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EfeMEride BOLETIM CULTURAL

Viarco (Img. 2)

Gabriela Albergaria (Img. 3)

Coretos (Img. 1)

Fernando Ribeiro Rosa (Img. 6)

Sarah Hood (Img. 4)

(Img. 5)

N.º9

Hafsteinn Juliusson (Img. 7)

EFEMÉRIDE, BOLETIM CULTURAL Junho 2012 Distribuição Bianual Gratuita N.º de Registo ERC 125891 Projecto Travessa da Ermida

Publicação com o reconhecimento da Secretaria de Estado da Cultura


Esplendor na relva.

JARDINS, PARA QUE VOS QUERO?

† R. Jerónimos Trav. Marta Pinto Calç. Ajuda

(direcção) Eduardo Fernandes, (coordenação e publicidade) Fábia Fernandes 00 351 213 637 700 ermida@travessadaermida.com, (editora) Catarina da Ponte efemeride@travessadaermida.com, (redacção) Catarina da Ponte, Catarina Cruz, Margarida Rocha de Oliveira, (projecto gráfico) –nada– www.designbynada.com, (revisão) Daniela Agostinho, (poster) Oupas! www.oupasdesign.com, (fotografia) João Gonçalo de Sá, (impressão) Imprensa Municipal, (tiragem) 3000, (distribuição) Gratuita - rede Postalfree, (periodicidade) Bianual, (ISSN) 1647-3418, (propriedade) Mercador do Tempo, Lda.

Editorial

R. Belém

No Verão sabemos bem para que os queremos: piqueniques, concertos, exposições ao ar livre, etc. Momentos de lazer e pura fruição da natureza – é o que nos apetece na época estival. Em alguns dos jardins da nossa cidade ainda encontramos redutos de um tipo de mobiliário urbano do século XIX que motivou uma outra forma de estar na rua e de vivenciar as áreas verdes, revela-nos Pedro Bebiano Braga, especialista em mobiliário urbano e co-autor do livro “Coretos em Lisboa 1790-1990”. Já a artista plástica Gabriela Albergaria, que actualmente reside em Nova Iorque, olha para os jardins e pensa o mundo, questionando as relações de poder que atravessam a arquitectura dos jardins. Serve-se do desenho, da fotografia e de materiais oriundos da natureza para propor um novo olhar sobre os jardins onde se encontra inscrita a história da nossa cidade. Falámos ainda com Fernando Rosa, Presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria de Belém, que nos explicou como se anima cerca de 50.000 m² de espaços verdes. E porque o Verão convida a utilizar acessórios mais arrojados, viajámos até à Islândia e aos Estados Unidos da América, onde descobrimos dois joalheiros, Sarah Hood e Hafsteinn Juliusson, com propostas de autor em que a Joalharia vai ao encontro de uma forma de jardinagem inovadora. Convidamo-lo, por fim, a aceitar o desafio que as jovens designers OUPAS!Design lhe lançam no cartaz para construir a sua casa de passarinho. Olhe que “Mais vale um pássaro na Efeméride do que dois a voar”. (projecto)

(apoio)

Versão on-line PT/EN em: www.travessadaermida.com http://www.facebook.com/efemeride

