Educação e Sociedade em Rede

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Atividade 4

Educação e Sociedade em Rede Por: Maria Antónia Brandão

A proposta de atividade contempla tantos e tão importantes questões que tentarei abordá-las em três momentos. Primeiro tentarei abordar a questão de quem somos na rede e das máscaras que construímos. Num segundo momento, abordarei a questão da validade e validação das informações publicadas na rede, nomeadamente das fake news, mas também da efemeridade da fama. Num terceiro momento, abordarei a questão da proteção e dados e da ética, que, embora não seja colocada diretamente na atividade, lhe está subjacente

Palavras prévias Segundo o sociólogo Manuel Castells, há aqueles que demonizam a Internet, e o mundo moderno em geral, mostrando-se incapazes de compreender o mundo em que vivem, e consideram que o ser humano está alienado e anunciam o apocalipse provocado pelas novas tecnologias: perda de empregos, isolamento e solidão, excesso de informação e , ao mesmo tempo, infoexclusão, aceleramento desenfreado da vida, desastres ambientais, incapacidade das novas gerações em se focarem e concentrarem, fluxo de informação excessivo, etc. Há depois aqueles que se situam no polo oposto e defendem


que a tecnologia nos traz oportunidades para o desenvolvimento da criatividade e genialidade humana, trazendo múltiplas oportunidades de plena realização da humanidade. Face a esta visão dicotómica, encontramos uma posição que considera que, embora a internet não seja panaceia para todos os males, vê nela uma oportunidade maravilhosa de conservação e curadoria do conhecimento humano, assim como fonte inesgotável de informação e de entretenimento. É aqui que me coloco.

Quem são e como são verdadeiramente esses outros que encontramos na rede? Que são eles por detrás das máscaras que constroem na rede? Que somos nós de nós próprios na rede? Somos ou poderemos ser transparentes? São as imagens que de nós partilhamos autênticas? Que dizem de nós? Tudo? Nada? Quem são os outros e como são os que encontramos na rede? O Homem é um ser social e interage diariamente com outros homens, também seres sociais. Ser humano, passa assim por um processo de socialização indispensável à aquisição de competências, também elas especificamente humanas. Igualmente, no mundo da Internet, as relações ocorrem permitindo a comunicação entre pessoas de qualquer parte do mundo e a concretização da especificidade humana. Por isso, os que encontramos na rede, são outros como nós. Seres humanos com desejos e expectativas, seres conscientes, dotados de razão e emoção, seres que necessitam de comunicar para afirmar a sua humanidade, mas que também se mascaram e assumem comportamentos que, se não fosse a coberto dessa “rede”, uma espécie de “manto da invisibilidade”, não assumiriam. Acontece assim aquilo que se pode chamar o “mau uso das redes” que passa por uma desresponsabilização pessoal e por um processo de desindividuação como também acarreta uma desinibição tóxica on line (fenómeno abordado na Unidade de Competência de Psicologia da Comunicação online à luz da perspetiva de Azy Barak) As redes sociais são canais de comunicação importantes, valiosíssimos, que permitem uma interação nunca vista, um feed back praticamente instantâneo e que a mim, que nasci na primeira década da segunda metade do séc. XX, parece sempre maravilhosa. Evidentemente que o fascínio que a rede exerce sobre nós, a par da possibilidade de criarmos uma realidade paralela, pode acarretar perigos vários. Criamos uma realidade


