Resgate da Paisagem de Cerrado na cidade de São Carlos

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resgate da paisagem de cerrado


resgate da paisagem de cerrado na cidade de são carlos


Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo Faculdade de Arquitetura Artes e Comunicação - FAAC/UNESP Bauru Mariana Turati de Oliveira Orientadora Dr.ª Marta Enokibara

São Carlos, 2021



às paisagens de São Carlos, que me cercaram durante toda a infância, e ao Cerrado, que tive a honra de encontrar durante minha graduação.


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AGRADECIMENTOS Agradeço ao meus pais, Fabiana e Marcelo, pelo apoio às minhas escolhas e caminhos, pelo amor e sustento durante toda minha vida, assim como toda minha família. Agradeço meus professores que me orientaram até este momento, e em especial às minhas professoras de paisagismo, mulheres que me inspiraram e instigaram a descobrir essa área tão repleta, complexa e encantadora. Um agradecimento especial à Professora Marta, minha orientadora, por acompanhar mais de perto essa minha ascendente paixão pelo verde e pela paisagem durante esses anos de graduação. Aos amigos que Bauru me trouxe, esse amor e apoio foram imprenscindíveis para todo o processo e me fizeram uma pessoa cada vez melhor. Ao meu amor, Léo, companheiro de campo, de levantamento, desbravador de paisagens junto comigo, que me acompanha em todos os momentos e participou de todo o processo dessa pesquisa. Agradeço aos alunos da gradução de Biologia da USFSCar e da UNESP, que me auxiliaram em diversos momentos de dúvida. Agradeço à UNESP, pela orportunidade de realizar o sonho da formação em arquitetura

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RESUMO

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Há séculos o Cerrado vem sendo tratado com valor utilitarista e explorado incessantemente no Brasil. O bioma com maior biodiversidade dentre todas as savanas do mundo, ainda não tem seu reconhecimento e cuidados necessários para preservação e perpetuação, e segue sendo devastado cada vez mais. Hoje restam no Brasil apenas 21,6% de sua vegetação original, situação que decorre pela pressão humana por ocupação, resultado de uma falta de consciência e engajamento em relação ao Cerrado. Nos dias atuais, essa proximidade da natureza está cada vez mais difícil com uma população majoritariamente urbana em cidades sem espaços verdes. Os poucos têm uma flora em sua maioria exótica, tornando quase impossível criar uma relação afetiva das pessoas com o bioma nativo do território em que vivem. Neste contexto, a presente pesquisa tem como objetivo analisar a paisagem de São Carlos, cidade média no interior do estado de São Paulo, como subsídio para um projeto paisagístico utilizando a flora de Cerrado. Para isso foi feito um

estudo sobre o bioma e suas fitofisionomias, para entender sua paisagem; levantamento fotográfico de áreas verdes da cidade para coletar possíveis heranças do Cerrado ainda existentes em São Carlos; análise e estudo da flora nativa, bem como de diferentes abordagens metodológicas de projetos paisagísticos que possam ser aplicadas com a flora do Cerrado. O objetivo específico é propor um projeto de espaço livre público utilizando a flora nativa, promovendo lazer e educação de forma cotidiana no meio urbano para a população de São Carlos em relação a paisagem de Cerrado, visando mais áreas de conservação e educação dentro da cidade sobre o bioma. Almeja-se que esse tipo de vivência verde sensibilize as pessoas para uma consciência mais plena e verdadeira para com o Cerrado e sua situação de ameaça.

Palavras-chave: Cerrado, São Carlos, paisagismo, biodiversidade urbana


For centuries the Cerrado has been treated with utilitarian value and explored incessantly in Brazil. The biome with the greatest biodiversity among all the savannas in the world, still does not have the recognition and necessary care for preservation and perpetuation, and continues to be devastated more and more. Today, only 21.6% of its original vegetation remains in Brazil, a situation that results from human pressure for occupation, the result of a lack of awareness and engagement in relation to the Cerrado. Nowadays, this proximity to nature is increasingly difficult with a mostly urban population in cities without green spaces. The few have a flora that is mostly exotic, making it almost impossible to create an emotional relationship between people and the native biome of the territory in which they live. In this context, the present research aims to analyze the landscape of São Carlos, a medium city in the interior of the state of São Paulo, as a subsidy for a landscape project using the flora of the Cerrado. For this, a study was made on the biome and its phytophysiognomies, to unders-

tand its landscape; photographic survey of green areas of the city to collect possible Cerrado inheritances that still exist in São Carlos; analysis and study of native flora, as well as different methodological approaches to landscape projects that can be applied with the flora of the Cerrado.

ABSTRACT

The specific objective is to propose a public free space project using native flora, promoting leisure and education on a daily basis in the urban environment for the population of São Carlos in relation to the Cerrado landscape, aiming at more conservation and education areas within the city on the biome. It is hoped that this type of green experience will sensitize people to a fuller and more true awareness of the Cerrado and its threatening situation.

Key words: Cerrado, São Carlos, landscaping, urban biodiversity

9


5.

sumário

5.1.

1. Introdução 2. Justificativa 3. Objetivos 4. Metodologia

14

15

17

18

O BIOMA CERRADO Fitofisionomias do Cerrado: o que é e como é o Cerrado

20 22

5.1.1. Formações Florestais

23

5.1.2. Formações Savânicas

25

5.1.3. Formações Campestres

27

5.2.

Situação Ambiental do Cerrado: como está o Cerrado, sua importância, quais fitofisionomias merecem tenção e porquê

28


6.

6.1. 6.2.

A CIDADE DE SÃO CARLOS

30

São Carlos: situação ambiental

32

Percepção da paisagem verde de São Carlos: há Cerrado no cotidiano?

6.2.1. Metodologia para o levantamento fotográfico

6.3.

Paisagens verdes de São Carlos

34 34 38

6.3.1. Verde Próximo

38

6.3.2. Fundos de Vale

44

6.3.3. Verde Pontual ou Disperso

52

6.3.4. Paisagem Distante ou Horizontes

58

6.4.

Expressões de Cerrado em São Carlos

66

6.4.1. O Cerrado reconhecido

66

6.4.2. O Cerrado espontâneo

72

6.4.3. O Cerrado escondido

82

6.5.

Conclusão sobre as paisagens de Cerrado em São Carlos

90


7. FLORA DE CERRADO

92

7.1.

Reconhecendo a flora

95

7.2.

Espécies utilizadas, recomendadas e em ensaio

98

8. SUBSÍDIOS PROJETUAIS:

possibilidades paisagísticas com o Cerrado

8.1. 8.2.

Ecogênese e Cerrado

100 102

New Perennial Movement e o paisagismo de Mariana Siqueira 104

9. PROPOSTA PROJETUAL 9.1. 9.2.

Local: a cidade de São Carlos Fundo de Vale do Córrego do Monjolinho

112 114

118

9.2.1. Análise do entorno e de áreas livres

120

9.2.2. As paisagens do fundo de vale

122


9.3.

Proposta: lazer ao ar livre

9.3.1. Áres degradadas e espécies de recuperação

9.4.

Recorte Projetual

9.4.1. Proposta

9.5.

Passarela

134 135

138 146

148

9.6.

Canteiro e o Córrego

158

9.7.

Jardim da Esquina

164

9.7.1. A vegetação: o Cerrado Revelado

170

10. CONSIDERAÇÕES FINAIS

188

11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

192

ANEXO I: Paisagens de São Carlos ANEXO II: Lista de espécies disponíveis no Horto Municipal de São Carlos


Francisco e Prata) (SIQUEIRA, 2016) contribuindo também para o abastecimento de água destas bacias por conta da fisionomia de suas espécies vegetais (CABALLERO, 2017).

1. INTRODUÇÃO Com suas árvores retorcidas, de casca grossa, distribuídas em sua vegetação rasteira, o Cerrado está distante da estética tropicalista da paisagem brasileira. As imagens de florestas densas, com folhagens largas, características de biomas como a Mata Atlântica ou Floresta Amazônica, são as emolduradas como a paisagem típica brasileira (BOKOS, 2017). No entanto, 23% de todo território brasileiro era coberto originalmente pelo bioma Cerrado, sendo o segundo maior do país depois da Floresta Amazônica (BOKOS, 2017,apud RIBEIRO;WALTER, 1998.). Mesmo assim sua paisagem não recebe o devido valor, sendo nele onde ocorre maior biodiversidade em comparação à todas as outras formações savânicas encontradas no mundo. Sua flora possui mais de 11 mil espécies, dessas, 40% são endêmicas (que não ocorrem em outro lugar), além de no Brasil abrigar nascentes das três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São 14

O Cerrado sofre de um processo de degradação que se iniciou no século XVIII com a exploração por ouro e outras pedras preciosas, perpetuou no século XX, com a expansão agrícola e pecuária, e atualmente restam apenas 21,6% da vegetação original do Cerrado (IARED, 2015, p.79 apud Mittermeier et al., 2004 e Myers et al., 2000). Nesse contexto é clara a necessidade de preservação do bioma. Há alguns anos essa importância vem sendo notada inclusive na área do paisagismo, com o trabalho de Mariana Siqueira, arquiteta paisagista vem ensaindo a flora do Cerrado em alguns projetos em Brasília, entre eles o projeto “Jardins de Cerrado” (BOKOS, 2017). São Carlos: Localizada no interior do estado de São Paulo, a cidade de São Carlos caracteriza-se como uma cidade de porte médio. A composição original da vegetação do Município de São Carlos era compreendida por formações de Cerrado, florestas semidecíduas, matas ripárias e florestas semidecíduas com a presença de espécies como a Araucaria angustifólia (árvore símbolo, e que consta inclusive na bandeira da cidade) (BERTINI, 2014).

Segundo apontamento feito por Bertini em uma pesquisa de 2003 (BERTINI, 2014 apud Soares et al. 2003) constatou-se que a cobertura vegetal da cidade encontrava-se bastante fragmentada e empobrecida, predominando o Cerrado com diferentes fisionomias, em parte devido às condições climáticas e do solo, mas principalmente devido à interferência humana. Sobre essa vegetação remanescente na cidade, o local mais notável é o Cerrado do campus da Universidade Federal de São Carlos, que conta com uma área de 672 hectares, que pertenceu à fazenda Tranchan, adquirida pela Prefeitura Municipal em 1968. São encontradas áreas de vegetação natural em 20% da gleba, abrangendo vários tipos de formações, predominando diversas formas de Cerrado. Estas áreas de vegetação natural são mantidas para a realização de atividades de pesquisa, ensino e extensão da Universidade. Ao norte foi implantada uma trilha aberta às atividades para alunos das várias escolas da cidade e da região, com uma extensão de aproximadamente 1600 metros (DeAEA/UFSCAR, 2020). Apesar de a área contar com uma grande variedade de flora e estar próxima à movimentação do campus, seu alcance de forma cotidiana para a população de São Carlos não é tão eficiente, já que se localiza nas bordas do perímetro urbano e seu acesso não é tão facilitado para quem não estuda ou trabalha no campus.


Segundo Bertini (2014), em São Carlos os espaços verdes públicos compreendem 6,55% de área da malha urbana. O mesmo autor afirma em sua tese, onde avalia a cobertura vegetal como parâmetro de qualidade ambiental em São Carlos, que o município atende, em média, uma boa qualidade. Porém esses valores não são homogêneos e as áreas centrais da cidade contêm índices não satisfatórios de espaços verdes. Sobre essas áreas urbanas ainda não foram feitos ou encontrados levantamentos sobre sua biodiversidade, se são configuradas por vegetação nativa ou exótica, ou ainda se tratam de áreas de Cerrado. Entretanto, em um levantamento feito por Sucomine (2009) sobre o patrimônio arbóreo da malha viária central de São Carlos, foi possível averiguar uma possível relação de nativas e exóticas nessa vegetação, possibilitando quantificar futuramente à que biomas pertencem. Sobre o Cerrado, existem pesquisas recentes na cidade, principalmente na área de biologia, em relação à sua conservação e estudo (TARTAGLIA, 2004; DODONOV, 2011; MELLO, 2019).

2. JUSTIFICATIVA O Cerrado atua como transição de vários biomas, e apesar de sua ampla distribuição e importância no país, ele é um dos biomas mais negligenciados em termos de conservação e recuperação. Assim, apesar da maior parte da vegetação de São Carlos ser composta por floresta semidecídua e mata ripária a conservação do bioma de Cerrado neste local também é importante. Em pesquisa feita por Bizerril (2004), com estudantes do ensino básico de uma escola em Brasília (DF), foi identificado o baixo valor afetivo e alto valor utilitarista em relação ao Cerrado. Para o autor, a percepção do Cerrado como um ambiente seco, desprovido de beleza, é comum no discurso de muitos brasileiros (IARED, 2015). Esse valor afetivo pode provir de um convívio próximo da natureza e da educação ambiental. A questão é como levar de forma profunda e não mecanizada esse contato à população a fim de que se gere um vínculo e cuidado em relação ao Cerrado.

Na área da pedagogia vem sendo discutido há algumas décadas que a educação não deve se reduzir à transmissão de informações ou se restringir à esfera do conhecimento para chegar à compreensão. O processo passa pelo simbolizar e pelo vivenciar, porque ninguém adquire novos conceitos se estes não se referirem às suas experiências de vida. A educação estética trabalha no sentir, ou seja, a experiência que temos do mundo é emocional, ela é sentida antes de ser compreendida (IARED, 2015, p. 23 apud DUARTE Jr, 1988, p.32-33). É nesse aspecto que o projeto paisagístico com o Cerrado no meio urbano pode entrar em contato com a população de forma espontânea e cotidiana, gerando uma vivência sentimental com sua vegetação e a paisagem. A dimensão estética em questão não é a de uma concepção restrita à percepção do belo, mas sim de toda forma de experiência que coloca o ser humano em imersão no mundo vivido e que, portanto, faz dele um ser social e participante de uma construção cultural. Considera-se que a experiência estética funda vínculos com a natureza, que são essenciais na defesa da conservação da biodiversidade (IARED, 2015, p.78 apud MARIN, SILVEIRA, 2009, p. 178). Em uma pesquisa conduzida por Iared (2015) na trilha de Cerrado presente na UFSCar, foram entrevistadas pessoas com valor afetivo em relação à trilha e o Cerrado local, levantando questões interessantes sobre como estabelecer, e foDepoimento do entrevistado retirado na íntegra da tese de Iared (2015) 1

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mentar uma relação entre população e natureza. Os resultados indicaram que as vivências informais e espontâneas na natureza assim como momentos de conflito e diálogo, foram cruciais para o desenvolvimento de um vínculo com o Cerrado. Um aspecto muito comentado entre os entrevistados foi o lazer coletivo. O fato das pessoas estarem em um momento de diversão e descontração, acompanhadas de amigos e parentes faz a experiência ser significativa e prazerosa (IARED, 2015, p.83) Uma das preocupações é onde propiciar tais vivências inseridas no bioma uma vez que grande parte da população é urbana. Para isso é necessário superar o distanciamento do ser humano com a natureza e pensar em formas de realizar educação ambiental e lazer ao ar livre nas cidades (IARED, 2015 apud McClaren, 2009). Nesse contexto, alguns apontamentos indicaram a possibilidade de trazer espécies nativas do Cerrado para o âmbito do paisagismo como oportunidade de experiência estética, como afirmou um dos entrevistados de Iared (2015): “Mas também porque ... o cerrado, além de não ser valorizado, ele nunca, ele não é considerado um exemplo de vegetação que poderia ser trazida para o âmbito do paisagismo” 1.

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Por essas vivências afetivas em relação à natureza e ao espaço natural ocorrerem, principalmente, em momentos de lazer, há de se destacar a importância dessas experiências acontecerem então em espaços no meio urbano e mais coti-

dianos à população, tornando-as mais frequentes e naturais. Outra questão trazida nessa pesquisa desdobra-se também em como se projetar esses espaços educacionais, cotidianos e convidativos com uma flora que mal começou a ser ensaiada e estudada. A flora do Cerrado é quase invisível em projetos de arquitetura da paisagem e inexiste em viveiros convencionais (SIQUEIRA, 2016). Porém, o paisagismo contemporâneo internacional começou a levantar questões parecidas com as do Cerrado para os projetos paisagísticos. No século 21 ressurge, em diversas partes do mundo, o interesse na utilização de espécies nativas em paisagens construídas. Plantas “selvagens” com notável potencial paisagístico são buscadas na natureza (o chamado plant hunting) (SIQUEIRA, 2016). A biodiversidade urbana trazida com a utilização dessas espécies é um tema ainda pouco explorado, mas em plena ascensão em institutos de pesquisa e universidades em todo o mundo (SIQUEIRA, 2016, p.39 apud CONNIFF, 2014). Surge na contemporaneidade um movimento emergente chamado New Perennial Movement, onde nos países de clima temperado, ganham novamente destaque jardins feitos com plantas herbáceas perenes (gramíneas incluídas), onde são criadas comunidades vegetais com alta biodiversidade que requerem baixa manutenção: são os jardins naturalistas contemporâneos. É possível traçar um paralelo entre essas formações

savânicas de clima temperado e o Cerrado, considerando a suma importância das gramíneas e outras herbáceas nas composições florísticas do bioma Cerrado e dos New Perennial Gardens, e a zonalidade climática que os marca, ainda que de formas diferentes (SIQUEIRA, 2016). Diante do exposto há uma afirmação de Burle Marx, sobre o legado e patrimônio vegetal brasileiro que pode ser aplicado para o Cerrado no paisagismo contemporâneo: “A missão social do paisagista tem esse lado pedagógico de fazer comunicar às multidões o sentimento de apreço e compreensão dos valores da natureza pelo contato com o jardim e o parque. [...] Também a nossa atitude tem um sentido projetivo, em relação ao futuro, para mostrar que houve alguém preocupado em deixar um legado valioso em estética e utilidade para os pósteros” (SIQUEIRA, 2016, p.39 apud MARX, 2004, pg.94).

Assim, é necessário ter consciência sobre uma flora nativa não só nacional, mas regional, especialmente com uma tão rica e ameaçada como o caso do Cerrado, e gerar maneiras de transmitir a importância desse patrimônio para que a população e futuras gerações o protejam.


um projeto com essa flora e que há espaço físico para adaptar o Cerrado à cidade.