O Jardim

(txt.) Catarina Cruz, (img.) Marta Branquinho Cidade de esplanadas à beira Tejo plantadas e de espaços verdes convidativos, Lisboa recebe a época estival com especial esmero. O espaço urbano é palco de diversas manifestações culturais e os jardins vão-se enchendo de gente que, num espírito descontraído e alheio ao bulício do dia-a-dia, aproveita este local de convívio. Um dos jardins mais frequentados e dinâmicos – tal como em épocas passadas – é o Jardim da Estrela, que apesar de rebaptizado de Guerra Junqueiro, em homenagem ao poeta, nunca mudou de nome para os lisboetas. Com 160 anos de história, possui um património natural e cultural ímpar, a começar pelo coreto mais antigo da cidade. Desenhado pelo arquitecto José Luís Monteiro, o único coreto que hoje em dia cumpre a sua função primordial de receber espectáculos com alguma regularidade – em especial nos meses de Verão – foi construído em 1884 e estava situado no Passeio Público, que no final do séc. XIX viria a dar lugar à Avenida da Liberdade. Esta alteração urbanística levou a que, em 1936, fosse transferido para o meio do arvoredo do Jardim da Estrela. “O coreto, no séc. XIX, foi um dos grandes motores da cultura urbana”, afirma o historiador Pedro Bebiano Braga, especialista em mobiliário urbano e co-autor do livro “Coretos em Lisboa: 1790 – 1990”. O surgimento do mobiliário urbano, como o coreto, os bancos, quiosques e candeeiros, “provocou uma outra forma de estar na rua e de viver o espaço urbano”, explica. Os novos hábitos de sociabilidade passavam por mais horas ao ar livre, assim como por um acesso democrático à música que só os coretos permitiam. “Numa Lisboa sem rádio, sem discos, sem televisão, a música era reservada, na sua forma mais clássica, a quem ia ao teatro ou à ópera.” Quando chegou aos jardins, bandas, fanfarras, filarmónicas e pequenas orquestras deleitavam a população. O sucesso era tal que, acrescenta Bebiano Braga, em alturas de festa chegavam a juntar um coreto móvel ao fixo. Nos dias de hoje, não sobrevivem mais de meia dúzia: na Estrela, Beato, Olivais, Carnide, Jardim Zoológico, Parque Eduardo VII e Praça José Fontana – este último recuperado recentemente. Muitos deles estiveram largos anos votados ao abandono, outros acabaram por ser demolidos. “O Campo Grande ou o Jardim de São Pedro de Alcântara tiveram coretos que foram demolidos.” Para o historiador, estas estruturas foram negligenciadas quando deixaram de ser utilizadas. E o consumo de cultura mais individualizado das últimas décadas teve a sua quota-parte de responsabilidade. Contudo, a requalificação dos espaços verdes tem levado a uma mudança de hábitos dos lisboetas, assim como a crescente oferta cultural programada para estes locais. As “Festas de Lisboa”, a “Lisboa na Rua” – iniciativas da autarquia –, o “Outjazz”, o “Jazz em Agosto”, da Fundação Calouste Gulbenkian, ou as projecções de cinema ao ar livre do “Cineconchas” são atractivos para um Verão ao relento. O coreto do Jardim da Estrela já reconquistou o seu lugar na cidade. Pedro Bebiano Braga acredita que para “cuidar do nosso património não há nada melhor do que usá-lo.”

Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas, (Img. 1) calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes. Sequências de convergências e divergências, Pedro Bebiano Braga é historiador e coordenador do Museu Bordalo Pinheiro. ordem e dispersões, transparência de estruturas, pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.

Muito mais do que um lápis.

Geometria que respira errante e ritmada, varandas verdes, direcções de primavera, ramos em que se regressa ao espaço azul, curvas vagarosas, pulsações de uma ordem composta pelo vento em sinuosas palmas.

(txt.) Catarina Cruz

Já passou a barreira dos 100 anos, mas está mais jovem do que nunca. Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio. A Viarco é a única fábrica de lápis em Portugal e a responsável pelas letras e rabiscos gravados nos cadernos de várias gerações de portugueses. Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.Os membros desta empresa familiar fizeram orelhas moucas a todos os que os aconselharam a fechá-la e optaram por reinventar a marca. José Vieira, bisneto Sou uma pequena folha na felicidade do ar. do fundador, tomou as rédeas do negócio e apostou em novos produtos que aliam a sabedoria do passado à criatividade necessária para vingar no presente. Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis. Aos tradicionais lápis de carvão, cor ou cera, juntam-se agora lápis aromatizados, magnéticos, personalizados, o lápis pião ou o lápis falso, para É aqui, é aqui que se renova a luz. pregar partidas. Os Viarco, que poderiam em 2012 ser apenas uma memória lusa,

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"

já estão à venda na Alemanha, em Inglaterra, França, Itália e Estados Unidos. Em Janeiro, José Vieira abriu as portas da fábrica ao público e a Viarco passou a integrar o roteiro de turismo industrial de S. João da Madeira. Mas não pára por aqui. Na forja está a construção do Museu do Lápis e a criação de ateliês para jovens artistas.

