importância, não para afagar a minha vaidade, mas porque isso significou o reconhecimento do trabalho de uma vida. Fui condecorado pelo conjunto dos estudos inéditos que produzi acerca da evolução da história geral do republicanismo em Portugal,
constituindo um reconhecimento da mais alta figura do Estado a um profissional que não quer ser outra coisa senão investigador, senão professor. Esse reconhecimento tocou fundo na minha alma e fiquei sinceramente comovido e agradecido pelo facto de ter sido distinguido. Como assiste ao decorrer das comemorações do Centenário da República? A minha perspectiva é muito optimista em relação a tudo aquilo que está a decorrer, porque as comemorações do centenário da República têm tido, efectivamente, uma manifestação muito calorosa e muito importante de sentimento republicano, fazendo-se sentir de norte a sul do país. Portanto, estou convencido de que as comemorações continuarão e irão contribuir, não tanto para o sectarismo republicano, mas, sobretudo, para um alicerçar de uma consciência cívica mais forte e patriótica. Mudaria alguma coisa no hino nacional ou na bandeira portuguesa? Não vale a pena mudar nada, o hino e a bandeira são símbolos. Posso concordar que, esteticamente, a bandeira monárquica é mais bonita do que a bandeira republicana (o azul e o branco combinam melhor do que o verde e o vermelho), mas o que está em causa não é uma manifestação de gosto, é o simbolismo. O hino surgiu num contexto especial, acabando por traduzir uma época; contra os bretões, contra os ingleses marchar, marchar, pois o vexame do Ultimato era recente e “A Portuguesa” fora uma manifestação musical de reacção ao Ultimato. Como tal, é importante conservar este património de memória. De modo que, quando hoje cantamos “contra os canhões marchar, marchar, marchar”, podem ser os canhões da ignorância, podem ser os canhões da desonestidade; podem ser os canhões da marginalidade, da má administração da coisa pública; podem ser outros canhões que não aqueles que na altura se colocavam. De facto, o hino e a bandeira são patrimónios da República e julgo que estão muito bem como estão. Que bens guardamos neste património centenário? O maior bem que até agora podemos ter guardado é o bem da liberdade. Por vezes essa liberdade acaba até por se exceder um pouco, convertendo-se em libertinagem. A par da liberdade temos de desenvolver a sua irmã gémea, a justiça social, que está em grande parte por fazer. É necessário fazê-la. Quando conseguirmos estas duas coisas e pudermos oferecer a todos os cidadãos portugueses, por um lado, a liberdade responsável e, por outro, o trabalho consciente e a justiça esclarecida, pode ter a certeza de que estaremos no caminho para continuarmos a ser um grande povo.
ARTISTA PLÁSTICA
JOANA VASCONCELOS A ARTISTA PÚBLICA
MARGARIDA ROCHA DE OLIVEIRA +++
Pode dizer-se que Joana Vasconcelos é uma artista mais consagrada pelo público do que pela crítica. O larguíssimo número de visitantes da sua primeira exposição antológica ultrapassa a mostra dedicada a “Amália”, anteriormente no Museu Colecção Berardo. Para a artista, esta primeira grande exposição serviu para a “tirarem da prateleira dos clichés” que, de resto, “sempre soube não existirem”: “a minha obra não é só croché, ouros e coisas para as criancinhas”. O apelo visual das obras é um chamariz para o público e quase se tornou a “marca” Joana Vasconcelos. Depreendemos, quando confessa que esta exposição “coloca ao meio [artístico] alguns problemas” por ser “muito diferente dos padrões preconizados em Portugal”, que esta característica nem sempre é apreciada pelos pares. Talvez por se tratar de uma arte que não precisa de texto de sala, pois é quase impossível desviar a atenção dos objectos, que nos falam de forma lúdica e espectacular de portugalidade, do mundo contemporâneo ou do universo feminino. Este vocabulário plástico parece não carecer de acrescentos teóricos, o fulcro da obra está na comunicação do próprio objecto artístico com o espectador. Afinal, afirma a artista, “o discurso está em toda a gente e a intelectualidade não está só nas pessoas que estudaram”. É esse engajamento que faz sentido para a criadora e que diz ser “fundamental a qualquer forma de arte”. O discurso plástico da artista não se cinge porém ao ateliê e à divulgação da sua obra. Joana Vasconcelos sai desse espaço que é seu, ligando-se de outras formas ao país. O momento em que o seu rosto terá ficado mais conhecido fora da esfera artística foi talvez a campanha publicitária do Turismo de Portugal, em 2007, na qual participou a par de Mariza ou Cristiano Ronaldo. Outras tomadas de posição públicas têm também voluntariamente colocado a artista no papel de cidadã activa. Joana colaborou, por exemplo, na denúncia do estado de abandono do Museu de Arte Popular ou na luta recente por um jardim dedicado a Bordalo Pinheiro no Museu da Cidade de Lisboa, travada com um pequeno grupo de pessoas. Manifestou-se ainda a propósito da “desactualização” do busto que simboliza a República. Uns meses depois da polémica que acendeu uma discussão nacional, Joana diz-nos que gostaria de ver neste símbolo “uma mulher como Catarina Furtado, com traços que identificamos como próprios do povo português” e “uns jeans ou um ipod”.