ficcional, romanceamos uma vida desinteressante e olhamos para o mundo através das fotografias que publicamos. Olhamos, sem ver, pela câmara fotográfica, despertamos pequenas e grandes invejas pelas fotografias que publicamos. Escondemos as nossas tristezas, falhas ou desgostos, numa fotografia estilizada de um jantar que, afinal, foi triste e enfadonho. A imagem que projetamos corresponde à realidade que queremos dar e ter (o que nos leva para Baudrillard). E, se isso nos permite encarar o dia a dia com mais tenacidade, e resiliência, então é a realidade de que precisamos e é realidade suficiente, ficando protegida, de certo modo, a autoestima dos indivíduos. Por outro lado, como poderemos assegurar a autenticidade da informação? Pela sua transparência? Quem a valida ou autentica? Quem o poderá fazer? A própria comunidade, a própria rede? Será pela transparência dos processos de partilha? Como e em quem na rede poderemos confiar? Como se poderá garantir a qualidade da informação e como se poderá garantir a idoneidade da utilização dessa informação? Passemos à segunda abordagem, desde há muitos séculos que as notícias falsas têm sido usadas, seja em períodos de guerra, seja para justificar decisões difíceis, ou ainda para incitar grupos uns contra os outros. Desde há muito (podemos remontar ao Império Romano, com as acusações feitas aos cristão apenas para dar um exemplo, ou mais perto de nós, ao tempo do salazarismo onde se dizia que as “mulheres russas não tinham estética” e que os comunistas “comiam criancinhas e matavam velhinhos”) que podemos encontrar disseminação de informações distorcidas como um recurso útil para qualquer esfera de poder que busque um objetivo. Agora, com a internet e a universalização dos instrumentos de divulgação, a sua facilidade de uso e a sua gratuitidade, explodiu a capacidade de divulgação dessas notícias distorcidas. As falsas notícias sempre serviram, como acima já dissemos, para obter apoio para medidas difíceis, ou mobilizar as pessoas de acordo com certos interesses (por exemplo, económicos, políticos ou religiosos). Atualmente, muitos dos usuários por exemplo do facebook, é ali que se informam, o que mostra a necessidade de formar utilizadores conscientes e responsáveis, com espírito crítico e capaz de detetar manipulações, seja de que tipo for. O dia 2 de abril, é agora o dia internacional de verificação dos factos, marcado, propositadamente logo a seguir ao dia das mentiras. Para ajudar a distinguir news de


fake news, O Poynter Institute criou um site onde agrega a informação sobre fact checking que pode ser consultado em: https://www.factcheckingday.com/ (consultado a 18/12/2018) O site Fact-Checking Day resulta de uma iniciativa conjunta de várias organizações para criar uma rede internacional de verificação de informação e que pretende realizar um trabalho distribuído e colaborativo, onde todos participem pois a partilha de notícias falsas tem-se tornado uma verdadeira preocupação global e o site reúne várias ferramentas que podem ser usadas por todos os internautas para fazer verificação de informação, e ainda cursos e materiais para estudantes e professores usarem nas aulas. Mas. Podemos sempre perguntar, “Quem garante a autenticidade do site Fact-Checking Day?” Quem garante que este não está também ao serviço de interesses obscuros? Podemos facilmente cair em falácias e em teorias conspirativas. Não iremos por aí. Na figura abaixo podemos encontrar algumas pistas para podermos identificar as notícias falsas e que um professor pode usar em contexto educativo, sendo até sugerida pela Rede de Bibliotecas Escolares.

Figura1 http://www.ifla.org/node/11174 licensed under the Creative Commons Attribution 4.0 International license.


Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Canto IV, Os Lusíadas, Luís de Camões

Os primeiros blogs datam de 1995, mas o termo "weblog" foi cunhado, há 21 anos, por Jorn Barger (dezembro de 1997) um fenómeno que se julgou volátil e efémero, mas que se afirmou até aos dias de hoje. Dez anos depois, a 23 de abril de 2005, foi postado o primeiro vídeo no Youtube. O vídeo chama-se “Me at the zoo” onde aparece o cofundador Jawed Karim falando sobre elefantes em 20 segundos. Este vídeo tem mais de 34 milhões de visualizações. O YouTube foi registado por Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim no dia 14 de fevereiro de 2005 . Cresceu exponencialmente e é um fenómeno que não pode ser ignorado. A questão da efemeridade da fama dos star bloggers e youtubers, ou dos utilizadores das redes em geral, relaciona-se com o fenómeno denominado de narcisismo digital e pode ser associada à efemeridade da fama dos participantes dos Reality Shows do início do século XXI, mas que também remonta a um passado já muito longínquo. Quem são estas pessoas? Os “wannabe-blogguers” pululam e, muitos deles, não passam do “want to be”, do querer ser blogueiro, julgando encontrar aí a felicidade, que é por eles é associada à fama. O mesmo acontece com os youtubers que começaram nos pequenos vídeos gravados com uma webcam ou com o smartphone e, atualmente, toda uma geração de jovens procura profissionalizar-se na criação de conteúdos digitais, que os tornam verdadeiros influenciadores digitais de massas, ou opinion makers modernos. São as sugestões de outfits, de lojas para compras, de filmes para ver, ou músicas para ouvir. São modelo de comportamento, são um importante agente de socialização, são seguidos e imitados. Podem ser um perigo pois, além de

determinar hábitos de

consumo, também podem determinar modos de sentir e de emocionar-se. Que dimensões assumirá o fenómeno? Poderá vir a perder intensidade e desfazer-se como uma onda na praia? Todo um campo de análise a desenvolver. Agora, a terceira abordagem a que me propus. Desde maio passado estamos sujeitos ao Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) que entrou em vigor dia 25 daquele mês e substituiu a diretiva e lei de proteção de dados até ali vigente.