(Img. 2) Mais informações em: www.viarco.pt


Observar o jardim, questionar o mundo. GABRIELA ALBERGARIA—————FORMADA EM PINTURA PELA FACULDADE DE BELAS-ARTES DO PORTO, RUMOU NO INÍCIO DOS ANOS 90 A LISBOA, ONDE SE DESENVOLVEU A PRIMEIRA FASE DA SUA CARREIRA. EM 2000 GANHOU UMA BOLSA DE ARTISTA RESIDENTE NO PROGRAMA INTERNACIONAL DA KÜNSTLERHAUS BETHANIEN, EM BERLIM, QUE VIRIA A MARCAR A SUA CARREIRA ARTÍSTICA. ACTUALMENTE VIVE EM NOVA IORQUE E EXPÕE EM VÁRIAS PARTES DO MUNDO, MAS EXPÔS RECENTEMENTE EM PORTUGAL. A PROPÓSITO DA EXPOSIÇÃO "COUNTING SEEDS" E DO LANÇAMENTO DO LIVRO “DUAS PRAÇAS, UM JARDIM”, A EFEMÉRIDE ENTREVISTOU A ARTISTA GABRIELA ALBERGARIA NUM DESTES JARDINS DE BELÉM E CONVERSOU COM ELA SOBRE O SEU PERCURSO, INTERESSES E PROJECTOS FUTUROS. (txt.) Catarina da Ponte, (img.) João Gonçalo de Sá — Em que momento começou a interessar-se por jardins enquanto matéria de trabalho? — De uma forma muito simplista, sempre fiz jardinagem em casa com o meu pai, em Vale de Cambra. Tínhamos uma casa grande com jardim, com bucho e várias árvores de grandes dimensões. Portanto, a experiência com o jardim nasce de uma experiência pragmática, mas a importação para o meu trabalho artístico não é imediata.

Os 10 jardins preferidos de Gabriela Albergaria

em estúdio e percebi que o que me interessava fazer era um livro, uma espécie de convite e guia para se fazer um percurso. — E foi assim que nasceu o Livro de Artista de Gabriela Albergaria, “Duas Praças, um Jardim”. — Sim, concebi um livro-convite em que existe a possibilidade de as pessoas aderirem, ou não. É um livro com chamadas de atenção para a observação da paisagem. As pessoas podem colar as suas fotografias, colorir, ver mapas e documentar a sua própria experiência. O livro inclui ainda pequenos statements, como o conceito de “Praça Pública”. O que eu pretendo com o meu trabalho é criar relações entre o homem e a natureza.

Jardim Botânico do Rio de Janeiro (BR) Sítio Roberto Burle Marx (BR) Jardim Bad Muskau (D) Harcourt Arboretum (ENG) E essas relações são criadas através de exposições Jardins de Versalhes (F) — site specific, como penso que seja este o caso? Sim. Eu gosto muito da ideia de “lugar”, Jardins de Bagatelle (F) — interessa-me muito criar conexões entre as pessoas e a natureza. Encontro na ideia de site specific e na Yosemite (USA+CDN) ideia de “lugar” uma maneira mais efectiva de conseguir esta ligação. Se eu trouxer para uma Redwood (USA+CDN) exposição locais, ou objectos passíveis de serem reconhecidos pelas pessoas, mais fácil será Sequoia National Park (USA+CDN) — Em que momento sentiu que o mundo já estava proporcionar essa conexão. preparado para expor estes seus primeiros trabalhos Jardim de Wave Hill (USA) — Quando e como se dá essa apropriação “artística” do jardim, da paisagem e da natureza nos seus trabalhos? — Esta temática aparece pela primeira vez numa série de fotografias digitais que comecei a fazer em finais dos anos 90 com o título “Tenho sete anos e o Bucho dá-me pelos ombros”. É nesta altura que começo a trabalhar a ideia de memória (memorações de infância e de vivências pessoais). A primeira série reproduz a ideia de memória do jardim da infância, o tal jardim que sempre jardinei com o meu pai. Mas não expus logo estas obras, uma vez que à data existia um certo preconceito em entender a fotografia digital como arte. Eu própria não sabia como fazê-lo!