3. OBJETIVOS Objetivo geral Gerar um projeto paisagístico que traga a possibilidade de vivências cotidianas e educativas da população de São Carlos com o Cerrado, justificado pela situação do bioma e a relação atual da população com ele e demais áreas verdes urbanas, levantados em pesquisa. Alguns pontos cruciais para o projeto será estudar a ecologia do bioma, sua flora, a situação da paisagem verde da cidade de São Carlos, a expressão do Cerrado na cidade, a relação da população com esse bioma e os espaços livres da cidade, e possíveis métodos projetuais e ensaios paisagísticos com a flora do Cerrado. Esses levantamentos e estudos tem a intenção de trazer subsídios para o desenvolvimento de um projeto paisagístico em São Carlos, que valorize um espaço com o Cerrado e plantas típicas de maneira ecologicamente coerente, ou ainda mostrar que há subsídios vegetais para implantar

Busca-se introduzir o Cerrado no cotidiano urbano, construindo uma relação de convivência próxima à população, visando vínculos com o bioma e criando a possibilidade de redes verdes que envolvam o Cerrado na paisagem da cidade e sua dinâmica. Além de fomentar uma memória em relação ao Cerrado, tomando partido do lazer, a contemplação e a educação ambiental nesse espaço verde, valorizando a estética do bioma de forma mais presente para o imaginário da paisagem popular, contribuindo para gerar afetividade com esse vegetação e a paisagem.

Objetivo específico Através dos estudos preliminares sobre o Cerrado e a cidade de São Carlos desenvolver um projeto de espaço livre público utilizando flora nativa, ou remanescentes desta, promovendo lazer e educação de forma cotidiana para a população em relação a essa paisagem original de Cerrado degradada.

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1- Revisão bibliográfica pertinente ao tema do Cerrado. A revisão bi para esclarecer as definições de Cerrado, sua morfologia, fitofisionom rísticas e situação ambiental atual do bioma.

4. METODOLOGIA O presente trabalho foi elaborado em 7 estapas, apresentadas a seguir:

2- Revisão bibliográfica sobre trabalhos que relacionam o Cerrado situação ambiental da cidade. Foram coletados mapas, teses de anál outros levantamentos sobre áreas verdes e a flora presente na cidade. nesse levantamento da cidade as lacunas a serem trabalhadas no paisa Cerrado.

3- Levantamento fotográfico e análise da paisagem de São Carlos, e ção dos espaços livres na cidade e onde e como o Cerrado está presen

4- Reconhecimento de algumas espécies de Cerrado buscando maio estas para identificação do bioma na cidade e futuramente para o desen jeto paisagístico. O reconhecimento foi feito a partir da leitura e estudo do bioma e bibliografia sobre florística, além de consultas feitas com a Santos Silva das fotografias de áreas da cidade.

5- Escolha da área de estudo e intervenção na cidade de São Carlos

6- Levantamento dos usos e necessidades do entorno da área de e uma perspectiva macro (Plano Diretor) e micro (entorno imediato).

7- Estudo de trabalhos na área do paisagismo que abordam o Cerrad de metodologias de projeto possivelmente aplicáveis. Além de estudo de flora de Cerrado. 18


ibliográfica será feita mias, demais caracte-

o em São Carlos, e a lise ambiental, entre . Buscando entender agismo abordando o

esclarecendo a situante nestes.

or familiaridade com nvolvimento do proo de listas de espécies a bióloga Solange dos

s.

estudo escolhida em

do enquanto projeto, de guias de replantio 19



5. O BIOMA CERRADO


com características de solo, clima e espécies.

5.1. Fitofisionomias do Cerrado: o que é e como é o Cerrado Atualmente o Cerrado já é majoritariamente entendido e caracterizado como uma savana2 , apesar das divergentes denominações desse tipo de formação vegetal pelo mundo e pela falta de consenso acadêmico que ainda existe sobre nomenclatura e estudos do bioma (WALTER, 2006). No Brasil, ocupa 23% do território, e seu clima caracteriza-se como tropical chuvoso, tendo invernos secos e verões bastante úmidos, com precipitações marcadas entre os meses de outubro e março (RIBEIRO; WALTER, 2008). O solo do cerrado é também característico para a conformação de sua flora. Apesar de variar entre as diferentes formações vegetais do bioma, sua textura característica altera a retenção de umidade, a baixa disponibilidade de nutrientes e a pequena profundidade de alguns solos (WALTER, 2006).

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2 Classificação adotada segundo o estudo de nomenclatura e termos acerca do Cerrado feito por Walter (20016).

Existe o entendimento de Cerrado sentido amplo e Cerrado sentido restrito (stricto sensu). O primeiro caracteriza-se pela composição florística e fisionomia sem levar em conta um critério de estrutura, ou seja, ele é muito mais abrangente em relação às formações savânicas, o segundo é uma das fitofisionomias savânicas, ou seja, ele é definido pela composição florística, fisionomia e estrutura também (WALTER, 2006). É pertinente esclarecer essas duas nomenclaturas, pois o Cerrado stricto sensu é umas das principais fitofisionomias e caracteriza o bioma como um todo, em questão estética e de maneira cultural. Antes de entender como manejar, recuperar ou construir uma paisagem de Cerrado é necessário entender sua conformação, de clima, terreno e especialmente sua vegetação. O bioma Cerrado se divide em três formações principais: as florestais, as savânicas e as campestres (Figura 1). Cada uma dessas formações vegetais possuem fitofisionomias distintas e que transitam entre si,

A classificação das fitofisionomias divergiu entre autores ao longo dos anos, tendo até hoje grande diversificação de nomes no Cerrado que permanecem sendo levantados e classificados. Para a presente pesquisa foi utilizada a classificação mais aceita comumente, de Ribeiro e Walter, descrita em ‘Fitofisionomias do bioma Cerrado’ (1998) (BOKO, 2017). Entender as fitofisionomias é uma das maneiras de se começar a entender a formação da paisagem do Cerrado, a partir disso traçar as espécies vegetais, circunstâncias de clima, solo e a relação entre cada fitofisionomia e formação florística, para assim entender de fato o funcionamento ecológico desse bioma. Walter (2006) levanta em sua pesquisa também a similaridade entre cada fitofisionomia, pautada pelas espécies comuns entre cada formação, sendo possível observar possíveis relações e transições entre elas. Segundo o mesmo autor: “[...] parece haver uma tendência das fitofisionomias componentes de cada formação serem mais similares entre si, isto é, florestas com florestas, savanas com savanas e campos com campos” - WALTER, 2006, p.368.


Figura 1: Formações e fitofisionomias do Cerrado Fonte: Ribeiro e Walter, 2008.

5.1.1. Formações Florestais Formações florestais são as que as formações vegetais com predominância de arbóreas, com dossel alto e contínuo (Figura 2). Essa formação subdivide-se em Mata Ciliar, Mata de Galeria, estas associadas à cursos d’água, Mata Seca e Cerradão, que ocorrem em terrenos sem cursos de água e bem drenados (EMBRAPA, 2020). Existem ainda outras subdivisões dessas fitofisionomias florestais, assim como as demais fitofisionomias que serão apresentadas a seguir, contudo para o objetivo e foco da presente pesquisa esse tipo de refinamento das fitofisionomias inicialmente não se mostrou necessário.

Figura 2: Formação florestal e suas fitofisionomias Fonte: Ribeiro e Walter, 2008.

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Mata Ciliar A Mata Ciliar é caracterizada pela vegetação florestal e a presença de cursos de água de médio a grande porte, em que a vegetação não forma galerias (não se fecha sobre o rio). Ela é estreita nas margens, chegando a 100 metros de largura para cada lado do rio. Pode ocorrer em áreas planas, onde ocupa larguras maiores das margens, porém, sua principal ocorrência é em terrenos acidentados. Sua vegetação é composta principalmente por árvores com altura entre 20 e 25 metros, e caracterizada como semidecídua, pois predominam as plantas caducifólias (plantas que perdem suas folhas em determinadas estações) e algumas sempre-verdes. A cobertura arbórea da Mata Ciliar varia de 50 a 90% ao longo do ano, sendo maior nas estações chuvosas (RIBEIRO; WALTER, 2008).

Mata de Galeria Assim como a Mata Ciliar, a Mata de Galeria também está associada a cursos de água, porém de pequeno porte e córregos, onde a vegetação forma galerias sobre o curso d’água (corredores fechados de vegetação). Caracteriza-se como perenifólia (mantém sua folhagem durante todo o ano), até mesmo na estação seca. Costuma transitar de forma brusca com formações savânicas e campestres nas duas margens. Sua vegetação arbórea varia entre alturas de 20 e 30 metros, e 24

por conta de manter sua cobertura sua umidade relativa é alta até mesmo na época mais seca do ano (RIBEIRO; WALTER, 2008).

Mata Seca A Mata Seca abrange várias formações florestais caducifólias em vários níveis. Essa formação, diferente das duas anteriores, não se associa a cursos de água e ocorre em solos mais ricos em nutrientes em interflúvios. A Mata Seca pode ser subdividida em Mata Seca Sempre-Verde, Mata Seca Semidecídua (sendo a mais comum), e Mata Seca Decídua, a classificação desses subtipos vai depender de fatores como solo, composição florística, e consequentemente da queda de folhas nos períodos secos. O solo das Matas Secas é inclusive rico por esse processo de obtenção de matéria orgânica a partir da queda das folhagens, esse processo é relevante mesmo na Mata Seca Sempre-Verde (em que há muito pouca queda da folhagem). A altura média das árvores também tem uma pequena queda para essa formação, entre 15 e 25 metros.

do Cerrado típico (stricto sensu). Por alguns aspectos que veremos sobre a flora do Cerrado, e pelo fato de muitas das suas espécies serem características do Cerrado stricto sensu, o Cerradão é colocado por alguns estudiosos como uma mata rala e fraca (Walter, 2006 apud Campos, 1943). O dossel desta fitofisionomia é predominantemente contínuo, e oscila entre 50 e 90% de cobertura ao longo do ano. Suas espécies arbóreas tem altura média entre 8 e 15 metros, isso faz com que mais do que as outras formações florestais o Cerradão seja mais propício para a formação de estratos arbustivos e herbáceos mais diversos, pela maior permeabilidade de luz (RIBEIRO; WALTER, 2008).

Cerradão O Cerradão é uma formação florestal com aspectos xeromórficos3 , sua vegetação é composta por espécies que aparecem no Cerrado stricto sensu e em matas, por isso essa formação apesar de ser florestal, sua flora se aproxima muito mais

3 São plantas com adaptações a climas semiárido a desértico, ou então em regiões úmidas, mas salinas, como os mangais


5.1.2. Formações savânicas

Figura 3: Formação savânica e suas fitofisionomias Fonte: Ribeiro e Walter, 2008.

As formações savânicas citadas aqui são as que se enquadradam na literatura na definição de savana, termo ainda a ser melhor esclarecido 4. Essas formações englobam uma vegetação com presença de arbóreas e arbustos espalhados com maior diversidade de espécies sobre gramíneas (BOKOS, 2017). As formações savânicas encontradas no Cerrado são quatro tipos fitofisionômicos: Cerrado sentido restrito (stricto sensu), Parque de Cerrado, Palmeiral e Vereda (WALTER, 2006) (Figura 3). 4 Walter (2006) explana em sua tese a falta de definições claras para savanas e termos acerca do Cerrado e sua formação na literatura. Segundo o autor, o estudo do bioma conta com uma nomenclatura muito vasta e muitas vezes confusa sobre algumas definições.

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Cerrado sentido restrito (stricto sensu): inclui Cerrado denso, Cerrado Típico e Cerrado Ralo O Cerrado sentido restrito apresenta vegetação típica e uma das mais associadas com o bioma como paisagem. Suas arbóreas são mais baixas, não costumam atingir mais de 8 metros de altura em suas formações mais densas e altas, são inclinadas e tortuosas e suas ramificações são irregulares e retorcidas. Os arbustos são distribuídos por toda formação e alguns possuem órgãos subterrâneos perenes (xilopódios), o quê possibilita a rebrota da planta após incêndios. Como adaptação ao fogo as plantas lenhosas possuem em maioria cascas grossas, fendidas ou com sulcos, e as folhas em geral são rígidas e coriáceas. Contudo, em épocas chuvosas os estratos subarbustivos e herbáceos crescem rapidamente, trazendo muita exuberância para o Cerrado stricto sensu. Diversos fatores do ambiente influenciam a densidade arbóreas dessa formação, assim como sua formação florística e distribuição. Características essas também que interferem nas diferentes subdivisões do Cerrado stricto sensu, sendo elas: Cerrado Denso, Cerrado Típico, Cerrado Ralo e Cerrado Rupestre (WALTER, 2006).

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Vereda

Parque de Cerrado Nessa formação savânica caracteriza-se a presença de espécies arbóreas agrupadas em pequenas elevações do terreno, conhecidas como “murundus” ou “monchões”5 , enquanto as arbustivas e herbáceas predominam nas áreas planas adjacentes aos murundus. Essa conformação vegetal se dá principalmente pelos solos dos murundus serem melhor drenados. As árvores nessa formação possuem altura media de 3 a 6 metros e formam coberturas que não ultrapassam 20%. No geral, a flora que ocorre nos murundus é muito similar à do Cerrado sentido restrito (Walter, 2006 apud Oliveira Filho, 1992b).

A Vereda é a formação savânica com a predominância da palmeira Mauritia flexuosa (buriti) especificamente e com presença de agrupamentos (podendo ser densos ou não) de espécies arbustivo-herbáceas. Nessa formação os buritis não formam dossel como no Buritizal, do Palmeiral, e sua cobertura varia de 5 a 10% e com a altura das palmeiras variando de 12 a 15 metros. Costumam ocupar áreas planas e acompanham linhas de drenagem definidas, podendo também estar próximas a nascentes d’água ou em bordas de Matas Ciliares (WALTER, 2006).

Palmeiral O Palmeiral caracteriza-se pela presença marcante de uma única espécie de palmeira arbórea, sendo quase inexistente a presença de outras espécies arbóreas dicotiledôneas ou com uma frequência baixa. Existem vários tipos de palmeirais, pois são denominados segundo a espécie de palmeira predominante e conforme a espécie sua estrutura varia. Alguns exemplos são o Babaçual, formado pela espécie Attalea speaosa (babaçu), o Buritizal, formado pela espécie Mauritia flexuosa (buriti) (WALTER, 2006).

Os murundus são elevações convexas de solo bastante características, que variam em média de 0,1 a 1,5 metros de altura e 0,2 a mais de 20 metros de diâmetro (WALTER, 2006). 5


5.1.3. Formações campestres Formações campestres englobam fitofisionomias com maior predominância de herbáceas, arbustos e subarbustos se comparadas com as savânicas (BOKOS, 2017). As fitofisionomias são três: Campo Sujo, Campo Rupestre e o Campo Limpo (Figura 4).

Campo Sujo O Campo Sujo é um tipo fisionômico que possui exclusivamente herbáceas e arbustos, esparsos e alguns se constituem de espécies arbóreas menos desenvolvidas do Cerrado stricto sensu. O Campo Sujo subdivide-se em três tipos: Campo Sujo Seco, quando o lençol freático é profundo, Campo Sujo Úmido, quando o lençol freático é alto e Campo Sujo com Murundus, quando ocorre a presença de micro-relevos (murundus) em sua área (WALTER, 2006).

Campo Rupestre O Campo Rupestre também tem predominância herbáceo-arbustiva e de pequenas árvores pouco desenvolvidas com até 2 metros de altura. Sua vegetação distribui-se em agrupamentos sobre pequenos relevos possuindo espécies típicas. Sua composição florística depende do solo

presente e pode variar em poucos metros, assim como sua densidade. Ocorre com frequência agrupamentos florísticos de uma mesma espécie, situação condicionada pela umidade do solo, por exemplo. Pelas condições de seu ambiente o Campo Rupestre possui relevante presença de espécies endêmicas e plantas raras (Walter, 2006 apud Giulietti& Forero, 1990; Filgueiras,1994; Harley, 1995).

Campo Limpo Assim como nas formações campestres apresentadas anteriormente, o Campo Limpo também tem predominância de herbáceas, porém os arbustos são mais raros e não há qualquer espécie arbórea. É principalmente encontrado em encostas, chapadas, olhos d’água, ficando próximo de Veredas e bordas de Matas de Galeria. Assim como o Campo Sujo, o Campo Limpo divide-se em suptipos conforme características do solo e topografia, com as mesmas condicionantes, tendo assim o Campo Limpo Seco, Campo Limpo Úmido e o Campo Limpo com Murundus (WALTER, 2006).

Figura 4: Formação campestre e suas fitofisionomias Fonte: Ribeiro e Walter, 2008.

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5.2. Situação ambiental do Cerrado: como está o Cerrado, sua importância, quais fitofisionomias merecem atenção e porquê O Cerrado possui atualmente apenas 21,6% de sua vegetação nativa ainda existente (IARED, 2015, p.79 apud Mittermeier et al., 2004 e Myers et al., 2000), com seu alto endemismo e com o ritmo de desmatamento, sem recuperação planejada e o número de espécies exclusivas que possui, é previsto que em 2050 o Cerrado terá a maior extinção de plantas da história (SIQUEIRA, 2016 apud STRASSBURG et al., 2017) ou ainda desaparecer completamente até 2030 (IARED, 2015, p.26 apud CONSERVATION INTERNACIONAL, 2004). Por conta dessa devastação acelerada e de seu alto grau de endemismo o bioma é considerado um hotspot mundial (região biogeográfica com uma significativa reserva de biodiversidade ameaçada pela ação humana) e de todos eles, é o que possui menor porcentagem de áreas sob proteção integral, apenas 2,85% (SIQUEIRA, 2016).