Talvez por se mostrar tão activamente empenhada nestas questões da ordem do colectivo, a artista foi chamada a participar na vida pública através de um convite para integrar, juntamente com outros nomes, o Conselho Consultivo do Centenário da República. Joana Vasconcelos salienta neste convite a percepção “da importância dos políticos e pessoas de diferentes áreas trabalharem juntas para um fim comum”, acção que julga “importante para a nossa identidade e para o nosso país”. Entusiasmada, confessa-nos ainda estar “bastante ansiosa por acompanhar as coisas do outro lado da barricada”. Mas não é só nos bastidores que a artista colaborará. Além do apoio à organização do evento, o seu trabalho estará patente em duas exposições colectivas sobre o tema da República – uma na Gulbenkian e outra na Fundação EDP – para as quais foram escolhidas algumas peças anteriores, entre elas a sua bandeira nacional em croché hasteada a poucos metros do solo, que nos sugere um país em declínio - “Made in Portugal”, 2008. São estes pensamentes críticos que nos transmite Joana quando manifesta a importância do sufrágio universal trazido pela 1.ª República – “porque o voto não tem sexo”, afirma. Preocupa-a “ainda existirem mulheres a ganhar menos do que os homens”. Apesar de a mulher de hoje ser mais “interactiva e presente na sociedade do que alguma vez foi, por participar na vida política, económica e social, o trabalho não acaba aqui, é um caminho que ainda tem alguns quilómetros a serem percorridos”. Joana Vasconcelos vai-se tornando, assim, uma artista cada vez mais próxima da vida dos portugueses. Não necessariamente uma figura pública, mas uma artista pública, porque as preocupações da sua obra plástica são também as que a fazem agir fora da arte. Para o “meio”, muitas vezes desligado das instâncias políticas, a posição interventiva não passa de “marketing”. Confrontada com estas interpretações mercantilistas, Joana não hesita: “não trabalho para ser famosa ou para ganhar dinheiro, mas para tentar criar uma nova dinâmica no nosso país e na nossa rotina”.
JOANA VASCONCELOS ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
MADE IN PORTUGAL, 2008 (Palácio de Belém, 2008) Croché em algodão feito à mão, aço inoxidável 750 x 300 x 7,8 cm Colecção da artista Cortesia ATELIER JOANA VASCONCELOS ++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
JOALHARIA
GONÇALO VASCONCELOS E SOUSA Das jóias da Casa Real aos criadores de joalharia +
O dia 5 de Outubro de 1910 mudou a vida portuguesa e, consequentemente, o panorama das artes. A joalharia, tão popular no regime monárquico, perdeu estatuto com a transição para a República. Gonçalo Vasconcelos e Sousa, Professor Associado com Agregação da Escola das Artes da Universidade Católica e Historiador da Ourivesaria e da Joalharia Portuguesa, explica as transformações que ocorreram nesta arte ao longo de décadas e destaca o momento de renovação que a joalharia vive em Portugal. CATARINA CRUZ +++
O que mudou entre a joalharia da Casa Real e a joalharia da República? Com a proclamação da República há uma alteração na dimensão simbólica da principal joalharia da Corte, porque esta, simplesmente, deixa de existir. A Casa Real diminui as encomendas e é abandonado o uso das Jóias da Casa Real, que, como propriedade do Estado, não foram levadas para o exílio pelos membros da Família até então reinante. Ao que se sabe, a peça mais significativa em tempos de República foi mandada fazer à Casa Leitão & Irmão por D. Manuel II, em 1913, para oferecer à sua noiva, D. Augusta Vitória, tratando-se de um diadema em diamantes e rubis, decorado com a cruz de Cristo. Quais as peças mais representativas da Monarquia e da República? Enquanto a Monarquia possui as denominadas Jóias da Coroa, a República não faz uso de jóias; o que mais se aproxima serão as insígnias das diversas Ordens Honoríficas. Ao longo destes 100 anos de regime republicano o estatuto da joalharia na sociedade portuguesa alterou-se muito? Em 100 anos, a joalharia alterou-se profundamente, apesar de durante uma parte do século XX se ter vivido em torno de revivalismos. A renovação que foi sendo operada, essencialmente desde os anos 60, permitiu que hoje se façam peças de design contemporâneo com muita qualidade.