de fotografia digital que adivinhavam uma exploração artística incessante da relação do homem com a natureza? — Estes trabalhos foram expostos pela primeira vez no final da década de 90. Aliás, os últimos três anos desta década têm especial importância na minha carreira artística. É neste período que ultrapasso a questão da pintura [a artista é licenciada em Pintura pela FBAUP] e começo a inserir novas técnicas no meu trabalho. Em 2000, participo numa exposição comissariada por Delfim Sardo intitulada “MnemosyneProject, Encontros de Fotografia”, em Coimbra, e mostro também algumas destas fotografias. Voltei a mostrar uma continuação deste trabalho, mais tarde, em Berlim. — Esse foi também o ano da residência artística na Künstlerhaus Bethanien, em Berlim, ao abrigo do programa de bolsas da Fundação Calouste Gulbenkian. Podemos considerer que o ano 2000 foi uma das etapas mais importantes do seu percurso? — Sim. Eu aproveitei essas viagens que a Fundação Calouste Gulbenkian me proporcionou para conhecer o máximo possível da Alemanha. Na altura alugámos um carro [Gabriela, colegas e professor] e fomos viajar por toda a Alemanha de Leste, que tinha imenso interesse em termos paisagísticos. Visitámos vários edifícios da Bauhaus [Escola de Design, Artes Plásticas e Arquitectura de vanguarda que funcionou na Alemanha entre 1919 e 1933] que estavam em obras, em transição de regime. Estes aspectos interessam-me muito, designadamente a forma como as relações políticas são mandatárias das questões artísticas. — Falando de relações de poder, este é também o conceito que está subjacente à exposição “Counting Seeds”, que inaugurou recentemente na Ermida N.ª Sr.ª da Conceição, em Belém. — Sim, eu podia ter feito a abordagem por diversos pontos de vista. Belém tem jardins fantásticos, mas decidi focar-me em três jardins: a Praça do Império, a Praça Vasco da Gama e a Praça Afonso de Albuquerque. Estes espaços representam, precisamente, três momentos diferentes da nossa história e que se tornaram ícones de uma demonstração de poder de época, quer pelo seu desenho arquitectónico, quer pela escolha das espécies, quer pela forma como foram utilizados e vividos ao longo da história. Hoje em dia não temos esta noção. — Hoje em dia Belém é um local turístico por excelência, o que faz com que se perca de vista a historicidade deste local...

— Exactamente. Mas para mim o ponto de partida é esse. O que me importa é perceber que as espécies escolhidas para a Praça do Império são espécies só portuguesas, ao passo que nesta área em que nos encontramos [Jardim Vasco da Gama] temos tipologias de plantas provenientes de todo o mundo, como forma de representação da expansão portuguesa. É interessante pensar como uma árvore é, efectivamente, uma representação de poder político. — Como funcionam a sua pesquisa e metodologia de trabalho? — Começo por me deixar cativar por um detalhe de determinado jardim, depois visito o local e assim tenho o ponto de partida para começar a trabalhar. — No caso específico da exposição “Counting Seeds”, como foi construído este processo, uma vez que se encontrava a viver longe? — Neste caso, foi uma nova metodologia: como conheço bem o sítio, decidi fazer uma experiência, que já há algum tempo tinha em carteira: pedir a outra pessoa para tirar fotografias, orientada pelas regras que eu estabeleci, neste caso com a ajuda da Raquel Feliciano. Esta ideia de estabelecer regras não é nova no meu trabalho. Normalmente, estabeleço regras para fazer os meus trabalhos - estabeleço regras de visita, estabeleço regras de observação, estabeleço regras de tomadas de enquadramentos. São regras quase fenomenológicas, do campo da percepção. — Que regras estabeleceu para esta exposição em concreto? —Para esta exposição pedi a colaboração da Raquel Feliciano para que realizasse e registasse fotograficamente um percurso no espaço que viesse de Este para Oeste, onde caminhasse quase linearmente em relação aos três jardins. Depois pedi-lhe que fizesse um outro percurso do centro para o exterior, a partir de cada jardim. A Raquel fez estes dois trajectos e, assim que terminou, enviou-me as fotografias e o mapa. Posteriormente fizemos acertos, eu vim aqui uma vez e aproveitei também para fotografar. Quando reúni todo o material, analisei-o