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O entendimento do bioma como utilitário contribui há muito tempo para sua ocupação e degradação desenfreada. Formações savâni-

cas foram as primeiras ocupadas pelo homem (WALTER, 2006 apud Leakey & Lewin, 1981; Bronowski, 1983) e por sua facilidade de desbravamento sempre foi posta como passagem e local de ocupação (WALTER, 2006). Atualmente as savanas são a casa de cerca de um bilhão de pessoas no mundo (WALTER, 2006 apud Mistry, 2000), mesmo assim elas têm sido foco de destruição e ocupação há décadas para dar lugar a outras formas de uso da terra. Esse uso, em áreas de Cerrado, é caracterizado principalmente por sistemas de produção intensivo de plantio, com utilização de altas doses de fertilizantes e pesticidas, e mecanização pesada com altos índices de produtividade (WALTER, 2006). Este procedimento, além de devastar o bioma existente, pode tornar o solo não mais adequado para um reflorescimento de vegetação nativa de Cerrado. Esse uso do solo, apesar de trazer grande produtividade, afeta e esgota recursos naturais, em

especial o solo e a água, mostrando-se insustentável ao longo do tempo. Em Goiás o Cerrado perde aproximadamente 21 milhões de toneladas de solo por ano, junto com fertilizantes e pesticidas com plantações como as monoculturas de soja, milho e as pastagens (WALTER, 2006 apud Blancaneaux et al. 1998). Esse solo modificado chega a cursos d’água causando problemas de assoreamento, poluição de mananciais entre vários outros problemas ambientais que afetam também o bem estar humano (WALTER, 2006). É notável que já exista uma preocupação popular maior com biomas ameaçados, porém ainda há uma afetividade e uma preocupação mundial com florestas, formações cuja ameaça causa grande comoção. As savanas, entretanto, ainda são vistas como formações vegetais de menor importância. Um exemplo dessa situação é o termo “savanização”, utilizado para referir-se a áreas originalmente de florestas que foram transformadas de forma negativa, também associa-

do ao perda enten versid ter, se flores

As ção p impo cisam prese savân mais de es


o de “desertificação”, termos que aludem a a de biodiversidade (WALTER, 2006). Esse ndimento infelizmente ajuda a encobrir a didade que uma savana como o Cerrado pode endo tão vasta ou ainda maior que a de uma sta.

ssim, além de ser importante voltar a atenpara conservação do Cerrado é também ortante atentar-se à qual fitofisionomias prem de maior atenção em relação à estudos, ervação e recuperação, sendo as formações nicas e campestres, como foi apresentado, as devastadas e as que possuem maior número spécies endêmicas do bioma.

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6. A CIDADE DE SÃO CARLOS


Localizada no interior do estado de São Paulo, São Carlos foi fundada no ano de 1857 com a preexistência da Sesmaria do Pinhal. Entre 1831, demarcação da Sesmaria, e a data de fundação formam-se as fazendas de café, atividade econômica que acompanharia a história da cidade de forma expressiva. Em 1884 chega a ferrovia no município trazendo maior infraestrutura urbana para a cidade e formas de escoamento de mercadoria, juntamente com imigrantes que trouxeram força de trabalho e expansão econômica para a cidade, e entre 1930 e 1940 a indústria se consolida no município. Na segunda metade do século, a cidade recebe impulso ainda maior de desenvolvimento com a implantação da Escola de Engenharia de São Carlos (USP) em 1953 e da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) na década de 70 (PREFEITURA, 2020).

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Atualmente, São Carlos possui um total de 1.136,907 km², com 67,25km² de área urbana e uma população de 251.983 habitante (IBGE, 2019). Sua composição original de vegetação compreendia 27% de Cerrado (cerrado stricto sensu, campo sujo e brejos), 16% de cerradão, 55% de floresta semidecídua e mata ripária e 2% de floresta semidecídua (BERTINI, 2014).

6.1. São Carlos: situação ambiental Sobre a vegetação de São Carlos, o bioma de Cerrado compreendia 43% da cobertura vegetal do Município com diferentes fitofisionomias (Bertini, 2014. apud Soares et al. 2003). Do território total do Município 28% tem cobertura vegetal (Cerrados, Matas ripárias e Matas mesofoliadas), dessa cobertura 21,64% encontra-se em áreas de preservação permanente (APPs) e dessas APPs 51% estão vegetadas (BERTINI, 2014). Os fragmentos dessa porcentagem de vegetação conservada somam aproximadamente 546 áreas variando de tamanho e qualidade, mas mais da metade deles não chega a ter 1ha de extensão, demonstrando uma maior fragilidade dessa vegetação fragmentada (BERTINI, 2014). Ainda sobre a área total de vegetação do Município de São Carlos, 57% é classificada como vegetação conservada e 58% está sobre área de recarga do Sistema Aquífero Guarani, mas somente 28% dessa área de recarga possui cobertura vegetal (BERTINI, 2014). Essa cobertura vegetal é essencial para o abastecimento uniforme do lençol freático durante o ano todo (Bertini,

2014. apud Tauk-Tornisielo e Tauk, 1995). Aproximadamente 72% das áreas de recarga do Aquífero Guarani do Município estão em risco por pouca cobertura vegetal e mau uso e ocupação do solo, pois apesar de o percentual de área ocupada por vegetação ser alto, ele está associado à áreas de uso principalmente agrícola (BERTINI, 2014). Sobre as áreas verdes dentro da malha urbana, sua situação e quantidade, o autor Bertini (2014) obteve um índice de 18,85m² de áreas verdes públicas por habitante, valor satisfatório em relação ao índice de 15m²/habitante sugerido pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana6 . Porém esse índice satisfatório não se distribui de maneira uniforme na cidade, tendo valores abaixo do recomendado em algumas regiões e prejudicando a qualidade ambiental da cidade. Recomendação de valor de índice de áreas verdes citado pelo autor Bertini (2014) em sua tese como recomendação feita pela Sociedade Brasileira de Arborização Urbana (SBAU) para parâmetro de qualidade ambiental. 6


Essas áreas verdes públicas7 compreendem 6,55% do território do perímetro urbano, e não se distribuem de maneira uniforme na malha urbana. Segundo o levantamento de Bertini (2014) organizado em áreas administrativas da cidade, os índices variaram de 4m²/habitante à 36,30m²/ habitante. Abaixo segue releitura do mapa gerado por Bertini (2014) com a delimitação das áreas administrativas classificadas pelo autor sobre o limite urbano de São Carlos e suas respectivas qualidades ambientais designadas conforme índices de áreas verdes.

Figura 5: Qualidade ambiental na malha urbana de São Carlos segundo índices de áreas verdes públicas livres por habitante Fonte: Bertini, 2014

A análise desse mapa contribui de forma importante para entender quais as regiões da cidade que merecem maior atenção em relação à problemáticas ambientais e disponibilidade de espaços para lazer público. Sendo possível já delimitar bairros e áreas que precisaram de intervenções mais urgentes.

7 No estudo de Bertini (2014) foi utilizado o conceito de áreas verdes públicas segundo Lima et al. (1994), que engloba as praças arborizadas, os jardins públicos, os canteiros centrais e trevos de vias públicas onde há o predomínio de vegetação arbórea e uma área não impermeabilizada.

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6.2. Percepção da paisagem verde de São Carlos: há Cerrado no cotidiano?

Para entender como é assimilada e entendida a paisagem da cidade de São Carlos por sua população, e se há uma presença marcante de Cerrado nela, foram feitos levantamentos fotográficos dessa paisagem. A proposta do levantamento é entender como se constitui essa paisagem verde da cidade e de que formas o Cerrado se expressa na área urbana do município.

6.2.1. Metodologia para o levantamento fotográfico: Inicialmente foram sobrepostos mapas das áreas verdes da cidade, e das sub-bacias da malha urbana obtidos com a Prefeitura de São Carlos (Figura 6 e 7). O uso do mapa de sub-bacias para determinar áreas de levantamento foi tido como importante ao se observar em imagens de satélites que a maioria das áreas verdes mais extensas da cidade estavam associadas à cursos de água (Figura 8). A partir dessa sobreposição foram delineadas áreas para organizar e efetuar o levantamento da cidade. Obteve-se 10 grandes áreas para levantamentos, estabelecidas a partir do agrupamento de sub-bacias e concentração de áreas verdes (públicas ou não) (Figura 9). O levantamento constituiu-se de fotografias feitas in loco a partir do caminhar próximo ou mesmo da visibilidade mais distante desses pontos verdes na cidade. 34

Figura 6: Mapa de praças e espaços livres de São Carlos, 2015 Fonte: Prefeitura do Município de São Carlos


Figura 7: Mapa de Sub-Bacias hidrográficas de São Carlos, 2009 Fonte: Prefeitura do Município de São Carlos

Figura 8: Foto aérea da cidade de São Carlos. Fonte: Google Earth, 2020.

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Figura 9: Mapa com as áreas de levantamento fotográfico de São Carlos para a presente pesquisa. Fonte: a autora, 2020.

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Foram fotografadas 35 áreas verdes dentro dessas grandes áreas mapeadas na cidade (Figura 10). Áreas variavam conforme tamanho e constituição vegetal, abrangendo praças, parques, canteiros, rotatórias e até mesmo terrenos baldios. Também foram fotografadas, bordas da cidade que apresentavam abertura para uma paisagem verde imediata à malha urbana. A seletividade para as fotografias das áreas foi feita a partir da importância que área apresentava em extensão ou localização e a possibilidade de possuir espécies de Cerrado. Assim, áreas extensas de verde próximas às marginais foram consideradas, assim como pequenas praças na área central da cidade, que apesar de serem menores apresentam importância na visibilidade e uso da população por sua localização na malha urbana.


A partir do levantamento, observando posteriormente as fotografias feitas e pela própria experiência de visita nos diferentes pontos da cidade foi possível definir algumas situações de paisagem de São Carlos e como o Cerrado se insere nelas. Para averiguar a existência de algumas espécies fotografadas foram feitas consultas em sites de plantas como The Plant List e Reflora8 , e consultas para identificação de algumas espécies com a bióloga graduada pela UNESP de Bauru, Solange dos Santos Silva para facilitar posteriormente a classificação da área fotografada, para análise também foi de suma importância o repertório vegetal obtido com a bibliografia da presente pesquisa (ASSIS, DURIGAN, PILON, 2017; BARBOSA, 2017; BOKOS, 2017; CABALLERO, 2017; FILHO, SARTORELLI, 2017; LIMA, SHIMIZU, URBANETZ, 2013; MIRANDA, 2020). Inicialmente foi analisada a paisagem verde

Figura 10: Mapa de áreas verdes fotografadas e pontos de percurso urbano realizados em São Carlos Fonte: a autora, 2020.

de São Carlos como um todo. Nessa paisagem foram identificadas diferentes formações e tipologias vegetais e nessa primeira análise serão consideradas vegetações tanto exóticas como nativas, para entender a princípio a situação verde da cidade. Posteriormente, debruçando sobre as mesmas fotografias, experiência de levantamento local e essa paisagem já classificada, foram identificadas situações diversas e mais visíveis do Cerrado na cidade de São Carlos, buscando entender como ele se expressa no meio urbano. Tratando por etapas: foram levantadas as paisagens de São Carlos, obtendo-se 4 tipos diferentes. Posteriormente foram listadas 3 diferentes expressões do Cerrado nessas paisagens. Aqui serão apresentadas algumas fotografias mais exemplares para cada análise, porém todo o levantamento fotográfico da cidade e a devida localização das fotos em mapa está no Anexo I dessa pesquisa.

8 The Planta List: http://www.theplantlist.org/ Reflora:http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/listaBrasil/ConsultaPublicaUC/ResultadoDaConsultaNovaConsulta.do#CondicaoTaxonCP

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6.3. Paisagens Verdes de São Carlos: 6.3.1. Verde Próximo: Na presente pesquisa denominou-se de “Verde Próximo” uma paisagem próxima da população, com a qual ela tem contato direto, como praças e parques. Com predominância de arbóreas, são espaços de lazer comumente ilhados na malha urbana impermeável. Quando analisado o centro nota-se a predominância de um paisagismo histórico da cidade quando, portanto com árvores antigas e aparentemente em sua maioria exóticas. Já as arbustivas costumam ser de plantios mais recentes, observada por parte da pesquisadora e também moradora de São Carlos, verifica-se uma troca frequente de espécies nos jardins e praças públicas, por tratarem-se de replantios mais fáceis de serem executados e sofrerem depredação mais facilmente. Esse tipo de paisagem da cidade foi denominado de Verde Próximo por estar inserido na malha urbana e no cotidiano da população, que comportam fluxos diários de pedestres e fazem parte da paisagem do centro, da história da cidade e, portanto participam cotidianamente da vida da população. No entanto essas praças não apresentaram, em uma primeira análise visual, uma representatividade para o Cerrado.

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As praças e jardins da Av. São Carlos, principal e mais antiga avenida do centro de São Carlos, expressam de forma clara essa paisagem antiga, adensada e ilhada (Figuras 11, 12, 13, 14 e 15).

Figura 11: Praça Antônio Prado em frente à Estação Ferroviária de São Carlos. Fonte: a autora, 2020.


Figura 12: Praça do Mercadão, com vista para arborização de Sibipirunas no centro da cidade. Av. São Carlos Fonte: a autora, 2020.

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Figura 13: Vista da Av. São Carlos onde é possível ver o adensamento verde do Jardim Público em frente à Catedral da cidade. Fonte: a autora, 2020.

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Figura 14: Vista da Av. Dr. Carlos Botelho com vista para a Praça XV de Novembro. Fonte: a autora, 2020.


Figura 15: Fotografia “interna” do Jardim Público. Av. São Carlos. Fonte: a autora, 2020.

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Algumas arborizações e plantios mais recentes, como o da Praça do Mercadão, no Centro da cidade, utilizou-se de espécies nativas, ainda que somente espécies arbóreas. Em plantios mais recentes de praças observa-se o plantio sistemático de uma mesma espécie, como o Bosque dos Ipês, ou o Bosque das Cerejeiras, onde é possível notar a presença homogênea de uma mesma espécies, seja nativa ou exótica (Figuras 16, 17 e 18).

Figura 16: Bosque das Cerejeiras. Rua. Profª. Maria Angélica Marcondes Fonte: a autora, 2020.

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Figura 17: Parque dos Ipês. Av. Bruno Ruggiero Filho Fonte: a autora, 2020.

Figura 18: Arborização recém plantada na Praça do Mercadão. Av. São Carlos. Fonte: a autora, 2020.

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6.3.2. Fundos de Vale:

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Analisando fotos aéreas da cidade e sobrepondo-as com mapas de topografia e cursos de água, é possível perceber que as principais extensões de áreas verdes dentro do perímetro urbano convergem para fundos de vale, estes em sua maioria com o rio exposto. Nessas áreas também predominam o porte arbóreo de vegetação, normalmente com formações não muito adensadas. Assim, os cursos d’água ficam expostos, com uma vegetação rala nas bordas que mais contribuem para gerar sombra para passeios públicos voltados para atividades como caminhada, ciclismo, etc (Figura 19, 20, 21, 22, 24 e 25). Segundo análise de Bertini (2014) várias políticas públicas de plantio na cidade de São Carlos foram voltadas para fundos de vale, portanto é possível observar grande número de espécies mais jovens de arbóreas, e muitos plantios feitos em série com uma mesma espécie. Contudo averigua-se maior frequência de plantas nativas nesses plantios mais recentes, mesmo que de Mata Atlântica, ou outro bioma sem ser o Cerrado (Figura 23).

Figura 19: Vista do Parque Florestal Municipal Nabuo Kurimori próximo ao Córrego do Monjolinho, à esquerda mudas de uma mesma espécie arbórea plantadas em série. Av. Franciso Prereira Lopes Fonte: a autora, 2020.


Figura 20: Vista do Parque Florestal Municipal Nabuo Kurimori próximo ao Córrego do Monjolinho com floração visível de Sibipirunas e Guapuruvus. Av. Franciso Prereira Lopes Fonte: a autora, 2020.

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Figura 21 (esquerda): Vista calçadas próximas ao Córrego do Monjolinho. Av. Franciso Prereira Lopes Fonte: a autora, 2020. Figura 22 (direita): Vista calçadas próximas ao Córrego do Monjolinho com grande espaçamento entre vegetação. Av. Franciso Prereira Lopes Fonte: a autora, 2020.

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Figura 23 (esquerda): Vista calçadas próximas ao Córrego do Monjolinho com plantio recente de árvores à esquerda. Av. Franciso Prereira Lopes Fonte: a autora, 2020. Figura 24 (direita): Vista da arborização próxima ao Córrego do Monjolinho, ao fundo vegetação adensada do campus da USP, mais ao fundo plantação de eucaliptos da Sede do Clube São Carlos Clube. Av. Francisco Pereira Lopes. Fonte: a autora, 2020.

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Figura 25: Arborização de calçada e pista de ciclismo próxima ao Córrego do Gregório. Av. Comendador Alfredo Maffei. Fonte: a autora, 2020.

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6.3.3. Verde pontual ou disperso:

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Denominou-se como “Verde pontual” principalmente a arborização urbana, de vias e vegetação visível na paisagem de jardins e quintais particulares. Essa paisagem se apresenta de maneira mais rala e pontual na cidade, sendo mais extensa justamente nos fundos de vale ou avenidas e ruas com canteiros, ademais essa árvores são notadas despontando entre uma paisagem predominantemente impermeável da cidade (Figura 26, 27, 28, 29 e 30). Segundo Sucomine (2015) o centro de São Carlos possui 103 espécies diferentes em sua arborização viária, somando 2.626 indivíduos distribuídos pela malha central urbana. Apesar de ter uma variedade grande muitas das espécies apresentam poucos exemplares, 4 ou menos, o que indica que o plantio dessas espécies provavelmente foi feito por parte da população (SUCO-

MINE, 2015). Em comparação, já adiantando a representatividade do Cerrado na arborização central da cidade, vale ressaltar alguns dados da mesma pesquisa de 2015: das 103 espécies existentes no centro, 42 são nativas, e dessas nativas 24 são de Cerrado. Dos 2.656 indíviduos, 1.124 são as nativas e 442 as que ocorrem no Cerrado também. A partir desses dados é possível notar que a vegetação nativa de Cerrado está ainda distante de fazer parte de um caminhar do pedestre na cidade, ou seja, de se inserir realmente em seu cotidiano. Além de que a arborização urbana é notável em ruas largas com canteiros, no restante ela ocorre de maneira pontual, variando em tamanho, espécies e frequência.


Figura 26: Arborização urbana entre construções com presença de um provável Ipê Amarelo (Handroanthus ochraceus (Cham.) Mattos)9 . Av. Trabalhador São Carlense. Fonte: a autora, 2020.

Algumas das espécies arbóreas foram identificadas a partir do conhecimento da autora em relação à essa vegetação juntamente com a bibliografia estudada, e com as fotografias foram feitas consultas com biólogos. Contudo a identificação de algumas plantas na paisagem de São Carlos tratam-se de suposições dadas a partir da aparência da planta e se ela foi citada como uma espécie presente na arborização de São Carlos (SUCOMINE,2015). 9

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Figura 27 (esquerda): Arborização em quintal próxima ao Shopping Passeio. Rua Miguel João. Fonte: a autora, 2020. Figura 28 (direita): Arborização em frente ao Cemitério Nossa Senhora do Carmo com presença de Sibipirunas (Caesalpinia pluviosa D. C.). Av. São Carlos. Fonte: autora, 2020.