Como é que os diversos contextos históricos e sociais influenciam a joalharia? A sociedade e os grupos sociais influenciam de forma determinante a joalharia, a sua concepção e respectivo protocolo de utilização. Essa vertente é incontornável no que se refere ao uso da joalharia: fenómenos como o gosto vigente, os revivalismos e as reacções ao estilo vigente – conquanto parcas – marcam a primeira década do século XX. Nem sempre épocas de crise correspondem a períodos de menor investimento em peças metálicas, porque representam um entesouramento. Daí que cada contexto histórico possua consequências diferenciadas no universo da joalharia, sem esqueceremos igualmente o condicionamento cultural e geográfico. Existem alguns joalheiros ou ourives marcantes do início da República e da actualidade? No início da República, a casa mais importante de ourivesaria era a Leitão & Irmão, em Lisboa, a que se vinham juntar as casas Reis & Filhos e de José Rosas, no Porto. Na segunda metade do século XX, a joalharia tradicional não se revelou demasiado expressiva, mas nomes como Branca de Brito ou Luiz Ferreira não devem ser esquecidos. Na actualidade, a inovação passa, em geral, pelos criadores de joalharia, com nomes como Cristina Filipe ou Liliana Guerreiro, mas as obras são, essencialmente, à base de metais. Na joalharia com pedras, poder-se-ia destacar os nomes de Vergílio Seco e David Rosas. É uma arte que se encontra em grande renovação, com um acentuado número de jovens criadores.
+ + + + + + + + + + + + + + +++++++++++++++++++++++++++++ RAINHA D. AMÉLIA com o diadema oferecido por D. LUÍS I, seu sogro, como presente de casamento. Quadro de VICTOR CORCOS Cortesia MUSEU DOS COCHES
DESIGN
JOSÉ BÁRTOLO O pretérito imperfeito do design português +
O design é indissociável da vida contemporânea. Em Portugal, há muito que esta palavra, emprestada do inglês, entrou no nosso léxico, mas a partir de quando é que se pode falar de design em Portugal? José Bártolo, professor e crítico de design, traça um breve percurso desta disciplina, evocando as suas fundações. CATARINA CRUZ +++
A partir de quando é que podemos começar a falar de design em Portugal? Se pensarmos na existência de uma “consciência” relativamente ao design – entendido como união entre arte e indústria visando a produção de artefactos capazes de gerar inovação social – ela surge cedo entre nós, basta ver a polémica gerada em torno da representação de Portugal na Exposição Universal de Paris de 1889. A representação foi entregue à Associação Industrial de Lisboa, mas era um anacronismo falar de indústria em Portugal nessa altura. A exposição de Paris mostra que não há design em Portugal – a excepção seriam as faianças artísticas da fábrica de Bordalo Pinheiro –, mas suscita igualmente em alguns núcleos um desejo reformador do ensino e da indústria. Do ponto de vista gráfico, a distância relativamente ao que é feito em Inglaterra, em França ou na Alemanha era, no início do séc. XX, um pouco menor. Há uma rica e contemporânea produção no campo da ilustração caricatural, alguma publicidade e, embora em pequeno número, qualidade no campo editorial. Só nos anos 1930 é que se começa a sentir a existência de um mercado de design e se pode falar de uma cultura do design em Portugal, embora não exista ensino, nem indústria, nem crítica, nem democracia... O design em Portugal surgiu mais tarde do que noutros países? Quais as influências e condicionantes do contexto histórico? No início do século XX não se fala em Portugal de design, mas o que chamaríamos hoje design era então designado por “Artes Decorativas”, cá como no estrangeiro. O que havia em Inglaterra, na Alemanha ou nos Estados Unidos era uma visão revolucionária da ligação entre arte, técnica e indústria, que em Portugal não seria possível de implementar por não haver indústria e, por outro lado, por existir uma visão algo ingénua do que podia ser o envolvimento político do artista. A ideia central do design moderno, expressa pelo princípio da “adequação ao propósito”, só será verdadeiramente valorizada em Portugal após a criação do Instituto Nacional de Investigação Industrial, em 1959, que nos anos 70, com o envolvimento de Margarida D’Orey, Sena da Silva ou Madalena Figueiredo, realiza as duas exposições de design português.
