Camões Lírico
Alma minha gentil, que te partiste Alma minha gentil, que te partiste Tão cedo desta vida descontente, Repousa lá no Céu eternamente, E viva eu cá na terra sempre triste. Se lá no assento etéreo, onde subiste, Memória desta vida se consente, Não te esqueças daquele amor ardente Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te Alguma cousa a dor que me ficou Da mágoa, sem remédio, de perder-te, Roga a Deus, que teus anos encurtou, Que tão cedo de cá me leve a ver-te, Quão cedo de meus olhos te levou.
Alma minha gentil, que te partiste
ร gueda Sofia, Filipa e Filipe, 10ยบ
LuĂs de camĂľes O amor petrarquista/saudosista Um mover de olhos , brando e piedoso
Um mover d’olhos brando e piadoso, Sem ver de quê ; um sorriso brando e honesto, quási forçado; um doce e humilde gesto, de qualquer alegria duvidoso;
Um desejo quieto e vergonhoso; um repouso gravíssimo e modesto; ũa pura bondade, manifesto indício da alma, limpo gracioso; Um escolhido ousar; ũa brandura; um medo sem ter culpa; um ar sereno; um longo e obediente sofrimento: Esta foi a celeste formosura da minha Circe, e o mágico veneno que pôde transformar meu pensamento. Margarida Oliveira nº1, 10ºH Ana Rita Guimarães nº4, 10ºH Nuno Castro nº31, 10ºH
Não são ervas, não: Isso que comeis
São graças dos olho Do meu coração
Gados que passeis
Vosso mantimento Com contentamento
Não no entendereis;
Verdes são os campos, Luís de Camões Trabalho realizado por: Ana Isabel, nº3, 10ºC Ana Paula, nº4,
Amor, que o gesto humano na alma escreve Amor, que o gesto humano na alma escreve, Vivas faíscas me mostrou um dia, Donde um puro cristal se derretia Por entre vivas rosas e alva neve. A vista, que em si mesma não se atreve, Por se certificar do que ali via, Foi convertida em fonte, que fazia A dor ao sofrimento doce e leve. Jura Amor que brandura de vontade Causa o primeiro efeito; o pensamento Endoudece, se cuida que é verdade.
Olhai como Amor gera, num momento De lágrimas de honesta piedade, Lágrimas de imortal contentamento. Luís de Camões
Bárbara e Cláudia, 10ºC
Se tanta pena tenho merecida Se tanta pena tenho merecida Em pago de sofrer tantas durezas, Provai, Senhora, em mim vossas cruezas, Que aqui tendes ũa alma oferecida. Nela experimentai, se sois servida, Desprezos, desfavores e asperezas, Que mores sofrimentos e firmezas Sustentarei na guerra desta vida. Mas contra vosso olhos quais serão? Forçado é que tudo se lhe renda, Mas porei por escudo o coração. Porque, em tão dura e áspera contenda, Fé bem que, pois não acho defensão, Com me meter nas lanças me defenda.
Luís de Camões
Paulo e Tiago, 10ºC
Suéli e Catarina, 10ºC Amor é um Fogo que Arde sem se Ver Amor é um fogo que arde sem se ver; É ferida que dói, e não se sente; É um contentamento descontente; É dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; É um andar solitário entre a gente; É nunca contentar-se e contente; É um cuidar que ganha em se perder; É querer estar preso por vontade; É servir a quem vence, o vencedor; É ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor Nos corações humanos amizade, Se tão contrário a si é o mesmo Amor? Luís Vaz de Camões
O amor
Estou a amar-te como o frio corta os lábios. A arrancar a raiz ao mais diminuto dos rios. A inundar-te de facas, de saliva esperma lume. Estou a rodear de agulhas a boca mais vulnerável A marcar sobre os teus flancos o itinerário da espuma Assim é o amor: mortal e navegável Eugénio de Andrade
Francisca, Daniela e João, 10ºC
Fernando Pessoa, Todas as cartas de amor Realizado por: José Quintero nº11 e Miguel Barroso nº13, 10ºC
Ser poeta é ser mais alto, é ser maior Do que os homens! Morder com quem beija! É ser mendigo e dar como quem seja É ter mil desejos o esplendor Rei do Reino Aquém e de Além Dor E não se saber sequer o que se deseja! É ter cá dentro um astro que flameja, É ter garras e assas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito! Por elmo, amanhas de cetim… É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te assim, perdidamente… É seres sangue e alma em mim E é dize-lo cantando a toda a gente!