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Figura 29 (esquerda): Arborização em jardim central na Av. Dr. Teixeira de Barros. Fonte: autora, 2020. Figura 30 (direita): Vista da Av. São Carlos, principal avenida do centro da cidade sem arborização viária. Fonte: a autora, 2020.

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6.3.4. Paisagem distante ou horizontes:

As paisagens verdes mais extensas na cidade são as de seu entorno. Conforme a posição na topografia da cidade é possível em vários pontos diferentes de São Carlos mesclar essas paisagens distantes com outras mais próximas. Infelizmente essas paisagens no horizonte se mostraram à primeira vista com pouca biodiversidade, isso porque predominam-se principalmente plantações de eucaliptos, pastos ou plantações de cana-de-açúcar. Cursos d’água são localizados visualmente por apresentarem vegetação mais adensada e dossel mais alto, mas também não há como garantir que essa vegetação seja nativa, e normalmente se restringem à faixas estreitas que ficam isoladas em uma paisagem mais árida . 58

Figura 31: Vista de plantações de cana-de-açúcar próxima ao Campus II da USP. Região a oeste da cidade. Fonte: a autora, 2020.


Figura 32: Vista de plantações de cana-de-açúcar próxima ao Campus II da USP e linha do trem, ao fundo avista-se o bairro Cidade Aracy. Região a oeste da cidade. Fonte: a autora, 2020

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Figura 33 (esquerda): Vista de parte do centro da cidade, ao fundo avista-se plantações de eucaliptos no perímetro urbano. Fotografia tirada a partir da Estação Ferroviária. Fonte: a autora, 2020. Figura 34 (direita): Vista de pastos entre cortados pela passagem do Córrego Lazzarini identificado pela vegetação adensada. Região a leste da cidade Fonte: a autora, 2020.

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Figura 35 (esquerda): Vista de pastos, à direita vegetação do Córrego Lazzarini, ao fundo plantação de eucaliptos. Região a leste da cidade. Fonte: a autora, 2020. Figura 36 (direita): Vegetação adensada do Córrego Lazzarini limítrofe com residências, ao fundo pasto e em último plano plantação de eucaliptos. Região a leste da cidade. Fonte: a autora, 2020.

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Figura 37: Paisagem de eucaliptos, faixa de vegetação próxima à curso d’água e residências limítrofes à Rodovia Washington Luiz. Região a leste da cidade. Fonte: a autora, 2020.

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Figura 38 (esquerda): Jacarandá (Jac cuspidifolia Mart.) no canteiro ce Av. Bruno Ru Fonte: a autora

Figura 39 (direita): Seqüência de Ip relos (Handroanthus ochraceus ( pós floração ao lado do Cemitério Senhora do Carmo. Av. São Fonte: a autora

6.4. Expressões do Cerrado em São Carlos As 4 “Expressões do Cerrado” tratam da análise de paisagens e não de um reconhecimento botânico de espécies do bioma na cidade de São Carlos. Portanto, o reconhecimento de espécies nativas foi feito de maneira pontual, buscando reconhecer expressões mínimas ou maiores do bioma na cidade e não de fato identificar biodiversidade ou quali-quantitativamente a situação dessas espécies e do bioma na cidade. Foram identificadas três principais expressões mais recorrentes do Cerrado em São Carlos, essas expressões se relacionam diretamente com as quatro paisagens lidas da cidade, estando inseridas nelas.

6.4.1. O Cerrado reconhecido: São as plantas “domesticadas” de Cerrado, que são encontradas em praças e arborização urbana com frequência, plantas que são notadas pela população. O grande exemplo são os ipês que chamam a atenção com sua floração, em especial o amarelo, muito recorrente na arborização da cidade, inclusive do centro (Figura 39, 42 e 44). Por maior facilidade de aplicação em passeios públicos e praças, são espécies em sua maioria arbóreas, como diferentes espécies de ipês, mulungus, jacarandás, entre outras (Figuras 38, 40, 41 e 43). Algumas características dessa expressão é que ela não possui uma grande biodiversidade ou extensão verde e insere-se de forma pontual na cidade, com exemplares muitas vezes isolados, mas que correm no bioma Cerrado e portanto podem trazer certa representatividade. Segundo levantamento feito por Sucomine (2015), é possível relacionar a contabilidade de indivíduos arbóreas no centro com os levantamentos fotográficos e observações feitas nes-

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sa pesquisa. O levantamento da autora aponta a existência de 458 indivíduos de Aroeira salsa (Schinus molle L.), 123 de sibipirunas (Caesalpinia pluviosa D. C.), 95 de jerivás (Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman), 78 de oitis (Licania tomentosa (Benth.) Fritsch), 69 ipês amarelos (Handroanthus ochraceus (Cham.) Mattos) e 44 ipês brancos (Handroanthus roseo-albus (Ridl.) Mattos). São as espécies nativas que mais apresentam indivíduos, porém mesmo que todas possam ocorrer em Cerrado não são todas típicas do bioma, sendo algumas mais características de formações de Mata Atlântica, com a sibipiruna. Característica de Cerrado dá-se destaque especial ao ipê amarelo (Handroanthus ochraceus (Cham.), planta com ocorrência notável na arborização da cidade e provavelmente com implantações recentes, já que a maioria dos exemplares vistos atinge alturas menores do que a comum da espécie.


caranda entral da uggiero. a, 2020.

pês ama(Cham.) o Nossa o Carlos a, 2020.

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Figura 40 (esquerda):Araucária (Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze) a frente com ipês amarelos (Handroanthus ochraceus (Cham.) no Bosque do Ipês na Av. Bruno Ruggiero, ao fundo Sibipiruna (Caesalpinia pluviosa D. C.) florida. Fonte: autora, 2020. Figura 41(direita): Mulungu (Erythrina speciosa Andrews.) ao lado do Córrego do Monjolinho na Av. Francisco Pereira Lopes Fonte: autora, 2020.

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Figura 42 (esquerda): Ipês amarelos (Handroanthus ochraceus (Cham.) em frente à residência na Av. São Carlos Fonte: autora, 2020. Figura 43 (centro): Jacarandá (Jacaranda cuspidifolia Mart.) seco na Praça do Mercadão no centro de São Carlos. Fonte: autora, 2020. Figura 44 (direita): Ipê amarelo (Handroanthus ochraceus (Cham.) florido próximo à Praça da XV. Rua Riachuelo. Fonte: autora, 2020.

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6.4.2. O Cerrado espontâneo: Trata-se da vegetação de cerrado que cresce espontaneamente na cidade, muitas vezes interpretada como mato e algo a ser combatido. Como maioria, encontram-se capins e arbustos em terrenos baldios e calçadas (Figura 45, 54 e 57). O artista Daniel Caballero (2017) trouxe em algumas de suas intervenções artísticas e exploração do Cerrado paulistano justamente com o reconhecimento, valorização e obtenção de espécies de Cerrado em terrenos baldios, sarjetas e outros pequenos espaços esquecidos na cidade de São Paulo, onde o Cerrado floresce silencioso. Essa vegetação constitui-se principalmente de capins, algumas arbustivas e rasteiras e são comumente confundidas com plantas invasoras a serem combatidas (Figuras 46, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 54, 55 e 56).

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Ainda que alguns terrenos, fundos de vale, e demais áreas verdes da cidade que não recebem manutenção, capinagem e outros tipos de “limpeza” possam parecer locais suscetíveis para o crescimento de espécies nativas por não sofrerem um risco de intervenção humana constante, não há de fato uma proliferação dessas nativas, pois esses espaços livres são normalmente ocupados com plantas exóticas, muitas invasoras agressivas. Exemplo notável na cidade são as leucenas (Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit), árvore invasora recorrentemente vista próxima à fundos de vales e junto com a arborização de

canteiros. As braquiárias (Urochloa decumbens (Stapf) R.D.Webster), humidícola ou quicuia (Urochloa humidicola (Rendle) Morrone & Zuloaga) e capim-gordura (Melinis minutiflora P. Beauv.) são as que mais tomam espaço das plantas rasteiras, moitas e arbustos nativos e fazem parte dos capins exóticos mais comuns no estado de São Paulo (ASSIS, DURIGAN, PILON, 2017).

Figura 45 (direita): Área de borda da cidade de São Carlos onde é possível n crescimento espontâneo de arbustos, nativos ou exóticos próximos à linha de oeste da c Fonte: autora

Figura 46 (esquerda): Braquiárias (Urochloa decumbens (Stapf) R.D.Webster vermelha - e capins-favoritos (Melinis repens (Willd.) Zizka) – seta azul - capim co não agressivo 10 , em terreno baldio no bairro Planalto Paraíso em São C Fonte: autora

As imagens com herbáceas e arbustivas foram identificadas com a consulto bióloga Solange dos Santos Silva a partir de fotografias. Assim, a identificação vegetação não pode ser confirmada de maneira categórica, para isso seria nece um levantamento no local com um botânico e chaves de identificação botânica 10


notar o trem a cidade. a, 2020.

r)- seta m exótiCarlos. a, 2020.

oria da dessa essário a.

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Figura 47: Terreno baldio no bairro Planalto Paraíso com crescimento espotâneo de pelo menos de diversas espécies, entre nativas e exóticas (uas apresentadas nas imagens ao lado). Fonte: autora, 2020.


Figura 48: Capim da famíliaPoaceae, provavelmente do gênero Chloris sp, nativo e que corre em Cerrado. Foto tirada em terreno baldio no bairro Planalto Paraíso. Fonte: autora, 2020.

Figura 49: Capim Digitaria insularis (L.) Mez ex Ekman, exótico achado frequentemente em terrenos baldios. Fonte: autora, 2020.

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Figura 52: Vegetação de leucenas (Leucaena leucocephala (Lam.) ao lado do córrego no Parque Zavaglia no bairro Jardim Santa Júlia. Fonte: autora, 2020.

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Figura 50: Capim-favorito (Melinis repens (Willd.) Zizka), exótico mas não agressivo, encontrado em diversos locais da cidade em abundância. Foto em terreno baldio na Av. Francisco Pereira Lopez. Fonte: autora, 2020

Figura 51: Vernonanthura brasiliana (L.) H.Rob., nativa e que ocorre em Cerrado. Foto em terreno baldio na Av. Francisco Pereira Lopez. Fonte: autora, 2020

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Figura 53: Área livre no Jardim Cardinali com vegetação próxima ao Córrego Lazzarini ao fundo e jurubeba (Solanum paniculatum L.) à frente e direita da foto, herbácea nativa que ocorre em Cerrado. Fonte: autora, 2020. Figura 54: Capim-colonião (Megathyrsus maximus (Jacq.) B.K.Simon & S.W.L.Jacobs), capim exótico e invasor. Foto de terreno baldio no bairro Jardim Cardinali Fonte: autora, 2020.

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Vale ressaltar que as espécies apresentadas foram vistas com grande frequência em diversos pontos por toda a cidade. Não foi possível (assim como não era o objetivo do levantamento) fotografar todas as ocorrências de forma adequada para identificação da espécie por parte de um biólogo, porém todas as fotografias das paisagens dos espaços verdes que estão mapeados nesse item se encontram no Anexo I

Figura 55: Espécies espontâneas em terreno baldio no bairro Vila Faria, com presença de exóticas e nativas. Fonte: autora, 2020.

F


Figura 56: Ramos verde e marrom despontando na foto de Conyza canadensis (L.) Cronquist, espécie nativa que ocorre em campo de Cerrado, achada em terreno no bairro Vila Faria. Fonte: autora, 2020.

Figura 57: Capim Digitaria insularis (L.) Mez ex Ekman, exótico em terreno baldio com braquiárias (Urochloa decumbens (Stapf) R.D.Webster). Terreno no bairro Vila Rancho Velho. Fonte: autora, 2020.

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6.4.3. O Cerrado escondido: São fragmentos verdes espalhados pela cidade que apresentam características próximas de formações de Cerrado, pequenas, que apesar de terem uma representatividade estão isoladas e dissimuladas por vegetação mais alta ou elementos construídos na área urbana, como prédios, outdoors, etc. Não se trata de fragmentos do bioma em si, mas de áreas com potencial de possuírem espécies e formação de Cerrado. A ocorrência de espécies nesses espaços mais extensos se dá de forma parecida com a das duas expressões listadas anteriores, espécies espontâneas de Cerrado e espécies reconhecidas, às vezes propositalmente plantadas. A diferença dessa expressão para as anteriores é por se tratar de áreas com maior adensamento de vegetação, de diversos extratos, e estarem localizadas em áreas de proteção ambiental, públicas ou destinadas ao lazer público. Ou seja, trata-se de áreas que, por sua condição e localização urbana possuem maiores chances 82

de terem espécies nativas, maior biodiversidade e não sofrerem devastação (Figuras 58, 59 e 60). Esse tipo de fragmento é interessante, pois mesmo que não se trate necessariamente de uma área de Cerrado remanescente ele trás uma representatividade estética de vegetação nativa para a paisagem vegetal da cidade e potencialidades de um dia possuir essas espécies, já que são áreas públicas. Uma observação importante é que todos os fragmentos verdes de fundo de vale que preservem vegetação nativa provavelmente possuem espécies de Cerrado, ou podem até se tratar de formações florestais, como matas de galeria, de Cerrado. No entanto, como já foi defendido, o maior interesse nas formações do bioma quando se trata de sua recuperação e biodiversidade, por conta de endemismo de espécies, são nas formações savânicas e campestres. Essas, no entanto, são praticamente inexistentes na cidade.


Figura 58: Vista do Parque Florestal Municipal Nabuo Kurimori próximo ao Córrego do Monjolinho, à direita vegetação com maior número de arbustivas e arbóreas de porte mais baixo encobertas por outdoor. A área corresponde à área pública destinada ao lazer, mas ainda subutilizada . Av. Franciso Prereira Lopes Fonte: a autora, 2020

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Figura 59: Vista da área adjacente ao Parque Florestal Municipal Nabuo Kurimori próximo ao Córrego do Monjolinho destinada ao lazer, mas ainda subutilizada . Av. Franciso Prereira Lopes Fonte: a autora, 2020. Figura 60: Vista da área adjacente ao Parque Florestal Municipal Nabuo Kurimori próximo ao Córrego do Monjolinho destinada ao lazer, mas ainda subutilizada . Av. Franciso Prereira Lopes Fonte: a autora, 2020.

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Figura 61: Vista de área pública no bairro Vila Brasília com vegetação de arbustivas e herbáceas de exóticas e nativas e árvores de Cerrado. Fonte: a autora, 2020. Figura 62: Vista de área pública no bairro Vila Brasília com vegetação de arbustivas e herbáceas de exóticas e nativas e árvores de Cerrado. Fonte: a autora, 2020 Figura 63: Vista de vegetação com próxima do Córrego Lazzarini com potencial de nativas pouco visível pela altura da rodovia e encoberta por plantação de eucaliptos. Rodovia Washington Luiz. Fonte: a autora, 2020.

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Figura 64: Vista do bairro Cidade Aracy e parte Antenor Garcia, com fragmentos de vegetação e áreas de pasto. Região à sudoeste da cidade. Fonte: a autora, 2020. Figura 65: Área com vegetação adensada ao fundo e presença de árvores retorcidas. Região sudoeste da cidade. Fonte: a autora, 2020.

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6.5. Conclusão sobre as paisagens de Cerrado em São Carlos Apesar de ser encontrado de forma espontânea em vários locais e possuir arbóreas presentes na arborização da cidade, o Cerrado não aparece na paisagem de São Carlos de forma expressiva ou concisa, portanto, apesar de ser possível localizar espécies e pequenos fragmentos em pontos variados da malha urbana não é possível dizer que o bioma faz parte da paisagem da cidade. Nas três situações citadas em que é observado aparece muitas vezes isolado, desvalorizado ou com uma paisagem predominante de outras espécies, nativas de outro bioma ou exóticas. Mesmo nos seus espaços espontâneos sem manejo, sua aparição é reduzida por uma predominância grande de espécies invasoras. Em áreas com predominância de moitas, capins, arbustos e rasteiras destaca-se invasoras como Urochloa decumbens (Stapf) R.D.Webster (braquiária), Urochloa humidicola (Rendle) Morrone & Zuloaga (humidicola, quicuia), Melinis minutiflora P. Beauv. (capim-gordura), Melinis repens (Willd.) 90

Zizka (capim-favorito). Em áreas com plantio planejado e intencional, como praças, e vias públicas há uma predominância de exóticas, em especial em praças históricas da cidade. Entre as nativas, quaresmeiras, ipês, sibipirunas tem maior destaque. Observando plantios recentes na cidade com o uso de nativas observa-se o plantio sistemático de uma mesma espécie de árvore, assim alguns pontos verdes de relevância para o lazer da população acabam por ter uma paisagem muito pobre em biodiversidade das nativas quando não são predominantemente de exóticas. As áreas de verdes mais extensas ou de preservação são normalmente voltadas aos fundos de vale, possuindo assim uma formação vegetal mais densa e alta. Mesmo os verdes mais adensados apresentam de forma visível grande quantidade de invasoras e quando há a presença de nativas destacam-se as árvores de grande porte.


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7. Flora de Cerrado


Apesar se sua grande diversidade a flora do Cerrado nem sempre é vista dessa forma. Como foi apresentado, o bioma é uma formação predominantemente savânica, o que lhe atribui características de vegetação menos adensada na maior parte de suas fitofisionomias, sendo o cerrado strictu sensu a formação com maior biodiversidade de espécies vegetais, em especial as arbustivas. Portanto, falar de Cerrado, do Cerrado que está sumindo, é falar de uma paisagem predominantemente de vegetação rasteira, arbustiva, ensolarada e em partes do ano: seca. Afinal o Cerrado trata-se de uma das mais importantes savanas do planeta, com flora mais rica (WALTER, 2006). A distribuição das espécies em cada fitofisionomia ainda não é de certa forma completamente definida , porém sabe-se que a distribuição da variedade dessa flora também é diferenciada, sendo as formações savânicas as com maior número, logo depois as florestais e campestres (WALTER, 2006).