Existe alguma relação entre a instauração da República e o desenvolvimento do design? Os Humoristas do final do séc. XIX e primeira década do séc. XX (Rafael Bordalo Pinheiro, Leal da Câmara, Francisco Valença, Cristiano Cruz, Emmerico ou Jorge Barradas), nos quais podemos identificar a primeira geração de designers portugueses, foram, na sua maioria, críticos da Monarquia antes da implementação da República e críticos da República depois da instauração do regime republicano. Mas é inegável que é após a instauração da República que se dá uma dinamização da cultura portuguesa – com o surgimento de movimentos como o Modernismo, o Futurismo, o Saudosismo ou a Renascença portuguesa. Quem foram os pioneiros do design em Portugal? O contexto do design português foi e é peculiar. Não tem uma história linear. Talvez por isso, os pioneiros (no sentido daquele que desbrava um território inóspito e frequentemente hostil) não estão circunscritos a um momento histórico. Ao longo do tempo vamos encontrando pioneiros: Bordalo Pinheiro, Raul Lino, José Pacheko, Bernardo Marques, Sebastião Rodrigues, Daciano Costa. Mas também no design contemporâneo encontramos pioneiros. Guta Moura Guedes é pioneira na curadoria, em Portugal, de um evento de design de larga repercussão internacional como é a Experimentadesign; o Mário Moura e eu próprio somos pioneiros na exploração de novos meios para a produção de crítica do design; o Dino dos Santos é pioneiro na aceleração de tempos de resposta na criação de famílias tipográficas. Por não possuirmos uma cultura de design desenvolvida, fazer design em Portugal sempre envolveu alguma forma de pioneirismo, isto é, de inovação e persistência.
COLECÇÕES
DIOGO GASPAR DIRECTOR DO MUSEU DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA Catarina da ponte +++
O que podemos ver no Museu da Presidência? O Museu da Presidência da República é um museu de história. Teve, desde o início, a preocupação em apresentar a sua colecção permanente de duas formas: por um lado, através de objectos tridimensionais relacionados, sobretudo, com a vida e obra dos presidentes da República e, simultaneamente, pretendia ser uma referência na área das tecnologias, comunicando a História através de sistemas multimédia e audiovisuais (cerca de 50% da exposição é composta por estes recursos). O Museu da Presidência da República segue um modelo museológico que não se cinge apenas ao espaço do museu. Pode explicar-nos o seu perfil e missão? O Museu tem na exposição permanente apenas a ponta do icebergue. Estrutura-se num plano de extensão cultural muito vasto: temos exposições itinerantes, exposições temporárias, formação e um conjunto de actividades de animação cultural e pedagógica. No seu todo, prestamos um conjunto de serviços, juntamente com a área da comunicação e das edições, em torno de um objecto comum – os Presidentes. Isto faz com que o Museu seja, por um lado, a porta de entrada do Palácio de Belém, mas sirva também como catalisador de públicos – seja aqueles que nos procuram directamente no nosso espaço ou os que têm acesso à nossa informação através das actividades que fazemos um pouco por todo o país. Portanto, o Museu tem nas exposições, sobretudo nas itinerantes, um modelo de proximidade muito grande com a população.