— Que plantas estão representadas em “Counting Seeds” e como se relacionam com o espectador? — As imagens que apresento dizem respeito a um jacarandá, uma bétula, uma araucária, um pinheiro-manso e um cipreste. São todas plantas vindas do estrangeiro, nenhuma delas é endemicamente portuguesa. Portanto, o meu desafio foi: “Como é que eu proponho que seja vista uma árvore?” Tento apresentar peças que causem alguma estranheza ao espectador e que o façam questionar. — Que tipo de natureza lhe interessa? — Quando falamos em natureza, imediatamente fazemos associações ao Romantismo e à nostalgia que lhe é inerente. No entanto, não é essa a natureza que me interessa, mas antes as possibilidades de que dispomos hoje em dia. Por exemplo, no livro “Duas Praças, um Jardim” termino com a frase: “Crie a sua própria realidade” - é neste momento que todos nós temos liberdade para afirmar uma certa atitude perante o mundo, ou seja, de que forma nos permitimos ver as coisas. — É quase observar a natureza e pensar o mundo… — Exactamente. — Tem algum género de jardim histórico preferido? — Gosto muito dos jardins renascentistas, porque têm muita coisa a ver com a minha infância (nunca me interessou muito a natureza selvagem, em termos de trabalho interessa-me sempre mais quando há acção humana). — Para quando as próximas exposições? — Tenho várias coisas agendadas, umas confirmadas e outras não confirmadas. Estou a preparar uma exposição para Lima, no Perú, em Agosto de 2012. Vou também participar na Bienal de Montevideo, no Uruguai, com Alfons Hug e Patricia Bentancur em Outubro de 2012. Cá em Portugal tenho um projecto no Carpe Diem, com o Lourenço Igreja, agendado para os finais de 2013.

(Img. 3) Mais informações em: www.gabrielaalbergaria.com 2 de Junho a 19 de Agosto 2012 Exposição “Counting Seeds” e livro “Duas Praças, Um Jardim, Belém, Lisboa” integrada na programação das Festas de Lisboa 2012


Sarah Hood (txt.) Margarida Rocha de Oliveira — Como descreveria o seu trabalho enquanto designer? — Orgânico, simples, claro, inesperado.

elementos que me ligam ao mundo. São elementos constantes, onde quer que eu esteja, e são, também por isso, as principais influências no meu trabalho.

— O que a influencia? —O que me entusiasma é o mundo natural e as formas botânicas que me rodeiam, onde quer que eu esteja. Tenho viajado imenso e procuro sempre saber a cada momento quais as plantas locais em cada sítio que visito. Vivi em muitas cidades diferentes ao longo da minha vida, mas há alguns elementos que nunca mudam e que me acompanham sempre – o mar, o céu, a terra e a folhagem. Esses são precisamente os

— Como é preservada a natureza nos objectos de design que desenvolve? — Os elementos naturais com que trabalho – folhas, galhos e ramagens - não recebem geralmente qualquer tipo de tratamento. Por vezes, aplico um ligeiro envernizamento a alguns elementos para preservar a sua superfície, mas na maior parte das vezes os elementos naturais são apresentados tal como foram encontrados na natureza.

— Qual o maior desafio em trabalhar com este tipo de materiais? — Os materiais naturais quando secam são muito frágeis. O mais difícil ao trabalhá-los é precisamente perceber como se pode criar uma peça que não se desintegre quando é usada.

(Img. 4)

(Img. 5)

Mais informações em: www.sarahhoodjewelry.com

“A relva não é só para fazer vista mas sim para ser pisada.” FERNANDO RIBEIRO ROSA, PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA DE SANTA MARIA DE BELÉM. (txt.) Margarida Rocha de Oliveira — Os espaços verdes são uma das características mais apelativas para quem vem passear a Belém. De que forma a Junta de Freguesia pode intervir nestes espaços? — A Junta de Freguesia desde a primeira hora que definiu como prioritária a intervenção no espaço público e, muito especialmente, nos diferentes espaços verdes da freguesia. Há já alguns anos que a manutenção da maioria dos jardins (cerca de 50.000 m²) é incumbência directa da Junta, por delegação de competências da Câmara Municipal de Lisboa (CML), e tem-se feito um forte investimento em irrigação automática e também em construção de novos jardins (alguns deles integrando pequenos polidesportivos descobertos e parques de fitness). Belém é mundialmente conhecida como um local recheado de belos monumentos históricos e de grandes e lindos jardins, sendo a freguesia mais ocidental de Lisboa e detentora da maior zona ribeirinha da cidade, precisamente “onde o rio abraça o mar”. Tendo em conta toda esta realidade, acrescido o facto de ser um local de excelência de passagem de turistas e de delegações oficiais de países estrangeiros que nos visitam, temo-nos esforçado por dar vida própria e animação aos diferentes jardins, nomeadamente na zona do centro histórico de Belém. Para nós é fundamental que os espaços ajardinados estejam sempre ao serviço do bem-estar das pessoas