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Essa paisagem do Cerrado é construída por diferentes escalas e adensamentos de sua vegetação, onde as fitofisionomias formam um mosaico de vegetações na paisagem (Figura 66). A proporção entre árvores e arbustivas e herbáceas varia, sendo as maiores nas formações florestais, decaindo até as campestres. Nas formações florestais essa proporção fica entre 1,6:1 e 2,2:1 (árvores+arbustivas e herbáceas), enquanto nas formações savânicas varia de 3,4:1 a 9,8:1 e nos campos chegando a uma proporção de 131,1:1 (WALTER, 2006).

Figura 66: Foto aérea de fitofisionimias de Cerrado na Serra Geral – TO Fonte: Prof. Isabel Schmdit, 2005.


Essa vegetação, apesar de vasta e ocupar grande parte do Brasil, tem uma defasagem em estudo em relação a outros biomas do país. Segundo Walter (2006), ainda há lacunas e questões básicas em relação a essa flora à serem respondidas. Hoje têm-se 11.046 espécies listadas do bioma Cerrado, com 48 famílias diferentes, mas não se sabe exatamente onde elas se distribuem, o hábito das plantas em cada ambiente, e como distribuem-se esses hábitos de cada espécie nos ambientes, muitas dessas informações ainda precisam de estudos.

Considera-se que essas 282 plantas citadas para as três formações do bioma são as que ocupam maior amplitude de formações (WALTER, 2006).

Sobre essas informações sabe-se a distribuição e similaridade de algumas espécies, o que pode ser interessante para entender melhor a formação das fitofisionomias e suas transições (Figura 67).

Sobre a caracteríticas morfológicas dessa vegetação, ressalta-se em especial as raízes profundas que permitem o abastecimento de água em camadas úmidas permanentes do solo, essencial para a manutenção da vegetação na época seca, o que atribui o nome popular de “floresta invertida” ao bioma, já que suas raízes podem atingir de 10 à 15m de profundidade (MIRANDA 2020). Além disso o Cerrado também é conhecido como a “caixa d’água” do Brasil pois é o bioma que contribui diretamente para o abastecimento de água de aquíferos como o Guarani (CABALLERO, 2017).

Figura 67: Número de espécies por formação no bioma Cerrado. Consideradas somente as 6.024 já incluídas na classificação de Ribeiro & Walter (1998). Fonte: WALTER, 2006

Os troncos, ramos e folhas são todos adaptados à seca e alta insolação, possuindo aspectos retorcidos e bem espessos. A vegetação herbácea é predominantemente heliófila (se desenvolvem em condições de luminosidade intensa), assim, adensamentos arbóreos prejudicam o desenvolvimento dessa vegetação que constitui a maior parte do endemismo do Cerrado (MIRANDA 2020). Essa e outras adaptações da vegetação servem não só para as secas, como também possibilitam resitência ao fogo. Essa vegetação está adaptada ao fogo há milhares de anos (WALTER, 2006 apud Miranda et al., 2002), o “bioma resiliente” não sofre com as queimadas que ocorrem na região com histórica frequência, e inclusive

possui espécies vegetais extremamente adaptadas à essa adversidade que passa a fazer parte do ciclo do bioma. Para que o fogo chegue a causar efeitos significativos negativos sobre as fitofisionomias do Cerrado seria necessária a ocorrência de eventos diários, sucessivos durante 1 à 2 anos (WALTER, 2006 apud Eiten, 1972).

7.1. Reconhecendo a flora Para se trabalhar com o Cerrado é necessário algumas etapas, por se tratar de um bioma pouco presente em nossas cidades e imaginário de vegetação aplicável a seus espaços. Segundo Pastori (2020), o primeiro passo para esse processo é o Plant Hunting, que trata-se basicamente de uma caça às plantas. Com essa etapa in loco é possível gerar melhor reconhecimento não só das plantas, mas como sua distribuição caracteriza-se, trazendo de forma mais prática o entendimento dessa paisagem. O Plant Hunting serve também para coleta de espécimes, para posterior ensaio e produção de mudas. Na presente pesquisa o contato com o bioma foi possível a partir da bibliografia e visitas à área de Cerrado presente do Campus da UFSCar. Na presente pesquisa foi necessário “caçar essas plantas” ainda remanescentes ou rebrotadas 95


na cidade de São Carlos de forma visual, sendo que a coleta e ensaio dessas plantas são etapas necessárias para a execução e desenvolvimento de um projeto físico, não sendo o caso do presente trabalho. Identificando essa vegetação na paisagem de São Carlos seria possível posteriormente entender sua paisagem. Buscando conhecer e reconhecer melhor essa flora nativa, foram feitos fichamentos de espécies frequentemente citadas na bibliografia da pesquisa (Tabela 1). O propósito foi gerar um banco de dados fotográfico para reconhecer a partir dos nomes encontrados das espécies como são seus hábitos. De maneira mais geral e simples essas fichas serviram de consulta e aproximação com a aparência e estética das plantas de cerrado por parte da pesquisadora. Exemplo de ficha:

Tabela 1: Ficha de auxílio para identificação de espécies vegetais Fonte: autora, 2020.

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Nome Científico: Erythrina speciosa Andrews Nome popular: Mulungu do litoral, Candelabro


As espécies foram organizadas em bancos de dados diferentes, um para cada referência bibliográfica. Foram utilizadas listagens de Bokos (2017), as plantas citadas que foram utilizadas no projeto de restauração paisagística de Mariana Siqueira no Parque Nacional de Brasília, totalizando 36 espécies; Sucomine (2009), onde foram levantadas as árvores presentes na malha urbana central de São Carlos, e que na presente pesquisa foram separadas as de Cerrado, totalizando 24 espécies e Walter (2006), citadas 8 plantas vastamente conhecidas entre as 282 comuns às três formações (florestais, savânicas e campestres). Algumas bibliografias já apresentavam imagens das espécies, assim não foi necessário fazer uma investigação de sua aparência, como Lima, Shimizu e Urbanetz (2013) que localizaram 188 espécies no Cerrado de São Carlos; Filho e Sartorelli (2017) que indicam 101 espécies para regeneração de áreas de Cerrado; Assis, Durigan e Pilon (2017) que listam 14 espécies de capins de Cerrado mais comuns no estado de São Paulo.

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7.2. Espécies utilizadas, recomendadas e em ensaio Para começar a traçar alguns parâmetros para a futura escolha de espécies do projeto foram consultadas bibliografias voltadas para a recuperação de áreas degradadas de Cerrado, assim como levantamentos florísticos feitos em locais com Cerrado, dando maior atenção para listas e levantamentos feitos no estado de São Paulo, abarcando características da flora local de Cerrado como a transição para com a Mata Atlântica (ASSIS, DURIGAN, PILON, 2017; BARBOSA, 2017; FILHO, SARTORELLI, 2017; ). Nesse primeiro momento não foram feitas listas de espécies para implantação do projeto, esse levantamento será feito juntamente com as necessidades e particularidades do local escolhido, porém quanto maior familiaridade com a vegetação e composições do bioma mais fácil e assertivo será esse processo.

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Diferente da primeira parte desse item, além de reconhecer visualmente as plantas foram levantadas as disponíveis para plantio na cidade de

São Carlos, assim como algumas que ocorrem na reserva da USFCar e podem ser ensaiadas e posteriormente utilizadas em plantio. Ou seja, buscou-se entender o quanto dessa vasta biodiversidade vegetal do Cerrado está realmente disponível, ou ao menos próxima da população e entidades públicas para uso na cidade de São Carlos. Foi consultada a lista de espécies cultivadas pelo Horto Florestal do Município. As espécies cultivadas pelo Horto estão disponíveis para a população e Prefeitura da cidade e somam mais 29.456 indíviduos de 104 espécies diferentes na última atualização à qual foi possível acesso em janeiro de 2020 (LÓLIS; OLIVEIRA, 2020). A partir dessa lista (Anexo II) foi possível verificar a quantidade de espécies que eram nativas, quais ocorriam em Cerrado, se haviam endêmicas e o hábito de cada uma (Tabela 2).

Total de espécies disponíveis 104

Espécies Nativas 75

Espécies que ocorrem no bioma Cerrado 64

Espécies endêmicas do Brasil 15

Tabela 2: Tabela com relação de espécies nativas disponíveis no Horto Municipal de São Carlos Fonte: autora, 2020.

Vale atentar que das 15 espécies endêmicas do Brasil, apenas 7 são endêmicas do bioma Cerrado. Ou seja, para um bioma com forte endemismo sua representação não faz jus às plantas disponíveis para plantio. Importante dado também é o do hábito das plantas cultivadas no Horto, são em grande maioria arbóreas, com alguns exemplares arbustivos. Espécies de herbáceas, capins, gramíneas entre outras de pequeno porte não estão disponíveis. Assim fica claro o distanciamento entre o estudo das plantas do Cerrado e seu uso ornamental. As possibilidades de se ter futuramente essa vegetação disponível parte de estudos e inventá-


rios feitos a partir de análise de áreas de Cerrado, coleta de exemplares e futuramente ensaios, o chamado “plant hunting” (Pastori, 2020). Na cidade de São Carlos foram catalogadas algumas espécies da reserva de Cerrado localizada próxima ao campus universitário da UFSCar (LIMA; SHIMIZU; URBANETZ, 2013). A partir dessa catalogação é possível saber espécies do bioma que ocorrem na região e poderiam fazer parte futuramente do banco de sementes e mudas da cidade.

tal) e espécies da região de São Carlos (LIMA, SHIMIZU, URBANETZ, 2013), gerando um banco de dados que auxiliará no projeto e levantamento de vegetação da área projetual escolhida na cidade.

Outra listagem de plantas analisada também foi a de Filho e Sartorelli (2017) feita para o projeto Iniciativa para o Uso da Terra (INPUT). Apesar de não se tratar de uma listagem do Município, são listadas plantas de Cerrado adequadas para reflorestamento no estado de São Paulo, ou seja, plantas que já foram ensaiadas e utilizadas anteriormente. A partir desse levantamento foi gerada uma listagem de espécies disponíveis (Horto Flores-

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8. Subsídios projetuais: possibilidades paisagísticas com o Cerrado e abordagens metodológicas


8.1. Ecogênese e Cerrado

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Cada flora, cidade e local necessitam de projetos adaptados e inseridos em suas particularidades, contextos e circunstâncias. Para poder se pensar em projetos paisagísticos usando a flora do Cerrado em contexto urbano foi necessário investigar as probabilidades já testadas e as que estão sendo experimentadas com essa vegetação na área do paisagismo. Para isso foram selecionadas duas metodologias e movimentos paisagísticos contemporâneos que se mostraram coerentes ao uso e necessidades de se projetar com a flora do Cerrado. A primeira foi a da Ecogênese, metodologia já ensaiada por Burle Marx em seus jardins com vegetação nativa mas que ganha nome e repercussão com o trabalho do paisagista Fernando Chacel no Rio de Janeiro. O segundo é o New Perennial Movement, movimento paisagístico contemporâneo que tem a grande representatividade do paisagista Piet Oudoulf e inspira o trabalho de Mariana Siqueira em seus jardins de Cerrado na cidade de Brasília. No estudo desses movimentos buscou-se traçar paralelos entre essas metodologias e o uso da flora de Cerrado no local de projeto escolhido para São Carlos neste trabalho.

Para começarmos a entender qual a aproximação de ecogênese com o Cerrado é importante entender um pouco o uso da flora nativa no paisagismo no Brasil, conceituar ecogênese e como e onde ela se aplica. Segundo o mestre Burle Marx existem duas paisagens “uma natural e dada, a outra humanizada e portanto, construída” (CURADO, 2007), porém a relação das duas anda desgastando-se com uma antropomorfização cada vez mais agressiva sobre a natureza. Essas paisagens são resultados de sobreposições de vários tempos, acontecimentos e vivências que sedimentaram-se em sua composição, sendo um complexo sistema de elementos naturais e antrópicos, que passam por constante transformação, ou seja, não há como tratar separadamente a natureza e o meio construído pelo homem, sendo importante achar maneiras e estratégias de buscar o conforto humano e a manutenção da natureza nessa paisagem (CURADO, 2007). Nesse aspecto o paisagismo trabalha buscando esse equilíbrio da forma e da estética entre todos os elementos que compõem uma paisagem, a vegetação, construções, espaços para circulação, atentando-se para a história, e a natureza original do local, o paisagismo engloba as características físicas mas também as culturais e sociais (CURADO, 2007).

Porém pensar o paisagismo levando em considerações questões ecológicas e a manutenção da natureza é uma questão de certa forma recente. O arquiteto paisagista escocês Ian McHarg (1920-2001), foi um dos grandes idealizadores do movimento em prol do meio ambiente, sua preocupação era incorporar qualidades naturais da natureza em regiões metropolitanas, promovendo respeito à natureza a sua volta além da forma e função pensadas para a cidade (CURADO, 2007). McHarg é considerado um dos mais importante arquitetos paisagistas e junto de seu legado deixou um método de intervenção ambiental que tornou-se marco na história do paisagismo contemporâneo, seu sistema de layers (CURADO, 2007). Não será aprofundado esse conteúdo, mas é importante entender o momento que esse tipo de pensamento e preocupação começou a fazer parte de discussões e projetos paisagísticos, há não muito mais de 50 anos. Em 1972 foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, onde os principais líderes do mundo discutiram ações de preservação ambiental, paisagens naturais, dando início à criação das políticas ambientais, sendo um dos acontecimentos mais importantes para o movimento ambientalista no mundo, abrindo espaço para importância desse assunto na política internacional e para a ideia de desenvolvimento sustentável (CURADO, 2007). No Brasil, um ano depois da Conferência da ONU inaugurou-se a SEMA - Secretaria do Meio Ambiente, sendo criada através dela, entre


a década de 70 e 80, milhões de hectares de Estações e Reservas Ecológicas pelo país, consolidando nos anos posteriores a legislação ambiental no Brasil (CURADO, 2007). Atualmente o paisagismo contemporâneo leva a ecologia e preservação do meio ambiente como um de seus temas primordiais, se não como o principal. Sendo de grande importância que o arquiteto paisagista contemporâneo esteja a par destes assuntos e das novas dinâmicas da paisagens a serem levadas em consideração.

em Belo Horizonte, já pensavam em iniciativas e metodologias de reconstituição ecogenética, mas ainda ser ser cunhado o termo ecogênese. Nessa mesma época o paisagista Roberto Buler Marx já utilizava espécies nativas em seu projetos, para mais tarde com Mello Barreto entender melhor sobre associações vegetais (CURADO, 2007). Burle Marx, juntamente do botânico Mello Barreto, projetou os jardins do Barreiro de Araxá em Minas Gerais utilizando-se de flora nativa. O projeto contava com 25 sessões de diferentes grupos vegetais de cerrado e outras fitofisionomias, com jardins rupestres. Porém o projeto

foi rejeitado, por questões financeiras e também culturais de assimilação com essa nova estética nativa proposta, sendo plantadas somentes as arbóreas do projeto. A intenção era de se criar um parque didático onde fosse possível a população entrar em contato com diversas vegetações de forma ornamental e ambiental simultaneamente (CURADO, 2007). Mais tarde Fernando Chacel, paisagista contemporâneo, aprendiz de Burle Marx, atuou por mais de 50 anos na área com a restauração de ecossistemas degradados utilizando da ecogênese como metodologia. No Rio de Janeiro Chacel

Ecogênese Ecogênese é a reconstituição de um ecossistema degradado, podendo ser em diferentes níveis de degradação, ela é feita a partir do plantio de espécies nativas buscando interpretar a situação original daquele ecossistema com importante participação multidisciplinar, com a participação de profissionais da botânica, geografia, zoologia, e entre vários o arquiteto paisagista. O objetivo da ecogênese é reconstituir essas paisagens que sofreram danos e destruição profundos recompondo suas associações originais, trata-se de um planejamento e projeto de recuperação ambiental (CURADO, 2007). Em 1940 o botânico Luiz Emydio no Rio de Janeiro, e o botânico autodidata Mello Barreto

Figura 73: Parque de Educação Ambiental Professor Mello Barreto, paisagismo de Fernando Chacel Fonte: Site Vitruvius, 2002. 11 https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/resenhasonline/01.001/3274. Acesso em: novembro de 2020.

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aplica suas primeiras experiências com a ecogênese e o Sistema Vegetal Atlântico, predominantemente de manguezais, restingas e matas tropicais. Para Chacel o maior atrativo de se trabalhar com a ecogênese está na possibilidade de recriar paisagens segundo o meio ambiente e associações originais, ainda que essa paisagem criada pelo ser humano será sempre uma paisagem cultural, sendo o próprio homem o mais beneficiado com ela (CURADO, 2007). Chacel como um bom aprendiz de Burle Marx incorporou muito de suas formas orgânicas no desenho e o uso de nativas. Em seu desenho a natureza tem presença marcante, de forma natural e “quase original”, transicionando com o espaço construído, fazendo uso de agrupamentos da mesma espécie buscando realçar as características plásticas de cada uma. Atuou em diversas restaurações se utilizando da ecogênese e trabalhando com equipes multidisciplinares. Sua grande atuação e representação da ecogênese no paisagismo estão no Rio de Janeiro, como os projetos do Parque da Gleba, Parque de Educação Ambiental Mello Barreto (Figura 73), Penhasco dois irmão, entre outros, tendo também projetado em diversas áreas do país (CURADO, 2007). Existem implantações bem sucedidas de projetos paisagísticos com ecogênese em áreas degradadas, no entanto a maioria trata-se de área de vegetação e formações tropicais ou florestais, e no caso do Rio de Janeiro que possui grande 104

exemplares do método, utilizando áreas de mangues e restingas. Apesar disso a ideia de se utilizar da ecogênese em áreas e formações de cerrado não é algo completamente novo mas que tem grandes possibilidades de sucesso, afinal trata-se de um bioma, com suas particularidades, degradado e que precisa de recuperação.

8.2. New Perennial Movement e o paisagismo de Mariana Siqueira O New Perennial Movement assemelha-se muito ao Movimento Naturalista ao relacionar e se inspirar diretamente no desenho da natureza, com resultados próximos ao natural mesmo que projetados. Porém, o New Perennial Movement difere-se em sua metodologia ao levar em conta a sazonalidade e a questão de sucessão ecológica da natureza, ou seja, sua inspiração para o desenho projetual do espaço ajardinado não sustenta-se apenas em uma questão plástica e composição estética natural, mas também em uma lógica de ecologia da natureza. Esse tipo de composição, pensada na relação ecológica das espécies, garante não só uma estética mais natural como maior probabilidade de sucesso das plantas, e continuidade saudável do jardim, sem grandes esforços para manutenção (BOKOS, 2017).