Quais as exposições mais visitadas pelo público? Talvez a mais visitada tenha sido a exposição “Lá Fora” na Fundação EDP ou uma exposição que fizemos de “Sentidos de Estado” em Palmela e Guimarães. É um pouco difícil quantificar. Mas, neste momento, em dados concretos, o Museu da Presidência da República, no cômputo anual das suas actividades, anda à volta dos 200.000 visitantes. No Museu, presencialmente, registamos cerca de 60.000 visitantes por ano. As escolas representam cerca de 40% dos nossos visitantes. Num tempo em que assistimos a um afastamento dos jovens em relação à política, o que podemos esperar do Museu da Presidência da República para minimizar este problema? Efectivamente, uma das maiores preocupações do presidente Cavaco Silva é o afastamento entre as novas gerações e a política. E a política, independentemente de as coisas correrem melhor ou pior, é uma coisa extraordinária, desde sempre! O Museu, de alguma forma, tenta fazer perceber às camadas mais jovens a importância do papel do Chefe de Estado, do percurso político e da política em si mesma. Tentamos dar o nosso contributo para a valorização do papel dos políticos centrando-a aqui, obviamente, na actividade dos presidentes da República.
SUGESTÕES
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ARTES PLÁSTICAS “DIÁRIO DA REPÚBLICA” KAMERAPHOTO O colectivo fotográfico Kameraphoto criou, neste ano de comemoração do centenário da República, um projecto que visa captar Portugal ao longo dos 365 dias deste ano. A ideia é que todos possam participar neste “Diário da República” enviando as suas fotografias e que cada um crie o seu próprio álbum. No final, todos os que aderirem ficarão com um retrato em 365 imagens do país actual. A cada mês é editada uma revista com as fotografias mais votadas e, no final do ano, será publicado um livro e organizada uma exposição de resultado imprevisível, reunindo estes documentos que poderão ficar para a História. www.kameraphoto.com/
VINHOS DIA DO VINHO A 4 de Julho celebra-se em Lisboa e no Porto o Dia do Vinho. A data, assinalada desde 2004, sempre no Domingo mais próximo de 1 de Julho, foi criada para promover os vinhos portugueses. A celebração contará com o vinho como protagonista nas provas que terão lugar ao longo de dois dias, 3 e 4 de Julho, e com os petiscos elaborados por renomados chefes nacionais, nas sessões de Show Cooking. Além da gastronomia, a música e animação farão parte do cardápio. Convidamo-lo a sair da cidade no fim-de-semana para que não perca uma boa oportunidade para visitar as quintas nas regiões vinícolas pois, um pouco por todo o país, grande parte das quintas e adegas portuguesas estará de portas abertas para o receber. 3 e 4 de Julho, vários locais, Lisboa e Porto. Consulte www.diadovinho.com DESIGN “COMBO” LOJAS DA BAIXA POMBALINA O projecto Aforestdesign, que conta com a produção do MUDE - Museu do Design e da Moda, visa fundir o design de vestuário contemporâneo com o comércio tradicional português. Treze lojas da Baixa Pombalina terão em exposição uma colecção de treze objectos de design desenhados com base na tipologia de cada um dos espaços comerciais. De 15 de Junho a 15 de Julho, Lojas da Baixa Chiado, Lisboa. Ver programa em www.egeac.pt
“THE LAST CIGARETTE” RITA BARROS A Ermida Nossa Sra. da Conceição, com a sua carga emocional de um antigo lugar de culto, é um espaço privilegiado para mostrar a série de 16 fotografias e um livro sobre a dificuldade de superar um vício. Impõe-se uma visita para conhecer o novo trabalho da artista Rita Barros, que tem vindo a ganhar prestígio ao ser mostrado ao mundo no Wilfredo Lam Contemporary Art Museum em Havana, na PS 1 em Nova Iorque, no Museu de Arte Contemporânea de São Paulo ou no Museu de Serralves, no Porto. De 5 de Junho a 18 de Julho, Ermida Nª Senhora da Conceição, Belém, Lisboa.