que os frequentam, sendo, por conseguinte, uma prioridade a existência de uma boa manutenção, porque tudo isso terá inevitavelmente repercussões na nossa qualidade de vida. — Quais os espaços verdes menos conhecidos de Belém que poderiam ter mais usufruto? — De uma forma geral os nossos espaços verdes têm sido utilizados de forma positiva e cada vez mais fundamentalmente pelos cidadãos de Lisboa, mas também por turistas das mais diferentes proveniências. Contudo, é óbvio que há zonas menos conhecidas por estarem mais escondidas e menos expostas, como são os casos das cinco praças ajardinadas de Malaca, Diu, Damão, Fernão Lopes de Castanheda e Goa, na zona do Restelo, algumas delas a necessitarem de reabilitação. — O que é para si um jardim com as condições ideais de fruição? — Um jardim com as condições ideais de fruição é precisamente um espaço verde simples, bem mantido e com alguns equipamentos de apoio. No entanto, a relva não é só para “fazer vista”, mas sim para ser pisada e utilizada à vontade pelos frequentadores desse espaço. — É verdade que este ano é inaugurado um novo jardim público em Belém?

— De facto acabámos de inaugurar mais um jardim em Belém, precisamente no meio do Bairro das Terras do Forno (mais conhecido por Bairro de Belém), no âmbito do empreendimento “Belém Townhouses”, junto ao futuro Centro Social da Junta de Freguesia (que está em acabamentos finais para também ser inaugurado em breve). — O que gostariam de vir a concretizar no futuro neste âmbito? — Gostaríamos de continuar a fazer tudo aquilo que até agora temos vindo a realizar, mas dando uma ênfase muito especial à manutenção e investimento na irrigação automática, porque já construímos muitos jardins e há que consolidar e manter em boas condições de usufruto todos os que existem. De forma muito especial gostaríamos que a CML, no âmbito das suas atribuições de manutenção directa do Jardim da Torre de Belém, reabilitasse aquele magnífico relvado que ficou bastante deteriorado aquando da cerimónia de assinatura do Tratado de Lisboa e colocasse mais equipamentos de fitness nos jardins da zona ribeirinha da nossa freguesia.

(Img. 6) Mais informações em: www.jf-belem.pt

Hafsteinn Juliusson (txt.) Margarida Rocha de Oliveira — Quais os conceitos subjacentes ao projecto “Growing Jewelry”? — Este projecto é uma redefinição dos valores da modernidade. Quis confrontar a joalharia com a jardinagem e a moda com o orgânico – é uma colecção de joalharia que foi desenhada para pessoas que vivem em cidades metropolitanas. É também uma forma de devolver a natureza, que é o pressuposto da vida, ao ser humano. — Sendo a Islândia a sua terra natal, encontra aí inspiração para o seu trabalho? —Sim, é realmente uma inspiração. A minha ligação à natureza é muito próxima e tem um papel muito

importante em todo o meu trabalho enquanto designer. — De que forma se consegue manter as peças vivas? — É preciso cuidar e tratar delas da mesma forma que se trata uma planta, regando e por aí fora. Penso nestas peças de joalharia como objectos para ocasiões especiais e se, por algum motivo, a parte natural se deteriorar é da responsabilidade do dono, a quem cumpre providenciar aquilo de que a planta precisa. É como um diálogo com a natureza. — Que princípios estão sempre presentes no seu trabalho enquanto designer? —Quero estar envolvido com a sociedade,

a ecologia e tentar evitar tudo o que é produção de massas. Para mim, nada é sagrado e faço questão de não pensar no design como algo restrito, encaro-o mais como um campo amplo de discussão. Sou fascinado pelas coisas simples e pelas soluções divertidas com conceitos sólidos. É por isso que, para mim, não me interessa se estou a trabalhar com acessórios, comida, móveis ou refrigerantes.

(Img. 7) Mais informações em: www.hafsteinnjuliusson.com



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