Espécies encontradas em comunidade na natureza provavelmente apresentarão boa relação também quando forem plantadas em comunidade em um jardim, por serem ecologicamente compatíveis, os new perennial gardens seguem essa lógica e classifica as plantas em três categorias a partir se sua participação na sucessão ecológica: pioneiras, competitivas, e tolerantes ao stress. Pioneiras são as que florescem mais rapidamente e proporcionam maior cobertura do solo de maneira rápida, competitivas são as planta que conseguem prosperar e competir com outras plantas circundantes e necessitam de local com bons recursos, e as tolerantes são as plantas que conseguem sobreviver em ambiente com poucos recursos, porém não tem capacidade de alta distribuição ou competição (Bokos, 2017 apud OUDOLF; HANSEN, 2011). Dentro desse movimento o grande nome e representatividade está com o paisagista Piet Oudolf, autor de projetos com a abordagem dos new perennial gardens como o High Line Park de Nova York (Figura 74), o Lurie Garden em Chicago (Figura 75 e 76), entre vários outros internacionalmente reconhecidos. Piet Oudolf distingue a diferença entre os jardins naturalistas e os new perennial gardens como os segundos tendo um engajamento e maior consciência com a ecologia e dinâmicas da natureza, buscando biodiversidade e constituir ecossistemas artificiais (BOKOS, 2017 apud OUDOLF; HANSEN, 2011).


Figura 74: High Line Park de Nova York Fonte: Darke e Oudolf, 2018.

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Figura 75: Lurie Garden em Chicago durante estação de seca. Fonte: Site Oficial Piet Oudolf, https:// oudolf.com/garden/lurie. Acesso novembro de 2020.

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Figura 76: Lurie Garden em Chicago durante estação chuvosa. Fonte: Site Oficial Piet Oudolf, https:// oudolf.com/garden/lurie. Acesso novem bro de 2020.


/ m-

Os jardins e paisagismo pensados no New Perennial Movement, por ter essa preocupação com a dinâmica da natureza e comportamento da vegetação, atenta-se muito aos ciclos naturais da plantas, assim a sazonalidade torna-se algo primordial. Buscando esse biodiversidade e essa dinâmica são criados jardins com “aparentes desordem”, em que a combinação da vegetação busca um potencial estético natural porém pensado contrapondo ordem e desordem (BOKOS, 2017. apud Oudolf; Kingsbury, 2013.) Esse movimento vem acontecendo de forma mais marcante no paisagismo europeu e americano e é um movimento bastante heterogêneo, mesmo assim a utilização de gramíneas, herbáceas e arbustos de pleno sol nativos marcam sua estética que se aproxima muito de formações savânicas, como o Cerrado (Boko, 2017. apud OUDOLF; KINGSBURY, 2013a). A utilização dessa flora nativa e técnicas de plantio que se distanciam de monoculturas contribuem também para um paisagismo que além de mais ecológico e biodiverso, demanda menos manutenção (BOKOS, 2017). Dessa forma esses jardins também ficam suscetíveis e adaptados para mudanças que acontecem ao longo do tempo, como a auto-semeadura, o envelhecimento e a morte das plantas, ou o surgimento espontâneo de novas espécies; exigindo menos irrigação e manutenção que jardins convencionais com plantas exóticas (Siqueira, 2016. apud OUDOLF & KINGSBURY, 2013). E o mais essencial: trazem uma representatividade quase “selvagem” da flora nativa de forma ordenada e assimilável, com potencial de contemplação dinâmico ao longo do ano a partir de sua sazonalidade. 107


Utilizando o Cerrado: O Cerrado com seu forte endemismos principalmente em relação à suas gramíneas e herbáceas, e sua sazonalidade marcada se aproxima muito da composição florística e organização sazonal dos New Perennial Gardens. A partir desse comparativo a arquiteta paisagista Mariana Siqueira tenta em seu recentes experimentos paisagísticos com o bioma nativo e o arcabouço do New Perennial Movement, formar uma metodologia e conceito próprios a uma expressão paisagística da savana brasileira (SIQUEIRA, 2016). Esse paralelo entre o Cerrado e o New Perennial Movement não foi algo notado apenas por Mariana, sob vários aspectos as savanas tropicais possuem muitas similaridades a ecossistemas da zona temperada, até mesmo mais do que com as florestas tropicais que as circundam (Boko, 2017. Apud BOURLIÉRE; HADLEY, 1983 apud WALTER, 2006.). Além da florística a sazonalidade também ocorre de maneira marcante nesses ecossistemas, com o diferencial de que o Cerrado possui duas estações bem definidas, a seca e a chuva enquanto os de clima temperado possuem 4 (WALTER, 2006). A partir desse aspecto de similaridade deu-se início a investigações sobre o contato que teria potencial paisagístico entre os jardins naturalistas contemporâneos (new perennial gardens) e a flora rasteira e arbustiva do Cerrado (SIQUEIRA, 108

2016). A proposta era gerar mais identidade com esse modelo paisagístico do que o que está acostumado no Brasil, com predominância arbórea e que não considera as mudanças de estações em sua estética. Não se trata de uma modelo ruim a se seguir, mas que está muito mais adaptado à flora tropical e sua dinâmica, assim quando aplicado à outros ecossistemas exige mais irrigação artificial, modificação de solo, além de afirmar uma tendência a passar a ideia de constante adaptação da natureza às demandas humanas (BOKOS, 2017). Ao se pensar no jardim considerando a época de floração, seca, chuva, e o comportamento de cada planta para cada estação é possível gerar jardins que se mantenham interessantes ao longo do ano com baixa manutenção (SIQUEIRA, 2016). Essa discussão, sobre biodiversidade e adaptação de jardins à dinâmicas naturais é importante em quase qualquer escala, como afirma a paisagista Amalia Robredo (2013) que ao se utilizar espécies nativas nos pequenos jardins está de certo modo preservando o patrimônio vegetal e enriquecendo os ecossistemas ao somarmos esses pequenos jardins ricos em biodiversidade (SIQUEIRA, 2016 apud ROBREDO, 2013). Mariana Siqueira (2016) ainda ressalta:

“De qualquer maneira, o atual florescer da arquitetura paisagística em tantas partes do mundo pode propiciar um olhar mais atento a este importante componente das paisagens construídas, urbanas ou rurais: as plantas. Especialmente em um momento onde sustentabilidade e conservação da biodiversidade tornam-se pautas centrais na sociedade. Cabe buscar formas de praticar a arquitetura paisagística cada vez mais em sintonia com os biomas locais; essa é uma forma de garantir que os projetos tenham menor gasto energético, causem menores impactos ambientais e possam contribuir para o fortalecimento de ecossistemas e identidades locais.” - SIQUEIRA, 2016. p. 44


109


Exemplo projetual: Em sua monografia Helena Bokos (2017) fez uma análise e levantamento do processo e projeto feito por Mariana Siqueira em parceria com o Jardim Botânico de Brasília onde foram utilizadas 15 espécies de Cerrado, predominando gramíneas, herbáceas e arbustos. Tratou-se de um jardim experimental onde foram utilizadas espécies já ensaiadas antes para uso ornamental, e outras espécies inéditas, servindo como experimento para provar que é possível “plantar cerrado” (BOKOS, 2017 apud SIQUEIRA, 2017b). O projeto foi uma restauração paisagística no Parque Nacional de Brasília (PNB) com a iniciativa do ICMBio e apoio voluntário. O intuito com a restauração foi demonstrar em uma área de 400m² o que estava sendo feito em projetos em grande escala na Chapada dos Veadeiros em relação ao Cerrado (BOKOS, 2017).

110

Como metodologia o projeto contou com três categorias de vegetação inspirado nos new perennial gardens: matriz, protagonistas e dispersas. Cada categoria possuía camadas e

manchas com variedades de espécies combinadas pensando em suas sazonalidades e o interesse em sua estéticas em cada uma delas (BOKOS, 2017) (Figura 77). Para organizar o plantio com as diferentes situações de cada espécies foram utilizadas tabelas de interesse que consideravam floração, folhagem, sementes, e algumas espécies por não possuírem literatura detalhada tiveram características estimadas a partir de experiências ou referência de outras espécies de mesmo gênero. Características como densidade e alturas das espécies também foram consideradas, utilizando as de maior porte ao fundo da área contemplativa (BOKOS, 2017). Após um ano de plantio, feito a partir de semeadura, o jardim se mostrou próspero e com ótimos resultados em relação a necessidade de manutenção, cobertura e outros aspectos levados em conta no experimento (Figura 78), abrindo ainda mais a possibilidade de experiência de plantio com o Cerrado (BOKOS, 2017).


Figura 77: Recorte da planta baixa da Restauração Paisagística no PNB. Em rosa, amarelo e cinza localizam-se as protagonistas e em tons de verde e marrom, as matrizes. Os símbolos agrupados ou individuais constituem as plantas dispersas, não necessariamente condizendo com a quantidade a ser semeada. Fonte: Bokos, 2017.

Figura 78: Foto aérea da Restauração Paisagística no PNB em abril de 2017. Fonte: Bokos, 2017.

111



9. Proposta Projetual


9.1. Local: A cidade de São Carlos Observando mapas de São Carlos nota-se que a maior parte das áreas verdes remanescentes da cidade se localizam adjacentes ou muito próximas de fundos de vale, em especial as com maior extensão. Praticamente toda área urbana do município encontra-se inserida na sub-bacia hidrográfica do rio do Monjolinho, local em que o Cerrado predominava originalmente nos terrenos arenosos do planalto (CAMPANELLI, 2012). Assim, para a presente pesquisa o foco se deu no Córrego do Monjolinho, que nasce na área rural a sudeste do Município e corta a malha urbana de São Carlos. Fonte imagens: (Figura 79 Município de São Carlos): Prefeitura de São Carlos, 2015, modificado pela autora (Figura 80, Mapa de São Carlos): Google Earth, 2021, modificado pela autora

Município de São Carlos

114

Ce


Córrego do Monjolinho

Córrego do Monjolinho

Figura 81: Bacia do Monjolinho com demarcação sa área urbana de São Carlos e o Córrego em destaque. Fonte: Campanelli, 2012

A sub-bacia hidrográfica do rio do Monjolinho é parte integrante da bacia hidrográfica do rio Jacaré-Guaçu, um dos afluentes da margem direita do rio Tietê. O rio do Monjolinho, principal córrego da bacia em questão, possui aproximadamente 43,25km de extensão total e nasce no Planalto de São Carlos, a leste do Município e segue sentido leste-oeste, dando origem a uma ampla planície de inunação (CAMPANELLI, 2012. apud ESPÍNDOLA, 2000).

entro da cidade

N

Perímetro Urbano de São Carlos

Ao longo do perímetro urbano de São Carlos, o rio do Monjolinho apresenta alguns trechos canalizados e recebe contribuições de várias tributários, assim como disposição final inadequada

de resíduos sólidos domésticos em vários pontos na cidade (CAMPANELLI, 2012). Além da importância da bacia, o Córrego do Monjolinho tem presença marcante na cidade de São Carlos. Ao longo de sua extensão inserida na malha urbana são visíveis pontos de alagamentos e erosão, fazendo com que o córrego não passe despercebido pelos cidadãos, mas de forma negativa. Além disso, adjacentes ao mesmo se encontram áreas públicas destinadas a diversoss usos, possibilitando intervenções em vários trechos urbanos associados ao curso d’água. 115


Lima (2019), levanta em sua tese o questionamento e a discussão da concepção projetual juntamente da análise cartografica e da paisagem, e faz um estudo das paisagens do Córrego do Monjolinho na cidade de São Carlos, buscando identificar as diversas qualidades dessa paisagem. Por meio de fotografias e narrativas, a autora propõe indicar e revelar potenciais paisagens que possam compor um conjunto de espaços livres articulados pela rede hídrica da bacia do Córrego Monjolinho. A análise ressalta características desse trecho do córrego que precisam de atenção, e questões projetuais que ultrapassam a situação somente ecológica, ou somente utilitária do local. São Carlos não possui uma quantidade satisfatória de parques urbanos, existem dois localizados na malha urbana e próximos à córregos, o Parque do Bicão, contruído sobre as nascentes do Córrego Medeiros, e o Parque do Kartódromo, localizado nas proximidades do encontro do 116

Córrego Monjolinho e o Córrego Santa Maria do Leme (LIMA; SCHENK, 2018). Assim o recorte urbano do Córrego do Monjolinho possui aspectos favoráveis e justificáveis para imlantação de um sistema de corredores verdes, receber equipamento públicos, assim como uma conexão maior do rio com a malha urbana, e não como um elemento isolado. Na mesma tese, Lima (2019) analisa e classifica situações dessas paisagens em 10 itens ao longo do trecho do Córrego que corta o Município. O oitavo item descreve justamente o trecho analisado na presente pesquisa para a proposta projetual. A descrição da autora sobre o trecho da Av. Francisco Pereira Lopes :

“8. Inicia-se um longo trecho composto por paisagens determinadas pela função, pelos fluxos utilitários. A sequência de paisagens determinadas incluem parque projeto, avenidas marginais, Áreas de Preservação Permanente, muros altos que delimitam o público e o privado e um curto segmento de ciclovia. Nesse trecho que percorre o espaço entre a região do Campus I da Universidade de São Paulo e o Shopping Iguatemi, o córrego não é invisível. Talvez justamente pela sua visibilidade exacerbada, pela tentativa de purificar e limpar essa paisagem determinada, onde cada coisa deve desempenhar uma função, o Monjolinho se apresenta como monotonia, repetição, um outro tipo de vazio: vazio de apropriações, vazio de impresibilidades. É um lugar de passagem e seu próprio curso define um amplo espaço entre: um ponto de partida e um ponto de chegada, entre os quais nada acontece, apenas a passagem.”- LIMA, 2019, p. 133.


117


9.2. Fundo de Vale do Córrego do Monjolinho O Córrego do Monjolinho além de apresentar grandes possibilidades espaciais, é um córrego que necessita de atenção ambiental pois sofre de alagamentos em pontos da cidade, além de uma quantidade notável de áreas verdes públicas ao longo de suas margens, o que possibilita boas propostas ambientais e para uso recreativo da população.

área consolidado, parque Kartódromo

No trecho escolhido para análise e propostas projetuais existe um grande número de espaços públicos voltados para preservação, uso de lazer verde ou institucional, como será mostrado nos levantamentos seguintes. Fonte imagens: (Figura à esquerda): a autora, 2021; (Figuras à direita): Google Earth, 2021, modificadas pela autora

trecho escolhido para proposta de diretrizes com aproximadamente 1,20 km de extensão

centro da cidade parque florestal e áreas de preservação

área de preservação que sofre de alagamento mapa de áreas fotografadas na primeira etapa

118

N


Jardim Alvorada Trecho de intervenção

Parque Arnold Schimidt

Parque Faber II (condomínio fechado)

Parque Santa Mônica

N Fonte imagens: Google Earth, 2021

119


9.2.1. Análise do entorno e de áreas livres Santa Casa de São Carlos

Condomínio Fechado

Córrego do Gregório Córrego do Mineirinho

O entorno do trecho selecionado é constituído principalmente por bairros residênciais com grande número de lotes vagos, sendo um deles um condomínio fechado. À direita o bairro faz transição com a área médica da cidade, local mais movimentado e com maior de número de serviços e comércio. Imediato à mergem do rio e à Av. Francisco Pereira Lopes encontra-se áreas verdes, entre elas áreas com vegetação adensada. Nesse trecho o Córrego do Monjolinho também faz contato com outros dois córregos, do Gregório e do Mineirinho. Atualmente não há equipamentos de lazer na marginal, porém há diversas áreas destinadas ao lazer e ao ar livre, assim como o uso insticucional. Residencial até 2 pav. Residencial 3 pav. + Comércio e Serviço Para uso Institucional

Córrego do Monjolinho

120

Institucionalizado Rotatória do Cristo Redentor

Terreno livre (particulares e públicos)

Rotatória do Cristo Redentor

áreas m de arb


áreas menos adensada de arbóreas

Parque Urbano “Samuel Murgel Branco”, há uma proposta pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Ciência, Tecnologia e Inovação de São Carlos da instalação de uma trilha no parque, além de uma casa de manutenção completamente sustentável

Área livre pública de uso recreativo

Área de preservação permanente

Área livre pública de uso institucional

Limites Parques Florestais e Urbanos

menos adensada bóreas

áreas menos adensada de arbóreas

ParqueFlorestal Municipal Nobui

N 121


1.

Trecho 1:

9.2.2. As Paisagens do fundo de Vale O trecho estabelecido para análise e proposta de interveção se insere na paisagem de Fundo de Vale feita na análise da primeira estapa dessa pesquisa. Porém, dentro dessa paisagem existem escalas e situações distintas do córrego, da vegetação e do uso do pedestre. Nesse item serão analisadas essas ciscuntâncias ao longo do passeio na marginal, Av, Francisco Pereira Lopes, adjacente ao córrego, para apreender de forma geral como se dá esse passeio na percepção do transeunte e em relação à qualidade ambiental. A análise será feita a partir de fotografias setorizadas por pequenos trechos no sentido Norte-Sul do curso d’água. No primeiro trecho há um pequeno maciço de vegetação com presença marcante de bambos (Fotografia 2), e o rio além de visível possui trechos com concreto na margem, e erosão em alguns pontos, além de uma margem de terra extremamente estreita para vegetação (Fotografias 1 e 4).

122

2. 1. 3. 4. 2.


3.

4.

Fonte imagens: a autora, 2020

123


5.

Trecho 2:

6. 5. 6. 7.

9. 124

8.


7.

8.

Seguindo a marginal sentido Sul, ao lado direito se encontra a continuação de um maciço de arbórreas, que pode incluir nativas e exóticas (Fotografia 5 e 7). As margens do rio são um pouco mais largas com espaço para arborização, porém esta sendo rala, e vários pontos sofrem de erosão (Fotografia 6 e 8). Fonte imagens: a autora, 2020

125


9.