Lúcia Gonçalves, 10ºC
Todas as cartas de amor… Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas. A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas. (Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.)
Francisca, Daniela e João, 10ºC
Ruy Belo Primeiro poema do outono Mais uma vez é preciso Reaprender o outono Todos nós regressamos ao teu Inesgotável rosto Emergem do asfalto aquelas Inacreditáveis crianças E tudo incorrigivelmente principia Já na rua não cruzam Olhos como armas Recebe-nos de novo o coração E sabe deus a minha humana mão
Norberto, 10ºC
Só eu Sinto Bater-lhe o Coração Dorme a vida a meu lado, mas eu velo. (Alguém há-de guardar este tesoiro!) E, como dorme, afago-lhe o cabelo, Que mesmo adormecido é fino e loiro. Só eu sinto bater-lhe o coração, Vejo que sonha, que sorri, que vive; Só eu tenho por ela esta paixão Como nunca hei-de ter e nunca tive. E logo talvez já nem reconheça Quem zelou esta flor do seu cansaço... Mas que o dia amanheça E cubra de poesia o seu regaço! Miguel Torga, in 'Diário (1946)'
Rita e Ana Raquel, 10ºH
Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo
Para atravessar contigo o deserto do mundo Para enfrentarmos juntos o terror da morte Para ver a verdade para perder o medo Ao lado dos teus passos caminhei Por ti deixei meu reino meu segredo Minha rápida noite meu silêncio Minha pérola redonda e seu oriente Meu espelho minha vida minha imagem E abandonei os jardins do paraíso Cá fora à luz sem véu do dia duro Sem os espelhos vi que estava nua E ao descampado se chamava tempo Por isso com teus gestos me vestiste E aprendi a viver em pleno vento
Sophia de Mello Breyner Andresen
André e Rafael Ilídio, 10ºH
Como Te Amo Como te amo? Não sei de quantos modos vários Eu te adoro, mulher de olhos azuis e castos; Amo-te com o fervor dos meus sentidos gastos; Amo-te com o fervor dos meus preitos diários. É puro o meu amor, como os puros sacrários; É nobre o meu amor, como os mais nobres fastos; É grande como os mares altíssonos e vastos; É suave como o odor de lírios solitários. Amor que rompe enfim os laços crus do Ser; Um tão singelo amor, que aumenta na ventura; Um amor tão leal que aumenta no sofrer; Amor de tal feição que se na vida escura É tão grande e nas mais vis ânsias do viver, Muito maior será na paz da sepultura! Fernando Pessoa, "Inéditos – Poemas de Lança-Pessoa – Manuscrito (Junho/1902)" Lara e Josefa10ºH
O Cego e a Guitarra O ruído vário da rua Passa alto por mim que sigo. Vejo: cada coisa é sua Oiço: cada som é consigo.
Cheguei à janela Porque ouvi cantar. É um cego e a guitarra Que estão a chorar.
Sou como a praia a que invade Um mar que torna a descer. Ah, nisto tudo a verdade É só eu ter que morrer.
Ambos fazem pena, São uma coisa só Que anda pelo mundo A fazer ter dó.
Depois de eu cessar, o ruído. Não, não ajusto nada Ao meu conceito perdido Como uma flor na estrada.