REVISTAS TIME OUT O livro de José Cardoso Pires A República dos Corvos (1988) empresta o seu título a uma secção da revista Time Out. A evocação deste conto irónico, publicado sob as barbas da censura salazarista, espelha a vontade de expressar livremente a opinião. Na Time Out, “A República dos Corvos” dá-nos conta das mais variadas manifestações de criatividade, que enriquecem a capital e potenciam o pensamento crítico-livre! Nas bancas todas as quartas-feiras, Lisboa. JOALHARIA “ADEREÇOS DE JOALHARIA” WORKSHOP Para os estudantes e profissionais de Moda, Design, Cenografia, Adereços e outros a quem possa interessar (mesmo que não possuam conhecimentos prévios na área), a Restart propõe um workshop que permitirá adquirir técnicas de base para quem queira criar jóias, adereços e acessórios. Durante três dias, cada participante realizará, no mínimo, um exercício técnico e criativo de adereço de figurino. As aulas teóricas e práticas estão a cargo de Rita Ruivo, profissional da área da Joalharia. 29 e 30 de Maio e 5 de Junho, Escola Restart, Lisboa. Mais em www.restart.pt
BANDA DESENHADA “CARICATURAS DA MONARQUIA À REPÚBLICA” A arte de caricaturar esteve no fulcro da obra de Rafael Bordalo Pinheiro, geralmente considerado pioneiro da banda desenhada em Portugal, ainda que o termo só tenha surgido mais tarde. A Câmara Municipal de Sesimbra, com o apoio da Hemeroteca de Lisboa e do Museu Bordalo Pinheiro, organizou esta exposição para mostrar desenhos de alguns caricaturistas que, como Bordalo, vincaram opiniões no combate ideológico que marcou o fim da Monarquia. A caricatura, como forma de crítica social, foi utilizada no movimento republicano e perdura como forma de expressão até hoje. Até 30 de Junho, Avenida 25 de Abril, Sesimbra.
ALMANAQUE REPUBLICANO Não é em papel, mas sim um blogue que celebra diariamente a República publicando digitalizações de revistas e outras publicações, que foram fundamentais no período entre a República de 1891 e a de 1910. Este álbum online apresenta publicações como a “Nova Era”, que exigia a emancipação das classes trabalhadoras ou, pelo outro lado, a “Ordem Nova” (1926), revista reaccionária, católica e monárquica dirigida por Marcelo Caetano. Este almanaque assume-se como um “panfleto aberto e frontal da Alma Republicana”. http://arepublicano.blogspot.com/
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+++ DIRECÇÃO EDUARDO FERNANDES COORDENAÇÃO E PUBLICIDADE FÁBIA FERNANDES (+351) 213 637 700 ermida@ermidabelem.com EDITORA CATARINA DA PONTE efemeride@ermidabelem.com REDACÇÃO CATARINA DA PONTE, CATARINA CRUZ, MARGARIDA ROCHA DE OLIVEIRA REVISÃO DANIELA AGOSTINHO PROJECTO GRÁFICO -NADAwww.designbynada.com FOTOGRAFIA TIAGO PINTO www.tiago-photos.com ILUSTRAÇÃO PEDRO PALRÃO www.pedropalrao.com CAPA E PRANCHA RUI LACAS www.thelisbonstudio.com +++ IMPRESSÃO LOURESGRÁFICA PAPEL RENOVAPRINTE 80GR E INASSET PLUS OFFSET 100GR TIPOS DE LETRA EFEMÉRIDE STENCIL, MELIOR, FUTURA PROPRIEDADE MERCADOR DO TEMPO, LDA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PERIODICIDADE TRIMESTRAL TIRAGEM 12.500 ISSN 1647-3418 DEPÓSITO LEGAL 298615/09 +++ LANÇAMENTO COM O APOIO
+++ ERRATA Na edição anterior, n.º 23, na entrevista a João Pinharanda, onde se lê: “A partir daí e da instituição da própria Fundação houve um vazio, devido à falta de espaço e à falta de dinheiro para aquisições”, deve ler-se: “Até aqui [2006], houve um vazio, devido à falta de espaço e à falta de dinheiro para aquisições.” +++
Publicação com o reconhecimento do Ministério da Cultura
+++ PROJECTO TRAVESSA DA ERMIDA Travessa do Marta Pinto, Belém
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