O respeito pela vida privada e familiar, pelo domicílio e pelas comunicações, a proteção dos dados pessoais, a liberdade de pensamento, de consciência e de religião, a liberdade de expressão e de informação, a liberdade de empresa, o direito à ação e a um tribunal imparcial, e a diversidade cultural, religiosa e linguística, são absolutamente fundamentais e deles não podemos abdicar. Ora, a rápida evolução tecnológica e a globalização, criaram novos desafios em matéria de proteção de dados pessoais. A recolha e a partilha de dados pessoais registaram um aumento gigantesco. Cada um de nós nas redes sociais (Facebook, Instragram e Twitter, entre outras), dá um conjunto de informações sobre si, muitas vezes sem dar conta, que permitem às empresas privadas e às entidades públicas a utilização de dados pessoais numa escala sem precedentes no exercício das suas atividades. As pessoas disponibilizam cada vez mais as suas informações pessoais de uma forma pública e global. As novas tecnologias transformaram a economia e a vida social. Sabemos muito sobre muita gente, por exemplo, o seu clube de futebol, a sua opção política, as suas crenças religiosas e orientação sexual, as viagens que fazem, a música que ouvem, os filmes que veem e os livros que leem. Sabemos quando celebram o seu aniversário, seja de nascimento ou de casamento. Sabemos quando se apaixonam e quando rompem compromissos, onde jantam, com quem, e o que comem. Será que todos têm consciência que uma vez publicado algo nunca mais se apaga? Será que se apercebem que não controlam as informações que publicam? Um empregador pode procurar nas redes sociais informações sobre um candidato a emprego…como dizem os americanos “I googled him/her”, e gostará do que encontra? E ainda terá o direito de usar a informação que ali encontra? Penso que será importante ponderar bem antes de publicarmos o que quer que seja. Quando publicamos temos de estar conscientes de que esses dados ficam públicos (desenganem-se os que pensam que apenas os seus amigos verão as suas publicações). Outra área de grande sensibilidade é a saúde. Deverão ser considerados dados pessoais relativos à saúde todos os dados relativos ao estado de saúde de alguém que revelem informações sobre a sua saúde física ou mental no passado, no presente ou no futuro. Tal inclui informações sobre a pessoa recolhidas durante a inscrição para a prestação de serviços de saúde, ou durante essa prestação. Dados genéticos e amostras biológicas e quaisquer informações sobre, por exemplo, uma doença, deficiência, um risco de doença, historial clínico, tratamento clínico ou estado fisiológico, ou biomédico do


titular de dados, devem ser confidenciais e protegidos. Imaginemos como poderão estas informações ser mal-usadas seja por companhias de saúde, empregadores ou outros. Para terminar refiro as crianças, estas merecem proteção especial quanto aos seus dados pessoais, uma vez que estão menos cientes dos riscos e consequências. Cabe aos seus responsáveis acautelarem a proteção dos seus dados até porque as crianças não podem dar o seu consentimento informado. Em suma, a nossa pegada digital é enorme…o nosso rasto difícil de apagar e fácil de seguir. Publiquemos conscientemente Bibliografia CASTELLS, Manuel; MAJER, Roneide Venâncio; GERHARDT, Klauss Brandini. A sociedade em rede. Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.

HINERASKY, Daniela Aline. O fenômeno dos blogs street-style: do flâneur ao “star blogger”. 2012. http://tede2.pucrs.br:8080/tede2/bitstream/tede/4519/1/446024.pdf YOUNG, Kimberly S.; DE ABREU, Cristiano Nabuco. Dependência de internet: manual e guia de avaliação e tratamento. Artmed Editora, 2011.

Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) https://protecao-dados.pt/wpcontent/uploads/2017/07/Regulamento-Geral-Prote%C3%A7%C3%A3o-Dados.pdf (consultado em 19/12/2018) You Tube, História - http://web.tecnico.ulisboa.pt/~ist178552/wordpress/historia/ (consultado em 19/12/2018) A História dos Blogs http://www.gilbertogodoy.com.br/ler-post/a-historia-dos-blogs e https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_blogging (consultados em 19/12/2018)


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