Eu também sou um cego Cantando na estrada, A estrada é maior E não peço nada. Fernando Pessoa
João, Paulo e Hugo,
Florbela Espanca
Débora Albuquerque, 10ºH Mónica Rodrigues, 10ºH Rute Coelho, 10ºH
Saudades
Saudades! Sim... talvez... e porque não?... Quantas vezes, Amor, já te esqueci, Para mais doidamente me lembrar, Mais doidamente me lembrar de ti! E quem dera que fosse sempre assim: Quanto menos quisesse recordar Mais a saudade andasse presa a mim!
Se o nosso sonho foi tão alto e forte Que bem pensara vê-lo até à morte Deslumbrar-me de luz o coração! Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão! Que tudo isso, Amor, nos não importe. Se ele deixou beleza que conforte Deve-nos ser sagrado como pão! * Florbela Espanca
Crepúsculo Teus olhos, borboletas de oiro, ardentes Batendo as asas leves, irisadas, Poisam nos meus, suaves e cansadas Como em dois lírios roxos e dolentes... E os lírios fecham... Meu Amor, não sentes? Minha boca tem rosas desmaiadas, E as minhas pobres mãos são maceradas Como vagas saudades de doentes... O Silêncio abre as mãos... entorna rosas... Andam no ar carícias vaporosas Como pálidas sedas, arrastando...
E a tua boca rubra ao pé da minha É na suavidade da tardinha Um coração ardente palpitando...
Florbela Espanca
Maria Carneiro, Mafalda e Ana Rita, 10ºH
Amar! Eu quero amar, amar perdidamente! Amar só por amar: Aqui... além... Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente... Amar! Amar! E não amar ninguém! Recordar? Esquecer? Indiferente!... Prender ou desprender? É mal? É bem? Quem disser que se pode amar alguém Durante a vida inteira é porque mente! Há uma Primavera em cada vida: É preciso cantá-la assim florida, Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar! E se um dia hei de ser pó, cinza e nada Que seja a minha noite uma alvorada, Que me saiba perder... pra me encontrar...
Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"
João Silva, nº 13, 10ºH Rafael Silva , nº22, 10ºH
CAI CHUVA DO CÉU CINZENTO
MAR SONORO
De Sophia de Mello Breyner Anderson
De Fernando Pessoa
Cai chuva do céu cinzento Que não tem razão de ser. Até o meu pensamento Tem chuva nele a escorrer. Tenho uma grande tristeza Acrescentada à que sinto. Quero dizer-ma mas pesa O quanto comigo minto. Porque verdadeiramente Não sei se estou triste ou não. E a chuva cai levemente Dentro do meu coração.
Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim. A tua beleza aumenta quando estamos sós E tão fundo intimamente a tua voz Segue o mais secreto bailar do meu sonho. Que momentos há em que suponho Seres um milagre criado só para mim.
Maria Flores,10ºH Joana Monteiro, 10ºH
Não negues, confessa Que tens certa pena Que as mais raparigas Te chamem morena.
Morena
Pois eu não gostava, Parece-me a mim, De ver o teu rosto Da cor do jasmim. Eu não... mas enfim É fraca a razão, Pois pouco te importa Que eu goste ou que não. Mas olha as violetas Que, sendo umas pretas, O cheiro que têm! Vê lá que seria, Se Deus as fizesse Morenas também! Tu és a mais rara De todas as rosas; E as coisas mais raras São mais preciosas.
Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias'
Há rosas dobradas E há-as singelas; Mas são todas elas Azuis, amarelas, De cor de açucenas, De muita outra cor; Mas rosas morenas, Só tu, linda flor. E olha que foram Morenas e bem As moças mais lindas De Jerusalém. E a Virgem Maria Não sei... mas seria Morena também. Moreno era Cristo. Vê lá depois disto Se ainda tens pena Que as mais raparigas Te chamem morena! Ana Isabel, nº3, 10ºC Ana Paula, nº4, 10ºC Tânia, nº21, 10ºC
Poemas ilustrados de Camões e poetas do Séc. XX no âmbito da disciplina de Português
pelos alunos das turmas 10ºC e 10ºH Música: Trovante, Ser poeta (poema de Florbela Espanca)