126 Fonte imagens: a autora, 2020


Presença de Guapuruvu (Schizolobium parahyba) florido (amarelo) e rebrota de bambus embaixo, próximo à calçada. Recentemente essa área vegetada foi tranformada no novo parque florestal para a cidade, o Parque Urbano “Samuel Murgel Branco”, visando lazer e educação ambiental para a população juntamente da preservação da mata local1.

1

Prefeitura de São Carlos, 2019. http://saocarlos.sp.gov. br/index.php/noticias-2019/172822-primeiro-parque-florestal-urbano-sera-implantado-em-sao-carlos.html. Acesso em 02 de abril de 2021.

127


10.

Trecho 3:

11.

10. 11.

13. 14. 128

12.


12.

13. Em uma parte do percurso a marginal é fechada por maciços vegetais de dossel alto, um sendo o Parque Florestal Municipal Nobuo Kurimori (Fotografia 13), onde faz transição com terrenos de uso institucional e particulares desocupados (Fotografia 12). Nesse trecho também existem áreas distintas da margem do rio, onde há mais espaço e a topografia se estende de forma mais ampla (Fotografia 11), e outras com situações de erosão mais drásticas pela proximidade com a avenida (Fotografia 10). Fonte imagens: a autora, 2020

129


14.

130 Fonte imagens: a autora, 2020


Córrego do Monjolinho entre as vias da Av. Francisco Pereira Lopes, à esquerda vegetação do Parque Urbano “Samuel Murgel Branco” e à direita Parque Florestal Municipal “Nobuo Kurimori”. 131


15.

Trecho 4:

15.

16.

17. 18. 132

16.


17.

18. Nesse trecho localiza-se Rotatória do Cristo Redentor e a presença de dois córregos importantes na cidade, o próprio Córrego do Monlinho, e o Córrego do Gregório. Esse ponto da cidade sofre frequentemente de alagamentos. O Córrego do Monjolinho possui uma margem um pouco mais larga na parte da rotatória , porém com pouca vegetação apropriada (Fotografia 16 e 17). Passando a rotatória, no sentido de onde o Córrego nasce, fora da cidade as margens se tornam mais amplas e mais vegetadas, com perceptível presença de exóticas como bambus e leucenas (Fotografia 18). 133 Fonte imagens: a autora, 2020


9.3. Proposta Projetual: Lazer ao livre A porposta inicial de diretrizes para o trecho foi selecionar as áreas degradadas que precisariam de recuperação de vegetação arbórea, e áreas que receberiam positivamente equipamentos públicos e vegetação de Cerrado rasteira, arbustiva e herbácea, ou seja, com menos sombreamento. Como proposta de equipamentos, o percurso ao longo da marginal foi pensado para atrair a população dos bairros adjacentes, pensando em

um passeio continuo com pontos de descanso e infraestrutura. Em alguns trechos de áreas públicas destinadas ao uso institucional, foram propostos equipamentos de maior porte, como quadras poliesportivas, bicicletários e pista de skate. Outros pequenos equipamentos foram propostos, como bancos para descanso, bebedouros e banheiros

que serão dispostos ao longo de todo o percurso no trecho, acompanhado de a expansão da ciclovia existente e um novo elemento de transposição do rio. As diretrizes gerais foram propostas também para o Parque Urbano “Samuel Murgel Branco” juntamente da proposta já existente de uma trilha ecológica no local.

Área livre pública de uso recreativo

plantio de arbóreas nativas em áreas de proteção e já adensadas

jardins com herbáceas e arbustivas de Cerrado

134

Arborização de via com uso de arbóreas de cerrado

nova travessia sobre o córrego

Área de prservação permanente

Área livre pública de uso institucional

área para detalhamento projetual

os dois lados da marginal receberão arboriação apropriada e ciclovia

jardins com herbáceas e arbustivas de Cerrado

N


9.3.1. Áreas degradadas e espécies de recuperação Área livre pública de uso recreativo

A margem imediatada ao córrego possui pouca vegetação arbórea e alguns maciços de bambu. As áreas de APP (Área de Preservação Permanente) também se encontram com grande predominância de bambos e outras invasoras. Além disso, ao centro do mapa, áreas públicas destinadas para uso recretivo possuem adensamento de arbóreas, inclusive com a presença visível de nativas, o que torna essas áreas importante ambientalmente para o Córrego e importantes de serem mantidas.

Área de prservação permanente

N

predomínio de bambos e leucenas bambos

área sem arbóreas e predominância de braquiárias

leito do rio sem vegetação apropriada

135 Fonte imagens: a autora, 2020


Nome Científico Acrocomia aculeata Calophyllum brasiliense Casearia sylvestris

Arbóreas recomendadas para plantio Assim, foi feito uma seleção incial de espécies arbóreas para plantio, recuperação e manutenção nessas áreas. As espécies forem selecionadas a partir de bibliografias voltadas para recuperação e regeneração de áreas de Cerrado e Cerrado/Mata Atlântica (BARBOSA, 2017; FILHO; SARTORELLI, 2017), portanto todas citadas na tabela ocorrem em Cerrado e podem ocorrer também em Mata Atlântica. A partir das plantas sugeridas pela bibliografia foram selecionadas todas as arbóreas de diversos portes e situções ambientais próprias de fitofisionomias de Mata de Galeria, buscando aproximar ao máximo uma listagem do que seria a provável vegetação original do local próximo ao córrego. Para entender e propor em detalhes o replantio de nativas nas áreas analisadas seria necessário um levantamento mais detalhado da vegetação local, assim como o projeto de um planejamento de plantio das arbóreas, especificando quantidade, distanciamento e diversidade. Em um primeiro momento foi analisado somente a potencialidade desse plantio com arbóreas de Cerrado, e feita uma análise superficial da vegetação presente no local e das possibilidades. 136

Copaifera langsdorffii Curatella americana Dendropanax cuneatum Erythrina mulungu Erythroxylum cuneifolium Gochnatia polymorpha Hexachlamys edulis Inga laurina Lafoensia pacari Lithraea molleoides Magnolia ovata Nectandra cuspidata Ocotea corymbosa

Nome Popular macaúba

Terreno

Mata Galeria e Cerradão guanandi Mata Galeria guaçatonga, erva- Mat de Galeria, Cerra-de-lagarto dão e Cerrado Típico óleo-de-copaíba Mat de Galeria, Cerradão e Cerrado Típico lixeira Mat de Galeria, Cerradão e Cerrado Típico maria-mole Mata Galeria mulungu Mat de Galeria e Cerrado Típico mercúrio Mat de Galeria, Cerradão e Cerrado Típico candeia, cambará Mata Galeria e Cerradão uvaia Mata Galeria e Cerradão ingá-do-cerrado Mata Galeria e Cerradão dedaleiro Mat de Galeria, Cerradão e Cerrado Típico aroeira-mansa Mata Galeria e Cerradão magnólia-do-brejo Mata Galeria canelão Mata Galeria e Cerradão canelinha Mata Galeria e Cerradão

Tipo Palmeira

rara

árvore arbusto, árvore

variá arbus

árvore

comu

árvore

variá

árvore árvore

variá rara

árvore

comu

árvore

comu

árvore

rara

árvore

rara

árvore

rara

árvore

rara

árvore árvore

comu comu

árvore

comu


Situação

Nome Científico

Nome Popular

Ocotea pulchella

canela

Pera obovata

pimenteira

Pouteria ramiflora

abiu

Protium heptaphyllum

amescla, breu

Prunus myrtifolia

pessegueiro-bravo

Rapanea umbellata

capororoca

um

Roupala montana

carne-de-vaca

um

Syagrus flexuosa

coco-babão

Syagrus romanzoffiana

jerivá

Tapirira guianensis

peito-de-pombo

Terminalia brasiliensis

capitão-do-campo

Tibouchina stenocarpa

quaresmeira

ável sto, árvore

um

ável

ável

um um

um

Terreno

Tipo

Situação

árvore

comum

árvore

comum

árvore

variável

árvore

comum

árvore

rara

árvore

comum

árvore

variável

Palmeira

rara

Palmeira

comum

árvore

comum

árvore

variável

árvore

comum

Vitex montevidensis

tarumã

Mata Galeria e Cerradão Mata Galeria e Cerradão Mata Galeria e Cerradão Mata Galeria e Cerradão Mata Galeria e Cerradão Mata Galeria e Cerradão Mat de Galeria, Cerradão e Cerrado Típico Mata Galeria e Cerradão Mata Galeria e Cerradão Mata Galeria e Cerradão Mata Galeria e Cerradão Mata Galeria e Cerradão Mata Galeria

árvore

rara

Xylopia aromatica

pindaíba, pimenta- Mat de Galeria, Cerra-de-macaco dão e Cerrado Típico

árvore

comum

137


9.4. Recorte Projetual A área para o recorte projetual foi escolhida por apresentar algumas situações potenciais, ambos os terrenos estão conectados com os bairros adjacentes, possibilitando trabalhar a transposição e uma abertura da marginal do Córrego para a malha urbana onde se insere, além disso há um canteiro central na marginal com problemas visíveis de erosão que precisa de atenção. Os terrenos apresentam situações distintas de vegetação e acessos. Um sendo maior (esquerda) com topografia acentuada e vegetação adensada de arbóreas com provável presença de nativas, assim como uma forte presença de bambus na área de APP, com uma paisagem de dossel alto visivel de vários pontos da marginal. O segundo terreno (direita) com algumas árvores nativas pontuais apresenta amplo espaço e de menor declividade, possibilitando a introdção de espécies de porte menor assim como espaços para descanso e lazer, proporcionando um passeio público mais convidativo entre bairros.

Na imagem aérea à esquerda aparece a área do recorte em 2004. Pela imagem é possível ver que não havia um adensamento de vegetação nem mesmo as poucas arbóreas existentes no leito do rio que existem atualmente. Houve um adensamento, porém não é possível dizer se a maior parte se trata de espécies nativas ou não. Na análise feita nas páginas seguinte, a partir de fotografias, indentificou-se alguns maciços e algumas espécies, porém um levantamente mais especifico de espécies e localização no terreno demandaria mais tempo e a participação de biólogos.

138

Fonte imagens: Google Earth, 2004, modificado pela autora


canteiro central com trecho do Córrego e erosão aparente

terreno de esquina com menor adensamento de arbóreas

terreno maior com presença de área de APP

N Fonte imagens: Google Earth, 2021, modificado pela autora

139


Fotos dos Terrenos Esse é o maior terreno, com maior adensamento arbóreo (Fotografias 2 e 6) e possui uma área de APP, com predominância de bambus e braquiárias (Fotografias 3, 4 e 5). Apesar do adensamento da vegetação o terreno mostrou pequenas aberturas e recorte interessantes da paisagem a partir de sua topografia (Fotografia 1).

2

3.

2.

4.

3 4

1 5

140

1.

6


5.

6. Fonte imagens: a autora, 2021

141


O canteiro central faz um recorte de um trecho do córrego, a margem encontra-se em diferentes situações: estreita e com erosões (Fotografias 2, 5 e 6), mais larga e sem intervenções (Fotografias 4). Os pontos de erosão estão diretamente ligados com as saídas de água, além disso a vegetação arbórea é escassa, especialmente por falta de espaço (Fotografia 1).

2.

4.

5 3

142

3.

6

4

1

1.

2


5.

6. Fonte imagens: a autora, 2021

143


O terreno de esquina possui algumas espécies arbóreas, entre elas algumas nativas como patas-de-vaca (Bauhinia forficata) (Fotografia 4), pitangueira (Eugenia uniflora), algumas espécies não foram possívei de se identificar . Ao fundo algumas arbóreas de porte alto, e na vegetação rasteira um predomínio de braquiárias que passa por podas regulares da prefeitura.

1.

3.

2.

4.

1 5 4 6

144

2 3


5.

Pata-de-vaca

6. Fonte imagens: a autora, 2021

145


9.4.1. Proposta Projetual

plantio de nativas ao longo da margem

passarela de conexão entre bairro e marginal, elemento leve que proporciona lazer e comtemplação da paisagem

Como proposta projetual para as áreas foi pensado uma forma de facilitar a transposição do fundo de vale, materializada a partir de passarelas de madeira que repousam sobre os terrenos de ambos os lados.

jardins com uso de herbáceas e arbustivas de cerrado

recuperação de área degradada

A passarela vem como uma intervenção discreta na paisagem, sem a pretensão de tranformá-la drasticamente mas sim de adaptá-la para o passeio público de pedestres. Além disso alguns equipamentos foram propostos como áreas de descanso, banheiro, bebedouro e a alongamento e alargamento da ciclovia já existente, trazendo mais conforto e infraestrutura para o lazer na marginal. Foi pensada uma aproximação do rio, lém de adaptações na margem para lidar com problemas de erosão, como a uma redistribuição de terra entre as duas margens, uso de gabião e de escadarias d’água.

146

No terreno de esquina havia a possibilidade de uma introdução notável de espécies de Cerrado na paisagem, onde é proposto além dos espaçaos e equipamentos o plantio dessas novas espécies

áre com adensamento de arbóreas

projeto de área de lazer e contemplação com jardins e cerrado

alargamento da calçada com patamares que entram em ocntato comm o córrego

acessos para passarelas

N


A’

A

Corte AA’

147


9.5. PASSARELA

áre de descanso e mirante

A proposta da passarela é além de gerar um espaço de passagem para o bairro adjacente ao fundo de vale, é também deixar a marginal e suas áreas de lazer mais permeáveis para o pedestre, ressignificando o contato com essa vegetação ali existente. O projeto toma partido da alguns visuais distantes de paisagem que o fundo de vale do Córrego do Monjolinho oferece, além de uma inserção profunda na vegetação adensada próxima ao Córrego, aproximando o pedestre ao dossel de árvores ao longo de uma caminhada e de contatos com as diferentes paisagens oferecias pelo loca, como o “Verde Próximo”, “Paisagem Distante” e “Paisagem de Fundo de Vale”. Ao longo do caminho alguns patamares se estendem criando espaços de descanso e contemplação. A implantação da estrutura foi pensada visando o mínimo de alteração na topografia, assim como na vegetação existente. Sua estrutura metálica sustenda o piso de madeira que não toca o solo e ganha diferentes alturas conforme o local do terreno. A passarela foi pensada a partir de seus acessos com o bairro e a marginal e com inclinações adequadas e confortáveis das rampas. 148

acessos

terreno: 15.165,00 m2

áre com adensamento de arbóreas


Acessos

Imaplantação

149

N


150

Planta Passarela

N


mirante

Corte Passarela AA’

A passarela possui um caminho de madeira com 3,5m de largura, que se expande em algumas angulações, criando espaços mais amplos. Quatro dos cinco acesso são acessíveis segundo normas de acessibilidades da norma brasileira (ABNT, 2020), o quinto sendo por escadas. Na maior altura que a passarela alcança, de 10m em relação à rua, é proposto um mirante.

Planta e Vista banheiro e escadaria

151


152


A pretensão com o novo elemento no fundo de vale foi criar um passeio que estendesse o uso do passeio público da marginal e que trouxesse diferentes recortes em diferentes escalas das paisagens presentes ali e identificadas com potencial na primeira etapa dessa pesquisa (Item 6.3.).

Perspectiva do acesso por escadas entre a vegetação arbórea com o mirante e parte da ciclofaixa

153


Possíveis adaptações com a vegetação existente

154

Mirante mais alto ao centro da passarela

Paisagem de Fundo de Vale


Mirante mais alto

Acesso de esquina em cota mais baixa

155


Paisagem Verde Próximo

156

Caminho da passarela entre a mata


Paisagem Verde Próximo

Paisagem Distante ou Horizonte

Caminhos da passarela com um dos mirantes ao fundo

157


9.6. CANTEIRO E O CÓRREGO No canteiro central onde o rio está exposto é visível áreas explícitas de erosão, algumas de forma mais drástica por estarem alinhadas com o fluxo de água que vem perpendicular ao sentido das ruas que desaguam no córrego. Nesse canteiro em especial as margens são bem assimétricas, sendo a mais estreita a que mais sofria de erosão e com pouco espaço para receber vegetação apropriada. Assim, foi proposto o alargamento da margem direita, e ambas as margens receberam gabiões no desnível de aproximadamente 5m da rua para o córrego. O desenho dos gabiões foi feito seguindo ao máximo o fluxo existente do córrego e proporcionando o máximo de espaço livre no leito de ambos os lados. Nos pontos de escoamento da água da rua para o córrego foram propostas escadarias d’água para conter a velocidade da água e amenizar efeitos de deslizamento de terra ou desmoronamento. Toda a vegetação da margem é reconstituída com arbóreas e outras espécies de Cerrado, inclusive herbáceas e arbustivas no lugar das gramíneas tradicionais, já que as nativas costumam ter raízes mais profundas (PASTORE, SIQUEIRA, 2020) que auxilam na contenção de terra do leito do rio.

A gabiões

B’

patamares e escadarias de descanso e contemplação

alargamento de calçada com possbilidade de receber diferentes equipamentos públicos ou de infraestrutura

A proposta é que as margens do córrego recebam tratamento próximo a esse e adaptado conforme situação ao longo de todo o trecho, assim como diferentes equipamentos e áreas de lazer que tragam visibilidade do curso d’água.

plant arbus de Ce raízes

B

158


terreno: 4.970,00 m2

escadas para diminuir a velocidade da água

mobiliário heterogêneo ao longo da marginal, seguindo a materialidade proposta de madeira para bancos móveis e concreto para fixos

bueiro e sídas de escoamento de água

biblicletários, ou variáveis como bebedouros ou sanitários

revegetação da margem, sombreamento com arbóreas e utilização de arbustivas e herbáceas de meia-sombra

A’

tio de arbóreas, stivas e herbáceas errado que possuem s profundas

Implantação

N

EXTENSÃO DE CALÇADA como pequenos nichos sociáveis

159


patamares apoiados em vigas engastas nas margens

Planta Patamares e Escadarias

160

N


A proposta de alargar a calçada nos pontos em que não haverá perda de terra da margem do rio é um forma de criar maiores respiros ao longo do caminho do pedestre na marginal. Esses espaços podem atuar de várias formas no passeio, recebendo diferentes usos. No caso foi proposto uma aproximação do córrego através de patamares que abrem a visão entre a nova vegetação mais densa. Para que isso fosse possível o Córrego do Monjolinho precisaria ter seu tratamento de esgoto, com a eliminação de vários pontos de despejo ainda existentes ao longo do trecho.

Corte AA’

Corte BB’

161


162


Perspectiva patamares próximos ao córrego com áreas de permanência

163


9.7. TERRENO DA ESQUINA Para o terreno da esquina a proposta foi tratar uma área menos adensada mantendo sua insolação alta, para que fosse possível a implantação de um paisagismo mais herbáceo de Cerrado, mais próximos de suas savanas e campos. Foram feitos levantamentos locais para identificar e localizar as arbóreas já existentes, porém foi possível confirmar apenas algumas espécies, como pata-de-vaca (Bauhinia forficata), pitangueira (Eugenia uniflora) e amoreira (Morus alba), sendo as duas primeira nativas e que ocorrem em Cerrado.

Amoreira

Pata-de-vaca

Pata-de-vaca

Pata-de-vaca

Pintangueira

O terreno apresenta uma topografia acentuada, que foi tomada como partido para a elaboração do passeio e áreas de permanência.

Planta original

164

N


Proposta projetual

áreas de permanência terreno: 2.888,00 m2

arbóreas de dossel mais alto ao fundo do terreno

Para a concepção do projeto manteve-se ao máximo todas as árvores existentes, dando prioridada para as adultas. A introdução de árvores foi mínima e o foco da vegetação foram jardins que mostrassem a exuberância dos capins e ervas do Cerrado. O projeto toma partido da topografia com duas situações opostas. Enquanto a passarela vence o desnível criando caminhos que recortam o terreno, os patamares e escadas o cortam transversalmente. A passarela foi pensada a partir dos espaços restantes entre as arbóreas e visando um fluxo que enfatizasse as potencialiades oferecidas pela paisagem do fundo de vale, é implantada pouco acima do chão, criando um passeio por entre e sobre o jardim. Sob as árvores existentes, e visando uma intervenção mínima na topografia original, as plataformas de concreto, parte engastadas parte em balanço, formam espaços de descanso com diferentes recortes da paisagem e dos próprios jardins do terreno.

Córrego

Caminho por passarela

165


Espelhos d’água

Acessos

Em verde são as novas arbóreas introduzidas

pequena área com arquibancada

166

áreas de pleno sol com plantio de herbáceas e arbustivas

Passarela de estrutura metálica e vedação em madeira

Implantação

N


bancos, patamares e escadarias se sobrepôem conformando espaços de descanso

espelhos d’água entre a vegetação trazem leveza e mais umidade para um paisagismo de vegetação mais ensolarada

os patamares se sobrepôem em diferentes alturas gerando novas perspectivas da paisagem do fundo de vale

algumas estruturas são vazadas dando espaço para tramas de tecido que funcionam como redes de descanso ou brincadeira para crianças

A acessibilidade aos patamares é feita principalmente pela passarela. Os patamares funcionam como pequenos oásis sombreados entre os jardins. A passarela contudo é o elemento que faz a principal ligação do terreno com a coleta de pedestres do bairro e os da marginal, e é por ela que se abre caminho entre os jardins, assim seu passeio é mais amplo e ensolarado. A angulação gerada para torná-la acessível gerou recortes no terreno que foram posteriormente tomados como partido para a elaboração da proposta de plantio de espécies de Cerrado ao longo do passeio. A vegetação arbórea foi mantida com a introdução de alguns exemplares ao fundo do terreno como uvaia (Hexachlamys edulis), ingá-do-cerrado (Inga laurina) e canelinha (Ocotea corymbosa), buscando dissolver o muro com a vegetação, e de algumas palmeiras jerivá (Syagrus romanzoffiana), visando complementar a escala do projeto com as árvores existentes ao fundo e a única palmeira existente no terreno.

167


Seguindo as normas brasileiras de acessibilidade (ABNT, 2020) toda a passarela, assim como as escadarias, tem corrimão e guarda-corpo. A estrutura é metálica assim como as que sustentam a passarela, buscando trazer leveza, e manter a escala do projeto próxima ao solo

Planta

168

N


passarela

rua

Corte AA’

Vista Oeste terreno

169


9.7.1. A vegetação: o Cerrado Revelado Primeiramente foi elaborada uma dinâmica de volumes de espécies para o plantio. A metodologia foi inspirada na de Piet Oudolf e seus jardins naturalistas (OUDOLF, GERRITSEN, 2019), porém com adaptações e outros termos. As espécies foram separadas em 4 grupos, de capins volumosos mais altos, médios, rasteiras e as atrativas, que se distribuem nesses grupos com diferentes florações e cores. Assim foram selecionadas espécies de porte que se encaixavam nessas volumetrias, variando de 15cm de altura até 120cm. Para selecionar as espécies foram estabelecidos parâmetros eliminatórios. Primeiramente foi feita uma listagem de espécies próprias para o terreno e local de implantação, ou seja, em sua maior parte, pleno sol e de solo seco ou sazonal. Em um segundo momento foram categorizadas por seu porte e floração e selecionadas as apropriadas para cada grupo. Com a seleção foi gerada a tabela das páginas 172 e 173. As espécies apresentadas são todas do bioma Cerrado e foram consultadas a partir da bibliografia (ASSIS, DURIGAN, PILON, N, 2017; BOKOS, 2017; DURIGAN, PILON, ASSIS, SOUZA, BAITELLO, 2018). Além disso, dentre as várias espécies levantadas com potencial para o projeto foram priorizadas as já observadas em São Carlos, segundo bibliografia (LIMA, SHIMIZU, URBANETZ, 2013) e os próprios levantamentos feitos na primeira etapa dessa pesquisa na cidade. 170

CAPINS VOLUMOSOS São os capins mais altos da composição, apresentam texturas variadas e alta densidade, formando uma base perene na composição da vegetação que vai alterar de cor e apresentar diferentes inflorecências ao longo do ano.

ATRATIVAS São as plantas com algum apecto visual atrativo, como florações de cores marcantes. As atrativas foram selecionadas de diferentes tamanhos, e são distribuídas entre os capins e outros arbustos trazendo mais dinâmica para a composição como um todo.

MÉDIAS

São as arbustivas e herbáceas com porte um pouco menor, que fazem a transição entre os capins mais altos e as plantas rasteiras, dissolvendo a vegetação.

RESTEIRAS

São as plantas rasteiras, funcionam como gramíneas e fazem a transição para elementos contruídos como a calçada, dissolvendo o aspecto de borda com a vegetação mais alta.


171


RESTEIRAS

VOLUMOSOS

ATRATIVAS

MÉDIAS

CAPINS

Nome Científico

172

Nome Popular

Porte

Floração (cor)

Imperata brasiliensis Trin.

sapé

30-95cm

planta perene de haste felpuda branca capim

Schizachyrium sanguineum

Capimroxo, capim-vermelho

40 - 120 cm

com colmos avermelhados

Schizachyrium condensatum (Kunth) Nees capim rabo-de-burro

35-110 cm

tuchos claros na ponta, planta perene

capim lha Capim

Commelina erecta L.

trapoeraba, erva-de-santa-luzia

até 40 cm

pequenas flores azuis vivas

erva pr

Parinari obtusifolia Hook.f.

fruta-de-ema

pequeno porte

pequenas flores marrons e fruto marrom

pequen tem vo

Achyrocline satureioides (LAM.) DC.( ASTERACEAE)

Macela, macelinha, macela-docampo

até 1m

Bidens gardneri Baker

picão, picão-vermelho

50-150 m

Grazielia intermedia (DC.) R.M.King & H.Rob. Ipomoea argentea Meisn.

jalapa

arbusto ereto com aste

Ciclo de vida anual ou bianual. Folhas Estrutu finas e acinzentadas. Flores amarelas. volumo Frutos secos amarelos. Floresce de março a junho. flores laranjas e amarelas erva er hastes flores em buque na ponta das astes aste gro lilases e brancas flores lilases carmim aste co

Lessingianthus brevifolius (Less.) H.Rob.

alecrim-do-campo

cerca de 30 cm

flores na ponta da aste roxo vivo

Chresta sphaerocephala

chapéu-de-couro

até 1,5 m

Salvia minarum Briq.

sálvia-azul-de-minas

até 50 cm

flores que formam uma bola roxa viva astas lo enruga flores ao longo da aste com dor azul pequen despot flores em tuchos e marcantes laranjas folhas m mente

até 1,5 m

Pyrostegia venusta Arachis pintoi cv. Belmonte

trepadeira herbácea amendoim-rasteiro-do-campo, amendoim-silvestre

menos que 20 cm

flores pequenas e dispersas amarelas

pouco

aspecto com br

* Referências bibliográficas usadas para a consulta de espécies: ASSIS, DURIGAN, PILON, N, 2017; BOKOS, 2017; DURIGAN, PILON, ASSIS, SOUZA, BAITELLO, 2018; LIMA, SHIMIZU, URBANET


Volume

Fitofisionomia

Terreno

Sazonalidade

Tipo

Presentes em São Carlos

denso com volume superior

campos

secos ou sazonalmente umidos

perene outubro

Herbácea

denso que ganha cor arroxeada/verme-

campos e savânas

terrenos secos

perene janeiro a junho

Herbácea

campos

terrenos seco e sazonalmente umidos

perene

Herbácea

rostrada

campos, savanas ou ambientes degradados

terrenos secos ou moderadamente umidos

perene, maio, outubro, novembro dezembro

Herbácea

no arbusto ereto com plantio proximo olume

campos

terrenos secos

outubro

Arbustiva

ura ereta, ramificada desde a base bem osa de aspecto arbustivo

Vereda, brejo, Campo Úmido, Campo Sujo, Campo Rupestre, borda de mata e Cerrado sentido restrito.

bianual

Arbustiva

Sim

reta volumosa com flores solitárias nas

campos, savanas e florestais

terrenos secos

perene, floração abril

Herbácea

Sim

ossa sem ramificação

campos e savanas

terrenos secos

janeiro, março e abril

Arbustiva

campos e savanas

terrenos secos

volume e varias astes partindo da base

campos e savanas

terrenos secos

Janeiro, Março, Abril, Novem- Arbustiva bro final de março inicio de junho Arbustiva

onga, base mais volumosa com folhas adas e ais claras nos arbusto não muito denso com astes tadas maiores que de distribuem uniforme-

campos e savanas

terrenos secos

março a outubro

campos

terrenos secos e modera- primavera verão e outono damente umidos inverno e primavera

Herbácea

o de grama felpuda consegue competir raquiarias, atingindo estaturas maiores

campos e savanas

terrenos secos

Rasteiras

m denso, especialmente nas pontas

om floração, base sem volume

TZ, 2013

várias vezes duranteo ano

Sim

Sim

Sim

173


CAPINS VOLUMOSOS

ARBUSTIVAS MÉDIAS

Imperata brasiliensis Trin.

Parinari obtusifolia Hook.f.

Sapé

Fruta-de-ema

Schizachyrium condensatum (Kunth) Nees

Commelina erecta L.

Capim rabo-de-burro

Schizachyrium sanguineum Capim vermelho

174 Fonte imagens: (Todas):

DURIGAN, PILON, ASSIS, SOUZA, BAITELLO. 2018.

Erva-de-santa-Luzia

ATRATIVAS

Bidens gardneri Baker Picão

Grazielia intermedia (DC.) R.M.King & H.Rob.

Achyrocline satureioides (LAM.) DC

Ipomoea argentea Meisn.

Macela-do-campo

Jalapa


RESTEIRAS

Lessingianthus brevifolius (Less.) H.Rob.

Pyrostegia venusta

Alecrim-do-campo

Chresta sphaerocephala Chapéu-de-couro

Salvia minarum Briq. Sálvia-azul-de-minas

Arachis pintoi cv. Belmonte Amendoim-rasteiro-do-campo

Na tabela estão as características das espécies levadas em consideração para o desenho de plantio do jardim, totalizando 14 espécies. A floração também foi considerada dentro da sazonalidade de cada espécie, ou seja, as cores e florações que o projeto assumirá em cada época do ano. Dentre as espécies selecionadas, Achyrocline satureioides (LAM.) DC, Bidens gardneri Baker, e Pyrostegia venusta, foram espécies encontradas nas visitas de campo, outras espécies que foram levantadas no campus da UFSCAR (LIMA, SHIMIZU, URBANETZ, 2013) estão indicadas na tabela anterior.

175


PLANTIO Para o plantio foi pensando um Cerrado que se revela com sua beleza ao longo do caminhar pela passarela e patamares, e ao mesmo tempo traz um senso de unidade com a paisagem imediata.

Arachis pintoi cv. Belmonte Amendoim-rasteiro-do-campo e Pyrostegia venusta

volumosas: capins mais altos arbustivas e herbáceas de porte médio rasteiras

Commelina erecta L. Erva-de-santa-Luzia e Parinari obtusifolia Hook.f. Fruta-de-ema

O desenho foi proposto em manchas que seriam executadas por estaquia e semeadura direta (especialmente no caso dos capins) (BOKOS, 2017; PASTORE, SIQUEIRA, 2020) o que traria mais dinamismo e “aleatoriedade” para o desenho na prática. A proposta é gerar um agrupamento suficiente para uma volumetria característica da espécie utilizada, porém mesclando-as de forma natural, distanciando da ideia de canteiros ou blocos de vegetação homogêneos e abrindo espaço para um brotamento espotâneo.

176

Schizachyrium conde satum (Kunth) Nees Capim rabo-de-bur

Schizachyrium sanguineum Capim vermelho

Imperata brasiliensis Trin. Sapé Achyrocline satureioides (LAM.) DC Macela-do-campo

Planta e Plantio por manchas


Plantio das Atrativas

Lessingianthus brevifolius (Less.) H.Rob. Alecrim-do-campo Chresta sphaerocephala Chapéu-de-couro Salvia minarum Briq. Sálvia-azul-de-minas Ipomoea argentea Meisn. Jalapa

enBidens gardneri Baker Picão

rro

N

Planta e Plantio com distribuição deatrativas

N

177


178


Perspectiva patamares com áreas de permanência e jardinscom espécies de Cerrado

179


180


Paisagem Fundo de Vale

Perspectiva os patamares mais altos, ao fundo vegetação do terreno com a passarela e fundo de vale

181


Floração por estação

O Cerrado tem sua sazonalidade marcada principalmente por duas épocas, a chuvosa, associada principalmente com o verão e também a primavera; e a seca, associada principalmente ao inverno e também outono (SIQUEIRA, 2016). A maior parte das espécies selecionadas para o projeto sofrem alterações visíveis em sua estética ao longo dessas estações (chuvosa e seca) fazendo com que o jardim se transforme constantemente ao longo do ano. Ao lado foram feitas tabelas indicando as florações e colorações visíveis em cada época do ano. Os capins perenes, especialmente, passam por mudanças significativas de coloração, ganhando tons dourados nas épocas de seca. Esse processo de tranformação faz parte de uma estética necessária a ser assimilada pela população, tornando o jardim seco belo também, e mostradno que há floração e potencialidades nessa vegetação nas épocas secas. Essa ideia faz parte do funcionamento de um jardim que utiliza plantas nativas e segue suas sazonalidas naturais. Diferente de jardins tradicionais com uso de exóticas que precisam de mais atenção quanto à poda, e principalmente irrigação durante o ano (PASTORE, SIQUEIRA, 2020). 182

Estações chuvosas

Verão

Primavera Espécie

Cor

Espécie

Arthropogon villosus Nees

Arthropogon villosus Nees

Imperata brasiliensis Trin.

Schizachyrium sanguineum

Achyrocline satureioides (LAM.) DC.( ASTERACEAE)

Commelina erecta L.

Commelina erecta L.

Salvia minarum Briq.

Parinari obtusifolia Hook.f.

Grazielia intermedia (DC.) R.M.King & H.Rob.

Salvia minarum Briq.

Ipomoea argentea Meisn.

Ipomoea argentea Meisn.

Arachis pintoi cv. Belmonte

Chresta sphaerocephala Arachis pintoi cv. Belmonte Pyrostegia venusta

Cor


Estações secas

Inverno

Outono Espécie Schizachyrium sanguineum Commelina erecta L. Bidens gardneri Baker Salvia minarum Briq.

Cor

Espécie

Cor

Lessingianthus brevifolius (Less.) H.Rob. Chresta sphaerocephala Pyrostegia venusta Arachis pintoi cv. Belmonte

Grazielia intermedia (DC.) R.M.King & H.Rob. Ipomoea argentea Meisn. Lessingianthus brevifolius (Less.) H.Rob. Chresta sphaerocephala Arachis pintoi cv. Belmonte

183


Estações chuvosas

184

Perspectiva na parte baixa da passarela


Estações secas

185


186


Paisagem Fundo de Vale

Perspectiva no caminho a passarela

187



10. Considerações Finais


Apesar do Cerrado ser caracterizado como uma savana, o bioma apresenta diversas características em suas fitofisionomias, possibilitando a implantação de suas espécies em diversas circuntâncias. Assim, São Carlos, como um cidade marcada pela presença de córregos, em sua grande parte como elementos negligenciados, associados às principais áreas verdes possui também um potencial da utilização de vegetação de Cerrado em suas áreas públicas. É possível implantar exemplares do bioma em áreas de fundo de vale e trabalhar as escalas diversas que a malha urbana oferece da paisagem verde com o Cerrado em sua multiplicidade. É possível inserir de forma útil para a saúde da cidade essa vegetação nativa e é possível que essa inserção una elementos importantes para o meio ambiente e questões sociais e de uso público. Ainda que haja um longo caminho para a vegetação de Cerrado estar aparecendo ativamente na cidade, é necessário que essa representação cresça no imaginário popular e que essa consciência seja incentivada com espaços representativos do bioma que unam funcionalidade, lazer e ecologia. 190

Após o levantamento a apreensão das paisagens de São Carlos, e o estudo sobre o bioma de Cerrado e sua vegetação, é possível dizer que há espaço e há maneiras de confluí-las e uní-las em espaços públicos. Os estudos do uso ornamental das espécies de Cerrado ainda são recentes, mas promissores, um bioma com uma bioiversidade tão grande tem todo o potencial de ser utilizado e valorizado nas paisagens verdes de São Carlos, ou qualquer território de onde é nativo. Para que o Cerrado seja alvo cada vez mais importante do entendimento popular para sua conservação, é necessário que o bioma seja assimilado como importante, criar e gerar espaços afetivos ou que ao menos façam parte da paisagem cotidina da população, de forma agradável e marcante. Esse é um primeiro passo para revalorizar as paisagens verdes da cidade e possivelmente resgatar uma paisagem singular do bioma restrita a terrenos baldios e frestras de calçada.


191



11. Referências Bibliográficas


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